Boletim 113 ago 2015

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Equipe da Paraíba visita Geopark Araripe

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NO ÚLTIMO DIA 04 DE AGOSTO, os confrades da SPA Thomas Bruno Oliveira e Juvandi de Souza Santos viajaram até o Crato, no Cariri Cearense, para participar do XXIV Congresso Brasileiro de Paleontologia, evento organizado pela Sociedade Brasileira de Paleontologia. O evento foi realizado no Campus da URCA (Universidade Regional do Cariri) e reuniu paleontólogos, arqueólogos e estudantes de todo o país. Na oportunidade, Thomas e Juvandi conheceram a sede do Geopark Araripe, guiados pelos jovens e competentes Carlos Almeida e Yara Rodrigues, que gentilmente acompanharam a equipe da Paraíba e apresentaram toda a estrutura formada pelo Centro de Interpretação e Educação


Ambiental - CIEA, o Laboratório de Paleontologia da URCA e o Museu de Paleontologia. Segundo o Prof. Thomas Bruno, o Centro de Interpretação e Educação Ambiental é um dos lugares mais interessantes do complexo, que fica localizado ao lado do Campus da URCA, “o espaço é uma referência permanente em Centro de Interpretação e Educação Ambiental CIEA - SPA interpretação ambiental e apresenta a temática de maneira lúdica e extremamente didática, estimulando a visitação ao Geopark e o conhecimento da identidade histórica e cultural das populações do Cariri”, afirmou. Na oportunidade estava sendo ministrado uma GeoOficina sobre fósseis e fossilização. O Prof. Juvandi lamentou o não apoio dos órgãos governamentais para a feitura do mesmo em Campina Grande-PB: “temos o Interior do CIEA, área de oficinas - SPA patrimônio, o acervo, grande potencialidade, porém não temos o apoio necessário para transformar tudo que temos em acervo didático para nossas escolas, nossos estudantes. O que eles possuem aqui no Crato é fantástico, vale muito a pena conhecer”, afirmou. Prof. Juvandi ainda concedeu uma entrevista ao Carlos Almeida sobre as impressões suas acerca do Geopark Araripe para o portal da instituição. Prof. Juvandi concedendo entrevista a Carlos Almeida - SPA Em linhas gerais, as cidades do Cariri cearense possuem um significativo patrimônio paleontológico e pessoas empenhadas em sua preservação. As cidades visitadas – Crato e Juazeiro – estão bem sinalizadas turisticamente, seus geosítios são bem conhecidos e o acesso não se tem nenhuma dificuldade. Não é a toa que a Unesco recentemente esteve visitando o Maquete da área do Geopark no CIEA - SPA Geopark para certificar a estrutura e cadastrála como patrimônio mundial. Há o incentivo de criação de uma cadeia produtiva com guias, empresas de turismo e outras ligadas aos esportes radicais promovidos na região como lojas especializadas e fabricantes de bicicletas esportivas. A organização do Geopark é um exemplo a ser seguido. TTrraabbaalhlhooss sseennddooaapprreesseennttaaddoosseemmppôôeesstteerreess --SSPPAA

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Pré-História brasileira é tema de reportagem gravada na Paraíba

UMA EQUIPE DA TV BRASIL, órgão da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), esteve na Paraíba para a gravação de matéria com a temática pré-história. Os jornalistas Mariana Fabre, André Pacheco e Edivan Viana convidaram o Prof. Juvandi de Souza Santos para a gravação de imagens em alguns sítios arqueológicos e paleontológicos paraibanos. A gravação integrará uma edição sobre a Pré-História Brasileira do programa ‘Caminhos da Reportagem’, exibido pela emissora todas as quintas feiras às 22h (com reprises às segundas, terças, quintas, sábado e domingo). Na Paraíba, o Prof. Juvandi acompanhou a equipe na visita Juvandi e Equipe na Pedra da Torre - SPA aos sítios arqueológicos Pedra do Ingá e Pedra da Torre e no sítio paleontológico Vale dos Dinossauros, na oportunidade acompanhado pelo Prof. Thomas Bruno Oliveira. Ainda não há data definida para a exibição da matéria, muito provavelmente – segundo Mariana Fabre – será no mês de novembro.

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ARTIGO 1 __________________________________________________________________ Antropólogos entre ciganos. Carlos Alberto Azevedo

RECENTEMENTE participamos do I Encontro de Ciganos do Nordeste, patrocinado pelo Governo do Estado da Paraíba, por meio da Secretaria da Mulher e da Diversidade Humana, em parceria com o Governo do Estado de Pernambuco. Representamos (Javana Garcia e eu) a Diretora Executiva do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba MMeessaaddooeevveennttoo––FFoolhlhaaddooSSeerrttããoo (IPHAEP), professora Cassandra Figueiredo Dias. O evento realizou-se em Sousa (Alto Sertão da Paraíba). Contando com a presença de sete comunidades ciganas do Nordeste. Nas cidades de Sousa e Condado, segundo o IBGE, há uma significativa concentração de ciganos da etnia Calon, de aproximadamente duzentas famílias, considerada a maior comunidade cigana do Brasil. Vários antropólogos estavam presentes nesse encontro; destaco a antropóloga Patrícia Goldfarb (UFPB) que há mais de dez anos trabalha com a temática cigana na Paraíba. Autora de Memória e Etnicidade entre os Ciganos Calon (2013). Como antropólogo, achei válida a minha participação no evento: "estar lá", simplesmente, foi muito positivo. Nas rodas de conversas - a metodologia do encontro possibilitou rodas de conversas -, ou seja, ciganos expondo para o público as suas dificuldades como sedentarizados - sem políticas públicas dirigidas e em completo abandono social. Os "desabafos", às vezes, eram bastante agressivos, quase todos em tom de denúncia. A agressividade verbal expressava a discriminação que, ainda hoje, os ciganos sofrem. Os ciganos no Brasil, de certa forma, permaneceram invisíveis. É tanto que em muitos estudos antropológicos o povo cigano não figura. Por exemplo, em O Povo Brasileiro, de Darcy Ribeiro (1995), não há nenhuma menção aos ciganos. No antigo dicionário Aurélio, o verbete cigano tem uma conotação negativa: ladino, astuto, trapaceiro, velhaco. Mas, creio, as coisas estão mudando. Marcos recentes garantem direitos aos povos ciganos: Decreto de 25 de maio de 2006, que instituiu o Dia Nacional do Cigano. O Encontro foi, com certeza, um marco para as comunidades ciganas do Nordeste.

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Antropólogo, Vice-Presidente da SPA.

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Serra Branca: Reunião do IHGSB e expedição ao Sítio Poção

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NO DIA 15 DE AGOSTO houve a 3ª reunião extraordinária de membros do Instituto Histórico e Geográfico de Serra Branca. O encontro foi realizado nas dependências da Casa de Cultura Cônego João Marquês Pereira e os trabalhos foram dirigidos por José de Sousa Pequeno (Prof. Zezito) e Juarez Ribeiro de Araújo, Presidente e VicePresidente respectivamente. Esteve à reunião os consócios da SPA Thomas Bruno Oliveira, que também é sócio efetivo do IHGSB e ocupa o cargo de Diretor Administrativo e Financeiro (DAF) da entidade Serrabranquense e Sérvio Túlio Lima, que é vice-Diretor Administrativo. Após a reunião, houve uma visita técnica ao prédio histórico que será a sede do Instituto, trata-se do antigo casarão da Fazenda Serra Branca, uma das construções mais antigas do município, fazenda que teve início em fins do século XVII com a chegada dos Oliveira Ledo, tendo ao longo desse tempo mais três proprietários até chegar às mãos da tradicional família Borba. Seu estado era de ruína e pela sua relevância histórica foi cedida ao IHGSB em regime de comodato. O ‘casarão dos Borba’ está sendo reformado para abrigar a sede do IHGSB e conta com doações e colaborações: “muito já foi feito, mas há muito o que fazer ainda. Graças a Deus estamos contando com a colaboração de amigos e amigas que amam a história da cidade e estão colaborando com o projeto”. A equipe que visitou o casarão esteve composta por Dudá (Sec. de Educação de Serra Branca), Profa. Dona Estelita, Sérvio Túlio, Prof. Zezito e Thomas Bruno Oliveira, todos sócios efetivos.

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puros, círculos concêntricos, linhas de capsulares e inúmeros outros de rara composição em território paraibano. Para Thomas Bruno “o destaque do sítio se dá pela existência enigmática de duas linhas paralelas cruzando todo o lajedo de sul a norte em dividindo o grande painel rupestre de maneira distinta em dois conjuntos, em seu lado esquerdo o painel está configurado com diversos símbolos FFrraaggmmeennttooddeeaarrtteeffaattooppoolildidoo((ccoommgguummee))--SSPPAA num amplo espaço, de forma bem difusa e do lado direito há uma concentração de símbolos em um curto espaço, bem rente às linhas, com a predominância dos círculos concêntricos. Observando-o de sul a norte, nota-se que estas linhas formam um caminho imaginário que seguindo em linha reta terá como destino a Serra do Jatobá, um dos monumentos mais interessantes do relevo da região, Cerca no Sítio Picoitos em São João do Cariri - SPA visível num raio de aproximadamente 80km”. No ano de 2005 uma equipe expedicionária da SPA composta pelos professores Thomas Bruno e Sérvio Túlio esteve visitando o sítio Poção I e dez anos depois da primeira visita constataram algumas poucas pichações próximas às gravuras, fato lamentável por toda a equipe. No caminho de acesso à subida da formação rochosa, Thomas encontrou um fragmento de uma ferramenta lítica, que ainda conservava seu gume. Após uma farta cobertura fotográfica e o georeferenciamento, a equipe – que não recolheu o material arqueológico – retornou a sede do município e após uma breve reunião encerrou com êxito a expedição. Sobre a viagem, Thomas ainda salienta a colocação de uma reforçada cerca nas proximidades do sítio arqueológico Picoitos em São João do Cariri, próximo a divisa com Serra Branca. Para o expedicionário: “a colocação da cerca impede o livre acesso ao sítio dificultando inclusive um possível vandalismo”. Assim, o confrade atende a um dos objetivos da SPA que é justamente a fiscalização da integridade dos sítios arqueológicos e a comunicação aos órgãos de proteção.

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Após a visita técnica, os confrades José de Souza Pequeno, Thomas Bruno Oliveira e Sérvio Túlio empreenderam uma expedição ao sítio arqueológico Poção I, localizado à 7km da zona urbana do município. O testemunho identificativo desse sítio são inscrições gravadas no dorso de um conjunto de desmedidos blocos graníticos. Os painéis gravados possuem uma profusão de grafismos

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ARTIGO 2 __________________________________________________________________ Formação de Pirabas Inocêncio Nóbrega

A comunidade científica e a sociedade paraenses, de uma forma geral estão empenhadas em pesquisar e conservar, sempre com a exigida participação do poder público, de todo o acervo, bens móveis e imóveis, que venha constituir o patrimônio histórico estadual. Uma dessas preocupações são os depósitos fossilíferos de Localidades fossilíferas da Formação Pirabas no estado do Pará. Disponível em: Salinópolis, a qual compõe uma Boletim do Museu Emílio Goeldi unidade conhecida pelos pesquisadores por “Formação de Pirabas”. Trata-se de uma sequência dos fósseis descobertos em 1876, pelo naturalista suíço Emílio Augusto Goeldi, que chegou a dirigir um museu, qual hoje tem seu nome. Na verdade, achados marinhos, que afloram no litoral nordeste do Pará. O município de S. João de Pirabas sedia, não só essa casa de cultura como mencionado sítio paleontológico. A riqueza e variedade de conteúdo fossilífero, vegetais e animais, tem motivado o Núcleo de Paleontologia do Pará e alunos de museologia da UFPA a desenvolverem ações na coleta dessas espécies, visando o estudá-lo em detalhes. Ao final, conhecimento dos elementos formadores do meio ambiente, bem como a distribuição dos animais e vegetais, de toda área mapeada. Um estudo interessante, para quem deseja saber um pouco mais da origem do território brasileiro, no caso a Amazônia. Ao lado dessa diversidade paleontológica Salinópolis, pertencente à zona metropolitana de Belém, é uma cidade rica em balneários de água doce e de notável infra-estrutura turística. É para lá que os belenenses se deslocam, aos montes, nos fins de semana. Uma municipalidade relativamente nova, porém de história que vem do Governo do Capitâo-General André Vidal de Negreiros, do Maranhão-Pará, paraibano que recebeu esse cargo por recompensa pela sua bravia atuação na expulsão dos holandeses do nordeste brasileiro. Teria ele determinado a montagem de um posto de observação pela qual, através de um tiro de canhão se avisasse a entrada de embarcações estrangeiras. Por outro lado, o surgimento de uma fábrica de sal, ambos foram decisivos na fundação da urbe. Um grupo de pesquisa, no campo da Museologia e Paleontologia, foi concebido em 2013, já cadastrado no CNPq, e tem a coordenação de uma professora universitária dedicada ao assunto. Com esse seu trabalho deseja exemplificar para o restante do Brasil como se promove a educação patrimonial, e se subsidia a formulação de políticas públicas voltadas para o setor, num conjunto com a população. Uma lição que merece reflexão das autoridades, ainda que não tenham amor pela constituição do patrimônio nacional, todavia é seu dever mantê-la, se possível na sua integridade.

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Jornalista (inocnf@gmail.com)

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Marcos Albuquerque: o homem que traduz o passado

NOS ÚLTIMOS 50 ANOS, Marcos Antônio Gomes de Mattos de Albuquerque vem escrevendo parte da história de Pernambuco e do Brasil. Não exatamente com letras no papel – embora também seja autor de livros – mas decifrando cacos de louça, pedaços de cachimbo, armas antigas, moedas, restos de vestimenta e esqueletos humanos. “É uma forma diferente de recuperar a história”, explica Marcos Albuquerque, um dos primeiros arqueólogos de Pernambuco. Ora fazendo escavações, ora atuando no reconhecimento de sítios arqueológicos, os locais onde esses materiais são encontrados, ele é facilmente reconhecido pelos invariáveis óculos escuros, chapéu e roupas cáqui. Disciplinado e organizado (tem as pesquisas que fez ao alcance de uns poucos cliques no computador), Marcos Albuquerque é um homem prático. Basta dizer que os presentes trocados com a namorada, com quem é casado até hoje, eram utilitários: equipamentos para trabalhar em pesquisas de campo. Os presentes, aliados a outras ferramentas, ajudaram a fazer descobertas curiosas. Em Jaboatão, cidade do Grande Recife, o arqueólogo resgatou ossadas de soldados luso-brasileiros que participaram das guerras holandesas do século 17, nos Montes Guararapes. Os terços na cintura indicavam a nacionalidade. Não sendo católicos, holandeses não seriam sepultados com rosários, traduz. Numa escavação no Forte do Brum, no Bairro do Recife, descobriu de maneira engraçada que mulheres costumavam frequentar esse reduto tipicamente masculino. “Achei um sapato feminino ao lado de uma taça de cristal entaipados numa das paredes”, diz. Adepto das novas tecnologias, ele viaja País afora levando pelas estradas um laboratório móvel montado e equipado num caminhão. A frase pintada na lataria resume sua vida: “Uma sociedade que não conhece seu passado não tem perspectiva de futuro.” Pois foi tentando entender o passado que o recifense Marcos Albuquerque, 73 anos, escavou chão e paredes na busca desses velhos fragmentos que, como um quebra-cabeça, vão contando a nossa história. Uma sociedade que não conhece seu passado não tem perspectiva de futuro,diz o arqueólogo Marcos Albuquerque Da Igreja Matriz da Várzea, bairro da Zona Oeste do Recife, ele tirou 85 sepultamentos do século 17. O exame das ossadas se revelou surpreendente. Só havia três casos de cárie e alguns

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Marcos Albuquerque em conversa com membros da SPA na BR 101 - SPA

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poucos tártaros, numa época em que o consumo de açúcar era grande, observa o pesquisador, informando o que encontrou ao cascavilhar a dentição dos esqueletos de soldados feridos nas Batalhas dos Guararapes. Remexendo no esqueleto de um padre enterrado na Igreja da Graça (primeiro quartel dos holandeses no Brasil), na Sé de O arqueólogo no Forte Orange – Guga Matos/JC Imagem Olinda, ele constatou a devoção do jesuíta a um capuchinho. Em vez de uma imagem do criador da ordem, Inácio de Loiola, ele segurava nas mãos a medalha de um capuchinho, ramo da ordem franciscana. Na Ilha de Itamaracá, o pesquisador localizou a fortificação holandesa do século 17 escondida debaixo do Forte Orange português. E no Bairro do Recife as escavações confirmaram o lugar exato da Primeira Sinagoga das Américas, na Rua do Bom Jesus. “Quem escreve a história é a classe dominante, mas a arqueologia não sofre influência de classe social. Se o escravo não escreveu o seu diário, é o diário dele que recuperamos quando descobrimos seus esqueletos”, diz. Quando escolheu a profissão, “arqueologia no Brasil era quase amadorística”, recorda. “Não sabia o que iria fazer, mas sempre gostei de muitas coisas e na arqueologia eu podia juntar muitas delas: montar a cavalo, fotografar, estar em campo e sobretudo entender a sociedade. Trabalhar numa sala fechada iria me enlouquecer.” Um sapato feminino ao lado de uma taça de cristal: segredos desenterrados no Forte do Brum O menino que teve dificuldades com matemática (fez o ginasial em sete anos porque repetia a disciplina) hoje se vale dela para interpretar os achados. “É curioso, porque o arqueólogo trabalha com as ciências exatas, como geologia, estratigrafia e cálculos, para concluir com as humanas.” Marcos Albuquerque tinha 20 e poucos anos quando se deparou com seu primeiro achado: um pedaço de cerâmica, no Forte de Pau Amarelo, em Paulista. Ainda não tinha entrado na faculdade (acompanhava uma excursão acadêmica com um amigo) e não fazia ideia do que tinha nas mãos. Mostrou a peça ao sociólogo Gilberto Freyre (1900-1987) e ao historiador José Antônio Gonsalves de Melo (1916-2002), que não conseguiram identificá-la. Logo depois, uma missão norte-americana desembarcou no Recife para fazer estudos arqueológicos no Nordeste e Gilberto Freyre indicou o jovem estudante para acompanhar o grupo. “Ali, decidi que seria arqueólogo. Fiz Ciências Sociais por ser o curso que oferecia a disciplina antropologia física e cultural, meu foco de estudo”, diz. Ao abrir o Setor de Arqueologia da Universidade Federal de Pernambuco, em 1965, a pedido de Gilberto Freyre, o acervo da Biblioteca Central dedicado ao tema não passava de três livros. Professor da Pós-Graduação em Arqueologia da UFPE e um dos pioneiros da arqueologia histórica no Brasil, ele costuma inventar máquinas para facilitar as pesquisa de campo. O primeiro achado, mais tarde identificado com os restos de um cachimbo português, é a sua moeda número 1 e pertence ao Laboratório de Arqueologia da UFPE que ele criou, coordena há 50 anos e tem a guarda legal das peças recuperadas. Navegue no site www.brasilarqueologico.com.br Fonte: Jornal do Commercio, matéria com o mesmo título escrita por Cleide Alves e publicada em 09/08/2015.

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ARTIGO 3 __________________________________________________________________ Vale dos Dinossauros: uma crítica necessária Thomas Bruno Oliveira Historiador e Jornalista, Mestre em História, sócio efetivo da SPA.

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constatamos alguns problemas graves no tocante a sua estruturação e preservação. O Parque tem mais de um século de divulgação. Ainda no século XIX, Louis Jacques Brunet já registrava a bacia sedimentar do Rio do Peixe e na década de 1920, à serviço do IFOCS (Instituto Federal de Obras Contra as Secas, hoje DNOCS), o engenheiro Luciano ÁÁrrvvoorreettoommbbaaddaaaattininggeeaappaassssaarreelala--SSPPAA Jacques de Morais publicava seus estudos e mencionava as pegadas existentes no sertão paraibano. Em meados da década de 1970, o paleontólogo Giuseppe Leonardi fez um intenso estudo e trouxe à tona cientificamente o patrimônio paleontológico da Bacia do Rio do Peixe. Na década de 1990 tem início, de maneira sistemática, a preocupação MMaaisis uummaaáárrvvoorreettoommbbaaddaa--SSPPAA com as condições daqueles testemunhos pretéritos, foi nesse contexto que foi fundado o grupo Movissauros por Luiz Carlos da Silva Gomes e outros, buscando promover a preservação do Vale. A partir de 2006, a Sociedade Paraibana de Arqueologia protagonizou denúncias e publicações com a temática do Vale, o Boletim Informativo da SPA Nº 37 publicou um número especial com o título ‘Manifesto ao Vale dos Dinossauros: vale a pena lutar por ele’ (com

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O PARQUE ESTADUAL Vale dos Dinossauros é um dos monumentos naturais e históricos mais conhecidos do Estado. Nele temos um conjunto de pegadas préhistóricas de vários espécimes de dinossauros que viveram durante milhões de anos na região em que hoje é o sertão paraibano. Há alguns dias, estivemos fazendo uma visita a este importante sítio paleontológico e

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publicações dos confrades Vanderley de Brito, Carlos Azevedo, Luiz Carlos e eu). A SPA tem dedicado publicações, palestras e debates, como o que ocorreu no auditório do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano dentro do Seminário ‘Direito à Memória’ oportunidade em que ampliamos o debate que era sobre a Pedra do Ingá e rapidamente se tornou um produtivo debate sobre o patrimônio pré-histórico do Estado. Os últimos Boletins da SPA trazem páginas dedicadas a uma recente reforma (ainda em curso) nas instalações turísticas e no Museu ali organizado. O Vale está em uma reforma que se arrasta desde 2014 e que no momento da visita se encontrava paralisada. Testemunhando o ocorrido, na entrada do Parque, vemos montes de 1,70m de areia. Por trás do Museu, há uma construção que há muito não recebe um tijolo; PPaarrtteeddooccaannaallddeeaalílvívioiorraacchhaaddoo--SSPPAA algumas trilhas estão rachadas, parte do canal de alívio está estourando há tempos e o mais grave: a principal passarela de acesso à Passagem das Pedras, local em que se encontram as trilhas de pegadas dos extintos dinossauros, estava interditada. Uma árvore caiu e comprometeu a estabilidade da passarela, que foi interditada pelo corpo de bombeiros. Fato é que a interdição já estava há quase três semanas e nenhuma ação foi tomada pela SUDEMA ou por TTáábbuuaass ddeeuummaappaassssaarreelalajojoggaaddaapprróóxxim imaaaappeeggaaddaass --SSPPAA quem quer que seja. Presenciamos turmas de alunos que não puderam contemplar as famosas trilhas da passagem das pedras da maneira convencional, vendo-a de muito longe, sem ter a oportunidade de visualizar o conjunto. Há muito que temos reclamado da má ação nas reformas realizadas no Vale dos Dinossauros, todas elas tem desprezado o principal sentido do parque, que são as pegadas. Acessos são feitos, estruturas são construídas, mas tudo que é feito não beneficia a preservação do patrimônio, temos a impressão de que para os gestores (no caso a SUDEMA) as pegadas pré-históricas são infinitas. Vemos, portanto, o reflexo de um estado e de um país que pouco valoriza a educação e a cultura, não tendo o zelo pelo seu patrimônio quer seja histórico, arquitetônico ou natural. O Vale e suas pegadas necessitam de cuidados e também de uma gestão eficiente que possa promover a preservação deste que é um de nossos maiores patrimônios e não só de uma estrutura de cunho turístico. O Parque Estadual Vale dos Dinossauros passa por problemas e carece urgentemente de solução.

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Chamada de artigos para Revista Tarairiú

A REVISTA ELETRÔNICA TARAIRIÚ (issn 2179-8168) é uma publicação do Laboratório de Arqueologia e Paleontologia da UEPB (LABAP/UEPB), com sede em Campina Grande-PB, e surge como um novo meio de divulgação de pesquisas nos seguintes campos científicos: 1. História do povoamento pré-histórico e histórico da América Latina; 2. Arqueologia; 3. Paleontologia. 4. Espeleologia. As pesquisas e debates científicos nestas áreas compõe o objetivo da Revista que publica artigos inéditos, resenhas e entrevistas redigidos em português, inglês, espanhol ou francês. De periodicidade semestral, a Revista Tarairiú recebe contribuições em fluxo contínuo, de acordo com as Normas para Submissão. Para o próximo número, o prazo para envio é 15 de dezembro. A Revista Tarairiú possui Qualis B4 e sua denominação foi escolhida como uma homenagem a grande parte dos indígenas que habitaram os sertões nordestinos, sobretudo o interior da Paraíba, que foram os índios de vários grupos Tarairiú.

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– Mapa de atuação da SPA em Agosto de 2015 –

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