Aula de campo no Cariri Paraibano
Lajedo de Pai Mateus – SPA
NOS DIAS 05 E 06 DE SETEMBRO, o Prof. Dr. Juvandi de Souza Santos organizou duas aulas de campo com turmas da graduação em História do Campus III (Guarabira) da Universidade Estadual da Paraíba. As excursões visitaram duas cidades do Cariri Paraibano: São João do Cariri e Cabaceiras. A atividade foi o fechamento das disciplinas Pré-História, Brasil Coilônia e Memória e Patrimônio e teve como objetivo visitar o patrimônio histórico e arqueológico destes municípios. Em São João do Cariri, além do Sítio Arqueológico Picoitos, as turmas visitaram a Sede do Instituto Histórico e Geográfico do Cariri (Solar dos Árabes), o Museu Balduíno Lélys (prédio do antigo Mercado Público) e apreciaram a arquitetura mourisca preservada em seu centro histórico.
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Já em Cabaceiras, os alunos visitaram o Lajedo de Pai Mateus, o Museu do Homem do Cariri, além de contemplar o seu centro histórico. “Atividades como essa são interessantes porque conseguimos trazer todas as discussões da sala de aula, ainda mais quando a temática é o patrimônio histórico e sua preservação. Visualizamos pichações em monumentos naturais no sítio Picoitos e em Cabaceiras, algumas igrejas estão passando por reformas que não atendem às normas. É na aula de campo que vivenciamos a nossa realidade”, afirmou o Prof. Juvandi.
Igreja de Nossa Senhora dos Milagres de São João do Cariri – SPA
NO DIA 22 DE SETEMBRO o pesquisador Vanderley de Brito foi até o sítio arqueológico Itacoatiara do Estreito, na zona rural de Campina Grande, distante 12km da cidade, para verificar se este sítio não estaria sujeito a qualquer dano com a duplicação da estrada que liga Campina Grande ao distrito de Catolé de Boa Vista que está sendo executada pelo Governo Estadual. Ponte do Estreito – SPA A estrada passa a aproximadamente 1km de distância do conjunto de inscrições, mas cruza o rio Logradouro, onde a ponte também será duplicada, e o pesquisador achou que seria interessante prospectar a superfície dos arredores da ponte antes que os serviços atinjam o local. Feito isso, sem que nada fosse encontrado, Vanderley foi acompanhando o leito seco do rio até a Itacoatiara do Estreito para verificar se a mesma não sofreu outros danos desde a última visita. Felizmente, por se tratar de um lugar ermo, ali nunca se registrou danos antrópicos e, conforme foi verificada, a pedra com gravuras continua incólume. No entanto, não entendemos porque não há um projeto de acompanhamento arqueológico, típico em atividades de impacto ambiental.
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Expedição à Itacoatiara do Estreito
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Comissão para o Sesquicentenário de Campina Grande-PB
atividades. Com pouco mais de um ano para a execução, as atividades iniciam com atraso. Até o momento, o assunto só fazia parte de rodas de conversa de alguns intelectuais da cidade que demonstravam preocupação em relação à necessidade de iniciativa do poder público a respeito dessa marcante comemoração. Para a festa do Centenário da cidade, ocorrida em 1964, “havia começado a ser programada em 1961 [três anos antes], quando foi criada a Comissão do Centenário (COMCENT), responsável pela organização dos vários eventos e obras que deveriam marcar para sempre a data magna da cidade” (SOUZA, 2004) e por ausência de aporte financeiro, os trabalhos só se efetivaram no segundo semestre do ano seguinte, até então, tudo estava no campo do planejamento. Paralelamente, um programa de rádio ia ao ar aos domingos, o ‘Cidade Centenária’, coordenado por Noaldo Dantas onde surgiram uma série de ideias para a cidade: “Foram tantas as sugestões e solicitações que somente com as mudanças propostas daria para fazer uma cidade inteiramente nova [...] Apesar das inúmeras diferenças sociais que marcavam os campinenses, a cidade (quase) pertenceu a todos” (SOUZA, 2004). Quarenta e nove anos após, foi dado o pontapé inicial para as comemorações do sesquicentenário da cidade. Estiveram presentes na Associação Comercial intelectuais e outros agentes como Chico Pereira, Maria Ida Steinmuller, José Morais Lucas, Edson Vasconcelos, Labas, Eneida Agra Maracajá, o Prefeito à época do Centenário João Jerônimo da Costa (hoje com noventa anos, de presença e de memórias), José Edmilson Rodrigues, Alexandre Moura, Marlene Alves, Aluísio Guimarães, Roberto Loureiro, Leidson Farias, Márcio Canielo, José Marques Filho, o vereador Lula Cabral, Roberto Coura, Yara Macêdo, Liélia Oliveira, Tovar Correia, e muitos outros. Representando a SPA estava o seu Presidente Thomas Bruno Oliveira. Ideias foram ventiladas, no entanto, objetivou-se apenas criar uma Comissão que pudesse se reunir e elencar as demandas necessárias para as comemorações. O grupo é formado por sete pessoas, são elas: Yara Macêdo, Nora Almeida, Eduardo Amorim, Celeide Farias, José Lucas, Rogério Freire e o Prefeito Municipal Romero Rodrigues, que encabeçará a comissão e escolherá os nomes de mais seis pessoas da administração para integrar a Comissão. Para saber mais sobre as comemorações do Centenário, leia o artigo ‘A Festa do Centenário de Campina Grande ou a criação de uma identidade coletiva’ do confrade da SPA Prof. Dr. Antônio Clarindo B. de SOUZA, disponível no link
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SPA
NO DIA 03 DE SETEMBRO houve a primeira reunião organizada pela Prefeitura Municipal de Campina Grande visando às comemorações dos 150 anos da cidade, ano festivo que terá início no próximo dia 12 de outubro, um dia depois de completados 149 anos de emancipação política. O encontro foi realizado no auditório da Associação Comercial de Campina Grande – ACCG com o objetivo de formar uma Comissão Geral para as
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O PROJETO CATÁLOGO Geral dos Manuscritos Avulsos e em Códices referentes à História Indígena e Escravidão Negra no Brasil, da UFCG, patrocinado pelo Ministério da Cultura Petrobras Cultura, executado pela Fundação Parque Tecnológico e Coordenado pela Profa. Dra. Juciene Ricarte Apolinário realizou no dia 18 de setembro, no Teatro Municipal Severino Cabral, o I Encontro de Documento, Memória, Preservação e Difusão com apoio do Instituto Histórico de Campina Grande. A promoção do evento Divulgação reafirmou a compreensão de que os documentos históricos existentes tanto no Brasil como no exterior pertencem à sociedade brasileira, cujo povo tem hoje o direito constitucional e inalienável de acesso aos conjuntos documentais produzidos ao longo de sua história que a envolvem diretamente. Direito as fontes documentais significa um dos pilares dos Direitos Humanos que é o Direito a Informação. Urge que os Estados brasileiros promovam e incentivem projetos de levantamento, catalogação e digitalização dos acervos documentais existentes nos seus territórios para que a totalidade das fontes históricas, componentes da memória nacional, seja preservada. O objetivo é alcançarmos uma maior facilidade de acesso às informações contidas nos documentos, informações essas a que todos temos direito indeclinável como integrantes de uma sociedade que se quer democrática. Foram palestrantes do evento duas autoridades brasileiras doutores e atuantes na área de patrimônio documental e difusão da memória nacional no Brasil e no exterior, Esther Caldas Bertoletii, ex-funcionária da Biblioteca Nacional, sócia do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, e o diplomata brasileiro André Ricardo Heráclio do Rêgo, Conselheiro da Comissão de Países de Língua Portuguesa (CPLP). A debatedora e coordenadora dos trabalhos foi a Profa. Juciene Ricarte Apolinário, professora do curso de História da Universidade Federal de Campina Grande e coordenadora do Projeto Catálogo. O evento também contou com o lançamento de livros de sócios do Instituto Histórico de Campina Grande, Casa Elpídio de Almeida e de historiadores convidados além da posse como sócio efetivo dos Professores Doutores Iranilson Burity e Gervácio Batista Aranha (UFCG), Josué Sylvestre e Emmanuel Sousa (do blog Retalhos Históricos de Campina Grande). O diploma de sócio efetivo do Professor Gervácio foi entregue pelo confrade e Presidente da SPA Thomas Bruno Oliveira, que também esteve na organização do evento.
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Documentos, Memória, Preservação e Difusão
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Resgate de urnas incentiva instalação do Museu de Arqueologia de Pilões - PB
Trabalho em campo – Acervo do LA UFPE
EM MEADOS DE SETEMBRO de 2009, estudiosos da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, que faziam trabalho de prospecção arqueológica por conta da instalação de uma subestação de energia da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco – Chesf, encontraram, na área rural do município de Pilões, na Paraíba, uma série de urnas funerárias pré-históricas. Após pesquisas, foi descoberto que aquela área se tratava de um cemitério indígena da tradição Aratu, e as urnas datavam dos anos de 1190 a 1682. Segundo os especialistas, os indícios mostram que o terreno poderia ter sido ocupado continuamente – ou seja, durante vários anos pela mesma tribo –, ou apenas durante períodos específicos. Por conta de ação da Superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan/PB, as obras da subestação foram suspensas, de modo que se pudesse iniciar um programa de resgate arqueológico, desenvolvido pelo Laboratório da Arqueologia da UFPE. Enquanto realizavam os estudos arqueológicos, a equipe executou sondagens e encontrou um rico acervo de material, composto principalmente por vasilhames de cerâmica. De acordo com o professor responsável pela equipe, Marcos
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Jéssica Figueiredo Acadêmica de Comunicação Social UFPB
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Albuquerque, os vasilhames estavam em bom estado de conservação, algo raro de se encontrar em sítios arqueológicos. A técnica em Arqueologia do Iphan/PB, Paola Bonfim, explica que “ao todo, foram encontrados 57 conjuntos funerários. E, no interior de algumas urnas, havia pequenos recipientes, provavelmente utilizados para oferendas, além de outros objetos da época, como blocos, lâminas de pedra, algumas muito semelhantes a machados, peças de adorno, entre outros”. Segundo ela, esses objetos provavelmente pertenciam aos respectivos mortos. Durante as escavações, também foi observado que provavelmente as urnas já haviam sido abertas e os corpos retirados. De acordo com os estudos do professor Marcos Albuquerque, os cadáveres provavelmente foram retirados ou para um sepultamento secundário ou para outro ritual da própria tribo, porém ainda não identificado. O único indício humano encontrado pelos arqueólogos foram dois dentes molares que, segundo o professor, “podem ter se desprendido do corpo durante a retirada do esqueleto”. Processo de resgate Finalizadas as escavações e os estudos no terreno de Pilões, os estudiosos reuniram as peças resgatadas e levaram para o Laboratório de Arqueologia da Universidade Federal de Pernambuco, para que fossem devidamente restauradas. Após a organização, identificação e catalogação do material fragmentado, os arqueólogos deram início à recomposição das peças encontradas. O primeiro passo para recompor os objetos encontrados é aquecê-los. Após o aquecimento, a equipe adiciona na borda da peça – no caso, dos vasilhames de cerâmica – uma espécie de colante conhecido como “asa de barata”. Depois desse processo, o objeto novamente é aquecido e então é feita a união das partes e retirado o excesso do composto. Posteriormente, os arqueólogos cobrem o artefato com gesso odontológico, para disfarçar as emendas. Por fim, as peças recebem a pigmentação aproximada do original, e ganham sua identidade visual.
A descoberta das urnas funerárias em Pilões causou grande comoção na população da cidade. Num determinado momento, praticamente toda a comunidade próxima ao terreno se dirigiu ao local onde aconteceram as escavações e clamou pela permanência desse acervo histórico no município. Com isso, a Prefeitura Municipal de Pilões e a Superintendência do Iphan na Paraíba começaram as tratativas para se definir onde poderiam construir um museu para abrigar os utensílios e objetos encontrados na escavação. Após ser firmado um acordo entre o Iphan/PB, a prefeitura, a Chesf e a Energisa, ficou decidido que o prédio do antigo Mercado Municipal, que hoje é ocupado por comerciantes locais de forma desordenada, seria utilizado para a instalação do Museu de Arqueologia de Pilões. Com o intuito de não prejudicar o comércio da região, a prefeitura acomodou parte dos vendedores em outra área da cidade, assim liberando o espaço para a
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Construção do Museu de Arqueologia de Pilões
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restauração do prédio que abrigará o museu. Alguns quiosques com comércios compatíveis com a cultura, como artesanato, permanecerão no local. O projeto de arquitetura do Museu de Arqueologia de Pilões está em fase final e, logo em seguida, deve ser lançado o edital de licitação pela Chesf que irá possibilitar adequação do Mercado Público a fim de receber a instituição histórica. Para dar transparência a esse projeto, o Iphan/PB já Projeto de Arquitetura – Acro Arquitetura realizou quatro audências públicas para apresentar a pesquisa arqueológica e todo o projeto de arquitetura do Museu. Nessas audiências, o Instituto abriu espaço para que qualquer cidadão da cidade pudesse integrar o Grupo de Trabalho para planejar a criação e manutenção do Museu. Esse GT vem trabalhando intensamente e já finalisou o plano museológico do Museu, conforme determina o Estatuto dos Museus (Lei nº 11904/2009). A Prefeitura de Pilões acredita que a importância histórica desse projeto consiste em preservar a pré-história do homem da região do brejo paraibano, além de mostrar estudos da ocupação indígena que aconteceu naquela região, nos períodos anteriores à colonização. Além disso, este espaço representa referência para a arqueologia nacional.
Além de realizar as escavações e estudos arqueológicos dos objetos encontrados no sítio de Pilões, a equipe da Universidade Federal de Pernambuco também iniciou o projeto de Educação Patrimonial. Segundo o professor Marcos Albuquerque, sempre que eles dão início a uma pesquisa num terreno de algum município, esse trabalho é realizado. O projeto de Educação Patrimonial consta em apresentar o cotidiano de trabalho dos arqueólogos a crianças, adolescentes e adultos da região, para que eles possam se familiarizar com a metodologia usada pelos estudiosos. Essa prática faz com que a população crie consciência do significado dos bens culturais encontrados e possam valorizar os objetos históricos como um símbolo da nossa cultura. Fonte: Jornal Casa do Patrimônio, Nº03, 2013. Casa do Patrimônio de João Pessoa.
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Educação Patrimonial
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Estudantes escrevem jornal voltado à educação patrimonial na Paraíba
A TERCEIRA EDIÇÃO DO JORNAL Casa do Patrimônio já está disponível. A iniciativa desenvolvida pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional na Paraíba (IPHAN-PB), por meio da Casa do Patrimônio de João Pessoa, em parceria com o Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) tem como objetivo disponibilizar informações culturais e aproximar cada vez mais a população da Paraíba com os patrimônios locais. O propósito do jornal é comunicar, ao público em geral, a dinâmica dos processos em torno do Patrimônio Cultural, e retratar diferentes pontos de vistas sobre processos educativos, dentro e fora de sala de aula, que envolvam a Educação Patrimonial. Nesta edição, o jornal apresenta matérias sobre o resgate de urnas funerárias na cidade de Pilões e a implantação de Museu de Arqueologia no local, sobre a riqueza cultural da cidade de Zabelê e sobre a história e referências culturais do bairro da Penha, em João Pessoa, com destaque para a romaria e o santuário à santa, que comemora 250 anos em 2013. O jornal traz ainda matérias sobre as iniciativas paraibanas selecionadas no Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade nos anos de 2012 e 2013. A primeira delas é sobre o trabalho desenvolvido pela Associação dos Amigos de Areia, com envolvimento dos jovens locais na preservação e valorização do patrimônio histórico. A outra matéria é sobre o Museu do Patrimônio Vivo de João Pessoa, empreendido pelo Coletivo Jaraguá, que trabalha com jovens de diferentes bairros da cidade de João Pessoa, registrando as referências culturais locais, com foco nos mestres da cultura popular. Para a produção do jornal, a Casa do Patrimônio de João Pessoa conta com a parceria da professora Jamile Paiva, do curso de Comunicação e Jornalismo da UFPB, que coordena o grupo de estudantes que produzem as matérias.
Fonte: Ascom – IPHAN/PB
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O Jornal pode ser acessado no blog da Casa do Patrimônio de João Pessoa: http://casadopatrimoniojp.com.
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Raul Córdula – Memórias do Olhar
Abertura: 07 de novembro de 2013 Horário: 19h Local: Instituto de Arte Contemporânea - IAC-UFPE Visitação: 08 a 29 de novembro de 2013 Seg. a sex.: 8h às 12 / 14h às 18h Rua Benfica 157 . Madalena, 50720-001 Recife-PE
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O INSTITUTO DE Arte Contemporânea da UFPE apresentará entre os dias 7 e 29 de novembro a exposição Memórias do Olhar, do artista Raul Córdula. A mostra é composta de quatro visões da obra de Raul montadas cada uma em sala diferente, distribuídas assim: Memórias do Olhar, a sala que dá nome á exposição, se trata de uma série de objetos compostos Divulgação por coisas guardadas em seu ateliê por décadas, como folhas de papel de desenho, embalagens, óculos velhos, pincéis, esquadros, etc. Ele trata estas “memórias” guardadas no tempo e no espaço como fetiches de um rito próprio que seu cotidiano formou naturalmente. As três outras salas são ocupadas pelas continuações do que ele desenvolveu em exposição realizada ano passado na Galeria Janete costa do parque dona Lindu. A primeira é Made in PB – Feito em Chumbo, uma leitura da bandeira da Paraíba – a bandeira do NÉGO – onde estão expostas palavras nas paredes de uma sala antiga pintada de vermelho. Estas palavras são o título da série e a frase do poeta paraibano Augusto dos Anjos “Acostuma-te à lama que te espera.” Aludindo ao fato de os Tenentes de 1930 terem também sido os Generais de 1964. Outra sala é uma homenagem aos desaparecidos da guerrilha do Araguaia, um desenho que mede 1.50m por 4.50m que foi exposto no chão da Galeria Janete Costa e onde, no último dia da exposição, os dançarinos de Street Dance que se apresentam no Parque, dançaram sobre este desenho a convite de Raul, criando simbolicamente um “rito de passagem” pela movimentação dos dançarinos sobre os desenhos dos corpos e dos nomes escritos dos 52 guerrilheiros desaparecidos. O desenho será exposto na parede e será exibido o vídeo com a dança, de autoria de Amélia Couto. Na última sala o IAC remonta a cartilha Vamos Colorir: uma mesa com papeis onde estão desenhados padrões geométricos criados por Raul para os visitantes colorirem. Nas paredes estão placas de acrílico transparentes com os mesmos padrões desenhados em baixo relevo.
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‘Tam nas nuvens’ traz interior da Paraíba O INTERIOR DA PARAÍBA é o tema da reportagem de capa da revista TAM Nas Nuvens, edição deste mês. A publicação traz o especial “Em busca de suas raízes”, com seis reportagens que descrevem o melhor de quatro regiões visitadas pela reportagem, que contou com apoio logístico do Governo do Estado, por meio da PBTur (Empresa Paraibana de Turismo). Divulgação O destaque dado para a Paraíba está na matéria “Os Elos Perdidos”, que explora um lajeado de 600 milhões de anos. A expedição foi guiada por um paleontólogo e um geólogo, que partiram de João Pessoa em direção aos municípios de Cabeceiras, Sousa e Ingá. De acordo com o relato, as curiosas formações rochosas do interior da Paraíba, como o Lajeado do Pai Mateus, registram a maior incidência mundial de pegadas de dinossauros e inscrições esculpidas em baixo-relevo - um verdadeiro paraíso para os amantes da pré-história e da arqueologia. O Vale dos Dinossauros, a 400 km de João Pessoa, é uma das paisagens de maior destaque da reportagem, que apresenta inscrições feitas há mais de seis mil anos nas rochas, como resquícios do início da arte no Brasil. Para reforçar a teoria, a TAM Nas Nuvens abre espaço para o escritor paraibano Ariano Suassuna, que explica: “É um absurdo dizer que a arte só chegou ao Brasil com os portugueses. Já havia todo um patrimônio cultural aqui antes da chegada deles”. A TAM Nas Nuvens é distribuída nos voos da TAM e sua versão para iPad está disponível para download na App Store. A versão digital da edição mais recente também pode ser visualizada em www.tamnasnuvens.com.br/revista/site. A Revista TAM Nas Nuvens é distribuída mensalmente para os passageiros da companhia aérea em todos os voos nacionais e internacionais e cada edição chega a 150 mil exemplares, com uma estimativa de mais de 2,7 milhões de leitores. A revista é uma publicação bilíngue (português/inglês e português/espanhol). Fonte: Secom Paraíba
OS ANAIS DO 32º Congresso Brasileiro de Espeleologia, evento realizado de 11 a 14 de julho em Barreiras BA está no ar. A publicação contou com o apoio da Cooperação Técnica SBE-VC-RBMA e está disponível gratuitamente na página www.cavernas.org.br/32cbeanais.asp. O evento contou com participação do confrade Juvandi de Souza Santos, representando o Grupo Paraíba de Espeleologia (GPE-UEPB).
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Anais do 32º CBE
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Gravuras rupestres somem de sítios arqueológicos na Amazônia
Um sítio arqueológico localizado em terra indígena no município de São Gabriel da Cachoeira, na região do Alto Rio Negro, no norte do Estado do Amazonas, vem sendo alvo de depredações e, possivelmente, de furtos para atender demandas de colecionadores ou de comercialização de gravuras rupestres (petróglifos) em outras regiões do país ou no exterior. Em São Gabriel da Cachoeira (a 858 quilômetros de Manaus), 90% da população é indígena, pertencente a 23 etnias. Ali estão alguns dos mais relevantes sítios arqueológicos do Brasil, formados por rochas ribeirinhas, sazonalmente submersas, com gravuras rupestres com mais de 3 mil anos, segundo arqueólogos. Os indígenas consideram as áreas das gravuras rupestres um local sagrado e de forte relação com a sua cosmologia e ancestralidade. As figuras ficam visíveis apenas na época da vazante do rio, cujo início acontece geralmente no mês de setembro (atualmente o local está submerso). Muitos dos desenhos rupestres estão documentados em publicações do etnólogo alemão Theodor KochGrünberg (1872-1924). As depredações foram denunciadas em documento enviado em março passado ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) pela Federação das Organizações Indígenas do Alto Rio Negro (Foirn), mas até o momento o órgão federal não se manifestou. A constatação de que o sítio arqueológico sofreu algum tipo de dano grave, propositalmente, para objetivos ainda desconhecidos ocorreu no final de 2012, época da “seca” do rio, quando uma equipe de professores do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas (Ifam), com sede em São Gabriel da Cachoeira, percebeu que camadas de pedras tinham sido removidas em um lugar conhecido como Itapinima, na região do rio Uaupés, afluente do rio Negro.
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Ivani Faria
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Um dos integrantes da equipe, o professor indígena da etnia tukano, Joscival Vasconcelos, fotografou a área onde teria ocorrido o furto e enviou as imagens para a direção do Ifam e para a Foirn. Lajes removidas A professora Roberta de Lima, integrante da equipe do Ifam, contou que ela e outros colegas estavam fotografando e identificando as gravuras para reconhecimento de marcos históricos da área. Quando chegaram às rochas, localizadas a meia hora de voadeira da sede do município de São Gabriel da Cachoeira, em uma área despovoada, depararam com as lajes removidas. “Dois professores, entre eles o Joscival, viram que pedaços inteiros haviam desaparecidos. No lugar, estavam apenas umas partes brancas. A gente encaminhou o relatório para a diretoria do Ifam, que ficou de tomar providências. A nossa ideia era de que a Polícia Federal também investigasse”, disse Roberta. Quase no mesmo período da visita da equipe do Ifam, Maiká Schwade e Ivani Faria, dois professores da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), que ministram aulas de Licenciatura Intercultural Indígena no município, também passaram pela área e constataram a depredação do pedral onde havia gravuras rupestres, como relata Schwade: “No final do ano passado, quando descíamos da comunidade de Taracuá, a professora Ivani Faria pediu para o Rosilvado, piloteiro da voadeira, encostar no local onde estavam esses desenhos rupestres para me mostrar. Mas, antes mesmo de encostarmos, o piloteiro disse que os desenhos rupestres haviam sido roubados e que chegou a ver pessoas trabalhando no local quando foi pescar no rio Uaupés”. Swchade conta que, ao chegar ao pedral, ele e Ivani perceberam a falta de “dezenas de peças”; apenas as que estavam próximas ao rio permaneciam intatas. “Acredito que os ladrões retiraram a primeira camada (uns 10 cm de pedra) em volta de cada desenho, como se tivessem retirado a casca de uma árvore. Você imagina a dificuldade de transportar isso, é muito peso e exige muito cuidado. Acreditamos que eles só não tiraram todas porque deviam estar submersas. Nossa preocupação é que eles aproveitem mais uma época de seca para roubar o restante”, diz Schwade. As rochas de Itapinima ficam a maior parte do tempo debaixo do rio Uaupés, e aparecem apenas a partir do 2o semestre. Alertado pelos professores, o diretor do Ifam, Elias Brasilino, visitou a região e constatou os danos: “Depois que recebi um relatório decidi ir até o local. Realmente, um painel grande de pedra foi retirado. Os desenhos e os símbolos, que representam o cotidiano dos povos que ali viveram, sumiram. E era preciso uma ferramenta boa para fazer isso”, descreveu.
A arqueóloga Helena Lima, que trabalhou na região do Alto Rio Negro como professora, considera as depredações duplamente graves pois, além de destruir um patrimônio arqueológico, agridem a história e a cosmologia dos povos indígenas que habitam a área. Em fevereiro de 2011, Helena visitou as rochas do rio Uaupés e não identificou depredação: “Estive no sítio de Itapinima. Ali tem grafismos impressionantes, é um lugar sagrado que fala da cultura de várias etnias. Aliás, toda a região do Alto Rio Negro tem
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Agressão ao patrimônio e à cultura indígena
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sítios arqueológicos relevantes, embora poucas pesquisas sejam realizadas. As rochas possuem elementos da paisagem e da cultura e apresentam informações valiosíssimas sobre o passado dos índios da região. Se as depredações ou furtos estiverem ocorrendo mesmo é caso para a Polícia Federal investigar ou o Ministério Público Federal e não apenas o Iphan”, alertou. Para o arqueólogo Raoni Valle, professor do Programa de Antropologia e Arqueologia da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), caso se confirme a depredação, será “mais um lastimável registro recente de vandalismo grave em sítios de arte rupestre no Amazonas”. Ele lembrou que, em março de 2011, o Iphan interditou o sítio arqueológico Gruta do Batismo, em Presidente Figueiredo (a 107 quilômetros de Manaus), após ele e outros arqueólogos identificarem que o painel principal de pinturas rupestres fora destruído. Em entrevista concedida por e-mail, Valle disse que a diferença no caso do Alto Rio Negro é que ali se trata de uma terra indígena, portanto, um território menos exposto. Segundo ele as gravuras “são realmente muito antigas, indicadores paleoambientais indiretos sugerem que algumas podem ter 3.000 anos ou mais”.
Há pouco mais de quatro meses, no dia 8 de março, a Foirn enviou um documento ao Iphan pedindo medidas de proteção ao local e denunciando a ocorrência de “vandalismos e depredações”. O documento destaca: “Os lugares localizados nas pedras com gravuras, segundo os mais velhos, existem desde a grande viagem da cobra canoa quando a humanidade se gestava. Por razões que desconhecemos, estas pedras vêm sendo alvo de vandalismo e depredação. Assim gostaríamos de solicitar especial atenção e proteção a estes lugares”. A “cobra canoa” faz parte da narrativa dos mitos de origem do povo indígena Tukano, o mais populoso do Alto Rio Negro. No documento, a Foirn solicita o reconhecimento dos lugares sagrados indígenas como patrimônio cultural, já que são de suma importância para a história dos Tukano, “marcada nas pedras e petróglifos, nos paranás, na foz de rios que são afluentes do rio Negro, em localidades hoje consideradas cidades”. Segundo os indígenas, os lugares “constituem marcos importantes de nossa identidade, da formação e da reprodução de vida da região, pois foi nesses lugares que nossos ancestrais receberam os conhecimentos necessários para que nós, seus descendentes, transformados em gente, pudessem viver”. Os índios ainda não receberam resposta do Iphan, mas, procurada pela Pública, a coordenadora de Conhecimentos Tradicionais Associados do Iphan, Ana Gita de Olliveira, respondeu por e-mail que soube das “mutilações pelas quais as pedreiras que contém tais desenhos estão passando”. Segundo ela, ao voltar de uma viagem pelo rio Negro, de Manaus a São Gabriel da Cachoeira, realizada em fevereiro e março deste ano, entregou a denúncia à diretora do Departamento do Patrimônio Imaterial (DPI) do Iphan e “nada mais soube do assunto”. A reportagem procurou o DPI por meio de a assessoria da imprensa do Iphan e durante mais de duas semanas reforçou o pedido de entrevista por e-mail e telefone, sem obter resposta. Também enviou, por e-mail, o documento que a Foirn encaminhou ao órgão federal, mas não obteve resposta da assessoria. Procurada, a superintendente do Iphan no Amazonas, Sheila Campos, informou que “não havia sido comunicada” da situação envolvendo as gravuras rupestres, mas que,
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Ainda sem resposta do Iphan
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tão logo “o Iphan em Brasília” lhe formalizasse a denúncia, iniciaria os “trâmites para as providências de vistorias na área”. Geólogo confirma depredação recente A reportagem apresentou fotografias das rochas que teriam sido depredadas para o geólogo Marco Antônio Oliveira, superintendente do Serviço Geólogo do Brasil (CPRM) no Amazonas, que confirmou que uma parte do afloramento rochoso foi quebrada. Ele disse que é possível atestar a depredação a partir da área mais clara (como se fosse uma mancha branca), o que indica que ocorreu há pouco tempo. “Isto não foi fruto da natureza. Alguém bateu com marretada ou algum outro instrumento para pegar alguma amostra ou levar como suvenir. A gente (geólogos) também trabalha com retirada de amostras, mas são pequenas, que cabem na nossa mão. Pelo jeito, levaram uma placa muito maior, o que não é comum”, disse Oliveira, que já visitou a região do Alto Rio Negro em períodos anteriores. Oliveira defendeu uma atuação interdisciplinar de proteção do sítio rupestre e a criação de um geoparque que permitiria tanto a preservação quanto a realização de atividades turísticas. “Ali é um local muito relevante. A CPRM poderia fazer um cadastro nos geosítios e a Unesco chancelar, declarando a área como um patrimônio. A CPRM poderia fazer uma ação conjunta com o Iphan”, afirmou. Fonte: Brasil de Fato. Texto: Elaíze Farias; Foto: Ivani Faria.
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– Mapa de atuação da SPA em Setembro de 2013 –
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