Fundação Paz na Terra Ano LXVIII - Nº 48 Natal/RN | R$ 7,00 Maio de 2020
#IgrejaDoméstica
Meios de Comunicação são alternativa no período de isolamento social
A ORDEM
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A ORDEM
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A ORDEM
SUMÁRIO
EDITORIAL
À SEMELHANÇA DA VIRGEM
Fundação Paz na Terra Ano LXVIII - Nº 47 Natal/RN | R$ 7,00 Maio de 2020
#IgrejaDoméstica
Meios de Comunicação são alternativa no período de isolamento social
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CAPA
ENTREVISTA - Professor de direito
fala sobre escravidão nos dias atuais
APRENDENDO COM A IGREJA
- Santíssima Trindade: mistério central da nossa fé EM AÇÃO - Organismos da Igreja
levam solidariedade para população à margem da prevenção contra a COVID-19
REPORTAGEM - Mãe: sinônimo da
A matéria principal da edição deste mês aborda tema relacionado a uma criatura humana ímpar, na história da humanidade e da vida cristã. A mulher. “Eis que uma Virgem dará à luz um filho que se chamará Emanuel (Is 7,14), que significa Deus conosco”, escreve o evangelista Mateus (Mt 1,23). Para os cristãos, a maternidade da Virgem deu origem a uma nova História, delimitando o tempo da humanidade em duas fases. A do antigo e a do novo testamento. Em outras palavras, a História da Salvação da humanidade teve um Antes e um depois da maternidade da Virgem. A concepção de Maria revela a “interferência” de Deus Pai na humanidade. Antes de Maria, as mulheres concebiam através do relacionamento com seus respectivos cônjuges. Com Maria, porém, foi diferente. A “interferência” de Deus, por sua vez, revela para a humanidade as singulares figuras fiéis de uma mulher e de seu esposo ao seu Deus. “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua Palavra” (Lc 1,38); “José fez como o anjo do Senhor lhe havia mandado e recebeu em sua casa sua esposa” (Mt 1,24). Com isso, Deus se faz Homem, por meio do Filho, através de uma mulher. Daí a singularidade da maternidade de Maria. Cada mulher deveria refletir sobre esses fatos e se enxergar grandiosa, porém sem soberba, por saber-se capaz de trazer à luz um filho, à semelhança da Virgem Maria.
palavra amor
EXPEDIENTE
Revista mensal da Fundação Paz na Terra Endereço: Rua Açu, 335 – Tirol CEP: 59.020-110 – Natal/RN Fone: 3201-1689
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CONSELHO CURADOR: Pe. Antônio Nunes Vital Bezerra de Oliveira Fernando Antônio Bezerra CONSELHO EDITORIAL: Pe. Rodrigo Paiva Luiza Gualberto Josineide Oliveira Jeferson Rocha Cione Cruz André Kinal Milton Dantas Vitória Élida
EDIÇÃO E REDAÇÃO: Luiza Gualberto (DRT-RN 1752) Cacilda Medeiros (DRT-RN 1248) REVISÃO: Milton Dantas (LP 3.501/RN) FOTO DE CAPA: Cristina Medeiros COLABORADORES: José Bezerra (DRT-RN 1210) Cione Cruz Rede de Comunicadores da Arquidiocese de Natal
DIAGRAMAÇÃO: Akathistos Comunicação (47) 9 9618-3464
IMPRESSÃO: Gráfica Sul (84) 3211-2360
COMERCIAL: (84) 3615-2800
TIRAGEM: 3.000 exemplares
ASSINATURAS: Com as coordenações paroquiais da Pastoral da Comunicação ou na redação da revista, no Centro Pastoral Pio X – Av. Floriano Peixoto, 674 – Tirol – Natal/RN (84) 3615-2800 assinante@arquidiocesedenatal.org.br www.arquidiocesedenatal.org.br
A ORDEM PALAVRA DA IGREJA
A VIDA FAZ-SE
Francisco Papa
“
Ninguém é mero figurante no palco do mundo; a história de cada um está aberta a possibilidades de mudança
história
No dia 24 de maio, solenidade da Ascensão do Senhor, a Igreja celebra o 54º Dia Mundial das Comunicações Sociais. Ao longo destes 54 anos, o Papa escreve uma mensagem, para servir de reflexão para o mundo inteiro. Para 2020, o Papa Francisco escolheu o tema “Para que possas contar e fixar na memória (Ex 10, 2). A vida faz-se história”. O Santo Padre dedicou a mensagem deste ano ao tema da narração. Segundo ele, “para não nos perdermos, precisamos respirar a verdade das histórias boas: histórias que edifiquem, e não as que destroem. Histórias que ajudem a reencontrar as raízes e a força para prosseguirmos juntos. Na confusão das vozes e mensagens que nos rodeiam, temos necessidade duma narração humana, que nos fale de nós mesmos e da beleza que nos habita; uma narração que saiba olhar o mundo e os acontecimentos com ternura, conte a nossa participação num tecido vivo, revele o entrançado dos fios pelos quais estamos ligados uns aos outros”. Segundo o Papa, “o homem é um ente narrador. As narrativas marcam-nos, plasmam as nossas convicções e comportamentos, podem nos ajudar a compreender e dizer quem somos. O homem não só é o único ser que precisa de vestuário para cobrir a própria vulnerabilidade, mas também o único que tem necessidade de narrar-se a si mesmo, «revestir-se» de histórias para guardar a própria vida.” O Papa Francisco enaltece que a Sagrada Escritura é uma História de histórias.” Quantas vicissitudes, povos, pessoas nos apresenta! Desde o início, mostra-nos um Deus que é simultaneamente criador e narrador. Deus, através deste seu narrar, chama à vida as coisas e, no apogeu, cria o homem e a mulher como seus livres interlocutores, geradores de história juntamente com Ele”, ressalta. “A Bíblia é a grande história de amor entre Deus e a humanidade. No centro, está Jesus: a sua história leva à perfeição o amor de Deus pelo homem e, ao mesmo tempo, a história de amor do homem por Deus. Assim, o homem será chamado, de geração em geração, a contar e fixar na memória os episódios mais significativos desta História de histórias: os episódios capazes de comunicar o sentido daquilo que aconteceu. Jesus falava de Deus, não com discursos abstratos, mas com parábolas, breves narrativas tiradas da vida de todos os dias. Aqui a vida se faz história e depois, para o ouvinte, a história se faz vida: tal narração entra na vida de quem a escuta e a transforma”, explica o Santo Padre. Ele conclui a mensagem, frisando que “com o olhar do Narrador, o único que tem o ponto de vista final, aproximamo-nos depois dos protagonistas, dos nossos irmãos e irmãs, atores juntamente conosco da história de hoje. Sim, porque ninguém é mero figurante no palco do mundo; a história de cada um está aberta a possibilidades de mudança. Confiemo-nos a uma Mulher que teceu a humanidade de Deus no seio e, diz o Evangelho, teceu tudo o que Lhe acontecia. A Virgem Maria tudo guardou, meditando-o no seu coração. Peçamos ajuda a Ela, que soube desatar os nós da vida com a força suave do amor.” FONTE: Portal Vatican News
6 MAIO DE 2020
A VOZ DO PASTOR A ORDEM
O MÊS MARIANO E O
fortalecimento DE NOSSA FÉ
“A devoção à Nossa Senhora deve sempre refletir essa especial relação com a Santíssima Trindade. Tudo em Maria respira a presença de Deus”
Queridos irmãos e irmãs! Começou o mês de maio, Mês Mariano, mês dedicado àquela que é a Mãe de Deus e Mãe da Igreja, Nossa Senhora. Esse ano viveremos uma experiência mui particular, devido ao coronavírus, mas nem por isso deixaremos de manifestar nossa devoção e nosso carinho por aquela que foi escolhida para ser a Mãe do Senhor, invocada como “saúde dos enfermos” e “consoladora dos aflitos”, Senhora Auxiliadora dos cristãos. A atenção que a Igreja tem para com a Virgem de Nazaré repousa na sua relação com a Santíssima Trindade. De fato, como expressa de forma brilhante o Concílio Vaticano II, a Virgem Maria “que na anunciação do Anjo recebeu o Verbo no coração e no seio, e deu ao mundo a Vida, é reconhecida e honrada como verdadeira Mãe de Deus Redentor. Remida dum modo mais sublime, em atenção aos méritos de seu Filho, e unida a Ele por um vínculo estreito e indissolúvel, foi enriquecida com a excelsa missão e dignidade de Mãe de Deus Filho; é, por isso, filha predileta do Pai e templo do Espírito Santo, e, por este insigne dom da graça, leva vantagem a todas as demais criaturas do céu e da terra” (CONCÍLIO VATICANO II. Constituição dogmática sobre a Igreja, Lumen gentium, n. 53). A relação de Nossa Senhora com o mistério central de nossa fé, a Trindade de Pessoas divinas, como é a nossa relação de cristãos e cristãs, discípulos e discípulas de Jesus Cristo, se manifesta a partir do mistério da Encarnação. Por causa da vontade de Deus de se dar aos homens e às mulheres, decidindo que isso acontecesse, Ele envia ao mundo, seu Filho (cf. Gl 4,4ss), para reve-
Dom Jaime Vieira Rocha Arcebispo Metropolitano de Natal
lar que, por meio dele, não só temos acesso ao Pai, mas também, foi por meio dele que tudo foi criado (cf. Cl 1,16). É por meio da Encarnação do Filho de Deus que conhecemos o mistério da Trindade divina e é revelado o mistério de nossa participação na vida divina, como também o mistério da Igreja como prolongação do mistério de Cristo. E essas são verdades centrais de nossa fé, das quais dependem todas as outras, e nas quais devemos sempre refletir, pois delas dependem a nossa salvação. Essas verdades celebramos na Eucaristia, e nelas vivemos. É bem verdade que às vezes esquecemos delas, sobretudo, quando o ativismo toma conta de nossa vida, quando deixamos de ver a “hierarquia das verdades”, isto é, quando não damos a devida importância a essas verdades, colocando-as abaixo de outras verdades, ou o que é pior, quando as desfiguramos com ensinamentos que traem o seu significado. A devoção à Nossa Senhora deve sempre refletir essa especial relação com a Santíssima Trindade. Tudo em Maria respira a presença de Deus. Ela é a mulher ícone do Mistério (Bruno Forte), isto é, toda envolvida pelo mistério amoroso e cheio de ternura do nosso Deus. Ao rezar, ao venerar a Mãe de Deus somos conduzidos pelo seu exemplo a nos conscientizar de que esse mesmo Mistério nos envolve. E mais, tal devoção exige que nos sintamos vocacionados a essa mesma relação. De fato, pelo Batismo nós nos tornamos casa de Deus, morada da Santíssima Trindade, pois filhos no Filho, vivendo na força e na atuação do Espírito Santo, somos chamados a ser sinal de Deus no mundo em que vivemos.
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A ORDEM
No dia 13 de maio, o Brasil completa 132 anos da abolição dos escravos, após a assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel. O Brasil, no entanto, apresenta estatísticas vergonhosas, sendo o país da América Latina com a maior quantidade de pessoas em condição análoga à escravidão. Em 2018, por exemplo, existiam 370 mil pessoas em situação de trabalho forçado, segundo o professor Zeu Palmeira, do Departamento de Direito Privado da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), onde leciona a disciplina Direito do Trabalho e Direito Previdenciário. Doutor em Sociologia pela UFRN e pós-doutor em Sociologia Jurídica pela Universidade de Coimbra, Zeu Palmeira tem se debruçado sobre o tema, pesquisando e escrevendo artigos.
8 MAIO DE 2020
ENTREVISTA A ORDEM
BRASIL REGISTRA CERCA DE 370 MIL PESSOAS EM CONDIÇÃO ANÁLOGA À
escravidão
POR CIONE CRUZ
A Ordem: Ainda existe trabalho análogo à escravidão no Brasil? Zeu Palmeira: Sim. Infelizmente o Brasil é - em números absolutos o país da América Latina com a maior quantidade de pessoas em condição análoga à escravidão. Segundo estimativa da Fundação Walk Free, em seu relatório do Índice Global de Escravidão, publicado em 2018, existem no Brasil aproximadamente 370 mil pessoas em situação de trabalho forçado. Entre o período de 2003 a 2018 foram resgatados mais de 45 mil trabalhadores em condição de trabalho forçado no Brasil. A Ordem: A fiscalização que existe atualmente para reprimir este tipo de trabalho tem mostrado eficácia? Zeu Palmeira: A despeito do trabalho escravo ter crescido em 200% entre 2017 e 2018, o número de auditores fiscais foi reduzido e não houve a realização de concurso para contratar e ampliar a área de fiscalização. Atualmente a Secretaria de Trabalho, hoje vinculada ao Ministério da Economia, tem 2.154 auditores do trabalho e ela tem um déficit de 6.276 auditores. A Ordem: Há algum estado onde há maior incidência deste tipo de trabalho? Zeu Palmeira: Os estados do Pará e do Mato Grosso são os que têm maior incidência de trabalho em condição análoga à escravidão. Segundo o Observatório de Erradicação do Trabalho Escravo, em 2019 os municípios
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Algumas medidas são adotadas, mas elas não têm sido suficientes em razão da tentativa de desconstrução da rede de combate ao trabalho em condição análoga à escravidão”
com maior prevalência de resgatados foi Confresa-MT, com 1.348 resgatados, e Ulianóplis, com 1.288 resgatados. A Ordem: Como o Rio Grande do Norte tem figurado nessa realidade? Zeu Palmeira: No Rio Grande do Norte há histórico de trabalho em condição análoga à escravidão em Assu, Alto do Rodrigues, Carnaubais e Maxaranguape. Todavia, não tem sido comum a exploração do trabalho em condição análoga à escravidão no RN. Sabe-se, porém, que a fiscalização já identificou o aliciamento de trabalhadores potiguares que migraram para laborar no Norte do país e lá foram obrigados a trabalhos forçados. A Ordem: A precariedade do trabalho informal e a ausência de direitos pode ser como uma variante do trabalho análogo à escravidão? Zeu Palmeira: É verdade que todo trabalho em condição análoga à escravidão é um trabalho precarizado, mas o inverso não é verdadeiro. O art. 149, do Código Penal Brasileiro, caracteriza o trabalho análogo à escravidão como sendo aquele em que um trabalhador é submetido a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto. A informalidade e a precarização de MAIO DE 2020
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direitos, não apenas contribuem para o rebaixamento do custo de reprodução da força de trabalho e das condições de vida da classe trabalhadora, mas criam carências profundas nas famílias dos trabalhadores. A intensificação das necessidades econômicas dos trabalhadores contribui para que estes venham a aceitar qualquer trabalho, inclusive o labor em condições degradantes. Extinguindo direitos sociais e rebaixando as condições de vida
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“Espera-se que o Brasil cumpra o art. 243, da Constituição Federal, que autoriza a expropriação para fins de reforma agrária dos imóveis, urbanos e rurais, onde for localizada a exploração do trabalho escravo”
dos trabalhadores brasileiros. O atual presidente já externou várias vezes que considera exagero a legislação sobre o trabalho em condição análoga à escravidão. A precarização de direitos e o afrouxamento da fiscalização levaram o país a figurar na lista suja dos 20 países do mundo que não cumprem as convenções internacionais da OIT (Organização Internacional do Trabalho). A Ordem: As autoridades constituídas têm tomado alguma providência para coibir essa ilegalidade? Zeu Palmeira: Algumas medidas são adotadas, mas elas não têm sido suficientes em razão da tentativa de desconstrução da rede de combate ao trabalho em condição análoga à escravidão. Dentre as principais medidas adotadas pelas autoridades são as seguintes: Ações do Ministério Público do Trabalho para responsabilizar civil e criminalmente o explorador e para forçar o poder público a implementar políticas públicas de prevenção e assistência às vítimas do trabalho em condição análoga à escravidão; A inclusão do explorador na chamada “lista suja do trabalho escravo”, proibindo o explorador de tomar empréstimos em bancos estatais e participar de licitação pública; A reparação dos direitos trabalhos dos resgatadores perante a Justiça do Trabalho; A realização de campanhas preventivas, na mídia, nas escolas e no ambiente de trabalho, além de um trabalho de informação a respeito dos riscos do trabalho escravo. Por fim, espera-se que o Brasil cumpra o art. 243, da Constituição Federal, que autoriza a expropriação para fins de reforma agrária dos imóveis, urbanos e rurais, onde for localizada a exploração do trabalho escravo. Vale salientar que o aludido artigo depende de lei regulamentadora para ser aplicada.
PAULUS LIVRARIA DE NATAL/RN
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A ORDEM CAPA
#IgrejaDoméstica POR JEFERSON ROCHA
Meios de Comunicação são alternativa no período de isolamento social CRISTINA MEDEIROS
As Pastorais da Comunicação (Pascom) das diversas paróquias vêm se desdobrando para levar todo o conteúdo ao público
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e uma hora para outra, nos vimos isolados em casa como forma de prevenção à Covid-19 que se espalhou rapidamente pelo mundo. Escolas, comércio, restaurantes e até nossas igrejas fecharam as portas para evitar aglomerações e, assim, conter o avanço da doença. Com essa medida, a sociedade teve de se reinventar para atender clientes, distribuir produtos, promover educação, cultura e saúde e até fortalecer a fé, através de canais diversos, principalmente ligados à internet. Nesse contexto, a igreja – que já utilizava dos meios de comunicação para se aproximar dos fiéis – passou a reforçar o uso das mídias de forma criativa para estar cada vez mais conectada com a comunidade e também servir de apoio aos que querem voltar ou continuar a praticar da religião. Além das tradicionais rádios e TVs católicas, as paróquias reforçaram o uso de mídias sociais como Facebook, Instagram e YouTube para transmitir atividades, principalmente Ao Vivo (Lives), como Missas, Terços, Grupos de Oração, dentre outras. Para Daniel Ávila, estrategista digital da Adora Comunicação Católica, este momento é importante para refletirmos o papel da comunicação na igreja e já serve para abrir os olhos de muitos que ainda não tinham a comunicação como ferramenta fundamental: “De fato, Jesus veio para comunicar o amor do Pai. Há um momento que Ele vive a Paixão, que ele se entrega na cruz, Ele está ali comunicando o amor de Deus para a humanidade. E as redes sociais servem
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como um ponto de encontro. Assim, é preciso enxergar que a comunicação bem feita, bem estruturada, traz resultados, principalmente, de evangelização”, explica. Nesse contexto, as Pastorais da Comunicação (Pascom) das diversas paróquias vêm se desdobrando para levar todo o conteúdo ao público. Na Paróquia da Santa Rita de Cássia, em Santa Cruz - região do Trairí - por exemplo, há uma média de dez transmissões semanais em formato audiovisual através do Canal do YouTube da paróquia e da Rádio Santa Cruz AM. A equipe se reveza em grupos de 2 a 4 pessoas por atividade para conseguir transmitir missas, orações e o programa matinal “Semeando Vidas”, apresentado pelo padre Vicente Fernandes, de segunda a sexta-feira. Wallace Azevedo, um dos coordenadores da Pascom em Santa Cruz, diz que a Pastoral é importante instrumento nos dias atuais, e sua responsabilidade está além do serviço técnico em comunicação: “Estamos levando esperança às pessoas. Antes, éramos mais um canal para a igreja, agora somos um único canal. Então, a gente precisa compreender que produzimos muito mais que transmissões: produzimos conteúdos litúrgico e espiritual que as pessoas precisam, desejam”. E esse trabalho chega a fiéis como a nutricionista Jeane Pires, consagrada da Comunidade Católica Shalom, que está buscando manter a vida de oração como antes, mesmo não podendo ir aos encontros da igreja e da comunidade. “Nós temos um chamado especial com Jesus e, nesse período, eu
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A ORDEM CAPA PASCOM SANTA CRUZ
posso dizer que estou tento até mais tempo para fazer as orações. Como muitas pessoas espalhadas pelo mundo, eu e meu esposo, também consagrado da Shalom, estamos buscando fazer do nosso lar uma igreja doméstica”. Para manter a rotina de oração, Jeane busca rezar terços e novenas além de participar de missas diárias, adorações virtuais e de grupos de oração virtuais, acompanhando, principalmente, pelo Canal da Shalom no YouTube. EXPERIÊNCIAS O padre Sávio Ribeiro, da área pastoral de Nossa Senhora dos Impossíveis, no Bairro Pitimbu, Natal, viu esse momento como uma oportunidade para pôr em prática uma ideia antiga de usar as mídias sociais como meio de aproximar a igreja dos fiéis. “Ultimamente, as pessoas têm utilizado o ambiente virtual de forma mais substancial; então, creio que nós padres precisamos utilizar mais da nossa criatividade para fazer as coisas acontecerem - e tudo isso tem nos aproximado de muita gente”, ressalta. A programação diária montada pelo padre Sávio inclui três momentos: uma missa às 11h, oração do Terço Mariano com convidados, às 18h, e um grupo de oração virtual intitulado “Não durma sem Deus”, também com interação entre os fiéis-internautas, conectando pessoas do mundo inteiro: “Já fiz lives para rezar com gente do Canadá, Estados Unidos, Portugal, Reino Unido, Honduras, México e, daqui do Brasil, praticamente de
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Pastoral da Comunicação da Paróquia de Santa Rita de Cássia, em Santa Cruz tem atuado para levar programação religiosa aos fiéis, por meio das redes sociais
todos os estados”, registra. A tecnologia também contribui para que encontros de grupos de orações físicos não fossem suspensos neste período. Na Shalom, por exemplo, as reuniões das células comunitárias acontecem através de videoconferência, como destaca Jeane Pires: “Estão sendo mantidas porque, graças a Deus, as mídias nos ajudam muito, têm nos auxiliado e a gente continua mantendo nossas reuniões de forma virtual”.
Talvez um dos momentos mais marcantes para os fiéis Católicos foi viver a Semana Santa em casa, de forma isolada. A maioria das igrejas transmitiram todas as celebrações da Páscoa e até vias sacras virtuais com a participação online dos fiéis como forma de conectá-los aos ritos da passagem de Cristo. Jeane Pires viveu cada dos momentos com sua família, em casa, e fez questão de compartilhar fotos e palavras em suas redes sociais, reforçando a fé no
CAPA A ORDEM
Cristo ressuscitado: “O fato das portas dos templos estarem fechadas fez com que abríssemos as portas das nossas casas e transformássemos em um templo para receber Jesus”. Um outro movimento realizado pelas paróquias para aproximar a igreja dos fiéis foi o Passeio com o Santíssimo Sacramento por ruas de diversas cidades do estado – e até do país. A ação, na maioria das vezes acompanhada por transmissões online, emocionaram fiéis que sentiram a oportunidade de estar mais próximo do corpo de Cristo. VIVENDO A IGREJA DOMÉSTICA Em sua Mensagem pelo Dia Mundial das Comunicações, em 2019, o Papa Francisco destacou que “A rede é uma oportunidade para promover o encontro com os outros, mas pode também agravar o nosso auto isolamento, como uma teia de aranha capaz de capturar”. Nesse sentido, será que o contato virtual é suficiente para mantermos a nossa fé? O Padre Sávio Ribeiro deixa algumas recomendações, não só para vivermos a fé no ambiente virtual como para os dias de isolamento: “Primeiro é fundamental deixar-se crescer pela leitura e o contato com a palavra de Deus. Devemos rezar, criar um ambiente oracional dentro da sua casa - se puder, acompanhar redes sociais e a TV que nos propõem também momentos muito especiais de oração. E não esquecer de fazer a comunhão espiritual. Além de fortalecer nossa igreja doméstica, também sugiro ler bons livros, assistir a
bons filmes, se integrar com as pessoas que estão dentro de casa - conversar com elas, trocar ideias – fortalecer o amor que deve haver dentro de casa, dentro da família – Isso tudo é muito importante para nutrir a fé em um momento tão diferenciado como o que estamos vivendo”.
Audiência Crescente
Além do aumento do uso das redes sociais pelos católicos, a audiência das emissoras de TV Católicas também vem crescendo. A Missa de Aparecida (TV Aparecida), por exemplo, exibida das 6h45 às 7h45, saltou de 0.23 para 0.9 pontos; chegou a estar entre as quatro maiores audiências da TV ao marcar média de 2,7% de participação. O programa garantiu um alcance de mais de 100 mil indivíduos na região. Rede Vida e Canção Nova também tiveram expressivo crescimento. De acordo com dados do Google Analytics, a estimativa é que a audiência das emissoras tenha crescido em 300% no meio digital. Com isso, é possível que tenha aumentado consideravelmente os índices diários em pontos nas praças onde se mede o Ibope. (Fonte Kantar Ibope - Blog Na Telinha e CNBB)
TRANSFORMAÇÕES Apesar do grande volume de informações religiosas acessíveis nas redes sociais após o início do isolamento, Daniel Ávila, da Agência Adora, ressalta que muitas pessoas ainda sentem saudade do contato físico com a igreja e expressam esse desejo nas redes sociais. Para ele, esse tipo de interação desperta para a oportunidade de fortalecer a comunicação e os laços com os fiéis: “As redes sociais se tornaram um grande refúgio neste momento. A gente já percebe várias mudanças de comportamento das pessoas por causa das mídias sociais e esse movimento já vem acontecendo a um bom tempo. Assim, as mídias estão se tornando cada vez mais imprescindíveis e as igrejas precisam estar presentes, bem munidas de conteúdos”, destaca. Para o padre Sávio Ribeiro, tudo o que estamos vivendo vai transformar a nossa forma de viver a fé. É tempo de esperança. “Creio que podemos ter um grande momento pós-pandemia, de crescimento da fé. Se soubermos aproveitar esse tempo e o que está acontecendo conosco, inteligentemente, para oferecer às pessoas algo substancial, nós temos muito a ganhar”, espera.
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A ORDEM REPORTAGEM
SINÔNIMO DA PALAVRA AMOR
Mesmo diante dos desafios impostos pela pandemia do novo coronavírus, data não passa em branco e ganha novas formas de celebração POR LUIZA GUALBERTO ARQUIVO PESSOAL
Todo dia é dia de celebrar o amor por aquela que nos deu a vida, mas, essa celebração ganha mais força em maio, com a vivência do dia das mães. Mesmo com os desafios impostos pela pandemia do novo coronavírus, a data não vai passar em branco e ganha novas formas de celebração. Sentimentos como o respeito, a admiração, o carinho e o amor devem estar sempre presentes no relacionamento entre mães e filhos.
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A maternidade pode ser exercida de várias formas, já que é uma característica inerente à mulher. E não há nada mais sublime do que o amor entre mães e filhos, já que é um amor gerado não só no ventre, mas, principalmente, no coração.” Jane Elza com a família
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Maria, modelo de mãe Para os católicos, Nossa Senhora é o modelo de mulher e mãe, já que na figura materna de Maria, Mãe de Deus, a humanidade encontra referência para todos os tempos. Segundo a carta do papa João Paulo II às mulheres, a Igreja vê na Virgem Maria, a máxima expressão do feminino e encontra nela uma fonte incessante de inspiração. De acordo com o a carta: “Em obediência à Palavra de Deus, Nossa Senhora acolheu a sua vocação privilegiada, mas nada fácil, de esposa e mãe da família de Nazaré. Colocando-se ao serviço de Deus, ela colocou-se também ao serviço dos homens: um serviço de amor”. De acordo com um artigo publicado pelo professor Felipe Aquino, da Comunidade Canção Nova, ser mãe vai ao encontro da plenitude do ser feminino, já que toda mulher é chamada a gerar um novo ser humano, seja física ou espiritualmente. “Maria foi escolhida por Deus para uma gravidez incomum, em que o fruto de seu ventre traria a vida eterna para toda a humanidade. Para isso, Nossa Senhora contou com o auxílio do céu; nasceu imaculada para o propósito divino de ser geradora do Salvador. O amor do coração materno impulsiona as mães a estarem sempre presentes na vida dos filhos, não somente de forma física ou tomando-os como propriedades, mas vislumbrando na maternidade de Maria, como educar para o crescimento em estatura, sabedoria e graça diante de Deus e diante dos homens”, explica o professor. Exercício da maternidade A maternidade pode ser exercida de várias formas, já que é uma característica inerente à mulher. E não há nada mais sublime do que o amor entre mães e filhos, já que é um amor gerado não só no ventre, mas, principalmente, no coração. A notária Jane Elza tem dois filhos que não foram gestados na gravidez, mas, no coração. Em 1998, ela conheceu o esposo, que era viúvo e tinha dois filhos. Em 2001, eles se casaram e Jane passou a exercer esse papel. “Ser mãe do coração é um dom que vem de Deus, real-
REPORTAGEM A ORDEM
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O amor do coração materno impulsiona as mães a estarem sempre presentes na vida dos filhos”
mente, em que você passa a compreender, verdadeiramente, o amor divino. Esse amor é transformador. Eu tinha o sonho de casar, de ter uma família, de ter filhos, mas nunca imaginei que fosse ser dessa forma, que para mim foi muito gratificante, pois as crianças, de imediato, começaram a me chamar de mãe e isso me deixou plenamente realizada e feliz”, conta. E complementa: “Sou muito feliz por Deus
ter me permitido gerar essas duas crianças no meu coração”. Jane teve uma infância difícil e não foi criada pela mãe. “Quem houve minha história pode até perguntar: como uma mulher que não recebeu o amor de mãe, que não teve uma estrutura familiar, pode ter a capacidade de se casar, de constituir uma família e criar os filhos e, acima de tudo, de dar o amor de mãe? Eu digo que tudo isso provém do amor de Deus e que quando a gente busca por ele, todas as coisas se transformam”, reforça. A filha de Jane, a engenheira de produção, Ila Raquel, diz que desde o momento em que elas se encontraram, se aceitaram e colocaram a relação na vida delas, Jane passou a ser a mãe dela. “Hoje, não vemos a necessidade de explicação nos nossos ciclos sociais que ela é mãe do coração. Ela é minha mãe, porque é. Quando meu filho nasceu, naturalmente ele se tornou neto dela, porque ela é minha mãe. Nunca houve uma batalha, uma conquista, foi muito natural, porque desde que a chamei de mãe pela primeira vez, ela passou a assumir esse papel e referência na minha vida. Minha mãe do coração é minha mãe e pronto! Não cabe justificativas nisso”, enfatiza.
Como surgiu a data
O Dia das Mães é uma das datas comemorativas mais importantes no Brasil. É uma data que foi estabelecida no país, de maneira oficial, por um decreto do então presidente Getúlio Vargas. A origem da data vem dos Estados Unidos e teve início no século XX, criado pela ativista Anna Jarvis, com o intuito de homenagear a mãe, Ann Jarvis, conhecida por realizar um trabalho social com outras mães, sobretudo no período da Guerra Civil Americana. O mês escolhido para a celebração está relacionado com o mês de falecimento de Ann Jarvis, no ano de 1905. Em 1910, o Congresso americano elegeu o segundo domingo de maio para marcar a data, que virou uma homenagem a todas as mães. No Brasil, a comemoração passou a ser realizada desde 1918.
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A ORDEM ARTIGO
“Esperançar” palavra de ordem nA Ordem
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stamos vivenciando um tempo de experiência de aprendizagem. Todos somos artífices do conhecimento que temos, queremos, podemos para traçar caminhos, formas de chegada àquilo que sonhamos para nossas vidas. É um tempo de provações, tempo de incertezas, porém tempo de experimentar para saber o sabor que poderemos dar à comida que temos e ao público com quem convivemos. Tudo isso num profundo sentimento de colorir e saborear o que de mais sagrado está em nossas mãos: a vida. Filhos e filhas de Deus não poderiam, neste momento, cair na tentação de se decepcionarem com a criação. Se somos filhos e filhas, temos um Pai que tudo providencia, tudo sugere, tudo realiza, realizando em nós a condição de praticantes desta herança que é o ato de criar, transformar, fortalecer. Somos obras do Criador e, assim sendo, Criador e criaturas se unem; bebendo desta fonte criadora não poderíamos nunca nos sentir órfãos, porque para o Pai orfandade não existe. A expressão “estamos todos no mesmo barco” é muito utilizada, pelo fato de estarmos todos numa terra comum, onde todos se fazem iguais perante a criação; porém, faz também sentido o que nos diz um sertanejo do sítio Saco do Anil, em Jucurutu.RN: “não estamos no mesmo barco; estamos na mesma tempestade”. Quando assim se refere, trata, humanamente, da distribuição do produto da criação: uns com aparatos suficientes para remar o seu habitat e outros com insuficientes meios, causados pela má distribuição, afetando a vida, principalmente destes que, serão, por natureza, vulneráveis. A tempestade pela qual passamos é a mesma tempestade que afetava os discípulos de Jesus em alto mar, mas também é a mesma que afeta os transeuntes de terras planas que estavam a esperar o pescado de mãos calejadas a arrastarem redes pesadas pela força motriz de homens crentes. Agora, estamos, de fato, na mesma tempestade; somos chamados a acreditar cada vez mais no Jesus ressuscitado, filho do mesmo Pai, e Nele colocarmos a nossa confiança. “Esperançar” é a palavra de ordem nA Ordem. É hora de nos questionarmos: “Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?” Munidos desta força é que podemos lutar juntos pela calma da tempestade. A princípio, dúvidas; depois, cada momento vai se delineando como traços de aprendizes que somos e vamos construindo caminhos. Nesta construção é que se dá a esperança, porque encontramos jeitos, formas próprias ou comunitárias de enfrentamento, mesmo dentre os grandes obstáculos construídos pelos próprios transeuntes. Sejamos firmes na dor, para firmes sermos no amor que tudo suporta, tudo crê, tudo espera! Postos em ordem nA Ordem, esperamos, porque vivos esperam sempre!!!
18 MAIO DE 2020
Prof. Milton Dantas Psicopedagogo, coordenador estadual da Pastoral da Criança
“
“Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?” Munidos desta força é que podemos lutar juntos pela calma da tempestade.
A ORDEM
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A ORDEM
Santíssima Trindade: mistério central da nossa fé A solenidade da Santíssima Trindade será celebrada dia 7 de junho, neste ano de 2020. É uma data móvel, celebrada sempre após Pentecostes. O vigário geral da Arquidiocese de Natal, Padre Paulo Henrique da Silva, responde a perguntas de leitores da revista A Ordem sobre o significado dessa solenidade, tão importante para a fé cristã.
Por que a festa da Santíssima Trindade é celebrada sempre depois de Pentecostes? (Rita de Cássia – Paróquia de Santa Rita de Cássia, Santa Cruz) Embora seja considerado domingo do Tempo Comum, a proximidade com a Solenidade de Pentecostes sempre foi vista como oportunidade para que a Santíssima Trindade fosse entendida como o compêndio da história da salvação. A partir de Pentecostes, entendemos que o Espírito Santo nos introduz na vida de comunhão com o Pai pelo Filho, crucificado , na unidade do Espírito Santo. De fato, após a reforma litúrgica, inspirada pelo Concílio Vaticano II, tal solenidade continuou sendo celebrada após Pentecostes. Qual o sentido disso: a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos realiza o que Jesus prometeu: “Mas o Defensor, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos tenho dito” (Jo 14,26). A Solenidade da Santíssima Trindade, que celebra o mistério central de nossa fé, vivida após Pentecostes, é celebrada sob o sinal da presença do Espírito Santo, ele que esclarece as nossas ideias, que instrui os nossos corações com a sua luz, como dizemos na oração de invocação ao Espírito. Assim, celebrando o domingo da Santíssima Trindade, nós entendemos o percurso de nossa fé e o sentido de nossa participação na Igreja: celebramos no oceano infindável do mistério dos Três, Pai e Filho e Espírito Santo. Mas, precisamos entender que em todas as Missas que celebramos sempre honramos a Trindade, pois celebramos em nome do nosso Deus, Pai e Filho e Espírito Santo
As perguntas sobre assuntos diversos da Igreja podem ser enviadas para o e-mail pascom@arquidiocesedenatal. org.br ou para o whatsapp do Setor de Comunicação da Arquidiocese, no número (84) 99675-7772, informando sempre que é o “Aprendendo com a Igreja”, da revista A Ordem. 20 MAIO DE 2020
Um momento que rezamos à Santíssima Trindade, é na oração do Glória, na jaculatória do terço, após as Aves Marias. A partir de quando iniciamos a rezar o Glória nos terços e por que não possui uma conta para rezarmos esta oração? (Kalieny Moreno – Paróquia de Cristo Rei, Pirangi, Natal) A confecção do Rosário, desde que foi feita, possui a oração do Glória ao Pai. A razão pela qual não existe uma “conta” para rezá-lo é desconhecida. O Glória ao Pai sim, é bem mais antiga como oração do que o Rosário, e remonta aos primeiros séculos, especialmente no contexto das heresias trinitárias e cristológicas. A oração significa dar louvor às Três Pessoas divinas, pois o Pai é Deus, o Filho é Deus e o Espírito Santo é Deus, porém, não são três deuses. As heresias, primeiro a do “arianismo”, que negava que o Filho fosse Deus, seria uma criatura, foi condenada no Concílio de Niceia I, em 325. A chamada heresia dos “pneumatômacos” ou inimigos do Espírito Santo, que negava que o Espírito Santo fosse Deus ou Pessoa divina foi condenada em 381 pelo Concílio de Constantinopla I. Assim, quando rezamos o Glória ao Pai..., estamos afirmando a Trindade na Unidade, sem deixar de assumir a Unidade na Trindade.
Percebo que, no conceito de Santíssima Trindade, embora implícito, há uma ‘brecha’ para uma quarta figura, além do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Há algum estudo sobre isso? Onde posso pesquisar? (Marcos Lima – Paróquia de São Paulo Apóstolo, São Paulo do Potengi) Não há tal brecha para uma quarta pessoa. Todas as vezes em que isso foi propagado foi considerado heresia. Na verdade, o que há é uma união do homem e da mulher com a Santíssima Trindade. Nós estamos na Santíssima Trindade. De fato, esse é o sentido pleno da “Espiritualidade”: vida de comunhão com Deus. A Trindade habita em nós, dizia Santa Elisabete da Trindade. Dois exemplos de tentativa de “quaternidade”, isto é, uma quarta pessoa divina: a colocação de Nossa Senhora como uma quarta pessoa na Trindade, e a Essência ou Natureza ou Substância divina como pessoa; ambas foram sempre rechaçadas. Na Idade Média existiu um monge chamado Joaquim de Fiore que argumentava que isso foi ensinado por um grande doutor chamado Pedro Lombardo. Nos seus escritos o abade via a defesa de quatro pessoas divinas: o Pai, o Filho, o Espírito Santo e a Essência divina. Mas, a fé católica não reconhece a Essência divina como pessoa, pelo contrário: a Essência ou Natureza ou Substância é uma só. E Três são as pessoas da única e mesma Essência: por isso dizemos – uma Essência e três Pessoas. A Virgem Maria, mesmo sendo excelsa e esteja acima dos anjos e dos santos, é uma pessoa humana. Dela se deve dizer, com precisão: é um exemplo de concreção da ação transformadora da Graça divina.
Como o Espírito Santo age sobre nós? (Kenia Grunauer – Paróquia de Nossa Senhora de Lourdes, Petrópolis, Natal) A partir do que São Paulo nos diz na Carta aos Gálatas (Gl 4,4-6), entendemos o que a doutrina chama de “missão do Espírito Santo”. Na verdade, são duas as missões divinas: a do Filho e a do Espirito Santo. A missão do Filho coincide com a Encarnação. O Filho de Deus veio ao mundo, concebido pelo Espírito Santo e nascido da Virgem Maria. Já o Espírito Santo vem ao mundo nos corações. Não acontece uma “encarnação” do Espírito Santo. Ele não se torna homem, como aconteceu com o Filho que se tornou Homem, no seio virginal de Maria. Assim, Espírito Santo age de modo invisível. Através dos seus sete dons, o Espírito nos configura como ungidos, isto é, como outros Cristos, enviados ao mundo para evangelizar, vivendo como discípulos de Cristo. O maior e mais infalível sinal de que o Espírito Santo age em nós encontramos na caridade. Na doutrina e na teologia sobre o Espírito Santo se afirma que Ele é o vínculo de amor entre Pai e Filho. E também é o vínculo que nos une a Deus. Deus veio a nós através do seu Filho e do seu Espírito. Nós vamos a Deus por meio do Filho, no Espírito. Esse é modo pelo qual o Espírito age em nós, através do Amor que é Ele mesmo, conforme nos diz São João (cf. 1Jo 4,8.16). Quando amamos, quando buscamos fazer o bem, quando respondemos sim ao chamado de Deus, estamos vivendo sob a ação do Espírito Santo.
A ORDEM EM AÇÃO
Eles estão à margem da prevenção contra a Covid-19 Organismos da Igreja Católica levam comida, produtos de higiene e solidariedade às pessoas que vivem em situação de rua POR CACILDA MEDEIROS
Membros da Comunidade Reviver pela Misericórdia levam refeição para os moradores de rua, quatro vezes por semana
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EM AÇÃO A ORDEM
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este tempo de pandemia causada pelo novo coronavírus, as pessoas são convidadas à solidariedade. A ação da caridade, muitas vezes, é manifestada através da doação de alimentos e de produtos de higiene destinados a quem passa por dificuldades em decorrência da pandemia. Dentre essas pessoas em situação de vulnerabilidade estão as que vivem nas ruas. O poder público tem agido, em relação às pessoas em situação de rua. Em Natal, por exemplo, a prefeitura fez uma reunião, no mês de março, com representantes de algumas instituições, inclusive da Arquidiocese, quando ficou definido que o executivo municipal iria providenciar alguns abrigos e refeições para moradores de rua. O governo do estado, por sua vez, também fez o cadastro de pessoas em situação de rua para terem acesso a refeições, gratuitamente, nos restaurantes populares, enquanto durar a pandemia. A Igreja Católica, através de pastorais e movimentos, também tem feito sua parte, com ações de solidariedade. Toca de Assis Há vários anos, a Fraternidade Toca de Assis, que é formada por um grupo de leigos, desenvolve um trabalho constante junto aos irmãos em situação de rua. A ação acontece nas próprias ruas e, também, na sede da Fraternidade, que fica na Rua Xavier da Silveira, 1024, no bairro de Morro Branco, zona sul da capital. Neste tempo de cuidados com a disseminação do vírus, a Toca tem distribuído,
Nós não levamos apenas o alimento para os irmãos de rua. Nós também levamos a Palavra de Deus. A nossa missão, como Igreja Católica, é ir ao encontro do outro, do mais necessitado, com compaixão” Janet Alves / Comunidade Reviver pela Misericórdia
diariamente, café da manhã, almoço, kits de higiene pessoal e máscara para cerca de 20 pessoas. “São demandas novas, de pessoas que ainda não são acompanhadas por nós e nem estão nos abrigos da Prefeitura. São poucas vagas para os abrigos e, além disso, muitos não quiseram ir”, explica a coordenadora arquidiocesana, Íris Marroque. De acordo com a coordenadora, a maioria dos moradores que já são acompanhados pela Toca, está nos albergues e outros foram para casas de recuperação. “Nós também fizemos o cadastro de mais de duzentos para terem direito às refeições nos restaurantes populares”, acrescenta. Segundo Íris, muitas pessoas em situação de rua não acreditam nos perigos a que estão expostos à covid-19.
“Ninguém quer usar máscaras, pelo menos. Eles dizem que já passaram por tanto sofrimento, que estão imunes a essa nova doença. Temos consciência de que se o vírus chegar até eles, será uma situação muito complicada”, diz. A Toca de Assis também tem distribuído cestas básicas, kits de limpeza e máscaras para famílias carentes. As doações que chegam à casa da Fraternidade, também são partilhadas com casas de recuperação para dependentes químicos. Quem desejar ajudar à Toca de Assis, pode entrar em contato com a coordenação, através do telefone/ whatsapp: (84) 98844-9799. Reviver pela Misericórdia Há mais de dois anos, a Comunidade Católica Reviver pela Misericórdia desenvolve uma ação junto a irmãos em situação de rua, levando para eles o almoço ou o jantar, nos finais de semana. “Diante dessa situação que estamos enfrentando, a gente percebeu que a situação daquelas pessoas ficara ainda mais difícil. Muitos são pedintes, nas ruas, e não estavam conseguindo dinheiro para a alimentação. Foi aí que decidimos levar alimentação para eles, quatro vezes por semana”, conta a fundadora da Comunidade, a médica Janet Alves. De acordo com Janet, todo o alimento é preparado na sede da própria Comunidade, no bairro de Lagoa Nova. A ação conta com a doação de gêneros alimentícios, como também de algumas pessoas que vão, voluntariamente, ajudar a preparar a comida. “O cardápio varia de acordo com as doações que recebemos”, diz.
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A ORDEM EM AÇÃO
Neste tempo de pandemia, pessoas em situação de rua recebem alimentação na sede da Toca de Assis
“Nós não levamos apenas o alimento para os irmãos de rua. Nós também levamos a Palavra de Deus. A nossa missão, como Igreja Católica, é ir ao encontro do outro, do mais necessitado, com compaixão”, reflete Janet Alves. Ela conta que, além das pessoas em situação de rua, a Comunidade também está levando refeições para famílias, que mesmo tendo onde morar, estão passando necessidades. Quem quiser fazer contribuição, pode entrar em contato pelo telefone 99918-5032 ou pelo instragram. com/reviverpelamisericordia. Outras ações Além da Fraternidade Toca de Assis e da Comunidade Reviver pela Misericórdia, outras comunidades e paróquias também estão realizando ações em prol das pessoas em situação de rua, especialmente neste período difícil. A Obra Lumen, cuja casa fica si24 MAIO DE 2020
tuada no Conjunto dos Professores, zona sul de Natal, tem o carisma de atender moradores de rua. Segundo Felipe Bastos, que integra a Comunidade, devido à quarentena, os missionários da Obra Lumen não estão indo para as ruas, por pre-
caução. Contudo, eles acolheram na casa da Comunidade seis pessoas em situação de rua. “Depois de um tempo, duas delas optaram por deixar a casa. Infelizmente, é próprio da condição de rua, de drogadição”, diz Felipe. Ele adianta que, somando as casas da Obra Lumen espalhadas por outras capitais do Nordeste, já são mais de 160 pessoas acolhidas. A Paróquia de Nossa Senhora de Fátima, em Parnamirim, também realizou um trabalho junto aos irmãos de rua, daquele município, cadastrando-os para terem direito às refeições nos restaurantes populares, custeados pelo governo estadual. Antes disso, as pastorais também forneciam o café da manhã para eles, aos domingos. No Patronato da Medalha Milagrosa, situado na Cidade Alta, na capital, dirigido pelas Irmãs da Caridade, há um grupo de vicentinos que, há tempo faz um trabalho social voltado aos mais carentes. A superiora do Patronato, Irmã Fernanda Lins, explica que o grupo distribui cestas básicas, a famílias cadastradas, uma vez por mês. “Devido ao isolamento social, a gente entrega as cestas em alguns lugares estratégicos, e, também, leva lanches e lençóis para os moradores de rua”, conta a religiosa. As pessoas que desejarem colaborar, dando ingredientes para os lanches ou lençóis, pode entrar em contato com o Patronato, através dos telefones 3222-0965 / 99934-3491.
Irmã Fernanda Lins sai, à noite, levando lanches e lençóis para os que não têm onde morar
Catequese
Preços válidos até 29/2/2020 ou enquanto durarem nossos estoques.
A ORDEM
com estilo catecumenal
Coleção Casa da Iniciação cristã – Eucaristia e crisma Leomar A. Brustolin
Casa da Iniciação Cristã Eucaristia 1 Livro do catequista
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Com linguagem moderna, adaptada à comunicação do cotidiano e das redes sociais, a coleção está fundamentada na Palavra de Deus, com roteiros de encontros com grupos de catequese, sugestões de celebrações em comunidade e propostas de encontros com a família.
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Estabeleça parceria de cursos e palestras com a Paulinas Livraria para implantar ou fortalecer o método catecumenal em sua comunidade.
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A ORDEM VIVER
COVID-19 e seus impact Como lidar com a ansiedade e as incertezas em período de pandemia POR VITÓRIA ÉLIDA
Coronavírus, Isolamento social, quarentena, crise financeira, respiradores, máscaras, vacina. Esses são alguns dos termos mais ouvidos nesses últimos meses após o surgimento da pandemia causada pelo Covid-19. Em meio a isso, surgem os diversos conflitos pessoais de enfrentamento da situação, gerando um aumento no número de casos de transtornos emocionais. Na história da humanidade passamos por outras situações de catástrofes, inclusive, já enfrentamos outras pandemias, como a peste negra, que dizimou mais de 40% da população europeia no século 14, o vírus Ebola, que atingiu principalmente a África e que apresenta uma letalidade de 50% dos contaminados. Também já enfrentamos a SARS, causada por um tipo de coronavírus, e a gripe espanhola. Mas o que faz com que esse momento que estamos enfrentando seja diferente? O acesso às informações, e as informações em excesso. A facilidade em saber o que está acontecendo expôs um lado frágil da nossa humanidade, o que não aconteceu nos episódios anteriores. Esse excesso de informações unido ao isolamento social tem intensificado o surgimento de casos de ansiedade. Segundo a psicóloga, Ananda Silva, a situação atual é alarmante e se tornou um gatilho para muitas pessoas, pois “a sensação de incerteza, o medo, o pânico, a angústia, a apreensão, o isolamento, o tédio e a solidão atuam contribuindo para o aparecimento de sinais de ansiedade”, afirma. A psicóloga relata ainda que a ansiedade “é uma reação que surge diante de momentos ameaçadores, e tem a função de nos proteger. Porém, requer
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VIVER A ORDEM
tos na saúde mental
atenção quanto à sua intensidade e duração”. Enfrentar a ansiedade não deve ser encarado como o maior desafio neste momento, e sim, como uma estratégia natural que nosso organismo encontrou para encarar perigos, e nos deixar atentos, nos propondo soluções. A ansiedade nos estimula a agir, nos tira da posição estática, mas exige de nós atenção, quando nos colocamos em uma situação de risco constante. Para aqueles que já possuem transtornos emocionais como a depressão, esse período é especialmente perigoso. A súbita modificação de rotina, o isolamento, a perda das estruturas do cotidiano, a luta contra algo invisível e o acesso às notícias atuam como uma espécie de trampolim, levando a pensamentos ainda mais negativos, à tristeza e à irritabilidade. Ao contrário daqueles considerados “saudáveis”, quem já sofre com distúrbios de ansiedade, precisam gastar uma energia ainda maior no combate aos medos. Para administrar toda essa situação, a psicóloga Ananda sugere: Atenção aos fatores de prevenção, monitoramento dos pensamentos negativos, diminuição do desejo pela informação e filtragem dessas informações, busca por novas alternativas, a empatia e descoberta de si. Várias são as estratégias para enfrentamento dessa fase. A forma como encaramos certas situações da vida, determinam o que será colhido posteriormente. Sendo assim, aproveitar o momento para colocar em dia as leituras de livros esquecidos nas prateleiras, se dedicar a um curso on line, cuidar da saúde física através da prática de exercícios físicos, assistir a filmes e séries, fazer uso das redes sociais para interagir ainda mais com amigos e familiares, dar mais atenção aos parentes, ou simplesmente se permitir não fazer nada por um tempo, são estratégias de enfrentamento desse período. O momento exige uma reinvenção não só da rotina, mas de pensamentos e de si.
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A ORDEM
GERAL
Padre João Maria
Anjo da Caridade
Por José Rodrigues - vice postulador da causa do Pe. João Maria
Padre João Maria: o lume da Esperança Em épocas de crise, como a que estamos vivenciando, em virtude da pandemia do COVID-19, a desigualdade social geradora de miséria é explicitada e agravada. Nesses momentos a penúria humana é confirmada nas mais diferentes formas, principalmente para aqueles que se encontram em uma situação de vulnerabilidade social. É, contudo, em tempos obscuros e tempestuosos que a luz do profetismo da caridade brilha como farol de esperança para os desvalidos. Essa centelha esperançosa foi evidenciada a partir da atuação do padre João Maria Cavalcanti de Brito, em prol dos pobres, de forma particular, quando, em 1889, a Cidade do Natal foi superpovoada por retirantes, vindos do sertão potiguar, fugindo dos efeitos da seca que assolava a região. No dia 21 de setembro daquele ano, o jornal “Gazeta de Natal” publicou uma matéria com o título “A fome e seus horrores”, apresentando as cenas desoladoras que a cidade vivenciava, destacando a atuação do “santo vigário de Natal” no auxilio aos pobres. Diante da grave situação, o Presidente da Província (o que atualmente corresponde à chefe do executivo estadual) solicitou ao sacerdote que distribuísse aos necessitados uma parca ajuda de socorro para a alimentação dos famintos. Sendo o valor insuficiente para tamanha demanda, apenas o reverendo vigário seria capaz de ter acesso e o respeito do povo. Ao saber da notícia rapidamente se formou uma multidão de cerca de três mil desvalidos, aglomerados na Praça da Alegria (hoje denominada Praça Padre João Maria) às portas do consistório da igreja matriz de Nossa Senhora da Apresentação, onde o padre morava. Segundo a Gazeta de Natal “...à força de empurrões inutilizaram a escada que comunicava para o aposento superior do consistório, impossibilitando o vigário de estabelecer a necessária ordem e regularidade no trabalho da distribuição”. Mesmo com a acalorada situação, o padre João Maria não desistiu de ajudar os pobres, fazendo o possível para atender aos famintos. Diante de cenas desoladoras, o “Anjo da Caridade”, representava um alento em um “...triste quadro que representavam tantas pessoas de feições esquálidas, esqueléticas, aflitas e desalentadas pelo sofrimento”, como descreveu a matéria, que encera narrando uma trágica cena: “Ainda o povo se não havia dispersado, quando passava por ali mesmo o cadáver de uma criança, que sucumbira à fome nos braços de sua desditosa mãe!”. A esta mãe restava apenas o conforto espiritual das preces piedosas do zeloso sacerdote. Mesmo em horas de dor, o exemplo de partilha e doação do padre João Maria, sempre ao lado dos pobres no calvário de seus sofrimentos, alimentava a esperança na ressureição.
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#FICAADICA POR JEFERSON ROCHA
Nossa indicação de leitura é um clássico da literatura mundial: “O Sol é para todos”. Conta a história de um advogado que defende um homem negro acusado de estuprar uma mulher branca nos Estados Unidos nos anos 1930 e que enfrenta represálias da comunidade racista. O livro de Harper Lee é narrado pela sensível Scout, filha do advogado. Uma história atemporal sobre racismo, tolerância, perda da inocência e conceito de justiça. Disponíveis nas melhores livrarias em versões digital e impressa -você pode comprar online e receber na sua casa.
O filme deste mês é para se emocionar e fortalecer nossa fé, nossa esperança. A dica é o novíssimo, “Superação, o Milagre da fé”. A obra, baseada em uma história real, conta a história de John Smith, de apenas 14 anos, que sofre uma queda e se afoga por mais de 15 minutos. Chegando ao hospital, John é considerado morto por mais de uma hora até que sua mãe, Joyce Smith, ao lado do pai e de um pastor, junta todas as suas forças e pede a Deus para que seu filho sobreviva. Sua prece poderosa é responsável por um milagre inédito. A produção já está disponível nas principais plataformas digitais. #FiqueEmCasa
ARTIGO A ORDEM
O papel da Igreja em tempos de pandemia Desde sua gênesis, a Igreja, como Mãe e Mestra, ocupa um importante papel na vida dos seus membros. Ou ainda, a tantos homens e mulheres, que indiretamente, são atraídos a Jesus Cristo, por sua Graça, nas diversas realidades que apontem nitidamente a promoção da vida, da justiça e da paz; ou seja, desde seu início, a Igreja está a serviço da sociedade, seja como parte dela, seja como ação da vontade de Deus que quer o bem a todos. E, mesmo em momentos de extrema necessidade, no que toca à saúde humana, a Igreja se colocou como verdadeira enfermeira na colaboração para que Deus – médico dos médicos – pudesse desempenhar seu papel de cura e de restabelecimento da vida. Estamos vivendo uma importante e gravíssima crise de saúde em todas as dimensões do contexto, mas não se trata da primeira realidade de colapso que a humanidade vivencia, no que diz respeito a epidemias e pandemias. Nos últimos 700 anos, podemos destacar vários eventos que se assemelham ou superam o estado atual da pandemia de COVID-19: Peste Negra (séc. XIV), Cólera, Tuberculose, Varíola, Gripe Espanhola, Tifo, Febre Amarela, Sarampo, Malária, AIDS (sécs. XIX e XX). Em todas essas ocasiões, a Igreja se colocou, pelo menos, como coadjuvante no enfrentamento das diversas crises, nos papéis de: educadora (na dimensão pastoral e nas dimensões educacionais, como escolas, universidades e institutos); espaço físico (casas de misericórdia, hospitais, conventos, igrejas, abrigos, casas de repouso); e mão de obra (sacerdotes e/ou religiosos e religiosas que desempenharam, seja por profissão, seja por necessidade urgente, a função de enfermeiros, médicos, auxiliares, cientistas e pesquisadores). Além, é claro, de fazer seu papel primeiro que é levar o alento espiritual à vida dos enfermos e de seus familiares, bem como ao corpo de profissionais e colaboradores que assumem a linha de frente no enfrentamento de momentos caóticos. E, atenta para que o mandato de Jesus Cristo: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16,15) não exclua ninguém que tenha sede dessa palavra, em nenhum momento, a Igreja se fez longe da humanidade com o alento necessário que só a Palavra e a Eucaristia são capazes de possuir. Dando cura aos enfermos, consolo aos aflitos, esperança aos angustiados e vida digna aos miseráveis (seja por qual for o motivo). Dessa forma, observar o trabalho atual da Igreja, nas mais variadas dimensões (instrução, prevenção, acompanhamento e intercessão), é observar de maneira atualizada o que, desde sempre, fez em favor da vida humana. Destaca-se, em nossa realidade atual, a evangelização virtual, sobretudo pelas mídias sociais, que ganhou grande relevância no campo das transmissões de momentos celebrativos, formativos e oracionais, permitindo que as famílias cumpram o papel de cooperadores no enfretamento da pandemia e que ressaltem o dom da Igreja Doméstica. Assim, os antigos meios que a igreja utilizava para que a evangelização não fosse interrompida, mesmo em tempos difíceis de calamidades, são atualizados na nova forma de levar a cura, o alento e a fé aos tantos necessitados, procurando fazer sempre o papel do Bom samaritano que viu, sentiu compaixão e cuidou.
Pe. Rodrigo Paiva Chanceler da cúria metropolitana
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O trabalho atual da Igreja, nas mais variadas dimensões, é observar de maneira atualizada o que, desde sempre, fez em favor da vida humana”
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