Revista
Arte Trans Bahia Segunda edição. Fevereiro de 2016
Marina Garlen, 35 anos de histórias.
Coluna da Rainha LouLou
Nina Codorna
Malayka a Tranimal
Editorial
Expediente: Arte Trans Bahia, Divulgação e exposição da Arte Transformista na Bahia. Web: Transartebahia.com E-mail: Transarte.bahia@ gmail.com Telefone: 71-993228603 Diretora Geral: Edméa Barbosa Produção: Edméa Barbosa Diretora Administrativa: Mariana Figueiredo Jornalista Responsável: Manuela Simão Projeto visual: Edméa Barbosa Diagramação: Edméa Barbosa Revisão: Mayana Soares
Em junho de 2015 nasceu a ideia de catalogar as artistas transformistas que conhecíamos e foi neste momento que criamos o site Arte Trans Bahia: uma plataforma onde artistas da cena transformista da Bahia tivessem um espaço de fácil acesso para a divulgação e promoção das suas personagens e sua arte. Decidimos então produzir uma revista mensal que trate do mundo da arte transformista e faça o papel de guardar as informações. Para que esta revista tenha um serviço positivo na sociedade LGBTTQI acadêmica, estaremos convidando pesquisadoras e professoras para a cada edição escrever conosco. Nesta edição estamos lançando a coluna “Rainha LouLou” um espaço aberto para a escrita de uma das maiores transformistas da cena LGBTTQI. Loulou além de atriz, é maquiadora, figurinista e produtora cultural. Como entrevistada a produtora que mora em Angola, Pryscilla Froslleny. Acadêmico convidado, o professor e colunista do Ibahia, Gilmaro Nogueira. O site Arte Trans Bahia dedica esta segunda edição a Marina Garlen, artista por 35 anos. In memorian desde 31 de janeiro de 2016. Entrevistada pela ATB em 24 de janeiro de 2016. Pedimos desculpas por não publicar as reportagens com Petra Peron e Spadaina, pois a reportagem com Marina enriqueceu os espaços da revista, nossa convidadas estarão na nosa terceira edição. A revista Arte Trans Bahia e suas colaboradoras agradecem a todas as pessoas pelo apoio e incentivo. Att, Editora Arte Trans Bahia
Matérias: Mariana Figueiredo e Edméa Barbosa Especiais: Rainha LouLou, Gilmaro Nogueira Fotógrafos Arte Trans Bahia Edição: Nº2 -Fevereiro de 2016
OFERECIMENTO
MARIANA FIGUEIREDO
L E M
A S IS
S D
R A
W D E
Belíssima, fina, elegante, Edwards tem uma leveza no palco que leva a um encantamento de sua plateia. A gata ressurgiu recentemente na cena transformista, após um tempo afastada, porém já são mais de 12 anos de carreira. Apesar de jovem, demonstra uma experiência incrível, com dublagem impecável e interpretação digna de um oscar. Melissa marcou seu retorno em grande estilo, participando do concurso Talento Marujo 2015, ao comando de Valerie O’Rarah. Melissa não apenas “deu o nome” em cada prova, como transformou a final num grande espetáculo da Disney. Melissa mostrou o seu talento ao viver uma cinderela nordestina, com participação de algumas drags novatas, inclusive Desireé e Petra – que concorreram com ela e foram eliminadas em fases anteriores do concurso.
No palco tem um jeito de diva e tem total domínio. Com jeito cativante, emociona a plateia, o que nos faz querer leva-la pra casa.
MARIANA MARIANAFIGUEIREDO FIGUEIREDO
MA LAY KA SN.
TRANIMAL
Sou uma completa apaixonada pela arte transformista, babona assumida, entregue às drags – acho que já pedi todas elas em casamento alguma vez, rs. Porém, ultimamente, algumas novatas tem despertado um novo olhar, um outro tipo de paixão, diria que é uma curiosidade pela beleza diametralmente oposta aos padrões da sociedade. Estou falando do conceito tranimal. Não possuo conhecimento técnico para introduzir com perfeição tal conceito, mas em rápida pesquisa, descobri que o início do movimento é atribuído ao artista Jer Ber Jones e ao fotografo Austin
Ping Pong
Artista: Malayka SN Gênero: Queer / Tranimal Style Tempo de show: 8 meses Linha de atuação: Política / Denúncia / Psicodelia Experimental / Pós Humanidade / Monstruosidade Música que transboda emoção: SKyfall - Adele Figurino, quem assina: Eu mesmx! O que deseja para o futuro: Tranquilidade, e que eu não precise mais trazer alguns questionamentos para locais de silenciamento. Na verdade eu espero que não haja silenciamento e apropriações escancaradas e desrespeitosas. O mundo é muito maior do que a propria egocentria do luxo, ou do glamour. Ser transformista/drag é muito maior do que estar “bonitx” ou “glamourosa”, é sobre isso também, mas não pode ser somente isso.
Young, que através de oficinas tranimal popularizou ainda mais o gênero. A drag tranimal foge ao padrão de beleza socialmente imposto. Para se adequar ao conceito não precisa da peruca belíssima, batom forte, nem de um perfume que “marque” presença. Quando se fala em tranimal deve-se pensar em algo completamente diferente e pronto, avançar um passo de cem. Ao olhar um performer tranimal, você pode identificar a semelhança com uma mulher ou com um homem, tendo apenas aspectos exagerados ou simplesmente não identificar nada, ser algo tão próximo e tão
distante do humano – é algo absolutamente surreal, é algo que te prende, te desperta o ódio ou amor imediato. Apesar de ser um conceito absurdamente novo, no Brasil temos drags que aderiram e difundem esse conceito de maneira muito profissional, são belíssimas tranimals – por mais que soe estranho, é belo. Em Salvador Malayka SN. Malayka surgiu recentemente na cena transformista.. Ainda encontra resistência no meio, afinal o novo choca, mas tem sido bem recebida e vem mostrando que há espaço para todos na cena.
MARIANA FIGUEIREDO
NINA
CODORNA
Uma bonequinha que consegue ir do extremamente fofo ao lindamente assustador. Passeando pelos mais diversos estilos de drag. Codorna tem um repertório bem “COLORIDO”, por assim dizer. A moça adora dublar um bom rap ou fazer um belo musical, mas não deixa nada a desejar quando performa um pop. Definir o estilo de Nina é uma tarefa difícil, mas isso é ainda mais empolgante, não ser um ou outro, transitar entre eles. O nome, no mínimo curioso, foi explicado pela gata, digo, Codorna, em seu primeiro show a convite de Rainha Loulou, no Bar Âncora do Marujo. Nina é de uma cadela que tinha quando criança, e o Codorna ficou por conta da rua em que morava. Bom, criatividade nós já sabemos que Nina tem. O talento de Nina é inquestionável, recém chegada na cena transformista, a novata já conquistou seu espaço e o respeito de algumas veteranas bem rigorosas. Apesar de recente, a sua trajetória é de causar uma pontinha de inveja, vencedora do Festival Drag Queen, contracenou no número final da vencedora do Talento Marujo 2015. Em suas férias no Rio também performou em casas de peso, tirando que a cada aparição ela dá o nome.
EDMÉA BARBOSA
PING PONG COM PRYSCILA FLOSLLENY STRIKER
ATB- QUANDO SURGIU? PRY- Meu personagem nasceu há 10 anos em uma brincadeira numa residência na Ilha de Berlink no aniversário de um amigo, lá me deram este nome, minha mãe de show se chama Lohana Hernandez. Um ano depois conheci Nathalya Striker que se tornou minha madrinha e hoje sou muito grata. Tenho 6 anos de palco. ATB- A ARTE É SEU TRABALHO? PRY-NÃO, é um hobbie que gosto e invisto para ficar cada vez melhor, sou formada em gastronomia, chefe de cozinha internacional, já passei por 3 países e hoje estou há 8 anos residindo em Angola onde trabalho. ATB- QUAIS AS INSPIRAÇÕES ARTÍSTICAS? PRY-Me sinto muito agraciada quando vejo Valerie O’ Rarah nos palcos. Tiro um pouco de cada um, mas a maior inspiração Nathalya Striker.
ATB- ESTILO DE MÚSICA E QUAL É CARRO CHEFE? PRY-Pop internacional. Não costumo usar musicas repetidas, pois como tenho muito tempo fora busco mais músicas recentes de preferência românticas porque meu personagem faz a linha fina. De todas as músicas, a que tenho mesmo como fixa é “No Pain no Gain” e “I Believe”'. Sinto que o público gosta das duas. ATB- FIGURINO? PRY- Tenho minha própria grife. A “PGRIFF” que assina minhas produções, supervisionadas por Nathalya Striker e Arlindo Augusto (Penelop Castelone) que também assinam minhas joias. Agora a PGRIFF também fez uma parceria com Jorge Andrade que passou a assinar minhas produções e fizemos uma grande parceria assinando os figurinos de Petra Peron, que no último evento vestiu um figurino assinado por Jorge com tecidos da PGRIFF.
ATB- CONCURSOS PRY-Sou idealizadora de dois concursos o “Miss Pau Miúdo” um concurso voltado para as artistas transformistas que estão iniciando sua carreira agora. Hoje é um do concursos mais visado para eles, pois, a aparição nele é a porta de entrada para os demais concursos. “O Quartinha de ouro” um concurso de axé com o propósito de mostrar a importância de nossa cultura afro religiosa, com foco artístico. E produzo também uma noite de premiações aos artistas transformistas que se destacam ao longo do ano, o “Estrela Marujo” já em seu quarto ano. Já passaram por lá: Yanna stefans (Miss Subúrbio) Aycha Reis (Miss Pau Miúdo 2013) Kawane Spell (Miss Pau Miúdo 2012) Naome Bekker ( Miss Pau Miúdo 2014 )
Penelop Plakely (simpatia 2014, atual miss beleza internacional 2015) Lais Fernel (Miss Pau Miúdo 2015 e atual Garota Marujo 2016). ATB- CONTE UM POUCO SOBRE SEUS PROJETOS PRY-Tenho muitos projetos, mas não posso divulgar ainda. Dentre eles a nova coleção de Jorge Andrade que terá um lindo desfile em setembro e a parada gay de Salvador que este ano contara com uma surpresa da qual não posso revelar ainda. ATB- PRYSCILA POR PRYSCILLA? PRY-Uma pessoa humilde que acredita no potencial que tem e no que vê entre os outros artistas, uma pessoa que não precisa de ninguém para crescer ou ser o que sou, uma pessoa que ajuda o próximo sem esperar grande coisa.
EDMÉA BARBOSA
MARINA GARLEN, 49 ANOS, CABELEIREIRA, MAQUIADORA, ATIVISTA MILITANTE, TRAVESTI, ARTISTA, ESTUDANTE, TRANSEXUAL. ( in memoriam)
Marina Garlen foi expulsa de casa aos 16 anos, por conta da sua inadequação de gênero. Na arte transformista encontrou a possibilidade de ser fisicamente o que já era em energia, foi então que nasceu a diva que vamos apresentar. A personagem nasceu através das amizades. Frequentava muito a Praça Municipal e a Boate Tropical, no local aconteciam três shows em um bloco intitulado “Chá das Cinco”. Certa feita ao ser indagada se sabia fazer alguma música, falou de Marina Lima, pois era fã, “Fulgás” era a música atual de trabalho da cantora, estava nas paradas de sucesso, e então, descalça, com uma maquiagem “maluca”, uma saia preta e blusa da irmã de um amigo, entrou no palco e dublou impecavelmente a música que marcaria sua trajetória. Marina algum tempo depois foi vista por Dion Santiago, segundo Dion “a bicha tinha talento”. Convidada a ser produzida e amadrinhada por ela, deu início a uma trajetória de amizade e irmandade que durou 35 anos.
Fullgás
“sair d e casa e en frentar o s julgamen tos da so ciedade é ser mili tante”
MG
Meu mundo você é quem faz Música, letra e dança Tudo em você é fullgás Tudo você é quem lança Lança mais e mais Só vou te contar um segredo Não nada, nada de mal nos alcança Pois tendo em você meu brinquedo Nada machuca nem cansa Então venha me dizer o que será Da minha vida sem você Noites de frio Dia não há E um mundo estranho pra me segurar Então onde quer que você vá É lá Que eu vou estar Amor esperto Tão bom te amar E tudo de lindo que eu faço Vem com você, vem feliz Você me abre seus braços E a gente faz um país Marina Lima Compositor: Ântonio Cícero / Marina Lima Marina Garlen, 1984 na Boate Tropical.
primeira musica dublada por em
“eu
e a
maioria das
minhas amigas usava pireli para esculpir a
forma perfeita, hoje
tenho orgulho de ter o corpo que tenho”
MG
Após a produção da
ídola Dion, Marina ganhou o sobrenome Garlen e passou a ser conhecida como Marina Garlen. Já em 1985, ganhou o prêmio revelação da Boate Tropical e em 1986, participou do Miss Universo produzido pelo empresário Marcos Melo, no Teatro Castro Alves. Sobre os figurinos da época nos contou da magreza, “eu e a maioria das minhas amigas usava pireli (espuma de enchimento) para esculpir o corpo perfeito, depois fui adequando o meu corpo ao que eu queria, hoje tenho orgulho do meu corpo” Marina sobrevoou outros espaços, decidiu ir para Europa e lá viveu por 17 anos. Como profissional do sexo conquistou a casa própria e nos contou sorrindo que não conseguiu mais coisas materiais por que sempre gostou de gastar muito com tudo que lhe dava prazer. Esbanjou, se divertiu muito, casou, separou, namorou, foi muito feliz, mas contou que foi doloroso também. Além de sobreviver como profissional do sexo, teve traumatismo craniano ao ser espancada por três homens em um assalto.
O último prêmio que recebeu em vida foi o de personalidade trans de 2015, troféu valerie O’ Rarah, com voto popular. 24 de janeiro de 2015, bar Âncora do Marujo, noite do Divã com Valerie O’rarah.
Ao retornar ao Brasil, além das conquistas materiais trouxe na bagagem o prazer da dublagem internacional. Marina se era reconhecida como vedete (atrizes no Teatro de Revista, que apresentavam espetáculo teatral composto de números falados, musicais, coreográficos e humorismo, exibindo a beleza do corpo com pouca roupa de forma exuberante, com plumas, lantejoulas e poucas roupas). Garlen bailava sensualidade ao interpretar músicas das divas norte Americanas, das Francesas, a qual acabou se encontrando e fixando um dos maiores ícones da sensualidade. Indagamos Garlen sobre a história do transformismo: “Não tenho certeza de
quem foi o primeiro nome do transformismo aqui na Bahia, mas quando cheguei em Salvador tinham artistas maravilhosas na cena. Meu encanto sempre foi Dion, tanto que até hoje tenho trejeito dela.” As artistas da época eram: Dion, Karine Bargman, Jane Lecrerie (in memoriam), Dalila Blanche, Suzana Vermon (in memoriam), Ala Leidy, Lica Rios,Delila Blanche (in Memoriam),Geraldo pontes. Naquela época era difícil entrar para fazer show, Marina conseguiu através de amigos e da madrinha. “Entrei através de amigos, mas foi Dion quem abriu as portas do horário nobre para mim”.
“sempre
goste
i de es
banja r, sair fui mu i t o feli ainda z, sou e vou s er ma MG is”
namo
rar,
O copo que servia a bebida preferida de Garlen, #Tarja. Ainda exposto na pratileira do Âncora.
Marina já fazia show no “chá das cinco”, mas era nova, inexperiente, tinha talento, mas os espaços ainda eram poucos para a quantidade de artistas. Um dos paradigmas era que novatas não poderiam fazer shows no horário nobre às 00:00 horas do domingo, mas Dion quebrou a regra e afirmou que ela tinha talento suficiente para adentrar. Na época inicial da artista tinham mais casas para trabalhar, dava até para fazer rodizio de shows, percorreu em seus 35 anos a boate Skys, Caverna Holmes, Tropical, bar Rosa Negra, antigo Âncora, Aquários na Carlos Gomes, Holiday e Pigali, que eram casas de mulheres, além da Liberty Night club na Pituba, casas que abriam de quinta a domingo com shows de varias transformistas.
o mesmo trabalho sendo uma diva heteronormativa. Sobre a cena transformista atual acha positivo o surgimento de novas drags, porém acha que o problema está na falta de palcos, de oportunidade de trabalho, mas achava muito importante essa politização da cena transformista. A militância chegou após as indicações de Ângelo e Elba Cover, pessoas amigas que a incentivaram para participar de reuniões do ATRAS (Associação de Travestis e Transexuais de Salvador). O envolvimento foi tão rápido e intenso que fez parte do DIRETORIO NACIONAL LGBTT. Foi reconhecida em 2011 como representante das artistas transformistas da Bahia, participou de reuniões em defesa de politicas publicas para a população LGBTTI. Marina lutou contra o preconceito em diversos aspectos, no palco fazia questão de enfatizar a visibilidade trans, fez parte de
Foto: Arquivo pessoal de Marina
Foto: Arquivo pessoal de Dion
Em 2015 as casas diminuíram muito. Na década de 90 tinha o red blue, a aruba, a off na Barra. Boate hetero na pituba que tinha show de transformistas, dando possibilidade de uma maior circulação de artistas. Quanto a cache era mais ou menos a mesma coisa, mas a diferença era o volume de casas, de shows. “Hoje existem algumas saunas na cidade, porém a maioria já com seu leque de artistas contratadas.” Além disso, na atualidade, tem surgido uma quantidade imensa de novas transformistas, mas com a problemática da falta de espaço crescendo. Algumas casas abrem, mas não conseguem se manter por muito tempo. Por outro lado, o diferencial de hoje está na facilidade que a artista transformista tem em adentrar espaços como aniversários, casamentos e eventos “heterosexuais”que possibilitam a artista cover de trabalhar com maior frequência, mas ainda com muita dificuldade de fazer
conselho nacional LGBT, visitou presídios, discutiu sobre direitos civis e defendeu a necessidade de abrir espaços para pessoas transexuais. Para Garlen um dos maiores problemas é a falta de oportunidade de trabalho. Aos 49 anos voltou a se prostituir para viver com dignidade. Sempre defen-
Foto: Arquivo pessoal de Marina deu que a prostituição é uma profissão digna como qualquer outra, mas especificava que deve ser uma escolha trabalhar com o sexo e não uma condição por falta de opção. A transex era assistente administrativa e atualmente se dedicava a mais um curso técnico, mesmo assim, sofria na pele o preconceito de não encontrar um emprego com salário fixo e carteira assinada. Nem mesmo nos núcleos de assistencia LGBTT. Em relato disse que a militância ajudou muito na formação acadêmica e na construção da sua identidade de gênero. Em 2015 a artista foi selecionada para um curso técnico de analista de departamento pessoal na Faculdade da Cidade, mesmo com 49 anos achava importante não abrir mão da formação acadêmica. Foi uma das trans que teve o reconhecimento do nome social na prova do Enem e estava sendo respeitada no ambiente acadêmico. Fazia parte de núcleos
“A MULHER TRANS, POR EXEMPLO, NÃO SERVE APENAS PARA A PROSTITUIÇÃO COMO PROFISSÃO, MAS SIM PARA QUALQUER OUTRA. PARA ISSO É NECESSÁRIA UMA CAPACITAÇÃO PROFISSIONAL, INDEPENDENTE DE IDENTIDADE DE GÊNERO. ” MG
como: Fórum Baiano LGBT, Defensoria Pública da Bahia, SJDHDS, Coordenadoria DST/AIDS e da ANTRA (Associacão Nacional de Travestis e Transexuais). Sobre a Aids falou do alto índice de jovens contaminados, defendeu que as políticas públicas em torno da prevenção continuam poucas e que o jovem LGBT ainda está em risco, apesar dos altos índices de contaminação entre heterossexuais, principalmente mulheres.
Foto: Arquivo pessoal de Marina Em 13 de janeiro de 2016, a ativista publicou uma carta se excluindo da Assossiação e se compromissando a encerrar suas atividades na última semana de janeiro (Semana da Visibilidade Trans) em São Paulo. Apesar do afastamento dos núcleos que participava, Marina declarou que pretendia continuar lutando em favor das causas LGBTTs, porém trilhando novos caminhos, pois segundo ela, não aguentava ver o preconceito dentro do próprio meio. Pretendia sim levar à frente os projetos que tinha, principalmente em favor de pessoas transe-
xuais. Citou que uma das soluções era o diálogo entre estado e empresa para que hajam espaços, abertura de portas para pessoas trans. Marina acreditava no bem estar dos LGBTTs e sabia que a construção de uma sociedade sem preconceito ainda está no início de uma grande batalha. Ao entrevistar a vedete no ultimo dia 24 de janeiro de 2016, Marina nos contou detalhes: Das intimidades, do preconceito, perseguição da policia na década de 80, das viagens, da vida militante, dos sonhos futuros, das amizades e principalmente do elo com a transformista
Dion Santiago, um dos seus maiores orgulhos. “Dion sempre foi a minha ídola, tudo que sou hoje devo a ela, é minha irmã”. As amigas se conheceram na década de 80, Marina não tinha residência fixa, vivia nas ruas, foi a amiga quem deu um lar, uma família e passou a ser também a madrinha, criando uma personagem artístico cheia de potencial que logo se tornaria um identidade de. Anos de amizade, contados por ambas as partes de uma forma linda e singela. Algumas palavras de DION SANTIAGO “Falar de Marina é muito sensível, uma amizade de 35 anos de pura fidelidade, de auto fidelidade, coisa rara no mundo LGBT. Passamos momentos difíceis, da dificulda-
Foto: Aquivo pessoal de Dion
EM U Q N O I D “FOI AS T R O P S A ABRIU BRE O N O I R Á DO HOR . DION PARA MIM INHA AM I O F E R P SEM UE Q O D U T , ÍDOLA OA V E D E J O SOU H MÔ R I A H N I ELA, É M . MG
de financeiras ao luxo, com a te era unificada, era o meu mesma intensidade e alegria, nunca ficamos para baixo, ao contrario. Sempre fomos unha e carne, Marina era estourada demais, pavio curto, acho que nem tinha pavio, por mais que ela amasse uma pessoa, se a pessoa fizesse algo contra mim, mesmo que fosse uma fofoca a bixa pintava o diabo daquela pessoa, era um amor por mim assim, aos extremos. Risos. Ela era muito amorosa, até mais do que eu, sempre foi assim muito calorosa, carinhosa. Quando minha mae faleceu levou com ela metade da minha alegria, mas Marina completava, ela tinha isso, sempre muito alegre, mantinha o ambiente cheio de sorrisos. Nossos natais, semana santa, todos feriados familiares passavamos juntas. A gen-
ombro certo para chorar, falávamos muita besteira, brigávamos muito, diariamente, mas as nossa brigas eram necessárias, prometemos envelhecer juntas, dublamos juntas algumas vezes e prometemos dublarar até a gente envelhecer "Tell Him de Celini Dion com Barbra streisand”, de bengala. Marina era a minha minha minha irmã e hoje minha vida tem um vazio imenso.” Dion, 24 de fevereiro 2016. para o Arte Trans Bahia.
Marina Garlen artista há 35 anos, Faleceu em 31 de janeiro de 2016 aos 49 anos, na cidade de São paulo. Viagem feita para a semana da visibilidade trans junto com a antra. seu ultimo
show aconteceu em são paulo.
GILMARO NOGUEIRA
Atendimento psicológico gratuito a População LGBT
Historicamente os sujeitos não-heterossexuais, em especial a população trans, em sua diversidade, tem sido patologizada pelos saberes médicos. Ainda hoje, encontramos pessoas e instituições que insistem em curar gays, lésbicas, travestis e transexuais. A psicologia por décadas serviu a esses objetivos anti-éticos e desumanos ao não respeitar as identidades e os gêneros das pessoas e, principalmente, ao não questionar a patologização das identidades trans. A partir dessa crítica, desde o semestre passado estamos realizando atendimento psicológico a população LGBT, com o objetivo de dar suporte ao enfrentamento das violências cotidianas que questionam essas vivências e que vulnerabilizam sujeitos. Nesse período temos acompanhado diversos casos de violência física, no entanto, não esperávamos tantos casos de violência intrafamiliar, principalmente com mães e pais expulsando filhos e filhas de casa. Muitas des-
sas pessoas também tem sofrido violência moral, ao serem convencidas que não são normais, o que as levam a falar em suicídio. Ajudar os sujeitos a lidar com essas questões são insuficientes, pois o sujeito compreender e lidar bem com sua sexualidade não evita que os outros continuem os violentando. Sabemos dos limites de nossas ações e da necessidade de discussões mais amplas, com toda sociedade. Em relação as pessoas trans é importante ressaltar que não concordamos com a exigência de que todas tenham que fazer acompanhamento psicológico para ter acesso a serviços de saúde e mudanças de nome/sexo. Sabemos que não somos nós, psicólogos/as que atestamos se uma pessoa é trans ou não. Consideramos importante a autonomia das pessoas trans na afirmação de suas identidades, visto que elas não são doentes, nem desviantes, mas como esse processo exige laudos psicológicos, é importante dar esse suporte, principalmente a quem não pode pagar um psicólogo particular.
Caso deseje atendimento, pode entrar em contato com gibahpsi@gmail.com informando seu nome, telefone e o porque precisa de atendimento. GILMARO NOGUEIRA, PSICÓLOGO COLABORADOR DO MÃES DA DIVERSIDADE, INTEGRANTE DO GRUPO DE PESQUISA CUS E PROFESSOR UNIVERSITÁRIO.
RAINHA LOULOU
COLUNA DA RAINHA LOULOU
Power
DRAG
Nessa minha primeira postagem, inaugurando minha coluna, quero me dirigir especialmente as minhas colegas drags e aspirantes a drags. Salto , peruca, make, figurino e close, muito close, são elementos fundamentais na construção de uma persona artística. Pesquisar, investir e potencializar esses recursos são de extrema importância. Mas nos dias que correm, é também de suma importância e relevância que uma drag tenha posicionamento político. Falo político do sentido mais amplo da palavra. Ter comprometimento com as causas que lutam contra a homo-lesbo-transfobia e ter uma postura ativa no combate a qualquer tipo de preconceito.
Não só da sociedade hetero -normativa que nos julgam e entortam seus narizes para nós mas também dentro da própria comunidade gay. O nosso discurso, seja ele literal através do microfone que usamos nas apresentações de shows e eventos, seja através da montação em si, deve servir como uma afirmação da nossa condição humana e da igualdade entre todos: Sejam gays, lésbicas, trans,heteros, pretos, gordos... Quando aliamos nosso talento, humor e irreverência à consciência política, respeito à diversidade e sentimento humanitário nos tornamos verdadeiramente Fabulosas , dignas de sermos tratadas como queens!
Bjos e até a próxima!
EDMÉA BARBOSA
CARACTERIZAÇÕES INCRIVEIS NO CONCURSO “ESSE ARTISTA SOU EU GAY”
alehandra dellavega,
fez
a l e h a n d r a dellavega,
revi-
in-
corporou
ver a história de cazuza.
o
luan santana e ousou
levando
scarleth sangalo para o palco.
Eyshila, vitoria, o
Gustavo
ayana
apareceu
trouxe
e
en-
cantou a plateia
internacional
justin
lima
através de ayana
Bieber.
vitória.
Cindy
winks
vi-
cindi
rou o cara ro-
winks
sur-
preendeu mais uma
vez, levou bel para
berto carlos
a noite transformista.
Foto: Fabricio Cumming saphira
Michael
virou
jack-
a l e h a n d r a d e l l a v e g a
son e levou o
foi
thriller
brown
,
carlinhos
Foto: Fabricio Cumming
MARIANA FIGUEIREDO
FOTOS DO ARTE TRANS BAHIA NO ÂNCORA DO MARUJO scher
marie.
karine
bergman
uma das me-
tem
gens da cena
ções garantidas.
voltado
aparecer.
lhores dublatransformis -
a
emo-
ta.
a dona das quin-
laura drumond foi homenage-
tas
feira,
ferah
ada no troféu
sunshine em um de
estrela marujo
seus
ano iv
seios
luanna
lins,
muitos
.
pas-
Cindy
a
moça que desfila
presentou
talento.
ayana
eyshilla,
ou não
importa, o que notamos
é
o
talento. close.
winks re-
lovato.
alehandra della-
vega, faz varias passagens
pelas
noites do âncora.
demi