Diário Mindelact [2021] Edição Esperança 08

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DIÁRIO MINDELACT EDIÇÃO [2021] ESPERANÇA a par e passo, o evento dos afetos

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ARTICULISTAS CONVIDADOS ANA RITA FERREIRA E CAPLAN NEVES FOTOGRAFIAS QUEILA FERNANDES

"Feedback"

@Queila Fernandes, todos os direitos reservados


DIA 8, DAS ESTÓRIAS Ana Rita Ferreira

A História do Frank Malaba contada por ele. Não sei se estamos preparados para o Frank. Espero que um dia todos tenhamos um pouco da liberdade dele. O Frank fala-nos sobre viver num espaço onde é crime ser-se quem é. Onde é crime amar por acontecer com alguém do mesmo género. Isto ainda acontece? É o que me pergunto todos os dias, e por isso é que é tão importante ouvirmos o Frank. Acontece, e de forma dura. As pessoas são presas e obrigadas a fugir do seu país porque amam. Precisamos de todos os dias lembrar que o mundo não está todo a caminhar para um sítio onde nos respeitamos. Existe censura, o medo e o mal. Existem pessoas que não são felizes porque amam ou que não são felizes porque na própria casa existe o abuso e falta de amor. Eu ainda não estou preparada para escrever sobre o Frank, mas quero tentar. Quero ouvir o Frank todos os dias e quero que todos os dias o Frank fale com mais alguém. " Stories of my Bones"

@Queila Fernandes, todos os direitos reservados


Uma espécie de exercício para arrumar ideias. O corpo entre o mar e a terra e o corpo no espaço. O André Braga, num espaço não convencional, partilhou com quem o viu, um pouco do seu processo. A simplicidade do estar. Estar presente com a terra, a pedra e o chão. Estamos todos os dias muito ocupados com o fazer, o trabalhar, o contactar, o correr e acho que já não sabemos apenas conjugar o verbo estar. O corpo em movimento, o pé descalço, e as nossas raízes. Nós viemos da terra, o espaço que ocupamos devia pertencer-nos. Devíamos saber mexer o corpo sem nos sentirmos ridículos ou presos. Ver o André na sua pesquisa não é a mesma coisa de que ver um espetáculo porque não o é. É uma espécie de laboratório em que nós como corpo também fazemos parte.

"Feedback"

@Queila Fernandes, todos os direitos reservados


“Como quem ouve uma melodia muito triste, recordo a casinha em que nasci, no Caleijão”. Não é sem um místico arrepio literário que assistimos as mais emblemáticas frases da literatura cabo-verdiana tomarem corpo e vida nas carnes do palco. Obrigado Fladu Fla por nos prover tão maravilhosa experiência. Por Capan Neves

Com uma encenação competente e limpa, o elenco entregou excelentes interpretações (que irónica e infelizmente vão perdendo alguma força a medida que a o rosário de sofrimento esgota personagens e atores). O Ator Alváro Cardoso, o protagonista, é um exímio comunicador, mas manifestou alguma dificuldade em entregar emoções à medida em que aumentava a carga dramática do texto. Jailson Miranda e Alvino Mota, revelaram-se versáteis e equilibrados. Destaque para Vandrea Monteiro que a cada personagem que encarnava revolvia a carne e os ossos qual o mais plástico barro de modelar entidades.

"Chiquinho" @Queila Ferrnandes, todos os direitos reservados


Traído pelo louvável esforço de fidelidade, a adaptação dramatúrgica peca ao negligenciar a concessão necessária às restrições específicas do texto teatral. No teatro a principal restrição é o tempo e transportar as quase 300 páginas do livro para uma peça de 1h exige um enorme cuidado com onde despender o sempre limitado tempo de cena. A obra original auxilia ao ancorar a perspetiva narrativa na personagem de Chiquinho, mas o esforço por proporcionar-nos encontros com os vários personagens que marcam a sua trajetória, redunda num contacto demasiado fugaz com cada uma delas e parco desenvolvimento dessas relações. A parte mais ingrata do trabalho de adaptação dramatúrgica de uma obra tão bela é que ela exige sacrifícios. Na dramaturgia o que não serve o propósito de avançar a narrativa ou desenvolver personagens retira tempo ao trabalho dramatúrgico central de avançar a narrativa ou desenvolver personagens em termos significativos. Isto implica sacrifícios, um óbice incontornável à obcecada ânsia de fidelidade. Um dos princípios mais estabelecidos da arte dramatúrgica (daqueles que muito raramente se subverte eficazmente) é o “mostrar em vez de dizer”. Mais uma vez o esforço de fidelidade compele a adaptação a privilegiar a narração, em lugar de construção dramatúrgica de cenas, através de diálogos e ações. Essa opção dramatúrgica ganha em fidelidade, o que perde em força dramática.

Diário Mindelact Coordenação Caplan Neves Texto Diário 07 Daniela Santos e Érico Medina Fotografias Queila Fernandes

"Chiquinho" @Queila Ferrnandes, todos os direitos reservados

O sentimento que segura minhas mãos na saída do teatro é a satisfação de acabar de assistir um espetáculo maduro, de uma importante entidade teatral das ilhas, abraçando a tarefa tão importante de dar forma dramática ao melhor das nossas letras. 27 000 vezes obrigado Fladu Fla.


OBRIGADO!

@Queila Fernandes, todos os direitos reservados


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