Boletim 105 dez 2014

Page 1

Thomas Bruno Oliveira, quatro anos a frente da SPA

SPA

ENTRE OS DIAS 24 E 30 de novembro de 2010 se deu o terceiro pleito eleitoral para a presidência da SPA, onde o consócio Thomas Bruno Oliveira foi eleito em chapa única, tendo como Vice Presidente o confrade Prof. Dr. Juvandi de Souza Santos. Sua posse foi em 5 de março de 2011, durante o V Encontro da SPA, evento inserido no XX Encontro da Nova Consciência, quando o então presidente Vanderley de Brito lhe passou o maracá da SPA, objeto que simboliza a cadência da SPA. O mandato de Thomas Bruno Oliveira se estendeu pelos anos de 2011 e 2012 e sua primeira ação como presidente foi com relação a depredação ocorrida no sítio arqueológico Itacoatiara dos Macacos, no município de Queimadas, quando acionou o Ministério Público, o IPHAN e a imprensa para apurar este dano ao patrimônio. O sítio recebeu técnicos do IPHAN e meses depois do Ministério Público Federal e, nas duas ocasiões, um sócio da SPA foi destacado para acompanhar os técnicos. Entre os dias 20 e 22 de maio, a SPA promoveu e ministrou no município de Prata-PB, em parceria com a ONG Vida Nordeste, o curso ‘Memória e Patrimônio Arqueológico da Paraíba’, culminando numa excursão de campo ao sítio arqueológico Pio IX. Em julho do mesmo ano Thomas participou de uma expedição da SPA ao Parque Nacional da Serra da Capivara, onde concedeu à


arqueologa Niède Guidon o título de Sócia Honorária da entidade e, ainda neste mês de julho, lançou o livro-coletânea PRÉ-HISTÓRIA II, com o subtítulo: “Estudos para a arqueologia da Paraíba”, um trabalho organizado pelo presidente em exercício, reunindo trabalhos sobre arqueologia de diversos sócios, objetivando minimizar a carência de material didático, inclusive o livro também foi confeccionado em formato ebook, disponível a todos na internet a partir do blog da SPA. Em 2012, preocupado com o destino do rico acervo arquivístico do extinto jornal Diário da Borborema, Thomas levou a SPA a promover um movimento pela permanência deste arquivo na cidade, que forçou a Câmara Municipal realizar uma sessão extraordinária para debater a questão. Felizmente, o movimento sensibilizou a UEPB, que adquiriu o acervo garantindo sua permanência na cidade e ao acesso público. Ainda neste ano a SPA participou no Museu do Algodão de Campina Grande, de uma reunião para se debater as políticas públicas em relação ao patrimônio Histórico e Cultural da cidade, evento que integrou a Semana Nacional de Museus, organizada pelo IBRAM. Palestras e outros eventos também foram organizados, como o tradicional Encontro da Sociedade Paraibana de Arqueologia, integrando o Encontro da Nova Consciência, durante os períodos carnavalescos. Em fins de 2012, Thomas Bruno Oliveira foi reeleito para exercer o mandato de 2013/2014, acompanhado do candidato a vice Carlos Alberto Farias de Azevedo e, movido pela preocupação decorrente da mudança de governo municipal na cidade de Ingá, agendou uma audiência entre a SPA e a Promotoria de Justiça da Comarca de Ingá afim garantir o cumprimento do TAC entre o MP e a prefeitura do município, firmado na gestão anterior, que garantia a proteção e preservação do sítio arqueológico Pedra do Ingá. Outra ação de grande importância da SPA neste segundo mandato de Thomas foi ter adaptado para o gênero literatura de cordel e publicado um poema inédito de Leon Clerot, intitulado “Caturité: A Lenda de Potira”, para homenagear este célebre pesquisador. A publicação deste trabalho foi uma iniciativa de parceria entre a SPA, o IHGP e GEPAHI e o lançamento se deu na sede do IHGP, durante uma sessão de comemoração dos 109 anos da instituição. A última grande atividade da SPA na gestão de Thomas foi denunciar ao IPHAN sobre a construção de uma barragem em Cuité e o risco de destruição de um monumento de pinturas rupestres no boqueirão do rio Japi. Devido a denúncia, o IPHAN fez uma vistoria constando o perigo contra o patrimônio e ordenou a paralisação da obra e a SPA também destacou uma equipe para visitar o local. Portanto, estes dois mandatos de Thomas Bruno Oliveira a frente da SPA, que se prolongaram entre 2011 e 2014, priorizaram as ações relacionadas à educação e a proteção do patrimônio histórico, cultural e arqueológico da Paraíba, através de denúncias, ações diplomáticas, midiáticas, e de conscientização patrimonial, envolvendo e chamando à responsabilidade órgãos públicos e entidades não governamentais afins. “Foi uma experiência incrível estar a frente da SPA, sempre busquei pautar as ações de maneira coletiva, dialogando e tentando enxergar o melhor caminho e as melhores formas de atuação. Foram inúmeras expedições, diversos eventos e uma série de ações que deram à SPA o respeito na comunidade acadêmica e na sociedade. Apesar de todas as dificuldades e da sempre falta de incentivo da esfera pública, temos a sensação do dever cumprido, ao mesmo tempo em que a responsabilidade continua em colaborar com as ações do nosso novo presidente. Somos um grupo, e para este trabalhamos!”

Dezembro de 2014

Boletim Informativo da Sociedade Paraibana de Arqueologia - Nº 105 - issn 2176-1574

2


Boletim Informativo da Sociedade Paraibana de Arqueologia - Nº 105 - issn 2176-1574

Posse de Zélia Almeida no IHGP

Zélia A lmeida sendo acompanhada pelos confrades Humberto Lucena, Adauto Ramos e Maria Auxiliadora - SPA

SPA presente na mesa que saudou Zélia A lmeida - SPA

Zélia recebendo o diploma de Carlos Azevedo - SPA

Dezembro de 2014

O DIA 12 DE DEZEMBRO foi de festa. Isso porque ocorreu na sede do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano - IHGP, na Capital do Estado, a posse da economista Zélia Almeida como sócia efetiva desta que é a instituição cultural mais antiga do Estado. O evento contou a participação da SPA através de nosso presidente, Thomas Bruno Oliveira, e dos consócios: Carlos Alberto Azevedo, Guilherme Gomes da Silveira D’Ávila Lins, Vanderley de Brito e Erik de Brito, que foram prestigiar este importante momento de nossa confreira, um reconhecimento ao trabalho, à militância e toda a sua contribuição às letras, à economia e aos estudos culturais e turísticos do estado da Paraíba. Com um discurso de posse muito bem construído e eloquente, Zélia passa a ocupar a Cadeira nº17, que tem como patrono Francisco Seraphico da Nóbrega. A nova sócia foi saudada pela historiadora Natércia Suassuna, ocupante da Cadeira nº13. Na oportunidade, o presidente da SPA entregou o título de sócio honorário da SPA ao Presidente do IHGP Joaquim Osterne Carneiro como reconhecimento à parceria e incentivo às atividades desempenhadas pela SPA em todo o Estado.

3


Boletim Informativo da Sociedade Paraibana de Arqueologia - Nº 105 - issn 2176-1574

Reunião de 9º aniversário do Instituto Histórico e Geográfico do Cariri

O INSTITUTO HISTÓRICO e Geographico do Cariry – IHCG (Casa José Leal Ramos) realizou sua nona reunião de aniversário no último dia 13 de dezembro. O evento contou com uma vasta programação e ocorreu no auditório da Vila do Artesão no bairro do São José, em Campina Grande-PB. No evento, tivemos a participação das seguintes instituições: Instituto Histórico de Campina Grande, com pronunciamento do Prof. Josemir Camilo; Instituto Histórico e Cultural de Pocinhos, com pronunciamento do Bismarck Martins de Oliveira; Instituto Histórico e Geográfico de Esperança (em formação), com pronunciamento do Rau Ferreira; além da Sociedade Paraibana de Arqueologia, que realizou o ritual de passagem do Maracá, onde o Presidente Thomas Bruno Oliveira transmitiu o cargo ao Presidente eleito Erick de Brito. O encontro também contou com as palestras ‘Luiz Lua Gonzaga, a Paraíba e o Cariri’ pelo jornalista Francisco Vieira da Nóbrega (Xico Nóbrega) e ‘Porque Eu Passei a Gostar de Luiz Gonzaga’ pelo pesquisador e curador do Museu Luiz Gonzaga de Campina Grande José Nobre, além da exibição dos vídeos ‘Quando Eu Vestia Meu Terno de Couro’ sob a direção de Flávio Alex Farias e ‘Caleidoscópio do Cariri’ e do Folheto ‘Poema de Amor a São João do Cariri’ pelo pesquisador Francisco de Paula Almeida, que também expôs uma série de fotografias sobre o Cariri. Por fim, houve a homenagem póstuma aos confrades do IHGC Ariano Vilar Suassuna, Francisco Tancredo Torres, Manoel Monteiro da Silva e ao Sócio Honorário Sansão Raia. Lembrando que são sócios honorários do IHGC os integrantes da SPA Thomas Bruno Oliveira, Vanderley de Brito e Juvandi de Souza Santos e o Pedro Nunes Filho é sócio efetivo. O IHGC é uma instituição cultural sediada no Solar dos Árabes em São João do Cariri e congrega nomes importantes da intelectualidade, da política e do povo do Cariri paraibano.

Dezembro de 2014

Mesa composta pelos representantes de instituições culturais - SPA

4


Boletim Informativo da Sociedade Paraibana de Arqueologia - Nº 105 - issn 2176-1574

Erik Brito é empossado como novo presidente da SPA NO DIA 13 DE DEZEMBRO último, durante a Reunião de 9ª Aniversário do Instituto Histórico e Geographico do Cariry – IHGC, realizada no auditório da Vila do Artesão, em Campina Grande, a SPA se fez presente. Durante o evento, a SPA concedeu, através das mãos do consócio Vanderley de Brito, o título de sócio Entrega do Maracá – Amauri Pereira honorário ao presidente do IHGC Daniel Duarte. Esta foi a última ação da gestão do presidente em exercício, Thomas Bruno Oliveira, pois, em seguida, o mesmo fez seu discurso de despedida do cargo e procedeu publicamente o ritual de passagem Erick e Carlos Azevedo - SPA Erick e Damião Ramos - SPA repassando o maracá da SPA a Erik Brito, novo presidente eleito da entidade. O jovem Erik Brito, de 20 anos de idade, cursa o sexto período em História pela UEPB e, apesar da pouca idade, já tem vasta Erick e Adauto Ramos - SPA Erick e Daniel Duarte - SPA experiência de pesquisa e militância no campo da arqueologia, museologia e história. Foi eleito pela chapa 1 com 78% dos votos e, antes mesmo da posse, foi reconhecido congratulado pessoalmente como novo presidente da SPA por líderes de diversas entidades patrimoniais afins, a exemplo do presidente Adauto Ramos, do Instituto Paraibano de Genalogia e Heráldica; do antropólogo Carlos Alberto Azevedo, Chefe de Divisões de Sítios Históricos do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico da Paraíba (IPHAEP); Damião Ramos, presidente da Fundação Casa de José Américo (FCJA); Joaquim Osterne Carneiro, presidente do Instituto histórico e Geográfico Paraibano (IHGP); Daniel Duarte Pereira, presidente do Instituto histórico e Geográfico do Cariri (IHGC); e de Vanderley de Brito presidente do Grupo de Estudos em Arqueologia Histórica e Industrial (GEPAHI).

NO DIA 23 DE DEZEMBRO, o novo presidente da SPA, Erik de Brito, juntamente com os confrades Thomas Bruno Oliveira e Vanderley de Brito, foi até o gabinete do vereador de Campina Grande Napoleão Maracajá (PCdoB), na Câmara Municipal de Campina Grande, para apresentar um projeto que vinha sendo gestado há mais de dois Erick e Thomas no gabinete do Vereador Maracajá - SPA anos em favor do reconhecimento de utilidade pública da SPA. O vereador considerou a relevância da entidade em favor do patrimônio histórico e arqueológico da cidade e se dispôs a apresentar o projeto no início dos trabalhos legislativos de 2015.

Dezembro de 2014

Reconhecimento de utilidade pública municipal

5


Boletim Informativo da Sociedade Paraibana de Arqueologia - Nº 105 - issn 2176-1574

ATÉ O PRÓXIMO DIA 30 de janeiro estão abertas as inscrições para o curso EAD Formação para a Gestão do Patrimônio Cultural Imaterial no âmbito da COOP SUL, uma realização do Centro Lucio Costa (CLC), em parceria com o Centro Regional para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial (Crespial), com apoio da UNESCO e coordenação técnica da Inspire | Gestão Cultural. São 50 vagas para o curso que acontecerá entre os dias 19 de fevereiro e 04 de maio, com aulas ministradas pela internet. O curso tem a coordenação de conteúdo de Lucas dos Santos Roque e o corpo docente é formado por especialistas do Brasil e da América Latina. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas pelo site www.inspirebr.com.br/ead. A seleção dos participantes ocorrerá no dia 10 de fevereiro. Estruturado em oito disciplinas, o curso tem como objetivo fortalecer as capacidades locais para estruturação e execução de políticas de patrimônio imaterial, nos estados e municípios brasileiros, por meio da capacitação de gestores culturais para atuarem na salvaguarda do patrimônio cultural imaterial – legislação, identificação, reconhecimento, apoio e fomento à sustentabilidade. Também permitirá analisar e discutir os principais conceitos relacionados ao patrimônio cultural brasileiro em suas diferentes dimensões e interações com aspectos de identidade, território e meio ambiente, incentivando o espírito crítico dos participantes e qualificando-os para desempenhar ações mais efetivas e conscientes nesta área específica. O curso é voltado para gestores públicos na área do Patrimonio Cultural Imaterial, responsáveis pela gestão de políticas de salvaguarda deste tipo de patrimônio. Nos primeiros dias do curso, será ministrada a disciplina Ambientação em EAD, que tem como objetivo quebrar uma possível resistência dos alunos em relação à aprendizagem virtual, otimizar a utilização dos recursos da plataforma do curso e explicitar a metodologia adotada. Também serão oferecidas as disciplinas: - Ambientação em espaços virtuais e introdução ao funcionamento do curso; - A constituição do campo do patrimônio imaterial e seus conceitos estruturantes; - A Convenção para a salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial (Convenção de 2003) e as suas Diretrizes Operativas; - A Gestão Pública do PCI; - A participação da comunidade na Gestão do PCI; - Diferentes possibilidades e metodologias de apoio, fomento, divulgação e promoção do PCI; - Diferentes possibilidades e metodologias de reconhecimento, identificação, investigação e documentação do PCI; - Transversalidade e interfaces do Patrimônio Imaterial. Outras informações podem ser obtidas no site www.inspire.com.br ou pelo telefone (31) 3274.4953. Os e-mails para contato são suporte@inspirebr.com.br e michelleantunes@inspirebr.com.br Fonte: DPI – Iphan

Dezembro de 2014

Abertas inscrições para curso a distância sobre Patrimônio Imaterial

6


Boletim Informativo da Sociedade Paraibana de Arqueologia - Nº 105 - issn 2176-1574

ARTIGO 1 __________________________________________________________________ Pedra do Ingá para inglês ver Vanderley de Brito Historiador, Sócio fundador da SPA.

CONFORME ANUNCIOU ALGUNS SITES e jornais locais, neste mês de dezembro o governador do Estado da Paraíba, Ricardo Coutinho, assinou um decreto que institui o que ficou denominado de “Grupo de Trabalho do Parque Estadual Arqueológico Itacoatiaras do Ingá”. De acordo com o documento, o Grupo será composto por órgãos da administração direta estadual e ainda receberá entidades indiretas e membros convidados IPHAN e da Prefeitura de Ingá. Todos os órgãos e entidades que irão participar do Grupo serão representados por titulares e suplentes e deverão concluir suas atividades em 360 dias, contados após a sua constituição. Dentro desse prazo deverá ser entregue um relatório ao governador do Estado com a proposta do equipamento do Parque. Podem me chamar de estraga prazeres, mas obviamente se trata de mais um projeto de infraestrutura turística em sítio arqueológico, mas o preocupante é que dessa vez o “alvo” é a Pedra do Ingá, um dos mais significativos do gênero no mundo, e não sabemos em que parâmetros este Grupo irá edificar seu plano de equipamento. Na concepção turística, a Pedra do Ingá é vista apenas como o atrativo já pronto, mas não teria valor algum sem grandes passarelas, estruturas de alimentação, conforto e demandas do gênero. A Pedra e seu meio natural, nesta concepção, não requerem nenhum investimento ou estudo, apenas estrutura para serem visitados confortavelmente. Infelizmente é sempre assim que as coisas acontecem aqui pela Paraíba, arbitrariamente a demanda do turismo suplanta o valor de nossos bens patrimoniais. Investe-se um dinheiro exorbitante para criar uma estrutura que em cinco anos, exposta às intempéries, estará sucateada, gerando reclames e um novo investimento para sua restauração. A falta de compreensão da Pedra do Ingá é tamanha que, sem qualquer senso ou estudo denominaram-na de “Parque Estadual Arqueológico Itacoatiaras do Ingá”. Primeiro ali não é Parque Estadual, nunca foi e nem nunca será, pois a Pedra é tombada como Patrimônio Nacional, se vier a ser Parque um dia será no âmbito nacional. Outra coisa, ali não é “Itacoatiaras do Ingá”, também nunca foi e nem nunca será, seu registro oficial é “Pedra do Ingá” ou “Pedra Lavrada”. Não vou discutir semântica aqui, mas quem tiver paciência de ler um artigo científico, há um texto na Revista Tarairiú número 08, de título “Itacoatiara” (disponível no link), que esclarece bem a falta de historicidade neste termo.

Dezembro de 2014

SPA

7


Boletim Informativo da Sociedade Paraibana de Arqueologia - Nº 105 - issn 2176-1574

Como já fizemos notar em ocasiões anteriores, estes investimentos e planos de equipamento demagógicos só favorecem o que ainda não existe. Não se vê um só item em favor do reflorestamento da ribeira do Bacamarte ou da preservação do monumento arqueológico, se pensa apenas em se fazer uma infraestrutura para o conforto do turista, como se ele fosse mais importante que o monumento arqueológico. Outro ponto que não é discutido nestes planos turísticos é se a infraestrutura irá poluir visualmente o ambiente, como o caso das passarelas, ou deixar a Pedra em abandono a mercê dos vândalos, como o caso de afastar a estrutura para mais próximo da cidade. Pois devemos lembrar que logo que a infraestrutura começa a funcionar tudo é muito bonito e organizado, tem guias treinados e uniformizados, comércio de alimentação e artesanato de primeiro mundo e coisas assim. Mas depois de passar seis meses tudo fica em abandono, porque o lugar não atrai turistas suficientes para manter este padrão, os guias desaparecem, os comércios fecham, a estrutura se danifica e a Pedra fica em abandono. Aí a sociedade reclama e os poderes públicos conseguem mais verbas e repetem a mesma coisa, os mesmos erros. Não é pessimismo, é realismo. Basta visitar hoje o Vale dos Dinossauros e o Parque Estadual da Pedra da Boca para comprovar a falta de sustentabilidade e estado de abando em que estes bens patrimoniais “equipados” se encontram. Referência: BRITO, Vanderley de; OLIVEIRA; Thomas Bruno de. Itacoatiara: um neologismo ambíguo e controverso que não se adéqua a terminologia arqueológica. Revista Tarairú. Campina Grande, Ano V – Vol.1 – Nº. 8; Agosto de 2014.

ARTIGO 2 __________________________________________________________________ O dia em que mataram Papai Noel Carlos Alberto Azevedo

EM 1951, O JORNAL FRANCE-SOIR noticiou a queima de um enorme Papai Noel – boneco vestido de Papai Noel, no átrio da Catedral de Dijon: “Papai Noel foi enforcado ontem à tarde nas grades da Catedral e queimado publicamente. Essa execução espetacular se realizou na presença de várias centenas de internos de orfanatos. Ela contou com o aval do clero que condenara Papai Noel como usurpador e herege. Ele foi acusado de paganizar a festa de Natal e de se instalar como um intruso, ocupando um espaço cada vez maior. Censuram-no, sobretudo, por ter-se introduzido em todas escolas públicas, de onde o presépio foi meticulosamente banido” (notícia transcrita pelo antropólogo Claude Lévi-Strauss). A partir desta notícia de jornal, Lévi-Strauss (1908-2009) escreveu um interessante estudo etnográfico sobre o mito de Papai Noel na Europa. A versão brasileira é O suplício do Papai Noel, publicada pela Cosac Naify, em 2008. Aproveito a deixa, isto é, a leitura do referido texto, para tecer algumas reflexões etnográficas sobre a figura de Papai Noel no nosso admirável mundo tropical. Deve-se, principalmente, atentar para o modelo comunicativo da publicidade (antropologia visual) que usa a imagem de Papai Noel com curiosidade exótica – seu cenário é completamente estranho a nossa realidade tropical. Quase todas as imagens utilizadas pelas tramas da comunicação (Massimo Canevacci) retratam o bom velhinho num belo trenó puxado por velozes renas,

Dezembro de 2014

Antropólogo e escritor, Sócio da SPA e do IHGP.

8


Boletim Informativo da Sociedade Paraibana de Arqueologia - Nº 105 - issn 2176-1574

atravessando caminhos estreitos de florestas cobertas de neve. Ou, ainda, ele escalando chaminés para deixar presentes ao lado da lareira, onde está uma árvore de Natal, comprada pelo dono da casa a um lenhador da localidade. Essa alienação (Papai Noel fazendo propaganda de mercadorias – fetiche) foi influência dos Estados Unidos – a hegemonia da cultura norte-americana sobre os países emergentes. Nota-se claramente no que diz respeito a importação de mercadorias ligadas ao rito natalino – bens de consumo para a tradicional ceia de Natal. O uísque, por exemplo, faz parte da ceia. Por quê? Na verdade, temos um natal fora do lugar e cheio de “ideias fora do lugar”. Macaqueamos o Natal dos Estados Unidos e da Europa. Imagino um Natal na Rocinha (Rio de Janeiro) ou no Cangote do Urubu (Varadouro). Crianças pensando no trenó de Papai Noel e pondo seus sapatinhos perto do fogão à lenha... Não é uma imagem perversa?

Expedição à Damião-PB

Equipe se dirigindo ao Sítio Poço Doce - SPA

Sítio Arqueológico Poço Doce - SPA

Painel de gravuras nas proximidades do Poço Doce - SPA

Dezembro de 2014

NO DIA 27 DE DEZEMBRO, uma equipe da SPA/LABAP/GPE composta pelos consócios Thomas Bruno Oliveira e Juvandi de Souza Santos se deslocou até o município de Cacimba de Dentro, indo ao encontro do Prof. Adailton Amorim Costa e o estudante Natanael Soares, que solicitaram ao Professor Juvandi Santos uma visita à cidade para conhecer um local com inscrições rupestres no vizinho município de Damião. Adailton e Natanael vem empreendendo expedições às zonas rurais de Damião e de Cacimba de Dentro em busca de sítios arqueológicos e locais propícios para a prática de rapel. Segundo Natanael: “Trilhas ecológicas e o rapel são atrativos de aventura muito interessantes que podem ser usados como opção para nossa juventude, livrando-a do crescente alcoolismo nos fins de semana”. Em uma destas expedições aventureiras, Natanael e Adailton encontraram um abrigo rochoso repleto de inscrições rupestres na meia encosta do Vale do rio Curimataú, trata-se do sítio arqueológico Poço Doce, o destino da expedição que partiu de Campina Grande. Já em Cacimba de Dentro, cidade em que Adailton e Natanael moram, a equipe definiu a estratégia da expedição e dali partiu para o município de Damião,

9


Boletim Informativo da Sociedade Paraibana de Arqueologia - Nº 105 - issn 2176-1574

Paisagem do Vale do Curimataú - SPA

Adailton praticando rapel - SPA

Natanael e Adailton - SPA

Um dos painéis rupestres do Poço Doce - SPA

Dezembro de 2014

onde estava marcada uma reunião com o Prefeito da cidade, o Sr. Lucildo Fernandes de Oliveira, atividade que ocorreu em um café da manhã ofertado pelo alcaide. Os Professores Juvandi e Thomas apresentaram a riqueza arqueológica existente no município e na região chamando a atenção do Prefeito que afirmou não conhecer este rico patrimônio, o que fez com que ele se juntasse à equipe e partisse dirigindo um veículo tracionado para a localidade Poço Doce, na margem direita do Rio Curimataú, distante 10km da zona urbana. Também integrou a expedição o funcionário municipal o Sr. Raimundo de Azevedo Melo e Wanderlei Soares (primo de Natanael). Uma longa caminhada foi empreendida a partir do Sítio Tubiba, pouco mais de 3km separava o lugar onde ficou o veículo e o sítio arqueológico. Durante o palmilhar pela caatinga, a equipe encontrou uma série de fragmentos cerâmicos antiquíssimos com tipos diferentes de decoração, eis o primeiro sítio arqueológico encontrado. Ao chegar a um extenso lajedo que dá acesso ao abrigo rochoso que se encontram as pinturas rupestres, foram encontrados dois painéis com inscrições gravadas no piso, além de mais cerâmica indígena, seria então o

10


Boletim Informativo da Sociedade Paraibana de Arqueologia - Nº 105 - issn 2176-1574

segundo sítio arqueológico encontrado. Mais alguns metros acima e a equipe se depara com a exuberância que é o Vale do Curimataú e chega ao sítio arqueológico Poço Doce, um gigantesco abrigo rochoso repleto de inscrições rupestres em pelo menos 3 tonalidades de vermelho. Este sítio arqueológico foi visitado pelos confrades da SPA Thomas Bruno Oliveira e Vanderley de Brito no ano de 2005, quando integravam a equipe do Programa de Conscientização Arqueológica, oportunidade que conheceram também os sítios Pedra do Porco Magro (também em Damião) e o Conceição, este em Cacimba de Dentro. Apesar do isolamento e difícil acesso ao sítio arqueológico Poço Doce, uma série de pichações foram encontradas (infelizmente!), além de uma fogueira feita próxima a um dos painéis rupestres, o que lamentamos. O estudante Natanael e o Vestígio de fogueira e pichação Professor de Educação Física da UFPB em no painel rupestre - SPA Bananeiras Adailton são pessoas muito bem intencionadas e pretendem formar um grupo de montanhismo e esportes radicais: “Nosso lema é a preservação da natureza! Temos muitas riquezas aqui na região e pretendemos preservar tudo isso, que é patrimônio do povo” afirmou Adailton. Ambos já estão acompanhando as publicações da SPA e os confrades presentes se colocaram a disposição. O Prefeito de Damião, Sr. Lucildo ficou animado com o que viu e pretende desenvolver atividades de educação patrimonial na cidade. Retornando à residência do Prefeito, Juvandi, Thomas e Natanael foram entrevistados pelo jornalista Alex Júnior da Rádio Serrana AM 590 (Araruna-PB). Na mesma rádio, estava agendada uma entrevista do Prefeito Lucildo no fim da tarde.

NO DIA 30 DE DEZEMBRO, uma equipe da SPA formada pelos consócios Thomas Bruno Oliveira, Vanderley de Brito, Erick de Brito e Dennis Mota se dirigiu à zona rural do município de Massaranduba-PB para averiguar um sítio arqueológico descoberto dias antes pelo confrade Dennis Mota, em observação à paisagem a partir da sacada do Garden Hotel, no limite leste da zona urbana de Campina Grande. Dennis conta que Veredas na caatinga - SPA

Dezembro de 2014

Expedição à Massaranduba-PB

11


Boletim Informativo da Sociedade Paraibana de Arqueologia - Nº 105 - issn 2176-1574

avistou um matacão em destaque na paisagem e como de praxe, resolveu prospecta-lo. Os expedicionários partiram de Campina Grande por sua zona rural a partir do bairro Mirante e trilharam uma ondulada estrada vicinal com destino ao sítio Cardoso, área já pertencente ao município de Massaranduba. O veículo foi estacionado na margem de um pequeno Parte do painel rupestre - SPA açude e dali iniciou-se uma caminhada de 12 minutos em veredas abertas na vegetação arbustiva. Pelo porte da vegetação não se vê o conjunto de rochas onde está localizado o sítio arqueológico e, da trilha, surge de repente um lajedo contendo diversos matacões. Em um deles, um dos maiores, repousa um grande painel de pinturas em duas tonalidades de vermelho, ocupando Equipe expedicionária - SPA uma extensão de 10m. Nas costas do referido matacão, há um pequeno tanque natural e inúmeros outros blocos, nenhum deles com testemunhos pré-históricos. Curiosamente, neste mesmo sítio Cardoso, Thomas e Vanderley encontraram um sítio arqueológico de pinturas rupestres em meados de 2010, a partir de uma indicação que referenciava uma suposta Pedra do Espelho (que não foi encontrada). O sítio arqueológico foi batizado de Cardoso II, em referência ao descoberto em 2010 distante cerca de 400m dali. A argúcia do confrade Dennis Mota originou a última expedição da SPA em 2014, momento em que não se deixa de fazer um balanço das atividades no ano. Em tom de confraternização, a equipe passou praticamente toda a manhã no sítio arqueológico e, logo após o retorno à Campina Grande, se refrescou em um kiosque nas margens do Açude Velho, tomando água, refrigerante e deliciando alguns petiscos.

Dezembro de 2014

Sítio arqueológico Cardoso II - SPA

12


Boletim Informativo da Sociedade Paraibana de Arqueologia - Nº 105 - issn 2176-1574

ARTIGO 3 __________________________________________________________________ Vandalismo em Sítio Arqueológico/Espeleológico na Paraíba Juvandi de Souza Santos

Quem conhece a Paraíba, especialmente os Sertões (interior) sabem da existência de um rico patrimônio natural e cultural dos mais relevantes do Brasil. O Vale dos Dinossauros, as Itacoatiaras do Ingá, o Lajedo de Pai Mateus, a Pedra da Boca, as cidades históricas de Areia, Cabaceiras, Bananeiras etc., e os sítios espeleológicos em granito de rara beleza, a exemplo dos Descida de rapel no sítio arqueológico/espeleológico Poço Doce existentes em Queimadas, Fagundes, Araruna, Damião etc., são visitados por milhares de pessoas que desavisados ou por não receberem nenhuma noção de Educação Ambiental e Patrimonial, depredam os locais, transformando, em muitos dos casos esses ambientes em áreas de risco. Recentemente, visitamos uma nova área que vem sendo aberta para a prática de esportes radicais (montanhismo, rapel, tirolesa etc.), tratando-se o local no município de Pixação em um dos painéis rupestres do sítio Poço Doce Damião (Agreste da Paraíba), de rara beleza cênica. Os problemas que encontramos ao visitarmos o imenso abrigo rochoso denominado de Poço Doce, voltado para o vale do rio Curimataú, são os já conhecidos: apesar de o local ser de difícil acesso, os visitantes muitas vezes levam em suas mochilas, tinta, carvão, cinzel e martelo para vandalizar o local. O resultado é o início da destruição de um dos locais Equipe do Grupo Paraíba de Espeleologia/SPA em atividade de mais bonitos do interior da Paraíba que levantamento ainda guarda resquícios do bioma caatinga quase intocável. Mas nossa principal preocupação é com relação à inércia dos órgãos fiscalizadores, pois o risco de destruição dos painéis rupestres do imenso abrigo rochoso é real.

Dezembro de 2014

Historiador e Arqueólogo.

13


Boletim Informativo da Sociedade Paraibana de Arqueologia - Nº 105 - issn 2176-1574

Não pretendemos o fechamento do local para aqueles que praticam esportes radicais, nem tampouco para os visitantes dos magníficos painéis rupestres da Tradição Agreste, apenas lutamos para que os órgãos públicos assumam sua parte: o de fiscalizar e proceder com atividades educativas e não deixar que cavidades naturais e sítios arqueológicos do Vale do Curimataú, na Paraíba, não siga o terrível destino de outros tantos monumentos naturais e culturais do Estado, a sua completa destruição.

Calcário de Itaboraí A Revista História Viva deste mês de dezembro trouxe um artigo de nosso consócio Vanderley de Brito sobre os registros fossilíferos dos sedimentos calcários da bacia de Itaboraí, no Rio de Janeiro, o único depósito brasileiro que registrou a primeira irradiação de mamíferos continentais após a extinção dos dinossauros, os chamados mamíferos paleogenos. Segundo o artigo, neste depósito já foram encontrados fósseis com até 70 milhões de anos, entre gastrópodes e restos de vegetais (sobretudo sementes), assim como mamíferos, marsupiais, lagartos e quelônios do Paleoceno Superor, com cerca de 55 milhões de anos, animais da megafauna quaternária, como mastodontes e preguiças-gigantes e vestígios de grupos humanos em ocupações sucessivas desde 8.000 anos até o período colonial.

Dezembro de 2014

– Mapa de atuação da SPA em Dezembro de 2014 –

14


Dezembro de 2014

Boletim Informativo da Sociedade Paraibana de Arqueologia - Nยบ 105 - issn 2176-1574

15


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.