Revista A Ordem - Outubro/2020

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Fundação Paz na Terra Ano LXVIII - Nº 54 Natal/RN | R$ 7,00 Outubro de 2020



A ORDEM

SUMÁRIO EDITORIAL Fundação Paz na Terra Ano LXVIII - Nº 53 Natal/RN | R$ 7,00 Setembro de 2020

A SENHORA DAS APARIÇÕES

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CAPA

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ENTREVISTA - Arquidiocese adere a novo sistema de gestão administrativo-pastoral

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ARTIGO - Sim, é necessário “reanimar” a economia!

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REPORTAGEM - Três anos da canonização dos santos mártires

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VIVER - Orgulho de ser nordestino

EXPEDIENTE

Revista mensal da Fundação Paz na Terra Endereço: Rua Açu, 335 – Tirol CEP: 59.020-110 – Natal/RN Fone: 3201-1689

“Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo”(Lc 1,27). A saudação do anjo àquela jovem da casa de Davi e suas consequências demonstram a ação de Deus no Mundo e na vida das criaturas. Por meio daquela jovem, Deus se fez carne (“hoje vos nasceu na cidade de Davi um Salvador, que é o Cristo Senhor”Lc 1,11), habitou no mundo no seio da família de Nazaré, e Maria, a jovem da visitação do anjo, fez parte da vida da humanidade daquela época, e continua a fazer, ainda hoje. Maria é “presença” marcante na vida da humanidade, particularmente dos cristãos, através das “aparições”. Em Natal, uma imagem de Maria foi encontrada nas águas do Rio Potengi e é a padroeira da Arquidiocese, sob o título de Nossa Senhora da Apresentação, por trazer e apresentar o Menino Jesus nos braços. No País, a Mãe de Jesus foi proclamada rainha e padroeira dos brasileiros, sob o título de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, em 16 de julho de 1930, pelo Papa Pio XI. Antes, em 1904, a imagem já havia sido coroada, por decreto do Papa Pio X. Essa imagem foi “pescada” em 1717, pelos pescadores Domingos Garcia, João Alves e Felipe Pedrosa, nas águas do rio Paraíba, em Guaratinguetá-SP. A imagem foi “pescada” em dois lances das redes. No primeiro, veio o corpo; no segundo, a cabeça. A cor negra da imagem parece querer lembrar aos brasileiros que no País muitos irmãos negros sofreram o suplício da escravidão. Essa foi mais uma forma da “aparição” da Mãe de Jesus, no meio da humanidade. É assim que a jovem Maria continua a “falar” aos povos: “eis aqui a Serva do Senhor”(Lc 1,38).

CONSELHO CURADOR: Pe. Antônio Nunes Vital Bezerra de Oliveira CONSELHO EDITORIAL: Cacilda Medeiros Luiza Gualberto Josineide Oliveira Jeferson Rocha Cione Cruz André Kinal Milton Dantas Vitória Élida

EDIÇÃO E REDAÇÃO: Luiza Gualberto (DRT-RN 1752) Cacilda Medeiros (DRT-RN 1248) REVISÃO: Milton Dantas (LP 3.501/RN) FOTO DA CAPA: Karinen Bittencourt

COLABORADORES: José Bezerra (DRT-RN 1210) Cione Cruz Rede de Comunicadores da Arquidiocese de Natal

DIAGRAMAÇÃO: Akathistos Comunicação (47) 9 9618-3464 COMERCIAL: (84) 3615-2800

ASSINATURAS: Com as coordenações paroquiais da Pastoral da Comunicação ou na redação da revista, no Centro Pastoral Pio X – Av. Floriano Peixoto, 674 – Tirol – Natal/RN (84) 3615-2800 assinante@arquidiocesedenatal.org.br www.arquidiocesedenatal.org.br

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A ORDEM

PALAVRA DA IGREJA

A biblioteca DE CRISTO”

Francisco Papa

Quando uma comunidade acolhe o anúncio da salvação, o Espírito Santo fecunda a sua cultura com a força transformadora do Evangelho

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O Papa Francisco publicou, no último dia 30 de outubro, uma Carta Apostólica, intulada, “Scripturæ Sacræ Affectus”, uma homenagem a São Jerônimo, no 16º centenário da sua morte. Na Introdução do documento, o Papa recorda a vida do santo, seu percurso, seus estudos que iniciaram a partir da visão, talvez na Quaresma de 375: “Aquele episódio da sua vida concorre para a decisão de se dedicar inteiramente a Cristo e à sua Palavra, consagrando a sua existência a tornar as palavras divinas cada vez mais acessíveis aos outros, com o seu trabalho incansável de tradutor e comentador”. E afirma: “Colocando-se à escuta na Sagrada Escritura, Jerônimo encontra-se a si mesmo, encontra o rosto de Deus e o dos irmãos, e apura a sua predileção pela vida comunitária”. Depois, o Pontífice destaca que “nos últimos tempos, os exegetas descobriram a genialidade narrativa e poética da Bíblia, exaltada precisamente pela sua qualidade expressiva; Jerônimo, ao contrário, destacava mais, na Escritura, o caráter humilde com que Deus Se revelou expressando-se na natureza áspera e quase primitiva da língua hebraica, quando comparada com o primor do latim ciceroniano. Portanto, não é por um gosto estético que ele se dedica à Sagrada Escritura, mas apenas – como é bem sabido – porque ela o leva a conhecer Cristo, pois a ignorância das Escrituras é ignorância de Cristo”. “Mas – lê-se na Carta - para os leitores de língua latina, não existia uma versão completa da Bíblia na sua língua; havia apenas algumas traduções, parciais e incompletas, feitas a partir do grego. Cabe a Jerônimo – e, depois dele, aos seus continuadores – o mérito de ter empreendido uma revisão e uma nova tradução de toda a Escritura. Tendo começado em Roma, com o encorajamento do Papa Dâmaso, a revisão dos Evangelhos e dos Salmos, depois, já no seu retiro em Belém, lançou-se à tradução de todos os livros veterotestamentários diretamente do hebraico; uma obra, que se prolongou por vários anos”. Francisco prossegue: “Com esta sua tradução, Jerônimo conseguiu ‘inculturar’ a Bíblia na língua e cultura latinas, tornando-se esta operação um paradigma permanente para a ação missionária da Igreja”. Na verdade, ‘quando uma comunidade acolhe o anúncio da salvação, o Espírito Santo fecunda a sua cultura com a força transformadora do Evangelho’, estabelecendo-se, assim, uma espécie de circularidade: se a tradução de Jerônimo é devedora à língua e à cultura dos clássicos latinos, cujos vestígios são bem visíveis, por sua vez, ela, com a sua linguagem e o seu conteúdo simbólico e rico de imagens, tornou-se um elemento criador de cultura”. Por fim, o Papa faz um apelo: “Entre muitos elogios feitos a São Jerônimo pelos seus vindouros, encontra-se este: não foi considerado simplesmente um dos maiores cultores da ‘biblioteca’ de que se nutre o cristianismo ao longo dos tempos, a começar pelo tesouro da Sagrada Escritura, mas aplica-se-lhe aquilo que ele mesmo escreveu sobre Nepociano: ‘Com a leitura assídua e a meditação constante, fizera do seu coração uma biblioteca de Cristo’. Recordando que “Jerônimo não poupou esforços para enriquecer a sua biblioteca, vendo nela um laboratório indispensável para a compreensão da fé e para a vida espiritual; e, nisto, constitui um exemplo admirável também para o presente”. “Verdadeiramente, Jerônimo é a ‘Biblioteca de Cristo’, uma biblioteca perene que, passados dezesseis séculos, continua a ensinar-nos o que significa o amor de Cristo, um amor inseparável do encontro com a sua Palavra”, finalizou. FONTE: Portal Vatican News


A VOZ DO PASTOR

A ORDEM

A VIDA É MISSÃO.

Mês missionário

Caros irmãos e irmãs! Iniciamos o mês de outubro, mês das missões. Esse ano o tema: “A vida é missão” e o lema: “Eis-me aqui, envia-me” (Is 6,8). O tema desse ano tem sua inspiração na Exortação Apostólica Evangelii gaudium, de Papa Francisco, publicada em 2013. Na sua primeira Exortação apostólica, publicada como “programa de Pontificado”, o Papa expressa essa grande intuição: “A missão no coração do povo não é uma parte da minha vida, ou um ornamento que posso pôr de lado; não é um apêndice ou um momento entre tantos outros da minha vida. É algo que não posso arrancar do meu ser, se não me quero destruir. Eu sou uma missão nesta terra, e para isso estou neste mundo” (n. 273). E, ainda, na Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate, sobre a santidade no mundo atual, afirma, citando um filósofo espanhol, Xavier Zubiri: “não é que a vida tenha uma missão, mas a vida é uma missão” (n. 27). Com essas importantes inspirações, a Igreja no Brasil exorta a todos os católicos a que assumam ou se deixem incentivar mais e mais na missão, pois essa realidade não é um fator facultativo ou dispensável, mas da natureza mesma da Igreja. A missão é a vida mesma da Igreja. E ela acontece ou existe na vida de todos os batizados. Já São Paulo reconhecia que a sua missão é um ato transcendental, ou seja, antes mesmo de sua existência, Deus, o Pai, o escolheu para anunciar o Evangelho: “Quando, porém, Àquele que me separou desde o ventre materno e me chamou por sua graça, agradou revelar-me o seu Filho, para que eu o anunciasse...” (Gl 1,15s). Ele foi predestinado a isso (cf. Ef 1,4). Bom e confortante seria se pudéssemos dizer isso a todas as pessoas: “não nascestes para o mundo, para ser escravos da mundanidade; fostes predestinados para que a vida fosse vivida em Deus”. Por isso, é bom sempre lembrar o que já faz parte da consciência da Igreja, desde o Concilio Vaticano II, passando pelas preciosas intuições do Documento de Aparecida (2007): toda a Igreja é missionária. Todos são missionários: o Papa, os bispos, os presbíteros, os diáconos permanentes, as religiosas e os religiosos, os leigos e leigas, engajados e consagrados. A missão toca a todos. Não há ninguém que esteja fora da missão. Também deve-se reconhecer: a missão não é um peso. Dela não se diz que é como uma meta de desenvolvimento profissional, ou que é fruto do alcance de quotas para uma retribuição material e financeira, ou que é como pré-requisito para se ganhar um prêmio. A missão é fruto da gratuidade do amor misericordioso do nosso Deus. É Ele que toma a iniciativa de “enviar” em missão o seu Filho e o seu Espírito (cf. Jo 3,16; Gl 4,4-6). Missão significa: testemunhar o Evangelho da graça de Deus (At 20,24). Para a missão é preciso ter um coração livre e disposto a aceitar o amor de Deus, dado gratuitamente. É por causa da gratuidade desse amor que a missão é um louvor à vida, um hino de gratidão pela Criação, um ato de assumir a defesa da vida e da Casa Comum. Deus, ao nos chamar para a missão, deseja que compartilhemos o que recebemos: perdão, reconciliação, vida nova. Daí que ser missionário e ser defensor e cuidador da Casa Comum, defender a vida, não só na concepção e no fim natural, mas também em todos os momentos da vida e da história das pessoas, sua dignidade diante das necessidades básicas e fundamentais, não estão em contradição. A Missão nos indica que fé e vida estão intrinsecamente unidos, de tal forma que não se pode anunciar o Evangelho sem que essa não seja a Boa Nova, libertadora e plasmadora da vida. Diante do chamado do Senhor, diante da necessidade e urgência de viver o sentido pleno de “Igreja”, qual a nossa resposta? Pois, é verdadeira e cativante essa exclamação: “Conhecer a Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa pode receber; tê-lo encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas, e fazê-lo conhecido com nossas palavras e obras é nossa alegria” (Documento de Aparecida, 29). Que a nossa resposta ao bom Deus e Pai seja: “Eis-me aqui, envia-me!” (Is 6,8).

Dom Jaime Vieira Rocha Arcebispo Metropolitano de Natal

A missão é a vida mesma da Igreja. E ela acontece ou existe na vida de todos os batizados

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A ORDEM

Diante da pandemia do novo coronavírus, em que os processos passaram a acontecer com mais força utilizando o virtual, a Arquidiocese de Natal aderiu ao Cúria online, que é um sistema gerenciador financeiro-pastoral. De acordo com o vigário episcopal para a administração, o padre Valdir Cândido, esse novo sistema é um facilitador dos processos.

ARQUIDIOCESE ADERE A NOVO SISTEMA

financeiro-pastoral 6 OUTUBRO DE 2020

Pascom Catedral


ENTREVISTA A ORDEM

A Ordem: O que é o Cúria online? Pe. Valdir: Na Igreja do Brasil, existem vários sistemas financeiros-pastorais que, de certa maneira, conduzem a administração paroquial ou das Dioceses, ou mais precisamente do terceiro setor, como é conhecido. O Cúria online é um desses sistemas que são reconhecidos pela CNBB, que são utilizados para conduzir essa administração contábil e financeira da sua Diocese. A Ordem: Como está acontecendo o processo de implantação do sistema? Pe. Valdir: Em virtude da pandemia, nós sentimos a necessidade de atualizar e fazer as coisas acontecerem mais em tempo real, diante de algumas informações que nós precisávamos enviar para o governo, por exemplo, que não estavam registradas, e isso dificultou muito o trabalho, já que a gente tinha que oferecer essas informações com mais rapidez e não conseguíamos acompanhar. Vendo estas realidades, pensamos em adquirir um sistema que pudesse nos acompanhar e nos dar

Eu resumo o sistema como um instrumento facilitador para o mundo e o presente que nós estamos vivendo”

respostas em tempo real, já que o mundo atual exige isso de nós, principalmente em relação às novas tecnologias. Pensando nisso, fomos em busca dos sistemas que já existiam, tomando como base também a experiência das outras Dioceses. Depois de um longo estudo, achamos que o Cúria online seria aquele que mais se encaixaria nas nossas necessidades. A partir daí, elaboramos um projeto. Apresentamos ao Arcebispo e ao vigário geral e eles aprovaram, porque isso é um projeto sem volta. Muitas pessoas precisam se adaptar, sobretudo as paróquias, que têm pessoas que ainda não usam as novas tecnologias da informática e não correspondem a essa realidade digital. Apresentamos também esse projeto ao conselho de assuntos econômicos, mostrando todo esse cruzamento de dados e importância de que isso traria para a nossa Igreja de Natal. Após a aprovação, começamos a traçar um planejamento de como seria essa implantação aqui na nossa Arquidiocese. Começamos a implantação do sistema internamente, no

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ENTREVISTA

setor de tesouraria e patrimônio. Depois, passamos a realizar formações nos zonais. Foram feitas reuniões com todos os zonais, com a participação dos padres e com quem eles indicassem, para apresentar o programa. A terceira e última etapa segue até o final do ano, que é a implantação nas paróquias. Inclusive, algumas paróquias já optaram por entrar no sistema nesse período experimental que estamos fazendo. A partir de janeiro de 2021, será obrigatória a utilização em todo o território da Arquidiocese. Todas as paróquias serão inseridas no sistema e vamos começar essa nova dinâmica. A Ordem: Quais as vantagens e que tipo de processos será possível realizar usando o Cúria online? Pe. Valdir: O sistema não envolve somente o financeiro, que é importante diante das exigências do mundo presente, mas a gente sabe que engloba outras realidades. Por exemplo, se você quer uma certidão de batismo, a parte da cúria, a parte pastoral, de arquivo, além do Tribunal Eclesiástico, ou seja, toda esta realidade será inserida dentro desse sistema. Então, assim, serão cruzamentos em que vão proporcionar também uma economia de gastos. Um exemplo, a Paróquia de Macaíba, todos os meses, tinha que trazer a contabilidade; agora não será mais preciso. Basta digitalizar os documentos e inserir todos os dados no sistema e a contabilidade acessa diretamente daqui. É um sistema que vem para nos ajudar e vai nos possibilitar acompanhar as mudanças que aconteceram diante da pandemia. Ela (a pandemia) nos ensinou essa realidade. A Ordem: Que mudanças essas novas ferramentas vão trazer para a vida financeira-pastoral da Arquidiocese? Pe. Valdir: No que diz respeito a essa dinâmica, são muitas mudanças. O tempo que era consumido em manuseio de documentos em papel, por exemplo, agora será aproveitado de outra forma. Eu resumo o sistema como um instrumento facilitador para o mundo e o presente que nós estamos vivendo. Muita gente vai ter que se enquadrar a essa nova dinâmica. O comodismo é muito bom, mas a partir do instante em que todo mundo entrar no sistema, todos terão que se empenhar. Temos algumas situações em algumas paróquias em que os colaboradores não usam computador. Essa Paróquia vai ter que se atualizar e trazer uma pessoa que venha a utilizar. Já adquirimos uma plataforma que é de fácil manuseio para facilitar nesse quesito. Por isso, todos devem se empenhar para concretizar essas mudanças na Arquidiocese e, assim, dar mais fluidez nos processos.

O sistema não envolve somente o financeiro, que é importante diante das exigências do mundo presente, mas a gente sabe que engloba outras realidades” 8 OUTUBRO DE 2020


A ORDEM

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ARTIGO

CULTURA DO

cancelamento A “Cultura do Cancelamento” surgiu com o propósito de fazer justiça social mediante condutas inaceitáveis, seja para um grupo ou para a sociedade em geral. Os cancelamentos geralmente estavam relacionados com questões como: o racismo, o preconceito de classes sociais, a homofobia, o bullying, dentre tantas outras. Inicialmente, a cultura do cancelamento estava especificamente focalizada em figuras públicas, políticos, celebridades, marcas e/ ou empresas. No entanto, ao longo do tempo esse movimento tem tomado outras proporções abrangendo os indivíduos não inseridos no rol das figuras de cunho público, tornando-se mais abrangente na sociedade, o que tem sido muitas vezes gerador de sofrimento psíquico. Os atos de cancelamento costumam dar-se predominantemente nas redes sociais. A acessibilidade possibilitada por esse meio de comunicação tem permitido que muitos tenham voz, de forma que conteúdos positivos e negativos sejam criados e disseminados. Além disso, é comum a realização de julgamentos precipitados e também a criação de rótulos. O cancelamento pode ser identificado como um reforço negativo (punição), causando consequências como prejuízo financeiro, diminuição de seguidores, distrato de contratos, danos à reputação do cancelado, perda de emprego, abandono, desprezo, afastamento de amigos, bem como danos à saúde mental. É possível observar que com as transformações sociais e com o crescimento dos comportamentos de intolerância, qualquer conflito de opinião pode vir a gerar um cancelamento. Atualmente, o ato de ‘discordar’ tem sido frequentemente associado a comportamentos de cancelamento, de eliminação e até de ameaça. Logo é possível perceber que a capacidade de escuta e de diálogo está se tornando raro entre as pessoas. É importante lembrar que a divergência de pensamentos é algo legítimo, desde que se busque respeitar o outro e o seu direito de pensar e agir. Dessa maneira cabe ressaltar que se faz necessário estimular habilidades como a escuta, a comunicação não violenta, o diálogo, o respeito e a empatia (capacidade de se colocar no lugar do outro). Nesse sentido, poderemos ter debates e relacionamentos mais saudáveis.

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Por Elaine Munic T. Ferreira Psicóloga CRP 17- 2206

Atualmente o ato de ‘discordar’ tem sido frequentemente associado a comportamentos de cancelamento, de eliminação e até de ameaça. Logo é possível perceber que a capacidade de escuta e de diálogo está se tornando raro entre as pessoas


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CAPA

A DIMENSÃO ECOLÓGICA DA FESTA DE

Nossa Senhora da Aparecida Festejos em honra da padroeira do Brasil acontecem neste mês de outubro Por Luiza Gualberto

Quando chega o mês de outubro, os fiéis católicos de todo o Brasil se preparam para a festa em honra à padroeira do país. Diante deste contexto de pandemia do novo coronavírus, a festa acontece de modo diferenciado, já que reúne, todos os anos, milhares de fiéis e peregrinos em Aparecida (SP). A realidade atual abre uma reflexão sobre o cuidado com a criação e a dimensão ecológica da festa de Nossa Senhora Aparecida. O papa Francisco, em seus discursos recentes,

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têm falado e enfatizado a importância do cuidado com a criação. Inclusive, no mês de setembro, se celebrou o Dia Mundial de Oração pela Criação. Na mensagem para a data, Francisco destacou que a desintegração da biodiversidade, o aumento vertiginoso de catástrofes climáticas, o impacto desproporcionado que tem a pandemia atual sobre os mais pobres e frágeis, são sinais de alarme perante a avidez desenfreada do consumo. Nesse sentido, a soció-

loga Josineide Silveira, faz uma relação entre Nossa Senhora e a ecologia. Segundo Josineide, Nossa Senhora é aquela que atualiza constantemente a criação de Deus. “Ela é alguém que atualiza o projeto de Deus. Ela alimenta na fé e alimenta em gestos. Se a gente observar, todas as aparições de Nossa Senhora se dão em elementos da natureza. A aparição nas grutas pode nos remeter ao centro da terra. No Brasil, Nossa Senhora Aparecida apare-


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ce na flueza das águas, ou seja, ela tem uma forte relação com a ecologia e nos convida a observar e cuidar dessa natureza estendida, que incorpora o humano e as outras criaturas”, explica. Josineide também destaca que nesse projeto de atualização da criação, Nossa Senhora se insere na regeneração da criação e também da dor de todos nós. Maria e a Laudato si Na encíclica Laudato si, o papa Francisco faz uma importante relação de Nossa Senhora com a ecologia. Segundo Francisco, a mãe que cuidou de Jesus, agora cuida deste mundo ferido com carinho e preocupação materna. “Assim como chorou com o coração trespassado a morte de Jesus, também se compadece do sofrimento dos pobres crucificados e das criaturas deste mundo, exterminadas pelo poder humano”, frisa. Ainda de acordo com o documen-

No Brasil, Nossa Senhora Aparecida aparece na flueza das águas, ou seja, ela tem uma forte relação com a ecologia e nos convida a observar e cuidar dessa natureza estendida” (Josineide Silveira)

to, Maria não só conserva no seu coração toda a vida de Jesus, que guardava cuidadosamente, mas agora compreende também o sentido de todas as coisas. Por isso, podemos pedir a ela que nos ajude a contemplar este mundo com um olhar de mais sabedoria. Devoção Os festejos em honra a Nossa Senhora sempre são repletos de muitos gestos de devoção. Desde criança, somos ensinados a recorrer a Maria nas situações mais difíceis e pedir a intercessão da mãe de Jesus. Josineide Silveira também mantém essa devoção muito forte em seu coração. “Certamente aprendi essa devoção com a minha família. A gente entende que Maria é aquela que vem nas horas difíceis. Somos aqueles que esperamos a visita de Maria, constantemente, assim como Isabel. Hoje, mantenho a tradição de rezar o Ofício da Imaculada Conceição,

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CAPA

Neste mês de setembro, no próximo dia 19, será liberada a abertura das capelas que compõem o território paroquial. Realização de eventos maiores ficam suspensos até novas orientações de segurança

todos os sábados. Se a gente observar, o Ofício passa em revista toda a história da salvação. Maria não é a mulher passiva. Ela é a mulher da espera, que sabe o tempo certo de as coisas acontecerem. É só a gente observar a história das bodas de Caná, por exemplo”, ressalta. Entre as manifestações de devoção, durante o mês de maio, Josineide veste azul e branco. Segundo ela, foi uma promessa feita por uma pessoa após ela sofrer um acidente. Encontro da imagem de Nossa Senhora Aparecida Em 1717, três pescadores, Domingos Garcia, João Alves e Felipe Pedrosa, moradores nas margens do rio Paraíba (SP), desanimados por não terem apanhado peixe algum, depois de várias horas de trabalho, já estavam rumando de volta para casa, quando lançando mais uma vez a rede, retiraram das águas o corpo de uma imagem sem cabeça e, num segundo arremesso, encontraram também a cabeça da imagem. Impressionados pelo evento,

Festejos em Neópolis A Arquidiocese de Natal conta com uma única Paróquia dedicada a Nossa Senhora Aparecida no território arquidiocesano, situada no bairro Neópolis, em Natal. Durante este mês, os festejos em honra da padroeira são muito expressivos, reunindo muitos devotos. Diante do contexto da pandemia, as festividades acontecem com um número reduzido de fiéis, de forma presencial e são transmitidos pelas redes sociais. A programação diária consta de novena, sempre às 19h. No dia 12 de outubro, data dedicada à padroeira do Brasil, vão ser celebradas cinco missas, na Igreja matriz: 06h, 08h, 10h, 12h e às 15h. Às 17h vai acontecer uma carreata saindo da Catedral Metropolitana com destino à matriz de Nossa Senhora Aparecida, em Neópolis. Neste ano, a festa tem como tema 14 OUTUBRO DE 2020

experimentaram mais um lance da rede, e naquele momento foi tão abundante a pescaria que encheram as três canoas. Limparam a imagem com muito cuidado e verificaram que se tratava de uma imagem de Nossa Senhora da Conceição, de cor escura. Colocaram a imagem em uma capela de sua pobre vila e diante dela começaram a fazer suas orações diárias. Nossa Senhora da Conceição Aparecida foi proclamada Rainha do Brasil e sua Padroeira Principal em 16 de julho de 1930, por decreto do papa Pio XI. Diante do crescimento da devoção à Nossa Senhora, o general João Batista de Figueiredo, promulgou a Lei nº. 6.802, de 30 de junho de 1980, declarando o dia 12 de outubro como feriado nacional para o culto público e oficial a Nossa Senhora Aparecida. Em 2007, o Papa Emérito, Bento XVI visitou a Basílica para abrir a V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe. No ano de 2018, quase 15 milhões de romeiros visitaram a Brasílica de Aparecida. Pascom Neopolis

“Com Maria seguindo Jesus, o bom samaritano: viu, sentiu compaixão e cuidou dele”. Segundo o pároco, o padre Antônio Nunes, mesmo diante da pandemia que impôs resguardo e cuidados, a festa não vai ser menos bonita e fértil na fé. “A Igreja, junto com a comunidade dos fiéis, se reinventou e se adaptou a esses novos tempos do distanciamento social, das máscaras e das participações virtuais. Não paramos um só instante e nem vamos parar de evangelizar”, enfatizou.


ARTIGO A ORDEM

ECONOMIA DE

Francisco

O Papa escreveu na carta para o evento “Economia de Francisco” que é necessário “atribuir uma alma à economia atual”, da origem latina de alma - ou anima - o apelo torna-se ainda mais eloquente em “re-animar” a economia. Com este objetivo, Francisco escolheu promover um evento como forma de concentrar os esforços de milhares de jovens, economistas, estudiosos, especialistas e empresários ao redor do mundo, para “estabelecer um pacto para mudar a economia atual”, e ainda reforça a vocação deste encontro, elegendo a cidade de Assis, na Itália, para sediar, física e espiritualmente, as estruturas desta proposta econômica. O apelo feito em 2019 pelo pontífice ainda não conhecia os efeitos gerados pela pandemia, ou sequer preocupava-se com a recuperação econômica tão mimetizada ao pano de fundo da crise sanitária que se instalou. A conjuntura fez tornar ainda mais urgente as prioridades já apresentadas na encíclica Laudato si que tinham sua primazia em: meio-ambiente, justiça em relação aos pobres e os problemas estruturais da economia. Para a missão de abraçar o tripé de sua proposta, o sucessor de Pedro ultrapassou fronteiras para convocar principalmente os jovens, para que estejam engajados no projeto de reconstrução da “Casa comum”. A Economia de Francisco tem um vínculo com a espiritualidade de São Francisco de Assis, não obstante a origem nobre do santo, o exemplo da radicalidade mostra o despojamento de si que o tornou baluarte da esperança. A virtude da esperança é um emblema frequente do Papa Francisco e, na ocasião de um pacto pela nova economia, é enfático em provocar os mais interessados pelo futuro, como ele menciona na exortação apostólica pós sinodal Cristus Vivit : “[...]Peço-vos para serdes construtores do futuro, trabalhai por um mundo melhor” (n. 174). A motivação para um novo pacto, como chama o pontífice, é justamente buscar uma reforma estrutural do sistema econômico. A marca da desigualdade permeia as diversas mazelas da humanidade (fome, terrorismo, epidemias, entre outras) principalmente causada pelo desequilíbrio na distribuição de recursos que onera a maior parcela da população em vista da “dissuasão nuclear”, corrida armamentista e interesses comerciais. A Proposta da Economia de Francisco é um sinal de que é possível celebrar a cultura da vida, ao invés da cultura do descarte. Reunindo-se com os construtores do futuro, o Papa Francisco busca prover as condições em que se possam conduzir os primeiros passos para um novo modelo econômico. O evento deverá acontecer entre os dias 19 e 21 de novembro de 2020, totalmente online, e mantém seu enfoque na dignidade humana e na universalidade dos direitos fundamentais, chancelando seu combate ao individualismo. O Papa, movido pela Graça, impele o primeiro passo para um modelo econômico capaz de devolver o ânimo, a alma da economia, e incitar que o “barro” das dificuldades, tornem-se na vida da Pobreza do Evangelho.

Leonardo Baldissera Gonçalves Formado em relações internacionais

Sim, é necessário “re-animar” a economia!

Fonte: http://www.vatican.va/content/francesco/es/messages/pont-messages/2020/ documents/papa-francesco_20200925_ videomessaggio-onu.html http://www.vatican.va/content/francesco/pt/letters/2019/documents/papa-francesco_20190501_giovani-imprenditori.html OUTUBRO DE 2020

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“Santo anjo do Senhor” Muitas pessoas têm devoção aos anjos e arcanjos, ao anjo da guarda. Muitas pessoas também têm dúvidas sobre essas criaturas espirituais, questionam se elas existem mesmo, se fazem parte do esoterismo ou da crença religiosa. Nós, da redação da revista A Ordem, sugerimos que que as pessoas enviassem perguntas sobre os anjos, através do perfil da Arquidiocese de Natal no Instagram (@arqnatal). Várias perguntas foram enviadas, selecionamos algumas, que foram respondidas pelo Padre Lenilson Morais, pároco da Paróquia de Santana e São Joaquim, em São José de Mipibu.

Qual a origem do anjo da guarda? (Samara Beatriz) Segundo a Doutrina da Igreja, os anjos são criaturas espirituais que assumem várias missões na obra da Criação e da Redenção do ser humano. A origem dos anjos da guarda é o coração providente do Pai, que os criou para acompanhar o percurso do homem e da mulher na sua peregrinação rumo à salvação eterna. A Sagrada Escritura nos garante isso ao dizer no salmo 90, 11: “Ele dará ordens aos seus anjos para que te guardem em todos os teus caminhos” Tem como saber o nome do meu anjo da guarda? (João Pedro) Absolutamente não. Não há nada na Doutrina Cristã Católica nem na Bíblia sagrada que nos diga que podemos saber o nome de nosso anjo da guarda. Isso é puro misticismo supersticioso. A única coisa que sabemos ao certo é que cada ser humano tem um anjo que o acompanha da fecundação à sua morte e, depois, no próprio Céu. Podemos rezar ao anjo da guarda de outra pessoa? (Marcelo Antônio) Sim. Podemos, quando se trata de pedir para que o anjo zele pela pessoa, livre-a dos males, ajude na sua conversão. Pode-se até pedir que o teu anjo entre em comunhão com o anjo da pessoa para a qual suplicas uma graça. Nunca, porém, pode-se pedir o mal. O único anjo que atende ao mal é Lúcifer (e seus seguidores). Todos os outros anjos são bons e só fazem o bem.

As perguntas sobre assuntos diversos da Igreja podem ser enviadas para o e-mail pascom@arquidiocesedenatal. org.br ou para o whatsapp do Setor de Comunicação da Arquidiocese, no número (84) 99675-7772, informando sempre que é o “Aprendendo com a Igreja”, da revista A Ordem. 16 OUTUBRO DE 2020


A ORDEM

É possível saber qual anjo foi designado para nos proteger ou isso é coisa do esoterismo? (Vicente Lino) Esoterismo puro! Claro que exigem os arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael com suas missões próprias: combater, anunciar e curar. Sobre os anjos da guarda não podemos saber qual tenha sido designado para nós. Aliás, vamos saber após nossa morte. O anjo da guarda intercede a Deus por nossas preces? (Géssika Reis) Sim, com certeza. No Credo professamos que cremos na “comunhão dos santos”, o que significa que toda a Igreja e todos os seres celestiais suplicam dia e noite diante do Trono do Cordeiro para o bem e a salvação dos fiéis e de toda a humanidade. Os anjos da guarda acompanham a alma da pessoa, mesmo no céu? (Luiz Fernando Silva) Sim, porém de uma maneira diferente. A pessoa já está salva e não há mais necessidade de ser protegida. Esse “acompanhamento” entra no sentido de participar eternamente da glória dos filhos de Deus. Particularmente, penso que seremos, literalmente, “eternamente gratos” ao nosso bom anjo da guarda que tanto lutou para cumprir sua missão: guarda os filhos de Deus em todos os seus cainhos para, se cair, logo levantar-se e seguir até a Pátria definitiva.

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A ORDEM

REPORTAGEM

TRÊS ANOS DA CANONIZAÇÃO DOS

Santos Mártires

Santo André de Soveral, Santo Ambrósio Francisco Ferro, São Mateus Moreira e companheiros Mártires foram declarados Santos em 15 de outubro de 2017 Por Cacilda Medeiros

Fotos: LOsservatore Romano

Milhares de fiéis participaram da celebração, na manhã do dia 15 de outubro, na Praça de São Pedro

Um sonho concretizado. Isto mesmo. Conhecer Roma ou voltar à cidade eterna (para os que já a conheciam), seria a concretização de um sonho, alimentado por muitas pessoas. E eis que um grupo de fiéis potiguares, do qual fiz parte, teve a oportunidade de viver esse sonho, em outubro de 2017, por ocasião muito especial: a celebração de canonização dos Mártires de Cunhaú e Uruaçu. Para mim, como jornalista da Arquidiocese de Natal, foram nove dias vividos intensamente, unindo trabalho e descobertas sobre a capital da Itália, dentro da qual está situado o Estado do Vaticano. Embarquei junto com o arce18 OUTUBRO DE 2020

bispo metropolitano, Dom Jaime Vieira Rocha, com o vigário geral, Padre Paulo Henrique da Silva, com o vice-postulador da causa da canonização, Padre Júlio César, e com o secretário do arcebispo, Padre Francisco Fernandes, na noite do dia 9 de outubro. Outros grupos, formados por padres, religiosos e fiéis leigos, também viajaram para participar da celebração tão importante para nossa Igreja Católica, especialmente para o Rio Grande do Norte. Chegamos a Roma, na noite da terça-feira, dia 10. O primeiro impacto foi com o fuso horário - cinco horas a mais que o horário de Brasília. Na hora em que geralmente to-

mamos café da manhã, lá já é hora do almoço. No primeiro dia, o nosso relógio biológico fica meio confuso. Depois, rapidinho, se acostuma com o novo horário. Após uma noite restauradora de sono, pegamos um ônibus com destino à Piazza San Pietro (Praça de São Pedro). Chegamos à Praça de São Pedro no momento da tradicional audiência geral do Papa, que acontece sempre nas manhãs das quartas-feiras. Fiquei impactada com a beleza da arquitetura, além de admirar aquela multidão, milhares de pessoas, com os mais variados traços étnicos. A maioria, acredito, católica, vai até Roma para ver o Papa,


REPORTAGEM A ORDEM

conhecer a sede da Igreja. Outras, certamente, vão atraídas pela riqueza arquitetônica, artística, histórica, gastronômica. Durante nossa estada, passei pela Praça de São Pedro, localizada no estado do Vaticano, todos os dias, motivada pelo trabalho de assessoria de comunicação, na Arquidiocese de Natal. É das maiores e mais bonitas praças do mundo, que pode abrigar até 300 mil pessoas. Uma construção do século XVII. Ao seu redor, tive a oportunidade de conhecer outros lugares que, para mim, como profissional, são importantes: Rádio Vaticano (um prédio no qual trabalham pessoas de 45 nacionalidades e que produzem programas católicos, em seus respectivos idiomas), a sala de imprensa de Santa Sé (na qual acontecem as principais entrevistas e coletivas de imprensas sobre temas que dizem respeito ao Papa), o Serviço Fotográfico e o Centro Televisivo do Vaticano. Nos dias que antecederam 15 de outubro, acompanhamos Dom Jaime em várias entrevistas, para jornalistas brasileiros e de outras nacio-

Sem dúvida, o momento mais aguardado e especial foi a celebração da canonização dos Mártires de Cunhaú e Uruaçu, os primeiros Santos Mártires do Brasil, ocorrida às 10 horas, do domingo, 15 de outubro de 2017, na Praça de São Pedro, em frente à Basílica.

nalidades. Uma delas foi concedida à Rádio Vaticano, no próprio estúdio da emissora. Na sexta-feira, dia 13, houve uma coletiva de imprensa, com Dom Jaime e representantes dos outros santos canonizados também no dia 15: três adolescentes do México, um sacerdote da Espanha e outro sacerdote da Itália. Ah, outro fato para recordar é que na sexta-feira, ao nos dirigirmos à sala de im-

Missa em ação de graças pela canonização, dia 16 de outubro

prensa da Santa Sé, passando pela Praça de São Pedro, avistamos, na fachada da Basílica Papal, os banners com as imagens dos que seriam canonizados dois dias depois. Ver aquele banner enorme, com a imagem dos nossos Mártires potiguares, foi emocionante! E conhecer a Basílica de São Pedro, ou Basílica Vaticana? Foi algo indescritível, uma beleza rara, que nos encanta e leva ao sagrado. Uma obra do século XVI, com arquitetura barroca e do renascimento e que teve Michelângelo como um dos seus arquitetos. O grande dia Várias paróquias da Arquidiocese de Natal fizeram momentos de oração e vigília em preparação ao grande dia. No Santuário dos Mártires, na comunidade de Uruaçu, em São Gonçalo do Amarante, dezenas de pessoas passaram a noite em uma vigília de oração, do sábado para o domingo. Em Roma, no sábado, pela manhã, o nosso arcebispo presidiu a Eucaristia, no altar da Cátedra, na Basílica de São Pedro. Foi uma celebração privada, apenas com a participação de alguns poucos sacerdotes e da Camerata de Vozes do RN, que entoou os cânticos da missa. No final da tarde, na capela de Nossa Senhora Aparecida, situada no Colégio Pio Brasileiro (casa onde residem padres de várias dioceses do Brasil, que estudam em Roma), houve a celebração das vésperas. Foi um momento oracional que contou com a participação de alguns bispos, padres, leigos e autoridades civis potiguares e representantes do governo federal. Sem dúvida, o momento mais aguardado e especial foi a celebração da canonização dos Mártires de Cunhaú e Uruaçu, os primeiros Santos Mártires do Brasil, ocorrida às 10 horas, do domingo, 15 de outubro de 2017, na Praça de São Pedro, em frente à BasíOUTUBRO DE 2020

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A ORDEM

REPORTAGEM

lica. Nesse dia, cheguei à Praça às 7 horas da manhã, sentindo um friozinho gostoso e tomada de ansiedade e expectativa. Queria garantir o melhor lugar, para ficar mais perto do Santo Padre, o Papa. Aos poucos, fui vendo as milhares de pessoas, de várias partes do mundo, especialmente do Brasil, Espanha, México e da própria Itália ocupando as cadeiras, na Praça de São Pedro. Além dos nossos 30 Mártires, o Papa Francisco canonizou, na ocasião, três adolescentes mexicanos, um sacerdote italiano e outro sacerdote espanhol. Ao se aproximar às 10 horas, já sob um sol forte, corais dos países mencionados entoaram canções, inclusive a Camerata de Vozes, do Rio Grande do Norte, dando um tom ainda mais solene ao momento. Às 10 horas em ponto, o coral da Basílica entoou o canto de entrada da missa. Foi lindo ver a procissão de entrada formada por seminaristas, diáconos, padres, bispos, cardeais e, por fim, o Papa Francisco. A celebração durou duas horas, sendo concluída, ao meio dia, com a tradicional Oração do Ângelus, conduzida pelo Sumo Pontífice. Confesso que, por alguns momentos, não contive a emoção e as lágrimas brotaram. Afinal, era a primeira vez que pisava naquele espaço sagrado, que eu estava tendo a oportunidade de ver o Papa a poucos metros de mim, numa celebração tão especial e significativa para nós, brasileiros. Era o momento em que a Igreja Católica reconhecia como Santos aquele grupo de pessoas, que, em 1645, em terras potiguares, deram a vida em nome da fé. No dia seguinte, a segunda-feira, dezenas de brasileiros, especialmente potiguares, entre bispos, padres, diáconos, autoridades civis e fiéis leigos participamos da missa em ação de graças pela canonização, no altar da

Painel com a imagem dos Santos Mártires brasileiros, na fachada da Basílica

Cátedra, na Basílica de São Pedro. Uma celebração solene, com o então presidente da CNBB, Dom Sérgio da Rocha. Permanecemos em Roma até a quarta-feira seguinte, quando Dom Jaime participou da audiência geral com o Papa Francisco. Na quinta, cedinho, retornamos ao Brasil, agradecidos a Deus por termos tido a oportunidade de participar de tão bela celebração, de termos vivido dias tão especiais. Sem dúvida, foram momentos que guardarei em minha lembrança para o resto da vida.

Dom Jaime com o Papa Francisco, na audiência geral, no dia 18 20 OUTUBRO DE 2020


PERSONALIDADE A ORDEM domeugeniosales.webnode.com.br

Dom Eugênio

o Vaticano e os Papas Cardeal Eugênio Sales, natural de Acari (RN), padre, bispo auxiliar e administrador apostólico da Arquidiocese de Natal e, depois, arcebispo primaz do Brasil, em Salvador (BA), e arcebispo da Arquidiocese de São Sebastião (RJ), exerceu várias funções no Vaticano e representou Papas em diversas ocasiões. O bispo potiguar trabalhou na construção de três documentos do Concílio Vaticano II, realizado em 1962 e 1965: Gaudium et Spes (sobre a Igreja), Apostolicam Actuositatem (sobre os leigos) e Inter Mirifica (sobre a comunicação social). Ele participou também de alguns Sínodos dos Bispos, realizados nos anos de 1971, 1976, 1980, 1983, 1985 e 1997, sendo representante nomeado pelo Papa em dois deles. Foi o presidente do Sínodo dos Bispos para a América, em 1997. A Santa Sé (sede da Igreja Católica) é composta de diversos conselhos e congregações. Dom Eugênio Sales integrou muitas delas, entre 1964 e 1991, como Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais, Comissão de Justiça e Paz (da qual foi presidente do Comitê de Promoção Humana), Comissão para a América Latina, Congregação para o Clero, Congregação para os Bispos, Conselho de Cardeais para as questões organizativas e econômicas da Santa Sé, Conselho para a Cultura, Congregação para a Educação Católica, Congregação para as Igrejas Orientais, Congregação para a Evangelização dos Povos e Congregação do Culto Divino e da Disciplina dos Sacramentos. Além disso, foi membro da Prefeitura para os assuntos econômicos da Sé Apostólica e membro para a revisão do Código de Direito Canônico. Dom Eugênio também foi nomeado para representar o Papa Paulo VI e, também, João Paulo VI, em algumas ocasiões, como em Congressos Eucarísticos Nacionais, no Brasil, no 150º aniversário da definição dogmática da Imaculada Conceição e no centenário da imagem de Nossa Senhora do Sameiro, em Portugal, em 2004. O cardeal era amigo pessoal dos Papas João Paulo II e Bento XVI. Através de suas ações, ele deixou um grande legado para a Igreja Católica. (Fonte: https://domeugeniosales.webnode.com.br) OUTUBRO DE 2020

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EM AÇÃO

Cruz Vermelha NO RN SE

DESTACA NA ATUAÇÃO DURANTE PANDEMIA Cronograma de atividades foi planejado para contemplar segmentos da sociedade potiguar Por Luiza Gualberto

Entrega de cestas básicas nos municípios de Mossoró, Angicos, Assú, Upanema, Governador Dix-Sept Rosado, Baraúna e Tibau

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha é uma organização humanitária, independente e neutra, que se esforça em proporcionar proteção e assistência às vítimas de guerra e de outras situações de violência. Além dessa atuação, presta um importante serviço à sociedade, diante de situações adversas. No Brasil, o comitê está presente desde meados de 1910 e no Rio Grande do Norte, desde a década de 40, com uma atuação significativa e ampla para contemplar diversos segmentos da sociedade, apoiada por parceiros da iniciativa privada, conseguindo cumprir a missão de levar ajuda humanitária no estado. Diante da pandemia do novo coronavírus, que vem assolando o mundo todo e trazendo à tona outras deficiências da sociedade, que não seja só de saúde, a Cruz Vermelha Brasileira RN (CVB-RN) ampliou sua atuação para conseguir atingir o maior número de pessoas no estado. Foi pensado um cronograma de atividades para contemplar as pessoas que mais necessitam, como aquelas que tiveram suas rendas cortadas e ficaram em dificuldade para sobreviver. Nessas ações, foram previstas distribuição de máscara para prevenir a propagação do vírus, com o apoio de equipes de voluntários, nas cidades de Natal, Mossoró e Currais Novos. O organismo firmou uma parceria com a Rede de Postos Novo Horizonte, para distribuição de máscaras junto aos clientes e parte da arrecadação do lucro da empresa foi revertida para a instituição. Também aconteceu a distribuição de kits de equipamentos de proteção individual para profissionais de saúde. Ainda foram feitas campanhas para arrecadação de alimentos para compor cestas básicas, destinadas à população em situação de vulnerabilidade social. Cumprindo a missão de auxiliar o poder público, a CVB-RN realizou uma parceria com o RN+Unido, em que, desde o início da pandemia, equipes de voluntários estão desenvolvendo atividades na linha de montagem de cestas bási22 OUTUBRO DE 2020


EM AÇÃO A ORDEM

cas, em Natal e Mossoró. Na Escola de Governo, na capital, está presente outra equipe de voluntários, contribuindo na execução logística dos diversos donativos enviados para a campanha. Segundo Kelyson Montenegro, presidente da CVB-RN, a solidariedade e engajamento da sociedade de um modo geral, tem sido importante para o desenvolvimento dessas atividades. “Observamos que essa pandemia contaminou a classe empresarial através da solidariedade e percebemos que o novo normal será o consumidor preferir produtos e serviços que impactem socialmente. É muito gratificante quando empresas como a Volvo Mundial, empresta sua frota para realizamos nossas atividades, a Quantum, empresa de energia eólica doa uma ambulância, a Rede de Postos Novo Horizonte repassam uma parte do seu lucro, a rede de supermercados Rede Mais implanta o programa Troco Solidário, assim como outras que abraçam a causa e são solidários com o próximo”, relata.

Pioneiros em desinfecção Os estados do nordeste brasileiro vêm ao longo dos últimos anos, enfrentando o aumento dos casos de diversas doenças, como a dengue, zika vírus, chikungunya e, mais recentemente, a Covid-19. Nesse sentido, a instituição vem, permanentemente, desenvolvendo ações preventivas em saúde, a exemplo da erradicação e a mitigação dos vetores transmissores da dengue, zika, chikungunya e febre amarela, através do Projeto Zika Brasil, que fomentou o conhecimento relativo a essas doenças. No presente momento, diante da pandemia do novo coronavírus, existe a notória necessidade de realizar, em todo e qualquer espaço, o protocolo de desinfecção. Medida imprescindível para a volta da nova normalidade em todos os ambientes onde tenham circulação de pessoas, para que os setores da sociedade possam enfrentar o novo coronavírus (COVID-19). A Cruz Vermelha no RN tem também atuado neste sentido, contribuindo na desinfecção de alguns espaços e instituições.

Serviço Para conhecer e contribuir com o trabalho da Cruz Vermelha Brasileira no Rio Grande do Norte, basta entrar em contato com o número: (84) 3201-6400 ou whatsapp: (84) 99945-8861. A instituição também está presente nas redes sociais. Basta buscar por @cruzvermelhabrasileirarn no Facebook, Instagram, Youtube e Twitter.

Fotos: Arquivo Cruz Vermelha Brasileira RN

Pitstop para distribuição de máscaras de tecido OUTUBRO DE 2020

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VIDA PASTORAL

Pastoral da Criança RESSIGNIFICA FORMAS DE AGIR

Conhecida pelo trabalho realizado através das visitas domiciliares, a Pastoral precisou se adaptar, neste tempo de pandemia Por Milton Dantas Coordenador estadual da Pastoral da Criança

Nessa época da pandemia, as reuniões das coordenação têm acontecido através das plataforma digitais

Era o ano de 1983. Um clamor pela vida se faz. Um grito por mãos corajosas se ouve. Um brado pede passagem, e uma pastoral nasce no seio da Igreja que, em sua promissão, sabe do compromisso que tem pela frente: vida e vida plena. É a Pastoral da Criança! Quando de milhões de crianças, outras mil morrem antes de completar um ano de idade, este clamor aparece num Brasil de extensão e riqueza com necessidade de regras distributivas de vida para todos. O evangelho de João em seu capítulo 10, versículo 10 se faz o mastro desta grande bandeira da vida e entoa a mística de fé e vida. Surge o tema da Pastoral: “Para que todas as crianças tenham vida”. Qual a sua missão? É a própria missão de Jesus, que é também a missão da Igreja e de todos(as) os(as) cristãos(ãs): EVANGELIZAR. Indo, então, pelo mundo brasileiro e anunciando a boa notícia, contradizendo a onda fake News que teima em inundar lares e cidades na cor24 OUTUBRO DE 2020

rente do contra-vida atual, os ensinamentos simples circulam na certeza de que crianças se desenvolverão integralmente; em função delas, também suas famílias e comunidades alcançarão êxito, sem distinção de raça, cor, profissão, nacionalidade, sexo, credo religioso ou político. A missão da Pastoral da Criança vai se fazendo com clareza, seguindo alguns pressupostos que a definem como promissora em seu jeito de evangelizar: . Despertando e capacitando lideranças comunitárias para que se integrem em sua ação profético-missionária. Uma ação profética porque denuncia as injustiças e anuncia a esperança de transformação para a criação de uma sociedade constituída de homens e mulheres que se preocupem com a boa nova e, transformando, transformem-se. Missionária porque o Líder está no dia a dia, junto com o povo, na caminhada pela libertação das condições desumanas de trabalho, moradia,


VIDA PASTORAL

saúde, alimentação; . Criando condições para que a mulher se torne agente de promoção de si mesma; . Levando às gestantes e famílias das crianças acompanhadas os conhecimentos e a prática das Ações Básicas de Saúde, Nutrição, Educação, e Cidadania, essenciais ao desenvolvimento da vida; . Estimulando todos(as) para a vivência diária da Palavra de Deus, da Fé integrada à Vida, da solidariedade e da responsabilidade compartilhada. Construindo, assim, com as famílias, uma cultura de paz; . Acompanhando as famílias, ajudando-as a se preparar para assumir com responsabilidade a missão de cuidar da saúde, da nutrição, da educação e da fé das crianças, desde o ventre materno; . Valorizando, entre as famílias, a organização e a participação comunitária na busca dos direitos e cumprimentos dos deveres; . Trabalhando na construção de um sentimento de autoestima entre as gestantes, crianças e outras pessoas da família; . Diminuindo as doenças e as mortes que possam ser prevenidas e evitadas entre as crianças e as mulheres. Ações que reúnem famílias Nesta partilha que salva vidas, voluntários (líderes) da Pastoral da Criança tomam por instrumento de realização, três atividades: visitas domiciliares, celebração da vida e reunião de reflexão e avaliação. Os líderes fazem a visita mensalmente as famílias acompanhadas, momento em que pode ser desenvolvido um trabalho mais pessoal e direcionado às necessidades de cada família, oportunidade de conhecê-la melhor e partilhar conhecimentos e experiências so-

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bre nutrição, higiene, cidadania, gestação, prevenção de doenças, educação infantil, entre outros assuntos. Nesse momento, o líder também analisa o que pode ser melhorado no cuidado com as crianças, com a gestação e no convívio familiar. O cuidado é ainda maior, quando há crianças e gestantes com baixo peso. Nesses casos, as líderes visitam a família com mais frequência. Na celebração da vida se reúnem as famílias para avaliar o desenvolvimento de suas crianças e proporcionar a troca de experiências e solidariedade na comunidade. Esse encontro mensal é enriquecido com brincadeiras com as crianças, troca de experiências, informação e fraternidade entre as famílias, bem como a partilha de lanches, estimulando a alimentação saudável. Por fim, os líderes, os demais voluntários e o coordenador comunitário, depois que as visitas domiciliares e o Dia da Celebração da Vida já foram realizadas, reúnem-se e avaliam o progresso de suas ações na comunidade, utilizando a metodologia do Ver, Julgar, Agir, Avaliar e Celebrar. Observam a realidade das famílias que acompanham, identificam as causas e consequências de determinada situação, unem esforços e veem que alternativas podem ajudar as famílias ou a comunidade. Foi preciso ressignificar É o ano de 2020. Um clamor pela vida se faz. Um grito por mãos corajosas se ouve. Um brado pede passagem, e uma pastoral ressignifica sua maneira de continuar assumindo seu compromisso, no seio da Igreja que, em sua promissão, sabe do compromisso que tem em nossos dias: vida e vida plena. Arquivo coordenação estadual

Momento de formação com coordenadores paroquiais, antes da pandemia OUTUBRO DE 2020

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VIDA PASTORAL

Visitar, celebrar, reunir. As Marias que partem para regiões montanhosas, não mais poderão chegar. O velho Semeão não mais verá crianças em seu colo para apresentar à assembleia. Os apóstolos não mais partilharão seus bens. Será? No momento, de forma presencial. Mas, diante da teimosia dos que vivem a plenitude, tudo continuará acontecendo num ressignificado que toma pela mão o instrumento, talvez nunca pensado: a tecnologia. E a Igreja se renova, fazendo da fraqueza a força paulina e adentra às dificuldades, adentrando ainda mais a águas mais profundas como que descobrindo formas de solidariedade nos escombros. A Pastoral da Criança, como esta Igreja que tudo pode pela fé, aprende, re-aprende, luta, re-luta, e, líderes simples, em sua simples fé, encontram a luz no túnel. Ela que realiza atividades, por natureza, presenciais, descobre que, neste tempo, evangelizar não se perde no caminho, utilizando o virtual para visitar as famílias e atualizar, com dados, o sistema de informações. Seus agentes de pastoral visitam as famílias, reúnem-se entre si (desde a liderança das bases às coordenações em níveis paroquiais, áreas, diocesanas, estaduais e nacionais) e se capacitam nas mais variadas ações através do aplicativo visita domiciliar. O aplicativo e as plataformas digitais têm colaborado para que o trabalho não pare. A solidariedade também tem estimulado a todos e todas a dar voz a tantos e tantas que ainda necessitam deste amparo, deste acalanto. Não deixamos de visitar. As famílias recebem a nossa voz, a voz da Igreja, através de líderes que organizam grupos de mães, famílias em watzapp e, mensalmente, estão a manter contatos, continuando o acompanhamento, não perdendo a forma de ajudá-las em suas aflições de um 26 OUTUBRO DE 2020

Redes sociais da Pastoral da Criança

O uso do aplicativo tem facilitado o trabalho dos agentes

período mais difícil. Não deixamos de nos reunir: reflexões e avaliações, capacitações acontecem em salas virtuais e, numa rede de solidariedade que vai além de nossas comunidades: as coordenações, em todos os níveis, integram-se, integrando o Brasil adverso como adversas são as situações enfrentadas. Aqui, no Rio Grande do Norte, realizamos reuniões, encontros, seminários... nas três dioceses (Natal, Mossoró, Caicó) de maneira muito viva, onde lideranças pastorais têm encontrado alento umas com as outras, e possibilitando chegar aos mais diversos lugares de acompanhamento pastoral de maneira solidária. Os instrumentos não são mais os mesmos, na maioria das vezes, mas a ação continua sendo a mesma: salvar vidas. O papel deu lugar ao aplicativo. Os abraços deram lugar aos sorrisos, mesmo cobertos por máscaras. Mas, acima de tudo, está a prevenção. Tudo pela prevenção. Tudo pela vida está valendo a pena. A Pastoral da Criança veio em 1983 para prevenir a mortalidade infantil com coisas simples: água, açúcar e sal (soro caseiro). Ela continua em 2020, prevenindo das doenças facilmente preveníveis e, com todo o cuidado, com instrumentos simples: água, álcool, máscara, a luta pela não entrada do coronavírus em nossos lares.


A ORDEM

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A ORDEM

VIVER

ORGULHO DE SER

nordestino

Rica em sua cultura popular, a região Nordeste foi e ainda é tema de estudos de grandes escritores e estudiosos Por Cione Cruz

Quem ainda não viu em banners ou adesivos, ou ouviu, a expressão “orgulho de ser nordestino”? Pois é. Desde 2009 esse orgulho foi oficializado com a criação do Dia do Nordestino, 8 de outubro, uma justa homenagem ao nordestino Patativa do Assaré, ou Antônio Gonçalves da Silva, poeta, cantor e compositor cearense, que sintetiza toda diversidade cultural, típica da região Nordeste. Rica em sua cultura popular, a região Nordeste foi e ainda é tema de estudos de grandes escritores e estudiosos, dentre os quais se destaca o escritor, jornalista, historiador e folclorista potiguar, Luis da Câmara Cascudo (1898-1986), um dos mais importantes pesquisadores das manifestações culturais brasileiras, para quem é possível interpretar a cultura popular como resultado da sabedoria oral, sendo portadora de um “instituto de conservação para manter o patrimônio sem modificações sensíveis, uma vez assimilado” (CASCUDO, 1983, p. 679). O nordestino tem como característica marcante a sua força e resistência diante das adversidades como: seca, fome e abandono social e político durante décadas, mas nada tira o brilho e a alegria de seu povo, valorizado, principalmente, pela sua cultura. O Nordeste é uma das regiões mais ricas em sua cultura popular, talvez até por ser uma região que engloba o maior número de estados (Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe). Tem um leque imenso de expressões, pois cada estado tem suas gírias e costumes bastante peculiares. É uma região onde se destacam a sua musicalidade (frevo, maracatu, xaxado, axé, baião e forró) e tantos ícones da nossa música brasileira, a arte, a literatura, a culinária, sendo possível

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destacar duas das maiores expressões culturais do Nordeste que são, sem dúvida nenhuma, o carnaval, celebrado com muita ênfase em Pernambuco (Olinda e Recife) e na Bahia (Salvador), e as festas juninas, celebradas em homenagem a São João e São Pedro, em todos os estados, mas cuja festa de maior expressividade acontece na Paraíba (Campina Grande). Há, porém, que se destacar também a Literatura de Cordel, popularizada pelos repentistas (violeiros), ilustradas por xilogravuras e cuja característica principal sempre foi a sua forma de apresentação, penduradas em cordas (ou cordéis), onde são contadas histórias musicadas e rimadas. Com tantos motivos para esse “Orgulho de Ser Nordestino”, esse ser alegre e feliz ainda se diferencia de outras regiões pelo seu linguajar e gírias bastante peculiares. Fala-se que a maioria das expressões populares existentes no português falado no Brasil são de origem do Norte e Nordeste. Em seu livro “Cultura Popular: o ser, o saber e o fazer do povo”, Cássia Lobão Assis e Cristiana Maria Nepomuceno afirmam: “As práticas culturais do Nordeste brasileiro sofrem forte influência do contexto popular: na religião e nas crenças (romarias, magia, superstições, tabus, rezadores, benzedeiras, crendices); na culinária (tapioca, queijo de coalho, cuscuz, carne-de-sol, macaxeira, bode guisado, buchada, rapadura, farinha); na música e na dança; nos hábitos (dormir em rede, sentar nas calçadas, varrer a frente das casas etc.); nas brincadeiras, na forma solidária de se relacionar, nos mitos, nas lendas, contos, poesia, na literatura, enfim, para onde se olha em nossa região, percebe-se a presença marcante da cultura popular”.


VIVER A ORDEM

Com grande variação de estado para estado, vemos, no cotidiano, expressões que só o nordestino fala, como: abestado – bobo, abestalhado; amofinado – aborrecido, infeliz; arretado – irritado ou então algo muito bom; Ôxe - Pode ser usado para tudo, é como o “uai” dos mineiros. Dependendo da sua entonação, pode significar surpresa, dúvida, empolgação; Afolozar - Algo estragado, que não dá mais para usar, pois está danificado; Bexiguento - alguém que não vale nada, que não presta; Estribado - Gente rica, com muita grana; Morgado - Desanimado, fraco, sem gente; Apombaiado - Pessoa distraída, que nunca entende nada; Peba - Coisa mal feita, desorganizada, ruim ou mixuruca; Arenga - Significa o mesmo que briga, confusão. A pessoa que briga muito é chamada de arengueiro; Arriégua - É como se fosse o “uai” mineiro ou “oxe” dos baianos. Arriégua não tem um significado próprio, mas pode ser usado para tudo; Cambito - É o mesmo que perna fina; Rebolar no mato - É o mesmo que jogar fora; Armaria - É uma abreviação para Ave Maria. É usado para expressar espanto, surpresa, ou quando você acha algo muito exagerado.

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