Revista_ATLASPSICO_03

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ARTE TERAPIA

O despertar do processo criativo como fonte de prazer, relaxamento das tensões e como ponto de encontro dos mundos interno e externo.

PSICOLOGIA HOSPITALAR | Câncer de Cabeça e Pescoço O que os profissionais têm a dizer?

NÚMERO 03 | SETEMBRO 2007

A Revista do psicólogo


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ATLASPSICO

MATÉRIA DE CAPA

número 03 | setembro 2007

O uso das artes na psicoterapia

ENTREVISTA

Sexualidade e Adolescência

PSICOLOGIA E ARQUITETURA Em busca da identificação do ser

COMPORTAMENTO Psicoterapia em grupo

06

PSICANÁLISE

Psicopatologia e Estruturas Clínicas

PSICOLOGIA INFANTIL

TDAH – Transtorno do Défcit de Atenção e Hiperatividade

PSICOLOGIA HOSPITALAR

Câncer de Cabeça e Pescoço – O que os profissionais tem a dizer?

EQUIPE MULTIDISCIPLINAR

Psicologia e Oncologia – A Equipe de saúde como um todo.

COLUNA

Anorexia: a dieta que mata

EXPEDIENTE

16 18 20 23 27 31 37 39

Arte Terapia

Revista ATLASPSICO é uma publicação bimestral. Os artigos publicados são de inteira responsabilidade de seus autores. O uso de imagens e trechos dos textos somente podem ser reproduzidos com o consentimento formal do editor. Fevereiro. 2006 | Reeditado em setembro de 2007 | Brasil – Curitiba – Paraná EDITOR-CHEFE Márcio Roberto Regis | CRP 08/10156 JORNALISTAS Rose Santana | 12.182/MG Audea Lima | 972/96/PI DIREÇÃO DE ARTE | DIAGRAMAÇÃO Equipe ATLASPSICO editorial@atlaspsico.com.br www.atlaspsico.com.br | revista.atlaspsico.com.br

COMISSÃO AVALIADORA Márcio Roberto Regis Vanderlei Semprebom COLABORADORES Josiane Isabel Stroka Santana Gilka Correia Fabiana Ferreira da Silva Vanderlei Semprebom Samuel Antoszczyszen Shirlei Lizak Zolfan Giovana Kreuz

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Editorial ARTE TERAPIA

Edição Anterior nº 02

A terceira edição da revista ATLASPSICO, aborda o uso da arte no processo psicoterapêutico. O autor Vanderlei Semprebom cita o uso da arte no processo psicoterapêutico , o que possibilita o despertar do processo criativo como fonte de prazer, relaxamento das tensões e como ponto de encontro dos mundos interno

NOTA

e externo. Além disso, o texto aborda os aspéctos históricos da arte-terapia e a importância dessas

Para os autores que contribuiram com

atividades no processo de auto-conhecimento.

artigos científicos nas três primeiras edi-

Com a Psicologia Hospitalar, Giovana Kleus

ções da revista de psicologia ATLASPSI-

aborda o Câncer de Cabeça e Pescoço e com-

CO, e querem atualizar a LATTES, ape-

plementa com uma breve reflexão sobre a equi-

nas acrescentem, entre parenteses ou

pe multidisciplinar no contexto hospitalar-on-

colchetes [reeditado em julho 2007] ou

cológico.

[reeditado em agosto de 2007] ou [reeditado em setembro de 2007], caso seu

Boa leitura!

artigo esteja disponível na 1ª, 2ª ou 3ª

Psicólogo Márcio Roberto Regis CRP 08/10156

edição, respectivamente. O site de referência pode ser:

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27 AGOSTO DIA DO PSICÓLOGO A cada comemoração, uma nova luz para um novo indivíduo.

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MATÉRIA DE CAPA

ARTE TERAPIA O USO DAS ARTES NA PSICOTERAPIA

Este artigo apresenta argumentos que demonstram que a arte pode ser um instrumento terapêutico efetivo. Neste sentido, efetuar-se-á uma revisão bibliográfica sobre Arte-terapia, capaz de fornecer subsídios teóricos para a descrição do uso da arte como instrumento da psicoterapia. Constata-se que o homem desde há muito tempo vem fazendo uso das diversas formas de arte – música, dança, artes plásticas e cênicas – procurando simbolizar e dizer aquilo que não pode ser dito em palavras. Assim, a atividade expressiva tem sido utilizada em sua capacidade de conduzir o indivíduo a um diálogo com seu mundo interno, auxiliando na resolução de problemas e como fonte de auto-conhecimento do indivíduo. O uso da arte no processo psicoterapêutico possibilita o despertar do processo criativo como fonte de prazer, relaxamento das tensões e como ponto de encontro dos mundos interno e externo. Independente da abordagem teórica adotada, é importante compreender que as formas emergem da experiência do indivíduo, portanto cabe a este promover a interpretação dos conteúdos representados. A Arte-terapia objetiva unir as forças da criatividade e liberdade das artes com as forças de um campo mais racional da mente ou intelecto, sendo que a compreensão terapêutica da linguagem artística pode conduzir a experiências significativas e valiosas para a integração do ser humano.

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MATÉRIA DE CAPA

O homem há milênios vem se utilizando das artes para expressar seus sentimentos, pensamentos, idéias, conflitos e percepções e nas últimas décadas pesquisadores vêm descobrindo as potencialidades de seu uso para melhorar a saúde mental do ser humano, desenvolvendo técnicas para tal, sendo a Arteterapia a mais conhecida e difundida atualmente. Este método, através de recursos artísticos em suas diversas técnicas expressivas, verbais e não verbais, oferece oportunidades de exploração de problemas e de potencialidades pessoais na busca da harmonia da personalidade, da expressão da criatividade e do desenvolvimento das potencialidades do ser humano. Parte do princípio que a atividade criativa aliada ao trabalho de compreensão intelectual e emocional facilita o processo evolutivo da personalidade como um todo, sendo assim utilizada com finalidade terapêutica. Neste artigo efetuou-se uma pesquisa bibliográfica a respeito da Arte-terapia. Procurou-se dividir a presente pesquisa em três partes, a fim de estabelecer uma melhor compreensão do contexto que atualmente envolve a Arte-terapia. Inicialmente apresentar-se-á alguns aspectos históricos do uso das artes na psicoterapia. A seguir, abordar-se-á a importância do uso das atividades expressivas na estruturação do ser humano e por fim acrescentar-se-á algumas conclusões a respeito do assunto.

ASPECTOS HISTÓRICOS DA ARTE-TERAPIA

O ser humano se utiliza da representação de imagens desde os primórdios da humanidade, quando os “homens das cavernas” faziam desenhos nas paredes, pedras e objetos. As mais antigas formas de escrita apresentavam figuras esquemáticas de animais, formas geométricas e diversos objetos do cotidiano. Estudiosos deduzem que estas escritas embrionárias representavam muito mais do que formas de expressão, comunicação e decoração; acreditam que ligavam-se à magia e práticas rituais, como por exemplo as caçadas. Talvez tenham sido as primeiras tentativas do homem em materializar sons, sensações, idéias e desejos. A arte sempre esteve presente no universo humano nas suas mais diferentes manifestações plásticas, rumo à integração do ser através da organização emocional, promovendo formas de expressão, comunicação, ritual, liberdade criativa, possibilidades de cura e harmonia interior em um processo de estimulação de idéias. CARVALHO (1995) afirma que a arte possibilita um contato com a emoção tanto para quem Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 03 | set 2007

cria quanto para quem observa. Esta característica é reconhecida desde o teatro grego, onde o público liberava sentimentos catarticamente por diversos níveis de identificação. Desde épocas remotas, as expressões artísticas correspondem à expressão psíquica da comunidade e, particularmente, de cada indivíduo. Segundo CARVALHO (1995) as primeiras pesquisas de que se tem notícia a respeito do uso da arte em conjunto com psiquiatria e psicologia são do final do século XIX, quando em 1876 Max Simon, médico psiquiatra, estudou as obras feitas por doentes mentais e publicou pesquisas sobre essas manifestações artísticas, classificando as patologias segundo essas produções. Lombroso, advogado criminalista, realizou em 1888 estudos sobre os desenhos de doentes mentais e fez uma classificação de desvios de comportamento, percebendo com isso a possibilidade de aplicação em diagnósticos. No final do século XIX até início do XX diversos autores europeus tiveram interesse em estudar as produções artísticas dos doentes mentais, dentre os quais Ferri, Charcot e Richet; Morselli; Júlio Dantas e Fursac. Em 1906, Mohr fez uma comparação entre trabalhos produzidos por doentes mentais, indivíduos normais e grandes artistas, percebendo assim a manifestação de histórias de vida e conflitos pessoais nas artes. Com isso pensou na possibilidade de que os desenhos pudessem ser usados como teste, viabilizando o estudo da personalidade. Mais tarde diversos autores de testes (Roscharch, Murray-TAT, Szondi) inspiraram-se nestas idéias de Mohr, que serviu de base também na criação dos testes de inteligência e motores (Binet-Simon, Goodenough, Bender). Prinzhorn estudou as semelhanças entre desenhos de doentes mentais e diversas escolas artísticas: impressionistas, expressionistas, surrealistas, dadaístas, desenhos de primitivistas, entre outros, e publicou em 1910 o seu primeiro trabalho, demonstrando as manifestações das expressões artísticas normais e patológicas, publicando em 1922 o segundo trabalho, mais completo. Já no início do século XX Freud observou que o inconsciente se manifesta por meio de imagens e que elas escapam da censura da mente com mais facilidade do que as palavras, por isso acredita que as obras de arte poderiam transmitir mais diretamente os seus significados. CARVALHO (1995) cita que Freud no princípio do século se dedicou a analisar artistas e suas obras sob a luz da teoria da psicanálise, fazendo uma análise profunda das manifestações inconscientes através da leitura dessa obras artísticas. Na década de 20, Jung começou a se utilizar da expressão artística como parte do tratamento


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psicoterápico, acreditando que a criatividade é uma função psíquica natural e possui a capacidade de auxiliar na estruturação do indivíduo, podendo ser a arte usada como componente de “cura”. Para Jung (1985, p. 71) os conteúdos da obra de arte revelam as características do indivíduo que realiza a obra, dizendo que “O processo criativo consiste numa ativação inconsciente do arquétipo e numa elaboração e formalização na obra acabada. De certo modo a formação da imagem primordial pelo artista é uma transcrição para a linguagem do presente, dando novamente a cada um a possibilidade de encontrar o acesso às fontes mais profundas da vida que, de outro modo, lhe seria negado.” JUNG (1985, p. 61; 62) salienta que as idéias brotam do inconsciente, sendo captadas pela “pena do autor”, o que pode-se compreender atualmente como “pincel, caneta, lápis, tintas”. Existem obras em prosa e verso que nascem totalmente da intenção e determinação do autor, visando a este ou aquele resultado específico, (...) (existem) obras de arte que saem, por assim dizer, da pena do autor, vindo à luz prontas e completas. (...) Essas obras praticamente se impõem ao autor, sua mão é de certo modo assumida, sua pena escreve coisas que sua própria mente vê com espanto. (...) Mesmo contra sua vontade tem que reconhecer que nisso tudo é sempre o seu “si-mesmo” que fala, que é a sua natureza mais íntima que se revela por si mesma anunciando abertamente aquilo que ele nunca teria coragem de falar. Este trecho transmite a idéia de que os conteúdos que emergem através da expressão artística não têm participação consciente do indivíduo, parecendo que a obra vem pronta, acabada. A um primeiro olhar pode assim parecer, mas isto se deve muitas vezes ao pouco contato que o indivíduo tem com seu inconsciente, desconhecendo-se em grande parte. Na Psicologia Analítica Jung postula que o “si-mesmo” representa o núcleo do self, sendo que as imagens que emergem deste centro podem ser extremamente integradoras, e ao concretizá-las através das atividades expressivas o indivíduo tem a oportunidade de obter um maior conhecimento delas, percebendo tanto seus aspectos positivos como negativos, passando a reconhecer-se em seus diversos aspectos. No atendimento clínico pedia aos clientes que fizessem desenhos livres, inspirandose em imagens de sonhos, sentimentos, situações que sentiam como conflitantes, ou outras fontes de idéias e imagens, e a seguir ouvia atentamente os comentários do indivíduo, utilizando-se da técnica de associação livre. Ao utilizar-se das duas linguagens – a expressão artística e a verbal – elas são potencializadas pois uma auxilia, esclarece e enri

quece a outra, facilitando a expressão das emoções e a compreensão de seus símbolos e conteúdos. A partir da transformação da imagem em palavras ocorre um entendimento cognitivo, capaz de direcionar os esforços para a mudança e para isso o papel do terapeuta é fundamental, pois atua como catalisador deste processo. Margareth NAUMBURG (1966, p. 1) iniciou na década de 40 a sistematização da Arte-terapia utilizando as artes como complemento ao processo psicoterapêutico, valorizando as imagens, a verbalização e a relação transferencial do paciente; comenta que “os pensamentos e sentimentos fundamentais do homem derivam do inconsciente e freqüentemente exprimem-se melhor em imagens do que em palavras.” Neste método é o paciente que busca o significado de suas obras, auxiliado pelo terapeuta. Pode-se observar que tanto Freud, Jung quanto Naumburg compartilham a idéia de que há uma maior facilidade em expressar os conteúdos simbólicos que surgem do inconsciente através das artes, pois a expressão flui melhor através de imagens do que por palavras. Este processo pode ser enriquecido com a verbalização a respeito dos sentimentos que ocorrem durante a execução da obra, possibilitando ao paciente a compreensão das emoções e pensamentos que estão emergindo, o que certamente tem grande valor no processo terapêutico. A Arte-terapia trabalha com o simbólico, que é uma forma de energia psíquica, e esta energia se manifesta através de imagens. A energia que está contida no símbolo vem do inconsciente e, através das técnicas expressivas, ela é trazida para o consciente e é trabalhada. Os símbolos são difíceis de verbalizar, pois eles se expressam por analogias, por metáforas. Dessa forma, o processo simbólico precisa da imagem para que os conteúdos inconscientes sejam trazidos para o consciente e para isso são usadas a modelagem, a pintura, a colagem e diversas outras técnicas, visando facilitar a compreensão do significado do símbolo. Atualmente a Arte-terapia busca embasamento em diversas abordagens teóricas e pode ser utilizada como método terapêutico em consultórios, escolas, empresas e outras instituições. Possibilita o trabalho com pacientes tanto individualmente como em grupo, bem como no atendimento de famílias e casais e pode ser utilizada com pacientes de todas as idades. CARVALHO (1995) cita que no Brasil dois profissionais desenvolveram um grande trabalho com expressões artísticas aliadas ao processo terapêutico: Osório César e Nise da ilveira. Osório César é seguidor da abordagem freudiana e em 1923, ainda Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 03 | set 2007


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estudante, começa a desenvolver estudos sobre a arte dos internos do Hospital Juqueri. Em 1925 cria a Escola Livre de Artes Plásticas do Juqueri, em Franco da Rocha, São Paulo, onde organizou em 1948, no Museu de Arte, a 1ª Exposição de Arte. Realizou mais de 50 exposições para divulgar os trabalhos realizados pelos doentes mentais, procurando afirmar a dignidade humana desses pacientes e valorizar a técnica de Arteterapia. Acreditava que o fazer arte já propiciava a “cura por si” por ser uma forma de contato com o mundo interno. Considerava que a espontaneidade era fundamental e reconhecia a existência de uma criatividade inata, independentemente de sua condição de saúde mental, afirmando que muitos desses pacientes internos poderiam se profissionalizar, pois produziam o que poderia ser considerada a autêntica arte. Através da expressão artística, o paciente pode produzir imagens que representam seu mundo interior ou exterior, na sua maneira de percebê-lo. Nise da Silveira, psiquiatra, realizou um trabalho pioneiro quando criou as oficinas de trabalho na Seção de Terapia Ocupacional, em 1946, no Centro Psiquiátrico D. Pedro II, em Engenho de Dentro, Rio de Janeiro e a este respeito comenta: Desde 1946, quando retomei o trabalho no Centro Psiquiátrico de Engenho de Dentro, não aceitei os tratamentos vigentes na terapêutica psiquiátrica. Segui outro caminho, o da terapêutica ocupacional, considerado na época um método subalterno, destinado apenas a “distrair” ou contribuir para a economia hospitalar. Mas a terapêutica ocupacional tinha para mim outro sentido. Era intencionalmente diferente daquela empregada, de hábito, nos nossos hospitais. Desde o início, nossa preocupação foi de natureza teórica, isto é, a busca de fundamentação científica onde firmar uma estrutura que permitisse a prática da terapêutica ocupacional. SILVEIRA (1992, p. 16) SILVEIRA (1992, p. 16; 18) aponta várias dificuldades para o reconhecimento desta modalidade terapêutica, em contrapartida aos métodos tradicionais de tratamento dos doentes mentais. Com a implantação das oficinas, provocou diversas mudanças no ambiente hospitalar. “Era um método que deveria, como condição preliminar, desenvolver-se num ambiente cordial, centrado na personalidade de um monitor sensível, que funcionaria como uma espécie de catalisador”. Dessa maneira, havendo um ambiente acolhedor e com a oportunidade de livre expressão artística e verbal, onde “os sintomas encontravam oportunidade para se exprimirem livremente. O tumulto Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 03 | set 2007

emocional tomava forma, despotencializava-se” e com isso puderam logo ser observados resultados claros do efeito positivo sobre os pacientes. A técnica utilizada na oficina era a liberdade de expressão, de escolha dos materiais, dos temas, a criatividade estava livre para fluir e assim cada um poderia exprimir seus sentimentos, acompanhados por alguém que estava disponível e observava mas não exercia nenhuma influência. Em 1952 foi criado o Museu de Imagens do Inconsciente, contendo um acervo onde são conservados e organizados trabalhos de expressão dos internos do Centro Psiquiátrico. No museu são estudadas as imagens produzidas pelos pacientes em sua seqüência, e o que inicialmente não tinha lógica, ao serem analisadas mais profundamente e em série, passam a revelar “a repetição de motivos e a existência de uma continuidade no fluxo de imagens do inconsciente” revelando assim um auto-retrato da vida desses indivíduos e da situação psíquica que se encontrava no momento da realização da obra. Através do estudo de uma série de obras de expressão artística dos esquizofrênicos, SILVEIRA (1992, p. 18) percebeu em muitas delas várias semelhanças com temas míticos, afirmando: “... isso porque a peculiaridade da esquizofrenia reside na e m e r gência de conteúdos arcaicos que configuram fragmentos de narrações mitológicas” e continua dizendo que “essas pesquisas de paralelos históricos têm importância tanto teórica quanto prática. A tarefa do terapeuta será estabelecer conexões entre as imagens que emergem do inconsciente e a situação emocional vivida pelo indivíduo”. Embasada na teoria de C. G. Jung, Nise estudou os mitos e arquétipos e comparou-os com as imagens produzidas pelos pacientes em suas expressões artísticas, percebendo uma grande semelhança entre eles. Isso fica muito claro ao se visitar o Museu do Inconsciente, onde estão em exposição as obras executadas por pacientes e ao lado um referencial do mito que se aproxima daquela imagem. Certamente esta é a prova evidente da existência do Inconsciente Coletivo, postulado por Jung, pois os indivíduos que realizaram aquelas obras, em sua maioria, eram muito simples e não tinham escolaridade, portanto não


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teriam acesso a tais informações sobre mitologia. Segundo CARVALHO (1995, p. 35;36): O trabalho de Nise da Silveira denuncia o tratamento injusto e discriminado que é exercido sobre determinadas pessoas, as quais são impedidas de ter uma vida comum, por razões de ordem social e econômica, agregadas a características de personalidade. Adoecem, isto é, tornam-se pessoas que desenvolvem outras formas de compreensão e expressão de seus significados interiores enquanto seres individuais e sociais. Inserem-se no processo do cotidiano da vida de maneira considerada inadequada ou incompreensível para a maioria dos outros seres humanos. Muitas vezes a convivência mútua insuportável leva à internação psiquiátrica e conseqüente estigmatização, resultando tudo isso em intensa marginalização, desprezo e abandono. Certamente a contribuição mais rica do trabalho desta autora, em termos de ser humano, se deu no sentido de uma humanização do ambiente hospitalar, difundindo um profundo respeito ao indivíduo, promovendo o resgate da dignidade daqueles pacientes que já tinham sofrido muitas discriminações na família, na sociedade e nos próprios hospitais e clínicas que já haviam passado. Esta forma de trabalho foi repassada aos profissionais que realizavam o atendimento aos pacientes, e o uso das atividades expressivas possibilitou uma liberdade na expressão de emoções e angústias. SILVEIRA (1992, p. 17) sugere aos pacientes que têm alta que continuem a realizar as expressões artísticas como um meio de manter o equilíbrio psíquico. Comenta que o tratamento busca a reabilitação para dar condições do indivíduo retornar ao convívio da sociedade e para isso “estimulava-se neles o fortalecimento do ego e um avanço no relacionamento com o meio social, levando-se sempre em consideração suas possibilidades adaptativas atuais”, sendo que muitas vezes ele sai em melhores condições do que estava antes do surto. O trabalho de Nise promove um incentivo, através da expressão artística, para que o paciente encontre um lugar no mundo, que se sinta parte de um grupo e que, no mínimo, tenha uma vida digna dentro do hospital psiquiátrico. Para ela a liberdade e o respeito abrem o caminho para a expressão e desenvolvimento da alma. Afirma que “o exercício de múltiplas atividades ocupacionais revela, por inúmeros indícios, que o mundo interno de psicótico encerra insuspeitas riquezas e as conserva mesmo depois de longos anos de doença, contrariando conceitos estabelecidos” SILVEIRA (1981, p. 11). O seu principal objetivo é ressaltar a grande importância do recurso de fazer arte no processo 10

de integração da personalidade, independente do tempo em que o indivíduo se encontra doente, desenvolvendo uma nova maneira de obter contato com os esquizofrênicos, deixando de lado as discriminações com que anteriormente eram tratados esses doentes. Para CARVALHO (1995, p. 37) “A experiência de Engenho de Dentro evidencia a possibilidade de uma terapêutica ocupacional, bem orientada, entendida nos moldes de terapia expressiva, ser um fator de grande ajuda no desenvolvimento dos processos de consciência dos pacientes. Nise produziu um importante campo de pesquisa e tratamento psicológico de psicóticos”. O trabalho que ela realizou com os internos no Centro Psiquiátrico provou que o mundo dos doentes mentais pode ser muito rico e as artes possibilitam a comunicação través dos símbolos, sendo constatado que os pacientes ficassem mais calmos ao conseguir expressar-se, não necessitando de altas doses de drogas para mantê-los quietos. Este é um ponto em que Nise não concordava, pois acreditava que os métodos utilizados para manter os pacientes convenientemente calados e sem causar transtornos deixava-os dopados, amortecidos e paralisados para a vida e para os sentimentos. Ela ia aos pátios para conversar com os internos e convidá-los para virem ao atelier experimentar as artes, tendo assim uma participação espontânea deles.

IMPORTÂNCIA DAS ATIVIDADES EXPRESSIVAS

Como foi visto anteriormente, a expressão é fundamental à saúde psíquica do indivíduo e as artes podem ser utilizadas para tal, sozinhas ou em conjunto com a psicoterapia. O objetivo da psicoterapia é o auto-conhecimento, ou seja, que o indivíduo tenha um conhecimento de si próprio, dos seus pensamentos e sentimentos, que dessa forma tenha contato com seu mundo interno para conhecê-lo e aceitá-lo, integrando sua personalidade e a partir disso possa fazer novas aprendizagens e mudanças. Para isso, a tarefa do terapeuta é auxiliar os indivíduos a se perceberem e se compreenderem melhor, podendo assim fazer as escolhas de maneira mais consciente, descobrindo seu potencial criativo, retomando a espontaneidade e a liberdade de escolha, tomando em suas próprias mãos a direção de sua vida, passando assim de agente passivo a agente ativo, descobrindo as ferramentas que estão dentro de si e aprendendo a utilizá-las.

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CARVALHO (1995, p. 24) afirma que: na Arte-terapia o objetivo primordial da utilização da atividade artística é o favorecimento do processo terapêutico. (...) a terapia por meio das expressões artísticas reconhece tanto os processos artísticos como as formas, os conteúdos e as associações, como reflexos de desenvolvimento, habilidades, personalidade, interesses e preocupações do paciente. O uso da arte como terapia implica que o processo criativo pode ser um meio tanto de reconciliar conflitos emocionais, como de facilitar a autopercepção e o desenvolvimento pessoal.

“Tanto na arte como nos processos terapêuticos se manifesta a capacidade humana de perceber, figurar e reconfigurar suas relações consigo, com os outros e com o mundo.” Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 03 | set 2007

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Na concepção de CARVALHO (1995, p. 60; 61) “uma vida plena e saudável é uma vida criativa e o viver artístico não é algo extraordinário, restrito a algumas pessoas socialmente reconhecidas como artistas, mas um aspecto intrínseco da humanidade do ser humano.” Acrescenta ainda que a criatividade e a sensibilidade são inatas ao ser humano e que podem ser desenvolvidas nas vivências e encontros que a vida proporciona. “Tanto na arte como nos processos terapêuticos se manifesta a capacidade humana de perceber, figurar e reconfigurar suas relações consigo, com os outros e com o mundo.” O contato com o mundo interno e com os indivíduos ao redor se dá inicialmente pelos sentidos e as palavras vêm somente depois e muitas vezes tardam ou não são encontradas, sendo que com um gesto, um traço, uma imagem, isto se torna possível. Selma CIORNAI (apud CARVALHO, 1995, p.59) tem a seguinte concepção de saúde: “Concebo saúde como ligada à criatividade, a processos criativos na vida, à visão de homem como um ser-em-relação, ser-no-mundo, cuja natureza peculiar é ser criador. Um ser que interage com quem convive e com o meio que vive, lançando mão de seus recursos para poder reconhecer e lidar criativamente com os limites que a vida lhe impõe, podendo escolher e discriminar contatos que o nutram e enriqueçam e evitar os que o prejudicam e são tóxicos. Ao contatar o mundo que o rodeia, o indivíduo é convidado pela vida continuamente a viver o novo, a fazer novas escolhas, tomar decisões, adentrar mistérios, caminhos desconhecidos, estabelecer novas relações e descortinar novos horizontes. É convidado continuamente a transcender suas próprias experiências e limites prévios.” Para HEREK e VALLADARES, (2002, p.1) “A atividade expressiva tem um poder de integração, e é fonte de conhecimento de si mesmo. Em termos de relação terapêutica, o fazer artístico proporciona, de forma rápida e eficaz, um contato rico, íntimo e profundo que, dependendo do caso, pode prescindir de palavras ou enriquecer com elas.” Para CARVALHO (1995, p. 18) “A linguagem artística projeta profundamente nossos conflitos, necessidades, aspirações. A compreensão terapêutica dessa linguagem, aliada ao prazer que a criatividade pode proporcionar, pode levar a experiências altamente significativas e valiosas para a integração do ser humano.” Portanto, o uso das artes em suas diversas formas de expressão somados com as técnicas e embasamentos teóricos da psicoterapia podem exercer grandes mudanças no indivíduo. 12

A Arte-terapia para KEYES (1995, p. 4; 9), é um processo de facilitação e agilização de vida; isso não significa substituir os relacionamentos do mundo real, mas isso fornece significado para compreendê-lo e para tentar novo comportamento. (...) O cliente sempre vê algum aspecto de seu comportamento de um ponto de vista diferente. A Arte-terapia não responde às questões, ela fornece um processo de clarificação e aprofundamento das questões, um alerta de como o indivíduo aqui e agora participa na criação de suas condições de vida, e isto aponta para algumas opções que podem ser escolhidas. Não há modelos mais claramente visíveis para esta tarefa. Este é um caminho individual. O indivíduo deve resgatar partes dele mesmo que não gosta e/ou não quer ver. A respeito das artes, GARDNER (1997, p.184;294) comenta: Quando envolvidos com as artes, os indivíduos criam e percebem objetos simbólicos que podem afetar os outros em vários níveis. Cada um dos sistemas desenvolventes apresenta tanto aspectos primitivos (estados afetivos elementares, percepção tropística, esquemas motores simples) quanto formas mais complexas e integradas (modos e afetos sutis, texturas livres de gestalt, padrões comportamentais hábeis e intrincadas). Os objetos artísticos são únicos na medida em que utilizam aspectos e habilidades do indivíduo – primitivos e avançados – e na maneira pela qual refletem também o indivíduo completo, multifacetado. Enquanto a interação com objetos físicos parece requerer principalmente primitivos e o raciocínio científico enfatiza formas complexas de discriminação e operações simbólicas, as artes possuem a propriedade exclusiva de utilizar ampla e completamente todos os sistemas em cada estágio de desenvolvimento. Os objetos são tratados como objetos e como símbolos; os indivíduos são vistos em sua simplicidade e em sua complexidade; os sistemas simbólicos são utilizados em suas propriedades formais, seus aspectos perceptuais elementares e suas intricadas nuanças, detalhes, referências e temas. Os percebedores e criadores humanos possuem a propriedade exclusiva de se alternar entre níveis de funcionamento, de regredir e progredir, conforme se envolvem com objetos artísticos. Eles podem variar intencionalmente sua distância, imersão e postura em relação a apresentações. (...) As artes podem ser consideradas como um processo de resolução de problemas em que a execução é enfatizada; o desenvolvimento artístico envolve o domínio de um meio simbólico e a educação estética envolve a orientação dos três sisteRevista de Psicologia ATLASPSICO nº 03 | set 2007


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mas desenvolventes até o domínio abrangente dos meios simbólicos. A resolução artística de problemas requer a capacidade de capturar vários modos, afetos e insights subjetivos dentre de um meio simbólico. HEREK e VALLADARES (2002, p.1) sugerem que o uso da arte como terapia possibilita a autopercepção e desenvolvimento do indivíduo, além de ser um meio prazeroso de relaxamento das tensões. “O processo de transformação ocorre na interação do indivíduo com o meio, e a ferramenta principal é a conscientização do indivíduo que ocorre em diversos níveis, dentro de um espaço protegido, onde se privilegia a liberdade, espontaneidade e criatividade, de forma que cada pessoa possa perceber sua singularidade a apossar-se dela”. Dessa forma, a Arte-terapia permite ao indivíduo dialogar com seu mundo interno, favorecendo a integração da personalidade. O uso de recursos artísticos possibilita a transformação de conflitos internos em produções criativas. Permite ao sujeito contatar a energia que está congelada no conflito e torná-la disponível para a auto-atualização. Quando isso ocorre, o cliente se apossa da liberdade de existir como ele mesmo, e com posse disso, a pessoa pode lidar com diversas situações de sua vida, muito mais livre para escolher, criar, responsabilizar-se e satisfazer-se, mesmo em um meio menos favorável. Segundo PONCIANO (apud HEREK; VALLADARES, 2002, p. 3), “tornarse indivíduo, do nosso ponto de vista, significa realizar-se em plenitude, significa abandonar o que de estranho existe em nós, à procura de eu real. Não significa desconhecer, ignorar o mundo, mas, ao contrário, significa conviver com ele na individualidade consciente.” GARDNER (1997, p. 297) salienta a dificuldade que muitos adultos apresentam, em contraposição à liberdade de expressão da criança: “A criança brinca com sua arte enquanto o adulto luta com ela. (...) A criança repete com incessante deleite cada novo trabalho, cada novo entendimento, cada nova pincelada. A criança pequena, em geral, possui o estado mental de relaxamento e frescor.” Para GARDNER (1997, p. 293) “o oferecimento de estímulos certos pode evocar uma torrente de criatividade” e com muita freqüência os pacientes ficam surpreendidos com a sua própria expressão, com o processo e o produto da sua atividade artística e o seu trabalho passa a ser visto como um espelho de aspectos anteriormente ocultos, que vieram à luz da consciência através das atividades expressivas. HEREK e VALLADARES (2002) sugerem que, para isso, o papel do terapeuta é fundamental, pois Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 03 | set 2007

ele estimula a atividade artística, tem a percepção da obra e dos sentimentos que ela evoca no indivíduo, ouve os comentários que acompanham o processo do fazer artístico, e com os pressupostos teóricos que o fundamentam, auxilia o paciente a enxergar e a compreender os seus próprios processos, possibilitando assim a descoberta de novos caminhos, indo ao encontro de si mesmo e promovendo uma transformação do indivíduo. A Arte-terapia auxilia no processo de autoconhecimento e transformação, oferecendo inúmeros materiais para que o indivíduo sinta-se livre na escolha daquele que mais lhe for apropriado. Isso atende a sua singularidade, funciona como ferramenta para despertar e ativar a criatividade e, também, para desbloquear e transmitir à consciência instruções e informações oriundas do inconsciente. Essas informações normalmente são ignoradas, contidas e disfarçadas, encobertas e ocultas. Na psique humana as informações colaboram para o desenvolvimento de toda a dinâmica intra-psíquica, ao serem transportadas à consciência por meio do processo de Arte-terapia. Este processo é facilitado pelas modalidades e materiais expressivos diversos, tais como tintas, papéis, colagens, modelagem, construção, confecção de máscaras, criação de personagens e outras infinitas possibilidades criativas. Todos propiciam o surgimento de símbolos indispensáveis para que cada indivíduo entre em contato com aspectos a serem entendidos, assimilados e alterados. Para COLEMAN (1996, p. 11) “um dos objetivos da Arte-terapia é unir as forças da criatividade e liberdade artística com as forças de um campo mais racional da mente ou intelecto, possibilitando haver uma pessoa mais saudável e equilibrada.” Assim a Arte-terapia facilita o surgimento de material inconsciente mais próximo à superfície através das imagens e, somado a isso, há ainda os comentários falados e/ou escritos quando, durante a participação em atividades expressivas, e após a conclusão os pacientes complementam a arte com pensamentos, emoções e associações livres que são relevantes para si. A liberdade de escolha inicia com o tipo de material que se deseja utilizar, a forma com que se vai conduzir o processo criativo, até a forma final da obra e a interpretação de seu simbolismo. No fazer artístico, segundo HEREK e VALLADARES (2002, p. 2), “a produção começa a ganhar mais confiança e a pessoa permanece totalmente envolvida em sua experiência, começa a sair de uma energia indiferenciada para uma clara conscientização. 13


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Na ação, na lida com o material, a pessoa vai percebendo seu contato com o meio, o que é necessário para conseguir o resultado que ela deseja, e o que está impedindo.” A este respeito CARVALHO (1995, p. 62) comenta que o indivíduo começa a experienciar uma sensação de completude, pois começa a entender o seu processo racionalmente, além de que se encontra em um estado alterado de consciência, facilitando focalizar o universo interno, e complementa dizendo: “funciona comum um ligar de um canal mais intuitivo, mágico, onde nos surpreendemos com o próprio fazer e o sentido que nele encontramos.

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Neste fazer há um produto, que no processo terapêutico vai servir de espelho e fonte de reflexão, de identificação e descoberta. (...) Nestes processos, sentimentos e experiências tomam concretude, onde a consciência vai se formando no fazer, no exercício de si mesma.” Após a leitura das considerações dos diversos autores citados, pode-se perceber que o uso das artes no contexto terapêutico possibilita ao indivíduo a conscientização de seu mundo interno, através da representação artística dos conteúdos e conflitos que emergem de uma maneira mais simbólica, e um contato maior com o mundo externo, obtendo uma maior percepção do mundo que o cerca, sendo de vital importância a expressão do ser humano através das atividades expressivas. “Pela Arte-terapia pode-se descobrir novos caminhos e, principalmente, ir-se ao encontro de si mesmo” (CARVALHO, 1995, p. 26)

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MATÉRIA DE CAPA

CONCLUSÕES

A arte é um processo natural, todo indivíduo é um artista e tem um potencial criativo que pode e deve ser desenvolvido. Muitas vezes esse potencial é reprimido para que ele se mostre “mais adequado” socialmente, mesmo que vá contra seus desejos e necessidades. As artes proporcionam um prazer e um encontro com emoções tanto para quem faz a obra quanto para quem a observa, sendo que para percebê-la é necessário o indivíduo deixar ser lavado pelas emoções que ela evoca, tentando olha-la com os olhos de quem a realizou. O uso das artes na terapia não tem uma preocupação estética com a obra, ou seja, o “fazer bonito”, pois o importante na Arte-terapia é o contato consigo e com o mundo, despertando o potencial criativo através da arte, retomando a espontaneidade e a liberdade de escolha, da direção da própria vida, descobrindo e utilizando suas próprias ferramentas internas. Se a intenção do indivíduo é a do aperfeiçoamento artístico, este deve buscar um Arte-educador para desenvolver as diversas técnicas em arte.

A expressão artística das imagens e emoções propicia um prazer e um “desligar-se” do mundo, proporcionando um sentimento de leveza e tranqüilidade. Algumas vezes pode ocorrer que os conteúdos que emergem sejam muito “pesados”, o que freqüentemente leva o indivíduo a refletir sobre essas idéias por algum tempo. O uso das artes em terapia, por ser a obra de arte um objeto concreto, possibilita que a seqüência de criação deixe claro as fases pelas quais o indivíduo passou em seu processo terapêutico e a qualquer momento possa reviver e/ou vivenciar sentimentos que necessitem ser reintegrados à psique. A Arte-terapia proporciona um aumento da criatividade e espontaneidade, possibilitando o desenvolvimento do indivíduo em todos os seus aspectos. A mudança saudável só ocorre à medida que o indivíduo busca seu auto-conhecimento e crescimento pessoal. Certamente este trabalho não pretende esgotar o assunto, mas pode servir de embasamento para futuras pesquisas a respeito da Arte-terapia.

Bibliografia

KEYES, M. F. Inward Journey – Art as Therapy. Illinois: Open Court, 1995.

CARVALHO, M. M. M. J. de (Coord). A Arte Cura? Recursos Artísticos em Psicoterapia. Campinas: Editorial Psy II, 1995.

NAUMBURG, M. Dinamically Oriented Art Therapy. New York: Grune and Stratton, 1996.

COLEMAN, V. D. e FARRIS-DUFRENE, P. M. Art Therapy e Psychotherapy: Blending Two Therapeutic Approaches. Washington - DC: Accelerated Development, 1996. GARDNER, H.; VERONESE, M. A. V. (trad.). As Artes e o Desenvolvimento Humano: Um Estudo Psicológico Artístico. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. HEREK, L.; VALLADARES, N. D.. Arte psicoterapia: um processo de transformação. 2002. Disponível em: http://www.artepsicoterapia.com. Br/800/framearteterapia.htm. Acesso em: 20 de setembro de 2002. JUNG, C. G. O Espírito na Arte e na Ciência. Obras Completas de C. G. Jung, Volume XV. Petrópolis: Editora Vozes, 1985.

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SILVEIRA, N. Imagens do Inconsciente. Rio de Janeiro: Alhambra, 1981. _____. O Mundo das Imagens. São Paulo: Editora Ática S. A., 1992.

Autora Josiane Isabel Stroka Santana e-mail: josisan@pop.com.br Formada em Psicologia pela Universidade Tuiuti do Paraná com ênfase em Gestalt, Curitiba; formação em Arteterapia; sócia especial da Sociedade Brasileira de Dinâmica de Grupos - SBDG (Artigo apresentado como Trabalho de conclusão do Curso de Psicologia pela Universidade Tuiuti do Paraná - Curitiba/2002)

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ENTREVISTA

SEXUALIDADE E ADOLESCÊNCIA Entrevista com a Psicóloga Gilka Correia Em entrevista para a Revista ATLASPSICO, Gilka Correia (CRP 08/755), psicóloga clínica, especialista em sexualidade humana, fala sobre a iniciação sexual dos jovens. Ressalta a importância de os parceiros estarem bem informados sobre sexo seguro, DSTs (doenças sexualmente transmissíveis) e métodos contraceptivos. Gilka ainda comenta sobre os diálogos entre pais e filhos quando o assunto é sexo. Os pais devem sempre exercer um papel de mediador sobre os modismos e comportamentos sexuais incentivados pela mídia. Para finalizar a entrevista, Gilka fala um pouco sobre o papel das escolas em relação à orientação sexual. Dentro de uma instituição de ensino há carência de profissionais conscientes, responsáveis e cientificamente preparados. Confira a seguir a entrevista na íntegra.

aproveitando as oportunidades que o dia-a-dia nos oferece, como por exemplo, o comportamentos de celebridades apresentados pela mídia e programas de televisão. Ao comentar sobre esses assuntos poderão perceber quais são os conceitos e as idéias do filho(a) sobre comportamento sexual. Devem também, estar sempre atentos e prontos para responderem a dúvidas. Os pais devem também deixar claro para os filhos qual a sua posição frente aos modismos e comportamentos sexuais incentivados pela mídia.

ATLASPSICO: Quando um jovem está preparado para iniciar sua vida sexual? GILKA: Olha, não há um momento preciso. Na geração dos nossos pais, geralmente, a menina devia guardar-se virgem para o casamento, o que nem sempre acontecia, mas era a expectativa da sociedade. Ao menino era quase uma “obrigação” a iniciação sexual, como prova de virilidade, com prostitutas ou empregadinhas domésticas..., desejada até pelos pais... como prova de que era “homem”... Algumas dessas situações chegaram a ser traumáticas para muitos jovens e, principalmente, desprovidas de qualquer vínculo afetivo. Essa situação mudou muito e hoje a iniciação se dá entre os namorados ou até entre casais que são somente amigos. O mais importante é o jovem estar consciente das conseqüências do seu comportamento e respeitar o seu parceiro(a) e estar muito bem informado sobre sexo seguro, incluindo contracepção e doenças sexualmente transmissíveis.

ATLASPSICO: Quando saber o momento certo de conversar com o filho sobre sua iniciação sexual? GILKA: A hora é desde sempre... isto é, desde pequena, quando a criança descobre o seu sexo e o sexo oposto, as situações sobre sexualidade devem ser tratadas de maneira clara e sempre espontânea. Sexualidade não é só relação sexual. A sexualidade faz parte do ser humano desde o nascimento até a morte, apenas manifesta-se e expressa-se de forma diferente nas diversas fases do desenvolvimento, com comportamento e práticas diferentes. Mas está sempre presente.

ATLASPSICO: Muitas vezes os pais tem medo de chegar no filho e abordá-lo sobre o tema. De que forma os pais devem ter uma conversa com seus filhos sobre sexo? De quem deve ser a iniciativa? GILKA: O jovem sente quando não há um clima favorável ao diálogo e se cala. Cabe então, aos pais, desde cedo ir tratando dos assuntos ligados à sexualidade, com naturalidade e espontaneidade, 16

ATLASPSICO: É importante essa intervenção dos pais na sexualidade do adolescente? GILKA: Sim, pois quem mais deseja a felicidade dos filhos se não os pais... A sexualidade faz parte da vida e é importante que eles possam confiar e buscar informação com quem mais os ama..

ATLASPSICO: Muitas vezes o adolescente ou a adolescente quer iniciar sua vida sexual com o seu companheiro. O que ele deve fazer se esse jovem não tem um bom diálogo com os pais? A quem ele deve recorrer? GILKA: Se não há um bom relacionamento com os pais, esse jovem deve procurar um orientador seguro, que pode ser um profissional da saúde, um médico ou um psicólogo. Atualmente esses profissionais estão sensibilizados para orientar os jovens... Às vezes um tio(a) ou um amigo mais velho, se for confiável. ATLASPSICO: É importante a menina procurar um médico ginecologista e o menino um médico urologista antes da iniciação sexual? Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 03 | set 2007


ENTREVISTA

Enquanto os pais e educadores não fazem nada, a mídia encarrega-se de ditar normas e ATLASPSICO: Como o adolescente pode se valores morais para a nosprevenir contra doenças sexualmente transmissíveis como a aids e ainda a gravidez indesejada? sa juventude. GILKA: Mantendo-se sempre muito bem inGILKA: Olha, não é necessário ser um médico especialista, porque geralmente, não há nenhuma doença presente. O ginecologista é indicado como boa fonte de informação para as meninas, em função da prevenção da gravidez indesejada.

formado e utilizando na prática essas informações. Muitas vezes eles conhecem as doenças e como ATLASPSICO: Por que é importante um preveni-las mas não fazem uso das informações. projeto sobre orientação sexual nas escolas e na coO pensamento mágico da adolescência está sempre munidade? presente e às vezes pensam assim: ”Isso acontece GILKA: Em primeiro lugar, para atender a uma com os outros... nunca vai acontecer comigo...” recomendação do MEC, já citada anteriormente. Em segundo lugar para cumprir seu papel de eduATLASPSICO: Qual o papel das escolas em rela- cador de maneira integral e plena. ção à sexualidade de seus alunos? GILKA: A sexualidade sendo parte inerente à ATLASPSICO: Por que ainda é tão difícil falar vida, a educação sexual deveria estar presente na sobre sexo ou sexualidade em casa e nas escolas? escola desde o pré-primário, tratando do assunto GILKA: Porque apesar de estarmos iniciando de acordo com a compreensão de cada faixa etária. um novo século ainda temos ranços de moralidaAliás, está preconizada pelo Ministério da Educa- de vitoriana e fechamos enterramos os olhos como ção, como temas transversais dentro dos Parâme- avestruzes, fingindo que não vemos o que ocorre tros Curriculares. Faltam profissionais conscientes, no dia-a-dia. Enquanto os pais e educadores não responsáveis e cientificamente preparados. fazem nada, a mídia encarrega-se de ditar normas e valores morais para a nossa juventude. ATLASPSICO: Como os professores devem proceder diante as dúvidas dos alunos? ATLASPSICO: Qual a importância do papel do psiGILKA: Da mesma forma que procedem com cólogo em instituições de ensino e na comunidade? dúvidas de Matemática, Português, História e GeoGILKA: O psicólogo deve integrar equipes ingrafia, desde que dominem o assunto. Se não, en- terdisciplinares das instituições de ensino para caminhem para o orientador educacional da escola orientar sobre as características psicológicas de ou pessoa melhor preparada. cada faixa etária e como lidar com situações que envolvam a sexualidade e outras dúvidas dos adolescentes, como as drogas, por exemplo.

O ginecologista é indicado como ATLASPSICO: Quando o sexo tornaboa fonte de informação para as se enfadonho para o adolescente? GILKA: Quando foi realizado sem o meninas, em função da preven- seu livre arbítrio e a devida consciência e responsabilidade. ção da gravidez indesejada. Gilka Correia (CRP 08/755) Filósofa, professora universitária da UFPR, psicóloga, especialista em Psicologia Clínica e Hospitalar, sexóloga e mestre em Educação. gilka.correia@terra.com.br Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 03 | set 2007

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PSICOLOGIA E ARQUITETURA

TODOS INDIVÍDUOS BUSCAM A SUA IDENTIFICAÇÃO, A SUA MARCA PESSOAL, TANTO EM VESTIMENTAS, EM GESTOS, MAS PRINCIPALMENTE, ATRAVÉS DA CARACTERIZAÇÃO DO SEU ESPAÇO. ESSE ARTIGO VISA DEMONSTRAR A LIGAÇÃO ENTRE A PERCEPÇÃO E CONSTRUÇÃO DO AMBIENTE.

AUTORA: Fabiana Ferreira da Silva | CREA-PR 74675/d fabi_arquitetura@yahoo.com.br

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PSICOLOGIA E ARQUITETURA

por Fabiana Ferreira da Silva | Arquiteta e Urbanista

PSICOLOGIA E ARQUITETURA

PERCEPÇÃO DOS ESPAÇOS EM BUSCA DA IDENTIFICAÇÃO DO SER

A primeira, ou umas das primeiras atitudes do homem nômade para tornarse sedentário, foi a busca da moradia fixa. A busca por um espaço seu, onde pudesse criar a sua família, plantar o seu alimento e criar os seus animais. Isso deu uma característica ao homem: ser o único animal capaz de modificar a paisagem em que vive. Cada modificação que o homem faz em seu espaço, é uma tentativa de molda-lo aos seus desejos, criando algo à sua imagem e semelhança. É muito comum reconhecermos vilas, ou cidades, pelo tipo de suas habitações, pelo seu paisagismo, pelos seus detalhes culturais que transparecem na arquitetura. Entretanto, essa identificação não ocorre apenas no coletivo das cidades, mas ocorre principalmente na individualidade, ou seja na própria residência. Quando o individuo se apropria do seu “local”, assim como os nossos ancestrais, ele demarca o seu território, tornando-o um universo único, que revela quem ele é e como se posiciona diante desse espaço, que o protege e acolhe. Por esse motivo, quando um cliente vai a um escritório de arquitetura, ele apenas quer que o arquiteto coloque no papel o seu sonho, não se preocupando se o estilo da casa será “art noveau”, barroco, clássico, gótico. É muito comum, arquitetos se desentenderem com os seus clientes e não prosseguirem o projeto, por acharem que as idéias do proprietário são “desapropriadas e ultrapassadas”. Ou a pior hipótese, o cliente acaba cedendo à pressão do arquiteto, e constrói a sua casa no “estilo modernista”, vendendo-a depois, por não conseguir morar no local. O indivíduo primeiro percebe o ambiente, e depois, através dos sentidos, consegue dizer se sente bem ou não.

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A relação ambiente construído – comportamento humano, é muito forte, por isso é necessário que antes do projeto ser concebido, haja uma leitura da personalidade do cliente, uma percepção do ambiente que ele considera ideal. A percepção torna-se “....fator de relevância para análise do ambiente em fruição, indicando e dimensionando seus aspectos qualitativos, de categorias tipológicas, incidência e relações, alertando sobre as demandas e anseios de melhoria, tendo em vista a evolução, atualização e as projeções futuras (...), avaliação que procede segundo seu alcance de conhecimento para uso também de seu alcance no saber e na cultura própria” (Monzéglio, 1990, pp.33) Essa percepção tem muito mais de psicologia, do que de arquitetura propriamente dita: saber os hábitos da família, quantos moram na casa, quais seus hobbies, qual cor preferida. Em cada objeto escolhido, em cada cor, em cada material, tudo tem sua simbolização inserida na significação produzida pelos sentidos. O indivíduo primeiro percebe o ambiente, e depois, através dos sentidos, consegue dizer se sente bem ou não. “O homem e suas extensões constituem um sistema inter-relacionado. É um erro agir como se homens fossem uma coisa e sua casa, suas cidades, sua tecnologia, ou sua língua, fossem algo diferente.” (E. Hall, 1996, pp. 166). Sendo assim, o edifício, a casa, deixa de ser avaliado apenas como algo construído, e passa a ser encarado como um espaço “vivencial”, que será ocupado por pessoas. Além do que, o contato direto do indivíduo com o objeto, torna-o um crítico severo. Por isso, desde o projeto até a escolha dos acabamentos, o arquiteto tem que ser “psicólogo”, pois é extremamente necessário que conheça os sentidos dessa subjetividade individual que está construindo em tijolos.

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COMPORTAMENTO

Psicoterapia em grupo por Vanderlei Semprebom

Longe de ser apenas uma reunião de pessoas que falam de seus problemas, a terapia de grupo é muito mais que isso. Amplamente praticada e empregada em grande número de situações por ser altamente flexível, pode ser adaptada a uma variedade de ambientes, tempo e objetivos. Tem sido, com sucesso, utilizada em vasta gama de intervenções na área da saúde; a título de exemplo: programas de combate ao tabagismo, doenças crônicas como LER (Lesões por Esforços Repetitivos), DORT (Distúrbios Osteomosculares Relacionados ao Trabalho), obesidade, alcoolismo etc. dentre outras, estas são algumas modalidades mais comumente conhecidas que se beneficiam e muito com trabalho em grupo que inclui a integração de uma base pedagógica e/ou andragógica combinadas com interações interpessoais. Em geral esses programas incluem além da base orgânica dos quadros que perturbam a saúde, também a base social e psicológica, as quais são consideradas por contribuírem à eficácia, destes importantes programas, e o fazem de sobremaneira. Uma modalidade que se destaca na forma de intervenção grupal é a psicoterapia em grupo, que reconhecidamente contribui com profícuos préstimos aos que dela se valem. Em seus primórdios, era utilizada para tratar indivíduos neuróticos apenas. Atualmente, uma dose de profundidade terapêutica é bastante admitida em grupos de desenvolvimento para pessoas que desejam obter um “plus” em suas vidas, despertando habilidades latentes. Mesmo porque o talento humano para aprofundar-se em direção a cura de si, é tão incomensurável que, em muitos grupos de treinamento ou desenvolvimento, o facilitador precisa observar até que ponto é treinamento e desenvolvimento e a partir de que ponto será terapêutico, para evitar confluências, especialmente nos grupos de longa duração. É importante elucidar que por grupo terapêutico entende-se qualquer grupo voltado para o tratamento de desequilíbrios orgânicos, psicológicos ou ambos, e cuja coordenação seja conduzida por profissionais devidamente inscritos em seus respectivos conselhos fiscais da sua área como: enfermeiros, fisiologistas, médicos, nutricionistas, psicólogos, etc. para estes grupos são admitidos procedimentos de tratamentos que incluam recursos como medicação e implementos. 20

Como grupo psicoterapêutico, todavia, entendese a aplicação de técnicas psicológicas diretivas (argumentação, orientação) e não-diretivas (ampliação da consciência) para o tratamento que não utiliza medicação ou algum equipamento de qualquer espécie. A maior utilização da psicoterapia em grupo tem sido nos ambientes intra-institucionais, sobretudo no setor público, como hospitais e clínicas, para tratar doenças específicas e também como um importante recurso, inclusive devido à economia. Todavia, hoje se estende para além, perpassando as margens destas instituições sendo aplicada por organizações que trabalham com o desenvolvimento humano também nos setores privado (programas de prevenção) e não-governamentais (programas de desenvolvimento e assistência). A dedicação à crescente utilização das práticas psicoterapêuticas sob configuração de grupo se dá, segundo importantes teóricos (Zímerman e Osório, 1997; Kaplan e Sadock, 1996; Vinogradov e Yalon, 1989; Fonseca. 1988; Kadis, 1976; Speier, 1968), devido a recursos únicos dessa configuração proporcionados pela interação social, pela sua eficácia comprovada e pela viabilidade econômica. A configuração de grupo tem uma importante influência na forma de se estabelecer às interações entre as pessoas. O grupo em si, desde o núcleo familiar, é um dos mais importantes fatores no desenvolvimento psicológico do indivíduo. Esta configuração facilita em muito a reedição de experiências anteriores na formação do participante e de sua socialização, um dos fatores que mais contribuem na terapia psicológica aplicada em grupo, através da qual, relacionamentos interpessoais são estimulados, gerando grande efeito na reedição dos vínculos e apegos e papéis mais adaptativos. O grupo proporciona um ambiente fértil a experiências emocionais corretivas frente à presença dos outros membros, que estão como agentes de auxílio e apoio, da mesma forma estimula o desenvolvimento das habilidades sociais, mediante a relação horizontal, na qual o psicólogo facilitador procura estimular as interações entre os participantes. Neste campo fértil antigos padrões não funcionais de comportamento de cada um se evidenciam, havendo rica possibilidade de serem reorganizados de maneira a engendrar soluções mais funcionais na vida de cada participante. Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 03 | set 2007


COMPORTAMENTO

A interação entre os participantes tem um papel crucial, é unicamente possível na configuração de grupo, e um importante reforço ao sucesso da terapia individual, uma vez que em qualquer abordagem terapêutica individual, o padrão de relacionamento paciente e terapeuta está configurado na forma de díade, deste modo há uma perda das possibilidades que a interação grupal traz em seu bojo. Em grupo, a variação do padrão de relacionamento é muito mais ampla, visto que, diante de qualquer ação do participante, ele mesmo fica sujeito a vários padrões de reação como feedbacks que ocorrem continuamente; assim, cada outro participante se coloca como uma inesgotável fonte de possibilidades. Os freqüentes feedbacks tornam mais evidente para si mesmo a influência de suas ações neste meio, bem como as conseqüências destas ações advindas das reações do outros, impelindo para maior autoconsciência e auto-responsabilidade. A maior parte dos terapeutas grupais consideram bastante feliz a recomendação da terapia individual em conjunto com a terapia de grupo, sejam ambas sincrônicas ou mesmo em intervalos de permuta, ora uma ora outra, em função de que um nível maior e insight têm conduzido os participantes que fazem ou que já fizeram acompanhamento individual a resultados mais producentes que aqueles participantes que ignoram essa recomendação. No entanto, na terapia de grupo o leque de possibilidade de vivências é muito mais amplo do que na terapia individual, fornecendo ao paciente toda uma viabilidade de experimentação em ambiente seguro, que permitirá desenvolver e ampliar o repertório pessoal de comportamentos, incorporando essas novas ações e reações na sua vida cotidiana. Este fato é reflexo do caráter de universalidade das vivências na psicoterapia grupal. A interação ainda permite contínuos testes de realidade mediante a validação consensual; isto se dá porque, o indivíduo percebe a realidade de uma maneira idiossincrática e, em grupo, grande parte da percepção é continuamente tornada pública, podendo ser conformada ou não, o que ecoa em mudanças para forma mais objetiva de perceber a realidade. Outra vantagem é que mediante a interação, cada indivíduo tem acesso à história do outro, e com freqüência se mobiliza a oferecer ajuda contando de si, contando de como enfrenta problemas semelhantes; esta iniciativa, estimulada pelo terapeuta como facilitador do processo grupal, traz aos indivíduos que participam, um sentimento de utilidade e altruísmo. As pessoas se identificam com histórias contadas pelos outros, o que encontra ressonância em suas emoções, possibilitando-as Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 03 | set 2007

perceber seus problemas por outros ângulos e visualizar novas saídas para suas dificuldades. Os especialistas atribuem o sucesso da terapia em grupo a inúmeros fatores, os principais são: a instalação da esperança; a universalidade versus a sensação de isolamento; a troca de informações; o altruísmo, através do qual apoio e reasseguramento são oferecidos pelo grupo aos seus componentes; vasta possibilidade de reedição das experiências insatisfatórias da célula social - a família; a compreensão e aceitação por parte do grupo das suas dificuldades; a aprendizagem interpessoal ao experimentar as relações no grupo; a vivência e compartilhamento de emoções fortes e significativas, através da qual, cada um desenvolve uma visão mais objetiva de seu próprio comportamento e do impacto que este tem nas suas relações ou no seu problema específico. Ainda que as necessidades psicológicas de cada um sejam diferentes e os problemas sejam singulares, é justamente a configuração grupal que permite uma série de mecanismos terapêuticos de mudança e estímulos. Os mecanismos grupais que favorecem os resultados em terapia psicológica em grupo incluem os pressupostos básicos de Bion (1970): dependência, contra-dependência (luta-funga), e inclusão afetiva. Tais pressupostos estão sempre presentes em todos os grupos. Os ganhos terapêuticos através da conscientização desses pressupostos são claramente observados durante o processo contínuo da terapia grupal, em que o indivíduo parte de uma posição de vítima, para uma posição mais participativa e responsável por seus resultados pessoais. Habitualmente a terapia se dá com um grupo pequeno de pessoas que se reúne sob a coordenação de um psicoterapeuta e freqüentemente um co-terapeuta, especializados, em local reservado e por um período curto de tempo. Mas também pode 21


COMPORTAMENTO

ser mais extensas, efetuadas sob a forma de imersão ou maratonas, circunstância esta que pode durar dias. Em todo caso, trata-se de sessões de grupo psicologicamente orientadas, um espaço onde cada um tem a oportunidade de interagir, encontrando solução e alívio para seu problema específico ou sofrimentos. Tal estrutura, exclusiva dessa forma de intervenção, torna possível o uso de técnicas, muito específicas, conduzindo cada participante a atingir seus objetivos terapêuticos com o máximo aproveitamento da ação conjunta e respeitando os limites de cada um. Entre as técnicas da psicoterapia aplicada em grupo está, por exemplo, o enfoque no presente, onde são considerados as experiências passadas e os objetivos, todavia, com seu significado no atual momento existencial dos indivíduos participantes. Este processo facilita o acesso a estímulos motivacionais que estejam conduzindo a ações ineficazes quanto ao resultado e soluções pretendidas pelo participante, permitindo perceber

esse padrão errático enquanto ele ocorre e substituí-lo por um padrão mais efetivo de comportamento. Com a intervenção de um terapeuta bem preparado, a abordagem grupal, que continuamente revê o comportamento no grupo em tempo real, facilita a conscientização do processo de desenvolvimento em cada participante, consoante com o processo grupal. Uma imagem distorcida se faz da terapia psicológica proveniente do medo da exposição na configuração grupal, contudo, não há o que temer, em tais grupos, o coordenador terapeuta, bem preparado, ao mesmo tempo em que estimula a abertura, cuida para que cada participante não se exponha além do limite que preserva sua integridade pessoal. Quando furtivamente alguma exposição desmedida, para mais ou para menos vier a ocorrer, o próprio grupo dá continência e as diretrizes do quanto está capacitado para solicitar e tolerar no tocante à abertura.

1. KADIS, Asya L.. e cosl. (1976) Psicoteria de grupo. São Paulo. Ibarsa. 2. KAPLAN, Harold I., SADOCK, Benjamim J. (1996) Compêndio de psicoterapia de grupo. Porto Alegre. Artmed. 3. RIBEIRO,Jorge Ponciano. (1995) Psicoterapia Grupo Analítico. Teoria e Técnica. 2ed. São Pauli. Casa do Psicólogo. 4. VINOGRADOV, Sophia. YALON, Irving D. (1989) Psicoterapia de grupo. Porto Alegre. Artes Medicas. 5. WESSLER, Richard L. (1999) Terapia de Grupo Cognitivo-comportamental. In Manual de Técnicas de Terapia e Modificação do Comportamento. De CABALLO, Vicente E. São Paulo. Santos. pp.721740. 6. SPEIER, Anny.(1968) Psicoterapia de grupo em la infancia. Buenos Aires. Protezo. 7. ZIMERMAN, David E.; OSÒRIO, Luiz Carlos, e cols. Como trabalhamos com grupos. (1997) Porto Alegre. Artemes. 8. _________, (2000) Fundamentos básicos em grupoterapias. 2.ed. Artmed.Porto Alegre. AUTOR: Vanderlei Semprebom Psicólogo CRP 08/08860, graduado em Psicologia pela Universidade Tuiuti do Paraná. Pós-graduação em Psicologia Cognitiva e Comportamental. Email: semprebom@psicosinergia.com.br Site: www.psicosinergia.com.br

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PSICANÁLISE

“Um fenômeno é sempre biológico em suas raízes e social em sua extensão final. Mas nós não devemos esquecer, também, de que, entre esses dois, ele é mental”. Jean Piaget

PSICOPATOLOGIA E ESTRUTURAS CLINICAS Este artigo se propõe abordar as várias facetas que estão por trás da definição das psicopatologias e das estruturas clínicas. Para isso começarei abordando as definições de psicopatologia, suas várias linhas de pensamento e a definição de estrutura, tentando abarcar uma definição mais extensa e qualitativa possível para demonstrar a dimensão da palavra estrutura, para daí podermos falar de doenças psíquicas. Por fim, abordar-se-á rapidamente a definição de normalidade e conseqüentemente ou juntamente a constituição bio-psico-sócio-cultural do sujeito, enfatizando o item psíquico, onde sera tratado a importância da linguagem na constituição do sujeito e conseqüentemente a importância da mesma na formação das psicopatologias. Podemos definir psicopatologia como o ramo da ciência que trata da natureza essencial da doença mental, suas causas, mudanças estruturais e funcionais associadas a ela e suas formas de manifestações. É um conhecimento que se esforça por ser sistemático, elucidativo e desmitificante. A psicopatologia tem boa parte de suas raízes na tradição médica, que propiciou, nos dois últimos séculos, a observação prolongada e cuidadosa de um grande número de doentes mentais. Em uma outra vertente a psicopatologia se nutre de uma concepção humanista, que sempre viu a alienação mental no phatos do sofrimento mental extremo, uma possibilidade excepcionalmente rica de reconhecimento de dimensões humanas, que sem o fenômeno doença mental permaneceriam desconhecidas. Como alega Jaspers (1913, p.123): “nosso tema é o homem todo em sua enfermidade”. Durante a pequena história das ciências dos transtornos mentais, uma das características da Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 03 | set 2007

psicopatologia é a multiplicidade de abordagens e referências teóricas. Nessas diversidades de explicações surgiram várias correntes, como: a psicopatologia descritiva (preocupa-se em descrever as experiências subjetivas e também o comportamento resultante durante a doença mental. Ela não arrisca explicações para tais experiências ou comportamentos, nem comenta sobre a etiologia ou o processo de desenvolvimento. Consiste de duas partes distintas: a observação do comportamento e a avaliação empática da experiência subjetiva), a psicopatologia dinâmica (interessa o conteúdo de vivência, os moviemntos internos dos afetos, desejos temerosos do indivíduo, sua experiência particular, pessoal), médica (trabalha com uma noção de homem centrada no corpo, no ser biológico como espécie natural e universal), existencial (o doente e visto principalmente como existência única, singular, que é fundamentalmente histórico e humano), comportamental-cognitivista (o homem é visto como um conjunto de comportamentos observáveis, verificáveis, regulados por estímulos específicos e gerais, bem como por certas leis e determinantes do aprendizado), psicanalítica (o homem é determinado, dominado por forças, desejos e conflitos inconscientes inscritos na sua psique e os sintomas e síndromes são considerados formas de expressão de conflitos, predominantemente inconscientes, de desejos que não podem ser realizados, de temores a que o indivíduo não tem acesso), categorial (acredita que as alterações nos doentes psíquicos podem ser compreendidas na forma que estes vivenciam o mundo interior, vivência de espaço, do temppo, da materialidade e da causalidade), biológica (enfatiza os aspectos 23


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cerebrais, neuroquímicos ou neurofisiológicos das doenças e sintomas mentais), sociocultural (é nesse contexto de normas, valores e símbolos culturalmente construídos que os sintomas recebem seu significado e, portanto, poderiam ser precisamente estudados e tratados), dentre tantas outras. Ao desenrolar o processo de compreensão das psicopatologias a noção de estrutura psíquica é mister uma clarificação do conceito de estrutura psíquica. Estrutura, em psicopatologia, corresponde àquilo que, em um estado psíquico mórbido ou não, é constituído por elementos metapsicológicos profundos e fundamentais da personalidade, fixados em um conjunto estável e definitivo. Assim também Freud pensava que, quando o psiquismo individual houvesse atingido um grau de organização equivalente a uma “cristalização” definitiva, segundo linhas de força (e de fraquezas) interiores complexas e originais, a seguir não haveria mais variação possível: em caso de ruptura do equilíbrio anterior, um sujeito de estrutura psicótica apenas poderá desenvolver uma psicose, e um sujeito de estrutura neurótica, somente uma neurose. É elementar que não basta esta simples definição para esgotarmos o conceito de estrutura de personalidade, mas será mantida esta definição como base de pensamento afim de que defina-se o arcabouço do artigo. É imprescindível que ao falar de estruturas de personalidade e de psicopatologia, pode-se clarificar ainda mais a noção de psicopatologia. O conceito de normalidade em psicopatologia é uma questão de grande controvérsia. Obviamente quando se trata de casos extremos, cujas alterações comportamentais e mentais são de intensidade acentuada e longa duração, o delineamento das fronteiras entre o normal e o patológico não é tão problemático. Entretanto há muitos casos limítrofes nos quais a delimitação entre comportamentos e formas de sentir normais e patológicas é bastante difícil. Nesses casos o conceito de normalidade em saúde mental ganha especial relevância. Na tentativa de definir normalidade algumas palavras são usadas comumente, mas de um modo inconsistente; portanto, apesar de sabermos o que pretendemos dizer com elas, somos incapazes de supor que outras pessoas a utilizam da mesma maneira. Duas dessas palavras sáo normal e saudável. Em uma discussão sobre a doença mental elas ocorrem tão frequentemente que devem ser examinadas brevemente antes de uma excursão adicional à psicopatologia. A palavra noraml é usada corretamente no mínimo em quatro sentidos (Moebray, Rodger e Mellor, 1979). Estes consistem das nosrmas de valor, estatistica, individual e tipológica. O termo “noraml” passa 24

a ser usado indevidamente quando sibstitui injustificadamente as palavras usual ou usualmente. A norma de valor tem como seu conceito de normalidade. Assim, a afirmação “é normal ter dentes perfeitos” está usando a palavra normal em sentido de valor- na prática, a maioria das pessoas tem, no mínimo, algum problema com dentes. A norma estatística, naturalmente, é usado preferencialmente que a palavra retém no vocabulário científico. O anormal é considerado aquele que fica fora dafaixa média. Se um inglês normal mede 1m80cm, ter 1m60cm ou 1m90cm é estatisticamente anormal. A norma individual é o nível consistente de funcionamento que o indivíduo mantém ao longo do tempo. Após um lesão cerebral, uma pessoa pode experimentar um declínio na inteligência, que é certamente uma deteriorização de seu nível individual prévio, mas tal diminuição pode não representar qualquer anormalidade estatística (por exemplo uma diminuição no QI de 125 para 105). A anormalidade tipológica é um termo necessario para descrever a situação em que uma condição é considerada como normal em todos os três significados anteriormente citados e, contudo representa anormalidade, talvez mesmo uma doença. O exemplo dado por Mowbray e colaboradores é a doença infecciosa pinta. As manchas cutâneas causadas por esta doença são altamente valorizadas pelos índios da America do Sul, a tal ponto que os que não têm esta doença são excluídos da tribo. Assim, possuir a doença é considerado normal em sentido de valor, estatístico e individual, e ainda assim é patológico. No entanto, para darmos uma visão simplificada do conceito de psicopatologia poderíamos propor o conceito de normalidade alegando que o verdadeiro sadio não é simplesmente alguém que se declare como tal, nem sobretudo um doente que se ignora, mas um sujeito que conserve em si tantas fixações conflituais como tantas outras pessoas, e que não tenha encontrado em seu caminho dificuldades para suplantá-las. Ao contrário, na “anormalidade” o sujeito, não sendo tão flexível em suas necessidades pulsionais, apresenta, tanto no plano social como no pessoal, comportamentos anormais até mesmo em circunstâncias normais. Exposto algumas definições do conceito de normalidade podemos abordar agora a constituição bio-psico-socio-cultural do sujeito. Biologicamente, podemos começar relatando a grande influência que a genética humana aponta para os distúrbios mentais. O grande avanço da ciência genética tem proporcionado analisar mais de perto o que mesmo Freud declarou: que por trás de toda patologia há sempre algo de biológico. Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 03 | set 2007


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Indo além, sabemos que para manifestar qualquer questão mental, precisamos de uma região cerebral onde possam ocorrer as sinapses, e para que o comportamento seja sustentado, enfim, precisamos de um centro material, corporal. Mas devido a complexidade do cérebro, ainda não somos capazes de localizar exatamente qual região cerebral desenvolve qual função neurológica, ou disfunção neurológica. Socialmente, certos acontecimentos na vida do sujeito podem desencadearem psicopatologias, desde a morte de uma pessoa querida, até mesmo um fato considerado o mais banal possível, mas que para o sujeito terá grande relevância para desenvolver seus sintomas. Sabemos também que o núcleo de toda atividade social, a família, tem grande importância na formação do caráter e da estrutura mental do sujeito, e que dela pode resultar uma série de eventos psíquicos a partir de um histórico familiar mal sucedido. Uma família, por exemplo, que não tenha proporcionado ambiente para que os estágios do desenvolvimento humano, fossem bem desenvolvidos, com certeza contribuirá em grande parcela para que o sujeito desenvolva uma personalidade desestruturada. Podemos tomar como exemplo concreto a universalidade do complexo de Édipo, que depende de figuras parentais para que a castração venha a ocorrer. Na falta dessas figuras, o sujeito terá grande chance de desenvolver algum distúrbio mental. Por fim, ainda dentro do critério social, o fator econômico. Estudos feitos dentro de diversas camadas sociais, pela própria Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta para a constatação do impacto da economia nos transtornos mentais e comportamentais. Em 1993, quando a Escola de Saúde Pública de Harvard, juntamente com a OMS e o Banco Mundial, investigaram a Carga Global de Doença (CGD). Quando parados de usar medidas epidemológicas que se limitam a medir mortalidade devido a uma enfermidade e começado a medir coisas mais complexas, como a incapacidade, estes cálculos fizeram o Banco Mundial e a OMS verem que as enfermidades que nunca haviam sido mencionadas como prioritárias tinham uma carga de incapacidade terrível, segundo essa pesquisa uma em cada quatro famílias tem um membro que sofre de trasntornos mentais e comportamentais devido ao desmembramento das famílias, em grande parte está relacionada com o fator econômico, que impele, muitas pessoas a tomarem atitudes, que indiretamente atingem o âmago da questão psicopatológica. Culturalmente falando, temos questões mais abrangentes. A época em que Freud tratou das Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 03 | set 2007

doenças mentais, não é mesma em que vivemos hoje. Aspectos contemporâneos, poderíamos dizer pós-modernos, contribuem fortemente para uma nova visão da psicopatologia. Os sintomas não são mais os mesmos. O psique delinea-se conforme a mudança dos valores. Entra aí questões éticas, que ejetam novos conteúdos em nosso super-ego, e em nosso Id, contrabalançando o modo como os dois vão atuar em nosso ego. Nesse tópico encontramos vários autores (Merleau-Ponty, M. (1945); Tatossian, A. (2001); Strauss, J. & Carpenter Jr, W. (1981), Matsumoto, D. (1997), Marsella, A. & Yamada, A. M. (2000); Kleinmam, A. & Good, B. (1985); Sloan, T. (1996), que remetem grande percentual dos transtornos mentais ao fator cultural. Para completar a explicação da constituição do sujeito, e os critérios de formação de caráter, é imprescindível que seja tomado o caráter psíquico da constituição do sujeito. Traçando paralelos entre a psicanálise e filosofia analítica, tomar-seá a formação psíquica através da linguagem com estruturadora mental. Segundo Condillac (1750), em seu livro “A Lógica” as línguas fazem nossos conhecimentos, nossas opiniões, nossos preconceitos, e por que não acrescentarmos a estruturação mental num geral. Lacan coloca que o inconsciente é o discurso dos outros. Para que um discurso ocorra, precisamos da linguagem e suas significações, precisamos da cadeia de significantes que vão constituir esse discurso que permeia a nossa mente. Lacan (1949) dá uma extraordinária importância ao aspecto estruturalista da linguagem, de modo que para ele a palavra tem tanto ou mais valor do que a imagem visual, a ponto de declarar que o ser humano está inserido em universo de linguagem. A imagem é significada e ressignificada pela palavra. Uma criança identifica-se com a representação e o afeto com que o adulto significativo celebra ou desqualifica algum traço, valor ou atividade do filho. Assim, a linguagem determina o sentido e gera as estruturas da mente. Ao mesmo tempo em que a linguagem é estruturante do inconsciente, esse também é estruturado como uma linguagem. A unidade fundamental da palavra é o signo que está composto por uma imagem acústica, que se constitui como significante, e por conceito, que determina o significado, sendo que o importante da estrutura linguística é o lugar que cada signo ocupa nessa estrutura, bem como a relação de cada um dos signos com os demais signos, nessa relação temos a metáfora e a metonímia. O psiquismo funciona como uma cadeia de significantes, de tal sorte que por meio de “deslizes” 25


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(deslocamento, condensação e simbolização) um significante é remetido a um outro, de um modo que permite comparar esse processo com o de uma decifração de uma carta enigmática. Nessa decifração entra, e com grande importância, a interpretação analítica, seja tomada no entendimento de Condillac, enquanto método ou sistema de pensamento, ou em Freud, enquanto análise do inconsciente. Assim, através do discurso do paciente podemos detectar de qual estrutura está constituída a sua psique: neurótica, psicótica ou perversa. Com a análise das exposições de Lacan e filósofos da linguagem, tais como: Wittgenstein, Saussure, Derrida, Frege, Moore, Pierce, não podemos negar a importância que a linguagem tem na constituição psíquica do sujeito. Somos humanos, “normais” ou “doentes” porque falamos, e fazemos das nossas palavras, nossas ações. A psicopatologia e as estruturas mentais não podem ser tomadas em óticas restritas e egoístas para fundamentar uma explicação, é crucial a relevância dos vários parâmetros da ciência da mente, pois assim como o humano em suas diferentes projeções de humano, a ciência da mente deve manifestar-se por igual

Bibliografia BARLOW, David H. Transtornos Psicológicos. 2ª edição. Porto Alegre: ArtMed, 1999. CAMPELL, Robert. Dicionário de Psiquiatria. São Paulo: Martins Fontes. 1986. CONDILLAC, Etienne Bonnot. Tratado dos Sistemas. In: Coleção Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979. _________. Lógica. In: Coleção os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979. BERGERET, Jean. Personalidade Normal e Patológica. 3ª edição. Porto Alegre: ArtMed, 1998. DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e Semiologia dos Transtorno Mentais. Porto Alegre: ArtMed, 2000. KAPLAN, Harold I. e SADOCK, Benjamin. Compêndio de Psiquiatria. 6 ª edição. Porto Alegre: ArtMed, 1991. JASPERS, Karl. Psiquiatria Geral. Porto Alegre: ArtMed, 1985. LACAN, Jaques. Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora. 2001. MARSELLA, A & YAMADA, A M. (2000). Culture and mental health: an introduction an overview of foundations, concepts and issues. In: I. Cuéllar & F. Paniagua (Ed.). Handbook of multicutural mental health. London: Academic Press. MERLEAU_PONTY, M. (1945) Phénomenologie da la percepcion. Paris: Gallimard. MOREIRA, V. & SLOAN. T. (2002). Personalidade, Ideologia e Psicopatologia Crítica. São Paulo: Escuta. _______________. Más alla de la persona: Hacia una psicoterapia fenomenológica mundana. Santiago: Editorial Universidad de Santiago de Chile. SCHULTZ, Duane e Sydney Ellen. História da Psicologia Moderna. 9 ª edição, São Paulo: Cultrix, 2000. TATOSSIAN, A. (2001). Culturas e psiquiatria: Sintoma e cultura. Cultura e psicopatologia. Revista Latinoamericana de Psicologia Fundamental. 4 (3) VV.AA. Teorias da Personalidade. 4 ª edição, Porto Alegre: ArtMed, 2000. ZIMMERMAN, David E. Fundamentos Psicanalíticos. Porto Alegre: ArtMed, 1999.

AUTOR SAMUEL ANTOSZCZYSZEN Bacharel em Psicologia e psicólogo pela Universidade Tuiuti do Paraná. Hoje reside nos Estados Unidos. e-mail: samfeel@pop.com.br

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PSICOLOGIA INFANTIL

TDAH

Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade

Nestes últimos tempos uma das principais causas de encaminhamento de crianças para atendimento psicológico, é pôr que, segundo pais, professores, familiares, elas apresentam um baixo rendimento escolar, e explicam isso falando que são crianças “preguiçosas”, “difíceis”, “irrequietas”, estão sempre no “mundo da lua”, “agressiva” e eles não sabem mais como lidar com elas. Então, começam a se perguntar: O que significam tais comportamentos? O que os causam? O que isto está acarretando no processo ensinoaprendizagem? O que pais, professores podem estar fazendo pôr estas crianças? Como o psicólogo pode estar ajudando? Necessitaria de ajuda de outros profissionais? São estas e outras questões que estarei tentando responder neste trabalho e que poderá ajudar a todos entender um pouco mais estes comportamentos. Assim meu objetivo neste trabalho é falar sobre TDAH – Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade, suas características, implicações, os critérios para diagnóstico e pôr fim uma orientação para pais, professores de como ajudar essas crianças no contexto familiar e escolar. Muitas são as referências de médicos que já pôr volta de 1890 trabalhavam com pessoas que apresentavam danos cerebrais e sintomas de desatenção, impaciência e inquietação, bem como sujeitos retardados sem história de trauma. Pensou-se que crianças que manifestavam sintomas de inquietação, desatenção e impaciência, eram crianças com inabilidade de internalizar regras e limites e denominaram este problema como “defeito na conduta moral”. Começou também a associar essas alterações comportamentais, principalmente a hiperatividade, com lesões do sistema nervoso central e ser definido como um distúrbio neurológico vinculado a uma lesão cerebral. Mais tarde passou-se a definir esta síndrome sob uma perspectiva mais funcional, dando ênfase à caracterização da hiperatividade como síndrome de conduta e a atividade motora excessiva como sintoma primordial.

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PSICOLOGIA INFANTIL

Em 1980, a partir de diversas investigações, foi denominado de Distúrbio do Déficit de Atenção, ressaltando os aspectos cognitivos, principalmente o déficit de atenção e a falta de autocontrole ou impulsividade. Em 1994, o DSM-IV, Manual Diagnóstico e Estatístico das Doenças Mentais passou a denominar como Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade usando como critério de diagnóstico dois grupos de sintomas: a) Desatenção b) Hiperatividade/impulsividade

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la e de um parto que transcorrera sem problemas, a criança era um bebê que chorava muito, que dormia pouco e bastante agitado. A característica essencial do Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade é um padrão persistente de desatenção e/ou Hiperatividade, mais freqüente e severo do que aquele tipicamente observado em indivíduos em nível equivalente de desenvolvimento. O TDAH como escrito anteriormente caracteriza-se por dois grupos de sintomas: a) desatenção b) Hiperatividade e impulsividade

O Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade – TDAH, atinge cerca de 3% a 5% das crianças em todo o mundo. Há maior incidência do transtorno hiperativo em crianças do sexo masculino. Os sintomas começam a aparecer a partir dos três ou quatro anos de idade, mas são mais evidentes nos sete ou oito anos, quando a criança tende a entrar em uma idade escolar que a exige mais,apresentando tantas dificuldades quanto às crianças que começaram a tê-los antes dessa idade. Há uma tendência mais moderna de estender o limite de início dos sintomas um pouco mais, até por volta dos 12 anos. Se um adolescente que nunca teve sintomas de desatenção, hiperatividade ou impulsividade apresentar esses sintomas após a puberdade, não podemos dizer que a causa é TDAH. Quando diagnosticado o TDAH, os pais começam a lembrar que apesar de uma gravidez tranqüi-

O TDAH pode variar amplamente na diversidade de sua manifestação e sintomas. Na maioria das vezes, estão presentes nas crianças e adolescentes vários desses sintomas citados a cima, mas não todos. Pesquisas recentes têm mostrado que são necessários pelo menos seis sintomas de desatenção e/ou seis dos de hiperatividade/impulsividade para que se possa pensar na possibilidade do diagnóstico de TDAH. Para se considerar que algum desses sintomas listados anteriormente está presente é importante que ele aconteça freqüentemente, isto é, persistindo por pelo menos seis meses, em grau mal adaptativo e inconsistente com o nível de desenvolvimento.

DO GRUPO DE DESATENÇÃO FAZEM PARTE OS SEGUINTES SINTOMAS: 1. Não prestar atenção a detalhes ou cometer erros por descuido 2. Ter dificuldades para concentrar-se em tarefas e/ou jogos 3. Não prestar atenção no que lhe é dito (estar no “mundo da lua”) 4. Ter dificuldade em seguir regras e instruções e/ou não terminar o que começa 5. Ser desorganizado com as tarefas e materiais. 6. Evita atividades que exijam um esforço mental continuado 7. Perde coisas importantes 8. Distrai-se facilmente com coisas que não tem nada a ver com o que está fazendo 9. Esquece compromissos e tarefas

DO GRUPO HIPERATIVIDADE/IMPULSIVIDADE FAZEM PARTE OS SEGUINTES SINTOMAS: 1. Ficar remexendo as mãos e/ou os pés quando sentado 2. Não para sentado por muito tempo 3. Pula, corre, excessivamente em situações inadequadas, ou tem uma sensação interna de inquietude (Ter o “bicho carpinteiro por dentro”) 4. Ser muito barulhento para jogar ou divertir-se 5. Ser muito agitado (“mil por hora”, “ou um foguete”) 6. Falar demais 7. Responder às perguntas antes de terem sido terminadas 8. Ter dificuldade de esperar a vez 9. Intrometer-se em conversas ou jogos dos outros.

Algum prejuízo devido aos sintomas deve estar presente em pelo menos dois contextos (por ex., em casa e na escola ou trabalho).

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PSICOLOGIA INFANTIL

Deve haver claras evidências de interferência no funcionamento social, acadêmico ou ocupacional apropriado em termos evolutivos. A perturbação não ocorre exclusivamente durante o curso de um Transtorno Invasivo do Desenvolvimento, Esquizofrenia ou outro Transtorno Psicótico e não é mais bem explicada por um outro transtorno mental (por ex., Transtorno do Humor, Transtorno de Ansiedade, Transtorno Dissociativo ou Transtorno da Personalidade). Os sinais do transtorno podem ser mínimos ou estar ausente quando o indivíduo se encontra sob um controle rígido, está em um contexto novo, está envolvido em atividades especialmente interessantes, em uma situação a dois (por ex., no consultório do médico) ou enquanto recebe recompensas freqüentes por um comportamento apropriado. Os sintomas são mais prováveis em situações de grupo (por ex., no pátio da escola, sala de aula ou ambiente de trabalho). Deve-se indagar, portanto, acerca do comportamento do indivíduo em uma variedade de situações, dentro de cada contexto. O Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade tem várias possíveis causas. Porem, a compreensão dessas possíveis causas ainda é recente; portanto, existem mais hipóteses do que certezas. Devido ao conjunto de indicadores presentes na observação da criança, pode configurar-se o TDAH em: HEREDITARIEDADE: mais de 50% dos casos a hiperatividade é hereditária. Porem devemos lembrar que o que é herdado não é o transtorno, e sim uma vulnerabilidade ou tendência para o mesmo. A manifestação é mais freqüente no sexo masculino, há casos semelhantes nos parentes próximos, como pai, tio, avô ou irmão. Deve-se considerar, também, que as mães podem ser hiperativas, apesar da incidência em mulheres ser em menor freqüência. PROBLEMAS NA GESTAÇÃO OU NO PARTO: alguns estudos sugerem que mulheres que tiveram alguma complicação durante a gravidez ou no parto teriam maior probabilidade de terem crianças com TDAH. O tipo de complicação não tem tanta importância quanto o número total de complicações, desde que causem sofrimento fetal. Alguma complicação pode ser a “chave mestra” para desencadear os sintomas de TDAH no sujeito que já teria alguma propensão genética.

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EXPOSIÇÃO A DETERMINADAS SUBSTÂNCIAS: Percebeu-se a exposição a neurotoxinas, ou seja, alto nível de chumbo em crianças elas apresentavam comportamentos hiperativos e desatenção, porém não existe nada cientificamente comprovado. As infecções (por ex., encefalite) exposição a drogas in útero, baixo peso ao nascer e retardo mental, poderiam desenvolver os sintomas de TDAH. Alguns estudos mostram crianças cujas mães foram fumantes ou que fizeram uso abusivo do álcool durante a gravidez, poderiam desenvolver esses sintomas de TDAH. ASPECTOS FAMILIARES: alguns estudos mostram que a forma de educar os filhos podem ser conseqüências e não a causa do TDAH. Mostram ainda que quando os sintomas de TDAH aparecem de forma mais intensa podem ocorrer dificuldades interacionais e alterar o estilo parental e não estes problemas serem as causas do TDAH. Por isso, é lógico que uma criança irá funcionar pior em uma família desestruturada do que em famílias bem organizadas. Os estudos também sugerem que existe uma prevalência superior de Transtornos do Humor e de Ansiedade, Transtornos da Aprendizagem, Transtornos Relacionados a Substâncias e Transtorno da Personalidade anti-social nos membros das famílias de indivíduos com Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade. ALIMENTAÇÃO: Levantou-se a hipótese de que ingerir muito açúcar ou alimentos que contem aditivos ou conservantes, poderiam desencadear comportamentos hiperativos em crianças, mas nada ainda comprovado. QUESTÃO HORMONAL: inicialmente foi levantada a questão que um tipo raro de deficiência de hormônio tiroidiano associada a fatores genéticos apresentavam uma alta freqüência de TDAH, mas atualmente não há nada que demonstre essa associação. Assim podemos concluir que para se explicar o TDAH – Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade uma das causas mais aceitas é a vulnerabilidade herdada que se manifesta de acordo com o aparecimento de desencadeadores ambientais.

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PSICOLOGIA INFANTIL

Um diagnóstico com intervenções precoces representam um grande passo para minimizar o impacto negativo que o Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade – TDAH, traz à vida da criança, dos pais e dos seus professores. Podemos perceber que o Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade tem um grande impacto no ajustamento educacional da criança ou adolescente. A desatenção e a falta de autocontrole colocam as crianças em um grande risco para dificuldades escolares em termos de desempenho acadêmico e interações com adultos e pessoas. Como foi dito anteriormente, caso não ocorra o tratamento, este transtorno pode associar-se a experiências negativas de ordens sociais, pessoais, familiares e escoar, que permanece durante a adolescência e a vida adulta. Deve-se afirmar que para se tratar este transtorno é necessário a combinação de várias intervenções, tais como:

A. Esclarecimento aos familiares sobre o TDAH B. Intervenção psicoterápica com a criança ou adolescente C. Intervenção psicopedagógica e/ou de reforço de conteúdos D. Uso de medicação E. Orientação de manejo para a família F. Orientação de manejo para os professores Assim neste momento ofereço algumas orientações de manejo para pais e professores que poderiam auxiliar no desenvolvimento dessas crianças com TDAH e ajudar a melhorar o relacionamento entre eles. Lembrando sempre que essas crianças estão tendo dificuldades, não porque são ruins ou teimosas e sim porque o Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade - TDAH, faz essas crianças agirem de maneira diferente do que se é esperado.

ORIENTAÇÃO Como ajudar crianças e adolescentes com TDAH Crianças hiperativas precisam de regras, mas não demonstre irritação se ela não atender suas expectativas. Repetir a instrução dada diversas vezes e devagar, pois os hiperativos tem dificuldade de armazenar as informações. Reforçar as atividades positivas para elevar a auto-estima Dê para ele uma atividade, uma ordem ou um brinquedo de cada vez, para que ele não se disperse. O Hiperativo costuma derrubar as coisas com freqüência, não o repreenda por isso. Colocá-lo sentado sempre longe de janelas para evitar a dispersão. Usá-lo como ajudante, pois tem dificuldade de ficar muito tempo sentado. Podem tem problemas de Coordenação Motora. Dar atividades mais curtas, permitindo que de tempos em tempos ele saia para dar uma volta, beber uma água, ir ao banheiro. Ir aos poucos aumentado este tempo.

Autora | Shirlei Lizak Zolfan - CRP 06/36718-6 | Mestre em Educação, Psicopedagoga e Psicóloga formada pela PUC-SP, Professora do Centro Universitário Paulistano.

Bibliografia

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PSICOLOGIA HOSPITALAR

CÂNCER DE CABEÇA E PESCOÇO O que os profissionais têm a dizer POR Giovana Kreuz (org.)

O ESCRITO APONTA PARA UMA REFLEXÃO ACERCA DAS QUESTÕES QUE TANGEM O PACIENTE ALCOOLISTA E TABAGISTA CRÔNICO, EM ACOMETIMENTO POR CÂNCER DE CABEÇA E PESCOÇO, E BUSCA VIABILIZAR UMA FORMA HUMANIZADA DE ATENDIMENTO E TRATAMENTO PARA SUA ENFERMIDADE. O texto aborda explicativos breves, que envolvem a prática cotidiana dos profissionais da área da saúde que integram equipes multidisciplinares, e em foco, discute o funcionamento do paciente oncológico e sua forma de manifestar-se no mundo.

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PSICOLOGIA HOSPITALAR

O câncer é uma doença de natureza multifatorial, estando ligada aos hábitos de vida, cultura e exposição temporal a fatores ambientais. Hipocrates foi o primeiro a descrever a palavra “Carcinos” e a definir o câncer como uma doença de mau prognóstico (COELHO, 1998). Desde muito tempo as associações entre câncer e morte povoavam a imaginação das pessoas. O câncer era tido como patologia incurável e sem outra saída senão o padecimento diante da imensa dor física e da resignação frente à culpa social. O câncer é uma doença que historicamente, está ligada à concepção de que surgia como algo proveniente da sujeira (do corpo e da alma), aos amantes do prazer mundano da carne e do pecado, aos dados ao vício, servindo então, aos impuros carregar a doença – Lembremos que o câncer de cabeça e pescoço nos remete em grande parte à esse conceito de desgarramento e degradação social, emocional e corporal ainda nos tempo atuais. Fatores estes que aprimoram os pré-conceitos relacionados á doença, contribuindo para o isolamento social frente ao doente. Ainda hoje é possível constatar que a visão social acerca da doença mantêm fortes tendências com as idéias antigamente preconizadas e que reforçam-se no imaginário popular, principalmente quando se trata de doenças do trato respiratório, pulmonar e reprodutivo. Isso se dá porque o tabaco e o álcool crônicos e associados são a causa eleita como a grande responsável pela incidência dos cânceres de cabeça e pescoço. Esse tipo de câncer, particularmente, é uma patologia que reforça o estigma social que o câncer em geral possui frente à sociedade, visto que reafirma a ligação da origem da doença com o abuso de substâncias viciosas (tabaco e álcool). Essa relação entre câncer e comportamentos já foi descrita por diversos autores. Ainda, o câncer da cabeça e pescoço é de probabilidade de cura pequeno e com alterações estéticas e mutilações importantes, bem como, reafirma o temor e o isolamento social, diante do odor fétido que pode provocar no indivíduo. O câncer de cabeça e pescoço, por sua vez, compreende todos os carcinomas originários do epitélio muco-escamoso, desde o lábio, cavidades oral e nasal, faringe, até a laringe e ouvido médio (TUPCHONG & ENGIN, 1999). O câncer de cabeça e pescoço, sendo uma doença complexa, deve ser abordada por equipes multidisciplinares, e dentre os profissionais envolvidos é fundamental que haja conhecimento mútuo acerca do que cada especialidade trata e da importância que as várias áreas significam no atendimento32

tratamento do paciente, sendo considerado como participativo diante da doença e da possibilidade de cura. Na possibilidade de cura temos o paciente funcionando como membro agente do processo, colaborando e optando por estar ativando o desejo de viver. Mesmo quando não existem possibilidades terapêuticas significativas de cura, mesmo assim, o comportamento desejante de prosseguir acaba por fornecer ao paciente uma qualidade de vida evidentemente melhor. Nos casos sem possibilidades de cura, o incentivo à crença e à esperança não deve abandonar o cotidiano do paciente, muito embora seja de extrema importância fornecer ao paciente, subsídios para compreender o que se passa com seu corpo e com o prognóstico de seu caso clínico. De forma teórica, os passos que o sujeito percorre até tornar-se um paciente podem ser vistos através de uma certa lógica, que envolve primeiramente o sentimento e a sensação de que algo não funciona de acordo com aquilo de que se estava acostumado até então, ou seja, o sujeito percebe que uma parte de seu corpo dói, que a voz lhe falta com freqüência, que sangramentos lhe começam a incomodar. Desde o “sentir” essa primeira perturbação até efetivamente conscientizar-se dela, algum tempo se passa. Se o sintoma perturba enormemente, o tempo de espera tende a ser menor. Após a tomada de consciência, busca-se auxilio para sanar o problema. O auxilio poderá ser buscado com o médico ou com um representante ou referencial de confiança do sujeito na comunidade –receitas caseiras, curandeiro, benzedeira. Com a busca alternativa de tratamento, muitas vezes, faz com que tempo adequado de encaminhamento precoce não ocorra, e a doença ganhe tempo para crescimento e agravamento do prognóstico clínico, comprometendo na maioria dos casos as estruturas físicas adjacentes. No caso de um encaminhamento precoce, pode ser poupado o tempo de espera com um exame clínico adequado e feito à rigor e o pedido de biópsias comprobatórias. Quando os exames são positivos para o câncer, são iniciados os procedimentos de cuidados e tratamentos indispensáveis, que cada área da saúde abordará conforme especialidade condizente. Desta forma a especialidade médica abordará toda a completude de atendimentos e procedimentos necessários à manutenção orgânica do sujeito, o enfermeiro estará diante do sujeito no que tange aos cuidados próximos e essenciais de seu cotidiano, o psicólogo fornecerá, quando houver demanda de atendimento, a condução para trabalho de ordem terapêutica, e assim sucessivamente Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 03 | set 2007


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com todos os profissionais que se disponibilizam ao atendimento oncológico. Porém de nada adianta que estejamos dispostos ao trabalho se cada um de nós não conhecer aquilo que o outro executa em sua tarefa profissional. Para que se compreenda melhor do que trata algumas das especialidades, pode-se iniciar o percurso com a especialidade médico-cirúrgica1 de cabeça e pescoço em oncologia, que engloba seis grupos de patologias: 1. 2. 3. 4. 5. 6.

Afecções endócrinas cervicais, Afecções oncológicas, Afecções cervico-faciais congênitas, Tumores cervicais metastáticas, Afecções cervicais infecciosas, Urgências cervicais.

Dentre as funções do cirurgião de cabeça e pescoço estão listados os seguintes objetivos: 1. 2. 3. 4.

Promover o diagnóstico, Estabelecer o estadiamento, Estudar a tática e opções terapêuticas, Executar a reconstrução anatômica e fisiológica da região de cabeça e pescoço, 5. Determinar a necessidade de tratamentos complementares, 6. Coordenar o grupo interdisciplinar, suas ações e trabalhos, com a finalidade do contínuo aprendizado. Com vistas à importância de uma atuação conjunta e integrada é que surge a necessidade de pensar a patologia em cabeça e pescoço a partir de uma ótica humanizada e disposta a compreender as demandas do paciente em primeiro lugar, para só então, atuar no combate efetivo à doença. O presente escrito aborda de forma breve a importância e parte da função de cada serviço integrante da equipe multidisciplinar em cabeça e pescoço, e localiza de que maneira os vários profissionais da Saúde entendem as necessidades do paciente. Para a função do Farmacêutico2 dentro da equipe multidisciplinar de cabeça e pescoço, podese primeiramente definir que, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), o farmacêutico tem responsabilidades sobre a necessidade de assistência a população em que está inserida. Cabe a ele profissional do fármaco e do medicamento, garantir a eficiência da ação que permeiam os medicamentos. O profissional farmacêutico, inserido na equipe multidisciplinar, tem o dever de aperfeiçoar-se para Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 03 | set 2007

compor esta, garantindo a eficiência das ações, prestando “atenção farmacêutica”, um serviço direto ao paciente, principal beneficiado, promovendo assim a educação na saúde, as informações farmacológicas (de uma maneira simples e clara, explicar o porquê e para quê está utilizando o medicamento; seu correto armazenamento e condição física), terapêuticas (quanto a dosagem, posologia), toxicológicas (possíveis reações adversas) e o acompanhamento avaliando assim a utilização do medicamento para assegurar o uso racional. É importante ainda, ressaltar que deverá o farmacêutico manter com o médico, discussões referentes à terapêutica adequada para pacientes hospitalizados e ambulatoriais, observando as melhores associações antimicrobianas, analgésicas e até mesmo medicamento usado para assepsia oral, levando em consideração custos, eficácia e qualidade dos medicamentos. E ainda, integrando-se com o restante da equipe para o suporte informativo necessário, assim, explicitando a atuação do profissional farmacêutico na condução e adequação do medicamento a cada caso específico. O paciente com câncer de cabeça e pescoço, na grande maioria dos casos é submetido à cirurgias para retirada do tumor, e é nestes casos que a Fisioterapia3 atua com o objetivo de prevenir e tratar as complicações pulmonares decorrentes de cirurgias, as quais são causas primárias de morte dos pacientes. Essas complicações incluem atelectasias, infecção traqueobrônquica, pneumonia, insuficiência respiratória aguda, broncoespasmo e ventilação mecânica, as quais estão relacionadas com o local, urgência, e tempo de cirurgia; Além de atuar na reabilitação de fatores existentes como tabagismo; idade; obesidade; estado nutricional; inatividade geral e repouso no leito. Para alcançar os objetivos da fisioterapia são utilizadas técnicas que compreendem exercícios ventilatórios, técnicas de higiene brônquica, e cinesioterapia global. A Odontologia4 está inserida na Equipe Multidisciplinar de suporte ao paciente oncológico e desenvolve importante papel não somente do ponto de vista Preventivo e de Higienização, mas também como procedimento intervencionista e terapêutico no combate aos processos sépticos bucais, alterações funcionais, tróficas, e alterações decorrentes das diversas modalidades terapêuticas empregadas no tratamento do câncer. Tem especial importância sob o ponto de vista das injúrias da mucosa bucal, alterações glandulares, alterações musculares e no trato ao paciente de cabeça e pescoço, particularmente desenvolvemos um trabalho intenso, buscando minimizar tais alterações. Para uma melhor compreensão da importância deste trabalho, citaremos 33


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abaixo a incidência da mucosite, por exemplo, em função do tratamento instituído: O Nutricionista5, em sua função, é o profissional que aplica a ciência da nutrição para auxiliar as pessoas a selecionarem e consumirem os alimentos necessários a seu organismo na saúde ou na doença através de todo seu ciclo de vida.

ticamente todas as fases de tratamento (pré-operatório/ambulatorial, internamento/alta hospitalar e tratamentos que o paciente necessitar), assim como, sempre que solicitado, para resolução de situações emergenciais. O Enfermeiro8 promove, juntamente com sua equipe, a assistência de enfermagem oncológica ao paciente e sua família, tanto em atendimento ambulatorial, como nos tratamentos de radioterapia, quimioterapia e acompanhamento à pacientes TABELA COMPARATIVA hospitalizados. A assistência deve ser humanizada, qualificada, individualizada e sistematizada, sendo RTX DE CABEÇA E PESCOÇO 100% pautada pela sistematização da assistência de enTBI – TMO 75% fermagem com referencial teórico de Wanda Horta e Oren, seguindo as normas e procedimentos paQUIMIOTERAPIA PARA TUMORES SÓLIDOS 40% dronizados pelo serviço de enfermagem. O paciente e sua família deverão ser considerados sob o ponQUIMIOTERAPIA DE ALTAS DOSES 60% to de vista bio-psico-sócio-cultural e espiritual, e sua assistência visa a prevenção, cura, orientação para o auto-cuidado, reintegração social ou morte Todos os pacientes com câncer devem ser sub- com dignidade. Estendendo o atendimento tanto metidos a uma avaliação nutricional, e assim iden- ao paciente clínico quanto ao paciente operatório, tificar os indivíduos de alto risco, para que possam ser tratados imediatamente. A recuperação e/ou manutenção do estado nutricional adequado, visa contribuir na eficácia do O câncer de cabeça e pescoço, tratamento oncológico. sendo uma doença complexa, O acompanhamento Fonoaudiológico6 iniciadeve ser abordada por equipes se no período pré-operatório e se acentua no pósmultidisciplinares. operatório, onde trabalha de forma intensa na reabilitação das microcirurgias da laringe – quando se tratar de lesões benignas deste órgão –, nas pós glossectomias parciais ou totais, nas faringectomias, laringectomias e faringolaringectomias, atuando nos quadros de disfagias e disfonias. O fonoaudiólogo deve estar atento a todos os devendo ser acompanhado e orientado no pré-opefatores médicos e psicossociais para iniciar a reabi- ratório para os procedimentos que irá realizar, e no litação do paciente, expondo a este as particulari- pós-operatório para cuidados e condutas a serem dades de cada técnica e, após definir qual metodo- tomadas, e na alta hospitalar, marcando retorno logia a utilizar, discutir com o restante da equipe. para acompanhamento ambulatorial. A atuação do Assistente Social7 junto à equipe O Psicólogo9 inserido em Equipes Hospitalares multidisciplinar de cabeça e pescoço tem como ob- Oncológicas poderá atuar no atendimento individual jetivo avaliar os fatores sociais, culturais, políticos e ao paciente e seus familiares, devendo possibilitar econômicos que permeiam a realidade dos pacien- escuta efetiva às demandas surgidas com o adventes e seus familiares. Os dados coletados referem- to da doença. O paciente portador de câncer C.P., se à condição sanitária, habitacional, composição deve receber orientações acerca de sua patologia, ser familiar, trabalho, religião e referências pessoais. esclarecido sobre as possíveis formas de tratamento Esse processo faz-se necessário para obter informa- existentes (cirurgias de esvaziamento cervical, enções sobre fatores que podem intervir no processo xertos, laringectomias parciais ou totais, traqueossaúde/doença do paciente, tanto a nível individual tomias, ainda, quimioterapia e radioterapia), visando quanto coletivo, assim como facilitar o fluxo de adequados cuidados peri-operatórios e reabilitação. informações e a comunicação entre a instituição e Cada uma destas etapas suscita no paciente inúmea família do paciente, promovendo assistência de ras reações de enfrentamento, bem como, de temor forma abrangente. Sendo assim, o Serviço Social frente ao desconhecido da doença. acompanha o paciente e seus familiares, em pra34

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O Psicólogo estará disponível a trabalhar junto com o paciente sentimentos relativos à esse período, compreendendo de forma dinâmica a inter-relação entre paciente-doença-famíliaequipe, e destacando a importância ao entendimento de fatores como: estigmatização da doença, mutilação, auto-estima, dor, expectativas futuras, reconstrução, reabilitação, cura, morte. O câncer que se origina nas regiões da cabeça e pescoço, poderá ser fruto de uma longa história de tabagismo e alcoolismo crônicos, onde em grande parte da vida o sujeito esteve em contato com as mazelas que o vício abarca. Pode-se enumerar alguns pontos mais comuns na história de vida destes pacientes: Se a cronicidade do vício foi intensa e perene, o sujeito vivenciou certamente perdas inúmeras e sucessivas, desembocando em um processo de “marginalização”. Estando à margem do que acontecia em sua vida o tempo todo ou parte importante do tempo – visto que a embriaguez sempre coloca o indivíduo em lugares um tanto à parte da realidade do momento, o sujeito pôs à perigo de destruição os laços e vínculos familiares, o sucesso de seus empreendimentos e as expectativas para seu futuro. O isolamento social e a falta de compromisso com a sobriedade levam ao gradativo afastamento da família – que insiste durante muito tempo, mas acaba desistindo de investir na pessoa do alcoólatra, depois de perder o emprego, a “vergonha na cara”, de perder a saúde, a cognição, a consciência, a capacidade de equilíbrio/homeostase emocional e corporal (devido ao processo crônico de anestesia e entorpecimento). Pelo uso abusivo e compulsivo do álcool e do tabaco ocorre ainda a deficiência nutricional com a baixa hidratação, carência de proteínas, vitaminas, anemias constantes, déficits calóricos. Ocorrem ainda, prejuízos na voz, hálito, corrosão dos dentes e cavidade oral, perda do paladar. O processo crônico de entorpecimento afeta o restabelecimento posterior à esse paciente, pois a administração medicamentosa fica afastada do ideal, devido à alterações na metabolização (que fica mais acelerada), fígado afetado e outros fatores de ordem médica. A alteração da imagem do corpo e a inadequada higiene corporal são fatores a serem considerados com igual valor no período Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 03 | set 2007

pré-operatório, visto que apontam para a fase precursora de degradação, negligência e descrédito para consigo mesmo. É salutar abordar o tema da desvalorização pessoal do ponto de vista integral do sujeito, apontando – inclusive para toda equipe refletir, que o paciente já havia adoecido no ato de suas inúmeras tentativas de auto-destruição, e que não é somente a patologia do câncer a responsável pelo quadro atual. Alterações na esfera do entendimento, assimilação precária das informações e dificuldade de expressão. De perfil geral temos a maior incidência em pacientes com faixa etária entre os 50 anos, baixa escolaridade, nível sócio econômico desfavorável, residência em Zona Rural, sujeitos tabagistas e alcoolistas crônicos. Alguns fatores devem ser avaliados pelo profissional de Psicologia, em conjunto com a equipe multidisciplinar ligada à oncologia, para uma conduta mais acertada com o paciente e seu processo de reações perante a doença. Dentre eles: Problemas emocionais/orgânicos prévios ao aparecimento da doença (patologias psíquicas, desequilíbrios, dependências afetivas e orgânicas / vícios (alcoolismo, tabagismo), neuroses e demências, internamentos psiquiátricos anteriores). De que maneira o paciente lidou com perdas significativas anteriores em sua vida e que tipo de registro têm delas (incluindo as perdas das quais o próprio paciente é responsável), Presença de estresse, Apoio e qualidade do suporte emocionalfamiliar que recebe, Crenças espirituais que valoriza (e suas implicações para a concepção sobre castigos, culpas, fugas e dívidas, redenções, purificações, e esperanças), A natureza dos relacionamentos interpessoais que possui (estereótipo de vínculos e rede social), Atitude do paciente em relação a si próprio e estrutura de personalidade (autoconfiança, auto-estima, desejo de vida, motivação, desistência, melancolia), Capacidade de integração, comunicação e vínculo (cognição, discernimento, resistência). Reais possibilidades de cura e/ou reabilitação do paciente, e desejo de que tal probabilidade se cumpra a partir e sua colaboração e comprometimento. 35


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Atualmente vêm se colocando em primeiro lugar, acertadamente, o paciente e suas necessidades físicas e emocionais, bem como se priorizando os desejos que o paciente expressa em relação a si mesmo e ao mundo que o cerca. Suas formas de relação, a maneira como compreende as situações e como lida com elas, os valores que nutre no seio de sua subjetividade e toda rede de contatos que mantêm como conexão entre o mundo interno e externo, fazem uma grande diferença na hora de escolher o que é, definitivamente, o melhor para si mesmo – ou aquilo que pode apontar como o “seu melhor”.

Na busca deste entendimento, e na incessante tentativa de proporcionar ao paciente uma melhor qualidade de vida e de morte, é que se baseia a equipe multidisciplinar em câncer de cabeça e pescoço. E, é deste ponto de vista que a proposta de uma equipe amparada na proposta de refletir, acerca das dificuldades e das conquistas – da própria equipe, mas primordialmente do paciente em questão, - torna o trabalho tão indiscutivelmente gratificante.

AUTORES 1. CLÁUDIO QUEIROZ, Cirurgião Oncológico pela Faculdade de Ciências Médicas “DRº José A.G. Coutinho”, Especialidade em Câncer de Cabeça e Pescoço - Instituto do Câncer Arnaldo Vieira de Carvalho –SP. 2. ANDRÉIA CASSIANO, Farmacêutica / Bioquímica graduada pela UNIPAR - PR, pós-graduada em microbiologia clínica pela PUC-BH. 3. KHARINE GAVLIK PESSOA – Fisioterapeuta pela UNIDERP- MS. Fisioterapeuta do Hospital do Câncer UOPECCAN -Cascavel /PR. 4. ELIANA FRADE, Odontolóloga pela Unoeste SP, Laserterapia USP/SP, Física aplicada Laser Baixa Intensidade –IPEN. 5. SIMONE GOZI, Odontológa pela Fundação Herminio Ometto UNI Araras/ SP. 6. DANIELE PASSOS NEVES XAVIER, Nutricionista pelo CESULON-PR. 7. ADAYANA BRESSAN, Fonoaudióloga pela UNIVALE. Fonoaudióloga do Hospital do Câncer UOPECCAN -Cascavel /PR. 8. MÁRCIA ENGEL, Assistente Social pela UNIOESTE -PR, especialização em “Educação, Políticas Sociais e atendimento à família” ISEPE. 9. ALESSANDRA COSTA, Enfermeira pela UNIOESTE -PR, especialização em “Acupuntura e medicina tradicional chinesa” CBES. Chefia de enfermagem do Hospital do Câncer UOPECCAN -Cascavel /PR. 10. LILI MARLENE HOFSTATTER, Enfermeira, mestre e docente da UNIOESTE, especialização em “Acupuntura e medicina tradicional chinesa” CBES. 11. GIOVANA KREUZ, CRP 08/07196-1. Psicóloga pela PUC-PR, especialização em “Psicanálise com crianças” pela TUIUTI –PR, “Educação, Políticas Sociais e atendimento à família” pelo ISEPE. Psicóloga do Hospital do Câncer UOPECCAN-Cascavel -PR. E-mail: giovana_k@yahoo.com.br

Bibliografia COELHO, F.R. In: Bases da oncologia: Brentani..../et alt./; São Paulo: Lemar, 1998. TUPCHONG & ENGIN LOVE In: Manual de Oncologia Clinica. São Paulo: Ed: Springer -Verlag/Fundação Oncocentro, 1999. LOVE. In: Manual de Oncologia Clinica. São Paulo: Ed: Springer -Verlag/Fundação Oncocentro, 1999.

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A equipe de saúde como um todo

PSICOLOGIA E ONCOLOGIA reflexões possíveis

A psicologia, por ser uma ciência que se preocupa com ser humano, pode investigar, buscar compreender, trazer respaldo, fornecer amplo espaço de escuta e por isso, ser inserida nos mais diversos campos do sofrimento humano. Por esse mesmo motivo pode ser pensada nos ambientes hospitalares e compor equipes interativas de suporte à saúde física e mental dos sujeitos humanos. A psicologia inserida em ambientes hospitalares oncológicos – ou a chamada psico-oncologia, através da interface psicologia/oncologia, traz a possibilidade de abordarmos questões pertinentes ao binômio saúde-doença, na visão abrangente do ser-total. Os hospitais, como bem sabemos, são ambientes contextualizados a partir da necessidade real de cura ou manutenção das mazelas do corpo, na busca incessante e estruturada para a salvação ou prevenção daquele que sofre ou virá a sofrer. Nos hospitais, de forma geral, temos, enquanto profissionais da saúde que somos, o compromisso em assegurar ou manter um mínimo razoável de apaziguamento das dores da alma, enquanto ao médico resta, de forma bastante exigente, a manutenção do corpo. A visão dicotomizada corpomente, já tão profundamente arraigada em nosso modo de ser e viver, nos impediu por muito tempo de ir mais além. Talvez o grande progresso que a psicologia tenha alcançado nesses anos todos em inserção contínua e insistente no ambiente hospitalar seja justamente ter conseguido uma atenção especial à humanização dos corpos, e finalmente, a percorrida Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 03 | set 2007

tarefa tenha nos trazido a oportunidade de aproximar um pouco mais as diferentes áreas do conhecimento, para juntas – ou ao menos mais próximas, buscarem uma interação produtiva e menos competitiva em suas conquistas. Desta forma, é possível referir que a psicologia está menos subjetiva e a medicina também menos organicista. Fator este que proporcionou um ganho mais elaborado, mais científico, mais pautado em realidades objetivas para o psicólogo, como também pôde de alguma maneira, fazer com que aqueles que estavam tão preocupados com o corpo físico (antes “descabeçado”, desprovido de sentimentos) se interessassem pelas dificuldades de ordem emocional, pelas diferenças subjetivas do paciente e necessidades particulares a cada ser que sofre. Desta forma, ganhamos em ambos os lados, e ganhou ainda mais o paciente – finalmente visto em sua totalidade de ser falível, falhado, castrado, porém humano, provido de interação, constituído enquanto ser bio-psico-sócio-espiritual, e tantas outras faces que ainda desconhecemos. Dos ganhos todos, ocorreu uma transformação que ainda não é concluída, que espera por mais acréscimos, que urge em necessidades, mas, que caminha em busca de sentidos. Das transformações surgiram possibilidades sem preço, uniões frutíferas de trabalhos – como o da psicologia em hospitais oncológicos, e que de agora em diante não precisa ser conceituada como separada, como um serviço à parte, um suporte desmembrado, mas como uma inserção promissora: o psicólogo enquanto “Equipe de Saúde”, inserido nela, aprendendo com ela, pertencente, trocando com seus novos pares. 37


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Saber um pouco mais sobre o corpo pode proporcionar uma sabedoria para mais além dele. Conhecer como funciona o físico e como a dor dói de forma diferente para cada um, nos faz refletir as junções e conjunções que podem levar ao “além de”. Assim, nos hospitais oncológicos surge a necessidade de avaliar os efeitos que, por exemplo, os quimioterápicos provocam no corpo do sujeito que atendemos, saber que tais efeitos suscitam nele dificuldades emocionais próprias daquela fase. Aqui poderão surgir reações que dizem respeito à alopecia (queda dos cabelos), medos relativos ao desconhecimento sobre a doença e seus tratamentos, preconceitos, mitos e rejeições que ocorrem no decorrer das etapas, enjôos próprios dos medicamentos, enjôos próprios do momento de existência em que o sujeito se encontra, tristezas pela perda da saúde e dos ideais que antes faziam tanto sentido. Reestruturar-se diante de tudo isso exige a presença de um profissional habilitado na área da psicologia, mas exige também de uma equipe como um todo, que pense com humanidade em todas essas ocorrências.

Conhecer como funciona o físico e como a dor dói de forma diferente para cada um, nos faz refletir as junções e conjunções que podem levar ao “além de”.

O paciente nessa visão integradora e holística é parte fundamental do processo de cura/reabilitação

Ocorrências como as que o tratamento com Radioterapia provoca ao paciente, em suas fantasias relativas ao medo de contaminação (dele mesmo e dos outros à sua volta), dos efeitos que emocionalmente desenvolve quando argumenta sentir gostos e cheiros (alterações olfativas e gustativas) que o lembram do tratamento, mesmo quando para tais queixas não existam correlações diretas e lineares ao tratamento propriamente dito. Quando não ocorre uma explicação técnica que concretize suas queixas é preciso refletir todas as variáveis – e elas só são possíveis quando todos fazem parte da mesma equipe, inclusive o paciente. O paciente nessa visão integradora e holística é parte fundamental do processo de cura/reabilitação, porque a ele, por ele e com ele são pensadas as novas estratégias de ação. Eleparticipante poderá opinar, questionar e dizer de suas aprovações e progressos, pode também, localizar onde lhe dói a dor mais profunda e tentar dar à vida um rumo diferente. Acreditar nisso nos faz mais perseverantes, nos faz propor um trajeto de parceria, proporcionar ao paciente que recrie sua história, permitindo que, corpo-mente seja a mesma face da mesma moeda. Moeda sem preço. Ser-humano valioso.

Giovana Kreuz – CRP 08/07196-1 Psicóloga do Hospital do Câncer UOPECCAN –Cascavel PR. Docente da Faculdade Pan-Americana de Ensino - UNIPAN. giovana_k@yahoo.com.br

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COLUNA

ANOREXIA Uma característica da anorexia nervosa é a recusa de alimentar-se mantendo o peso corporal bem abaixo do normal com medo e idéias irracionais de ficar obesa. Esse tipo de transtorno alimentar atinge mais de 1,7 milhão1 de brasileiros sendo a maioria do sexo feminino. Nos homens é raro de acontecer (apenas 5 a 10% dos casos). Alguns autores descrevem que o início da anorexia é por volta dos 12 e 14 anos, outros dos 14 aos 20, mas a média é por volta dos 17 anos de idade, segundo o DSM IV. Esse tipo de transtorno alimentar é tão grave que pode levar a morte por desnutrição. Os sintomas mais freqüentes da anorexia são de que a cliente tenha um peso bem abaixo do normal; se alimentam pouco e fazem dietas sem nenhum acompanhamento médico; ficam irritadas, tristes e depressivas; a imagem corporal é distorcida, acham que estão gordas e obesas por mais que estejam excessivamente magras; tem uma grande perda de peso em um curto espaço de tempo; sentimento de culpa por ter comido e fugido de sua dieta; param de menstruar (amenorréia); fazem exercícios a todo momento para perder calorias; ficam sensíveis a temperaturas baixas, pois elas não tem mais gordura no corpo, ficam literalmente em péle e osso; ficam desidratadas e desnutridas; Esses e outros transtornos alimentares envolvem um conjunto de fatores biológicos, psicológicos, familiares e sócioculturais. É necessário uma equipe multidisciplinar composta de Psiquiatras, nutricionistas, psicólogos e um clínico geral.

A dieta que mata

Quando os pais percebem que a filha está com problemas de anorexia nervosa, muitas vezes é tarde e precisa ser hospitalizá-la o mais rápido possível. As mesmas chegam nos consultórios anêmicas e desnutridas. Essas jovens-adolescentes escondem e fingem que comem, jogam a comida fora, colocam diversas roupas por baixo da blusa para disfarçar que estão magras, e não sabem e nem percebem que estão muito magras, fracas e precisam de ajuda. Um fator desencadeante dos transtornos alimentares é a supervalorização de corpos magros, “sarados” e “siliconados” impostos pela nossa cultura, familiares e principalmente pela mídia. No tratamento da anorexia, o mais difícil é da cliente aderir à psicoterapia, porque acreditam que o psicólogo ou os profissionais da área da saúde que compõem a equipe multidisciplinar vão fazê-la engordar. As técnicas da terapia cognitiva-comportamental são efetivas por apresentarem respostas rápidas (de curto e médio prazo), são focadas no cliente além de reestruturar a parte cognitiva da cliente, sempre realizando intervenções familiares que ajudam na recuperação significativa da paciente. A recomendação aos pais, é prestar atenção nos primeiros sinais da doença, que seria as restrições e mudanças na sua rotina alimentar, ou dietas rigorosas e incompatíveis com sua altura e peso (ou seja, da adolescente querer emagrecer obsessivamente mesmo sendo magra). Esses sinais são fatores determinantes para buscar ajuda de profissionais já citados acima. A anorexia tem cura. Quanto mais cedo diagnosticada, mais cedo será a recuperação desta cliente.

1. http://www.bireme.br/bvs/adolec/P/news/2003/03/0114/alimentacao/001.htm GORGATI, Soraia Bento, HOLCBERG, Alessandra S and OLIVEIRA, Marilene Damaso de. Psychodynamic approach on treatment of eating disorders. Rev. Bras. Psiquiatr., Dec. 2002, vol.24 suppl.3, p.44-48. ISSN 1516-4446.

AUTOR: Márcio Roberto Regis | Psicólogo Clínico | CRP 08/10156 | www.atlaspsico.com.br Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 03 | set 2007

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LIVROS

Neuropsicologia Hoje Organizadores: Vívian Maria Andrade, Flávia Heloísa Dos Santos e Orlando Francisco Amodeo Bueno Obra: 1ª edição 2004, 474 paginas, 55 ilustrações, Formato 18x26, ISBN 85-3670008-4 Editora: Artes Médicas O livro Neuropsicologia Hoje foi idealizado a partir de algumas metas: 1) Apresentar a neuropsicologia para alunos de graduação desejosos de uma noção geral sobre o assunto; 2) Aprofundar alguns temas, com vistas à privilegiar alunos de especialização e pós-graduação, a partir da apresentação de resultados de pesquisas realizadas por psicólogos e neurologistas abordando temas diversos (uso de drogas, traumatismo craniencefálico, doença de Parkinson, esclerose múltipla, doença de Alzheimer, entre outros); 3) Demonstrar a importância do vínculo clínica-pesquisa e da integração das áreas de saúde e educação sob aspectos práticos (diagnóstico, reabilitação) e teóricos (conceitos, definições, históricos). Nas palavras do Presidente da Sociedade Brasileira de Neuropsicologia – Prof. Dr. Paulo Mattos, o livro Neuropsicologia Hoje apresenta uma estrutura bem planejada e importante grau de atualização, destacando a produção científica nacional. Cobre de modo denso a neuropsicologia desde a infância até a velhice, contemplando os principais quadros clínicos destas idades. E ainda, destaca a reabilitação sob várias facetas e em diferentes indicações. Outros detalhes: www.atlaspsico.com.br | www.artesmedicas.com.br Converse com a autora Flávia Heloísa Dos Santos: flavinska@gmail.com

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