Festival Mindelact [2021] Edição Esperança 07

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DIÁRIO MINDELACT EDIÇÃO [2021] ESPERANÇA a par e passo, o evento dos afetos

07

ARTICULISTAS CONVIDADOS ÉRICO MEDINA FOTOGRAFIAS QUEILA FERNANDES

"A Linguagem das Pedras"

@Queila Fernandes, todos os direitos reservados


DIA 7, DOS CORPOS E DAS PEDRAS Daniela Santos

Teatro. Drama. Dança. Coreografia. Djam Neguim funde estes quatro conceitos num universo onde o ser humano habita o corpo inquietante entrelugares, que se exprime através da dança e do movimento numa celebração daquilo que significa morna; a saudade, o adeus, o trânsito entre passado e futuro.

Não são precisas palavras para comunicarmos.

O corpo fala.

"Parto Rosa"

@Queila Fernandes, todos os direitos reservados


“Afogado num poço canta um homem” Mário Cesariny

Cessa o violão e há um cântico de lágrimas que emerge, quase inaudível, onde é o centro do riso. Há, igualmente, sob a dança dos corpos e das palavras, um silêncio que, obcessivamente, acende uma interrogação que trespassa toda a peça A LINGUAGEM DAS PEDRAS: quanto pesa a leveza da condição humana? Onde engendrar um MITO que seja o antídoto contra a fragilidade dos ícones (morais, científicos, religiosos e artísticos) que sustentam a disjunção entre o absurdo dos dias e a familiaridade com a vida? Refratária a qualquer pretensão de domesticar a inquietação dos espíritos, a peça A LINGUAGEM DAS PEDRAS corporiza um manifesto contra toda a possibilidade de higienização do caos. O paradoxo, a contradição, o conflito, o desespero, o belo assumem, em toda a estrutura do espetáculo, o estatuto de personagens que deambulam e dialogam entre si por todo o cenário e por toda a sala. De todas as personagens que integram a peça há uma, porém, que vale a pena ressaltar: o espelho. Trata-se de uma personagem impercetível cuja função primordial é a de não só tornar volúvel/ténue a distância entre o público e o palco, como também de convocar, para o espetáculo, as máscaras, os figurinos, os duplos, as sonoridades díspares, os rostos incomunicáveis, a alma e a carne que enformam a interioridade de cada um de nôs.

"A Linguagem das Pedras"

@Queila Ferrnandes, todos os direitos reservados


A genialidade de A LINGUAGEM DAS PEDRAS reside, portanto, na possibilidade de potenciar um exercício de transmigração existencial, de vivência da angústia presente na assunção da alteridade num tempo marcado por fronteiras e muros, o que faz lembrar António Ramos Rosa quando escreve: “num mundo descoroçoante de puras imagens/é bom este banho de resistências, pressões, vontades, atritos/ É BOM NAVEGAR “. Mas da interação dialética entre as fronteiras, os muros, os símbolos, mitos, as referencias que regulam o encontro do eu com o outro (ou com seu duplo) tanto poderá emergir um caminho concreto de libertação, que nunca é individual, mas que se processa assumindo os perigos da comunhão, como também se impor os labirintos do desamparo, da fragmentação identitária esquizofrenizante (é uma personagem da peça que no diz: “ tu queres o que eu tenho. Eu quero o que tu és”). Embora a metáfora da pedra recupera a ideia de desumanização presente na arte moderna, segundo Ortega y Gasset, A LINGUAGEM DAS PEDRAS, não obstante a virulência do seu texto, testemunha o quanto a imaginação criadora, pelo potencial de rebeldia que encerra, é suscetível de manter acesa a utopia (tal como é concebida pelo Boaventura de Sousa Santos) e o ideal da liberdade: Érico Medina

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"A Linguagem das Pedras"

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Diário Mindelact Coordenação Caplan Neves Texto Diário 07 Daniela Santos e Érico Medina Fotografias Queila Fernandes "Gráfico das Cidades e das Coisas"

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OBRIGADO!

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