Antes de Minas
O
s relatos sobre povos indígenas que ocupavam territórios conquistados na corrida do ouro e que integrariam a Capitania das Minas Gerais em 1720 remontam aos meados do século XVI. “No outro dia nos fomos e passamos muitos despovoados especialmente um de 23 jornadas por entre os Índios que chamam Tapuias, que é uma geração de Índios bestial e feroz; porque andam pelos bosques, como manadas de veados, nus, com os cabelos compridos como mulheres: a sua fala é mui bárbara e eles mui carniceiros: trazem flechas ervadas e dão cabo de um homem num momento”1, escreveu o padre João de Aspilcueta Navarro em Porto Seguro, no ano de 1555, em uma carta endereçada aos seus superiores da Ordem dos Jesuítas em Salvador, então capital da colônia brasileira. Doublé de capelão e cronista, Aspilcueta Navarro fora um dos 12 homens de uma expedição em busca de minas de ouro e pedras preciosas no interior então desconhecido do Brasil, organizada pelo aventureiro espanhol Francisco Bruza Espinhosa, mas a serviço da Coroa portuguesa. Partindo de Porto Seguro em 1553, a expedição encontrou ao norte a foz do Rio Jequitinhonha, no atual município baiano de Belmonte, margeando-o provavelmente até a região situada entre os municípios mineiros de Grão-Mogol e Itacambira. Dali, Bruza Espinhosa e seus homens deixaram o curso do Jequitinhonha e teriam prosseguido a caminhada a oeste, chegando ao Rio São Francisco, de onde retornaram após 13 meses de jornada, mas sem encontrar as cobiçadas minas. “Grande língua”, ou seja, falante de línguas indígenas, sobretudo do tronco linguístico tupi, então predominantes ao longo de toda a costa brasileira, o jesuíta
1 Capistrano de Abreu, J. Caminhos antigos e povoamento do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia, 1989. p. 106-7.
29