Boletim Informativo da SPA Nº123 jun 2016

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REUNIÃO ENTRE SPA E IPHAN ACONTECE EM CAMPINA GRANDE

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NA TARDE DO DIA 25 de Maio, o Presidente da SPA, Prof. Erik Brito, juntamente com o confrade Prof. Vanderley de Brito se reuniram no Laboratório de Arqueologia e Paleontologia da UEPB (LABAP), em Campina Grande, com a arqueóloga Ana Cunha e a Chefe da Divisão Técnica do IPHAN na Paraíba, Profª Cristiane Sarmento, para debater assuntos inerentes a arqueologia no Estado. A reunião debateu diversos assuntos, como o projeto de decalque da Pedra do Ingá que foi encaminhado ao IPHAN e um sítio de indústria lítica notificado ao IPHAN no município de Caapoã-PB, mas se pautou principalmente na necessidade de uma parceria técnica entre o IPHAN e a SPA para a realização de salvamentos emergenciais no interior do Estado, quando necessários, uma vez que muito material se perde em trabalhos emergenciais (como limpezas de tanques e lagoas assoreadas) sem serem resgatados devido a falta de acompanhamento de técnicos, já que estes serviços não demandam por


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lei acompanhamento arqueológico, e principalmente, quando há notícias desses achados, a burocracia necessária para estes resgates e a falta de pessoal no IPHAN impossibilita qualquer realização desta natureza. Desse modo, muito material, especialmente fóssil, vem se perdendo e sendo destruído indiscriminadamente pelas picaretas operárias. Também se debateu na reunião a importância de uma parceria mútua entre as instituições para o levantamento e registro do máximo possível de sítios arqueológicos na Paraíba para o arquivo do IPHAN, uma vez que o órgão só dispõe do registro de 180 sítios em todo o Estado, enquanto as equipes de campo da SPA já visitaram mais de 500 sítios no território. Na reunião, propostas foram lançadas para a resolução destes problemas em debate e serão analisadas para posterior encontro das entidades. Encerrada esta primeira parte da reunião com as representantes do IPHAN, o membros presentes deram início a Reunião de Diretoria da SPA para analisar uma pauta onde a professora Ana Maria da Silva Gomes de Oliveira Lucio de Sousa, bolsista CAPES e doutoranda na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, sob a orientação da Prof. Dra. Josildeth Gomes Consorte, através do Programa de Ciências Sociais, sob a área de concentração em Antropologia, havia se candidatado a integrar o quadro de sócios da SPA em virtude de uma pesquisa que vem desenvolvendo na região do município de Patos, sobre a importância do som e das diferentes paisagens sonoras constituídas pelo homem antigo paraibano e visando compreender o som como artefato e assim sendo, possuidor de características heurísticas de inestimável valor para a compreensão de diferentes aspectos na relação entre o homem e o seu entorno. Considerando, neste contexto, as suas dimensões materiais e imateriais. Compreendendo que este projeto norteia a Sociedade desde a sua fundação, pois está relacionado a valorização e preservação do acervo patrimonial do estado da Paraíba, estando relacionado aos valores naturais, históricos e arqueológicos, os representantes da SPA presentes aprovaram a solicitação da professora, que a partir desta data passa a compor o quadro de sócios correspondentes da entidade. (

O PALEONTÓLOGO GIUSEPPE Leonardi natural de Veneza, Itália e cidadão sousense por título concedido pela Câmara Municipal de Sousa, em 1981 pelos relevantes serviços prestados ao município ao divulgar as pegadas de dinossauros a partir de 1975, através de trabalhos, teses, ensaios e textos científicos para outras instituições de pesquisas no Brasil e no exterior. Uma destas publicações está no livro “Sulle Orme Dei

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Paleontólogo Giuseppe Leonardi visita Vale dos Dinossauros, Sousa-PB

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No presente, o Professor Leonardi trabalha no seu novo livro (ainda sem título), conforme declarou é um manual com mais de trezentas páginas sobre paleontologia incluindo as pegadas fossilizadas do Vale dos Dinossauros de Sousa, onde a cidade, segundo o próprio, terá um destaque especial na publicação. “Lançarei meu mais recente livro nos Estados Unidos, mais precisamente do Estado de Indiana, contará com mais de trezentas páginas no idioma inglês”. “Minha primeira intenção era lançar primeiro no Brasil e em português, mas infelizmente a situação econômica do Brasil não é satisfatória e isso dificultou para que a impressão fosse aqui, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro”, completou.

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Dinossauri”, editado em 1984, na Itália pela editora Erizzo Editrice (sem tradução para o Brasil) que trata de uma coletânea das pesquisas de vários paleontólogos do mundo. Nele o Professor Leonardi reserva um capítulo especial sobre o Vale dos Dinossauros detalhando em textos e fotos todas as suas descobertas. A própria proteção da capa do livro traz a foto da trilha de pegadas de iguanodonte Mantell, no sítio Ilha, Passagem das Pedras, em Sousa PB.

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VALE DOS DINOSSAUROS – AULA DE CAMPO Giuseppe Leonardi chegou à cidade de Sousa no final de junho passado juntamente com Ismar de Sousa Carvalho, paleontólogo do Museu Nacional de Rio de Janeiro e estudantes de pósgraduação do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), para uma aula de campo no Monumento Natural Vale dos Dinossauros. Antes de chegarem a Sousa participaram da “inauguração do Centro de Referência Casa de Pedra da Universidade Federal do Rio de Janeiro, instalado em Santana do Cariri, sul do estado do Ceará. O projeto tem o objetivo de acolher estudantes, professores e pesquisadores em Geociências para a prática de atividades de ensino e extensão nas áreas de geologia, geografia, paleontologia e meteorologia. O Centro terá capacidade para 60 alunos com permanência máxima de dez dias”. “Um dos projetos visa à difusão das Geociências e a qualificação de docentes do ensino médio e fundamental, com a parceria da Urca. A conservação de fósseis também está inserida nos objetivos das pesquisas na área, caracterizada pela diversidade fossilífera de insetos, peixes e répteis. A instalação da Casa de Pedra é ainda uma forma de incentivar o geoturismo e combater o comércio ilegal de fósseis.”

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GIUSEPPE LEONARDI VISITA PEGADAS CATALOGADAS NO PASSADO Em Sousa, Giuseppe Leonardi aproveitou a estadia por três dias para visitar demoradamente o museu onde viu o osso fóssil de um dinossauro saurópode, jovem encontrado pelo sousense Luiz Carlos da Silva Gomes, em 2014, que a seguir foi extraído pela paleontóloga Aline Gilhardi e auxiliares, do Paleolab (Laboratório de Paleontologia), do Departamento de Geologia, Centro de Tecnologia e Geociências, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Agora, o osso se encontra no museu, em Sousa, mas ainda está aguardando a publicação em revista científica, quando, após será levado à exposição para ser visto por turistas e pesquisadores. O Prof. Leonardi também visitou sítios com pegadas nas cercanias de Sousa e no vizinho município de São João do Rio do Peixe. Esteve no sitio Lagoa do Forno (SousaPb), onde Luiz Carlos descobriu o primeiro fóssil do Cretáceo Brasileiro, algo então inédito para o Vale dos Dinossauros, pois havia a teoria de que onde existem pegadas, os ossos fossilizados de dinossauros estariam ausentes, visto que os ambientes não eram favoráveis a preservação destes. O paleontólogo esteve no sitio Lagoa do Forno onde o fóssil foi encontrado constatando que ali existiu um rio ou riacho no Cretáceo Inferior onde o dinossauro morreu e foi levado pela correnteza. “Aqui poderá existir outras partes do dinossauro.” No último dia em Sousa do Professor Giuseppe Leonardi, além de Luiz Carlos (da Movissauros), estava presente a paleontóloga Maria de Fátima Cavalcante Ferreira dos Santos, Diretora do Museu Câmara Cascudo, em Natal-RN, com quem Leonardi fez uma parceria para publicar em 2006, “New dinosaur tracksites from the Sousa Lower Cretaceous basin (Paraíba, Brasil)”, ISSN: 0392-0534. Foram visitadas as localidades icnofossilíferas: Aroeiras, onde infelizmente após 40 anos que o Professor Leonardi esteve lá a estrada vicinal havia sido mudada de lugar e novas cercas foram construídas. No ano de 1976 o Prof. Leonardi ainda não contava com o GPS. No passado Giuseppe Leonardi havia encontrado pegadas ao lado da estrada que no presente não mais existia. Depois daquela frustração o próximo sitio a ser visitado foi Engenho Novo que não obstante grande parte das pegadas catalogadas por Giuseppe Leonardi já tenham sido destruídas pela erosão, mesmo assim puderam ser encontradas pegadas de dinossauros saurópode e terópodes, bem impressas, que animaram aos paleontólogos, inclusive para visitas futuras dos pesquisadores brasileiros. Outros sítios visitados naquele dia foram Juazeirinho e Rio Novo, ou Rio da Volta, no sítio Araçá. Todos os sítios visitados naquele dia localizam-se no município de São João do Rio do Peixe, muito importante dentro do contexto Vale dos Dinossauros. No entanto, naquele município ainda falta muito para o envolvimento da população e das autoridades locais para a preservação daqueles sítios com pegadas de dinossauros, marcas de ondas e de invertebrados. Para os amigos e admiradores de Giuseppe Leonardi, (77 anos), acredita que dificilmente ele retornará à cidade de Sousa, não somente pela idade, pois é uma pessoa saudável que até a poucos anos atrás praticava alpinismo, mas pelos custos da viagem de Veneza até a Paraíba que são bastante elevados, para serem bancados pelo padrepaleontólogo, salvo, se vier a convite, com todas as despesas pagas. Por Luiz Carlos S. Gomes

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Arqueóloga que batalha para preservar os vestígios dos primeiros homens das Américas UMA LUTA TRAVADA pela preservação de relíquias da pré-história do Brasil pode, enfim, estar caminhando para um final feliz graças aos esforços de uma arqueóloga de 83 anos. Dona de uma história que se confunde com o do Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí, Niède Guidon batalha há quase 40 anos para manter intactos os mais importantes registros da saga dos primeiros homens a pisarem no atual território nacional, há mais de 20 mil anos. No fim de fevereiro, o juiz federal Pablo Baldivieso determinou provisoriamente que a União, Ibama e Iphan (instituto responsável pelo patrimônio histórico) repassem R$ 4,49 milhões para a manutenção e conservação do parque, e deu um prazo de um ano para que o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), responsável pela administração, elabore um plano de manejo. Para o magistrado, houve omissão dos órgãos em relação ao espaço. Segundo o Iphan, que diz ter o menor orçamento das três entidades, a decisão não estipula o valor que deve ser pago por cada uma e ignora o fato de que a petição inicial, da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) do Piauí, pede que o dinheiro saia da Câmara de Compensação Ambiental federal. O órgão vai recorrer. Se as medidas realmente forem tomadas – a sentença prevê uma multa diária de R$ 10 mil em caso de descumprimento –, será possível vencer o atual momento crítico vivido pelo espaço, avalia Niède, para logo alertar que esse dinheiro, sozinho, não é o suficiente: “Não sei por quanto tempo aguentaríamos”, diz ela em conversa com a BBC Brasil. “Precisamos de uma verba regular de R$ 400 mil por mês para manter o parque.”

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Histórias entrelaçadas

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Sua história começou a se confundir com a do sertão piauiense no início da década de 1970, quando Niède deu início, acompanhada por um grupo de colegas franceses e brasileiros, a uma série de expedições arqueológicas a São Raimundo Nonato. Acabou se encantando profundamente com os tesouros naturais e culturais que encontrou. Foi por iniciativa dela que, em 1978, o governo brasileiro criou o Parque Nacional da Serra da Capivara. E também foi por meio da paulista que as descobertas no sítio arqueológico do Piauí ganharam destaque internacional, em 1986, ao serem publicadas na prestigiada revista científica britânica Nature. O estudo provocou controvérsia ao sustentar o achado de artefatos humanos de mais de 30 mil anos. Até então, a data mais aceita para o início da presença do homem nas Américas era bem mais recente. Mas, a despeito dessa polêmica, a arqueóloga conseguiu estabelecer que a área havia sido ocupada por paleoíndios e caçadores-coletores antes do que se imaginava.

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A luta por mais recursos para manter o parque e enfim conseguir transformar a isolada e empobrecida região do município de São Francisco Nonato em um polo turístico soma-se às dezenas de outras que a arqueóloga tem assumido praticamente sozinha nas últimas quatro décadas. “Eu vim morar no sertão para não deixar essa riqueza se perder e poder ajudar a tirar essas pessoas da miséria”, disse, 11 anos atrás, ao receber o prêmio Prince Claus, da Holanda, quando previu: “Minha luta está longe do fim”. Niède Guidon nasceu em Jaú, no interior de São Paulo. Integrante de uma família de classe média alta de ascendência francesa, formou-se em História Natural pela USP e, aos 28 anos, foi estudar arqueologia na Universidade de Paris-Sorbonne, onde fez doutorado. Ela chegou ao retornar para o Brasil mas, por causa de sua militância política, voltou à França após o golpe militar de 1964. Lá, criou uma sólida carreira como arqueóloga.

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Cedida pelo governo francês, Niède se mudou definitivamente para São Raimundo Nonato em 1991 para administrar o parque, que acabara de ser declarado Patrimônio Cultural da Unesco. De lá para cá, fez centenas de descobertas e criou o Museu do Homem Americano. Ela também apoiou diversas iniciativas para a criação de centros comunitários e foi uma das vozes mais ativas na tentativa de transformar a região em polo turístico, com a construção de hotéis e um aeroporto internacional para viabilizar não só o parque, mas as comunidades carentes locais. “A região tem tudo para atrair milhares de turistas, menos um aeroporto e um hotel”, diz ela. “Hoje, recebemos apenas de 25 mil a 30 mil pessoas por ano. É muito pouco.” De Petrolina, onde há um aeroporto com ligação para Brasília, Recife e São Paulo, são 350 quilômetros de carro até São Raimundo Nonato. Quando chove, a estrada fica muito ruim, tornando a viagem ainda mais longa. “A maioria dos turistas estrangeiros que se interessa por esse tipo de atração é de pessoas mais idosas, o que torna tudo ainda mais complicado”, explica a arqueóloga. Um aeroporto local, previsto para ser inaugurado em 1997, só foi aberto no ano passado, mas ainda funciona de forma inconstante.

Com uma área total de 130 mil hectares, a Serra da Capivara abriga mais de 900 sítios arqueológicos, 500 deles com pinturas rupestres. Trata-se de um verdadeiro museu a céu aberto. São mais de 30 mil pinturas que revelam o cotidiano daqueles que podem ser considerados os primeiros brasileiros. As imagens mostram cenas de caça, de dança e de diferentes animais, entre tantos outros símbolos ainda não inteiramente decifrados.

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Um tesouro ameaçado

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“Essas pinturas foram feitas por homens pré-históricos que viveram aqui durante milênios. Algumas delas são datadas de 28 mil anos”, afirma Niède, ao explicar a importância da preservação do patrimônio. “São representações do cotidiano dessas pessoas, embora muitas coisas não saibamos explicar. Em todo caso, é a maior concentração de pinturas rupestres das Américas. E isso tudo em meio a paisagens maravilhosas.”

Mas, a despeito de tamanha riqueza, o parque vive em graves dificuldades financeiras. Desde o ano passado, conta a arqueóloga, o espaço não vem recebendo os repasses. Só no último mês, teve de demitir mais 27 funcionários. Das 240 pessoas que um dia trabalhavam ali, apenas 40 permanecem. “Para se ter uma ideia, em todo o entorno do parque existem 28 guaritas, uma a cada dez quilômetros”, explica a arqueóloga. “Hoje, apenas seis estão funcionando. Com as guaritas vazias, houve invasões e depredações. Portas e janelas (das sedes) foram arrombadas; janelas, vasos sanitários, fogões foram arrancados.” O parque tinha quatro carros e quatro equipes que circulavam para fazer a manutenção – tirar árvores derrubadas do caminho, limpar as estradas. Hoje há apenas um veículo e quatro homens para executar o mesmo trabalho. Para piorar, falta dinheiro até para o combustível. Sempre que pode, a própria Niède percorre o terreno na camionete, munida de facões e machados, para ajudar os

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Já foram descobertos esqueletos humanos datados em 10 mil anos e fósseis de animais há muito tempo extintos, como tigres-de-dentes-de-sabre, preguiças-gigantes e mastodontes, além de cerâmicas e artefatos de uso cotidiano de nossos antepassados. Por conta das descobertas feitas ali, foi possível traçar novas rotas para a ocupação humana das Américas.

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poucos funcionários na tarefa. Ela abre trilhas obstruídas, afasta intrusos e verifica pessoalmente o estado das pinturas. Por causa de sua luta, a arqueóloga já recebeu ameaças de morte, sobretudo por parte de caçadores que insistem em invadir o perímetro do parque.

A preservação das pinturas rupestres é um desafio à parte em meio à grave crise financeira. Enquanto na gruta francesa de Lascaux, famosa por suas pinturas rupestres de quase 20 mil anos atrás, uma réplica foi feita a 200 metros das originais para que o fluxo de visitantes não danificasse os desenhos, na Serra da Capivara as inscrições pré-históricas estão entregues a sua própria sorte. “Tínhamos uma equipe de cerca de 15 pessoas dedicadas somente à manutenção dos sítios”, explica Niède. “Os cupins e as abelhas muitas vezes fazem suas casas nas áreas das pinturas, então é preciso sempre limpar. A chuva também traz problemas, infiltrações. Tudo isso era cuidado regularmente por essa equipe, mas ela também teve que ser desmantelada por falta de verbas. Não tem mais nem um carro para isso”, lamenta. Embora surpreenda a muitos, a dedicação de uma vida inteira à Serra da Capivara, em meio a tantos desafios, é fácil de explicar – pelo menos para ela. “Eu sou uma arqueóloga”, diz, com seu jeito pragmático. “Conheço sítios no mundo inteiro. Sei muito bem a importância do que temos aqui.” Por Roberta Jansen (BBC Brasil)

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Persistência

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ARTIGO 1 __________________________________________________________________ As belezas naturais e culturais da Bolívia Juvandi de Souza Santos

Recentemente tive a oportunidade de ir à Bolívia para participar do VII TAAS, na cidade de La Paz. A partir dessa jóia dos Andes, visitei lugares e conheci pessoas que, de fato, encanta. Antes de ir à Bolívia visitei alguns sítios da internet para tomar conhecimento do que iria encontrar naquele país: sítios da internet faziam alertas acerca de sérios problemas econômicosociais, questões climáticas e caos no trânsito. Outros sítios da internet mostravam as belezas daquele país e a gentileza do povo. Confesso que só concordo com um dos pontos negativos: o caos no trânsito. No resto, a Bolívia é um país magnífico. Aos amigos leitores deste boletim, farei aqui rápidas abordagens do que presenciei na Bolívia: 1. Falam que o povo brasileiro é cordial. Que nada. Perdemos de montão para o povo boliviano. Com o meu péssimo espanhol e inglês, não tive nenhuma dificuldade de comunicação e deslocamento naquele país. Mesmo com pouco dinheiro; 2.Visitei o Lago Titicaca, localizado entre a Bolívia e o Peru, a uma altitude de cerca de 4 mil metros de altitude em relação ao nível do mar. A ida até a cidade de Copacabana, serpenteando a Cordilheira dos Andes, 1arrochado’ nos velhos ônibus que ainda circulam por ali, é simplesmente magnífico tanto a viagem quanto o lugar. O lago em si, gelado nas primeiras horas do dia e de água morna ao entardecer, merece ser

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Doutor em Arqueologia, Professor da UEPB. Sócio efetivo da SPA.

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sentido. Colocar os pés naquela água já valeu a pena a odisséia de 32 horas peregrinando em aeroportos de três países da América até chegar em La Paz. De Copacabana pega-se um pequeno barco e chega-se a Ilha do Sol, localizada acerca de 15 Km da cidade. Essa ilha é, segundo muito, o berço da Civilização Inca. Acerca de 8 Km está a Ilha da Lua, considerada a segunda ilha sagrada do povo Inca. Ainda em Copacabana a visita a bela Igreja Renascentista construída por volta de 1550 e dedicada a Virgem de Copacabana. Lá ocorre a bênção dos carros. Isso mesmo: os veículos em fila e todos enfeitados são benzidos pelo pároco local. Outro ponto formidável em Copacabana é o monte do Calvário, local em que existem cruzes que representam a Via Crucis. O mais interessante em se percorrer o local é que se percebe claramente o sincretismo religioso, pois atividades religiosas católicas e indígenas se misturam e toma conta dos espíritos até daqueles menos sensíveis. 3.La paz não é uma cidade muito grande, mas em seu centro histórico tem o que se observar, a começar pelo complexo Igreja e Convento Franciscano, a feira das Bruxas (tem de tudo mesmo), a Catedral Metropolitana, o Palácio Presidencial, o Museu de Etnografia e Folclore, o Museu do Trem, Museu do Ouro, as ruas apertadas e íngremes com casas em tijolo furado aparente de tonalidade vermelha, e quando observado a partir do bondinho que liga La Paz a cidade de El Alto, é de uma beleza única. Os picos nevados que circunda La Paz é um espetáculo natural a parte... Enfim, a Bolívia é muito mais do que o trânsito caótico, os ônibus abarrotados de gente e mercadorias. A Bolívia é eterna, berço de uma das civilizações mais sublime que existiu no planeta Terra.

NOSSO CONSÓCIO Vanderley de Brito, historiador que vem se dedicando ultimamente à arqueologia história caririzeira a partir de um projeto voltado para a genealogia da família Cosme de Brito da região de Boqueirão, percebeu inúmeros indicativos que sugerem ancestralidade judia para a família e vem empreendendo pesquisas no sentido de encontrar resquícios arqueológicos de cultura criptojudaica na região para comprovar a teoria. Recentemente, em entrevista com os mais velhos no sítio Ramada, berço telúrico da família em estudo, nosso historiador foi informado que na casa que pertenceu aos seus avós, que foi a segunda casa construída no sítio (muito provavelmente em fins do século XVIII) havia uma estrela de seis pontas pintada na caçada de entrada da casa, na verdade o suposto hexagrama figurava num intervalo entre

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Estudos sobre marranos no Cariri

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as escadarias de acesso a porta. No entanto, numa reforma ocorrida nos anos de 1940 esta escadaria foi transformada em rampa e a estrela ficou encoberta desde então. Segundo as testemunhas a estrela era em cores e muito provavelmente se tratava de um afresco, caso contrário não resistiria as pisadas constantes e se apagaria. Conforme podemos levantar, os judeus adotavam o hexagrama, a chamada Estrela de Davi, como amuleto que era colocado à entrada das casas judias, em obediência a Escritura Velha, em Deuteronómio, VI, 4-8 há referência ao costume. Portanto, se de fato houver esta estrela de seis pontas encoberta nesta calçada, esta seria a primeira prova material de que povos marranos ocuparam aquela região. A casa está abandonada desde a década de 1980, quando faleceram seus moradores, e em ruínas, desse modo, já que não há qualquer registro fotográfico do suposto hexagrama da “casa velha da Ramada” é pretensão do pesquisador realizar em breve uma sondagem na rampa para confirmar os relatos.

Numa visita recente à Pedra do Ingá o pesquisador Vanderley de Brito encontrou uma espécie que parece um molusco gastrópode muito curioso nas pedras que ficam na cachoeira por trás do monumento principal do Ingá. A suposta lesma, ou sanguessuga, está presente em todo o lugar e é formada por bolhinhas de cor rosa. Intrigado com a descoberta, o pesquisador consultou alguns moradores próximos, mas nenhum deles soube dizer de que se tratava e diziam nunca ter visto tal espécie por ali. O animal pode ser algum indicativo de poluição nas águas do Bacamarte ou mudança climática em evolução. Esta conclusão não compete aos historiadores ou arqueólogos, é reservada aos biólogos, mas seria interessante que algum pesquisador em biologia se interessasse pela inusitada presença deste animal nas proximidades da Pedra do Ingá, uma vez que o mesmo pode ser algum indicativo de que este monumento arqueológico precise de cuidados.

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Uma espécie curiosa na Pedra do Ingá

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ARTIGO 2 __________________________________________________________________ Acompanhamento arqueológico no Aluízio Campos Erik de Brito e Juvandi de Souza Santos

O perfil das grandes cidades se modifica constantemente em regime de adaptação a novos paradigmas culturais e ao crescimento demográfico. Desde a primeira metade do século XX, no Brasil, uma das principais demandas da adaptação pós-moderna é aliviar o trânsito dos centros comerciais, seja através do alargamento de vias de acesso e, principalmente, o remanejamento das populações humildes para as periferias. Campina Grande, cidade pólo do interior da Paraíba, com mais de 400.000 habitantes, vem nas últimas décadas apontando esses ares metropolitanos. Atualmente, vem sendo construído no Bairro do Ligeiro, região limite fronteiriço da cidade com o município de Queimadas, o Conjunto Habitacional Aluízio Campos, que é atualmente o maior complexo habitacional do Brasil. Composto por mais de 5.000 residências, além de escolas, postos de saúde, zonas comerciais e de lazer. O conjunto é margeado pela linha férrea, o que gera especulações sobre um possível acesso ferroviário entre o Conjunto e a Cidade, tendo em vista que o Aluízio Campos se localiza há dez quilômetros do Centro da Cidade e a quinze do Bairro Universitário, por exemplo. A obra pretende contemplar famílias de baixa renda, que vivem em áreas de risco da cidade ou desprovidas de imóvel residencial. A área do Conjunto chega a cerca de setecentos hectares, onde grande parte dessa faixa territorial corresponde a antiga fazenda do ex-senador constituinte Aluízio Campos. Uma obra de tal dimensão acarreta grandes impactos ambientais e pode trazer a tona bens arqueológicos há muito sepultados na terra, por isso o arqueólogo da Prefeitura Municipal, Dr. Juvandi de Souza Santos (membro da SPA), foi incumbido para o acompanhamento das obras, sendo assistido pelo historiado Erik Brito (Presidente da SPA). Ambos fiscalizam diariamente as escavações e prospectam a área em busca de indícios arqueológicos. Até o presente foram encontrados inúmeros vestígios históricos recentes, todavia, os pesquisadores acreditam na possibilidade de haverem vestígios préhistóricos na região, tendo em vista que as obras ocorrem a cerca de oito quilômetros da Serra do Bodopitá, onde se registra um grande somatório de sítios pré-cabralinos.

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Chamada de artigos para Revista Tarairiú

A REVISTA ELETRÔNICA TARAIRIÚ (issn 2179-8168) é uma publicação do Laboratório de Arqueologia e Paleontologia da UEPB (LABAP/UEPB), com sede em Campina Grande-PB, e surge como um novo meio de divulgação de pesquisas nos seguintes campos científicos: 1. História do povoamento pré-histórico e histórico da América Latina; 2. Arqueologia; 3. Paleontologia. 4. Espeleologia. As pesquisas e debates científicos nestas áreas compõe o objetivo da Revista que publica artigos inéditos, resenhas e entrevistas redigidos em português, inglês, espanhol ou francês. De periodicidade semestral, a Revista Tarairiú recebe contribuições em fluxo contínuo, de acordo com as Normas para Submissão. Para o próximo número, o prazo para envio é 30 de agosto de 2016. A Revista Tarairiú possui Qualis B4 e sua denominação foi escolhida como uma homenagem a grande parte dos indígenas que habitaram os sertões nordestinos, sobretudo o interior da Paraíba, que foram os índios de vários grupos Tarairiú.

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– Mapa de atuação da SPA em Junho de 2016 –

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