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EDIÇÃO BODAS DE PRATA
DIÁRIO MINDELACT
FRANTXI PAULO LAGE E SOFIA BERBERAN SIKINADA COSA NOSTRA a par e passo, o evento dos afetos
ENFIM, TEATRO Nuno Andrade Ferreira
"Apesar de tudo, jantei bem e fui ao teatro" Machado de Assis, Dom Casmurro
Saí de casa com um bloco de notas que logo desprezei. Pensava que talvez devesse pensar sobre as coisas antes de escrever sobre elas. Demasiados instantâneos, porém, exigiram-me mais que rabiscos avulsos. Era necessário registo imediato. Foi ao telemóvel, até com alguma aflição, que escrevi os parágrafos que se seguem.
"Os Dias de Birgitt" - Cia. Sikinada
17:05, Praça de São Pedro Tenho para mim que, de todos os palcos que compõem o Mindelact, nenhum o representa com tanta propriedade quanto o Teatro na Praça. Ao sair da 'morada', rumo à periferia, o festival constrói novas centralidades, recria cidade e ajuda a derrubar barreiras psicológicas, enquanto conquista novos públicos. É como se a ilha fosse um grande palcoscenico, pronto para qualquer espectáculo imprevisto, personagens inesperados e, porque estamos em São Vicente, muito vento. O artista exposto ao acaso das reacções incontidas, para que tudo resulte em imperfeição. Foi assim domingo, ao cair da tarde, aqui em São Pedro. À vila piscatória, a italiana Frantxi trouxe Round a Round. Da loucura, jogo.
"Round a Round" - Frantxi
19h25 Centro Cultural Português Alerta, desconfiados, vigilantes. Em sessões para dois, a performance dos sempre surpreendentes Paulo Lage e Sofia Berberan foi um shot para os sentidos, estimulados no desconforto de um quarto escuro, uma cama em desalinho e o desconhecido com quem a partilhámos. Algures entre sonho e realidade, A casa das belas adormecidas foi uma experiência sensorial desafiante e inquietante. Um lugar de desassossego e dúvida, construído a partir do universo de Yasunary Kawabata, autor japonês, Nobel da Literatura em 1968. "A Casa das Belas Adormecidas" Paulo Lage e Sofia Berberan
21:00, Avenida Marginal O que podemos fazer em cinco minutos? O que nos resta quando o tempo se esgota e as luzes se apagam? Num aí, do grupo Canizade, com supervisão artística de Flávia Gusmão, (des)ocupou a Marginal, desafiando a uma reflexão sobre a nossa própria condição e lugar. A partida e a chegada, ir e voltar à procura do instante - tempo e espaço definidor de quem somos - para nós e para os outros..
23:29, Centro Cultural do Mindelo Primeiro, Enano. Que bom foi vê-lo no Palco 1, seu por direito - pela dedicação e amor ao festival, pela dedicação e amor à arte.Clowns, sobre o qual havia lido, é um daqueles casos em que a complexidade da narrativa se sobrepôs à expectativa de um espectáculo somente agradável.Com encenação de Giacomo Scalisi, numa criação conjunta de Enano, Leo Lobo e Thorsten Grütjen, Clowns oferece uma humanização do palhaço, transparente, real. Sem deixar de ser uma peça muito divertida, é mais do que isso. Palermas podemos ser todos. Ser palhaço é só para alguns.
"Os Dias de Birgitt" - Cia. Sikinada
"Clowns" - Cosa Nostra
Rafa Pikapau
HOMENAGEM MINDELACT 2019 FUNDADORES - JOÃO PAULO BRITO