Revista A Ordem - Dezembro/2020

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Fundação Paz na Terra Ano LXVIII - Nº 56 Natal/RN | R$ 7,00 Dezembro de 2020

60 anos de assembleias pastorais



A ORDEM

SUMÁRIO EDITORIAL

SEIS DÉCADAS DE AÇÕES PLANEJADAS

60 anos de assembleias pastorais

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CAPA

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ENTREVISTA - “Economia de Francisco” propõe nova economia global

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VIDA PASTORAL - Bairro Mãe Luíza ganha Paróquia

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REPORTAGEM - Padres comemoram jubileu de ouro de ordenação sacerdotal

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VIVER - Pandemia propõe o desenvolvimento de novas habilidades

EXPEDIENTE

Revista mensal da Fundação Paz na Terra Endereço: Rua Açu, 335 – Tirol CEP: 59.020-110 – Natal/RN Fone: 3201-1689

CONSELHO CURADOR: Pe. Antônio Nunes Vital Bezerra de Oliveira CONSELHO EDITORIAL: Cacilda Medeiros Luiza Gualberto Josineide Oliveira Jeferson Rocha Cione Cruz André Kinal Milton Dantas Vitória Élida

EDIÇÃO E REDAÇÃO: Luiza Gualberto (DRT-RN 1752) Cacilda Medeiros (DRT-RN 1248) REVISÃO: Milton Dantas (LP 3.501/RN) FOTO DA CAPA: André Kinal

O ato de planejar é, provavelmente, uma das atitudes humanas mais antigas. Quem, ao iniciar uma viagem, não faz as contas de quanto vai gastar, quanto tempo será necessário e qual o percurso a realizar até chegar ao destino? Isso é planejamento, mesmo feito intuitivamente. Planejar consiste em adotar procedimentos visando uma determinada ação a ser realizada, traçando e definindo estratégias para atingir um ou mais objetivos. O ato de planejar é uma prática presente em todos os setores de atividade, atualmente, sejam de pequenas ações e empresas, sejam no seio de organizações sociais e eclesiais. Porém, como uma forma de administração estratégica para atingir determinado objetivo, o planejamento passa a ser adotado nos anos de 1960. Ainda de forma um tanto intuitiva, movidos pelas necessidades e carências dos fiéis em suas épocas, lá pelos anos de 1960, padres, bispos e arcebispos de Natal também realizaram ações sociais e religiosas as mais diversas que, sem dúvidas, tiveram um mínimo de planejamento e racionalidade. O conjunto dessas ações, posteriormente, foi denominado de Movimento de Natal. Tais ações começaram no pastoreio de Dom Marcolino Dantas, através dos Padres Nivaldo Monte e Eugênio Sales, ambos, posteriormente, arcebispos de Natal. Neste ano de 2020, a Arquidiocese comemora 60 anos das Assembleias Pastorais que são, na verdade, ações de planejamento da Igreja de Natal, em todas as suas áreas de atuação, desde a década de 1960.

COLABORADORES: José Bezerra (DRT-RN 1210) Cione Cruz Rede de Comunicadores da Arquidiocese de Natal

DIAGRAMAÇÃO: Akathistos Comunicação (47) 9 9618-3464 COMERCIAL: (84) 3615-2800

ASSINATURAS: Com as coordenações paroquiais da Pastoral da Comunicação ou na redação da revista, no Centro Pastoral Pio X – Av. Floriano Peixoto, 674 – Tirol – Natal/RN (84) 3615-2800 assinante@arquidiocesedenatal.org.br www.arquidiocesedenatal.org.br

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A ORDEM

PALAVRA DA IGREJA

A caridade DE SANTO

ANDRÉ, FORÇA PARA OS TEMPOS DIFÍCEIS Francisco Papa

“A paz pode ser negociada, mas isto não extinguirá as guerras do mundo até que as pessoas entendam que são irmãos e irmãs”,

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O Papa Francisco enviou uma mensagem ao Patriarca Ecumênico de Constantinopla, Bartolomeu I, no último dia 30 de novembro, por ocasião da festa de Santo André, Apóstolo, Padroeiro do Patriarcado Ecumênico. “A paz pode ser negociada, mas isto não extinguirá as guerras do mundo até que as pessoas entendam que são irmãos e irmãs”, escreveu, no início da mensagem. Para o Papa da Encíclica “Fratelli tutti” esta é uma certeza. Um pensamento contido na mensagem dirigida ao Patriarca Bartolomeu I, na Festa do Apóstolo André, lida pelo presidente do Pontifício Conselho para a promoção da Unidade dos Cristãos, cardeal Kurt Koch, no final da Divina Liturgia celebrada na Igreja de São Jorge, em Istambul, na Turquia, que contou com a presença de uma delegação vaticana. Uma antiga tradição igualmente respeitada pelos representantes do Patriarcado Ecumênico, que participaram da missa para a Solenidade dos Santos Pedro e Paulo, em 29 de junho. Ao recordar o encontro ecumênico de 20 de outubro passado em Roma, na Praça do Capitólio, com Bartolomeu I e outros líderes religiosos, Francisco observa que, além da pandemia, a guerra continua “afligindo muitas partes do mundo” e novos conflitos armados roubam a vida de homens e mulheres. “Sem dúvida”, escreve o Papa na mensagem, “todas as iniciativas tomadas por organismos nacionais e internacionais para promover a paz são úteis e necessárias, mas o conflito e a violência nunca cessarão até que todas as pessoas tenham uma consciência mais profunda de que têm uma responsabilidade recíproca como irmãos e irmãs”. Uma fraternidade que Francisco afirma ter experimentado “em primeira pessoa” nos vários encontros com o Patriarcado Ecumênico, reconhecendo que o “desejo de aproximação e compreensão cada vez maior entre os cristãos” foi manifestado por Constantinopla “antes que a Igreja católica e outras Igrejas se comprometessem com o diálogo”. O Papa cita como demonstração deste fato uma carta encíclica do Santo Sínodo do Patriarcado Ecumênico enviada às Igrejas de todo o mundo cem anos atrás. “Quando as várias Igrejas se inspiram no amor, e o colocam em primeiro lugar em seu julgamento dos outros”, lê-se na carta do Santo Sínodo, “elas serão capazes, em vez de aumentar e ampliar as divergências existentes, de diminuí-las o máximo possível” e, além disso, “com sua disposição a dar, sempre que surgir a oportunidade, uma mão de ajuda e assistência, então farão e realizarão muitas coisas boas para a glória e o benefício tanto de si mesmas quanto de todo o corpo cristão”. “Um texto que não perdeu sua atualidade”, enfatiza o Papa, “que acompanha os votos ao Patriarca Bartolomeu I para a festa de Santo André com a constatação do notável crescimento nas relações entre a Igreja Católica e o Patriarcado Ecumênico no século passado. “Embora os obstáculos permaneçam, estou confiante de que, caminhando juntos no amor recíproco e buscando o diálogo teológico” será possível alcançar o objetivo “de restaurar a plena comunhão expressa através da participação no mesmo altar eucarístico”, de “reunir todos os homens num só corpo, e na pedra angular da Igreja una e santa”. FONTE: Portal Vatican News


A VOZ DO PASTOR

A ORDEM

O Natal: ESPERANÇA

E PAZ PARA TODOS

Prezados leitores/as Estamos no mês de dezembro, mês do Natal, mês da confraternização. É bem verdade, que estamos também numa pandemia que já ceifou a vida de mais de 170 mil brasileiros e brasileiras. Confraternizações que aglomeram são vistas como potencial transmissoras do coronavírus. Já passaram quase 9 meses em que a preocupação e a angústia invadem nossos corações. É necessário que não baixemos a guarda na luta contra esse monstro que circula nos ambientes de nossa sociedade. Como Pastor da Igreja de Natal conclamo a todos, apelo ao bom senso, ao cuidado com a própria saúde e ao respeito pela saúde dos outros. A nossa luta contra essa pandemia não pode deixar de ser fortalecida pela nossa fé. Nós cremos e por isso, confiamos na força e na ação misericordiosa de nosso bom Deus. Esse Deus, que é Pai amoroso enviou ao mundo o seu Filho (cf. Jo 3,16). A grande, boa e bela notícia é que o envio do Filho eterno, tornando-se carne no seio virginal de Maria, assumiu, de modo definitivo, a nossa humanidade. Nunca poderemos deixar de ter esperança, porque Deus não abandona seus filhos e filhas. Deus nunca abandona o ser humano. Sim, reconhecemos: muitas mazelas e doenças que nos atingem são provocadas pelo egoísmo, pela ganância, por uma vida irresponsável. Deus nos livre de tudo isso. E Ele não cessa de apelar para a conversão de todos. Na noite do dia 24 celebraremos o Natal do Senhor. Sentiremos falta de juntar ao nosso redor um número maior de pessoas para compartilhar de nossa alegria. Será um número reduzido, mas não podemos deixar de acreditar no encanto do Natal, especialmente, porque esse encanto não é destruído seja pelas nossas escolhas e decisões erradas seja pela maldade dos corruptos, dos abusadores, das situações de injustiças e cheias de preconceito. O Natal é a celebração da vinda da graça, da comunicação livre, amorosa e escatológica de Deus para o homem e a mulher. Deus vem ao nosso encontro. Ele assume a nossa condição, não para tirar a nossa liberdade, mas para curar, isto é, para cuidar e dar sentido à nossa mesma liberdade. O Natal traz para todos nós o esclarecimento sobre Deus e nós. Que beleza contemplarmos no presépio a cena maravilhosa e tão cheia de ternura: o Menino, sua mãe, José. O Menino é Deus conosco. É a revelação plena do que significa que o homem e a mulher foram criados à imagem e semelhança de Deus (cf. Gn 1,26-27). Não nos furtemos de desejar “Feliz Natal”. Deus quer isso para nós. É como desejar bênçãos e paz para os corações. Papa Francisco exortou sobre o tema da bênção, na última Audiência Geral, dia 2: A grande bênção de Deus é Jesus Cristo, é o grande dom de Deus, o seu Filho. É uma bênção para toda a humanidade, é uma bênção que nos salvou a todos. Ele é a Palavra eterna com a qual o Pai nos abençoou, «quando éramos ainda pecadores» (Rm 5, 8) diz São Paulo: Palavra que se fez carne e foi oferecida por nós na cruz... Este mundo precisa de bênção e nós podemos dar a bênção e receber a bênção. O Pai ama-nos. E tudo o que nos resta é a alegria de o abençoar e a alegria de lhe agradecer, e de aprender com Ele a não amaldiçoar, mas a abençoar.

Dom Jaime Vieira Rocha Arcebispo Metropolitano de Natal

“Não nos furtemos de desejar “Feliz Natal”. Deus quer isso para nós. É como desejar bênçãos e paz para os corações.”

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A ORDEM

De 19 a 21 de novembro deste ano, aconteceu o “Economia de Francisco”, um evento proposto pelo papa Francisco para discutir uma nova economia global, que possa ser mais justa, fraterna, inclusiva e sustentável, sem deixar ninguém para trás. Inicialmente, o evento estava previsto para ser realizado de forma presencial, mas em virtude da pandemia do novo coronavírus, as atividades aconteceram de forma online, reunindo cerca de 2 mil jovens de todo o mundo, de diversas áreas como: negócios, economia, tecnologia, empreendedorismo, entre outras. Renato Cássio, que é da Paróquia de Nossa Senhora da Candelária, em Natal e que trabalha com negócios e empreendedorismo, participou da programação, que faz parte de uma ação mais abrangente, com foco em iniciativas que incentivem essa nova economia em âmbito local. Por Luiza Gualberto

“Economia de Francisco” INCENTIVA UMA NOVA ECONOMIA GLOBAL 6 DEZEMBRO DE 2020


ENTREVISTA A ORDEM

A Ordem: Porque participar deste encontro? Renato: Já faz um tempo que o tema economia me despertou interesse e eu comecei a estudar mais sobre o assunto. Eu sou formado em engenharia de produção, mas trabalho na área de gestão, empresas privadas, negócios e não lembro exatamente como tomei conhecimento do evento Economia de Francisco, mas aí quando vi e cheguei no site, achei fantástico. A gente vive em um momento em que o campo dos negócios e o crescimento econômico são vistos de forma muito desumana e quando vi a carta do papa convidando, me interessei em participar, pois a proposta do evento se aliava à minha linha de pensamento em relação à economia. Vi que tinha um processo seletivo para participar. Me inscrevi e depois de uns meses recebi a resposta de que eu havia sido selecionado para participar. A Ordem: O que é o “Economia de Francisco?” Renato: Na verdade, o evento congrega outros eventos. Assim que recebei a confirmação de que havia sido selecionado para participar, houve um incen-

Não lembro exatamente como tomei conhecimento do evento Economia de Francisco, mas aí quando vi e cheguei no site, achei fantástico

tivo para a realização de eventos locais, como forma de preparar para o evento maior, que, na verdade, se tornou um movimento. Diante da pandemia, o evento foi postergado, depois foi cancelado e, por fim, ficou definido que seria online, com um encontro presencial no ano que vem, na cidade de Assis, na Itália. Quando os organizadores começaram a incentivar os jovens que haviam sido selecionados para o evento a promoverem algumas ações em nível local, eu procurei logo a minha Paróquia, que é a de Nossa Senhora da Candelária, no bairro de Candelária. Conversei com o padre Júlio César, que é o pároco e ele me aconselhou a levar a proposta para o Arcebispo, Dom Jaime, que me encaminhou para o setor social da Arquidiocese e começamos a planejar essas atividades. Realizamos um encontro de discussão em fevereiro e levei esses encaminhamentos para o evento maior. A Ordem: De que forma o papa propõe essa nova economia? Renato: O papa Francisco diz que a economia precisa ser reanimada e isso é até

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A ORDEM

ENTREVISTA

motivo de discussão nos grupos dos jovens brasileiros que participaram do evento. Depois, o papa também nos diz que a economia precisar ter nova alma. Reanimar é fazer a economia voltar a funcionar, voltar a crescer e ter nova alma é propor que a economia não cresça de qualquer jeito. E o papa nos propõe uma economia em que o crescimento seja para todos, não deixando ninguém de fora. E para isso, precisamos inovar, ver novas coisas, para que todos possam estar incluídos nessa nova economia. No evento, fomos divididos em 12 vilas, que contam com temas relacionados à economia mundial, para que possamos ter essas discussões, incluindo todas as áreas. A Ordem: Quais são os desafios para a concretização dessa economia proposta pelo papa? Renato: O maior desafio é sair da teoria para a prática. É como se fosse o primeiro passo. E isso envolve muito trabalho e muito esforço. Ao meu ver, o segundo desafio é promover o assunto. E esse não é um assunto que vai ser promovido naturalmente, até porque isso é visto, às vezes, como uma certa ameaça. O desafio consiste na promoção dessas ações e mostrar que é possível. A Ordem: Quais serão os desdobramentos desse movimento em nível arquidiocesano? Renato: Tivemos um primeiro encontro aqui em Natal no mês de fevereiro e agora, pós-evento, vamos nos reunir novamente e planejar as próximas ações. Eu tenho sempre batido nessa tecla, de iniciar com uma pequena ação, que a gente possa levar para a comunidade do evento, porque lá existe muita partilha do que está sendo vivenciado na realidade de cada um. Não tem outro caminho que não seja a atuação na comunidade.

O papa nos propõe uma economia em que o crescimento seja para todos, não deixando ninguém de fora” 8 DEZEMBRO DE 2020


ARTIGO A ORDEM

Dos Eleitos, ESPERA-SE O QUÊ?

Passadas as eleições, uma pergunta irrompe da realidade de cada município onde vive o ser humano concreto: o que se espera dos eleitos? Essa pergunta pode parecer sem sentido para alguns, mas transbordante de significados para outros. A estes, nos filiamos, pois dos eleitos esperamos que sejam fiéis às expectativas dos eleitores que confiaram nos seus programas de ação explicitados nos diálogos que tiveram durante o processo eleitoral, dentro das propostas apresentadas durante a campanha. Essa fidelidade se expressa principalmente no cumprimento do programa de governo - obras e ações - com o qual ele se comprometeu em implementar na sua cidade durante a campanha. Dos prefeitos, espera-se capacidades políticas e técnicas, e experiência administrativa acumuladas para dirigir o município; liderança política; bom conhecimento dos assuntos contemporâneos da cidade; equilíbrio no enfrentamento de conflitos e crises; postura de diálogo aliada à capacidade de decisão no tempo oportuno; paciência e disponibilidade para ouvir a população e os vereadores; tolerância quanto à diversidade de estilo das pessoas com quem trabalha; disposição para ter presença e vigilância contínuas no município; costume de trabalhar com planejamento e em equipe; ser capaz de escolher e cercar-se de pessoas com habilitação técnica adequada aos encargos da equipe de governo; coragem para dizer não, especialmente, para acabar com os cargos comissionados que acomodam apadrinhados e amigos do poder, preferindo o concurso público, se houver real necessidade, para contratar os mais qualificados e, assim, melhorar os serviços ofertados aos munícipes. Dos vereadores, o exercício legislativo de elaborar as leis e fiscalizar as atividades do poder executivo, fazendo da tribuna um espaço para discussão de ideias e projetos de interesse público, de promoção das políticas públicas básicas de saúde, educação, assistência social, saneamento básico, transporte coletivo, moradia popular, assistência técnica às famílias rurais, limpeza urbana, iluminação e comunicação pública; além da promoção do desenvolvimento econômico, do emprego e renda, do esporte, da cultura, do lazer, dos serviços funerários e de novas tarefas que os municípios possam assumir no tempo presente, inclusive, na segurança pública. De um bom prefeito ou vereador se espera as qualidades necessárias para uma vida política sadia, pautada na honestidade e urbanidade, no respeito ao próximo e nas boas práticas de governança no exercício do cargo público. Que a transparência nas atividades públicas seja a regra, e não mera formalidade, mas iluminadora dos gestos e atitudes no trato da coisa pública. Que suas decisões manifestem a separação completa entre os recursos públicos e os interesses da família, dos amigos, de empresas, do partido. Por fim, o que se espera de um bom prefeito é que esteja à altura deste tempo atual, impulsionando políticas de democracia participativa e de inclusão social em seu município e tendo abertura ao novo cenário que reclama por relações estribadas na pluralidade e diversidade de ideias, raça, cor, gênero e geração, sem deixar de ter as qualidades permanentes e essenciais de um administrador público que está lá para servir ao bem comum.

Diác. Francisco Teixeira Arquidiocese de Natal

De um bom prefeito ou vereador se espera as qualidades necessárias para uma vida política sadia, pautada na honestidade e urbanidade, no respeito ao próximo e nas boas práticas de governança no exercício do cargo público

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CAPA

ARQUIDIOCESE REALIZA 60ª

Assembleia Pastoral Reunir clero, religiosos e leigos, em assembleia pastoral, para avaliar e planejar ações. Uma iniciativa que começou em 1960 e acontece anualmente Por Cacilda Medeiros Cacilda Medeiros

Os 50 anos de assembleias pastorais foram celebrados em 2010

Nas décadas de 1950 e 1960, a Arquidiocese de Natal viveu uma efervescência de várias ações. Várias delas serviram de inspiração para outras dioceses; outras se tornaram ‘nacionais’, como a Campanha da Fraternidade e as Escolas Radiofônicas, que deram origem ao Movimento de Educação de Base (MEB). Esse conjunto de ações ficou conhecido como o Movimento de Natal. Neste mesmo período, a Igreja particular de Natal começou a trabalhar com planejamento de ações, através das assembleias pastorais. “Isso se deve muito às grandes ações evangelizadoras e pastorais do

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saudoso Dom Eugênio de Araújo Sales, que foi nosso bispo auxiliar e, depois, administrador apostólico”, destaca o Diácono Edmar Araújo, membro da Comissão Pastoral Arquidiocesana. O Diácono recorda que a década de 50 foi motivadora de muitas mudanças no mundo e na Igreja. Ele lembra, por exemplo, que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) foi fundada em outubro de 1952, com sede no Rio de Janeiro. “Naquele tempo, alguns bispos, entre eles Dom Hélder Câmara, percebiam que os bispos precisavam se organizar mais, em nível de Brasil. Dom


CAPA A ORDEM

Eugênio, por sinal, amigo de Dom Hélder, participou da primeira reunião da possível criação de um organismo dos bispos. E, realmente, a partir daí, foi criada a CNBB”, explica. Segundo o Diácono Edmar, pouco tempo depois de ter sido eleito Papa, em outubro de 1958, João XXIII, animou a CNBB a elaborar um plano de ação pastoral para a Igreja Católica no Brasil. “Nos primeiros anos, em nível nacional, era chamado de Plano Pastoral de Ação da Igreja no Brasil. Muito tempo depois, é que passou para Diretrizes Gerais para a Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil”, informa. Ele lembra que nessa mesma época, em 1960, Dom Eugênio implementou a ato de elaborar um plano pastoral, em nível arquidiocesano. As assembleias pastorais da Arquidiocese de Natal nasceram nesse contexto de mudanças e seguem até os dias atuais, sendo realizadas anualmente, seguindo as orientações das Diretrizes Gerais da CNBB. As Diretrizes, por sua vez, são formuladas durante a Assembleia Geral dos Bispos do Brasil, que acontece também uma vez por ano. A cada quatro anos, os bispos elaboram novas Diretrizes para a Ação Evangelizadora. Marco referencial No percorrer do tempo do planejamento pastoral, em nível local, pode-se destacar o Marco Referencial da Ação Pastoral da Arquidiocese de Natal para o qua-

driênio 2016-2019, aprovado pela 55ª Assembleia Arquidiocesana, elaborado com a participação de padres, diáconos, religiosos e leigos, sob a assessoria de Domenico Corcione, de Recife (PE), especialista em planejamento estratégico, a partir do método de SWOT (FOFA, em português) – Forças, Oportunidades, Fraquezas e Ameaças. O Marco Referencial estabeleceu sete metas e respectivas estratégias, construídas com base nos problemas-desafios constatados em uma visão diagnóstica, num processo coletivo, que envolveu paróquias, zonais e vicariatos. As metas estabelecidas foram: 1ª) formação missionária integrada, 2ª) setorização fortalecida, 3ª) Arquidiocese comprometida na luta pelo acesso e proposição de políticas públicas, 4ª) uso eficaz dos meios de comunicação em favor de um maior compromisso pastoral e evangelizador, 5ªa) Setor Família fortalecido, 5ªb) Setor Juventude fortalecido, 6ª) Estruturas pastorais da Arquidiocese mais descentralizadas e 7ª) Devoção aos Santos Mártires de Cunhaú e Uruaçu. Plano atual Em novembro de 2019, a Arquidiocese, através da 59ª Assembleia Pastoral, aprovou o Plano Quadrienal 2020 – 2023. Este plano foi elaborado tendo como base o Marco Referencial da Ação Pastoral da Arquidiocese de Natal 2016-2019 e as novas Diretrizes da Ação Evangelizado-

Cacilda Medeiros

Em 2019, a assembleia aprovou o plano quadrienal 2020-2023 DEZEMBRO DE 2020

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CAPA

Arquivo Arquidiocese

Participantes de uma das assembleias realizadas na década de 60

ra da Igreja no Brasil 2020-2023 (Documento 109, da CNBB). O Diácono Edmar assessorou a metodologia de elaboração do novo plano quadrienal, a partir de mini-assembleias paroquiais. “Usamos uma metodologia para transformar as sete metas previstas no Marco Referencial em apenas três, que contemplam a missão, a formação permanente e uma outra mais geral, que engloba a família, juventude e comunicação. Cada um dos três vicariatos – Urbano, Norte e Sul escolheu duas das três metas para priorizar durante o quadriênio”, explica. O primeiro ano do quadriênio não pode ser vivido pelas paróquias, zonais e vi-

cariatos conforme havia sido planejado, devido à pandemia do novo coronavírus. O fato é que 2020 foi um ano de desafios evangelizadores e pastorais para a Igreja. 60ª Assembleia Pastoral Desde o início do mês de novembro, a Arquidiocese de Natal vem se preparando para a 60ª Assembleia Pastoral, que será realizada de forma online, dia 18 de dezembro, das 8h30 às 17 horas. Para esse fim, já foi realizada uma reunião online com o Conselho Pastoral Arquidiocesano e, depois, outras reuniões da coordenação de pastoral. “Foi a partir das reflexões surgidas nessas reuniões e inspirados na assembleia do Regional Cacilda Medeiros

Ainda estamos vivendo a pandemia. Mas já é hora de pensarmos a Igreja para o período póspandêmico”

Diác. Edmar 12 DEZEMBRO DE 2020


CAPA A ORDEM

Nordeste 2, da CNBB, que aconteceu recentemente, de forma remota, que preparamos a nossa a assembleia, marcada para o dia 18 de dezembro”, afirma o Diácono Edmar. “Ainda estamos vivendo a pandemia. Mas já é hora de pensarmos a Igreja para o período pós-pandêmico”, acrescenta. Para essa assembleia, que será dirigida pelo arcebispo Dom Jaime Vieira Rocha, participarão os vigários episcopais, vigário judiciais, os coordenadores e articuladores de zonais, padres, diáconos permanentes, representantes dos religiosos e de comunidades de vida e memCacilda Medeiros

Nos primeiros anos, em nível nacional, era chamado de Plano Pastoral de Ação da Igreja no Brasil. Muito tempo depois, é que passou para Diretrizes Gerais para a Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil”

bros do Conselho Pastoral Arquidiocesano. De acordo com o Diácono Edmar, alguns momentos da assembleia, como a parte de espiritualidade e a palestra de abertura, assim como os encaminhamentos, no final, serão abertos para todas as pessoas que tiverem interesse em participar, transmitidos pelas páginas da Arquidiocese no Youtube e no Facebook, assim como pelas páginas das paróquias no Facebook. Haverá momentos também exclusivos para os convocados para a assembleia, que participarão online, através da plataforma Meet.

Participantes da assembleia realizada em 2009 DEZEMBRO DE 2020

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CAPA

É tempo de celebrar o Natal do Senhor Chegou dezembro, mês de luzes, de montar o presépio, de enfeitar casas e estabelecimentos comerciais, de celebrar o Natal do Senhor Jesus. Até temos a sensação de que um sentimento de alegria paira no ar. Na Igreja Católica, o tempo do advento ajuda os fiéis a se prepararem para a grande festa do nascimento do Salvador. Este é o assunto da sessão “Aprendendo com a Igreja”, nesta edição da revista A Ordem, a partir de perguntas enviadas por internautas para o perfil da Arquidiocese de Natal, no Instagram. As perguntas foram respondidas pelo seminarista Yago Carvalho, aluno do 4º ano de Teologia, do Seminário de São Pedro.

O que significa a Coroa do Advento? (João Pedro Dantas) A coroa do advento simboliza a espera, ou seja, um relógio que na medida em que se passam os domingos do advento as velas são acesas, intensificando-se e aproximando-se da grande luz que é Cristo, celebrando o seu nascimento. Por meio desse sinal, ofertamos a Deus louvores e glória pela encarnação do verbo. A luz do Deus menino deve brilhar em nossas vidas como brilhou para os pastores e guiou os magos até Belém. Por que a missa do Natal também é conhecida como missa do galo? (Maria Luiza Fernandes) Há várias explicações sobre este termo, todos eles descendem de tradições, costumeiramente da Igreja Latina. Como por exemplo, uma delas, de origem romana, conta que, naquele 24 de dezembro, foi a única vez que o galo cantou à meia-noite, antecipando o anúncio do nascimento de Jesus. O galo era considerado uma ave sagrada no antigo Império Romano. Passou a simbolizar vigilância, fidelidade e testemunho cristão. Tanto que, nas Igrejas mais antigas, há a figura da ave em seus campanários, ou seja, na Torre como é possível observarmos na Igreja do Galo aqui em Natal-RN.

As perguntas sobre assuntos diversos da Igreja podem ser enviadas para o e-mail pascom@arquidiocesedenatal. org.br ou para o whatsapp do Setor de Comunicação da Arquidiocese, no número (84) 99675-7772, informando sempre que é o “Aprendendo com a Igreja”, da revista A Ordem. 14 DEZEMBRO DE 2020


A ORDEM

Na liturgia, quando começa e quando termina o tempo do Natal? (Henrique Castro) O Tempo do Natal vai das primeiras vésperas do Natal do Senhor (24 de Dezembro) ao domingo, depois da Epifania ou ao domingo depois do dia 6 de janeiro, inclusive. É tempo de muita alegria, devemos celebrar em família e expressar a nossa na vida de comunidade, ou seja, na Igreja, no ambiente de trabalho, em todos os lugares. Onde houver um cristão ali deve haver a alegria do Cristo. A pessoa que participa da missa da véspera do Natal, está desobrigada a ir à missa do dia 25? (Ramon Nóbrega Duarte) Ir à missa nunca deve ser mera obrigação formal, mas sim, uma resposta de amor ao Deus que nos amou primeiro, pois a Celebração Eucarística é o memorial da presença do Senhor Ressuscitado na vida da comunidade. Quem participa da Santa Missa do dia 24/12 deve também participar da Santa Missa do dia 25/12 mesmo que de maneira remota. O que são as oitavas do Natal? (Éricles Oliveira) A Alegria de celebrar o Natal do Senhor é tão imensa que não comporta em um único dia; por isso são celebrados oito dias com o mesmo júbilo. Acontece entre os dias 25 de dezembro e 1º de janeiro, ou seja, oito dias em que se vive a exultação da Festa do Nascimento de Jesus. Segundo a tradição, a Oitava remete para o dia chamado ‘sem ocaso’, o dia sem fim. Se os dias temporais, ou seja, a semana histórica é marcada por sete dias, este oitavo dia seria o dia da eternidade, o dia da plenitude. Qual o sentido escatológico e cristológico do Natal? (Erik Glaydson) O sentido cristológico é a encarnação do verbo, segunda pessoa da Santíssima Trindade; Deus enviou seu Filho ao mundo na força do Santo Espirito para nos conceder a salvação; já o escatológico, podemos dizer que há duplo sentido: no primeiro, o cumprimento do Natal aconteceu há 2000 anos, quando Jesus nasceu na estrebaria em Belém. O segundo acontecerá quando Ele voltar e estabelecer o seu reino sobre toda a terra. O pensamento de Santo Atanásio (séc. III-IV) ilumina bem estes sentidos – “Deus se fez homem, a fim de que o homem se tornasse Deus” – Deus sempre se antecipa em vir ao nosso encontro, eis o sentido de celebrarmos o Natal.

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VIDA PASTORAL

Comunidade de Mãe Luiza É A MAIS NOVA PARÓQUIA DA ARQUIDIOCESE

Agora, são 17 paróquias no território da Arquidiocese de Natal dedicadas a Nossa Senhora da Conceição

Por Cacilda Medeiros, Eduardo Grunauer e Kenya Grunauer

Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição

O dia 23 de novembro foi de alegria e de festa para a comunidade católica de Mãe Luiza, na zona leste da capital. Neste dia, o arcebispo metropolitano instalou a Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, com sede na comunidade, e nomeou o primeiro pároco: Padre Robério Camilo da Silva. Até então, a comunidade era ligada à Pa16 DEZEMBRO DE 2020

róquia de Nossa Senhora de Lourdes, com sede em Areia Preta. Além da Igreja Matriz, a nova paróquia conta com a capela de Nossa Senhora Aparecida O trabalho evangelizador e social em Mãe Luiza começou a se tornar conhecido no início dos anos 80, com iniciativas do Padre Sabino Gentili, um sacerdote italiano, que residia na

comunidade e faleceu em 2006. No início da década de 80, ele criou o Centro Sócio-pastoral Nossa Senhora da Conceição, para desenvolver ações sociais em prol dos moradores da comunidade. O centro, que funciona até hoje, é situado no mesmo espaço onde também está a Igreja Matriz, na Rua João XXIII. No decorrer dos anos, por meio


VIDA PASTORAL

de parcerias e de benfeitores, inclusive de países europeus, como da Alemanha e da Suíça, foi possível desenvolver vários projetos, como a Escola Espaço Livre, Escola de Música, Escola Crescer, Espaço Solidário (que acolhe idosos), a Arena do Morro, entre outros. “A criação da Paróquia, em Mãe Luiza, é muito importante porque é a confirmação de todo o processo histórico de luta dessa comunidade”, disse o Padre Robério. Ele lembra que a história do bairro começou ainda na década de 40, com os migrantes que subiam o morro em busca de um lugar para morar, sem a mínima infraestrutura, e que a Igreja subiu junto, para ajudá-las. “Agora, o que muda com a elevação da capela de Nossa Senhora da Conceição à Igreja Matriz, à Paróquia? Melhora o ânimo do povo, porque o espírito missionário já está impregnado nas pessoas”, disse o primeiro pároco.

A ORDEM

Devoção à Mãe de Jesus Nossa Senhora da Conceição (ou Imaculada Conceição) é padroeira de 17 paróquias no território da Arquidiocese de Natal. Na capital e na grande Natal, ela é padroeira de Mãe Luíza, Loteamento Nova Aliança, Nova Parnamirim e Macaíba. No interior, é padroeira das paróquias de Canguaretama, Lagoa Salgada, Santo Antônio, Nova Cruz, Santa Maria, Serra Caiada, São Tomé, Lajes, São Rafael, Macau, Guamaré, Maxaranguape e Ceará-Mirim. Em todas elas, os primeiros dias de dezembro são marcados pela festa da padroeira, que culmina no dia 8. Neste ano, devido à pandemia, as celebrações contam com número reduzido de fiéis, de forma presencial. Mas os devotos podem acompanhar através das redes sociais de suas respectivas paróquias. José Rodrigues

Dom Jaime Vieira e Pe. Robério Camilo, na celebração de instalação da Paróquia, em 23 de novembro

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ARTIGO

A Esperança

EM TEMPOS DE PANDEMIA O mundo clama por uma resposta ao drama que o assola neste momento da história. A pandemia causada pelo Covid 19 é tida como o pior mal vivido pela humanidade, desde a II guerra mundial (1939-45). É importante que essa relação com outro referencial que trouxe tantos malefícios aos seres humanos seja feita, para que, assim como existiram sinais de esperança, em meio a tantos sofrimentos e destroços, também os visualizemos no nosso cotidiano. Podemos falar de tempos sombrios, assim como foram qualificados aqueles passados; outrossim temos que recordar dos grandes protagonistas da bondade e da compaixão, que fizeram a diferença com suas atitudes e que, por isso, corroboram a existência do bem nas névoas do mal. No fim da modernidade para o início da pós-modernidade, a esperança alçou voo em meio as intempéries e paradoxos das ações dos seres humanos. “Onde estava Deus?” quando determinados acontecimentos foram permitidos, assim provocou o então Papa Bento XVI, quando visitou o campo de concentração de Auschwitz. Mas, numa outra linha de pensamento, outro grande da teologia contemporânea, J. Batista Metz, questionou: “Onde estava o ser humano quando tudo aquilo aconteceu?” As inquietações destes dois podem ser tidas como os horizontes que foram vistos pelos “operadores da ciência” para a construção das novas realidades, a partir da interpretação dos fatos passados. O desenvolvimento da economia e da tecnologia assumirá a narrativa determinante neste novo mundo. Neste contexto de avanços materiais de um lado, onde a criatura quer assumir o lugar do criador, seja na perspectiva teológica, quanto na antropológica, surge o grito que urge pela Esperança. A inconsistência do que “está aí” no presente lança o laço para agarrar o que é sonhado do futuro. No campo teológico, uma obra que delineia esta época é a Teologia da Esperança, do teólogo Jürgen Moltmann. Esta, por sua vez, é uma abordagem que enseja colocar no seu lugar teológico o que também será intento do filósofo, E. Bloch, que tratará da esperança como princípio condicionado pela razão. A partir destas duas propostas, podemos inferir que a humanidade vive a necessidade da esperança. A questão que precisa ser posta é como a mesma é reconhecida, vivida e testemunhada nos momentos de crise. Estamos sendo interpelados diariamente a percebê-la. Uma reflexão que visa colocá-la no seu lugar teológico e sintetiza a sua relevância existencial para o cristão de hoje é a carta papa emérito, Bento XVI, a Spe Salvi. O Papa Francisco, nesta mesma linha, está a chamar a Humanidade a viver esta virtude. Inseridos neste turbilhão de incertezas, cada um de nós outros, somos evocados a celebrar esta esperança. Recordo-me bem que, em 2017, em audiência concedida pela sua Santidade, o Papa Francisco, ao colégio Pio Brasileiro, o mesmo nos exortava “a ser para o povo brasileiro sinais de esperança”. Cada um de nós, em cada estado de vida, seja cristão ou não, nas diferenças às quais cada um é submetido, como sujeito ou objeto, na cotidianidade entrelaçada de miséria com a misericórdia, tornou-se benfeitor da, ou agraciado pela esperança. Eu escrevo isto em causa própria; pois fui espectador da morte por alguns dias, vitimado pelo famigerado vírus. Graças aos profissionais da saúde e a fé, minha e a dos demais membros do povo de Deus, que tanto rezou por mim, posso hoje pontuar estas linhas. Enfim, a provocação que temos que nos fazer é: Que lições estamos a tirar e obteremos de tudo isso? Não podemos tratar a esperança como sinônimo de utopia. Ela é real e tem lugar próprio. Para os que vivem pela fé, ela tem por fonte o próprio Deus, Uno e Trino; para os que não têm fé, ela pode ser encontrada no imediato da vida e ter por causa o ser humano. Na coincidência dos opostos, posso testemunhá-la como companheira fiel a quem pude recorrer nos momentos mais difíceis da minha vida, transcorridos pouco tempo faz. Eu fui salvo pela esperança. Assim o seja! 18 DEZEMBRO DE 2020

Pe. Matias Soares Pároco da paróquia de Santo Afonso Maria de Ligório Natal/RN

Inseridos neste turbilhão de incertezas, cada um de nós outros, somos evocados a celebrar esta esperança


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A ORDEM

REPORTAGEM Arquivo pessoal

Cônego José Mário foi ordenado sacerdote no dia 08 de dezembro de 1970

PADRES COMEMORAM JUBILEU DE OURO DE

ordenação sacerdotal

Monsenhor Lucas Batista celebrou a data em setembro e o Cônego José Mário comemora neste mês de dezembro

O Monsenhor Lucas Batista Neto, capelão da Casa da Criança, em Morro Branco e o Cônego José Mário de Medeiros, postulador para a causa dos santos na Arquidiocese de Natal, seridoenses, de Caicó, comemoraram neste ano de 2020, jubileu de 50 anos de ordenação sacerdotal. O monsenhor Lucas celebrou a data em setembro e o cônego José Mário agora em dezembro, no dia 08. Os dois sacerdotes, que se conheceram ainda crianças, trilharam o caminho sacerdotal juntos e, hoje, trazem muitas lembranças e colhem os frutos dessa caminhada. Segundo o cônego José Mário, ele e o monsenhor Lucas eram acólitos na Catedral de Sant’Ana, em Caicó. “Eu e Monsenhor Lucas nos conhecemos ainda crianças, lá em Caicó. Eu tinha 9 anos e ele tinha 8. Éramos dois pirralhos, acólitos do monsenhor Walfredo, na Catedral de Sant’Ana, em Caicó. Entramos no seminário com meia hora de diferença um do outro. Embora tenhamos nos ordenado em cidades diferentes, eu em Caicó e monsenhor Lucas aqui em Natal, seguimos esse 20 DEZEMBRO DE 2020

caminho sacerdotal juntos”, conta. O religioso ainda recorda o que o motivou a seguir a vocação sacerdotal. “Uma tia e madrinha minha sofria de câncer na época e ela passou por muitas dificuldades diante da doença. Um padre foi até ela para que se confessasse. A alegria que a vi após o sacerdote sair me fez sentir chamado, porque se tinha um homem capaz de fazer alguém naquela condição se sentir melhor, eu queria ser aquele homem também”, recorda. O monsenhor Lucas se sentiu chamado após constantes idas à Igreja com o pai, o que fez com que se encantasse pela liturgia. “Cresci dentro desse ambiente e o seminário era perto da minha casa. Com isso, desejei estudar lá, sem saber o que era. Queria ficar ali. Em 1956, entrei e passei 15 anos”, diz. A ordenação A ordenação do monsenhor Lucas aconteceu no dia 26 de setembro de 1970, pelas mãos de Dom Nivaldo Monte, 2º Arcebispo de Natal, na Igreja de São Pedro, no bairro do


REPORTAGEM A ORDEM Arquivo pessoal

Monsenhor Lucas e o Cônego José Mário se conhecem desde a infância

Alecrim e o cônego José Mário, no dia 08 de dezembro de 1970, em Caicó. “Após a minha ordenação sacerdotal, assumi a função de vigário paroquial lá em Jardim de Piranhas. Lá, fiquei por 10 anos e em 1979, por um convite de Dom Costa, me mudei para Natal”, conta o cônego José Mário. Hoje, o sacerdote é o postulador da causa para os santos da Arquidiocese de Natal, além de pároco emérito da Paróquia do Bom Jesus das Dores, na Ribeira, bem como, capelão da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), função que exerce há 25 anos. Já o monsenhor Lucas, nesses 50 anos de vida sacerdotal, teve passagens pelas cidades de Macau, Pendências e Natal, onde desempenhou funções diversas na Igreja de Nossa Senhora da Apresentação (antiga Catedral), Igreja de Santa Teresinha (Tirol), Igreja de Santo Afonso Maria de Ligório (Mirassol) e atualmente exerce a função de capelão da Casa da Criança. Monsenhor Lucas também foi um dos entusiastas do ensino religioso e um dos precursores do Encontro de Casais com Cristo (ECC), no Rio Grande do Norte, que completou 40 anos em 2019. Ação de graças Nesses 50 anos de sacerdócio, tanto o monsenhor Lucas, quanto o cônego José Mário, tem muitos motivos para render graças diante dessa trajetória de vida sacerdotal. Fazendo uma autoanálise da sua caminhada, o cônego José Mário considera que seu maior legado é ter contribuído positivamente na vida de ex-alunos ou fiéis, por considerar que o que vale na vida são as pessoas. Dessa forma, para o sacerdote, devemos sempre nos questionar se “o nosso coração é povoado de gente”. E comple-

menta: “Tem duas coisas no mundo que gosto mesmo, que é ser padre e ser professor. Isso me faz feliz”, comemora. Entre os trabalhos que coordenou, os que mais orgulham o monsenhor Lucas são os de caráter social, com construção e recuperação de casas de pessoas em situação de vulnerabilidade social, auxílio a pessoas em situação de rua com a utilização da Igreja e a divulgação do Evangelho no rádio. Além disso, em visita a Natal, no ano de 1991, o então papa, hoje São João Paulo II, concedeu ao monsenhor, o título de capelão do papa, pelos trabalhos prestados durante a estadia do pontífice na capital potiguar. “Acharam por bem dar esse título a cinco padres. É um título que permanece. É uma experiência ótima, porque quando vamos a Roma, podemos pedir para ficar ao lado do papa para celebrar. Na época da canonização dos santos mártires, em 2017, estava lá e provei que era verdade mesmo”, relembrou. Pascom Mirassol

Atualmente, o monsenhor Lucas exerce a função de capelão da Casa da criança DEZEMBRO DE 2020

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PERSONALIDADE

Duas vidas DEDICADAS À IGREJA E AO POVO DE DEUS Redes sociais da Paróquia da Apresentação

Mons. Agnelo Barreto, pároco emérito da Paróquia de Nossa Senhora da Apresentação, na Cidade Alta

Nada mais justo do que, nesta edição, prestarmos homenagem a esses dois homens de Deus, presbíteros e verdadeiros pilares da evangelização e do trabalho de ação social da Arquidiocese de Natal – Monsenhores Agnelo Dantas Barretto e Armando de Paiva. Admiráveis são a sua dedicação, a entrega e o compromisso religioso e social para com as populações que atenderam, nas mais diversas realidades religiosas, socioeducativas e culturais do povo de Deus a eles confiado, na missão que abraçaram com a própria vida a serviço de Deus, configurado nos homens e mulheres dos lugares em que exerceram a sua missão. Nossa homenagem, portanto, ao Mons. Agnelo e ao Mons. Armando, como carinhosamente são chamados, pelos seus 65 anos de vida sacerdotal e de dedicação e compromisso com a Igreja e com o Povo de Deus. O Mons. Agnelo, nascido em Ceará-Mirim, desde os primeiros anos de vida foi educado na fé católica. Fez os primeiros anos de estudo no Colégio Santa Águeda. Depois, ingressou no Seminário de São Pedro, e, posteriormente, no Seminário maior de Fortaleza-CE, com o desejo de servir à Igreja de Cristo e ao povo de Deus. Após a ordenação, em 08 de dezembro de 1955, por Dom Eugênio de Araújo Sales, atuou em São José de Mipibu-RN. Nos primeiros anos de presbiterado, o Mons. Agnelo teve uma atuação peculiar, como capelão da Seleção Brasileira na conquista do bicampeonato mundial de futebol, no Chile, em 1962, conforme narra o historiador José Rodrigues da Silva Filho. Na ocasião, ele fazia um curso sobre Catequese, no Instituto Latino-Americano de Catequese, no Chile. Homem de bom gosto pelas “letras”, buscou aprimorar os estudos e isso o levou a lecionar nos cursos de Filosofia e Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Foi, porém, na Arquidiocese de Natal que o Mons. Agnelo demonstrou zelo e fidelidade à Igreja de Cristo. Foi pároco de Nossa Senhora da Apresentação, membro do Conselho de Administração, Consultor Arquidiocesano, Pró-Vigário Geral, Procurador da Mitra, Vigário Episcopal para o Clero, Vigário Geral, Administrador Apostólico no período da sede vacante e professor de várias turmas de seminaristas. O Título de Monsenhor lhe foi concedido pelo então Papa João Paulo II, hoje São João Paulo II. O Monsenhor Agnelo foi sempre fiel ao lema de vida que adotou – “Para dar testemunho da Luz”(Jo 1,7). 22 DEZEMBRO DE 2020


PERSONALIDADE A ORDEM

Redes sociais da Paróquia de Goianinha

Mons. Armando de Paiva, pároco emérito da Paróquia de Nossa Senhora dos Prazeres, em Goianinha

O Mons. Armando é outro ícone da história da Arquidiocese de Natal. Nascido na Capital, estudou nos grupos escolares Frei Miguelinho, Augusto Severo e parte no grupo de Lagoa de Pedras, em Santo Antônio-RN. Ingressou no Seminário de São Pedro em fevereiro de 1943 e depois cursou Filosofia e Teologia no Seminário Maior de Fortaleza-CE. Foi ordenado Presbítero no dia 08 de dezembro de 1955, também ordenado por Dom Eugênio de Araújo Sales. A vida laboral do Mons. Armando é repleta de profícuas obras religiosas e sociais, que deixaram um rastro ainda hoje visível por onde ele passou. Após substituir o pároco de Santa Terezinha, no Tirol, o Mons. Armando assumiu as paróquias de Nossa Senhora do Ó, de Nísia Floresta-RN, e de São João Batista, em Arez-RN. Preocupado com o bem-estar dos fiéis, dinamizou o trabalho social através dos centros sociais Isabel Gondin e Frederico Ozanan, já existentes, suprindo a ausência do Poder Público no campo da ação social. “Encontrei atuando em Nísia Floresta uma cooperativa de consumo, bem como a Missão Rural CNER (Campanha Nacional de Educação Rural), onde trabalhava o agrônomo, Dr. Evandro

Nobre, a Assistente Social Lurdinha e a Orientadora de Economia Doméstica Maria da Glória Paiva”, diz o Mons. Armando ao Seminarista Alexandro, que fez um trabalho sobre a sua atuação, nestes 65 anos de vida sacerdotal. Na paróquia de Nossa Senhora dos Prazeres, de Goianinha-RN, onde atuou por 28 como pároco, ele também deixou as marcas de sua ação no campo religioso e social. Nossas homenagens e nossos parabéns a esses dois homens de Deus que, fortalecidos com a Graça de Cristo no Sacramento da Ordem, doaram a vida pela Igreja e por muitas pessoas, conduzindo-as por caminhos luminosos que levam à salvação eterna. Que o bom Deus da vida os cumule de muitas bênçãos e graças, nestes tempos de comemoração dos 65 anos de vida sacerdotal. Deus os abençoe e guarde, sempre, Mons. Agnelo e Mons. Armando. Fontes: Biografia do Mons. Agnelo Barretto – José Rodrigues da Silva Filho, historiador; Em meio aos desafios, não desistiu de buscar aquilo que acreditava – Sem. Alexandro Lopes da Costa.

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EM AÇÃO

Projeto social do Shalom ATENDE MAIS VULNERÁVEIS DIANTE DA PANDEMIA

Fotos: Neymar Costa

“Shalom Amigo dos Pobres” surgiu desde junho e já atendeu mais de 10 mil pessoas em Natal

Em virtude da pandemia do novo coronavírus, no Brasil, diversas iniciativas vêm sendo realizadas para favorecer as pessoas que se encontram nas camadas mais vulneráveis da sociedade. Foi neste sentido que a Comunidade Católica Shalom, por meio de sua associação social, idealizou o projeto “Shalom Amigo dos Pobres” e, desde junho, vem atendendo a população que se encontra em situação de vulnerabilidade social. O projeto iniciou em Fortaleza (CE) e se expandiu para outras cidades do Brasil e Natal, capital do Rio Grande do Norte, foi uma delas. Até o momento, na capital potiguar, já foram beneficiadas mais de 10 mil pessoas por meio do projeto. O objetivo da iniciativa é levar apoio e acolhimento para as pessoas em situação de rua e para as famílias que estão sem situação de vulnerabilidade social na cidade. Por meio do projeto, a Comunidade Shalom acredita que podem se aproximar e socorrer as pessoas que vivem à margem, principalmente agora, diante da pandemia, em que muitas das chagas sociais ficaram mais em evidência. 24 DEZEMBRO DE 2020


EM AÇÃO A ORDEM

Atividades As atividades consistem na distribuição de refeições diárias para a população de rua e, para isso, a iniciativa conta com a colaboração de cerca de 180 voluntários. Além disso, os voluntários levam uma assistência espiritual e serviço de escuta, bem como, a entrega de produtos de cuidados básicos de higiene pessoal, para que possam auxiliar na proteção e sanitização diante da pandemia do novo coronavírus, já que, por essas pessoas estarem nas ruas, são mais suscetíveis à contaminação. Os voluntários também auxiliam no preparo das refeições e no que for mais necessário para o desenvolvimento das atividades. Para a manutenção do projeto, a Comunidade Shalom conta com doações, que possibilitam a ampliação do projeto para mais pessoas. São cerca de 500 refeições distribuídas diariamente e 300 cestas básicas entregues por mês. Pós-pandemia De acordo com a comunidade, a proposta é que, mesmo após o período de pandemia, o projeto possa continuar, em virtude das necessidades da população de rua, que são perenes. Segundo Jeovana Freitas, responsável pela assessoria de Promoção Humana do Shalom, a proposta é ampliar e formatar o serviço. “Uma novidade que surgiu durante a pandemia foi o SOS rua. Trata-se de um trabalho realizado nas praças e ruas de Fortaleza, em locais onde estão concentrados esses nossos irmãos de rua. Fazemos uma primeira abordagem, vamos conversando, criando vínculo de amizade e enviando para comunidades terapêuticas os casos relacionados à dependência química”, conta. Jeovana destaca que só neste período de atuação do “Shalom Amigo dos Pobres”, mais de 100 pessoas já foram encaminhadas para comunidades terapêuticas da comunidade, Obra Lumen e Fazenda da Esperança.

Serviço Quem desejar contribuir, seja na forma de doações de gêneros alimentícios ou como voluntário do projeto, pode entrar em contato por meio do Instagram @shalomamigodospobresnatal ou ligar para o número: (84) 99836-6991. Para conhecer mais sobre o projeto, basta acessar o site: http:// www.amigodospobres.org/ natal/.

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A ORDEM

VIVER

A PANDEMIA E A NECESSIDADE DE SE

(re)descobrir

Pessoas usam o desenvolvimento de novas habilidades como aliado no enfrentamento da pandemia Por Vitória Élida

Desde o início desse ano que a população mundial enfrenta uma crise sanitária causada pela chegada do novo coronavírus, causador da COVID-19. E como exigência dos Governos para o melhor enfrentamento dessa pandemia, as pessoas se viram tendo que permanecer dentro de suas casas. As escolas, igrejas, empresas, shoppings, entre tantos outros lugares, precisaram fechar as suas portas. As telas de computadores e celulares se tornaram as companhias das pessoas que precisaram se adaptar ao chamado home office e ensino remoto. Porém, com a permanência do vírus, e a medida profilática que orientava a população a ficar em casa, fez com que muitas pessoas buscassem estratégias para burlar, ou pelo menos diminuir, o estresse causado por todo o isolamento. Diante disso, muitas habilidades puderam emergir desse período de pandemia. E foi justamente a maior permanência em casa, e o aumento de acesso às mídias sociais, que fez com que diversas pessoas lançassem a si alguns desafios. Um deles foi o de aprender a cozinhar. Se antes da pandemia a cozinha não passava de mais um cômodo da casa, para muitas pessoas, o isolamento social promoveu uma aproximação com as panelas, fogão, e até aquele velho livro de receita abandonado na estante. Para alguns, o cozinhar se tornou uma ferramenta financeira, já que muitos perderam seus empregos nesse período. Porém, para outros, a cozinha foi o desafio da reinvenção, como forma de se distrair das pressões diárias, e desenvolver novas habilidades. Foi assim com a professora de Inglês, Eliude Tindô, que durante a pandemia resolveu se dedicar mais ao conhecimento da comida saudável, e assim, aprimorou as habilidades em cozinhar o que ela chama de “comida de verdade”. Durante esse período, ela decidiu diminuir ainda mais o uso de comidas industrializadas, e isso exigiu dela a desenvoltura em produzir alguns alimentos. “Eu resolvi optar por saber o que tinha em cada comida, então comecei a produzir meus próprios molhos, deixar 26 DEZEMBRO DE 2020


VIVER A ORDEM

meus alimentos mais naturais e menos processados”, disse. Para Eliude, a ideia de diminuir o máximo possível da necessidade de sair de casa para comprar alimentos, também se tornou um impulso nessa nova rotina. “Comecei a produzir meus próprios pães, bolos, biscoitos. E assim, também consegui evitar o tédio, a ansiedade, o estresse. Poder manter nosso cérebro focado em atingir metas é muito importante para manter a nossa sanidade mental”, completou. A artesã e costureira, Edilza Santos, também resolveu desenvolver outras habilidades além da costura e artesanato, se lançando na cozinha. “Durante a pandemia me vi muito ansiosa, preocupada, perdendo pessoas próximas. Como já sou de idade, na casa dos 70, essa pressão toda me deixava ainda mais nervosa. Então, comecei a assistir receitas pelo celular e testar em casa. Inclusive com uma delas consegui uma renda extra”, disse. Além disso, Edilza precisou responder a uma demanda da sociedade em enfrentamento de pandemia viral, e iniciou a confecção de diversos modelos de máscaras, antes nunca produzidas por ela. “Cada cliente trazia uma ideia nova, ou modelo que via em alguém, então precisei aprender mais, pois desenvolvia testes para produzir um produto mais seguro para os clientes”, concluiu. Já o jovem advogado, Pedro Marcelo, da cidade de Teresina/ Piauí, optou por aprimorar seu hábito de leitura, e resolveu sair da linha dos livros de Direito, aprendendo assim sobre outras áreas. “Resolvi focar em livros de Educação Financeira, livros sobre investimentos. Aprendi que na vida não podemos contar com algo que ainda não aconteceu, ou focar nosso tempo e energia em uma atividade profissional. Por isso, descobri que não posso depender só do que já trabalho, e por isso, nesse período foquei em novas habilidades. E a leitura me ajudou nisso”, afirmou. Para Pedro, outro ponto importante durante essa pandemia foi conhecer mais sobre a inteligência emocional, pois, segundo ele, nos ensina a saber se portar diante de momentos difíceis. Outras tantas habilidades ou focos foram desenvolvidos durante esse período de pandemia. Muitas pessoas se dedicaram mais a sua saúde, resolvendo realizar atividades físicas em casa. Pessoas que inclusive sempre foram inimigas de academia, conseguiram focar nos treinos, para assim tirar a atenção das inúmeras situações estressantes causadas pela COVID-19. Professores, profissionais acostumados a lidar com a rotina em sala de aula, também precisaram se redescobrir, se aliando às diversas ferramentas disponíveis na internet para assim conseguirem chegar até seus alunos. A pandemia foi gatilho na vida de muitos, promovendo a busca pela reinvenção, pelo redescobrir. Porém, ela também trouxe muitos aprendizados, como o de buscar a melhor forma de encarar situações difíceis. A vida é repleta de momentos desafiadores, mas a maneira como iremos enfrentar é que dita o como chegaremos ao final de tudo. O significado que damos aos desafios é o que nos leva a sofrer ou evoluir. E isso não é apenas uma necessidade, é também uma escolha.

Anjo da Caridade O anjo de Natal e um graça alcançada

José Rodrigues Historiador Desde a última alvorada do padre João Maria, muitos homens e mulheres suplicam a intercessão do padre para alcançar a cura de inúmeras aflições e principalmente de doenças. Este foi o caso de Dona Carmen Batista Gomes de Araújo, que esteve na sala da postulação para relatar uma graça alcançada. Dona Carmen, mulher muito devota, nos contou que quando tinha apenas 8 anos de idade, via muitas pessoas fumando e sentiu a curiosidade infantil de também fazer aquilo. Então, ela enrolou um pedaço de papel de embrulho em formato de um canudo grande, que acendeu, colocou na boca e sugou. Assim que ela puxou o ar, o fogo queimou gravemente sua boca. Essa ferida não sarava. Com uma cicatriz tão frágil, que ao comer algo quente ou receber sol no local, o machucado reabria. Por anos ela sofreu este incômodo. Sua família a levou a médicos, dermatologistas, mas nada solucionou o problema. Aos 17 anos, Dona Carmen se sentia muito incomodada, pois era uma mocinha com aquela cicatriz que, frequentemente, abria e a impedia das pequenas vaidades da adolescência, como por exemplo, usar batom. Em 1979, morava em uma cidade do interior e veio a Natal a passeio. Sua boca estava com a ferida novamente aberta e passando pela praça viu o busto do padre João Maria. Ela nos informou que, naquele momento, teve com o padre, uma conversa de amigos, e pediu para que a curasse daquela enfermidade. Dona Carmen afirmou que sua boca foi curada e, desde então, vive uma vida normal e a ferida não abriu mais. Contou também que, nesta época, não conhecia a história do padre João Maria e que a partir daquele dia, se transformaram em amigos, que a companhia do anjo de Natal é uma constante em sua vida e que sempre recorre a ele em seu dia a dia. Assim como Dona Carmen recorreu e teve sua graça alcançada e sua saúde renovada, nesse momento de angústia e aflição com a COVID-19, possamos pedir ao padre João Maria pela saúde de seu povo. Que o anjo da caridade interceda por nós!

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