Revista A Ordem - Março/2019

Page 1

| A ORDEM

Fundação Paz na Terra ano LXVII - Nº 35 Natal/RN | R$ 7,00 Março de 2019

Março de 2019 |1


A ORDEM |

2| Marรงo de 2019


| A ORDEM

Marรงo de 2019 |3


A ORDEM | Expediente

Sujeitos verdadeiramente políticos

A origem da palavra “política” é bem interessante. Vem do termo grego “politikós” que, por sua vez, refere-se à palavra “pólis”, lugar no qual os gregos tomavam decisões na busca pelo “bem comum” da população. Por isso, neste sentido, todo ser humano é, também, um ser essencialmente político enquanto se engaja nas lutas em busca de soluções para os problemas nas diversas áreas das atividades humanas. Neste ano, a Igreja Católica, através da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, lança o desafio a todos os cristãos e demais pessoas de boa vontade a exercer essa cidadania política através da Campanha da Fraternidade. O desafio é propor Políticas Públicas nas diversas áreas de nossas “polis”, entre as quais saúde, segurança pública, educação, assistência social, criança e adolescente, entre outras. O tema é abordado em uma das reportagens desta edição. Outra reportagem é sobre a festa de São José, esposo de Maria, e venerado pelos sertanejos. A festa de São José é celebrada no dia 19 de março, “data limite” para a “pegada do inverno” no sertão. “Se não chover no dia de São José, o ano é desmantelado”, dizem os sertanejos em relação ao início e término do período chuvoso, principalmente no interior do Estado. Leia, aproprie-se das informações e se engaje nas lutas. Seja verdadeiro sujeito político.

EXPEDIENTE

Revista mensal da Fundação Paz na Terra Endereço: Rua Açu, 335 – Tirol CEP: 59.020-110 – Natal/RN Fone: 3201-1689

CONSELHO CURADOR: Pe. Antônio Nunes Vital Bezerra de Oliveira Fernando Antônio Bezerra CONSELHO EDITORIAL: Pe. Rodrigo Paiva Luiza Gualberto Josineide Oliveira Cione Cruz André Kinal Idalécio Rego Luiz Gustavo Milton Dantas Rivaldo Jr EDIÇÃO E REDAÇÃO: Luiza Gualberto (DRT-RN 1752) Cacilda Medeiros (DRT-RN 1248) REVISÃO: Milton Dantas (LP 3.501/RN)

4| Março de 2019

08

ENTREVISTA

18

EM AÇÃO

22

PARÓQUIAS

36

REPORTAGEM

Divaneide Batista: o protagonismo social da mulher

Memorial da Capoeira atende mais de cem crianças e adolescentes

Nesta edição, você vai conhecer as comunidades paroquiais de Nossa Senhora da Conceição, em Guamaré e São Sebastião, no Alecrim Campanha da Fraternidade aborda políticas públicas

CAPA: Luana Tayze COLABORADORES: José Bezerra (DRT-RN 1210) Adriano Cruz (DRT-RN 1184) Cione Cruz Rede de Comunicadores da Arquidiocese de Natal DIAGRAMAÇÃO: Akathistos Comunicação (84) 9 9948-4140

COMERCIAL: RN Editora Idalécio Rêgo (84) 98889-4001 IMPRESSÃO: Gráfica Sul – (84) 3211-2360 TIRAGEM: 1.000 exemplares

ASSINATURAS: Com as coordenações paroquiais da Pastoral da Comunicação ou na redação da revista, no Centro Pastoral Pio X – Av. Floriano Peixoto, 674 – Tirol – Natal/RN (84) 3615-2800 assinante@arquidiocesedenatal.org.br www.arquidiocesedenatal.org.br


| A ORDEM

Marรงo de 2019 |5


A ORDEM | Palavra da Igreja

Melhorar a qualidade da liturgia O Papa Francisco dirigiu um discurso aos participantes da plenária da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, dia 14 de fevereiro. Dirigindo-se aos cerca de 80 participantes do encontro, o Santo Padre enalteceu o trabalho da Congregação, mas enfatizou que é preciso trabalhar para que o povo de Deus redescubra a beleza de encontrar o Senhor na celebração de seus mistérios. Ele lembrou que para melhorar a qualidade da liturgia, é preciso mudar o coração, evitar cair em estéreis polarizações ideológicas e cultivar a formação permanente do clero e dos leigos. O tema central da Plenária foi “a formação litúrgica do povo de Deus”. “Falar da formação litúrgica do Povo de Deus significa antes de tudo tomar consciência do papel insubstituível que a liturgia desempenha na Igreja e para a Igreja. E pode ajudar concretamente o povo de Deus a interiorizar melhor a oração da Igreja, a amá-la como experiência de encontro com o Senhor e com os irmãos e, diante disso, redescobrir nela o conteúdo e observar seus ritos”, afirmou o Pontífice. E acrescentou: “a formação litúrgica não pode limitar-se simplesmente em oferecer conhecimentos - isso é errado -, mesmo necessários, sobre os

livros litúrgicos, e tampouco tutelar o cumprimento das disciplinas rituais”. Francisco enfatizou que para que a liturgia possa cumprir sua função formativa e transformadora, é necessário que os pastores e leigos sejam introduzidos a compreender dela o significado e a linguagem simbólica, incluindo a arte, o canto e a música a serviço do mistério celebrado. A formação permanente do clero e dos leigos, especialmente aqueles envolvidos nos ministérios ao serviço da liturgia, foi outro aspecto destacado pelo Santo Padre em seu pronunciamento: “as responsabilidades educativas são compartilhadas, mesmo que cada diocese esteja mais envolvida na fase operativa. A reflexão de vocês vai ajudar o Dicastério a amadurecer linhas e diretrizes para oferecer, no espírito de serviço, a quem - Conferências Episcopais, dioceses, institutos de formação, revistas - tem a responsabilidade de cuidar e acompanhar a formação litúrgica do Povo de Deus”. O Papa encerrou o pronunciamento lembrando que todos – clérigos e leigos – a aprofundar e reavivar a formação litúrgica. O pronunciamento do Santo Padre, na íntegra, está disponível no site do Vaticano, no endereço: http://w2.vatican.va

Franscico Papa

“É necessário que os pastores e leigos sejam introduzidos a compreender dela (liturgia) o significado e a linguagem simbólica, incluindo a arte, o canto e a música a serviço do mistério celebrado”

UMA VIAGEM DA ALMA EM DIREÇÃO A DEUS. Castelo interior ou moradas Santa Teresa de Jesus

272 páginas

Um castelo dividido em moradas é a bela metáfora de Santa Teresa de Jesus para descrever a jornada da alma em direção a Deus. Conheça já este clássico da espiritualidade cristã!

6| Março de 2019

DISPONÍVEL TAMBÉM EM VERSÃO E-BOOK ADQUIRA NA PAULUS LIVRARIA DE NATAL/RN Rua Coronel Cascudo, 333 – Cidade Alta Tel.: (84) 3211.7514 | WhatsApp: (84) 99900.0246 natal@paulus.com.br

@editorapaulus

A nossa palavra é comunicação! paulus.com.br


A Voz do Pastor | A ORDEM

Dom Jaime Vieira Rocha Arcebispo Metropolitano de Natal

Quaresma: chamados à conversão para o amor

Queridos irmãos e irmãs! Chegou o Tempo da Quaresma. Tempo de reflexão, de penitência, de oração, de sacrifício. É um tempo de preparação para a grande celebração da Páscoa do Senhor, centro do Ano Litúrgico. Serão 40 dias em que toda a Igreja ouvirá o clamor do Senhor: “Convertei-vos”. Como essa exortação é atual e premente. A conversão se torna necessária como reposta aos grandes e graves problemas de nossa Igreja. Certamente, converter-se é um ato de coragem. Mas, durante a Quaresma, esse será o grande grito da Igreja para todos nós. De fato, a conversão pessoal, tão exigida para que aconteça a conversão pastoral, pois assim sempre se dá o processo – não há conversão de estruturas, se não há conversão dos corações –, é o instrumento mais próprio para sairmos de qualquer crise que abata a Igreja. Ela proporciona uma renovação da vida de todos os batizados: bispos, presbíteros, diáconos, religiosos e religiosas e leigos e leigas. Somente uma verdadeira conversão nos colocará à altura das necessárias e urgentes respostas ao clamor dos homens e das mulheres, especialmente dos que sofrem injustiças. É preciso reconhecer: no caminho da vida de fé, sempre necessitamos de conversão. Peca e se perde quem se reconhece fora dessa necessidade. Já no Ano da Misericórdia, Papa Francisco nos exortava: “Antes de tudo, Deus perdoa sempre! Não se cansa de perdoar. Somos nós que nos cansamos de pedir perdão” (FRANCISCO. Homilia cotidiana de 23 de janeiro de 2015). Triste de nós, se adotássemos esse comportamento. Seríamos “men-

tirosos”, conforme nos diz São João Evangelista, se disséssemos que não temos pecado. Mas, eis o que é o ponto de partida: todos somos pecadores e necessitados de misericórdia. E a Igreja é chamada a testemunhar que a misericórdia não tem limites. Pois “Deus, rico em misericórdia, pelo imenso amor com que nos amou, quando ainda estávamos mortos por causa dos nossos pecados, deu-nos a vida com Cristo” (Ef 2,4s). “Vida com Cristo”, esse é o resultado da ação misericordiosa de Deus. Somos chamados a viver essa vida, com as exigências que ela comporta, sim, mas sobretudo, com a liberdade e a beleza de seguir um caminho novo, libertador, que traz um estilo de vida coerente com o próprio ser de Deus: para nós, seguidores do Filho de Deus, o caminho é o da imitação de Cristo. Não em uma abstrata relação de “toma-lá-dá-cá”, não através de um esquema árido de “medo-castigo”, mas por meio do sentido do amor, apresentado por São João: “Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece Deus. Quem não ama, não chegou a conhecer Deus, pois Deus é amor” (Jo 4,7s). A Quaresma seja, portanto, um tempo para reconhecermos que o caminho da salvação passa pelo amor. Amor a Deus e amor ao próximo. Sabemos, esse caminho é resposta ao ato de Deus de vir ao nosso encontro: só é possível amar a Deus e ao próximo, porque Deus nos ama primeiro. Procuremos viver esse tempo na confiança e na esperança de que a nossa conversão irá transformar o mundo em que vivemos, levando ao testemunho de respeito, de solidariedade, de compaixão e de amor pelos nossos semelhantes, pela casa comum e por toda a obra de Deus.

Março de 2019 |7


A ORDEM | Entrevista

Conquistas e desafios da mulher na sociedade

Divaneide Basílio, 40 anos, casada, três filhos, socióloga, doutoranda em Ciências Sociais, pela UFRN, assumiu um mandato de vereadora, pelo Partido dos Trabalhadores, na Câmara Municipal de Natal, no início deste ano. Ela conta que o interesse pela política foi despertado através seu engajamento pastoral. Na Igreja, mais precisamente na Paróquia de Santa Maria Mãe, no Conjunto Santa Catarina, zona norte de Natal, Divaneide iniciou o engajamento na catequese. Depois, em grupos de jovens e foi catequista. Ela conta que, aos 14 anos, conheceu a Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP) e a Pastoral Operária. Nessa época, através das palestras do Padre Sabino Gentilli, começou a entender o sentido da fé e da política. Posteriormente, foi secretária arquidiocesana e articuladora da PJMP. Divaneide trabalhou na Frente de Alfabetização Popular (FAP), da Arquidiocese de Natal, entre 1998 e 2000. Como você vê o protagonismo da mulher, hoje, na sociedade? Divaneide: O protagonismo da mulher, hoje, é um fato e uma necessidade. Parte da sociedade já compreende que as mulheres precisam decidir sobre as questões que lhe dizem respeito. Dito assim, parece simples, mas não é, pois existe uma parcela da população muito resistente a essa perspectiva. Isso

8| Março de 2019

nos obriga a lutar diariamente para sermos ouvidas e consideradas. Quais as principais conquistas das mulheres, hoje? Divaneide: Como disse anteriormente, existem avanços. No Brasil, fomos capazes de eleger uma mulher Presidente da República, somos a maioria nas universidades, estamos presentes na chefia de

grandes empresas nacionais e multinacionais, ocupamos cargos no legislativo, judiciário e outros espaços de poder. Contudo, os avanços não ocorreram de maneira uniforme. Ainda persistem os casos de violência doméstica; as estatísticas de feminicídios só crescem, a descrença na capacidade profissional e intelectual das mulheres é uma face triste da nossa realidade cultural.


Entrevista | A ORDEM Fotos: Rivaldo Jr.

Marรงo de 2019 |9


A ORDEM |Entrevista No geral, no campo social, quais são as principais dificuldades encontradas pelas mulheres? Divaneide: A luta contra o machismo é um traço cruel na vida das mulheres. Apesar do debate sobre o feminismo e os direitos das mulheres estar mais difundido, ainda há muita hostilidade e opiniões equivocadas sobre esse tema. Muita gente não aceita - ou não entende - que o feminismo é, essencialmente, a luta por direitos iguais para mulheres e homens. Há uma urgência em discutir o feminismo de maneira didática e plural. A falta de políticas pensadas para os diversos tipos de mulheres é outra grande barreira, principalmente quando é preciso fazer os recortes de classe, raça, orientação sexual que permeiam essa temática. Como você percebe o papel da mulher na política? Divaneide: Fundamental. A revolução política que esse país precisa é feminina e feminista. É a partir da ótica das mulheres que vamos encontrar saídas para a crise econômica mundial e brasileira, para a miséria extrema que assola a vida da população mais pobre, para a violência que extermina nos-

sa juventude negra, para as questões de saúde, de educação entre outros problemas. Digo isso não apenas de forma retórica. Os caminhos que precisam ser traçados para resolver essa e outras questões passam, necessariamente, pela superação do atual entendimento que rege as relações culturais e sociais das pessoas quem têm como base uma lógica machista, capitalista e individualista. A mulher tem conquistado um espaço consolidado nesse segmento? Divaneide: Eu diria que sim e que não. Penso que consolidamos um espaço importante, quando falamos da política construída nos coletivos, nos movimentos de mulheres e nos movimentos sociais. Chegamos em um nível de organização que reforça, reivindica e exige o protagonismo das mulheres nos espaços de luta e de poder, e, dificilmente, iremos voltar atrás nisso. Contudo, ainda precisamos conviver, o tempo todo, com discursos que tentam deslegitimar nosso papel, “dizendo que política não é muito coisa de mulher”. Em 2019, somos menos de 10% das representantes nas casas legislativas do país e só temos uma chefe de Executivo estadual mulher,

que é a governadora Fátima Bezerra, do PT-RN. Essa sub-representação torna o debate e a implementação de políticas públicas para as mulheres um enorme desafio. Um exemplo disso é a Reforma da Previdência que está por vir e que penaliza principalmente nós, mulheres. Você está assumindo uma vaga na Câmara Municipal de Natal. Quais são seus principais planos para desenvolver nessa função? Divaneide: No discurso de posse, trouxe minha história de lutas, minha militância na Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP), minha trajetória no Partido dos Trabalhadores (PT). Disse também que a Câmara de Vereadoras/es agora terá cor, gênero, classe; que, pela primeira vez, teremos uma vereadora que se afirma e reivindica a negritude como instrumento político. Ressaltei que não chego à Câmara sozinha; que trago comigo as mulheres, a juventude, o movimento LGBTs, negro, as pessoas com deficiência, os protetores de animais e outros grupos. Mas entendo também que, além das questões identitárias, temos que tratar de pautas que afetam diretamente a vida e a dinâmica da população de Natal como o debate sobre a revisão do Plano Diretor, a temática dos moradores das áreas de risco, a licitação dos transportes, a regulamentação dos camelôs e dos trabalhadores/ as do comércio ambulante. Vamos construir um mandato popular e participativo, com base no diálogo e na escuta, para que a gente possa dizer que a cidade também é nossa. Qual a sua mensagem para as mulheres, leitoras da revista A Ordem, para que saibam lutar por um espaço digno na sociedade? Divaneide: Muito do que aprendi sobre fé, justiça social, amor ao próximo, aprendi na Pastoral da Juventude do Meio Popular. Essa organização me ajudou a estruturar meu entendimento de que construção de um mundo melhor passa, necessariamente, pelo acolhimento das diferenças, pela luta pela igualdade de condições e direitos e pelo exercício de amor ao próximo.

10| Março de 2019


| A ORDEM

LANÇAMENTOS PAULINAS

Cód. 532622

Cód. 532088

O desenvolvimento moral dos adolescentes

Transgressão, conformismo e valores em uma idade inquieta Anna Rita Grazian e Augusto Palmonari

R$ 32,50

Discernimento vocacional

Estratégias, subjetividades e itinerários Márcio Costa

Cód. 532410

R$ 12,80

Os jovens, a fé e o discernimento vocacional

Doc. 49 Documento final: carta aos jovens Sínodo dos Bispos

Cód. 532371

Cód. 532673

Preços válidos até 31/3/2019 ou enquanto durarem nossos estoques.

que falam ao coração dos

R$ 10,80

Coração inquieto

Zaps a Lucílio, Tibúrcio e Eugênia Pe. Cleiton Viana da Silva

R$ 23,90 Vossos filhos e vossas filhas profetizarão Pe. Zezinho, scj

R$ 31,90 Rua João Pessoa, 220 – Natal-RN – Tel. (84) 3212-2184 livnatal@paulinas.com.br | www.paulinas.com.br

Março de 2019 |11


A ORDEM | Reportagem

Fé: São José representa esperança do agricultor nas chuvas Pascom Angicos

Festa de São José atrai milhares de fiéis, todos os anos

12| Março de 2019


Reportagem | A ORDEM Por Luiza Gualberto Sinônimo de fé e esperança para o povo sertanejo, a festa de São José carrega um significado especial. É que, segundo a tradição, caso chova no dia 19 de março, é sinal de que o ano será de muita chuva, garantindo a safra e a mesa farta. Em Angicos, essa devoção já é vivida desde o início do século XIX. Segundo o livro “Paróquias potiguares: uma história”, de autoria do padre Normando Pignataro (in memoriam), no início do Rivaldo Jr

Pe. Jailton Soares, pároco da Paróquia de São José, em Angicos

século XIX, o tenente Antônio Lopes Viegas, fundador do município, fez a doação de terras e gado para a construção de uma capela dedicada a São José. De lá pra cá, a devoção se difundiu entre a população e, principalmente, os agricultores. Todos os anos, a festa atrai milhares de pessoas que fazem promessas e pedidos ao santo. Francisco das Chagas de Macedo (Chaguinha), agente de pastoral na Paróquia de Angicos, natural de Santana do Matos é filho de agricultores. Ele conta que o pai iniciou a devoção e foi seguida por toda a família. “Lembro que a gente saia do sítio, em Santana e vinha para a missa, todos os anos. E a gente trazia sempre a intenção de pedir por chuvas. Até hoje, mesmo morando há 42 anos aqui em Angicos, tenho essa tradição de participar da missa solene do dia 19 de pés descalços. Essa devoção eu levei também para minha família. São José é tudo em nossas vidas. Temos muita confiança na intercessão dele”, conta. Francisca Carmita de Assis, 89 anos, também mantém forte a devoção a São José. Ela foi criada em um sítio próximo a Angicos e diz que sua família sempre foi devota do santo. “Meu pai era agricultor e iniciou a devoção em nossa família. A gente vinha todos os anos a pé para a missa. Lembro que nem sempre a gente ficava para a procissão, porque o nível do rio subia muito e a gente não conseguia voltar pra casa. Teve um ano que foi de muita seca e calor. Fui com minha mãe à casa da minha avó e no caminho eu ia pedindo a São José que mandasse chuva, porque estava muito quente e o sol muito forte. Antes de chegar lá, paramos na casa de uma senhora. Nessa casa, tinha uma imagem de Nossa Senhora da Conceição. Peguei a imagem e escondi em uma sacola que minha mãe transportava. No caminho, falei com minha mãe que tinha pego a santa, porque queria mostrar a Nossa Senhora como estava quente e o quanto a gente estava sofrendo pela falta da chuva. Minha mãe me repreendeu, mas conseguiu avisar à senhora que a gente iria devolver a imagem. Quando estávamos voltando pra casa, caiu uma chuva muito forte. Encheu todos os reservatórios que a

Março de 2019 |13


A ORDEM | Reportagem Rivaldo Jr

mo abaixo da média, 2019 já vem se configurando ano mais chuvoso no estado, desde o início da seca. Isso é o que revela a Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (Emparn). Segundo o instituto, o ano começou com a presença do fenômeno El Niño fraco no oceano pacífico e com tendência de apresentar uma diminuição intensa nos próximos meses. Esse comportamento, de acordo com pesquisadores, é favorável à ocorrência de chuvas na região nordeste do Brasil para o período de fevereiro a maio. Além disso, a zona de convergência intertropical, principal sistema meteorológico que provoca chuva no sertão nordestino, já está atuando em conjunto com o vórtice ciclônico. Esse ano, a zona de convergência começou a atuar com antecedência. Somente em janeiro, a Emparn registrou chuvas acima da média em todas as regiões potiguares.

Elizabete Silva alcançou graças pela intercessão de São José gente tinha no sítio e como agradecimento, preparamos fitas amarelas, bandeirinhas e fogos de artifício”, conta. Aos 22 anos, Carmita se mudou para Angicos após casar e ter filhos. A devoção, plantada ainda na infância no seio de sua família, espalhou-se, atingindo o marido e os filhos. “Aos domingos, era tradição irmos à missa. Meu marido sempre dizia que se a gente não fosse à missa, a semana não valia a pena. Nossa família sempre teve forte essa devoção a São José”, frisa. Ao chegar na casa de Carmita, a recepção na porta de entrada é uma bandeira com a imagem do santo dos festejos do ano passado. EXPECTATIVA DE CHUVAS O Rio Grande do Norte viveu sete anos de intensa seca, o que gerou o desabastecimento de muitos mananciais, levando vários municípios ao colapso de águas, gerando perdas nas produções agrícolas. Muitas cidades tiveram que decretar estado de calamidade, em virtude da seca. Mes-

14| Março de 2019

FESTA DE SÃO JOSÉ Em Angicos, a festa de São José já é celebrada há muitos anos, mas veio se modificando ao longo do tempo. Valdi de Paula, agente de pastoral, conta que a forma como a programação acontecia modificou. “Nos anos 70, na época de Dom Tavares, toda a programação era desenvolvida pela manhã, no dia 19 de março, para favorecer uma melhor participação dos agricultores. Naquela época, os rios transbordavam e dificultava o acesso. Era comum chover sempre à tarde; então, como os agricultores vinham a pé, tudo era realizado de manhã. Muitas vezes, eles voltavam pra casa já com os rios enchendo. Anos mais tarde, a festa se modificou, porque veio a urbanização, com os meios de transporte mais evoluídos, o que favoreceu uma melhor participação dos devotos”, diz. Segundo o padre Jailton Soares, pároco da Paróquia de São José, em Angicos, a devoção ao santo vem crescendo, demonstrando várias expressões de fé. “São José é um santo amado e querido. Além dessa associação do santo com a esperança de um bom inverno, ele traz para nós vários exemplos. Ele é o santo da família, do silêncio e da virtude. Destaco o trabalho dos papas na propagação dessa devoção. Por exemplo, o papa Pio IX proclamou São José como patrono universal da Igreja. São João XXIII incluiu o nome de São José no


Reportagem | A ORDEM rito da missa. Enfim, muitos outros também contribuíram para a propagação da devoção. O que percebemos é um enriquecimento da devoção”, explica. O sacerdote ainda reforça que São José é um santo atual. “Hoje, a gente vive no mundo do barulho e do individualismo. São José, com sua simplicidade, vem nos mostrar o silêncio, o acolhimento, o exemplo de paternidade e o ser família”, reforça. Todos os anos, milhares de fiéis participam dos festejos e demonstram a fé ao padroeiro. Elizabete Silva, 94 anos, mora em Angicos há mais de 50 anos. Natural de Santana do Matos, ela conta que sempre pedia a intercessão de São José. Quando casou, pediu a São José que conseguisse comprar um sítio em Angicos para poder residir com sua família. Se alcançasse a graça, iria para a missa solene do dia 19 de março com toda a família. “Graças a Deus e a intercessão de São José, consegui comprar o sítio. Vim morar com minha família aqui e como agradecimento, fomos todos participar da missa de São José. E, assim, faço todos os anos. No mês de março só uso amarelo, que é a cor do santo e participo das celebrações com muita fé e devoção”, conta. A devoção de Elizabete está traduzida também em algumas poesias de sua autoria, que estão impressas no livro “Os versos que eu recitei”, coletânea com versos escritos pela autora, lançada em 2008. Como acontece todos os anos, a programação festiva, em Angicos, segue com o tradicional novenário, todas Rivaldo Jr

Devoção de Chaguinha surgiu ainda na infância

Rivaldo Jr

Francisca Carmita, devota as noites, com a presença de padres convidados. O ponto alto dos festejos acontece no dia 19 de março, com a tradicional missa solene, às 09h e a procissão, na parte da tarde, atraindo fiéis de toda a região, devotos de São José. O PADROEIRO São José é um dos santos mais populares no mundo. É o protetor da Igreja Católica e padroeiro dos trabalhadores e das famílias. A história sagrada apresenta José como sendo um homem humilde, justo e, de profissão, carpinteiro. Em 1621, Gregório XV declarou de preceito a festa litúrgica deste dia. São José tem o título mais alto que um homem pode ter, o de pai adotivo de Jesus. É o protetor da Igreja Católica e padroeiro dos trabalhadores e das famílias. O calendário litúrgico dedica duas comemorações festivas a este grande Santo: no dia 19 de março (em muitos países este é o dia dos pais) e no dia primeiro de maio, dia do trabalhador. São José foi escolhido como modelo de todos os trabalhadores. São José foi escolhido também como Padroeiro das Vocações e sua espiritualidade deu origem a inúmeras Congregações religiosas, masculinas e femininas, que atuam no mundo, seguindo seu estilo e carisma. O Papa Francisco inseriu o nome de São José na liturgia eucarística, sendo invocado diariamente na missa, após a Consagração. Fonte: Rede Século XXI

Março de 2019 |15


A ORDEM | Artigo

O uso das águas e a dignidade humana: a necessidade de economizar Os maiores desafios para a gestão e o gerenciamento da água no contexto do uso, está na compreensão sobre as bacias hidrográficas que certamente constituem um espectro de grandes e diversificados desafios, que certamente e nos dias atuais, as demandas e a oferta de água nelas também está inserida pela interdependência com suas localizações. Por ser uma área onde as águas correm para um determinado curso de água e também vêm de muitos outros, e que em sua maioria são rios, a gestão em uma bacia hidrográfica é por sua natureza, complexa. Tal complexidade decorre da própria formação particular da localização, mas também de seus usuários, que devem reconhecer que está sempre dependente de quem já usou as águas e que dele dependerá outros. A bacia hidrográfica também é afetada, quando as atividades inseridas na área mudam a natureza de sua constituição, ou seja, são implantados sistemas que podem impactar positiva ou negativamente os sistemas de drenagem e na quantidade de água existente. O mau uso e a modificação do sistema de drenagem hídrica afetam fortemente o bem-estar de toda a população que daquela água depende, e, por conseguinte, promovem mais desordenamento socioambiental, diminuindo ou até mes-

16| Março de 2019

mo impedindo a execução de práticas e ações de sustentabilidade. Nesse contexto, pode-se fazer inclusive uma afirmativa onde se constata que, quando não há economia no uso da água, torna-se insustentável explorar usos maiores em relação à capacidade de oferta de água existente em uma bacia hidrográfica. É preciso avaliar e atender aos princípios da capacidade de suporte para atender à demanda planejada, principalmente porque da água dependerá a dignidade humana da sociedade, por ser um recurso vital à vida, aspecto prioritário, mas também o desenvolvimento regional do espaço que se insere. Ainda é preciso esclarecer que, para uma gestão adequada da bacia hidrográfica, é integrar todos os sistemas que interagem com aquele local onde as águas estão inseridas, pois se a gestão e o gerenciamento dos recursos hídricos forem implementados de forma isolada, não conseguirão possibilitar a proteção e conservação no uso das águas. Portanto, unir os sistemas ambientais, urbanos e de recursos hídricos é condição essencial para a segurança hídrica, e, por conseguinte, para a manutenção sustentável da água, e, neste caso, insere-se os processos de educação contextualizada para a economia no uso das águas armazenadas nos reservatórios hídricos, essencial para compartilhar os direitos e deveres dos usuários.

Josivan Cardoso Gestor Ambiental Mestre em Engenharia Sanitária e Ambiental

“Quando não há economia no uso da água, torna-se insustentável explorar usos maiores em relação à capacidade de oferta de água existente em uma bacia hidrográfica.”


Reportagem | A ORDEM

Sinodalidade Eclesial Há uma percepção mundial na atualidade da fragmentação das construções identitárias. Temos crise ecológica, econômica, cultural e institucional. Fusões continentais foram construídas para facilitar o livre comércio, o fortalecimento na conjuntura global e a locomoção das pessoas além fronteiras. É tempo de mundialização de possibilidades. Mas também, das incertezas que essas podem portar. A Igreja está vivendo essas inquietações institucionais desta nova ordem sistêmica. Por isso, a urgência de ser fortalecida a sua atuação teórica e prática em meio aos novos sinais, de uma época com suas características individualistas, relativistas e pós-modernas. Na sua história, a Igreja sempre teve a necessária preocupação de fazer a experiência da sinodalidade, ou seja, “caminhar juntos” (Cf. Alves de Lima, Luiz, in Dicionário do Conc. Vat. II, pág. 909-913). Como um dos frutos do Concílio Vaticano II, que depois foi assumido pelo Papa Paulo VI, através do motu próprio Apostolica Sollicitudo, o Sínodo dos Bispos será das grandes manifestações do modus operandis da Igreja pós-conciliar. Segundo Alves, “a sinodalidade é uma característica da Igreja: ela é uma reunião de pessoas que, tendo Jesus como guia, procuram caminhar juntas; já conforme o Antigo Testamento, ela é uma assembleia convocada por Deus (kahal, ekklesia). Estar juntos, em comunhão (koinonia), sempre foi uma das características da Igreja” (Idem).

O Papa Francisco ensina e assume que a sinodalidade deve ser o rosto da Igreja para este momento da história. Segundo o Pontífice, “o caminho da sinodalidade é precisamente o caminho que Deus espera da Igreja do terceiro milênio” (Discurso, 17/10/2015). O Concílio Vaticano II proclama que ‘a totalidade dos fiéis que receberam a unção do Santo (cf. 1 Jo 2, 20.27), não pode enganar-se na fé; e esta sua propriedade peculiar manifesta-se por meio do sentir sobrenatural da fé do Povo todo, quando este, desde os bispos até ao último dos leigos fiéis, manifesta consenso universal em matéria de fé e costumes’. Aquele famoso infalível ‘in credendo’: não pode enganar-se na fé (Idem). A colegialidade episcopal é sinal da sinodalidade eclesial que, por sua vez, é mais abrangente. Os meios assumidos pelas Igrejas Particulares, com suas paróquias e demais realidades eclesiais serão os Conselhos Representativos de fiéis, que compõem uma comunidade eclesial, a saber: o pastoral e o administrativo. Outros instrumentos de participação e organização da vida eclesial sempre serão sinais genuínos e autênticos da imprescindível consciência de que a vida cristã, que é de todos, graças ao batismo, deve ser pensada e assumida por todos, que fazem parte do mesmo Povo de Deus, mesmo considerando a dimensão hierárquica da Igreja, com sua missão de garantia da unidade e do serviço, dos e aos demais membros da comunidade eclesial. Assim o seja!

Pe. Matias Soares Pároco da paróquia de Santo Afonso - Mirassol

Outros instrumentos de participação e organização da vida eclesial sempre serão sinais genuínos e autênticos da imprescindível consciência de que a vida cristã, que é de todos, graças ao batismo, deve ser pensada e assumida por todos, que fazem parte do mesmo Povo de Deus

Março de 2019 |17


A ORDEM | Em ação Fotos: Rivaldo Jr

Sede do Memorial, no bairro de Cidade Nova

Memorial da Capoeira atende a mais de cem crianças e adolescentes Um espaço onde crianças, adolescentes e jovens aprendem capoeira e onde o visitante pode fazer um passeio pela história do Brasil, em especial pela época da escravidão dos negros. Assim é o Memorial da Capoeira, onde também funciona a Escola de Capoeira Cordão de Ouro, idealizados pelo pedagogo Nivaldo Freire da Silva, conhecido como ‘Mestre Arrepio’. O espaço fica situado na Avenida Solange Nunes do Nascimento, no bairro de Cidade Nova, zona oeste de Natal. “A capoeira é uma representação cultural que teve origem no Brasil e não na África, como muitas pessoas imaginam”, explica Nivaldo. No início, a Escola não tinha espaço físico para funcionar. Nivaldo reunia os alunos em uma calçada, escola pública e até nas dunas de Cidade Nova. Depois de muita luta e persistência, conseguiu que a Câmara de Vereadores aprovasse seu pedido para a doação de um terreno público, onde foi construído o prédio para a Escola de Capoeira. Toda a construção foi feita com doações da própria comunidade. 18| Março de 2019

Atualmente, cerca de 120 crianças, adolescentes e jovens, de Cidade Nova e de bairros vizinhos, frequentam, gratuitamente, as aulas. Para ter direito a participar das aulas de capoeira, os alunos precisam comprovar que estão frequentando regularmente uma escola pública. “Nosso objetivo não é só ensinar a luta, mas é fazer com que nossos alunos cheguem à Universidade”, diz o Mestre. No próximo mês de abril, será aberta uma nova turma para crianças com faixa etária entre os 3 e os 6 anos. A manutenção do Memorial e da Escola é feita com doações de admiradores da capoeira, com projetos aprovados pela lei Djalma Maranhão, com apresentações de um grupo de alunos, aluguel do espaço para eventos e de diárias de um pequeno hostel. A Escola Cordão de Ouro funciona, diariamente, das 7h às 21 horas. Grupos ou escolas que desejam conhecer o Memorial da Capoeira, devem agendar a visita, através do telefone (84) 98741-1877.


| A ORDEM PAIXÃO PELA CAPOEIRA E PELA EDUCAÇÃO Nivaldo Freire da Silva, conhecido como Mestre Arrepio, nasceu no município de João Câmara, em 1976. Ele conta que o pai era um ‘escravo branco’, que trabalhava em uma fazenda, onde só tinha direito à alimentação e à moradia. Para tentar um futuro melhor para os filhos, a família se mudou para Natal, quando Nivaldo ainda era criança. Na capital, no bairro de Cidade Nova, enfrentaram muitas dificuldades financeiras. Certa vez, ele ouviu o pai, que estava desempregado, dizer para a mãe que queria voltar para a fazenda, em João Câmara, porque lá, pelo menos, tinham comida e onde morar. “Aos nove anos de idade, tive a iniciativa de dizer para meu pai que se o problema era financeiro, eu iria ajudar. Subi em um coqueiro, tirei bastante coco, consegui umas garrafas, vendi e com o dinheiro comprei açúcar. Minha mãe fez cocadas e eu saía com minha irmã para vender em um campo de futebol do bairro,” conta. Ele queria continuar na capital para poder estudar. Um dia, enquanto vendia as cocadas no campo, Nivaldo conheceu um engenheiro civil, que ao escutar sua história de vida, decidiu dar emprego ao pai dele. Outro dia, brincando nas dunas de Cidade Nova, ouviu o som do berimbau, até então desconhecido para ele. Curioso, pediu para aprender os “saltos” da capoeira. Logo se apaixonou pela luta e passou a frequentar grupos de capoeira. “Em 1996, aos 20 anos de idade, eu

Mestre Arrepio: paixão pela capoeira olhei para passado, lembrei dos meus amigos de infância e que muitos estavam envolvidos com as drogas, com o crime. Lembrei que o que me livrou desse caminho foi a capoeira”, relata. Foi aí que Nivaldo criou a Escola de Capoeira Cordão de Ouro e, em 2015, inaugurou o Memorial da Capoeira, como trabalho de conclusão do curso de pedagogia.

Crianças, adolescentes e jovens participam das aulas Março de 2019 |19


A ORDEM |

20| Marรงo de 2019


| A ORDEM

Marรงo de 2019 |21


A ORDEM |Paróquias

Rivaldo Jr

São Sebastião: 70 anos de história

Igreja Matriz de São Sebastião Até 20 de janeiro de 1949, a então capela de São Sebastião pertencia à Paróquia de São Pedro Apóstolo, no Alecrim, em Natal. Nesta data, foi criada a Paróquia de São Sebastião, também no bairro do Alecrim, por Dom Marcolino Dantas. “Era uma

22| Março de 2019

capela, situada em uma comunidade de pessoas muito simples, no bairro do Alecrim, assistida pelos missionários da Sagrada Família”, conta o atual pároco, Padre José Freitas Campos. Ele é auxiliado pelo vigário paroquial, Padre Ronaldo Gomes de

Sousa, FSA. No início, a Paróquia era composta por cinco comunidades: Baixa da Beleza (onde ficava a Matriz), Regomoleiro, Igapó e as Quintas. “Naquela época, nessas comuni-


Paróquias | A ORDEM dades existiam fazendas e que não eram muito habitadas”, comenta Padre Campos. Hoje, o território paroquial compreende parte dos bairros do Alecrim e de Dix-sept Rosado. No decorrer destas sete décadas, duas paróquias foram desmembradas da São Sebastião: a de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, nas Quintas, e a de Nossa Senhora da Esperança, na Cidade da Esperança. Ambas estão comemorando 50 anos de criação. PADRE CAMPOS: 26 ANOS DE PAROQUIATO Nos primeiros anos de funcionamento, os padres Missionários da Sagrada Família administravam a Paróquia de São Sebastião. O primeiro pároco foi o Padre Luiz Klur (MSF). Em 1991, o pastoreio foi entregue aos jesuítas espanhóis: Pe. Mariano Marques Saforteza, como pároco, e Pe. Agustin Calatayud, como vigário paroquial. Em 10 de janeiro de 1993, a função de pároco foi entregue ao Cedida

Pe. Ronaldo Gomes, vigário

Padre José Freitas Campos. “De lá de vermelho ou branco. “O branco para cá é uma longa caminhada e representa a paz e o vermelho representa o sangue do Mártir, testemumuita coisa mudou”, diz. nha de Cristo’, esclarece o padre. UMA IGREJA EM SAÍDA Padre Campos destaca que, atualmente, a paróquia é toda setorizada. Cacilda Medeiros “Em 2018, em preparação aos 70 anos, realizamos as santas missões populares, com a participação de padres redentoristas. Essa ação ajudou muito a reforçar os setores”, lembra. Desde 2002, a Paróquia realiza, mensalmente, sempre no dia 20, a ‘missão vinte’. “A Comissão Missionária Paroquial é responsável por organizar, para cada dia 20, a infraestrutura para se celebrar em uma rua do bairro. A programação consiste em meia hora de animação missionária, concluindo com a celebração da missa, sempre com uma boa participação de fiéis. Podemos dizer que nos antecipamos ao apelo do Papa Francisco: uma Igreja em saída”, enfatiza o pároco. Além disso, sempre no dia 20, na Igreja Matriz, às 6 horas, há recitação do Ofício de Nossa Senhora e missa, como parte da proPe. José Freitas Campos, pároco gramação da ‘missão vinte’. Outra ação que merece destaque é a Escola da Fé. Trata-se de um espaço de formação permanente so- Endereço: bre os documentos da Igreja para Rua Cel. Estevão, 1499, Alecrim os agentes pastorais, com aulas uma 59035-000 – Natal (RN) vez por semana, às segundas-feiras. Tel.: (84) 3615-2874 E-mail:psaosebastiao@outlook.com DEVOÇÃO AO PADROEIRO A festa de São Sebastião é celebrada no mês de janeiro, concluindo no dia 20. Em 2019, foram 13 dias de festa. Tradicionalmente, a procissão de encerramento arrasta milhares de fiéis às ruas do Alecrim, vestidas

Horários de missa (Matriz) . Terça a sábado: 19h . Domingo: 8h, 16h30 e 19h30 Saiba mais www.facebook.com/psaosebastiaonatal

Março de 2019 |23


A ORDEM | Paróquias

Paróquia de Guamaré: uma devoção bicentenária

Pascom Guamaré

Igreja matriz Guamaré é uma cidade localizada na região salineira com aproximadamente 15 mil habitantes, distante 172Km de Natal. A cidade guarda consigo uma tradição de fé bicentenária, materializada no que hoje é a Igreja Santuário da Imaculada Conceição. O título foi dado pelo povo, que tinha forte devoção a Nossa Senhora. A história popular conta que uma

24| Março de 2019

embarcação portuguesa naufragava na região e a tripulação invocou o auxílio da Virgem da Conceição. Os tripulantes foram salvos e prometeram construir uma Igreja dedicada a Nossa Senhora no primeiro local onde a embarcação atracasse. A iniciativa da construção da capela foi do português João Francisco dos Santos, que morava em Caiçara do Norte e era comerciante. O pri-

meiro capelão da Igreja foi o padre José Beraldo, enviado da matriz de São João Batista do Açu. A capela também recebeu alguns presentes portugueses, entre eles, imagens barrocas e jóias de valor, datadas do século XVIII. As imagens eram de São Francisco Xavier, Nossa Senhora das Dores e Imaculada Conceição. Esta última, trazia traços da época, talhadas em madeira portuguesa,


Paróquias| A ORDEM banhada a ouro e com o manto pintado artisticamente. Contam os mais antigos que, na busca de um local para a construção da capela, os portugueses encontraram em um terreno, uma Imagem de Nossa Senhora da Conceição, medindo 15 cm e esculpida em marfim, que estava encoberta por uma espécie de lodo. Eles levaram a imagem para a comunidade do Mangue Seco, onde habitavam. Ao retornarem ao terreno, a imagem havia voltado misteriosamente ao mesmo local onde a tinham encontrado, fazendo com que acreditassem ser um milagre. A imagem é o marco da fé do povo de Guamaré, que a guarda como relíquia, só expondo-a nos dias de festa. Lá, erPascom Guamaré

Imagem de Nossa Senhora da Conceição, em marfim

gueram a capela com pedras do mar, onde permanece, até os dias atuais.

Rivaldo Jr.

ELEVAÇÃO À PARÓQUIA A fé e devoção da comunidade cresceu e se desenvolveu em 236 anos de história. A Igreja Santuário da Imaculada Conceição foi tombada como patrimônio histórico e cultural do Rio Grande do Norte em 2001 e, desde então, é acompanhada pela Fundação José Augusto. A comunidade foi elevada à Paróquia no dia 27 de abril de 2015, pelo arcebispo de Natal, Dom Jaime Vieira Rocha e tem como administrador paroquial, o padre Gilvan Bezerra. A Igreja Santuário fica na ponta do rio Miassaba e a Igreja matriz um pouco mais distante. Ambas dedicadas a Nossa Senhora da Conceição. Como a Igrejinha era um templo antigo e tombado, não se podia mexer nas estruturas físicas, porém, para se tornar Paróquia, a comunidade necessitava de um templo maior para acolher os fiéis e devotos. Então, se reformou uma antiga capela dedicada a Nossa Senhora dos Navegantes, passando a se chamar matriz de Nossa Senhora da Conceição. VIDA PASTORAL O padre Gilvan conta que a Paróquia conta com diversos grupos de pastorais, movimentos e serviços, mantendo as características do início da religiosidade popular em Guamaré. Neste ano, a Paróquia vive mais um momento importante com a setorização paroquial. “Na assembleia pastoral que tivemos esse, definimos como meta dos nossos trabalhos pastorais, a setorização da Paróquia, que vai facilitar um melhor atendimento às comunidades, como nos pede o Marco referencial da nossa Arquidiocese”, conta.

Pe. Gilvan Bezerra, administrador paroquial Endereço: Rua Luiz de Souza Miranda, 104 – Centro – Guamaré/RN Facebook: facebook.com/paroquiadeguamare Horários de missa (matriz) Sextas, às 19h30 Domingos – 07h30/19h30

Março de 2019 |25


A ORDEM | Reportagem

A Campanha deste ano tem como tema: “Fraternidade e Políticas Públicas” e como lema: “Serás libertado pelo direito e pela justiça” (Is 1, 27)

26| Março de 2019


Reportagem | A ORDEM

CF 2019 aborda Políticas Públicas Por Cacilda Medeiros Estimular a participação em políticas públicas, à luz da Palavra de Deus e da Doutrina Social da Igreja para fortalecer a cidadania e o bem comum. Este é o objetivo principal da Campanha da Fraternidade (CF) 2019. “Falar de’ políticas públicas’ não é falar de ‘política’ ou de ‘eleições’, mas significa se referir a um conjunto de ações a serem implementadas pelos gestores públicos, com vistas a promover o bem comum, na perspectiva dos mais pobres da sociedade”, explica o Texto Base da CF. Políticas Públicas, segundo o texto, são “ações e programas desenvolvidos pelo Estado para garantir e colocar em prática direitos que são previstos na Constituição Federal e em outras leis”.

A CAMPANHA NA ARQUIDIOCESE DE NATAL O período forte de vivência da Campanha da Fraternidade é na Quaresma. Mas, tendo em vista a relevância do tema, de acordo com o coordenador arquidiocesano, Padre Robério Camilo da Silva, a Campanha, deste ano, deve ser lembrada sempre. “Desde o início deste ano, a gente vem se preparando para viver a Campanha da Fraternidade. Já tivemos formação com as equipes de multiplicadores, em todos os vicariatos da Arquidiocese. A intenção é que as equipes sejam multiplicadoras do tema nos zonais, paróquias e grupos”, diz o Padre Robério. Em âmbito nacional, a abertura oficial da CF acontecerá no dia 6 de março, quarta-feira de cinzas. Na Arquidiocese de Natal, a abertura se dará nos vicariatos. No Norte, a abertura acontecerá no dia 9 de março, às 15h, na Paróquia de Nossa Senhora do Rosário, no Alto do Rodrigues, para o 5º e 6º Zonal; e no dia 10, também às 15h, para o 7º e 14º Zonal, na Paróquia do Bom Jesus dos Navegantes, em Touros. No Vicariato Episcopal Sul, a abertura acontecerá no dia 10, a partir das 14h30, com caminhada saindo da comunidade de Piquiri para o Santuário Chama de Amor, em Cunhaú, no município de Canguaretama. E, para as paróquias do Vicariato Episcopal Urbano, também será no domingo, 10. A partir das 14 horas, será realizada uma caminhada, par-

tindo da Igreja de São Tiago Menor, no Conjunto Santarém, com destino ao centro pastoral da Paróquia de São João Bosco, no Gramoré, onde será celebrada missa. A cada ano, a Igreja prevê um gesto concreto para a Campanha da Fraternidade. “Para a Arquidiocese de Natal, nós desejamos que os conselhos paritários de políticas públicas, como saúde, educação e social, nos municípios, sejam fortalecidos,” explica o coordenador de Campanhas. “Precisamos criar espaços de participação e a redefinição de participação da comunidade, para fiscalizar a execução das políticas públicas. Além disso, necessitamos fortalecer a fraternidade, como o Papa Francisco tem orientado”, destaca. Padre Robério destaca, ainda, o desejo da coordenação arquidiocesana de que cada Vicariato e cada paróquia tenha uma equipe fixa para trabalhar as campanhas da Igreja. Também como gesto concreto, será realizada a coleta da solidariedade, em todas as paróquias do Brasil, no dia 14 de abril, domingo de ramos. Do valor arrecadado pela coleta, 60% será destinado ao fundo diocesano e 40% ao fundo nacional de solidariedade. Luiza Gualberto

Pe. Robério, coordenador arquidiocesano de Campanhas

Março de 2019 |27


A ORDEM | Personalidade

Dodora do Porto: catequista dos muitos anos

Por Dom Jaime Vieira Rocha Arcebispo de Natal

Como uma pessoa de aparência tão frágil guarda tanta força, resistência e esperança? Certamente todos que conheceram Maria das Dores Barbosa intuem a resposta. Dodora do Porto, como era carinhosamente chamada, nasceu nos tempos de escassez no distrito de Porto do Carão, município de Pendências-RN, mas se negou ao destino da miséria e à prisão dos limites do território distrital. Foi ter-se com os próprios sonhos e deles fez matéria prima para o viver. Alimentou os desejos da infância com as poucas lições do seu lugar e, com determinação, valeu-se da riqueza da fé para suprir as carências da vida e ganhar o mundo. Investiu-se de uma catequese encarnada e deu notícia do jovem de Nazaré aos homens e mulheres seden-

28| Março de 2019

tos de coragem e esperança. Por toda a vida buscou a sabedoria manifesta no estudo das letras e na delicadeza do espírito. Pela sabedoria das letras, enfrentou os perigos das estradas, ora caminhando léguas a pé, ora nas carrocerias de caminhões. Perseguiu o conhecimento acadêmico e tornou-se professora de crianças, jovens e adultos munida da convicção freiriana de que “a educação modela a alma e recria o coração. Ela é a alavanca das mudanças sociais” (FREIRE, 1988). E foi assim, no intuito de alavancar as mudanças sociais, que Dodora bem soube unir a missão de professora às exigências de líder comunitária. O trabalho comunitário forjado na militância dos movimentos de escoteiros e bandeirantes foi fortalecido pelos ensinamentos da Teologia da Libertação em conjugação com a “Pedagogia do Oprimido”. Inclinou-se ao trabalho com os pobres e desvalidos na alfabetização de adultos no Mobral, no MEB ou das crianças na LBA, ou ainda na Educação Básica. Sempre se fez presente nas lutas, dores e conquistas do povo da várzea do Assu mantendo-se em sintonia com o SAR (Serviço de Assistência Rural). Impulsionada por um ideário libertário, esteve sempre atenta às transformações ocorridas na região, na década de 1990, ocasionadas pela vinda da PETROBRAS, pela construção da barragem Armando Ribeiro Gonçalves e pelo sonho da chegada da Barrilha. Tais transformações, ao mesmo tempo em que anunciaram o progresso, também desencadearam mudanças nos valores e, por vezes, ataques ao ecossistema e aos Direitos Humanos. Sem abandonar a delicadeza do espírito, pôs-se em defesa dos valores e do patrimônio das tradições do povo pendenciense. Fez-se guardiã da memória conservando viva a identidade de agente de pastoral comprometida com a evangelização libertadora. Por toda a vida expressou seu amor à Igreja e seu testemunho de catequista continuará influenciando novas gerações.


Juventude

Saúde | A ORDEM

PÂNCREAS: Qual é sua função e como mantê-lo saudável? Pe. Andreson Madson do Nascimento

Por Márcia Roque Braz nutricionista

Coord. arquidiocesano do Setor Juventude

“Seus olhos abriram-se” Dando continuidade aos artigos relativos ao Documento final do Sínodo dos Bispos para a Juventude, vamos refletir sobre a segunda parte, especificamente nos capítulos I e II. Já sabemos que o Documento usa como fundamentação bíblica a passagem dos “Discípulos de Emaús”. Na reflexão passada, víamos quanto tempo Cristo Ressuscitado caminhou com os dois discípulos, acompanhando seus passos, ouvindo seus relatos pelo fato da paixão e morte. Agora, a passagem mostra o abrir os olhos dos discípulos, quando o reconheceram, o que nos relata Lucas, em seu evangelho, no capítulo 24. O sinal da partilha é o suficiente para abrir os olhos dos que estavam como que cegos por não perceberem o Mestre. Neste sentido, temos a certeza de que a partilha é sinal visível de Cristo, que como Deus se fez jovem. E como é bom termos a certeza de pertencermos a família de Cristo, o Deus Jovem entre os jovens! Quando a juventude se sente próxima deste Deus Jovem, sabe que pode contar com sua constante presença, auxílio e amor. E é notório que, quando nos sentimos amados, queremos partilhar e falar de quem nos ama a tantos outros, para que estes também possam fazer parte desta alegria. Existe, portanto, este apelo: que a família possa ser cada vez mais local de encontro, de descoberta do amor de Deus, para que, sendo assim, tantos e mais jovens possam ver em cada pai e mãe, irmão e irmã, o rosto claro e cristalino do amor de Deus em suas vidas.

O pâncreas é responsável pela produção de hormônios essenciais para o equilíbrio da glicose na corrente sanguínea e de enzimas importantes que fazem parte do processo de digestão e absorção de gorduras, proteínas e carboidratos dos alimentos. Localizado na parte superior do abdômen, atrás do estômago, o pâncreas é fundamental para manter as funções do seu corpo em pleno funcionamento. A insulina, um dos hormônios liberados pelo órgão, absorve o excesso de açúcar na corrente sanguínea. Já o glucagon, outro hormônio também produzido pelo pâncreas, tem a função contrária e aumenta a glicose no sangue. A combinação de insulina e glucagon é fundamental, pois mantém o nível ideal de açúcar no sangue. Os sucos digestivos e enzimas produzidas pelo pâncreas quebram em pedaços menores as proteínas, os açúcares e as gorduras, facilitando a absorção pelo intestino. Além disso, ele também é responsável pelo fluxo de bicarbonato de sódio para o duodeno, o que faz com que a acidez do estômago seja neutralizada e evite danos ao intestino. Danos ao órgão podem causar doenças como diabetes, fibrose cística, insuficiência pancreática, pancreatites, carcinoma e tumores. Estudos desenvolvidos pela organização britânica de pesquisas sobre câncer, revelaram que cerca de 40% dos casos de câncer de pâncreas, doença com alta taxa de mortalidade, poderiam ser evitados com mudanças no estilo de vida, como a manutenção do peso ideal e o abandono do cigarro. No caso da pancreatite, inflamação do órgão que pode ser aguda ou crônica, a maioria das ocorrências está ligada ao consumo de álcool. Deixar esses hábitos errados de lado e melhorar a sua alimentação são atitudes indispensáveis para contribuir para o bem-estar do órgão. Moderar o consumo de açúcares e carboidratos, e aumentar a ingestão de vegetais e fibras na sua dieta também são atitudes extremamente recomendáveis. Outro aliado da queima de gordura são os exercícios físicos. Seja por meio de caminhadas ou atividades de musculação, se exercitar ao menos 30 minutos por dia certamente deve estar entre os principais hábitos de prevenção. Março de 2019 |29


A ORDEM | Vida pastoral Luiza Gualberto

30| Marรงo de 2019


Vida pastoral | A ORDEM

Resistentes à modernidade, grupos se adaptam aos novos tempos

P

Cione Cruz

recursora dos movimentos pastorais, as irmandades da Igreja Católica, cuja origem é portuguesa, chegou ao Brasil entre os séculos XVII e XIX, e hoje resistem à modernidade, adaptando-se aos novos tempos. Surgindo a partir de devoções católicas, as irmandades, responsáveis também pela organização de festas religiosas, desenvolvem atividades sociais, filantrópicas, assim como exercícios espirituais e devocionais. Em Natal, a Arquidiocese conta com atuação expressiva de duas irmandades: a do Santíssimo Sacramento e do Bom Jesus dos Passos. Aqui, elas começaram a ser constituídas entre 1700 e 1800, cada uma com sua vertente, porém todas regidas por um estatuto próprio; “são sempre institucionais”, afirmou Flávio Guedes, provedor (presidente) da Irmandade Bom Jesus e tesoureiro da Irmandade do Santíssimo. Todas têm a sua mesa administrativa, que corresponde ao Provedor, Vice-provedor, primeiro e segundo secretários, primeiro e segundo tesoureiros, orador oficial, bibliotecário e membros do Conselho Fiscal. Na igreja de Natal elas reúnem em torno de 40 a 50 devotos. “Noventa e nove por cento (99%) das pessoas que participam dessas irmandades estão na terceira idade”, segundo Flávio Guedes. Mas há um trabalho dos coordenadores para atrair um maior número de pessoas, inclusive de jovens, destacou. A sua composição inclui pessoas de todos os bairros da cidade. As irmandades são responsáveis pelos grandes eventos religiosos da

Catedral Metropolitana e da Igreja Matriz (antiga Catedral de Natal), como a Procissão do Encontro e a Paixão de Cristo, na Semana Santa, mas ainda são convidadas a participarem das festas religiosas de outras comunidades. “Hoje em dia, com o advento de tantos eventos, o maior ainda é a Procissão do Encontro, que eles continuam organizando”, afirmou Flávio. Ele afirma que o trabalho continua o mesmo, mas reconhece a necessidade de se “abrir para os novos tempos, para fazer o trabalho acontecer”. SANTÍSSISMO A Irmandade do Santíssimo representa o próprio Jesus Cristo na terra. É muito importante, pois representa a Paixão de Cristo, a dor, o sofrimento. “Antigamente, a sociedade estava voltada para a dor, o sofrimento”, disse Flávio Guedes. Essa Irmandade está à frente das cerimônias da Semana Santa e também faz um trabalho social. No Cemitério do Alecrim, a irmandade dispõe de uma quantidade de túmulos para seus membros e as famílias que não tem condições de comprar um túmulo para seus mortos. Em Natal era constituída como paróquia Irmandade do Santíssimo, chegando aqui ao final de 1700 (mais precisamente entre 1779 e 1798). Essa irmandade assumiu as festas da Semana Santa, Corpus Christi, da padroeira de Natal e tem um papel muito importante na aquisição de bens para a igreja (ostensórios, sacrários, toalhas, bancos para a igreja etc). Cada membro paga uma mensalidade para que seja possível custear essas despesas. Hoje tem entre 30 a 40 membros atuantes. Segundo Flávio, tem um número maior, porém Março de 2019 |31


A ORDEM | Vida pastoral Cristina Medeiros

por conta da idade avançada desses membros, eles não participam muito das atividades propostas. Antigamente eles não tinham sede própria e se reuniam no consistório da Igreja Matriz, no segundo domingo de cada mês, quando é trabalhado o Evangelho Dominical. No ano 2000 foi adquirida uma sede, ao lado da antiga catedral. Essa irmandade está vinculada à

32| Março de 2019

Igreja Matriz de Nossa Senhora da Apresentação, a antiga catedral. A Irmandade participa, ainda, da organização da Semana Santa na Catedral Metropolitana de Natal. BOM JESUS DOS PASSOS A Irmandade Bom Jesus dos Passos foi fundada em 25 de junho de 1825 e, segundo Flávio, tem uma conotação maior do que a Irmandade

do Santíssimo. Ele afirma que grande parte da sociedade na década de 60 sabia alguma coisa sobre essa irmandade. Atualmente tem cerca de 50 membros ( já chegou a ter 800), que se reúnem no primeiro sábado de cada mês, quando trabalham uma temática, de acordo com o mês vivido, fazendo reflexões e estudos, além dos momentos oracionais. Eles construíram sua sede em 1929,


Artigo| A ORDEM

na Praça Padre João Maria, onde permanece até hoje. Essa irmandade tem uma evidência muito grande, principalmente pela sua vivência na Quaresma, que é a Procissão do Encontro, que acontece na sexta-feira que antecede a Paixão de Cristo. Essa procissão retrata a estação da Via Sacra que corresponde ao Encontro de Jesus Cristo com sua Santíssima Mãe, rumo ao calvário.

Entre 1800 e 1900 esse evento chegou a ser a maior procissão que acontecia em Natal. A imagem de Bom Jesus das Dores saía da Igreja do mesmo nome (Ribeira), e a imagem de Nossa Senhora de Soledade, saía da antiga catedral, encontrando-se em frente ao antigo Palácio do Governo. Isso aconteceu até a década de 80, mas hoje esse encontro é feito em frente à Catedral Metropolitana.

Essa Irmandade tem um olhar mais atento para o social, afirmou Flávio Guedes. Junto com as irmãs do Patronato da Medalha Milagrosa, a irmandade custeia uma professora de reforço para uma criança carente da comunidade, além de fazer visitas aos enfermos e abrigos. Na parte religiosa é responsável por coordenar muitas procissões na Catedral Metropolitana e na Igreja Matriz.

Março de 2019 |33


A ORDEM | Notas

Family Search entrega material digitalizado à

Arquidiocese de Natal

Iniciativa tem como objetivo preservar documentos, como registros de batismo e matrimônio da cúriametropolitana e paróquias do território arquidiocesano O especialista em imagens digitais da Family Search, Jorge Silva, entregou nesta terça-feira (12) ao arcebispo de Natal, Dom Jaime Vieira, os HDs, contendo mais de 1 milhão de imagens digitalizadas de registros de batismo, crisma e casamentos da cúria metropolitana e das paróquias da Arquidiocese de Natal. A parceria com a instituição americana Family Search foi firmada em janeiro de 2017 e garante a digitalização desses arquivos. O projeto tem como objetivo, a preservação das informações contidas nos documentos, permitindo à população em geral, pesquisas relativas à história das famílias. Segundo Jorge, a digitalização desses registros vai garantir a preservação do material, tendo em vista o desgaste natural dos livros impressos. “Esse material que estamos entregando à Arquidiocese ficará à disposição para consulta da população e vai passar a integrar o arquivo arquidiocesano. Também será possível consultar esses dados no site da Family Search. É uma forma de garantir a longevidade dessas informações. Esse serviço que prestamos é gratuito e torna-se uma ferramenta para a população encontrar e conhecer os seus antepassados”, destaca. Com o trabalho encerrado na Arquidiocese de Natal, Jorge Silva segue para a Diocese de Caicó e, na sequência, Diocese de Oeiras (PI). “Quero agradecer o apoio e atenção da Arquidiocese, na figura do arcebispo metropolitano, Dom Jaime Vieira Rocha. Foram mais de dois anos de trabalho e, para nós, foi uma alegria poder trabalhar em conjunto com o arquivo da Arquidiocese, para garantir a preservação desses documentos”, comemora. Outras informações acesse: www.familysearch.org.

34| Março de 2019


[

Notas | A ORDEM

Padre

do clero arquidiocesano participa de curso sobre violência

O padre Alberto Riverte, do clero da Arquidiocese de Natal esteve em São Paulo, no período de 21 de janeiro a 03 de fevereiro. Ele participou de um curso sobre violência, gênero e raça: resistência e caminho de superação. Segundo o padre Alberto, o evento teve como objetivo oferecer ferramentas para a compreensão da violência vivida por homens e mulheres e construir um caminho de resistência e superação da violência com as desigualdades de raça e gênero. O curso acontece periodicamente e é oferecido pelo Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular (CESEEP). Outras informações no e-mail: genero@ceseep.org.br.

José Bezerra

SEAPAC

está em nova sede

O Serviço de Apoio aos Projetos Alternativos Comunitários (SEAPAC) está em novo endereço. Fica na rua Trajano Murta, 3317 – bairro Candelária – Natal-RN. A nova sede é agora propriedade do Seapac, o que assegura maior estabilidade e segurança para os trabalhos administrativos e técnicos burocráticos e economia da despesa de aluguel.

promovem ação alusiva ao Dia da Mulher

{

SESC E ARQUIDIOCESE

No próximo dia 11, o Serviço Social do Comércio - Sesc/RN e o setor social da Arquidiocese de Natal promovem uma manhã de atividades voltadas ao público feminino, alusivas ao Dia Internacional da Mulher, comemorado dia 08 de março. A programação contempla corte de cabelo, maquiagem, manicure, massagem, além de palestras sobre saúde e direitos das mulheres. A iniciativa é gratuita e será realizada das 08h às 12h em frente à Catedral Metropolitana, na avenida Deodoro da Fonseca, no bairro Tirol, em Natal.

Março de 2019 |35


A ORDEM |Viver

Cruzeiro na Serra da Formiga marca devoção popular Situado no município de Riachuelo, espaço conta com capela dedicada a São Francisco e atrai fiéis de toda a região agreste potiguar GR Drones

36| Março de 2019


Viver Rivaldo Jr.

Seu Agostinho e Maria Targino, zeladores do cruzeiro Nos anos 80, Agostinho Sabino Filho (Agostinho), natural de Riachuelo, no agreste potiguar, sofreu um acidente que lesionou o fêmur. Mesmo após ter feito várias cirurgias, não conseguiu recuperar os movimentos da perna. Diante dessa situação, quando estava hospitalizado, resolveu fazer uma promessa para São Francisco, que se ficasse curado, iria colocar um cruzeiro no alto da Serra da Formiga, distante cerca de 9Km do centro da cidade. “Lembro que nesse dia estava muito aflito. Fugi do hospital, peguei um carro e subi a serra. Mesmo na dificuldade, fui até o alto e lá coloquei um cruzeiro, feito de madeira. Fiz essa promessa com Deus, pedindo a intercessão de São Francisco. Poucos dias depois, comecei a sentir melhoras na perna. Os movimentos foram voltando ao normal e eu fiquei curado. Atribuo a cura à promessa que fiz”,

conta. Foi a partir daí que surgiu o cruzeiro, que logo começou a atrair outros fiéis, que subiam a serra para prestar homenagens e demonstrar a fé. Nessa época, o terreno era particular. Tempos mais tarde, foi doado e oficializado como uma área para oração. Seu Agostinho, que mora na comunidade da Serra da Formiga é o zelador do espaço, juntamente com sua esposa, Maria Targino. Ele conta que em 2006 teve início a construção de um espaço próprio para a oração, com uma capelinha. “A construção foi uma tarefa difícil, porque o acesso ao topo da serra era limitado. Os materiais eram carregados de forma coletiva, transportado com muita dificuldade. Para isso, a gente sempre contou com a ajuda da comunidade e até de comunidades vizinhas”, recorda. Após a finalização da construção, aconteceu a celebração da

| A ORDEM

primeira missa e bênção do local, presidida pelo padre Vicente Fernandes, no dia 04 de outubro de 2006. A partir desse dia, também foi instituída a celebração sempre no dia de São Francisco. Em 2012, chegou ao mirante a imagem de São Francisco de Assis, padroeiro do local, trazida da cidade de Arez. A imagem foi erguida ao lado da capela, onde pode ser visitada e venerada pelos fiéis. No final de 2017, a prefeitura municipal conseguiu uma emenda parlamentar, a qual possibilitou a reforma do local, melhorando o acesso e reestruturando o espaço físico. O acesso à serra é feito por uma estrada, parte de barro e parte de paralelepípedo e para chegar até o mirante, o visitante segue por uma rampa. Do mirante, é possível ter uma visão privilegiada de toda a cidade, além da região, composta por muitas serras. Segundo o padre Willian Bruno, administrador paroquial da Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, em Riachuelo, a partir deste mês, vai ser instituído um calendário de celebrações eucarísticas mensais, sempre no quarto sábado de cada mês, às 16h. O espaço pode ser visitado diariamente, de forma gratuita, em horário comercial. A Serra da Formiga conta com uma altura de 450 metros e lá também é possível praticar esportes de aventura, fazer trilhas ou conhecer a casa de pedra, entre outros. Todos os passeios são guiados pela equipe do Rota Serrana. Outras informações acesse: @rota_serrana no Instagram.

Março de 2019 |37


Liturgia da Palavra

Irmã Maria de Jesus

Carmelo de Nossa Senhora do Sorriso e Sta. Teresinha

Orar é simples

Como falar de oração e não falar nos dois conceitos das grandes doutoras da Igreja, Sta. Teresa de Jesus e Sta. Teresinha do Menino Jesus? Conceitos estes citados no CIC . A oração, segundo estas Santas, é tratar de amizade com Deus; é esse simples olhar e esse grito do mais profundo da alma. Orar é simples, mas ao mesmo tempo exige compromisso, perseverança, dedicação. Se tendo um encontro marcado com um amigo que muito se ama, um dos amigos sempre dá uma desculpa para não se fazer presente. Como cultivar essa amizade? Com certeza ela, aos poucos, morrerá por falta de contato com o amigo. Pode ficar uma doce lembrança do amigo, mas o contato que aumenta e intensifica a amizade se perderá. Assim, para orar necessitamos nos dispor para tal fim – cultivar a amizade. “ A oração é um da graça e uma resposta decidida de nossa parte. Supõe sempre um esforço.” O Amigo verdadeiro nem sempre dirá somente o que se quer ouvir, mas para o bem e crescimento do outro dirá também o que é necessário mudar e o que necessita aperfeiçoar. Desta forma, a oração exige também testemunho de vida, ou seja, “tal oração, tal vida.” A oração deve gerar uma obra de perfeição em nossa vida. Assim a amizade com Cristo configura a nossa vida à vida Dele. Esse é o verdadeiro fruto do cristão orante, ser outro Cristo, no meio em que vive, com as pessoas que convive. Assim, a oração, verdadeira amizade com Cristo, dará frutos que duram para sempre. Uma boa fonte para aprofundar sobre a oração está no Catecismo da Igreja Católica. A 4ª parte dele fala sobre a oração cristã.

“Para mim, a oração é um impulso do coração, é um simples olhar lançado para o céu, é um grito de gratidão e de amor, tanto no meio da provação como no meio da alegria”.

Sta. Teresinha do Menino Jesus

“Para mim, a aração é um relacionamento íntimo de amizade em que conversamos muitas vezes a sós com esse Deus por quem nos sabemos amados.” Sta. Teresa de Jesus




Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.