Sítio Inácio
8 - SEAPAC
Setembro de 2013
Terra e água: sinônimo de vida e felicidade sertaneja O casal Antônio Bezerra dos Santos (Nego) e Zélia Alves dos Santos é a pica família sertaneja, vivendo do que consegue rar da terra, juntamente com a filha, Patrícia da Conceição Santos, e o neto, Adriel. Em uma gleba de terra de seis hectares, a família vive do plan o de fruteiras (mamoeiro, goiabeira, coqueiro), hortaliças (coentro, cebolinha, alface), batata e cana de açúcar, além da criação de caprinos. Eles se alimentam do que produzem e vendem o excedente na comunidade vizinha (Distrito de Lajinhas) e em Caicó. A propriedade se chama sí o Inácio e está situada entre as terras que delimitam o Município de Caicó com os de Jucurutu e Florânia, Região Seridó, do Rio Grande do Norte. Obras estruturantes Nem tudo são flores, na vida dessa família sertaneja, como na de tantas outras que vivem nas terras do Seridó do Rio Grande do Norte. Enfrentando o segundo ano consecu vo de seca, as famílias rurais seridoenses (como as de todo o semiárido nordes no) necessitam de obras estruturantes para con nuar vivendo no campo, ainda as-
sim com muitas dificuldades e trabalho duro, porém com dignidade, sem depender de “esmolas” ou favores polí cos. Como canta Luiz Gonzaga: “Meu senhor, uma esmola para um homem que é são, ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão”. A família de Nego e Zélia tem agora o necessário para con nuar na terra e produzir alimentos, exatamente por causa de uma obra estruturante: a perfuração de dois poços, um dos quais entrou em colapso, com a seca, e outro, perfurado mais recentemente, que con nua a fornecer água de boa qualidade, usada para o consumo humano, animal e para a irrigação das plantas. “O poço foi perfurado na comunidade em parceria com o 1º Batalhão de Engenharia de Construção. Nessa comunidade, nós usamos a tecnologia do P1+2 (uma terra e duas águas) e a parceria com o Banco do Nordeste (BNB) e o 1º Batalhão de Engenharia”, explica o Agrônomo José Procópio de Lucena, da Equipe do Serviço de Apoio aos Projetos Alterna vos Comunitários - SEAPAC. O poço fornece água à família de Nego e Zélia e a outras três, de comunida-
O casal Antônio (Nego) e Zélia mostram a fruteira ao Agrônomo José Procópio, do SEAPAC
Cisterna de Calçadão e as fruteiras irrigadas no quintal da casa
des vizinhas, garan ndo não apenas a sobrevivência de homens e animais em tempos de seca, mas também a permanência na terra, com dificuldades, mas dignamente. “Antes do poço, eu aguava as plantas com um pouquinho da água que vinha para a gente beber, cozinhar, lavar e dar aos animais, porque não queria ver minhas plantas morrerem”, relata dona Zélia. A água do poço provocou uma mudança no hábito de Patrícia, a filha do casal. “Antes de termos a água do poço, eu comprava as coisas (verduras) na feira. Agora, eu compro a semente na cidade, mamãe planta e temos verduras e frutas para comer, e ainda sobre pra vender e pagar a conta da energia”, diz Patrícia. Dona Zélia, pica mulher sertaneja, lutadora e corajosa, arremata: “com a venda das verduras, cheguei a apurar até R$ 35,00 por semana”. Os produtos são produzidos apenas com o uso de adubo orgânico e sem qualquer po de agrotóxico. Nego também faz planos para novos plan os. “Vou plantar cana de açúcar, porque vende bem e com o dinheiro dá pra pagar as contas”, afirma. A família também planeja construir outra casa nas terras para a filha
Patrícia, caso consiga ajuda. Em meio à dureza do ambiente seco (terra e plantas na vas ressecadas pela ausência das chuvas) e as serras que emolduram o lugar com os tons cinza das árvores sem folhas, a família vive feliz, porque dispõe de terra para morar e plantar e água para consumir e produzir. A nova situação, com a perfuração do poço, é um exemplo de que é possível conviver com a seca no semiárido nordes no, desde que se construam equipamentos estruturantes, o que pode ser feito com baixos inves mentos, aproveitando a mão de obra da próprias comunidade. “Nessa comunidade foram inves dos cerca de 20 mil reais”, informa o Agrônomo José Procópio. Com os recursos do BNB e as parcerias, foram construídas duas cisternas de placas: uma, para coletar a água das chuvas que escoam do telhado da casa (quando chove) e outra com a tecnologia do calçadão mais cisterna, também para coletar a água das chuvas. Quando chegarem as chuvas, a família terá água em abundância e qualidade para o consumo e melhoria na qualidade de vida e dignidade. E ainda disporá dos dois poços para o período das es agens.