Boletim da SPA nº114 set 2015

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Expedição à Serra Branca-PB

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NO DIA 19 DE SETEMBRO houve a 4ª reunião extraordinária de membros do Instituto Histórico e Geográfico de Serra Branca – IHGSB. O encontro foi realizado nas dependências da Casa de Cultura Cônego João Marquês Pereira e os trabalhos foram dirigidos por José de Sousa Pequeno (Prof. Zezito) Presidente da entidade. Esteve à reunião os confrades da SPA Thomas Bruno Oliveira e Sérvio Túlio da Silva Lima, além do geógrafo Dominique Almeida, o sociólogo Paulo Giovani, a Sra. Dudá (Secretária de Educação Municipal) e Eugênio Brandão, todos confrades do Instituto, e também o advogado e memorialista José Edmilson Rodrigues, convidado por Thomas, levando uma série de ideias e contribuições para o sadalício.


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Reunião na Casa de Cultura – SPA

Sítio Cauaçú e vista da região - SPA

Futuras instalações do IHGSB - SPA

sítio – não funcionava, 13 anos depois observa-se fragmentos desta antiga atividade. Na face do matacão oposta às pinturas, o confrade Thomas Bruno encontrou um pequeno painel com gravuras levemente picotadas, uma novidade para os estudos deste sítio arqueológico. Para Thomas Bruno: “é muito importante o trabalho desempenhado pela SPA no sentido de estar revisitando sítios arqueológicos em nosso Estado. Essa atividade de vigilância é importantíssima para a salvaguarda do nosso patrimônio, além de ser um serviço que auxilia por demais os órgãos protetores como o IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e IPHAEP (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba)”. (

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Edmilson, Dominique, Paulo, Zezito e Thomas – SPA

Após a reunião, houve uma visita técnica ao prédio histórico que será a sede do Instituto, o antigo casarão da Fazenda Serra Branca e em seguida a equipe se dirigiu para a zona rural do município para visitar o sítio arqueológico Cauaçú. O sítio Cauaçú é formado por um matacão encimando um serrote com forte destaque na paisagem abrigando um painel de pinturas em vermelho ocre de uma vivacidade admirável. Do alto dos 550m de altitude, se avista a Serra do Jatobá (também conhecida por Serra Branca), a Serra do Saco e toda vastidão Cariri a dentro. Não foi constatada nenhuma depredação do lugar a não ser uma pequena exploração de granito nas cercanias há muito sustada pelos proprietários. A referida exploração já em 2002 – ano da primeira visita da equipe ao

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I Semana de História De 8 a 11 de setembro, o Campus III da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), situado em Guarabira, promoveu a 1ª Semana de História: Práticas Docentes e Diálogos Interculturais. O evento foi organizado pelo Centro Acadêmico, em parceria com o Departamento de História, e teve como objetivo ampliar os diálogos entre alunos e professores dos cursos de História de diferentes Instituições de Ensino Superior e escolas da Educação Básica. Dentre outros pontos, as temáticas de discussão abrangeram tópicos como práticas educativas do campo e da cidade; vivências de democracia participativa; movimentos de cultura popular; e Educação de Jovens e Adultos. Os trabalhos inscritos foram proponentes de vários GTs (grupos de trabalhos), além da participação dos alunos em minicursos. Houve um GT que possibilitou, entre outras temáticas, debater assuntos como Arqueologia e Educação Patrimonial: GT2 – Arqueologia, Patrimônio Cultural e Preservação, coordenado pelo confrade Prof. Pós Doutor Juvandi de Souza Santos, o qual pretendeu reunir trabalhos de arqueologia histórica ou pré-histórica mostrando sua contribuição nas áreas do Patrimônio Cultural e Preservação. Um artigo foi apresentado pelo confrade Prof. Juvandi em parceria com Laura Gois com o título: ‘A importância da educação patrimonial como resgate da cultura a partir da revitalização da feira central de Campina Grande – PB’, e atingiu o objetivo proposto, ou seja, o desejo de transmitir a interação que o LABAP/UEPB desenvolve junto à Prefeitura Municipal de Campina Grande - PMCG, no processo de revitalização da Feira Central no sentido de dar visibilidade á memória e ao patrimônio histórico, os quais ao serem contextualizados além de produzir conhecimentos, promovem a preservação arquitetônica como também cultural da Feira Central de Campina Grande.

A VIII REUNIÃO de Teoria Arqueológica da América do Sul (TAAS), será realizada na cidade de La Paz – Bolívia entre 23 e 27 de maio de 2016, e conta com a participação de confrades da Sociedade Paraibana de Arqueologia. O TAAS é baseado em uma reflexão conjunta de arqueólogos latinoamericanos sobre a situação e a projeção da teoria e da prática arqueológica no Hemisfério Sul, posição desde a qual

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VIII Reunião de Teoria Arqueológica da América do Sul

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procura interpelar os paradigmas teóricos hegemônicos. O TAAS nasceu na Argentina em 1996 e reuniu acadêmicos de várias universidades latino-americanas e instituições internacionais, como o Congresso Mundial de Arqueologia (WAC). A primeira reunião teve lugar em Vitória (Brasil), em 1998, e as reuniões subsequentes foram realizadas em Olavarría (Argentina), em 2000; Bogotá (Colômbia), em 2002; Catamarca (Argentina), em 2007; Caracas (Venezuela), em 2010; Goiânia (Brasil), em 2012; e, mais recentemente, em San Felipe (Chile), em 2014. A oitava edição do TAAS será em Maio de 2016, a primeira ocasião em que se celebra na Bolívia. O local será o Museu Nacional de Etnografia e Folclore (MUSEF), um complexo que combina a arquitetura dos séculos XVIII e XXI. MUSEF tem salas espaçosas, equipadas com a mais recente tecnologia e ideais para a reflexão, o debate e a interação acadêmica. No passado tem recebido inúmeras reuniões científicas nacionais e internacionais. Localizado no centro histórico de La Paz, o MUSEF é também uma janela para explorar a diversidade cultural da cidade mais alta da América do Sul. O TAAS também é apoiado pela Fundação Cultural do Banco Central da Bolívia, os cursos de Antropologia e Arqueologia da Universidad Mayor de San Andrés e outras organizações nacionais e internacionais. A SPA estará representada no evento pelos Professores Juvandi de Souza Santos e Thomas Bruno Oliveira, que vão organizar o Simpósio Temático 5: Arqueologia e História dos grupos humanos indígenas do pré e pós-contato da América Latina: extermínio e a fala do outro através da análise da cultura material e imaterial. Para Juvandi “a oportunidade de participar de um evento de tamanha envergadura demonstra o nível de amadurecimento de trabalho que estamos chegando. Estaremos discutindo postulados para a arqueologia de um continente e isso é por demais relevante”. O prazo para o envio de resumos se encerra em 30 de novembro de 2015. Para mais informações, visualizar o site do evento: http://viiitaas.wix.com/viiitaas2016

A Sociedade Brasileira de Espeleologia – SBE acaba de lançar o livro O Patrimônio Espeleológico em Rochas Ferruginosas: Propostas para sua conservação no Quadrilátero Ferrífero, Minas Gerais. A obra, que conta com a participação de 27 autores, trata da importância desse patrimônio pouco conhecido mas já ameaçado pela expansão da ação humana, especialmente a mineração em regiões como o Quadrilátero Ferrífero em Minas Gerais. Com mais de 340 páginas ricamente ilustradas, o livro é dividido em três partes: a primeira é uma contextualização sobre as cavernas, a espeleologia, o mineral, sua importância econômica e possíveis conflitos; a segunda parte aprofunda sobre o conhecimento do patrimônio espeleológico em rochas ferruginosas sob o ponto de vista de diferentes áreas da ciência; e a terceira parte traz propostas para gestão responsável do Quadrilátero Ferrífero e APA Sul da RMBH. Acesse o e-book gratuitamente em: www.cavernas.org.br/perferruginosas.asp

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O Patrimônio Espeleológico em Rochas Ferruginosas

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ARTIGO 1 __________________________________________________________________ Guarabira: por que aqui voa o“Pássaro Azul”? Nonato Nunes Escritor e Jornalista.

AFINAL DE CONTAS o que significa – de verdade – o topônimo “Guarabira”? Esse é um enigma sobre o qual tenho me debruçado e o objetivo não é outro senão o de desvendá-lo, recorrendo às fontes as mais diversas. Pois bem. Cruzando informações e observando certas particularidades do idioma tupi é que descobri que os índios usavam palavras distintas para distinguirem “ave” (em tupi “ua’ra”) de “pássaro” (em tupi “ui’ra”). Quando faziam uso da palavra /ua’ra/ era para dizer que não se tratava de um “pássaro pequeno”, mas, sim, de uma ave grande. Por exemplo: “Guiratinga” significa “garça branca grande”. Só que a palavra garça (do latim “gartia”), nesse caso específico, quer dizer, tão-somente, “pássaro grande branco”: “guira”. É provável que os índios considerassem a garça como “um pássaro que cresceu demais”, uma vez que poderiam simplesmente fazer uso da palavra “ua’ra” como designativo de ave. Lembrete: algumas consoantes da Língua Portuguesa não existiam na língua tupi, a exemplo de /r/, /s/, /l/, /f/, e não se conhece nenhum exemplo de palavra tupi com “d” inicial. É provável que a consoante /g/, inexistente no tupi, mas que aparece na grafia de Marcgrave, fosse uma “compensação” fonética extraída do próprio idioma português. Devemos lembrar que palavras como Araça(G)i e Cuite(G)i deveriam ser grafadas Araça(J)i e Cuite(J)i. Diante do exposto, passemos agora para a grafia “Guarabira”. Como já foi dito no parágrafo anterior, o mapa de Georg Marcgrave (1610 – 1644) grafa “Guiraobira” para se referir ao chefe que dava nome à tribo. Vamos encontrar, na dita grafia, a palavra “ui’ra” (pássaro) ao invés de “ua’ra” (ave), como foi detalhado no parágrafo acima.

Já Câmara Cascudo, no seu Novo Dicionário de História do Brasil, p. 171, grafa “Guiraobi” e traduz por “Pássaro Verde”, contrariando a tradição local que é pela coloração azul. Definitivamente, e de acordo com a etimologia da palavra, o topônimo Guarabira deve ser traduzido por “pássaro azul”. E ponto final.

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Veja o que diz, corretamente, o professor Vanderley de Brito (“Missões na capitania da Paraíba”, p.83), respeitado tupinólogo paraibano acerca da referida grafia: “Guirá”(pássaro) e “obi” (azul ou verde), e mais a partícula “yra” que designaria, conforme o estudioso, o clã ao qual pertencia o chefe. De Brito defende o significado “Pássaro Azul” ao invés de verde. A preferência pelo azul, no antropônimo em questão, se deve mais aos usos e costumes, pois, erroneamente, se atribuiu ao nome da cidade o significado “garças azuis”.

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NO DIA 01/09/2015, em solenidade realizada no Museu Assis Chateaubriand, na cidade de Campina Grande - PB, o IHCG – Instituto Histórico de Campina Grande comemorou os 122 (cento e vinte e dois) anos de nascimento do seu Patrono, o Historiador Elpídio de Almeida, que igualmente é Mesa da sessão solene - SPA Patrono da Cadeira 5 do IHGPInstituto Histórico e Geográfico Paraibano. Na oportunidade, a Presidente do Instituto Histórico de Campina Grande, Dra. Maria Ida Steinmuller distribuiu o seguinte comunicado: “A grandeza de um homem se mede por sua historia e pelo legado, que continua a se perpetuar como exemplo para as futuras gerações que se sucedem. Assim foi Elpídio de Almeida um multifacetado, homem publico voltado para as causas sociais. Atuou como medico, cientista, administrador, ambientalista, político, intelectual e historiador, se destacando em todos os segmentos. Foi um importante intelectual e contribuiu muito para a historia de Campina Grande, principalmente pelo seu livro “HISTORIA DE CAMPINA GRANDE”, primeira obra sobre os primórdios da Rainha da Borborema que é uma referencia, até hoje, para estudos sobre a cidade. É por essas e tantas outras razoes que o INSTITUTO HISTORICO DE CAMPIN GRANDE – IHCG, representado por sua Diretoria e associados, celebram com orgulho, nesta terça feira, dia 01 de setembro, os 122 anos de nascimento do seu Patrono, Elpídio de Almeida, UM HOMEM À FRENTE DO SEU TEMPO. Na oportunidade, o confrade Thomas Bruno Oliveira (que é sócio efetivo do IHCG) foi convidado para saudar os Historiadores na oportunidade de comemoração do dia do Historiador, dia 19 de agosto. Além da saudação, Thomas denunciou a demolição de mais um prédio histórico da cidade e afirmou: “Nós da Sociedade Paraibana de Arqueologia, do Inst. Histórico de Campina Grande, do Inst. Histórico e Geográfico do Cariri e demais instituições não vamos nos calar, não vamos deixar que nosso patrimônio histórico seja delapidado, demolido, desfigurado. Estamos vigilantes, atentos e faremos o possível para evitar que páginas de nosso passado possam ser rasgadas para sempre”. Após a denúncia da demolição da antiga residência de Raimundo Alves da Silva na rua Epitácio Pessoa, o confrade entregou uma homenagem do IHCG à Léa Amorim, que representava sua irmã Eneida Agra Maracajá, em comemoração à organização do 40º Festival de Inverno de Campina Grande. Logo a seguir, aconteceu o lançamento do livro “CAMPINA GRANDE NOS MEADOS DO SECULO XX”, de autoria de Maria Auxiliadora Bezerra Borba, Sócia Efetiva do IHGP e Sócia Correspondente do IHCG. O Referido trabalho foi apresentado

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Sessão Solene do IHCG e lançamento de livro

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pelo Historiador Arlindo Almeida, Sócio Fundador do IHCG – Instituto Histórico de Campina Grande. A solenidade foi deveras prestigiada, contando com a participação de intelectuais e políticos, com destaque para o Deputado Estadual Ricardo Barbosa, Manoel e Maria Barbosa. O Presidente do IHGP, Joaquim Osterne Carneiro, que também é Sócio Fundador do IHCG - Instituto Histórico de Campina Grande participou efetivamente do evento. Com informações do Boletim do IHGP (Set.2015)

NO DIA 07/09/2015, o IHGP - Instituto Histórico e Geográfico Paraibano completou 110(cento e dez) anos de existência, se constituindo na instituição cultural mais antiga em funcionamento na Paraíba. Vale recordar que, no dia 07 de setembro de 1905, objetivando comemorar a data da Independência do nosso país, foi realizada na Sala da Congregação do Liceu Paraibano, na cidade da Parahyba, capital do Estado da Parahyba, uma Sessão Especial presidida Álvaro Lopes Machado, então Presidente do Estado, que contou com a presença de 71 personalidades do mundo político, profissional e intelectual. Na aludida solenidade, após a lúcida palavra de João Pereira de Castro Pinto que discorreu sobre “A HISTORIA COLONIAL DA PARAHYBA”, Sede do IHGP, João Pessoa-PB - SPA Álvaro Lopes Machado declarou fundado o Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, sendo imediatamente lavrado o seu Termo de Fundação, que recebeu a assinatura dos presentes. Posteriormente foram realizadas mais 3 (três) sessões destinadas a elaboração do Estatuto e a eleição da primeira Diretoria. Em 12 de outubro do mesmo ano, em Sessão Solene ocorrida na sede da Assembléia Legislativa, o IHGP foi definitivamente instalado tendo assinado a Ata 48 associados, sendo também considerados Sócios Fundadores mais 3 personalidades, que, embora ausentes daquela Sessão Magna, foram eleitos para cargos diretivos. Integrado por Sócios Efetivos, Beneméritos, Honorários, Correspondentes e Colaborados, a Casa de Irineu Pinto tem por finalidade “a promoção de estudos e a difusão de conhecimentos de história, geografia e ciências afins, especialmente da Paraíba e do Brasil, assim como a promoção da cultura, a defesa e a conservação do patrimônio histórico e artístico”. Fonte: Boletim do IHGP

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IHGP completa 110 anos

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ARTIGO 2 __________________________________________________________________ Velhas histórias da Vila de Picotes Thomas Bruno Oliveira

São Mamede, cidade localizada no Seridó Ocidental Parahybano, possui um sem número de belezas naturais e culturais. Está encravada na depressão sertaneja, ornada por morros, serras e montanhas que dão majestosos contornos àquele pediplano. Uma dessas serras é Picotes, uma extensa formação granítica composta de uma sinuosidade que lembra o monólito Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro. Na base da Serra de Picotes, Serra de Picotes ao longe - SPA pelos idos de 1913 foi construída a primeira edificação pelo Sr. Manoel Vítor de Melo, pontapé inicial para a criação de um povoado. Em 1920 foi erigida a primeira capela em devoção ao Santo Antônio e em 1927 o povoado contava com várias residências e inaugurava uma feira semanal, aos sábados, que atraía comerciantes de São Mamede, Quixaba, Patos e uma vasta região. A vila de Picotes é formada por um conjunto de duas dezenas de casas dispostas em duas fileiras formando um largo corredor com a capela fechando um dos lados. Há quem considere que o povoado teve maior desenvolvimento do que a própria São Mamede na primeira metade do século XX. A estrada que cortava os sertões paraibanos passava ao lado da capela e a vila de Picotes se tornou uma parada obrigatória. Está viva na memória de moradores a passagem de políticos e artistas por ali em tempos idos. Em 2005, o filme ‘Cinema, Aspirina e Urubu’ foi gravado na vila, pelo diretor Marcelo Gomes. A história se passa no sertão nordestino de 1942 e conta a história de Johann, um alemão que para fugir da Segunda Guerra Mundial veio trabalhar como vendedor de aspirinas nas cidades do interior do Nordeste. Dirigindo seu caminhão, ele conhece Ranulpho, um paraibano que sonha ir para outra cidade. Os dois viajam pelos povoados exibindo filmes promocionais sobre a aspirina para pessoas que nunca conheceram um cinema. Segundo o historiador de São Mamede Manoel Lucena (carinhosamente conhecido por Prof. Coló), se Guel Arraes tivesse conhecido Picotes antes, o Auto da Compadecida “teria sido gravado aqui em Picotes”. O lugar é pitoresco e recheado de boas histórias. Livúzias, histórias de mal assombro, são muitas. Uma delas é da ‘Galega do Queixão’, que vive a assombrar motoristas que se destinam à cidade de Patos. Outra é uma voz de uma menina chorando, que é escutada por quem se dirige a Picotes. Ao ser perseguida, a menina vestindo branco se “encanta” (some, desaparece) em um pé de mufumbo. Há uma velha que é vista urinando de cócoras, ao ser abordada também se encanta em um Juazeiro. Outra história contada pelo Sr. Mirabeau (antigo morador que após aposentadoria voltou para morar no povoado) é a história de que um doido se

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Historiador e Jornalista, Mestre em História, sócio efetivo da SPA.

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escondeu em uma loca de pedra com medo da polícia e lá permaneceu. Ao nascer do sol, sua voz em lamento ecoava, gritando, nunca descia, nem mesmo para comer. Um dia este ‘doido’ morreu e seus ossos ainda perambulam na encosta da serra. De tempos em tempos sua voz ainda é escutada no vale do Sabugí.

Vila de Picotes e Capela de São Francisco - SPA

Histórias como essas são contadas de geração em geração, constitui o patrimônio imaterial da região e é mais um ingrediente para se entender a cultura popular do interior paraibano e nordestino. Não raro, vemos folhetos de cordel em feiras livres abordando estas histórias pitorescas. A Vila de Picotes é encantadora, sua festa de padroeiro é magnífica. É só mais um atrativo do município de São Mamede, que possui um rico patrimônio histórico e inúmeros sítios arqueológicos no leito do Rio Sabugí, testemunhando a ancestralidade indígena dessas paragens. Mais uma beleza da Parahyba que merece ser conhecida. Se não conhece, arrume a Em conversa com Seu Mirabeau - SPA mochila e pé na estrada!

Mais uma demolição: patrimônio de Campina continua sendo destruído NO DIA 29 DE AGOSTO, uma máquina escavadeira foi estacionada defronte ao nº 176 da Rua Epitácio Pessoa em Campina Grande-PB nas primeiras horas da manhã. Estava ali o prenúncio do que estava decretado a acontecer: a demolição daquele prédio histórico. Escavadeira defronte ao prédio - SPA O casarão da década de 1930 pertenceu a Raimundo Alves da Silva, proprietário da ‘Chrysler & Plymouth Importadora e Exportadora de automóveis’, loja com matriz em Campina Grande-PB e filial em Nova Iorque (EUA). Raimundo Alves foi um destacado empresário nas décadas de 1940 e 1950, um dos homens ricos da antiga Rua do Lapa.

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Por Thomas Bruno Oliveira

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já que estávamos em uma manhã de sábado. Em seguida conversamos com o responsável pela obra e verificamos a documentação: uma autorização de demolição da Secretaria de Obras da Prefeitura Municipal de Campina Grande e um parecer do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba – IPHAEP dando

Predio fechado, antes da demolição - SPA

Azulejaria fragmentada ao chão - SPA

Detalhes do prédio - SPA

algumas recomendações (somente!) no sentido de preservar uma série de elementos estilísticos em futuras intervenções. Aconselhamos a não demolição e a leitura atenta do documento do IPHAEP por algum advogado. A atitude adiou a demolição por algumas horas. O que seria demolido pela manhã, acabou por ocorrer a partir das 16h50 da tarde Iniciais de Raimundo Alves da Silva no portão - SPA de sábado. A escavadeira pôs abaixo toda a estrutura do prédio, pondo fim à história arquitetônica de quase um século. Aos poucos a arquitetura de Campina Grande vem sendo mutilada, aos poucos prédios históricos vão dando espaço a estacionamentos e a edifícios caixões de alguns andares, aos poucos a cidade de Campina Grande vai perdendo seus marcos temporais,

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Com estilo eclético intencional ou kitsch, reunindo elementos do neoclássico, neogótico, “falso” barroco, etc., o prédio manteve ao longo dos anos suas características que foram preservadas até este dia. Tomando conhecimento do que estava para acontecer, me dirigi ao Sebo ‘O Catalivros’ na Praça Clementino Procópio, lugar em que certamente encontraria algum amigo, pois ali, aos sábados, diversos intelectuais se unem para dialogar amenidades e coisas da história e cultura da cidade. Estava lá o pesquisador Daniel Duarte Pereira, a quem comuniquei o fato. Estarrecidos, nos unimos ao Historiador Katiano Aureliano no sentido de tentar evitar a demolição. Inicialmente tentamos contatar a Direção do IPHAEP e depois acionar a justiça e tivemos inúmeras dificuldades,

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seu passado, em nome de uma artificialidade própria desses tempos globais. A demolição não pôde ser impedida exatamente pelo fato do imóvel não estar dentro do perímetro inscrito como Centro Histórico de Campina Grande, distante deste alguns poucos metros. Segundo o IPHAEP: “A falta de incidência de proteção legal no referido imóvel (por estar localizado fora do perímetro de tombamento desta cidade), a demolição ocorrida não infringiu quaisquer das diretrizes normativas estabelecidas nos decretos e leis que regem a atuação do IPHAEP, assim sendo, não houve irregularidade perante este Instituto”. Uma fronteira tênue... aqui é Centro Histórico, 50m depois não é. Como não? O início do século XX foi extremamente promissor para Campina Grande, a “Canaã de leais forasteiros” como diz seu hino teve um boom de desenvolvimento, de atração de contingente populacional e de investimento, cidade que até a década de 1960 foi maior que a capital João Pessoa em todos os aspectos, e o que vamos ter para lembrar desse período? O que teremos como marco para lembrar e se inspirar? Campina desfaz de seus vestígios históricos com a mesma rapidez com que deseja construir novos. Êta Campina, como disse Severino Ramos em sua música ‘Alô Campina Grande’: quem te viu e quem te vê não te conhece mais...

Chamada de artigos para Revista Tarairiú A REVISTA ELETRÔNICA TARAIRIÚ (issn 2179-8168) é uma publicação do Laboratório de Arqueologia e Paleontologia da UEPB (LABAP/UEPB), com sede em Campina Grande-PB, e surge como um novo meio de divulgação de pesquisas nos seguintes campos científicos: 1. História do povoamento pré-histórico e histórico da América Latina; 2. Arqueologia; 3. Paleontologia; 4. Espeleologia. As pesquisas e debates científicos nestas áreas compõe o objetivo da Revista que publica artigos inéditos, resenhas e entrevistas redigidos em português, inglês, espanhol ou francês. De periodicidade semestral, a Revista Tarairiú recebe contribuições em fluxo contínuo, de acordo com as Normas para Submissão. Para o próximo número, o prazo para envio é 15 de dezembro. A Revista Tarairiú possui Qualis B4.

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– Mapa de atuação da SPA em Setembro de 2015 –

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