Expedição à Pocinhos-PB
Alto da Serra do Pe. Bento – SPA
NO DIA 16 DE MAIO, uma equipe formada pelo sócio da SPA Dennis Mota Oliveira, o condutor de Eco-trilhas Antonio Marcos Pereira dos Santos, o fotógrafo Francisco Silva Monge e os Guias de Turismo Silvio Porto e Hadassa Rodrigues estiveram realizando uma expedição de exploração na Serra do Padre Bento, no município paraibano de Pocinhos. A região – ainda pouco explorada – esconde um grande conjunto de sítios arqueológicos de pinturas rupestres. Durante a expedição, cinco sítios arqueológicos foram visitados, trata-se de pinturas no leito de riachos, na margem de lagoas e em abrigos sob rochas.
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Mais expedições estão sendo formatadas e o número de sítios arqueológicos na Serra do Padre Bento pode aumentar comsideravelmente. Segundo Dennis Mota, o local apresenta características de um complexo e pode esconder dezenas de outros sítios ainda desconhecidos e inexplorados.
Serra do Pe. Bento – SPA
O LABORATÓRIO DE ESTUDOS Evolutivos Humanos (LEEH), do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva do IB-USP, foi por mim criado em 1994. Até hoje é o único laboratório da América do Sul a pesquisar a evolução humana sob uma perspectiva paleoantropológica, portanto, interdisciplinar por definição. Nossa pesquisa de maior destaque refere-se a Luzia, a primeira americana, que se tornou o ícone da pré-história brasileira. Hoje, o Laboratório desenvolve mais d e dez projetos de pesquisa em parceria com diversas instituições do Brasil e do exterior. Recentemente, deu início a um projeto paleoantropológico na Jordânia, buscando nossos ancestrais que há 2 milhões de anos se expandiram da África para o Oriente e para a Europa. Essa é a primeira vez que cientistas brasileiros estabelecem um projeto paleoantropológico fora do país. O LEEH-USP também se dedica freneticamente à divulgação do conhecimento da evolução humana para o público leigo, numa cruzada significativa contra a expansão do criacionismo no país. Entre essas atividades destaca-se a exposição “Do macaco ao homem”, recentemente implantada no Catavento Cultural, financiada pelo CNPq e pelo próprio Catavento, que consumiu recursos da ordem de um milhão de Reais. O LEEH também é o fiel depositário junto ao IPHAN e ao IBAMA de coleções arqueológicas e paleontológicas referentes aos primeiros americanos, destacando-se aí a maior coleção de esqueletos desses primeiros colonizadores do continente. Possui ainda uma infraestrutura física invejável, que não deixa nada a dever a instituições congêneres no exterior. Nos últimos dez anos só a FAPESP injetou cerca de dois milhões de dólares nessa infraestrutura e nos projetos que desenvolvemos. Mas tudo isso está ameaçado de extinção. Com minha aposentadoria em futuro próximo não há a menor possibilidade de que seja contratado um docente para assumir o laboratório. Isto se deve a duas razões
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Estudos de evolução humana na USP estão ameaçados de extinção
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complementares: por um lado, a reitoria atual não está provendo novas vagas de docente e por outro, mesmo que ela o faça, nada garante que o Departamento de Genética e Biologia Evolutiva aloque essa vaga para a área da Antropologia Biológica. O departamento é majoritariamente constituído por geneticistas humanos, grupo de excelência, mas que têm enorme dificuldade de entender que nossa área envolve três campos do conhecimento: antropologia, arqueologia e biologia evolutiva. Esse é o preço real que se paga na USP por ser de fato interdisciplinar. Se você se simpatiza com minha causa, por favor envie mensagens para o reitor da universidade Marco Antônio Zago (marazago@usp.br), com cópia para o vice-reitor Vahan Agopyan (vahan.agopyan@poli.usp.br) e para o chefe do Departamento de Genética e Biologia evolutiva Luis Neto (nettoles@ib.usp.br) Só a pressão social poderá evitar que o Brasil perca esse matrimônio material e imaterial que foi construído a duras penas nos últimos 25 anos. Walter Neves, Professor Titular (waneves@ib.usp.br).
ARTIGO 1 __________________________________________________________________ É assim que (não) caminha a educação e as pesquisas no Brasil Prof. Dr. Juvandi de Souza Santos
RECEBI RECENTEMENTE o livro organizado pelo prof. Walter neves, da USP, intitulado " Assim caminhou a humanidade". Fiquei perplexo com os excelentes artigos de pesquisadores de elevadíssimo nível do Brasil que trabalham com uma das temáticas mais complexas e polêmicas da atualidade: a evolução humana. O que me deixou ainda mais feliz é que um dos artigos do livro tem a participação do Doutorando Allisson Allan de Farias, ex-aluno do curso de Biologia da UEPB, e hoje compõe a equipe do laboratório de Evolução humana dirigido por Walter Neves. Sinceramente, não sabia que no Brasil contemporâneo temos tantos pesquisadores trabalhando com a evolução humana. Mas o que me deixou mais perplexo foi um email que recebi do prof. Walter Neves nos últimos dias do mês de junho contendo um apelo aos cientistas brasileiros para que pressionem, através de mensagens, a Reitoria da USP por mais apoio as pesquisas do Walter Neves e sua equipe. Em outras palavras, o laboratório corre sérios riscos de FECHAR. Motivo? O de sempre: escassez de recursos para tocar importantes pesquisas. Mas a crise não está abalando apenas a USP. O CNPq por falta de verbas está prestes a acabar com o PIBID nas Universidades públicas do Brasil, sem contar o sucateamento geral das Universidades brasileiras. Ensino fundamental e médio do Brasil é uma brincadeira de péssimo gosto. Fazer pesquisas no Brasil tem se transformado num ato heroico (que diga a Niède Guidon no Piauí, que a trancos e barrancos vem tentando tocar o Parque Nacional Serra da Capivara), e o que é pior: não existe uma luz no fim do túnel. Como se houvesse mais um túnel na educação brasileira. O sistema educacional brasileiro agonizante está saindo da UTI direto para o cemitério. E sem perspectiva de retornar do meio do caminho. Como e de que forma iremos galgar respeito no planeta se não pesquisamos? Tenho receio que continuaremos sendo meros fantoches nas mãos das grandes potências do mundo, pois não existe poder competitivo sem elevados investimentos em educação e pesquisas. Cortar gastos em cima do nosso falido sistema educacional é assinar o atestado de dependência eterna junto aos países que detém tecnologia de ponta em vários segmentos científicos.
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Historiador e Arqueólogo.
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ARTIGO 2 __________________________________________________________________ A falésia do Cabo Branco Carlos Alberto Azevedo
OS AMIGOS da barreira do Cabo Branco que me perdoem... Mas a barreira vai desaparecer para sempre. A afirmação é do saudoso cientista Leon Clerot que, ainda na década de sessenta do século passado, vaticinou o desaparecimento da mesma, por conta da ação abrasiva do mar (erosão costeira) e das ações antrópicas Falésia do Cabo Branco – espacoturismo.com negativas, isto é, obra de destruição feita pelo homem. A ação abrasiva, segundo Clerot, acontece durante as marés altas, ocasionando o desmoronamento da falésia viva, reduzindo consideravelmente o volume da barreira - é um processo de desfiguração total da falésia pela abrasão. Ao lado desse processo, o acidente geográfico sofreu durante décadas a ação negativa do homem que atuou (e ainda atua) no planalto do tabuleiro. A ação abrasiva faz parte da dinâmica do litoral e não se pode detê-la. As correntes marítimas atuam, implacavelmente sobre diversas áreas da costa, como por exemplo, na "praia Carne de Vaca,ao sul de Gramame; lá, todo coqueiral já foi destruído pelas águas do mar e até uma rua inteira de casas desapareceu" (devo essa informação a Leon Clerot). Não adianta mais esse idealismo tardio dos preservacionistas românticos. Agora é tarde, bastante tarde - por que não se evitou o desmatamento da mata do Cabo Branco nos anos cinquenta? Por que não protestaram quando, em 1970, foi construída a via de acesso para o Altiplano? Não sou geólogo. Mas fui durante vários anos professor de Geografia Física e Mineralogia no Colégio Estadual (Lyceu Paraibano) até ser exonerado do cargo, em 1968, pelos esbirros da ditadura militar, no Governo de João Agripino. Por isso, talvez tenha a devida sensibilidade para observar a realidade dos fatos, ou seja, analisar a destruição galopante da falésia do Cabo Branco. Acho bastante ingênua a ideia de um projeto faraônico para salvar a barreira. Para que gastar inutilmente 70 milhões de reais? Com essa quantia poderia ser feita a restauração do Hotel Globo (Varadouro) e de dezenas de outros bens culturais ameaçados.
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Antropólogo, Vice-Presidente da SPA.
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Destruição de Palmira seria enorme perda para humanidade, diz Unesco O GRUPO ESTADO Islâmico tomou controle da cidade na Síria. Teme-se a destruição do sítio arqueológico e de seus valiosos monumentos. A destruição do sítio arqueológico de Palmira, declarado Parte da antiga cidade histórica de Palmira – AFP PHOTO/JOSEPH EID patrimônio histórico pela Unesco, seria uma “enorme perda para a humanidade”, alertou a diretora da organização, depois que os jihadistas do grupo Estado Islâmico (EI) assumiram o controle da cidade. “Palmira é um extraordinário patrimônio da humanidade no deserto e qualquer destruição ocorrida em Palmira seria não apenas um crime de guerra, mas também uma enorme perda para a humanidade”, disse Irina Bokova em um vídeo publicado pela organização, que tem sede em Paris. Bokova acrescentou que está “extremamente preocupada” com os últimos acontecimentos e reiterou o pedido por um iminente cessar-fogo e uma retirada das forças militares. “Afinal de contas, trata-se do berço da civilização humana. Pertence a toda a humanidade e acredito que todos deveriam ficar preocupados com o que está acontecendo”, completou a diretora da Unesco. Nesta quinta-feira, o EI assumiu o controle total da cidade, o que provoca o grande temor da destruição do sítio arqueológico e de seus valiosos monumentos. Os jihadistas já destruíram outros tesouros arqueológicos desde que declararam um “califado” ano passado no Iraque e na Síria. Bokova fez um apelo à comunidade internacional, incluindo o Conselho de Segurança da ONU e líderes religiosos, para que exija o fim da violência. “É importante porque estamos falando do nascimento da civilização humana, estamos falando de algo que pertence a toda a humanidade”, ressaltou a diretora da Unesco.. Da France Presse, disponível em defender.org.br
A REVISTA ELETRÔNICA TARAIRIÚ (issn 2179-8168) é uma publicação do Laboratório de Arqueologia e Paleontologia da UEPB (LABAP/UEPB), com sede em Campina Grande-PB, atuando na divulgação de pesquisas nos seguintes campos científicos: 1. História do povoamento pré-histórico e histórico da América Latina; 2. Arqueologia; 3. Paleontologia. 4. Espeleologia. De periodicidade semestral, a Revista Tarairiú recebe contribuições em fluxo contínuo, de acordo com as Normas para Submissão. Para o próximo número, o prazo para envio é 30 DE JULHO.
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Chamada de artigos para Revista Tarairiú
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ARTIGO 3 __________________________________________________________________ Pedra polida em Museus da Paraíba Prof. Ms. Thomas Bruno Oliveira Parte da coleção do Museu Itinerante do MHN UEPB - SPA ARTEFATOS DE pedra polida são ferramentas utilizadas pelos nossos primitivos habitantes para os mais diversos fins. São principalmente machados, almofarizes, batedores de sementes, amoladores e outros que foram largamente empregados nas mais diversas atividades cotidianas no momento anterior à chegada dos europeus. Estas pedras são encontradas eventualmente, principalmente por agricultores que ao cultivar o solo se deparam com estes artefatos. Devido à curiosa feição, bem delineadas e simétricas, foram apropriadas pelo folclore sertanejo com o nome de ‘pedra de corisco’ ou ‘pedra de raio’ que segundo reza a cultura popular nordestina advém com o raio, partindo árvores ou se ocultando na terra a uma profundidade de ‘sete palmos’, aflorando um palmo por ano até chegar à superfície e ser encontrada pelo camponês. Os artefatos de pedra polida encontrados na região aguçam a curiosidade da população em geral e principalmente dos intelectuais. Muitos destes, ao longo das décadas, passaram a reunir estas pedras em coleções particulares, muitas destas (felizmente!) tornaram-se museus em vários municípios do interior da Paraíba. Em Soledade, temos o Museu de Ibiapinópolis, graças aos esforços do Professor Juarez de Góis, onde sua coleção particular foi organizada em um interessante museu que conta com a contribuição da população local. No museu, a coleção de machados, batedores e almofarizes está à mostra aos visitantes; em Juazeirinho, o Museu Histórico da cidade (aos cuidados do Sr. Sonildo Vital) também conta com uma coleção de pedras polidas; em Ingá, o Museu de História Natural (no sítio arqueológico Pedra do Ingá) possui um acervo de machados, batedores e amoladores (Criado pela pesquisadora Mali Trevas, hoje aos cuidados da Secretaria de Turismo); o Museu Histórico de Santo André também possui batedores, machados e uma espécie de ‘prato ou bandeja’ de pedra; em Areia, o Museu Regional de Areia (que recebeu a grande contribuição do Pe. Luiz Santiago e seu afilhado Pe. Rui) possui uma coleção que conta com machados semilunares e diversos artefatos em pedra polida; em Parari, no Museu Memorial Oriol, uma pequena coleção de artefatos também figuram em seu acervo. Uma das maiores e mais interessantes coleções compõe o acervo do Museu de História Natural da UEPB, sob a
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Historiador e jornalista, sócio efetivo da SPA.
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coordenação do Prof. Juvandi Santos, contando com centenas de peças. Coleções de pedra polida também se repetem na grande maioria dos museus municipais (inclusive o de Campina Grande), ora com coleções numerosas, ora com apenas algumas peças. É sabido que muitos leigos possuem em suas residências coleções particulares de artefatos pré-históricos, estes acervos são ilegais e dificultam os estudos sobre a préhistória da região por estarem ocultos da comunidade científica. O ideal é que estes artefatos que são encontrados de forma fortuita sejam comunicados às universidades para que sejam doados aos museus, devidamente referenciados com a data e local exato do achado, pois só assim eles poderão ser postos em um contexto arqueológico, possibilitando serem devidamente estudados.
Expedição à Massaranduba-PB
Vanderley, Erik e Luciano - SPA
NO DIA 27 DE MAIO, uma equipe SPA/IPHAN formada pelo técnico do IPHAN Luciano Souza e os confrades da SPA Erik de Brito e Vanderley de Brito esteve em visita ao sítio arqueológico Cardoso II, na zona rural do município de Massaranduba. O objetivo da expedição foi averiguar um possível impacto da construção de um condomínio residencial ao patrimônio arqueológico da área. Pelo menos dois sítios são conhecidos na zona limintrofe entre Massaranduba e Campina Grande, são os sítios arqueológicos Cardoso I e II. A SPA tem acompanhado as ações do IPHAN, atenta às atividades e buscando contribuir sempre que possível.
NO DIA 26 DE MAIO, o consócio Vanderley de Brito voltou a pesquisar nos livros do arquivo da Paróquia de Cabaceiras e também nos antigos livros óbito no cartório da cidade de Boqueirão para a pesquisa genealógica que vem desenvolvendo. O propósito de nosso historiador é levantar dez gerações da família Brito em estudo, além de desenvolver um estudo pormenorizado dos aspectos sociais e genéticos da família. Tudo isso será reunido num livro que será intitulado “Os Brito da ribeira de Ramada”, cuja sua pretensão
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Pesquisas em Cabaceiras e Boqueirão-PB
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é publicar ainda este ano. Segundo o pesquisador, estes estudos, além desvendar as suas origens familiares e exercitar sua paleografia, também vem colaborando para trazer à tona inúmeras informações inéditas sobre a região do Cariri, uma vez que nesta atividade de pesquisa ele vem compulsando diversos documentos dos séculos XVIII, XIX e XX, como registros de batismos, de casamentos, óbitos, inventários, testamentos, certidões de compra de terras, que muitas vezes as entrelinhas oferecem dados relacionados a escravos, produções agrícolas, climatologia, classes sociais, meios de trabalho, líderes políticos e religiosos, epidemias, serviços de assistencialismo, antigos topônimos, etc.
Molde em grafite da Pedra do Ingá NA MANHÃ DO DIA 27 de maio, o confrade artista plástico e pesquisador, Raul Córdula, o fotógrafo João Urban e as estudiosas Amelinha e Jussara vieram do RecifePE à Paraíba para realizar uma plotagem em grafite dos relevos da Pedra do Ingá. Raul Córdula ( ao centro) coordenou a atividade - SPA Os trabalhos receberam o apoio logístico da Prefeitura local, na representação do Secretário de Turismo Walter da Luz, e também da SPA através do consócio Dennis Mota, que acompanhou os trabalhos.
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– Mapa de atuação da SPA em Maio de 2015 –
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