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Entrevista exclusiva com Marta Santos, Diretora Comercial e de Marketing da Panco

Profissional destaca a importância das mulheres ocuparem cargos de liderança no varejo e as características imprescindíveis para o crescimento no setor

Atuando no setor varejista há mais de duas décadas, Marta Santos, Diretora Comercial e de Marketing da Panco, já passou por diversas empresas do ramo e possui vasto conhecimento em áreas como comercial, marketing e trade marketing. A especialista, em entrevista exclusiva para a Super Negócios, compartilha seus aprendizados ao longo da carreira, destaca quais são os principais desafios das mulheres no setor e ressalta o resultado positivo da presença feminina em cargos de liderança.

Você pode nos contar um pouco da sua trajetória no setor varejista?

Sou formada em Publicidade e Propaganda, com MBA em Gestão Estratégica e Econômica de Negócios pela FGV. Tenho mais de 20 anos de experiência em áreas como comercial, marketing e trade marketing. Passei por grandes empresas como Nestlé, Heineken, Itambé e, atualmente, trabalho na Panco Alimentos como Diretora Comercial e de Marketing. Atuo diretamente com o varejo e aprendi a dar a importância devida para o cliente, não importando o tamanho dele.

No que você mais precisou investir na sua carreira para ter essa trajetória de sucesso?

Poderia ficar horas falando sobre esta questão, porém sem parecer clichê, foi muito comprometimento, tempo e coragem. Sempre com o compromisso de que estava levando o melhor para a empresa, aos clientes e à equipe. A proatividade foi fundamental, não só para um planejamento assertivo, mas para definir metas e encontrar as melhores oportunidades. Sabendo que ninguém faz nada sozinho, o varejista sempre esteve junto na minha trajetória. O famoso networking com colaboração mútua.

Como você enxerga as transformações no varejo ao longo desses anos?

A evolução do setor foi acelerada na última década, principalmente, pelo comércio eletrônico. O varejista começou a investir em treinamentos para as suas equipes, implementar sistemas e métricas que possibilitam melhor gerenciamento do negócio e a aplicar, de maneira assertiva, as oportunidades entre a indústria e o varejo. Com a chegada da COVID-19, os negócios que ainda não tinham se firmado no digital foram obrigados a se mobilizar. A principal medida adotada para conter a disseminação da doença foi o isolamento social, o que abriu muito espaço para as compras on-line. Com tudo isso, surgiram novas oportunidades de negócios, melhor atendimento ao consumidor, as barreiras de distância foram quebradas e o setor passou a impactar o cliente das mais variadas formas: loja física, loja virtual, redes sociais, e-commerce etc. Começamos a ver, então, um varejo multicanal e, em alguns casos, já um varejo omnichannel

O que representa para você ser uma profissional mulher em um cargo executivo na indústria?

Me sinto honrada e feliz em poder representar uma pequena parte das mulheres na liderança. Eu sempre entendi e defendi que as competências devem ser colocadas em primeiro lugar, não importa se é homem ou mulher. O candidato que garante a vaga precisa ser aquele que possui as melhores habilidades, tem as características e o perfil para ocupar o cargo, mas estamos longe disso ser a realidade das empresas da Fortune 500. Isso ressalta a necessidade de mais presença feminina em todos os níveis de liderança.

Qual você considera ser a maior dificuldade em ser uma mulher no setor? Quais desafios ainda existem?

Ser mulher, em determinados momentos da minha carreira, me fez acreditar que era um limitador na minha trajetória. Deixei de ser promovida por estar grávida. No momento, eu entendi, achei que era correto. Hoje, tenho certeza de que não foi, e isso me deixou mais forte para levantar a bandeira de equidade de gênero . Entendo que a maternidade ainda é algo que a sociedade acredita que pode atrapalhar o desempenho da mulher na liderança. É importante não apenas contratar e promover líderes mulheres, mas, também, incentivar o seu desenvolvimento desde o início e ajudá-las a obter o máximo de experiência e conhecimento em funções que ainda são dominadas por homens.

Qual dica você daria para uma mulher que está começando na área e almeja atingir um cargo de gestão/liderança?

A principal dica é ser protagonista do seu papel e ter comprometimento com a sua carreira, traçando um planejamento que passe por todos os personagens: líder, mãe, esposa, filha, amiga. Uma rede de apoio ajuda muito em diversas situações. Ter proatividade e tomar iniciativas em meio aos desafios que surgem durante o dia a dia na empresa demonstram espírito de liderança e podem ser atitudes cruciais em momentos decisivos sobre quem da equipe está apto para assumir um cargo superior.

O que você espera para o futuro das mulheres no setor?

Espero que, assim como houve uma evolução acelerada do varejo recentemente, também tenhamos um reconhecimento de que precisamos de mais mulheres na liderança. Não por sermos do sexo feminino, mas por já termos fortes demonstrações de que mulheres na liderança são boas para os negócios. Uma pesquisa da organização Leadership Circle, com base em análises de mais de 84 mil líderes e 1,5 milhão de avaliadores (incluindo chefes, chefes do chefe, colegas, subordinados diretos e outros), mostra que as lideranças femininas aparecem com mais eficácia do que a dos homens em todos os níveis de gerenciamento e faixas etárias. Cada vez mais, se faz necessário fomentar a equidade entre gêneros, etnias, classes sociais e pessoas com deficiência (PcD).

A Panco tem alguma iniciativa voltada às colaboradoras?

Hoje, trabalhamos com todas as vagas sem distinção de gênero. A inclusão está presente na não exclusão de gênero para nenhuma vaga. Também temos palestras conduzidas pelo RH para mulheres nas mais diversas áreas, que vão desde o bem-estar, saúde mental ou ainda melhor gestão do tempo com a família.

Você costuma incentivar as mulheres que trabalham na empresa a vencerem os desafios e buscarem irem além?

Costumo sempre mostrar de forma simples e clara que a liderança pode ser alcançada por qualquer uma delas. Os desafios são muitos, mas podemos juntas vencer e sermos exemplos para outras mulheres que estão começando. Uma vez por mês, temos um evento para as mulheres da minha equipe. Chamamos de “Café com elas”. Neste momento, vivenciamos uma experiência juntas (Escape, Hot Yoga, Fórum sobre algum tema feminino). Nesses eventos, elas trazem as pautas e, em cada mês, temos uma líder diferente empoderando as demais sobre algum assunto.

Qual é a importância de marcas mais plurais e diversas? Você acredita que elas são mais produtivas? Dão mais lucro?

Essas empresas e marcas provocam e aumentam a participação das mulheres em cargos de gestão através de uma política de metas de diversidade e inclusão. Defendem a integração entre a vida profissional e pessoal, processo que é decisor para a maioria das mulheres. Acredito que tais empresas têm grandes chances de serem mais produtivas em sua maioria pelo mindset que é implementado na cultura diária. Quanto a dar mais lucros, já temos pesquisas como o relatório TheReadyNow Leaders da ONG Conference Board, que mostrou que as organizações com pelo menos 30% de mulheres em cargos de liderança têm 12 vezes mais chance de estar entre as 20% melhores em desempenho financeiro. Não importa o design, o conteúdo ou a duração de um programa de desenvolvimento de liderança, entendo que é crucial começar cedo para o benefício de futuras mulheres líderes e da organização como um todo.

MATÉRIA ESPECIAL: GESTÃO EFICIENTE, LUCRO CERTO

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