Fundação Paz na Terra Ano LXVIII - Nº 53 Natal/RN | R$ 7,00 Setembro de 2020
A ORDEM
SUMÁRIO EDITORIAL
PRESENÇA MESMO NA AUSÊNCIA
Fundação Paz na Terra Ano LXVIII - Nº 53 Natal/RN | R$ 7,00 Setembro de 2020
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CAPA
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ENTREVISTA - Arquidiocese acolhe nova coordenação da Pastoral do Dízimo
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APRENDENDO COM A IGREJA Curiosidades bíblicas
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ARTIGO - Para que todos tenham vida
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REPORTAGEM - Secretária paroquial de Taipu completa 40 anos na função
EXPEDIENTE
Revista mensal da Fundação Paz na Terra Endereço: Rua Açu, 335 – Tirol CEP: 59.020-110 – Natal/RN Fone: 3201-1689
Neste período de pandemia do coronavírus, certamente muitas pessoas cristãs se sentiram distantes de Jesus, porque não podiam comparecer corporalmente às missas e se alimentar do Corpo e Sangue de Cristo, presentes na Hóstia Consagrada. Algumas, até, chegaram a reclamar da falta das celebrações, sem compreender que, provavelmente, Jesus não aprovaria esta atitude, porque Ele não quer que seus seguidores percam a vida. “Eu vim para que todos tenham vida, e vida em abundância”(cf.Jo 10,10). A ausência nas celebrações eucarísticas não significava a ausência da presença de Jesus na vida de cada cristão. Ele permaneceu ali, no meio dos que n’Ele creem, vivendo e sofrendo as tribulações de cada um. Mas a inquietação era pertinente, embora não procedente. É que o “olhar” da criatura humana é muito limitado. Na maioria das vezes “enxerga” só com os olhos, e não com o entendimento. A esse respeito, São Paulo questiona os cristãos, na carta aos romanos: “Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação? A angústia? A perseguição? A fome? A nudez? A guerra? O perigo? A espada? Mas em todas estas coisas somos mais que vencedores, graças Àquele que nos amou”(cf. Rm 8,35;37). Agora, pois, eis que voltam as celebrações, nas Igrejas Matrizes, com a presença, mesmo que limitada, dos fiéis seguidores de Cristo. Jesus se fez presença na vida de cada cristão, mesmo na ausência da comunhão material da Hóstia Consagrada!
CONSELHO CURADOR: Pe. Antônio Nunes Vital Bezerra de Oliveira CONSELHO EDITORIAL: Cacilda Medeiros Luiza Gualberto Josineide Oliveira Jeferson Rocha Cione Cruz André Kinal Milton Dantas Vitória Élida
EDIÇÃO E REDAÇÃO: Luiza Gualberto (DRT-RN 1752) Cacilda Medeiros (DRT-RN 1248) REVISÃO: Milton Dantas (LP 3.501/RN) FOTO DA CAPA: Brunno Antunes
COLABORADORES: José Bezerra (DRT-RN 1210) Cione Cruz Rede de Comunicadores da Arquidiocese de Natal
DIAGRAMAÇÃO: Akathistos Comunicação (47) 9 9618-3464 COMERCIAL: (84) 3615-2800
ASSINATURAS: Com as coordenações paroquiais da Pastoral da Comunicação ou na redação da revista, no Centro Pastoral Pio X – Av. Floriano Peixoto, 674 – Tirol – Natal/RN (84) 3615-2800 assinante@arquidiocesedenatal.org.br www.arquidiocesedenatal.org.br
SETEMBRO DE 2020
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A ORDEM
PALAVRA DA IGREJA
Covid-19:
SOLIDARIEDADE RELIGIOSA
Francisco Papa
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“O diálogo interreligioso não somente ajuda a esclarecer os princípios da nossa fé e da nossa identidade cristã, mas também abre a nossa compreensão dos desafios - e das soluções criativas - que os outros podem oferecer”
Encorajar as igrejas e organizações cristãs a refletirem sobre a importância da solidariedade inter-religiosa em um mundo ferido pela pandemia. Este é o objetivo do documento conjunto elaborado pelo Conselho Mundial de Igrejas (WCC, sigla em inglês)) e pelo Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso (PCID) intitulado: “Servir a um mundo ferido na solidariedade inter-religiosa. Um chamado cristão à reflexão e à ação durante a Covid-9”. Segundo o comunicado, a publicação também foi pensada para ser útil aos representantes de todas as religiões que já responderam à Covid-19 com pensamentos semelhantes, baseados em suas próprias tradições. O texto reconhece que o contexto atual da pandemia como um momento para descobrir novas formas de solidariedade para repensar o nosso amanhã. Composto por cinco seções, após uma introdução, o texto reflete sobre a natureza de uma solidariedade sustentada pela esperança e oferece uma base cristã para a solidariedade inter-religiosa, expondo então alguns princípios-chave e uma série de recomendações sobre como a reflexão em torno da solidariedade pode ser traduzida em ações concretas e credíveis. O presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso, cardeal Miguel Ángel Ayuso Guixot, recordou que o serviço cristão e a solidariedade, em um mundo ferido, estão na ordem do dia das atividades das duas instituições desde o ano passado. A pandemia inspirou o projeto a agir como uma “resposta ecumênica e inter-religiosa oportuna”, acrescentando que “a pandemia trouxe à tona as feridas e as fragilidades de nosso mundo, revelando que nossas respostas devem ser oferecidas em solidariedade inclusiva, aberta aos seguidores de outras tradições religiosas e às pessoas de boa vontade”, considerando a preocupação por toda a família humana. O secretário-geral interino do WCC, professor Ioan Sauca, enfatizou que o diálogo inter-religioso é vital para a cura e o cuidado uns dos outros em nível global. “Diante da pandemia - disse ele - a família humana está enfrentando em conjunto um chamado sem precedentes para proteger uns aos outros e salvar nossas comunidades”. Diz o documento: “O diálogo inter-religioso não somente ajuda a esclarecer os princípios da nossa fé e da nossa identidade cristã, mas também abre a nossa compreensão dos desafios - e das soluções criativas - que os outros podem oferecer”. O documento é o último a ser coproduzido pelo WCC e pelo Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso, após a publicação de “Educação para a Paz no mundo plurirreligioso, uma perspectiva cristã”, em maio de 2019. FONTE: Vatican News
4 SETEMBRO DE 2020
A VOZ DO PASTOR
A ORDEM
VIVÊNCIA DO
Mês da Bíblia Queridos irmãos e irmãs! Há poucos dias iniciamos o mês de setembro, mês dedicado à Bíblia, e, aqui, na nossa Arquidiocese, também dedicado ao Dízimo. Quero refletir, hoje, sobre a importância da Bíblia, Palavra de Deus, dirigida aos homens e às mulheres, palavras de um Deus amoroso, cheio de ternura e de misericórdia. O Mês da Bíblia é uma inciativa da Igreja do Brasil, que acontece desde 1971, inicialmente, na Arquidiocese de Belo Horizonte e, posteriormente, em todo o Brasil, assumido pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Este ano, o Mês da Bíblia tem como lema: “Abre tua mão para o teu irmão” (Dt 15,11). Neste mês, a Igreja celebra a Palavra de Deus, de modo especial, lembrando a todos os católicos que a Igreja, “ouvindo religiosamente a Palavra de Deus, proclamando-a com confiança, faz suas as palavras de S. João: ‘anunciamo-vos a vida eterna, que estava junto do Pai e nos apareceu: anunciamo-vos o que vimos e ouvimos, para que também vós vivais em comunhão conosco, e a nossa comunhão seja com o Pai e com o seu Filho Jesus Cristo’ (1 Jo 1,2-3)” (CONCÍLIO VATICANO II. Constituição Dogmática sobre a Revelação Divina, Dei Verbum, n. 1). Graças a Deus, a Bíblia está presente na vida dos católicos. Foi-se o tempo em que se dizia, de modo pejorativo, que os católicos não usavam ou não tinham familiaridade com as Sagradas Escrituras. Desde a promulgação da Constituição Dogmática Dei Verbum, em 1965, a Igreja multiplicou iniciativas em prol da formação bíblica, dos círculos bíblicos, dos encontros de leitura orante da Palavra (Lectio divina). E, sobretudo, nos estudos teológicos, aconteceu a grande renovação metodológica, o que, de fato, nunca deixou de ser, da apresentação da Revelação divina como alma da Teologia. O Concílio Vaticano II alertou para não cairmos do literalismo, pai do fundamentalismo bíblico, pois tal perigo, de fato, trai o significado das Sagradas Escrituras: trata-se da exposição ou codificação da experiência viva que os homens e as mulheres, outrora um povo, Israel, no Antigo Testamento, mas, nos últimos tempos, todos os povos, a humanidade, tem com o seu Deus. Na verdade, esta é a grande notícia, a bela, boa e verdadeira notícia: Deus cria os homens e as mulheres para que vivam de sua Vida, para que entrem na conversação com Ele. O ser humano, e com ele a criação inteira, surge da Palavra, é constituído “ouvinte da Palavra”, isto é, é um ser, criado segundo a imagem de Deus, que é o Filho eterno, sua Palavra eterna, que seria enviado ao mundo para que, encarnando-se, revelasse o que Deus desejava para o homem e a mulher. E Deus se apresenta, sempre, como o Deus dos pais de Israel, de todas as nações, Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo. E, para que isso aconteça ou se torne realidade concreta, Deus dá o seu Espírito aos homens e às mulheres. O seu Espírito abre nossos ouvidos e nosso coração à escuta de sua Palavra. Desejo que todos vivam esse mês com entusiasmo e com muita alegria, louvando e agradecendo ao Bom Deus por ter feito de nós, homens e mulheres, capazes de escutar sua palavra. Bom Mês da Bíblia para todos.
Dom Jaime Vieira Rocha Arcebispo Metropolitano de Natal
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“Graças a Deus, a Bíblia está presente na vida dos católicos. Foise o tempo em que se dizia, de modo pejorativo, que os católicos não usavam ou não tinham familiaridade com as Sagradas Escrituras.”
SETEMBRO DE 2020
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A ORDEM
O casal Washington Reis e Miriam Neri são os novos coordenadores da Pastoral do Dízimo na Arquidiocese de Natal. A nova coordenação será apresentada oficialmente, no Encontrão Arquidiocesano do Dízimo, que acontece no dia 20 deste mês, de forma online, com uma programação diversificada. De acordo com o casal, a expectativa para abraçar a missão é grande e eles vão dar continuidade ao trabalho e protagonismo que a pastoral tem no território arquidiocesano.
ARQUIDIOCESE ACOLHE NOVA COORDENAÇÃO DA
Pastoral do Dízimo
6 SETEMBRO DE 2020
ENTREVISTA A ORDEM
A Ordem: O que é o Dízimo na ótica da Igreja Católica? Miriam: O Dízimo é uma doação regular e deve ser proporcional aos rendimentos do fiel. Todo batizado é convidado a assumir esta missão, pois é uma forma concreta de manifestar a fé em Deus e o amor ao próximo. É um sinal de pertença à comunidade. É por meio do Dízimo que a Igreja se mantém e sustenta os trabalhos de evangelização, além de realizar diversas obras assistenciais, voltadas aos menos favorecidos. Por meio do Dízimo, podemos viver três virtudes que são as mais importantes para o cristão: a fé, a esperança e a caridade. Tudo isso nos leva a ficar mais próximos de Deus. O Dízimo é, portanto, um compromisso do cristão. A Ordem: Diz-se, popularmente, que o valor a ser devolvido no Dízimo, está na ordem de 10% daquilo que o fiel recebe. Essa afirmação é verdadeira? Miriam: A palavra Dízimo significa a décima parte. A sua origem está nos 10% dos judeus, relatado para nós no Antigo Testamento. Essa característica mudou quando o apóstolo Paulo começou a pregar para os gregos e pagãos. Os 10% eram muito próprios dos judeus. Já, Paulo, pregou que as pessoas deveriam doar conforme o coração delas. Essa pregação relatada no Novo Testamento é o que assumimos hoje, de doar conforme o nosso coração, mas, somos convidados a também fazer essa experiência de doar os 10%, conforme a Palavra, no Antigo Testamento, nos mostra. A Ordem: Qual a diferença entre Dízimo e oferta? Washington: Realmente, são coisas distintas. O Dízimo é um compromisso regular. A característica do Dízimo é a fidelidade a Deus. Toda pessoa batizada deve assumir essa prática. Partici-
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“A característica do Dízimo é a fidelidade a Deus. Toda pessoa batizada deve assumir essa prática”
par dessa semeadura é uma forma concreta e eficaz que o cristão tem para manifestar o amor a Deus e ao próximo. Já a oferta, é uma doação espontânea. Na oferta, não existe regularidade. O fiel pode fazer a oferta nas missas ou doar na própria Paróquia, de forma espontânea. Não existe o compromisso, como no Dízimo. No Dízimo, nos tornamos fiéis àquela comunidade que fazemos parte. O fiel pode ser dizimista e também fazer suas ofertas durante as missas, seja na Paróquia de origem ou em outra comunidade que participe das celebrações. Dízimo e oferta são formas de manifestação da fé e amor ao próximo. A Ordem: Qual a expectativa para assumir a missão como novo casal arquidiocesano da Pastoral do Dízimo? Miriam: É um desafio maravilhoso que nos foi confiado. A expectativa é maravilhosa, porque é uma pastoral que tem uma vida e história na nossa Arquidiocese. Eu e Washington tivemos a graça de fazer parte dessa história desde o início, lá em 1997. Nós tínhamos feito o Encontro de Casais com Cristo e fomos convidados a ter essa experiência com a Pastoral do Dízimo. Nos encantamos e participamos de todo esse momento com o casal Sânzia e Fernando, que foram coordenadores arquidiocesanos da pastoral. Chegamos a coordenar a pastoral em diversas ocasiões, na nossa Paróquia, de São Pedro, no Alecrim. O nosso objetivo é dar continuidade ao trabalho, com foco na formação e nesse espírito missionário, que é próprio da pastoral. Estamos com um projeto para o triênio, que culmina com os 25 anos da pastoral, em 2022. Estamos trabalhando para que esse projeto se realize e nós possamos, mesmo nesse momento de pandemia, trabalhar as três SETEMBRO DE 2020
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A ORDEM
ENTREVISTA
visões que temos para essa missão, sendo 2020 voltado para a formação; 2021 para o anúncio/evangelização; e 2022, a celebração. Mesmo nesse período, estamos conseguindo dar continuidade aos nossos trabalhos, de forma online, utilizando as diversas plataformas para nos auxiliar neste sentido. A Ordem: No próximo dia 20 acontece o Encontrão Arquidiocesano do Dízimo. O que está sendo pensado, levando em conta o contexto da pandemia? Washington: Esse ano, o nosso encontro vai ser virtual. Como já é tradição da pastoral, o nosso Encontrão vai acontecer no terceiro domingo de setembro, no dia 20. A programação vai acontecer das 10h às 12h, com transmissão pelas páginas da nossa Arquidiocese, no Facebook e Youtube, além
das páginas da paróquias da Arquidiocese e também contaremos com transmissão pela Rádio 91.9 FM. A programação vai contar com a participação de Dom Joel Portela, secretário geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), de forma virtual, além do nosso Arcebispo, Dom Jaime Vieira Rocha e do coordenador arquidiocesano de pastoral, o padre Flávio Herculano. Ainda contaremos com louvor e testemunhos de dizimistas dos diversos zonais da nossa Arquidiocese. O tema do nosso encontro vai ser “Dízimo: conversão pastoral e missionária”. A Ordem: Que mensagem vocês deixam às famílias dizimistas no contexto da vivência deste mês dedicado ao Dízimo? Washington e Miriam: Queridos irmãos e irmãs dizi-
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mistas, que o amor de Deus esteja sempre presente em nossas vidas. A pastoral arquidiocesana do Dízimo se alegra por comemorar, nesses 30 dias, o mês do Dízimo. Que a fé e a caridade estejam presentes em nossas ações, como São Tiago prega: “a fé sem obras é morta”. Essas palavras nos mostram como somos amados por Deus, ao fazermos essa experiência de fidelidade com nosso Dízimo. Que o sim de Abraão se fortaleça em nossos corações, nos fazendo homens e mulheres de fé, promotores da vida, da caridade e da solidariedade com o próximo. Tenhamos um mês abençoado, cheio de uma experiência de amor ao Pai, que tudo nos dá. Que nossa fidelidade a esse amor seja constante. Agradecemos a todos e contamos com a participação online no nosso encontro, no dia 20 de setembro.
O Dízimo é um compromisso regular. A característica do Dízimo é a fidelidade a Deus”
8 SETEMBRO DE 2020
GERAL A ORDEM
NATALENSE É AUTORA DO HINO DA
Campanha Missionária 2020 No final de agosto passado, as Pontifícias Obras Missionárias divulgaram o hino em preparação ao Mês Missionário 2020. A letra e a música são de Joelma Alexandre, agente pastoral na Paróquia de Nossa Senhora de Fátima, no Parque das Dunas, zona norte de Natal. Ela é integrante das Famílias Missionárias e, também, da Comissão Missionária Arquidiocesana. Segundo Joelma, ainda em 2019, quando tomou conhecimento sobre o tema da Campanha deste ano, logo despertou a vontade de compor o hino. “A inspiração veio da consciência de entender e responder ao chamado de Deus. Um projeto vocacional que se inicia com o próprio sim à vida! A resposta ao chamado divino se concretiza na minha atitude com o próximo”, conta. Neste ano, a campanha missionária traz como tema “A vida é missão” e lema “Eis-me aqui, envia-me”(Is 6,8), passagens que destacam a dimensão existencial da missão. “Para responder ‘Eis-me aqui, envia-me’, é necessário reconhecer nossa pequenez e a grandeza de um Deus que ama, chama e que nos acompanha na caminhada”, diz a autora. “A melodia vibrante, entusiasma e nos faz lembrar que a missão deve ser respondida com alegria. A letra da melodia nos leva
Joelma Alexandre, autora do hino
a refletir sobre a resposta ao chamado Divino”, explica Joelma, em relação ao hino. Além do hino da Campanha Missionária 2020, Joelma Alexandre possui outras composições, em letra e música, abordando o tema missão. “Inicialmente foi o próprio Hino das Famílias Missionárias, com a inspiração do Espírito Santo, que é Ele quem conduz, foram surgindo outras músicas que expressam nossa vivência, espiritualidade e experiência missionária. A composição mais recente, foi agora, na
Semana Nacional da Família, dedicada à Pastoral Familiar, revela. O hino da Campanha está disponível para ser ouvido e para ser baixado no site pom.org.br. Campanha Missionária Anualmente, sempre no mês de outubro, a Igreja Católica, no Brasil, realiza a Campanha Missionária. A organização é das Pontifícias Obras Missionárias, em conjunto com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), por meio da Comissão para a Ação Missionária e Cooperação Intereclesial, da Comissão para a Amazônia e outros organismos que compõem o Conselho Missionário Nacional (COMINA). Neste ano, devido à pandemia, todo o material de animação do mês missionário, como cartaz, novenas e envelopes para a coleta, foram disponibilizados no formato digital, através do site pom.org.br. SETEMBRO DE 2020
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A ORDEM
ARTIGO
CONSEQUÊNCIAS DA PANDEMIA O MEIO AMBIENTE VOLTOU A RESPIRAR?
Céu mais limpo em várias cidades, áreas mais verdes, animais mais livres. Essas são umas das mudanças ambientais que estão sendo percebidas ao longo dos meses em um mundo que enfrenta uma pandemia. A redução na atividade econômica e o isolamento social provocados pelo novo coronavírus, causador da Covid-19, resultaram em alguns impactos positivos ao meio ambiente. Porém, não podemos comemorar ainda, visto que isso apenas demonstra a necessidade de que precisamos de fato parar bruscamente nossas atividades para obtermos pequenas melhorias ambientais. Sendo assim, essa realidade nos demonstra que há uma visão negativa quanto à boas perspectivas de melhorias para o futuro. Já que o homem não consegue seguir por muito tempo esse momento de pausa de suas atividades danosas ao ambiente como já visualizamos com o retorno gradual das atividades. Segundo dados, as emissões de carbono diminuíram entre 5.5% e 5.7% durante a pandemia. Com isso, já é possível notar uma melhor qualidade do ar, principalmente nas grandes cidades. A expectativa é que a redução anual no mundo seja de 2.5 bilhões de toneladas de gás carbônico, representando uma queda de 5% em relação a 2019. Boa parte dessa redução se deve a diminuição da atividade industrial, mas o consumo de combustíveis fósseis também reduziu drasticamente: a diminuição da procura por gasolina chegou a 35% e, por diesel, cerca de 25%. Porém, a Organização das Nações Unidas (ONU) afirmou no fim do ano passado que, para evitar eficientemente desastres ambientais, seria necessária uma redução anual de 7.6% dos níveis de emissão pelos próximos dez anos. Dessa forma, mesmo que o mundo tenha interrompido suas principais atividades, a redução ainda não é considerada a ideal. E esse cenário se torna ainda mais desanimador quando pensamos que, ao final da pandemia, a economia correrá contra o tempo a fim de recuperar seu cenário, mesmo que isso custe danos ambientais. Diante disso, alguns pesquisadores estudam o quanto dessas reduções possam influenciar até mesmo na mudança climática. A influência da atividade humana no aumento da temperatura registrado em todo o mundo nos últimos 60 anos ainda é motivo de crítica por parte de alguns pesquisadores. Apesar de ser considerada pela maioria dos especialistas, ainda existem questionamentos sobre qual é o papel do ser humano nas mudanças climáticas. Dados colhidos ao longo da paralisação imposta pela pandemia poderão ajudar a iluminar esse debate científico nos próximos anos. Especialistas avaliam que as mudanças climáticas são alterações de longo prazo, mas que os efeitos das paralisações por meses em 2020 podem gerar percepções novas sobre o ambiente para milhões de pessoas. Outro ponto a ser considerado é o aumento na geração de resíduos sólidos. Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE), a produção de lixo domiciliar pode aumentar até 25% por causa da pandemia. Além disso, há uma preocupação especial com a geração de um número maior de lixo hospitalar, o que gera um grande perigo, principalmente em locais onde o gerenciamento de resíduos é ineficaz. É preciso considerar e preocupar-se também nesse período com a taxa de desmatamento. Ao longo dos anos a visão mais atenciosa por esse setor já vem sendo negligenciada, principalmente por ações de fiscalização sendo realizadas de forma ineficiente. Durante a pandemia, já foi constatado um aumento de 59% na taxa de desmatamento. É importante ressaltar que há uma relação direta entre desmatamento e o surgimento de doenças contagiosas, porém, esse fato não tem sido considerado pelas autoridades, principalmente em nosso país. Após o fim da pandemia já são esperados afrouxamentos das políticas ambientais em concessões para agilizar a retomada da economia. Porém, é preciso ter um pensamento positivo quanto ao consumo individual, já que neste período, algumas pessoas se dedicaram a aprender sobre maneiras mais conscientes de consumo. É preciso ainda, que os países tirem aprendizados dessa pandemia, buscando implementar mais ações de sustentabilidade. A redução de poluentes na atmosfera é um efeito momentâneo do período de isolamento que estamos vivendo e das paralisações de transportes e indústrias. No entanto, esse momento pode servir de reflexão sobre o tipo de ambiente que queremos em nossas cidades ao final da pandemia. 10 SETEMBRO DE 2020
Por Vitória Élida Bióloga
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“Segundo dados, as emissões de carbono diminuíram entre 5.5% e 5.7% durante a pandemia”
ARTIGO
A ORDEM
A lógica da “santa” MUNDANIZAÇÃO DA IGREJA
Tudo começa assim: há um sinal de Deus; é uma coisa simples, bela, “pura”, no sentido mais pleno da palavra: “sem ambiguidades”. As coisas começam com um pequeno grupo, que reza, que medita a Palavra, que está preocupado com o essencial: amar, viver o Evangelho, servir, ser totalmente de Deus. A semente vai germinando, torna-se uma pequenina árvore, a árvore dá os primeiros frutos. Frutos!? Aí começam os problemas...que não estão nos frutos em si, mas na cobiça do coração humano. O demônio nem precisa ter muito trabalho, ele é a “antiga serpente” e já sabe o caminho para a desgraça: oferecer mais e mais. Mas como fazê-lo? Propondo um crescimento rápido para a “obra”. Desse jeitinho! De uma coisa simples e bela, agora o sonho é outro: uma “grande obra para o Senhor”: um grande monumento, um templo esplendoroso, vários meios de comunicação, grandes peregrinações internacionais etc. Tudo tem seu preço, tem um custo, “não basta rezar” (e é verdade!). É exatamente nessa hora que a lógica mundana entra em cheio “no coração da Igreja”, assumindo potentemente o lugar do amor. É preciso uma justificativa já que é uma “obra de Deus”: exige-se fé. A justificativa só poderia vir pela fé: “Deus me revelou”. Ah! Como assim? Em oração Deus me falou...que agora quer uma obra grande para evangelizar toda nossa diocese... todo o Brasil; na verdade..., é para todo o mundo. Aí lasca tudo! Entra o dinheiro. E muito dinheiro. E todos ficam admirados e aplaudem: “o padre é talentoso”, “o pastor é fantástico”, “o leigo é um show”, a “irmã é um espetáculo”. Como a “raiz de todos os males é o apego ao dinheiro” (1 Tm 6,10) logo, logo a obra original é totalmente desvirtuada porque o “marketing cristão” (igual a: adulteração plena do evangelho), a busca pela segurança financeira, a lógica do mercado destruirá aquele ideal semelhante ao das comunidades primitivas dos Atos dos Apóstolos (At 2, 3747). Passado algum tempo já não restará nada do “sonho de Deus”. Na verdade, “de deus”, com “d” minúsculo mesmo porque o Mamon - “dinheiro, poder e fama” - já assumiu a centralidade e o coração do projeto, já não mais original. A tristeza é que parece que a gente nunca aprende, mesmo que isso tenha se repetido centenas de vezes na história do cristianismo: basta aparecer um religioso fazendo um showzinho de mediocridades que os bispos se encantam, os superiores religiosos apostam tudo na “salvação da Congregação”, os fiéis se derretem em lágrimas, a mídia coloca nas alturas (para depois lançar no inferno). Esquecemos a exortação sempre perene do Apóstolo: “Não sejais ambiciosos, mas acomodai-vos às coisas humildes” (Rm 12, 16). Jesus, de todas as formas, quis exortar os apóstolos e discípulos sobre isto. Se damos uma breve olhada no “sermão da montanha”(Mt 5 – 7) perceberemos o esforço do Mestre para que os Seus ficassem no que era essencial, que nada tem a ver com uma “pobreza ideologizada”, mas com a pureza do coração que não se divide, que mantém a integridade do projeto original: “simples e belo”. A gente reza constantemente com o salmo 48(49), mas parece que logo se esquece: “... não dura muito o homem rico e poderoso: é semelhante ao gado gordo que se abate”. Certamente, no início de tudo não havia malícia, mas o muito dinheiro, poder e fama já se constituem num culto para Mamom. Talvez até exista sempre um bom desejo, porém “as preocupações do mundo e a ilusão das riquezas sufocaram a Palavra” (Mt 13, 22). O dinheiro em si é do diabo? Não. Todavia, é quase impossível ter muito dinheiro e não se tornar idólatra. Com muito dinheiro, em pouco tempo, passamos do culto a Deus ao culto ao ídolo. Dirão alguns para justificar: “As portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16, 18). Justo! Que nunca prevaleça o dinheiro no coração da Igreja: “A Igreja diminuirá de tamanho. Mas dessa provação sairá uma Igreja que terá extraído uma grande força do processo de simplificação que atravessou, da capacidade renovada de olhar para dentro de si” (J. Ratzinger). Não basta rezar, é preciso vigiar também!
Pe. José Lenilson de Morais Pároco da Paróquia de Sant’Ana e São Joaquim São José de Mipibu/RN
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Talvez até exista sempre um bom desejo, porém “as preocupações do mundo e a ilusão das riquezas sufocaram a Palavra” (Mt 13, 22)“
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A ORDEM
CAPA
Igrejas retomam
CELEBRAÇÕES COM A PRESENÇA DOS FIÉIS
Paróquias adotaram medidas de proteção, seguindo os protocolos estabelecidos pelos órgãos sanitários para impedir o contágio pelo novo coronavírus Por Luiza Gualberto
Desde o dia 15 de agosto, as Igrejas da Arquidiocese de Natal retomaram as celebrações com a presença dos fiéis. Um momento aguardado pelas comunidades, que estavam há quase cinco meses participando das missas apenas de forma virtual. O retorno às celebrações foi regulamentado por um decreto publicado pelos bispos da Província Eclesiástica de Natal, que envolve a Arquidiocese de Natal e dioceses de Mossoró e Caicó. Além das missas, o decreto trouxe orientações e mudanças para a admi12 SETEMBRO DE 2020
nistração dos sacramentos, entre outras atividades. Para o retorno acontecer, as Igrejas precisaram readequar seus espaços, limitando o acesso dos fiéis, além de investir em equipamentos que garantam a higienização e distanciamento social, recomendados pelos órgãos sanitários e que impedem o contágio pelo novo coronavírus, como disponibilização de álcool em gel, aferição de temperatura, uso obrigatório de máscaras e marcação nos bancos, mantendo a distância de 1,5 m² entre um fiel e outro.
Esse retorno foi um momento de emoção para muitos fiéis que tinham o desejo de participar da missa presencialmente, como é o caso de Eliane Ferreira, da Paróquia de Santa Rita de Cássia dos Impossíveis, em Ponta Negra, zona sul da capital. “Apesar de estar vindo auxiliar as celebrações quando estavam sendo realizadas sem a presença dos fiéis, com esse retorno, pude compreender o que é a comunhão entre os irmãos. Celebrar com os irmãos e com a Igreja faz toda a diferença. A gente pode sentir Deus mais presente
CAPA A ORDEM
Fotos: Brunno Antunes
de nós, não só na Eucaristia, mas nesse contato com os irmãos”, disse, emocionada. No mês de agosto, só tinha sido autorizado o retorno das celebrações nas Igrejas matri-
zes, Igrejas de municípios que não são sede de paróquias e capelas de institutos religiosos. Neste mês de setembro, no próximo dia 19, será liberada a abertura das capelas
que compõem o território paroquial. O acesso às celebrações tem sido feito por meio de agendamentos e estão liberados da participação nas missas presenciais, os idosos
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A ORDEM
CAPA
Neste mês de setembro, no próximo dia 19, será liberada a abertura das capelas que compõem o território paroquial. Realização de eventos maiores ficam suspensos até novas orientações de segurança
e os portadores de comorbidades, consideradas de risco para o novo coronavírus. Esse público pode seguir participando das missas de forma online. As equipes paroquiais da Pascom seguem fazendo a transmissão das missas e atividades diversas, para favorecer a participação daqueles que não podem estar presencialmente. Na primeira missa celebrada na Catedral Metropolitana, com a presença dos fiéis, o Arcebispo de Natal, Dom Jaime Vieira Rocha, reforçou a importância de cada um de nós fazer a sua parte para evitar a propagação do vírus, que segue em número decrescente no Rio Grande do Norte. “Estamos vivendo esse processo de reabertura das nossas Igrejas de forma adaptada, seguindo todos os protocolos. Percebemos que os fiéis estão muito conscientes, zelando pela sua vida. Isso tem sido refletido no número de fiéis que estão participando das celebrações. Aproveito para reforçar as medidas de segurança. Cada um fazendo sua parte, conseguiremos atravessar essa crise”, frisou. Orientações durante as missas Durante as celebrações, os fiéis devem usar a máscara o tempo, retirando somente para receber a comunhão, em que só se pode receber na mão. Nesse período, não está havendo a distribuição do jornalzinho da missa, mas quem desejar, pode levar a liturgia diária. O abraço da paz está suspenso e ao término das celebrações, os fiéis devem deixar os lugares com calma, para evitar cruzamento de pessoas e aglomerações os corredores e portas da Igreja. Não pode haver
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ainda abraços e/ou apertos de mãos. Administração de sacramentos e atividades pastorais Além do retorno das celebrações com a presença dos fiéis, o decreto publicado pelos bispos do Rio Grande, prevê orientações acerca da administração dos sacramentos e realização de atividades pastorais. Quanto à comunhão dos idosos e/ou enfermos, o texto diz que os ministros extraordinários ficam autorizados a levar a comunhão, sempre observando o protocolo das autoridades sanitárias; quanto à celebração do Batismo, que seja realizado com a presença apenas dos pais, padrinhos, e reduzido número de convidados e com higienização. Já em relação à celebração de crismas e primeira comunhão, o decreto diz que deve ser adiada para 2021; sobre o matrimônio, é preciso observar os protocolos das autoridades sanitárias quanto ao uso de máscara, higienização e o distanciamento e que a celebração seja restrita no que diz respeito à participação de convidados e que não seja demorada. Sobre a administração da unção dos enfermos, o documento prevê que os cuidados de higiene devem ser redobrados. O mesmo vale para a confissão. No que diz respeito às atividades pastorais, o documento pede que as reuniões de conselhos pastorais sejam, preferencialmente, de forma remota. E caso haja a necessidade de encontro presencial, os cuidados sanitários devem ser obedecidos. Já os eventos maiores, ficam suspensos até novas orientações de segurança para a realização dos mesmos.
ARTIGO A ORDEM
LUTO EM TEMPOS DE
pandemia
O luto vivenciado pela morte de uma pessoa querida é uma experiência profunda de perda, bem como faz emergir a reflexão sobre a finitude através da irreversibilidade da morte. A morte pode ser potencialmente reveladora de conflitos e o enlutado precisa encontrar, no processo do luto, um espaço para (re)significação. Contudo, esse processo encontra alguns desafios no mundo ocidental por ser esse um espaço que busca evitar a angústia e “neutralizar” a dor psíquica. Assim, a negação do luto traz consigo práticas que apontam para o esvaziamento de reflexões sobre o findar-se, sobre a aceitação do fim do outro e de si mesmo. Ainda nesse cenário, mas em uma sociedade agora acometida por uma pandemia sem precedentes, somos obrigados a conviver com a iminência da nossa morte e a dos nossos. A pandemia do COVID-19 demonstrou ter potencial para afetar as experiências de terminalidade, morte e luto. Também nos fez repensar e reorganizar os modos de existirmos no mundo, diante das inúmeras regras às quais precisamos estar submetidos, limitando nossa liberdade de ir e vir. Também não dizemos adeus da mesma maneira que antes. Já não nos despedimos presencialmente, nem podemos oferecer o conforto de um abraço apertado. Parece tomar conta de nós a sensação devastadora da impotência, pois entendemos que despedir-se é uma etapa essencial do processo de luto, visto que os rituais de despedida tendem a ser organizadores, vindo a favorecer a resolução do luto e nos permitindo o compartilhamento do sofrimento vivenciado. Mas, o que seria o luto? De acordo com o teórico da psicologia John Bowlby, o luto é um processo natural que ocorre em reação a um rompimento de vínculo. Dessa forma, o luto abarca adaptação às perdas, compreendendo emoções, cognições, sensações físicas e mudanças comportamentais. Podemos ainda afirmar, que a experiência de enlutamento é fundamentalmente humana. A morte nos impele a vivenciar esta perda de modo irreversível, diante do desaparecimento do outro e da interrupção de nossa história em comum. Não é apenas o outro que desaparece com sua história, mas uma vida comum que se interrompe, é a perda de um mundo partilhado. Assim, a vivência da perda de um ente querido costuma ser uma experiência de profundo sofrimento psíquico em que o sobrevivente perde mais do que um “outro”, perde também possibilidades próprias de existir no mundo, podendo experienciar, assim, o esvaziamento de sentido de sua existência. E então, como podemos ajudar? Essa não é uma resposta fácil de ser encontrada e também não existe uma única maneira de agir, tendo em vista a complexidade que caracteriza a existência humana. Entretanto, é possível elencarmos algumas reflexões. Primeiramente, é importante destacar o que não devemos fazer. Não podemos normatizar as experiências de perda, ditando comportamentos e expressões, pois cada um de nós vivencia esse sofrimento de uma forma diferente. Também não devemos impor uma “superação” pautada no senso comum ou em mitos sobre o que é normal ou patológico no luto, o que é comum na sociedade ocidental contemporânea, com baixa tolerância às expressões vinculadas à tristeza, frustração e perda. É necessário que seja permitido ao enlutado viver e ressignificar a dor da perda. Também é um momento crucial para exercermos atitudes para as quais nascemos: é tempo de sermos o cuidado na vida uns dos outros, mesmo que esse cuidado aconteça de forma diferente da que gostaríamos. Precisamos possibilitar que elas expressem a saudade e percebam que não estão sós. É importante que elas tenham o seu luto validado, e que os sentimentos possam ser expressos e acolhidos sem julgamentos. É tempo de clamarmos ao Espírito Santo a graça de exercermos a criatividade. É tempo também de fortalecer os laços espirituais. A espiritualidade tende a ser um recurso importante para muitas famílias, podendo contribuir no enfrentamento aos desafios da vida, na adaptação e na resiliência às perdas. E o mais importante, arrisco dizer que talvez seja o mais difícil, devemos compreender que a morte nos impõe uma ruptura de nossa coexistência, e portanto, não somos chamados a esquecer, mas à ressignificar, a construir novas possibilidades para o viver a partir da ausência ainda tão presente das pessoas que amamos.
Por Ianny Felinto Psicóloga clínica Mestre e doutoranda em Psicologia pela UFRN Consagrada da Comunidade Católica Shalom
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É necessário que seja permitido ao enlutado viver e ressignificar a dor da perda.”
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A ORDEM
“Quando lemos a Sagrada Escritura, Deus fala conosco” A Bíblia Sagrada é formada por um conjunto de livros, escritos por vários autores, em tempos e idiomas distintos. Livros que tratam do mistério do Reino dos Céus. Talvez, por isso mesmo, é comum as pessoas terem tantas curiosidades a respeito da Sagrada Escritura. Nesta edição da revista A Ordem, a sessão Aprendendo com a Igreja responde a perguntas feitas através do perfil da Arquidiocese de Natal, no Instagram. Quem responde é o Padre Ednaldo Virgílio da Cruz, mestre em Teologia Bíblica e professor do Seminário de São Pedro.
Como a Bíblia foi traduzida? (Alexandre Othon) A primeira tradução da Bíblia foi do Antigo Testamento do hebraico para o grego, feita pela e para a comunidade judaica de Alexandria (Egito), no século III a. C., por causa de um pedido do rei Ptolomeu II. Esse relato aparece num documento antigo, conhecido como a Carta de Aristeias. Atribui-se a tradução a setenta sábios, de onde seu nome: Septuaginta ou setenta (LXX). No final do século II d. C. foram feitas traduções de partes da Bíblia do grego para o latim no norte da África e, em seguida, na Gália e na Itália, conhecidas como “Vetus latina”, todas feitas por cristãos. O papa Dâmaso em 380 d.C. encarrega Jerônimo (347-520) para rever o NT e traduzir o AT em latim, revisando as traduções já existentes. Esta é a Bíblia chamada Vulgata, que se impôs sobre todas as outras. Até o ano 800 todas as Igrejas usavam este texto. Por causa da Reforma Protestante, a Igreja católica adotou oficialmente como autêntica, no Concílio de Trento (1455-1563), a Vulgata. E até o Concílio Vaticano II (1962-1965) foi usada para traduções para outros idiomas. A primeira tradução para o português remete ao ano 1681 feita por João Ferreira de Almeida. Atualmente, se tem resgatado a sábia política de traduzir a Bíblia a partir de línguas originais, não do latim (cf. DV 22). É que toda tradução que deseja ser fiel ao texto e pensamento da Bíblia terá de ser feita a partir das línguas originais, e não de alguma tradução (por exemplo, da vulgata).
Como os livros da Sagrada Escritura foram compilados? (Éricles Oliveira) Os livros sagrados foram primeiro, gradativamente, canonizados, de fato, pelo uso da comunidade que neles encontrava um referencial adequado de sua fé. A partir do século IV d. C. a Igreja foi selecionando os livros inspirados e, no concílio de Trento (1546), promulgou oficialmente o cânon da atual Bíblia católica. Como fazer um estudo bíblico correto? Por onde começar? (Pergunta anônima) A primeira inciativa é delimitar a área de estudo (Antigo Testamento ou Novo Testamento); posteriormente, selecionar um texto (livro), fazer a leitura e, em seguida, buscar artigos e comentários referentes ao respectivo texto bíblico. O que a Bíblia fala sobre as imagens? (Pergunta anônima) Na literatura veterotestamentária há uma luta contra a idolatria (cf. Ex 20,4-5; Dt 4,15-20; Is 40,18-20; 44,9-20; Jr 10,1-9). No Novo Testamento, a palavra imagem é usada, às vezes, no sentido de expressão autêntica e adequada (cf. 2Cor 4,4; 3,18; Cl 1,15; 3,10; Rm 8,29; 1Cor 15,49; Jo 3,14-15).
As perguntas sobre assuntos diversos da Igreja podem ser enviadas para o e-mail pascom@arquidiocesedenatal. org.br ou para o whatsapp do Setor de Comunicação da Arquidiocese, no número (84) 99675-7772, informando sempre que é o “Aprendendo com a Igreja”, da revista A Ordem. 16 SETEMBRO DE 2020
A ORDEM
Qual é a orientação para ler a Bíblia, diariamente? (Eneida Gurgel) “A Bíblia como Palavra de Deus para nós deve não só “informar”, mas também “exprimir” e “apelar”: com efeito, nos Livros Sagrados, o Pai que está nos céus vem amorosamente ao encontro dos seus filhos, a conversar com eles...” (DV 21). Há muitas maneiras de ler a Bíblia: por curiosidade, como pesquisador, como exegeta para compreender o texto em seu contexto. Ademais a lectio divina (leitura orante), que não elimina esses olhares, os tem como complementares. Dentre as várias modalidades, portanto, pode-se optar por selecionar um livro da Bíblia e fazer uma leitura sequenciada ou então, alternar a leitura do Antigo e do Novo Testamento e, por fim, uma alternativa que é comum a muita gente, acompanhar diariamente os textos oferecidos pela Igreja na liturgia da Palavra.
Qual dos livros da Bíblia é o mais recomendado para leitura? (Lucas Dantas) A pena dos escritores registrou doutrina, provérbios, cânticos, salmos, lamentações, epístolas, oráculos, profecias, meditações, oração, romance, cartas de amor, biografias, poesias, parábolas, comparações, tratados, contratos, leis para organizar o povo e o culto. Os respectivos gêneros literários estão contidos nos escritos sagrados que, por sua vez, favorecem adentrar à cultura bíblica. Portanto, não existe exclusividade no elenco dos livros da Bíblia, no que diz respeito ao quesito leitura, pois todos são relevantes para a aquisição cognitiva, para aprimorar a fé, além do crescimento na ascese. Conforme São Jerônimo, “quando rezamos, falamos com Deus. Quando lemos a Sagrada Escritura, Deus fala conosco.”
Os dogmas marianos estão inseridos na Sagrada Escritura? (Davison Weyler) Os dogmas marianos provêm da Tradição. Na Sagrada Escritura encontramos apenas os textos: Lc 1,26-37; Mt 1,18-23 referentes à Maternidade Divina e à Virgindade Perpétua.
A tradução da Bíblia para vários idiomas, não corre o risco de alterar o sentido da Palavra? (Janilson Olegário) Surge a necessidade de traduzir os textos bíblicos para diferentes línguas, pois o idioma utilizado originalmente para redigir o texto bíblico (hebraico e grego) não é conhecido e falado por todas as pessoas que entram em contato com a Bíblia. As traduções facilitam o acesso ao conteúdo do escrito bíblico. Quando se traduz, inevitavelmente, dão-se alterações linguísticas. Por um lado, é praticamente impossível reproduzir em outro idioma os jogos de palavras, a cadência e a assonância de palavras, particularmente em textos poéticos. Assim, por exemplo, é impossível recolher o jogo de palavras no hebraico em Ecl 7,1, literalmente: “Melhor bom nome (shem) do que perfume (shemen)”, ou em Jó 42,6, onde se deve ler: “Por isso me aborreço e me arrependo no pó (‘afar) e cinza (‘efer)”. Há nomes que linguisticamente têm um significado que se reconhece somente no idioma original. É o caso do Antigo Testamento, de todos os nomes que começam com “Ia” ou terminam com “el”, que são apócopes de nomes de Deus, Iahweh e Elohim respectivamente. O nome de Isaías em hebraico é Iesayahu, que linguisticamente significa “Ia(weh) é salvação”; o nome Miguel, em hebraico Mikael, significa literalmente “quem é como El (Deus)”, e Belém, “casa de pão”. Se não se passa pelo original, não se entende por que o anjo diz a José que ao menino “porás o nome Jesus, porque ele salvará seu povo” (Mt 1,21); Iashua significa “Deus salva”. A Palavra é o resultado da ação carismática de Deus (causa principal e autor) no hagiógrafo, o qual (causa instrumental, autor) usando de todas as suas faculdades e talentos (modo humano) e agindo Deus nele e por ele (modo divino) põe por escrito tudo e só o que Deus quer (efeito). Portanto, não será alterado o sentido da Palavra. SETEMBRO DE 2020
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A ORDEM
VIDA PASTORAL
Pastoral dos surdos: MÃOS QUE EVANGELIZAM
Diante da pandemia do novo coronavírus, trabalho tem modificado forma de atuação Por Jeferson Rocha e Luiza Gualberto Fotos: Cristina Medeiros
Pastoral atua no território da Arquidiocese há 25 anos
É comum a gente assistir uma live e ver um intérprete da Língua Brasileira de Sinais (Libras) no canto do vídeo, traduzindo o que está sendo dito e/ou cantado, tornando acessível o conteúdo para quem é surdo. No que diz respeito à evangelização, principalmente às celebrações de missas, no território da Arquidiocese de Natal, existe, há 25 anos, uma experiência da Pastoral dos Surdos, que tem uma atuação mais consolidada na Paróquia de São Pedro, no bairro do Alecrim. São mãos que evangelizam e possibilitam a inserção das pessoas surdas às celebrações e atividades pastorais. Elizabeth Aquino é uma das primeiras 18 SETEMBRO DE 2020
intérpretes de Libras na Arquidiocese e conta que foi um trabalho apaixonante, desde que tomou conhecimento e se engajou. “Nós já fizemos muitos trabalhos nessa pastoral. Sinto sempre muita vontade de estar ali, apoiando e participando. O nosso desejo é que esse grupo aumente e chegue às demais paróquias da nossa Arquidiocese. Eu dou graças a Deus por esse trabalho, que ao longo desses 25 anos, cresceu muito”, conta. Leopercino dos Santos também é intérprete de Libras e atua na Paróquia de São Pedro, no Alecrim. Segundo ele, todo cristão católico sabe da importância de estar engajado
em uma pastoral e ele vê com alegria e gratidão a possibilidade de participar da Pastoral dos Surdos. “Na Pastoral dos Surdos temos que nos fazer presentes. Nós terminamos atuando como um canal, mediando a Palavra de Deus com o surdo, que precisa absorver bem esse conteúdo que está sendo transmitido por nós. Eu me sinto muito honrado e é uma graça muito grande em poder atuar nesse grupo”, conta. A pastoral na pandemia Durante esse período de pandemia, em que as celebrações e atividades da Igreja passaram a ser amplamente transmitidas pelas redes sociais, o trabalho da pastoral se tornou
VIDA PASTORAL A ORDEM
essencial. “Assim como todo mundo, tivemos que adaptar o nosso trabalho para o online, porque, até então, era praticamente todo presencial. Tínhamos essa interação olho no olho com o surdo. Interpretar para uma câmera é bem diferente de estar olhando para o surdo, então isso representou um desafio para nós, mas que estamos nos esforçando e dando o nosso melhor para que possamos favorecer uma melhor participação do surdo nas celebrações”, pontou Leopercino. Rozanir Oliveira, que também é intérprete de Libras na pastoral, fala que a recepção por parte dos surdos, diante desse novo formato, com as transmissões das missas, tem sido muito boa e eles recebem um feedback por parte deles. “É interessante esse vínculo que a gente cria com a pessoa surda. Eles se preocupam com a gente, afinal estamos saindo de casa para exercer nossa missão, tomando todos os cuidados, é claro, e eles têm esse carinho com a gente e se preocupam conosco. Todo esse período de pandemia tem sido novo e desafiador para todos nós. Também enfrentamos o desafio da tecnologia e o surdo que está em casa também nos ajuda neste sentido. Eles nos alertam em relação à iluminação ou algo que está
dificultando esse processo de comunicação. É um trabalho gratificante, do qual tenho alegria em fazer parte”, diz. Experiência no Santuário dos Mártires A Paróquia do Santuário dos Santos Mártires de Cunhaú e Uruaçu, no bairro Nazaré, também tem tido uma experiência com a pastoral, neste período de pandemia. Segundo o pároco, o padre Fábio Pinheiro, o trabalho tem promovido uma maior acessibilidade para os fiéis surdos que acompanham as celebrações. “Essa é uma oportunidade muito feliz de acessibilidade dessas pessoas à evangelização. Louvamos a Deus pela Pastoral dos Surdos, que está se fazendo presente em nossa Paróquia”, comemora. Paula Daliane também tem uma história com a pastoral e fala da conexão que existe entre o intérprete de Libras e o surdo. “Na hora que estamos interpretando, sentimos a ação do Espírito Santo na gente e isso é muito forte para nós. Quando olhamos para um surdo e percebemos que ele está compreendendo e absorvendo tudo que está sendo transmitido nas celebrações, isso fortalece o nosso trabalho”, frisa.
Trabalho da pastoral teve que ser adaptado diante da pandemia SETEMBRO DE 2020
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Nucleo de memoria PUC-RIO
Dom Eugênio e Dom Hélder
Dom Eugênio de Araújo Sales e Dom Hélder Câmara, que foi arcebispo da Arquidiocese de Olinda e Recife, de 12 de março de 1964 a 2 de abril de 1985, nutriam uma amizade sólida e antiga, ao contrário do que alguns podem pensar hoje. A amizade, porém, começou antes de Dom Hélder ser arcebispo da arquidiocese pernambucana. “A diferença nos métodos de ação não impediu aquela amizade de tantos anos, estreitada por laços muito fortes e sempre através de um diálogo franco e aberto, que mais se solidificou a partir do 1º encontro de Bispos do Nordeste, realizado em 1956, em Capina Grande, Estado da Paraíba. Foi, na verdade, Dom Eugênio, o incansável companheiro de Dom Hélder Câmara. E desse encontro, decididamente, partiu a ideia das primeiras medidas concretas para o combate à miséria social que assolava toda a região Nordeste”, escreveu Monsenhor Raimundo Brasil no livro “Homenagem ao Pastor”. A participação de Dom Eugênio como bispo auxiliar de Natal, em sintonia com o então Secretário geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Hélder Câmara, influenciou afirmativamente as relações entre a Igreja e o Governo. Os bispos e o Presidente da República Juscelino Kubitschek, que participou e presidiu a sessão de encerramento do referido encontro, “desejavam dotar o Nordeste de condições de vida compatíveis, que permitissem sua gente fixar-se na Região sem mais aquele sonho de emigrar ou evadir-se”. Certa vez, em uma entrevista concedida à TV Brasil, Dom Eugênio definiu Dom Hélder como aquele que “costumava ajudar o pobre, que procurava combater as injustiças sociais”. Na mesma entrevista, o cardeal lembrou que Dom Hélder foi um grande líder da Igreja Católica, no Brasil. “Deve-se a ele a criação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Ele quem foi falar com o Santo Padre para a criação da CNBB. Era um reto”, atestou. FONTE: domeugeniosales.webnode.com.br
A ORDEM
PARA QUE TODOS
tenham vida
Um dia para nascer, um dia para crescer, um dia para morrer, todos os dias para estabelecer uma conexão de sentidos para um ser que veio e continuará vindo ao encontro de plenitude a todo instante. Talvez seja esta a certeza que mais latente está em cada pessoa, estabelecendo também a certeza do desejo de continuar sempre viva em sua plenitude. Plenitude lembra “cheio, completo, totalidade, integridade” num contínuo esforço para a sustentação de tudo aquilo que a define como plena. Em novos tempos, “apesar dos perigos, apesar dos castigos”, como relata Osvaldo Montenegro em sua canção, estamos na luta para sobreviver, para nos socorrer, para não cairmos em tentação da desistência da vida por qualquer coisa. Estamos vencidos? Estamos perdidos? Apesar de muitas catástrofes que teimam em nos deixar por alguns momentos em situação de vulnerabilidades, de fracasso, de perda da boa autoestima, estamos na corrida, porque sempre haverá um transeunte a nos passar a perna, um transeunte, de igual teor, para que o ultrapassemos. Nem sempre são transeuntes humanos; são inumanos, apesar de terem uma forma viva, são instrumentos de retirada da vida. São vírus, são fiéis perseguidores que inundam nossos corpos, trazendo o peso da mortalidade. E, às vezes, sentimo-nos impotentes diante da força bruta, da noite que assusta, dos pesadelos contidos nos nossos sonhos que representam a visualidade e penumbra de nossas ações praticadas ao longo do dia, porém numa espécie de alucinação momentânea. Sentimo-nos estáticos como são os verbos que não se fazem carne, não adentram ao irrequieto mundo da busca, da luta para sobreviver. Sentimo-nos desencorajados, perdendo forças, porque o caminho ainda perdura com trilhas, muitas vezes, em pedregulhos derrapantes nos dizendo “pare!”. Mas... De repente, o verbo se faz carne. As ações que praticamos falam mais alto aos nossos ouvidos de atenta escuta. E paramos para dizer que estamos vivos, que estamos solícitos aos chamados mil que se nos apresentam em cada instante do cotidiano. E adentramos à rotina como algo que vai se tornando novo, por ser nova a compreensão do momento vivido. Cada momento uma nova força vai surgindo, uma nova novidade vai se apresentando e vamos retirando a força da fraqueza, fazendo-nos verdadeiros lapidadores de pedras de tropeço. Reerguemo-nos, acreditando no Deus da vida que tudo pode, tudo transforma, tudo fortalece. Lançamo-nos nas pedras e, uma a uma, tomamos em nossas mãos e recomeçamos o trabalho de lapidação, na crença de que estamos vivos em plenitude, porque acreditamos na palavra que a todo tempo fortalece e se transforma dentro de nós. Vamos acompanhando as conquistas porque oportunidades também vão aparecendo para que descubramos os milagres, às vezes, mesmo em meio às ditas perdas. “Eu vim para que todos tenham vida” sem exceção. “E a tenham em abundância” dignidade e integridade. Sempre!
Milton Dantas Professor e psicopedagogo
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De repente, o verbo se faz carne. As ações que praticamos falam mais alto aos nossos ouvidos de atenta escuta”
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A ORDEM
Setembro CONTA COM AÇÕES
EM VÁRIOS SEGMENTOS
Iniciativas são voltadas para conscientização no trânsito, além da prevenção ao suicídio
Durante este mês de setembro, diversas iniciativas e campanhas marcam a sociedade, com ações variadas e de conscientização, voltadas para os segmentos sociais. Destaca-se a Semana Nacional do Trânsito e as campanhas Setembro Amarelo, de prevenção ao suicídio e Setembro Cidadão, voltado para a educação e cidadania. Setembro amarelo A campanha Setembro Amarelo foi instituída pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com o Conselho Federal de Medicina, desde 2014. O dia 10 deste mês é, oficialmente, o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, mas a campanha acontece durante todo o ano. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a depressão é uma doença, de ordem psíquica e que pode levar ao suicídio. São registrados cerca de 12 mil suicídios todos os anos no Brasil e mais de 1 milhão no mundo. Trata-se de uma triste realidade, que registra cada vez mais casos, principalmente entre os jovens. Cerca de 96,8% dos casos de suicídio estavam relacionados a transtornos mentais. Em primeiro lugar, está a depressão, seguida de transtorno bipolar e abuso de substâncias. Para marcar a campanha, diversas iniciativas são realizadas. O Centro de Valorização da Vida (CVV), dispõe de um canal para atendimento de pessoas que estão passando pela depressão e precisam desabafar. O número é 188 e funciona 24h por dia. A pessoa não precisa se identificar. Setembro cidadão O Rio Grande do Norte foi definido por lei complementar (494/2013) como o estado cidadão do Brasil. Por isso, durante este mês, são desenvolvidas diversas atividades ligadas à educação e cidadania, com a finalidade de levar a crianças e adultos, a consciência dos seus direitos e deveres e os meios para participarem mais ativamente dos rumos da cidade, do estado e do país. Batizado como Setembro Cidadão, o mês da cidadania, idealizado e dirigido pelo juiz Jarbas
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Bezerra e pela advogada Lígia Limeira, é um dos projetos do Programa Brasileiro de Educação Cidadã (PROBEC), e visa despertar o país para a educação cidadã. Desde o início do mês, está sendo realizada uma vasta programação, com o apoio de instituições e municípios, para levar a discussão da cidadania para todo o estado. Educação, inclusão social, esporte, música, literatura, história e muita cultura marcam a programação diária deste ano, que acontece totalmente online. As ações podem ser acompanhadas pelo site www.probec.com. br/tvprobec.php ou pelo Instagram @probeccidadania. Semana Nacional do Trânsito “Perceba o risco, proteja a vida” é o tema da Semana Nacional do Trânsito, que acontece de 18 a 25 de setembro, em todo o país. Foram divulgados pelo Ministério da Saúde, os números preliminares de mortes por acidentes de trânsito no Brasil, em 2019. Segundo as informações do ministério, morreram 30.371 pessoas em decorrência do trânsito brasileiro. O número é 7,5% menor que o registrado em 2018. Essa tendência de queda vem se mostrando contínua e estável. Em 2017, foram 35.374 mortes, 7,7% a mais que em 2018. Segundo o Conselho Nacional de Trânsito (Contran), esses números mais reduzidos, devem-se a uma maior conscientização por partes dos motoristas e às campanhas, que tem papel fundamental neste sentido. Durante este mês, estão sendo desenvolvidas iniciativas que abordem pedestres, ciclistas, motociclistas e pessoas com deficiência, os quais estão mais expostos ao risco de lesões, caso sofram um acidente, ressaltando a fragilidade desses usuários. Além disso, serão realizadas atividades visando os entregadores, tendo em vista, um aumento maior do serviço de delivery, em virtude da pandemia. Durante a semana, ainda vão ser realizadas abordagens relacionadas à violência e conflitos entre os usuários do trânsito, reforçando o caráter coletivo e abordando a importância de cuidar de si e dos outros.
A ORDEM
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A ORDEM REPORTAGEM Fotos: Arquivo Pessoal
Suely Varela: QUATRO DÉCADAS DE
ATUAÇÃO NA SECRETARIA PAROQUIAL DE TAIPU Ela teve a carteira assinada para trabalhar na Paróquia de Nossa Senhora do Livramento em primeiro de julho de 1980
Suely Varela Silva do Nascimento contava apenas com 17 anos de idade quando foi convidada pela Irmã Natalina Maria Rossetti para assumir a secretaria da Paróquia de Nossa Senhora do Livramento, com sede em Taipu. Na época, as “irmãs vigárias”, da Congregação do Imaculado Coração de Maria, colaboravam na administração da paróquia. “A secretária era Maria do Livramento Batista, que estava deixando a função. A Irmã Natalina pergunta se ela tinha alguém pra indicar e ela responder: Suely, porque tem uma letra muito bonita”, recorda Suely Varela. E foi assim que começou a história dessa mulher na secretaria da Paróquia de Nossa Senhora do Livramento. Ao longo de quatro décadas, ela já vivenciou visitas pastorais de arcebispo, acompanhou o trabalho social das Irmãs do Imaculado Coração de Maria, missões de Frei Damião, a celebração do centenário da paróquia, entre tantos outros acontecimentos. Profissão e missão De acordo com o coordenador paroquial da Pastoral da Comunicação, Paulo Henrique Viana, Suely é mais que uma funcionária da paróquia, ela ama servir à Igreja. “Mesmo com todas as limitações, como a saúde debilitada de sua mãe, Suely sempre está disponível, dia e noite, para servir a igreja. Ela não faz distinção de tra24 SETEMBRO DE 2020
balho. Se for preciso, limpa até o chão, sobe no telhado, vira até eletricista para deixar a Morada de Deus muito organizada”, testemunha. Paulo Viana também destaca que a secretária, ao longo desses 40 anos, ganhou o respeito dos paroquianos, bem como dos padres e das religiosas. “Ela não demonstra preferência pelos padres e freiras que por aqui passaram, embora tenha muito apreço por todos”, comenta. Segundo Paulo Viana, ao longo do tempo, Suely tornou-se amiga de vários sacerdotes da Arquidiocese, sejam eles ex-párocos ou não. No dia primeiro de julho, data em que se completaram os 40 anos em que ela teve a carteira assinada, a Paróquia prestou-lhe uma homenagem, através de um vídeo, e nele, constam mensagens de alguns padres da Arquidiocese de Natal.
A ORDEM
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A ORDEM
VIVER
PANDEMIA POTENCIALIZA NOVAS
formas de consumo
Quando 2020 chegou, parecia ser mais um ano normal, mas o que ninguém esperava era atravessar uma pandemia, que trouxe muitas mudanças na forma de se relacionar, de cuidar de si e dos outros, além, é claro, de consumir, tendo em vista que o comércio permaneceu por um bom tempo fechado e agora vivencia um “novo normal”, com restrições ao acesso e funcionamento dos estabelecimentos. Essas mudanças na forma de consumo acabaram por potencializar uma prática que já vinha ganhando cada mais vez mais força entre os consumidores, que é o comércio virtual ou e-commerce, como se chama esse modo de consumo virtual. Segundo um levantamento feito pela Criteo, empresa que trabalha com o relacionamento de varejistas com a internet, 67% dos consumidores brasileiros descobriu uma nova forma de compra e que pretende mantê-la, mesmo após o fim deste período pandêmico. A empresa de tecnologia realizou um estudo aprofundado cor-
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respondente ao comportamento de consumidores nas duas últimas semanas de maio. No Brasil, o isolamento social redefiniu os hábitos de consumo pessoais e expectativas a longo prazo. Um dado interessante é mostrado em um outro estudo feito pela mesma empresa. Houve um aumento vertiginoso de 233% na venda de alimentos online durante o mês de abril. A pesquisa recente mostra que esse comportamento veio para ficar: mais da metade (52%) dos brasileiros entrevistados, afirmou que pretende aumentar a compra de mantimentos online e incorporar essa nova forma de consumo. Com mais tempo em casa, 53% dos brasileiros passaram a cozinhar mais e pretendem transformar isso em costume. Crescimento do e-commerce Em 2020, o e-commerce brasileiro deve registrar R$ 111 bilhões de reais, segundo o levantamento “Impactos da COVID-19 no comportamento de consumo dos bra-
VIVER
sileiros e, consequentemente, no comércio eletrônico no Brasil”, realizado pela Kearney, consultoria global de gestão estratégica. Esteban Bowles, sócio da empresa e um dos responsáveis pelo estudo, afirma que o comércio eletrônico, que já vinha crescendo e conquistando espaço no gosto do consumidor, consolida-se e chega a um novo patamar. No entanto, ele observa que é preciso entender que não se trata de um movimento novo, apenas acelerado. “O mercado brasileiro de comércio eletrônico já vinha registrando índices de crescimento maiores que o do varejo tradicional há alguns anos”, afirma. Esteban complementa que a pandemia veio acelerar essa tendência, particularmente para algumas categorias, como alimentos. Eventos Pensando nessas novas formas de consumo, acontece em Natal, nos dias 11 e 12 deste mês, o evento online “Go! RN”, que tem a proposta de abordar um conteúdo tecnológico, voltado para empresas que querem se desenvolver nesse segmento de inovação e alavancar os negócios com o digital. O evento vai ser totalmente gratuito e vai contar com palestras de nomes de destaque no mercado nacional. Para participar, basta se inscrever no endereço: https://eventmobi.com/gorn/. Ao se cadastrar, você tem a possibilidade de montar sua própria agenda e participar das palestras que desejar. A atividade é promovida pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), no Rio Grande do Norte. A instituição também tem disponibilizado diversos materiais em seu site, com o intuito de orientar as empresas quanto à importância de aderir a essas novas ferramentas para comercializar produtos.
A ORDEM
Caroline d’Ávila Psicóloga Psicoterapeuta familiar e de casal
A SOCIEDADE QUE TEM QUE DAR CONTA DE TUDO Ano de 2020, uma pandemia atravessa no meio de nossas vidas. Sem pedir licença ela chega atropelando planos, rotinas, medos e inseguranças. Somos jogados em home office, home school e todos os “homes” possíveis, sem qualquer preparação prévia para tanto. Isso na melhor das possibilidades, claro, porque para muitos nem sequer essa opção era possível. Mas o que chama mais atenção nesse caos todo não é o sofrimento gerado, isso seria realmente esperado. O que salta aos olhos é o que isto revela ainda mais fortemente: uma sociedade que cada vez mais se cobra, que tem que dar conta, onde dar conta significa se adaptar instantaneamente a toda e qualquer situação sem pestanejar, sem sofrer ou sequer sentir. Meio a tantos lutos, não somente de vidas perdidas, mas de planos, sonhos e tantas outras perdas que foram vivenciadas nesse processo, víamos pessoas cada vez mais se cobrando estarem plenas, felizes, fitness, fazendo cursos, utilizando seu tempo pra criar novas memórias junto a família, pessoas que muitas vezes não se permitiam nem reclamar, porque isso seria ingratidão. Não estou dizendo que fazer isso não é possível, tampouco saudável, na verdade parece um ótimo plano. O problema é o “tem que”, ele que pesa, que adoece. Vivemos numa geração em que muitas vezes a dor gerada pela autocobrança acaba sendo bem superior ao sofrimento inicial. Em que o “eu deveria estar assim”, “eu não posso sentir assado”, ganha cada vez mais espaço, na qual o sofrer virou sinônimo de fraqueza e a alta performance engole todo e qualquer resquício de humanidade. E isso não foi a pandemia que trouxe, talvez ela só tenha evidenciado. Penso que na válida tentativa de evoluirmos, não podemos nos destruir, colocando cada vez mais cargas e dificuldades para a tal felicidade. SETEMBRO DE 2020
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A ORDEM
28 SETEMBRO DE 2020