ATLASPSICO
PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL Redução ao absurdo: quando a autocrítica se faz necessária
FILOSOFIA O que é o Homem? A dialética homem e filosofia
PSICOPEDAGOGIA A importância do vínculo entre pais e filhos
PATERNIDADE
passado, presente e futuro
NÚMERO 05 | DEZEMBRO 2007
A Revista do psicólogo
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A Revista do Psicólogo
ATLASPSICO número 05 | dezembro 2007
MATÉRIA DE CAPA PATERNIDADE passado, presente e futuro
Revista ATLASPSICO é uma publicação bimestral. Os artigos publicados são de inteira responsabilidade de seus autores. O uso de imagens e trechos dos textos somente podem ser reproduzidos com o consentimento formal do editor. Edição de dezembro 2007 Brasil – Curitiba – Paraná EDITOR-CHEFE Márcio Roberto Regis (CRP 08/10156)
14
JORNALISTAS Rose Santana | 12.182/MG Audea Lima | 972/96/PI
06
DEPENDÊNCIA QUÍMICA
A punição na adolescência pode desencadear o uso de substâncias psicoativas?
12 PSICOLOGIA HOSPITALAR 14 PSICOLOGIA CLÍNICA 24 PSICOPEDAGOGIA 28 PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL
A UTI Neonatal: a educação no ambiente hospitalar Paternidade: passado, presente e futuro
A importância do vínculo entre pais e filhos
Redução ao absurdo: quando a autocrítica se faz necessária
32 PSICOLOGIA E FILOSOFIA 36 COMPORTAMENTO 37 COLUNA
O que é o Homem? - A dialética homem e filosofia Só o amor constrói
Iniciação sexual por download
DIREÇÃO DE ARTE DIAGRAMAÇÃO Equipe ATLASPSICO editorial@atlaspsico.com.br www.atlaspsico.com.br revista.atlaspsico.com.br COMISSÃO AVALIADORA Márcio Roberto Regis COLABORADORES Wilker Pereira Mendonça Vilmair Tiago Da Maia João Taborda Patrícia Fonseca Lou de Oliver Luís Sérgio Lico Vívian Cristina Caixeta Graça Moura Seja um Colaborador: Envie seu artigo para o email: editorial@atlaspsico.com.br Um projeto do Portal de Psicologia ATLASPSICO © Copyright 2007 Todos os direitos reservados. All rights reserved.
Editorial
N
esse número resolvemos juntar diversos artigos sobre paternidade e fazer um especial de final de ano para comemorar a nossa edição número 05 da Revista ATLASPSICO. Acredito que seja um ótimo momento para repensarmos sobre a importância do vínculo paterno na vida dos filhos. Que vínculo é esse e como deve ser realizado? Como era a relação paterna no passado e nos dias atuais, como será? O que é o Homem? Para responder a todas essas questões, trouxemos nessa edição uma equipe de psicólogos e psicopedagogas para trabalharmos com essa temática. Para fechar a edição, a psicóloga Graça Moura fala de forma simples e clara como o amor é capaz de construir e sobreviver em meio a dores e frustrações.
Edição Anterior nº 04
TAG
, uma emoção visceral, foi capa da edição anterior. revista.atlaspsico.com.br
Boas Festas e uma ótima leitura!
MárcioRoberto Regis CRP 08/10156 Editor-Chefe da Revista ATLASPSICO atlaspsico@atlaspsico.com.br
DICAS Para visualizar a revista eletrônica de Psicologia ATLASPSICO em página dupla no Adobe Acrobat, no menu Visualizar, vá em Layout da página e em seguida clique em continuo-frente.
NOTA Para os autores que contribuiram com artigos científicos nas três primeiras edições da revista de psicologia ATLASPSICO, e querem atualizar a LATTES, apenas acrescentem, entre parenteses ou colchetes [reeditado em julho 2007] ou [reeditado em agosto de 2007] ou [reeditado em setembro de 2007], caso seu artigo esteja disponível na 1ª, 2ª ou 3ª edição, respectivamente. O site de referência pode ser: www.atlaspsico.com.br ou revista.atlaspsico.com.br (sem “www” no início) Equipe ATLASPSICO
Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 05 | dez 2007
AGRADECIMENTOS
N
esse último número do ano de 2007, quero agradecer a participação de todos os nossos colaboradores da Revista de Psicologia ATLASPSICO: psicólogos, educadores, filósofos, arquitetos, bioquímicos, pedagogos, dentre outros que cuidam da qualidade de vida das pessoas. Entre os colaboradores, estão as Psicólogas Gilka Correia, Alline Alves de Souza, Susana Alamy, João Taborda, Juliana Kirchner Corrêa, Jorge Sesarino. Na edição de número 02, apresentamos o tema DST/AIDS e contamos com a colaboração das Psicólogas Alline Alves de Souza, Roseli de Melo Braga dos Reis, Viviane Marcon Duarte, Gabriela Mezzomo, a acadêmica Maristela Bordin, o Bioquímico Doutor Marcelo Ferro e a Psicóloga Lígia Guerra. Na seqüência (edição nº 03), com o tema de capa Arte Terapia apresentamos os artigos das Psicólogas Josiane Isabel Stroka Santana, Gilka Correia, a arquiteta Fabiana Ferreira da Silva, os psicólogos Vanderlei Semprebom, Samuel Antoszczyszen, Shirlei Lizak Zolfan e Giovana Kreuz. No número seguinte, a psicóloga Vívian Cristina Caixeta abordou o tema TAG. Entre os demais colaboradores estavam o professor acadêmico Nilton S. Formiga, as psicólogas Graça Moura, Rober-
ta Fernandes do Nascimento, Irani I. de Lima Argimon, Regina Maria Fernandes Lopes, o acadêmico Vilmair Tiago da Maia, Samuel Antoszczyszen, e a psicopedagoga Lou de Oliver. Nesse último número do ano, edição de número 05, estão os acadêmicos Wilker Pereira Mendonça e Vilmair Tiago Da Maia, novamente a participação do Psicólogo João Taborda em conjunto com Patrícia Fonseca (ambos de Portugal), Lou de Oliver, o Luís Sérgio Lico (autor do livro O Profissional Invisível) e as colaboradoras Psicólogas Vívian Cristina Caixeta e Graça Moura. Às revisões ortográficas, ficam os créditos às jornalistas Rose Santana (de Minas Gerais) e Audea Lima (do Piauí). Muito obrigado pela participação de cada um de Vocês e parabéns pelo ótimo trabalho sendo realizado no meio científico e à população que usufrui desses serviços! Quem ainda não colaborou e quer participar da Revista, o convite está feito. Continuem participando! Parabéns! Sucesso a todos! Márcio Roberto Regis CRP 08/10156 Editor-Chefe da Revista ATLASPSICO atlaspsico@atlaspsico.com.br
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ATLASPSICO
DEPENDÊNCIA QUÍMICA JUSTIFICATIVA
Cada vez mais o consumo de drogas e o problema de relações de pais com filhos viciados tem crescido assustadoramente em nosso país, se fazendo necessário com urgência uma investigação mais profunda para que se possa compreender mais de perto esse fenômeno, e que o mesmo seja divulgado para que nossas autoridades enxerguem a real necessidade de políticas eficazes no combate ao tráfico e consumo de entorpecentes em nosso país.
A PUNIÇÃO NA ADOLES
PODE DESENCADEAR O USO DE SUBSTÂNC
Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 05 | dez 2007
SCร NCIA
CIAS PSICOATIVAS?
Revista de Psicologia ATLASPSICO nยบ 05 | dez 2007
PROBLEMA
A punição na adolescência pode desencadear o uso de substâncias psicoativas?
OBJETIVO GERAL
Verificar na bibliografia os possíveis efeitos da punição sobre a conduta do indivíduo em relação à busca de substâncias psicoativas.
OBJETIVO ESPECÍFICO
Averiguar na bibliografia se a partir da coerção o indivíduo procura quais meios de fuga para aliviar-se da pressão punitiva; Buscar na literatura saber em quais situações punitivas o indivíduo procurou a substâncias psicoativas. Compreender na bibliografia como a punição influencia no de substâncias psicoativas. Verificar na bibliografia a adaptação do indivíduo nesse novo mundo das drogas e o seu comportamento diante de novas punições; averiguar na bibliografia se a punição é exercida dentro do contexto familiar, escolar, governamental e religioso;
DESENVOLVIMENTO
PEDAGOGIA DA DOR Hoje acredita-se que a palmatória virou peça de museu. Será mesmo que esta afirmação é verdadeira? Ou teria ela mudado de forma e se disfarçado para estar presente em nosso meio? Considerando é claro, não a palmatória em sua forma característica, mas, em seu objetivo maior como forma de punir, intimidar, fazer recuar no indivíduo tudo aquilo que fugia de uma norma padrão imposta a todos. Segundo Alexandre Pavan (Revista Educação) “Palmatória virou peça de museu, mas, em muitas salas de aula, alunos ainda são submetidos à humilhação pública”. O castigo no Brasil teve início com a vinda dos padres jesuítas no século XVI, os índios não aceitaram isso muito bem, pois eles não gostavam de bater em suas crianças. Numa realidade brasileira é comum ouvir que umas palmadas não fazem mal, e que muitas vezes é necessário ser corrigido pela mãe ou pelo pai com algumas cintadas. A universidade de São Paulo, através do Laboratório de estudos da criança (LACRI) tem desenvolvido trabalhos no sentido de extinguir o tipo de pensamento citado no parágrafo anterior tendo como seu tema que, “a palmada deseduca”, que desestimula os pais e educadores de continuar com essa prática, e justificando que a violência no lar começa justamente aí, com es
ses tapinhas, afirmação essa que está embasada em pesquisas estatísticas do LACRI que descreve um aumento de cinco vezes da agressão entre os anos de 96 e 99.
NA INGLATERRA VIOLÊNCIA TEM APROVAÇÂO DOS PAIS
Segundo informações da revista educação na Inglaterra, numa pesquisa feita com 1.000 pessoas, pouco mais da metade (51%) da população concordam que é bom que se aplique um corretivo para manter a ordem e a disciplina entre os alunos. De acordo com Sidman (1995) em seu livro coerção e suas implicações, mostra os possíveis efeitos da punição sobre o comportamento humano, enfatizando principalmente os efeitos colaterais gerados. Quando aplicamos a punição a principal razão é o controle comportamental. Punimos pessoas, embasados na crença de que as levaremos a agir de outra maneira. Usualmente queremos parar ou evitar ações particulares. Punimos alguém cuja conduta consideramos má para a comunidade, má para algum outro indivíduo, ou mesmo para a própria pessoa. Na realidade ninguém gosta de ser punido. A curto prazo a punição tem efeito sobre o comportamento, mas a longo prazo o comportamento retorna a aparecer, desencadeando efeitos colaterais, que são diversos, o uso de drogas pode ser um deles. Quando a pessoa se encontra em um ambiente aversivo pode haver fuga em seu repertório comportamental e posteriormente a esquiva. Dentro da nossa sociedade a técnica mais utilizada para moldar o comportamento humano é a punição, principalmente por causa do rápido efeito provocado no comportamento, mas muitas pessoas não estão preocupadas com os possíveis efeitos que pode ser provocado. Não é só a família que pune, mas também o governo, a polícia, a escola, a religião, etc. As pessoas que tem uma alta freqüência punitiva, e podem desistir de viver em ambientes punitivos. Quem sabe até o possível suicídio. “Muitos jovens vivem com punição freqüente em casa. Se a maior parte da atenção que obtém vem na forma de punição com pouco reforçamento, é provável que eles deixem a velha casa, buscando outros caminhos”. “Nos últimos cinqüenta anos, a estabilidade geográfica e emocional, que a estrutura familiar costumava prover se deteriorou drasticamente; a sempre presente ameaça nuclear foca a atenção dos jovens e de todos os demais presentes, em vez de focá-la na preparação de um futuro que Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 05 | dez 2007
não pode existir; o abuso de drogas está afetando todas as instituições e não apenas as escolas”. Os múltiplos produtos da punição nos fornecem bases racionais para concluir que estes tipos de controle contribuem para muitos problemas e enfermidades sociais. Os riscos são muito altos para continuarmos apostando nas soluções coercitivas que são, na melhor das hipóteses, bem sucedidas apenas a curto prazo. “A punição pode produzir a paz em pais desesperados que necessitam – às custas dos inevitáveis efeitos colaterais – mas não oferece caminho alternativo de ação, nenhum caminho para adaptar-se construtivamente”.
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A CRIANÇA E O ADOLESCENTE
COMO POSSO AJUDAR? A violência doméstica não tem classe social, ela acontece em todos os meios. As pessoas que tem a responsabilidade de educar corretamente, dando segurança, amor e compreensão para que haja um desenvolvimento saudável dentro da própria casa, tem demonstrado que são mais vilões do que mocinhos, deixando marcas não apenas nos aspectos físicos, mas, também psicológicos em forma de distúrbios. “A violência contra criança e adolescentes é um modo cruel e covarde usado pelos adultos, ao longo da história, para exercerem o poder contra uma parcela mais frágil da humanidade”. (Coluna Livre-aprendiz). O Dr. Ralph Welsh aplicou exames psicológicos em mais de 2.000 delinqüentes, e desenvolveu o que ele chama. “A Teoria da Coça que leva à delinqüência juvenil.” O Dr. Welsh nos diz o seguinte: “O delinqüente masculino reincidente que nunca foi exposto a uma coça, a uma surra de vara de marmelo ou a umas porradas, em algum momento de sua vida, é alguém que virtualmente não existe. A condição da delinqüência aumenta com a severidade do castigo corporal. Desta forma, quanto mais violência o indivíduo sofre, maiores as possibilidades de que ele venha a cometer um ato de violência.” Segundo Mauer e Wallerstein (1987), o último açoitamento legal nos EUA aconteceu até 1972 em Delaware, a partir dessa data o chicoteamento passou a ser ilegal nas penitenciárias. Então o castigo físico passa a ser considerado uma pena exagerada para criminosos, alem de ser humilhante. Mas até o ano de 1987 esse tipo de castigo era bem aceito para crianças, é possível entender isso? Esperando que essa punição ira afastar a criança do mundo do crime.
“Assim como o bater, deixar a criança fazer o que bem entende, está entre as causas primárias do comportamento anti-social”. Esse espancamento quando ocorre com o bebê de colo pode resultar em conseqüências danosas como, por exemplo: a incapacidade de obedecer a instruções físicas e resultados abaixo da média do desenvolvimento. Numa pesquisa feita com 3900 pessoas de Houston com o objetivo de saber os efeitos da punição aplicada pela escola na vida das pessoas, foi observado que 76% dos entrevistados concluíram que os efeitos foram negativos e geraram ressentimentos com tal situação. Segundo Papalia (2000) em estudos feitos com americanos adolescentes, os mesmos buscaram experimentar a maconha pelo mesmo motivo que as levaram a experimentar o álcool, ou seja, por curiosidade e por quererem fazer igual aos seus amigos e aos adultos, por buscarem sensações, por serem pressionados pelos amigos e como fuga de problemas. Segundo Moura (2004) os motivos que levam o jovem brasileiro a usar droga estão relacionados à busca de imitar seus colegas, para serem aceitos em sua turma de amigos, para fugirem de uma realidade desagradável, tédio, busca de novas sensações, por causa da diversão ou influência, curiosidade, transgressão, desobediência, ignorância, inconsciência ou auto afirmação. De acordo com os professores da Universidade Federal de Goiás, Jamil Issy e Luis A. Perilo, desde a década de 60 esse problema vem aumentando gradativamente de maneira preocupante, problemas com substâncias que levam ao vício, substâncias como o álcool presente no vinho e a maconha que não surgiram nessa década, mas que já era conhecida e usada há muito tempo por nossos antepassados. O que então poderia levar por tanto tempo, geração após geração a buscar o uso de entorpecentes no seu dia-a-dia? Essa foi a inquietação que nos levou a pesquisar esse assunto e essa mesma inquietação incomodou Issy que perguntou: O que os leva a isso? Curiosidade, problemas sócio-econômicos, busca de sensações prazerosas, desprezo à sociedade de consumo, falta de diálogo, inconsistência de seus ídolos? Issy afirma que “sim, talvez tudo isso e mais outros muitos motivos que os façam procurar nas drogas aqueles sentidos que eles não encontram no seu dia-a-dia e que provavelmente nós, os mais velhos, temos muita culpa por não conseguirmos entendê-los e fazemo-nos entendidos. Os motivos que levam os jovens a buscar as drogas podem ser vários, dentre eles pode-se
destacar a fuga de problemas e da realidade, falta de diálogos entre pais e dificuldade de relacionamento com outras pessoas. E ainda, pode-se começar a usar drogas através de um colega, namorado (a), como uma passagem para um mundo onde o aborrecimento vai desaparecer. Ainda vivemos uma época em que a estrutura familiar tem sofrido muito e deixado a desejar quanto ao relacionamento que deveria existir. A necessidade permanente de que todos devemos trabalhar para manter o padrão de vida tem interferido tanto, ao ponto de estarmos deixando um pouco de lado, outros valores de importância capital na formação de nosso mundo. Há uma preocupação muito grande com o “ter” em detrimento do “ser”. Estamos pois no momento de modificarmos esse estado de coisas.” Os autores Costa e Souza, no livro intitulado Adolescência (aspectos clínicos e psicossociais), reúne profissionais de renome nas diversas especialidades envolvidas com a saúde e bem estar do adolescente, para apresentar um panorama completo, eficaz e atual dos conhecimentos e recursos utilizados no atendimento multiprofissional à adolescência. O uso de substâncias psicoativas (SPAs) é de fato, um problema nas sociedades modernas, principalmente nos grupos mais jovens da população, por serem mais vulneráveis a agravos sociais. O uso de SPAs é uma prática que perpassa toda a história da humanidade, estando presente nos contextos religiosos, místicos, social, familiar, político, econômico, cultural, medicinal, psicológico, climatológico, militar e na busca do prazer. A droga é tida como fuga da transitoriedade e da angústia. É usada também como forma de busca do prazer, perfazendo assim a liberdade artificial. A utilização de qualquer substância psicoativa envolve valores e regras de conduta, padrões de comportamento determinados socialmente. Tais substâncias se distinguem em lícitas e ilícitas. Essas substâncias podem ser de origem natural ou artificial, entra na corrente sanguínea, indo atuar, direta e temporariamente no cérebro, produzindo alterações da percepção, sensação e humor, de modo que o usuário experimenta sensações prazerosas de euforia, alívio de medo, da dor, das frustrações, e das angústias, entre outras. Desde 1993 o abuso de SPAs vem aumentando entre crianças e adolescentes. São alarmantes os índices que mostram o uso de drogas em idades cada vez mais menores. No Brasil, estudo multicêntrico realizado pelo CEBRID (Centro Brasileiro de Informação sobre Drogas Psicotrópicas) revelou diferentes proporções de consumo de substâncias entre adolescentes 10
de escolas de ensino fundamental. Indicadores de riscos e vulnerabilidade, proteção e resistência individual, familiar e socioeconômica mostra que pais impulsivos, depressivos ou com dificuldade de relacionamento; pais que relevam o uso de drogas; criança sozinha em casa (criança chaveada); falta de atenção paterna; separação dos pais; violência sexual ou física; violência doméstica; dupla mensagem familiar; exposição exagerada a mensagem da mídia (hora x tv); alto grau de conflito familiar; pais e irmãos usuários_todos esse aspectos contribuem para um chance mais de uso de substâncias psicoativas.
TRANSTORNO DE CONDUTA
“O transtorno de conduta, típico de crianças, adolescentes e jovens se caracterizam por um padrão repetitivo e persistente de conduta anti-social, agressiva ou desafiadora, por no mínimo seis meses (CID 10)”. Há uma diferença considerável entre travessuras infantis e rebeldia de um adolescente, sendo então esse transtorno em sua extremidade a violação das normas sociais apropriadas para a idade do sujeito. Dentre os transtornos da conduta pode ser observado o uso do fumo, bebidas alcoólicas, drogas e comportamentos sexual precoce. Alguns comportamentos considerados como delinqüentes podem surgir por tratar-se um modismo, ou mesmo pode ocorrer por causa da própria faixa etária e que podem ser considerados como graves, ou comportamentos que podem causar danos consideráveis, assim como: graves lesões corporais as vitimas, vandalismo ou roubo, ausência prolongada de casa.
BIBLIOGRAFIA
PAPALIA, Daiane E., OLDS, Sally W., Desenvolvimento Humano, 7ª edição Ed.Artmed,2000, Porto Alegre. ISSY, Jamil, PERILLO, Luis A., Drogas, 2ª edição, Ed. Gráfica nacional, 1997, Goiania-GO. SIDMAN, Murray, Coerção e suas implicações, Ed. Editorial Psy, 1995, Campinas-SP. SKINNER, B. F., Ciência e Comportamento Humano, 10ª edição, Ed. Imfe, 2000, São Paulo.
AUTORES
Wilker Pereira Mendonça | Vilmair Tiago Da Maia Orientadora: Patricia T. Duarte Schervenski Monografia apresentada a Escola Superior Ciências da Saúde de Rio Verde; 2004. e-mail: vilmair.maia@bol.com.br
Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 05 | dez 2007
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PSICOLOGIA HOSPITALAR
A UTI Neonatal A Educação no Ambiente Hospitalar:
Proposta de esclarecimento a pais e acompanhantes O presente esboço traz uma sugestão de educação dentro do ambiente hospitalar ao delinear uma proposta de esclarecimento aos pais sobre a UTI Neonatal. Considerando as diferentes conceituações da psicologia hospitalar, seja no seu objetivo de minimização do sofrimento causado pelo processo de internação, seja a atuação em uma proposta de atenção integrada à saúde com ações também integradas com a equipe de saúde ou, seja ainda a atenção psicológica voltada à família e cuidadores, somente para citar alguns poucos, esta proposta encontra sólidas fundamentações e vêm a preencher uma necessidade: a necessidade, por parte dos pais, de atenção, apóio e compreensão, entendimento sobre a UTI Neonatal e sobre o processo de internação de seu bebê.
A
ssim, o desenvolvimento de projetos de esclarecimento dentro do ambiente hospitalar parece assumir significante importância e o diálogo recíproco da área hospitalar com outras áreas da ciência psicológica (e outras ciências afins), como a psicologia educacional, organizacional, qualidade, neuropsicologia, entre outras disciplinas de caráter mais multidisciplinar, é um ponto relevante neste processo. Como exemplo, poderíamos citar o desenvolvimento de programas de adesão ao tratamento, que envolveriam o conhecimento da área específica no qual este tipo de tratamento se insere (cardiologia, neurologia, urologia etc), possíveis técnicas ou estratégias educacionais para “educar” e desenvolver esta aderência ao tratamento proposto, tudo isto visando o objetivo não único, mas primordial, de promoção de saúde. É sob estas justificativas que se apresenta esta singela proposta, a qual, assim espera-se, possa ser útil a profissionais atuantes na área, munindo-os de uma ferramenta importante à informação e auxílio de pais cujos bebês encontram-se internados em uma UTI neonatal, contribuindo assim à qualidade do atendimento prestado. Este material, cujo objetivo inicial era puramente acadêmico, é agora disponibilizado por seus autores que compreendem que prestar informação, esclarecer e estar disponível é a base de qualquer projeto onde se preze pela humanização. A Cartilha apresentada pode ser empregada separadamente ou constituir parte de um programa mais amplo de esclarecimento e atendimento a pais. A seguir, apresenta-se a Cartilha ‘A U.T.I. Neonatal’.
12
O QUE É A UTI NEONATAL?
A Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTI Neonatal) é o local que concentra os principais recursos, humanos e materiais, necessários para dar suporte ininterrupto às funções vitais dos recém-nascidos ali internados (Web site Guia do bebê, 2006). Nela há equipes especializadas de médicos, enfermeiras, além de outros profissionais de saúde e pessoal de apoio, contando com a retaguarda de exames complementares, laboratoriais e radiológicos, tudo funcionando 24 horas por dia. Equipamentos modernos como incubadoras de última geração, respiradores, monitores cardíacos e de oxigenação, entre muitos outros, são obrigatórios neste ambiente, de modo a garantir todos os cuidados que o seu bebê precisa. (Web site Guia do bebê, 2006).
O BEBÊ PREMATURO OU DE RISCO O Impacto da Prematuridade na família
A Organização Mundial de Saúde define como Recém-nascido de baixo peso aquele que apresenta peso, ao nascer, igual ou inferior a 2.500g e como prematuro toda criança nascida antes de 37 semanas. O nascimento de um bebê de risco ou prematuro é uma crise imprevista em qualquer família. No caso do recém-nascido prematuro, podemos considerar que os pais também são “pais prematuros” e enfrentam dificuldades ao lidarem com as suas expectativas e com a realidade. (Lopes, 2004). É na UTI Neonatal que o bebê de risco e/ou o bebê prematuro recebe os cuidados médicos apropriados à sua recuperação e ao seu desenvolvimento. Nesta unidade, os bebês serão assistidos por uma equipe de saúde especializada e contarão com máquinas e equipamentos que, nestes primeiros dias de vida, lhe garantirão as funções vitais. Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 05 | dez 2007
PSICOLOGIA HOSPITALAR A Intervenção na UTI Neonatal
Dentre os profissionais da equipe de saúde, há o Psicólogo Hospitalar. Dentre suas atribuições, buscará facilitar os contatos iniciais dos pais com seu bebê: é importante que os pais recebam informações sobre para onde seu bebê será levado, sobre os cuidados que ele receberá e sobre o direito de vê-lo logo que eles se sintam em condições de fazê-lo (Lopes, 2004). Assim, os pais serão visitados por este profissional antes que vejam o bebê pela primeira vez, no intuito de transmitir noticias sobre o bebê, do estado em que se encontra, bem como a que tipo de aparelho o bebê esta conectado e para que estes servem. O Psicólogo Hospitalar também atuará junto ao recém-nascido, na avaliação dos problemas de saúde que podem interferir no desenvolvimento. Sua atuação também se dará na intersecção família–bebê–equipe de saúde, objetivando, além da vinculação inicial com o bebê, o bom contato entre os membros da equipe de saúde e dos cuidadores (Lopes, 2004).
O BEBÊ E A FAMÍLIA A importância do vínculo
O bebê prematuro e seus familiares têm muitas diferenças iniciais. Os pais são raramente preparados para sua primeira visão de um bebê magro e mantido por monitores. Sua comunicação inicial ocorre com a equipe de saúde e não com seu bebê (Lopes, 2004). A relação precoce entre pais e seus pequenos é a base para o desenvolvimento infantil. No entanto, conforme nos relata Lopes (2004), pesquisas sobre a interação pais/pretermo e o vinculo na U.T.I. neonatal vem demonstrando que os pais se sentem alienados e freqüentemente tem dificuldade inicial de formação de vinculo com seus bebês.
OS CUIDADOS E A ESTIMULAÇÃO
Além dos cuidados da equipe de saúde e de um ambiente totalmente voltado à recuperação e desenvolvimento do recém-nascido, o seu bebê também precisa de você! Muitos estudos já afirmam que a estimulação, principalmente a tátil e a auditiva, proporciona uma maior humanização do atendimento neonatal dos bebês prematuros e, como conseqüência, há uma maior rapidez no ganho de peso e uma resposta mais imediata de seus estímulos afetivos, sensoriais e motores (Lopes, 2004; e Web site Guia do Bebê, 2006). Se as condições de saúde do bebê permitirem, participe dos cuidados a ele, juntamente com a equipe de saúde. Toque o seu bebê! Observe as suas melhoras, sua capacidade interativa, sua luta Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 05 | dez 2007
pela vida! Esteja e seja presente, desde seus primeiros dias de vida! (Web site Guia do Bebê, 2006). Conversar com o bebê, tocá-lo, fazê-lo sentir sua presença, transmitindo-lhe segurança, afeto e apoio é uma parte muito importante do tratamento. Colocar um enfeite ou um brinquedo colorido (lavável) ou ainda escrever o nome da criança na incubadora são iniciativas bem-vindas (Web site Guia do Bebê, 2006).
“Esperança é decidir pela vitória a cada circunstância que a vida nos coloca... (Daisaku Ikeda) REFERÊNCIAS
Guia do Bebê (2006). A UTI Neonatal. Disponível em http://guiadobebe.uol.com.br/recemnasc. Acessado em 19/02/2006. Lopes, F. (2004). Atuação do psicólogo na UTI Neonatal. Manuscrito não publicado, Faculdade Rui Barbosa. * Algumas fotos apresentadas nesta cartilha foram retidas de: Sena, C. L.; Lopes, F.; Farias, M.; Aguiar, M.; & Floriano, P. R. (2004). Seminário sobre Pediatria e UTI Neonatal. Apresentado na Universidade Rui Barbosa. Esta ‘Cartilha’ foi desenvolvida e compilada pelos alunos: Natália M. Dias, Patrícia H. P. Malzone, Célia Soares, Giselle Pianownsky, Julio César Torres e Carolin A. Pimentel, na disciplina ‘Psicologia Hospitalar’ sob supervisão da Profª Dra. Maria Eugênia Scatena Radomile. Psicologia - UAACHS – USF__ Universidade São Francisco – Itatiba-SP
REFERÊNCIAS
Dias, N.M.; Malzone, P.H.P.; Soares, C.; Pianowinsky, G.; Torres, J.C. & Pimentel, C.A. (2006). A UTI Neonatal - A Educação no Ambiente Hospitalar: Proposta de esclarecimento a pais e acompanhantes. Universidade São Francisco.
AUTORES Natália Martins Dias; Patrícia Helena Pietro Malzone; Célia Soares; Giselle Pianowsky; Júlio César Torres; Carolin Araújo Pimentel (Discentes do curso de Psicologia da Universidade São Francisco) Maria Eugênia Scatena Radomile (Psicóloga, Mestre e Doutora em Psicologia, Docente do curso de Psicologia, Universidade São Francisco) Rua Alexandre Rodrigues Barbosa, 45, Itatiba, SP, 13.251-900, tel.: (11) 4534-8000 13
PSICOLOGIA CLÍNICA
PATERNIDADE passado, presente e futuro
Ao contrário da maternidade, que tem sido alvo de inúmeras investigações ao longo dos tempos (Correia, 1998), a paternidade só nos anos 70 despertou interesse na área da Psicologia (Horvath, 1995). Nos anos 80, começaram a surgir pesquisas cientificas em torno da figura paterna, nomeadamente, a sua importância na educação dos filhos. A relação pai-filho, até aqui negligenciada, começou a partir desta altura, a assumir uma importância no estudo do desenvolvimento da criança (Silverstein & Auerbach, 1999). No entanto, a literatura acerca da paternidade ainda é relativamente escassa quando comparada à amplitude que esta assume no desenvolvimento biopsicossocial da criança. Nas palavras de Balancho (2003), “Se ser pai significa a capacidade de cuidar de outro ser humano de forma a promover nele o desenvolvimento e, em simultâneo, contribuir para a continuação da espécie e da vida através da criação de gerações futuras, também significa auto-satisfação e realização pessoal.” Neste contexto, pretendemos, com o presente artigo, aprofundar a importância da figura paterna ao longo do tempo e, reflectir sobre a paternidade nas gerações futuras.
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A EVOLUÇÃO DA FUNÇÃO PATERNA
Até ao início dos tempos Republicanos, o pai assumia o papel de formador moral, responsável pela transmissão de valores culturais e morais e regras sociais aos seus filhos. A educação e a instrução dos filhos não era valorizada como parte integrante do desenvolvimento, servindo apenas para a interpretação dos manuais religiosos (Lamb, 1992). Segundo Balancho (2003), a sociedade nesta época, era estratificada e hierarquizada sendo os filhos completamente submissos à autoridade do pai. Este exercia total influência na vida dos seus filhos, pois era ele que os preparava para um ofício. Além disso, a figura paterna também desempenhava um papel de autoridade na vida relacional dos filhos, decidindo quem eles deveriam cortejar. Este facto explica-se pela importância que era dada, nesta altura, à continuidade e à herança familiar. O poder dos pais era de tal forma significativo que, em caso de separação do casal, os filhos eram entregues ao pai. Apesar da influência e da proximidade, a relação pai-filho era essencialmente instrumental baseada na transmissão de saberes e regras de conduta. O envolvimento emocional e os cuidados diários dos filhos eram, nesta relação, negligenciados. Neste contexto, surge por volta do séc. XVIII uma indignação face à prepotência do pai. O exercício da paternidade vigente promovia a dependência e a submissão à autoridade ao invés de fomentar uma relação afectiva que proporcionasse bem-estar (Parke, 1996). Com a industrialização, no séc. XIX, o sustento econômico começou a ser a característica dominante da função paterna. Um bom pai seria aquele que conseguia obter um bom rendimento para o sustento da família. No entanto, é após a segunda guerra mundial que surge uma nova conceptualização de paternidade (Lamb, 1992). Com o distanciamento dos pais, devido a estes acontecimentos históricos, a educação das crianças começou a ser valorizada. Antônio, de 80 anos, recorda os tempos de infância e afirma: “O meu pai era muito exigente. Tínhamos regras para tudo…para estar à mesa, horário para nos levantarmos e para nos deitarmos… até regras para falar! O meu pai passava o dia inteiro na firma. Era ele que sustentava a família. A minha mãe ficava em casa a cuidar de nós e a tratar de assuntos domésticos. Lembro-me perfeitamente quando as mulheres começaram a trabalhar fora de casa… o meu pai nunca aceitou bem esse facto. Ele sempre defendeu os valores que lhe foram transmitidos.” A entrada da mulher no mundo do trabalho, no início do séc. XX, teve como repercussão o delegar das funções educativas a outras instituições. Posto isto, assistimos a uma transformação nos papéis e 16
nas funções familiares, proporcionando um sistema mais igualitário entre homens e mulheres (Balancho, 2003). A figura do pai deixa de ser vista como poder de autoridade e de masculinidade na identificação sexual dos filhos e começa progressivamente a envolver-se na prestação de cuidados tornando-se mais afectivo.
O PAI ATUAL
O novo pai está envolvido nos cuidados do diaa-dia e na educação dos filhos. Apesar do sustento econômico ainda ser uma questão crucial, o pai da atualidade tem um grande impacto no desenvolvimento das crianças. Assiste-se a um pai mais atento aos filhos, prestador de cuidados, fornecedor de apoio emocional e colaborante nas tarefas domésticas. O depoimento de Jorge, de 28 anos, ilustra bem este fato: “Chego sempre à casa antes da minha mulher. Sou eu que geralmente vou buscar a Carolina à creche (filha única de 3 anos). Dou-lhe banho, brinco com ela e adianto o jantar. Sinto-me muito bem e desejo que continue sempre assim… gosto de estar próximo da Carolina e ajudar a minha mulher no que puder. Acho que tenho jeito para as crianças. Nunca me atrapalhei e sempre ajudei a minha mulher a cuidar da Carolina desde bebê”. Estes fatos reforçam, não só os laços afetivos entre os filhos, como também um fortalecimento da relação conjugal (Lamb, 1992). Na mesma linha de pensamento, Coimbra de Matos (2002), refere que o pai é o sustentáculo do narcisismo da mãe, que se reflete na relação mãe-filho, ou seja, quando a mãe se sente satisfeita no campo pessoal e amoroso estará mais disponível para uma relação afetuosa com a criança.
SER PAI COMEÇA ANTES DA GRAVIDEZ
Atualmente, ser pai ou mãe, na maioria dos casos, é um ato deliberado e controlado contraceptivamente. As técnicas de planeamento familiar vieram proporcionar ao casal a possibilidade de decidir qual o momento mais conveniente e desejado para o nascimento dos seus filhos (Avô, 2000). Além disso, trata-se de um projeto que já não está necessariamente vinculado ao casamento. Posto isto, a vontade de ter um filho pode estar associada a diversas razões (Cameira, Cabral, Leal, & Ribeiro, 2000). Segundo Bydlowski & Dayan-Lintzer (1988), o desejo de ser pai acenta sobre duas significações: uma consciente a outra inconsciente. No plano consciente, o indivíduo imagina-se no papel de pai e cria ilusões futuras de perpetuação, podendo fortalecer a harmonia na intimidade da relação com a mulher Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 05 | dez 2007
que escolheu. A dimensão inconsciente do desejo resulta, fundamentalmente, da forma de como o indivíduo viveu a sua relação com a mãe e com o pai (quer com cada um em particular, quer com os dois enquanto casal) à medida que cresceu. Embora, o desejo de fusão e de união com o outro, a identificação, a realização de ideais, o desejo de resolver questões relacionais, a necessidade de assegurar o casamento e o desejo de renovar velhas relações possam estar subjacentes no desejo de parentalidade por parte do casal, as motivações pessoais também são cruciais nesta decisão. Por vezes os filhos são encarados como um prolongamento de si mesmo ou como enriquecedor da sua própria existência. Ainda importa referir que um filho pode ser visto para o indivíduo como uma oportunidade de realizar algo que ele próprio nunca conseguiu (Cameira et al., 2000). Deste modo, pode-se considerar que, inerentes ao desejo de parentalidade, existem complexas razões pessoais e conjugais. Todavia, sabe-se que a pressão familiar e social pode exercer bastante influência na vida do indivíduo, principalmente, em questões relacionadas com a maternidade/paternidade. Podemos verificar este fato nas afirmações de Jorge: “Casei-me com a Joana aos 24 anos. Os pais dela faziam muito gosto e ofereceram-nos o copo de água. Com o passar dos tempos, os nossos pais começaram a expressar o desejo de serem avós. Nós também queríamos um filho, mas reconheço que fomos muito influenciados pelas nossas famílias. Mas acho que foi a altura ideal. ”. Com o projeto de parentalidade, o casal define uma nova vida e, desde muito cedo, estabelece um sistema de cuidados direcionados para o novo elemento da família (Vaz & Relvas, 2002). Poderemos então inferir que quando um casal ou um dos membros decide ter um filho, independentemente das razões, começa-se a construir um projeto de paternidade/maternidade recheado de expectativas e desejos.
O PAI TAMBÉM “ENGRAVIDA”
Infelizmente, as experiências do futuro pai não são consideradas, pela nossa sociedade, relevantes. O apoio à mulher grávida é uma função importante, contudo, não podemos inferir que o papel do pai se limite a este fato (Colman & Colman, 1994). Será que quando um pai acompanha a sua esposa ao obstetra ou às aulas de preparação para o parto está unicamente a servir de apoio físico e psicológico à sua companheira? Não nos parece. Aqui, certamente, o homem já sente a necessidade de exercer a sua paternidade de alguma forma e, tem a necessidade de sentir e ver, nem que seja através de ecografias, o seu filho. O pai está a estaRevista de Psicologia ATLASPSICO nº 05 | dez 2007
belecer uma nova relação com a sua mulher, com o seu filho e também consigo próprio. Segundo Ross (1979), o período de gravidez provoca na figura paterna uma “revolução” interna, onde haverá uma reestruturação do self que será crucial para o resto da sua vida. A sua nova identidade vai então formando-se ao longo dos nove meses de gestação. Na mesma linha de pensamento, durante a gravidez, as alterações psicológicas e sociais do pai podem ser tão elevadas que devemos igualá-las às transformações da mãe (Parke, 1996). Durante este período, o homem pode apresentar algumas queixas físicas (perda de apetite, vómitos, inchaço abdominal, etc.), ansiedade ou medos inexplicáveis. Estes sintomas psicossomáticos têm a designação de Síndroma de Couvade. Geralmente, este Síndroma está relacionado com conflitos despoletados pela gravidez, no entanto, a maioria dos homens não conseguem perceber esta ligação (Trehowan, 1965). De acordo com Biller (1970), o Síndroma de Couvade pode ser uma tentativa inconsciente do pai para expressar a sua transformação. Se fosse possível, muitos homens gostariam de ser portadores de um filho (Cyrulnik, 1995). De acordo com Colman & Colman (1994), podem surgir nos homens sentimentos profundos acerca da gravidez. Segundo estes autores, os pais sonham muitas vezes que estão grávidos, o que pode traduzir inveja ou ansiedade. No entanto, os sonhos também podem significar uma tentativa de partilhar profundamente a experiência da mulher. Para expressar a identificação íntima e positiva com a sua mulher, em muitos casos, o futuro pai aumenta de peso (Colman & Colman, 1994). Gaspar, de 34 anos viveu intensivamente a gravidez da sua mulher “quando a minha mulher disse que estava grávida eu fiquei radiante. Mas com o passar do tempo comecei a ter medo. Eu não sei explicar… tinha medo que a gravidez não corresse bem, que acontecesse alguma coisa de mal… sentia-me impotente… era algo que não controlava. Às vezes até tinha pesadelos. Sonhava que nascia um bebê com problemas, ou que ela abortava… veja lá que até sonhei que era eu que estava grávido e cheio de dores! Só comecei a acalmar quando a gravidez chegou aos 6/7 meses… mas, na altura do parto fiquei muito nervoso.”. Sem dúvida, o pai atual tornou-se numa figura “maternal”, onde este seu novo papel vai evoluindo na quantidade e na qualidade. Para além do interesse crescente pela gravidez, o pai da atualidade, investe no futuro filho, empenha-se nos preparativos para o enxoval, é treinado para ser assistente durante o parto e vivencia a gravidez da sua mulher de forma mais próxima e intensa. 17
O bebê passa ser o novo interlocutor nas conversas do casal. Normalmente, ambos vão decidir que nome dar ao bebê, os planos futuros do diaa-dia após o nascimento da criança e vão criando expectativas (Avô, 2000). Podemos observar a cumplicidade do casal em relação à gravidez nas palavras de Jorge “A gravidez mudou a nossa vida. Em vez de irmos ao cinema ou jantar fora íamos ver artigos para bebês. Passamos a direcionar a nossa vida para a nossa filha. Todos os dias pensávamos em alguma coisa para ela… pensamos no nosso futuro, de como seria a nossa filha, o que desejávamos para ela e o que iríamos fazer por ela. Andávamos muitos felizes e cheios de expectativas.” O pai deseja, cada vez mais, compartilhar com a sua mulher as experiências de contacto com o bebê. Segundo Cyrulnik (1995), se o pai colocar as mãos sobre o ventre da sua mulher em fim de gravidez, e exercer uma pressão muito suave, o bebê muda de posição ao fim de alguns minutos. Contudo, a interação directa do pai-bebê in útero vai para além do tato. O bebê pode familiarizar-se com o odor do pai através do líquido amniótico. Este fato acontece porque o pai é portador de um odor almiscarado característico que é inalado pela mãe e, no fim da gravidez, as moléculas odoríferas encontram-se no líquido amniótico (Cyrulnik, 1995). Ainda neste contexto, muitos investigadores defendem que o bebé também tende a familiarizarse com a voz do pai porque esta passa facilmente através da parede uterina. Enquanto a voz da mãe é percebida de forma suave e distante pelo bebé, a voz do pai, como apenas tem de atravessar uma fina parede de músculos e de água, é mais intensa e aguda (Cyrulnik, 1995). A interacção indirecta do pai-bebé in útero processa-se através da mãe. Sendo o pai uma figura significativa para a mãe, esta mensagem irá ser transmitida sensorialmente para o feto. Gaspar, sentia a necessidade de tocar na barriga da sua mulher todos os dias: “À noite, tocava na barriga dela e só parava quando o nosso filho se mexia. Às vezes também tinha curiosidade em ouvir os sons da sua barriga. Apetecia-me falar com o bebé, mas sei que ele não ia perceber… mas pelo menos ouvia a minha voz… acho eu. Isto fazia-me sentir bem.”. Com base no exposto, podemos inferir que o pai vivencia e partilha intensamente a gravidez com a sua mulher. Estes fatos reforçam a nossa ideia de que o pai também “engravida”.
O PAI NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA
Com a chegada de um filho, o pai vai ter obrigações e cuidados acrescidos que farão aumentar o stress na sua vida (Balancho, 2003). O pai vai ter de coordenar a paternidade com a vida profissional, conjugal e social. A responsabilidade econômica e o desejo de proximidade do bebê começam a crescer e poderão, em alguns casos, ser incompatíveis. Para além disso, relativamente à sua parceira, ele vai ter uma grande importância na reorganização conjugal e no apoio emocional, físico e económico. Posto isto, pretendemos realçar, de forma sucinta, a importância e as dificuldades do pai no desenvolvimento da criança. O parto é um acontecimento inesquecível e intenso, transbordado de sentimentos ambíguos: medo, alegria, sofrimento, prazer e amor. A mãe e o bebê são os protagonistas deste momento, no entanto, o pai não deve ser colocado de parte. Atualmente sabe-se que a presença do pai, no momento do parto, é muito vantajosa tanto para a mãe como para a criança (Avô, 2000). O pai serve como um forte apoio emocional e, presente no momento do parto, estará disponível para ajudar a sua companheira. Tal como a mãe, o pai também vivencia este acontecimento com intensidade e ansiedade. Por exemplo, ele pode sentir muito receio que algo de mal aconteça ao bebê e/ou à sua mulher (Colman & Colman, 1994). Poderá também sentir receio de ter que ficar só a tomar conta do seu filho ou de sofrer a perda deste e/ou da sua parceira. Mas, quando o parto se caracteriza de forma normal, em muitos casos, o casal sente felicidade e vive um momento verdadeiramente mágico. “Quando soube que tinha corrido tudo bem, que a minha mulher estava bem e o meu filho com saúde, senti-me o homem mais feliz do mundo. Mas confesso que vivi momentos de grande aflição quando a minha mulher deu entrada no Hospital… Tive muito medo que
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vinculam-se a ambos os pais devido à qualidade das relações e não por causa do tempo que ambos passam com a
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algo corresse mal. Eu não sabia o que fazer… tive mesmo muito medo.” Comenta Gaspar. Para além dos medos associados ao parto, importa referir que alguns homens, sentem ciúmes do bebê principalmente pela proximidade corporal que o une à mãe (Colman & Colman, 1994). As palavras de Jorge poderão estar associadas a este fato: “… quando vi a minha filha no colo da Joana senti que ela nunca sentiria um amor tão profundo por mim… o amor por um filho transcende qualquer outro…” No entanto, a inexistência da experiência física não implica que o bebê não estabeleça relações de vinculação com o pai. Como refere Cyrulnik (1995), apesar do efeito tranquilizador do corpo da mulher, o pai maternal pode “ tecer um elo de vinculação muito eficaz e adquirir uma grande função apaziguadora.” Segundo Lamb (1997), a maioria dos bebês vinculam-se a ambos os pais devido à qualidade das relações e não por causa do tempo que ambos passam com a criança. Ainda relativamente aos comportamentos de vinculação, as crianças com oito meses não revelam preferência por nenhum dos pais mas demonstram comportamentos de afiliação de preferência pelo pai (Malpique, 1990). A primeira imagem que a criança vai ter do pai é a que foi transmitida pela mãe e pelo próprio na fase de gestação (Furman, 1991). Se a transmissão ao feto e a interação precoce pai-filho for calorosa e afetiva, a criança manifesta alegria e carinho para o pai apenas com um pequeno desfasamento de tempo em relação à mãe (Balancho, 2003). Por volta dos quinze meses a criança já consegue ter imagens diferentes do pai e da mãe. O diferente tipo de relação que a criança vai ter com os progenitores proporcionará a existência de dois modelos que irão conduzir à descoberta do self. Sendo assim, a criança tenderá a reproduzir e fará uma identificação dos modelos de acordo com o seu género. Em resultado, irá surgir uma identificação com o casal, com o próprio sexo e um modelo de comportamento que corresponde a um “ideal de EU” (Amato, 1994). Em certos casos, a ausência do pai pode ser mais prejudicial que a da mãe. Poderão surgir síndromes graves na criança devido à falta de uma figura de autoridade e psicoafectiva indispensável para a sua identificação (Wallon, 1978). Relativamente à importância do pai na formação da identidade sexual da criança, Lamb (1992) refere que, ao contrário do que se pensava nos anos 60, a masculinidade tem pouca importância. Subjacente à adaptação dos padrões de tipificação sexual, está essencialmente a relação calorosa que o pai tem com o seu filho. Por outras palavras, ao invés Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 05 | dez 2007
da masculinidade, são as características “femininas” do pai e a relação positiva que este estabelece com o filho, que levam a um melhor ajustamento da tipificação sexual. A aproximação do pai ao bebê tem bastante influência na relação entre mãe-bebê e na relação de casal. Por exemplo, no caso de bebês prematuros, as visitas e a presença do pai pode melhorar a relação do casal e o desenvolvimento da criança (Sousa, Faria, Lory & Baptista, 2000). O filho do casal Lopes nasceu com seis meses e meio de gestação e esteve na incubadora durante três meses e meio. A sra. Lopes recusava-se a ver o seu bebê. O seu marido tinha que ir vê-lo sozinho “Ia todos os dias vê-lo e saber como ele estava. A minha mulher ficava trancada no quarto a chorar e só saia de lá para fazer o jantar. Perguntava-me se a criança estava de boa saúde e se havia esperanças. Com o passar do tempo, começou a acreditar que era possível ele sobreviver e decidiu ir vê-lo. Aí percebeu que o bebê não era assim tão diferente do que tinha imaginado… era um bebê normal… mas mais pequenino.”. A Sra. Lopes conta-nos: “Tive medo de o conhecer… tive medo que morresse… o meu marido é que me deu força. Deu-me muito apoio… a mim e ao nosso filho. Foi um erro ter agido assim… e ele soube compreender e perdoar. Senão nunca me tinha perdoado a mim mesma. Hoje em dia, tanto eu como ele cuidamos bem do nosso bebê”. Embora as mães sejam, por excelência, as prestadoras dos cuidados do bebê não podemos afirmar que os pais sejam menos capazes (Lamb, 1987). Normalmente, a prestação de cuidados é incumbida à mulher pela sociedade e pela família. É a mãe que está mais presente no dia-a-dia da criança e por isso mais sensível e consciente das necessidades do bebê. O pai, ao achar que esse papel é unicamente da mulher, afasta-se e torna-se cada vez mais inseguro das suas capacidades parentais. Mesmo que os homens desejem prestar cuidados ao seu filho, vão continuar a ceder à sua mulher essa responsabilidade (Lamb, 1992). No entanto, durante o período neonatal, ambos os pais podem ser igualmente competentes (Lamb, 1981). Cyrulnik (1995) vem reforçar esta idéia dizendo que, os bebês alvos de cuidados paternos, vocalizam mais na presença de um estranho, exploram melhor os objetos e aceitam melhor o colo de um desconhecido do que os bebês entregues aos cuidados da mãe. As interações iniciais do pai e da mãe com o bebê são muito diferentes. Enquanto que a mãe estabelece, como já foi referido, uma relação de prestação de cuidados, o pai recorre a uma relação lúdica de jogo e de estimulação do bebê através do toque. Isto não significa que a mãe não brin19
que com os bebês, contudo, ela recorre aos jogos tradicionais e aos contos de fadas e o pai inventa e improvisa novas brincadeiras. Em suma, temos o lado paterno que é mais físico, como tocar, lançar e pegar ao colo, e o lado materno mais intelectual, utilizando mais verbalizações e apresentações de objetos (Cyrulnik, 1995). “A minha mulher cantava quase todas as noites para a Carolina. Eu gostava de lhe pegar ao colo e elevá-la no ar… Ela sorria para mim. Também se ria muito quando eu lhe tocava na barriga ou nos pezinhos.” – Recorda Jorge. A actividade calorosa e lúdica do pai proporciona ao bebê uma regulação e um controle de comportamentos e emoções. As crianças, deste modo, conseguem uma melhor adaptação aos vários sentimentos experienciados e às diversas situações emergentes. Para além disso, a observação das expressões faciais e dos movimentos corporais do pai, permite ao bebê desenvolver confiança e aprender a lidar com situações semelhantes no futuro. A competência intelectual da criança também parece estar associada ao tipo de envolvimento que
o pai estabelece com ela e com a mãe. Se existir interação próxima, calorosa e lúdica, a criança terá um bom desenvolvimento intelectual e futuramente um bom rendimento escolar. (Balancho, 2003). Também importa referir que, quanto mais cedo se estabelecer uma interaçêo pai- -filho forte e positiva, mais o desenvolvimento cognitivo e a capacidade expressiva e criativa do bebé se diferencia (Malpique, 1990). Radin (1994) acrescenta que a relação calorosa entre pai e filho, influencia positivamente a competência e a motivação para o sucesso do seu filho. Com base no exposto, podemos inferir que o estímulo e a interação do pai são muito importantes no desenvolvimento cognitivo, afectivo e social da criança. Relativamente à função paternal, concordamos com as palavras de Malpique (1990) “o pai é sensível e capaz de fazer uma maternagem precoce do seu bebê”. Embora menos presente que a mãe, o pai pode desenvolver uma interação rica e estimulante com o seu filho.
REFLEXÃO
O pai do amanhã será presente, interessado, preoACERCA DO FUTURO PAI cupado, ativo e auto-suficiente na educação dos fiCom base em tudo o que foi lhos e dará ênfase a uma relação de amor e de afeto exposto e, com algumas idéias da com os seus filhos tal como o pai da atualidade. sociedade atual, pretendemos fazer uma breve reflexão acerca do futuro pai. Seguramente, com o avanço da tecnologia, da ciência e da sociedade surgirão mais estudos em torno da paternidade. Houve ao longo dos tempos uma nítida mudança no papel do pai, principalmente, por influência da sociedade. Relativamente às transformações futuras da função do pai, julgamos que a mudança não será tão evidente como ocorreu desde os tempos republicanos até aos dias de hoje. O pai do amanhã será presente, interessado, preocupado, ativo e auto-suficiente na educação dos filhos e dará ênfase a uma relação de amor e de afeto com os seus filhos tal como o pai da atualidade. No entanto, parece-nos que, ao invés de ser o pai a ceder os cuidados parentais do filho à mulher (Lamb, 1992), com o evoluir da sociedade e das tecnologias,
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será a mulher a fomentar que os cuidados sejam feitos também pelo pai. Como refere Hojat (1998), o pai poderá substituir a mãe e ser o grande vitorioso nas questões da parentalidade. Podemos observar este fato no caso de Nelson, pai solteiro aos 22 anos. “A Teresa engravidou… ficamos em pânico. Os nossos pais não aceitaram a gravidez… Como deixamos arrastar a situação, já era tarde para fazer um aborto. A criança teve que ficar em minha casa porque ela e os pais foram viver para o estrangeiro. A Teresa só visita a filha uma vez por ano, nas férias grandes. Decidi começar uma vida nova. Deixei de estudar e fui trabalhar. Também decidi alugar uma casa para mim e fui viver com a minha filha. Nessa altura ela tinha 1 ano. Durante o trabalho ela ficava em casa dos meus pais. Ao fim do dia ia buscá-la. Aos fins-desemana passeávamos. Comecei a aprender a cuidar dela, a mudar as fraldas, a fazer a comida, a dar-lhe banho… não é tão difícil como se pensa… os meus pais ficaram surpreendidos comigo. Atualmente admiram-me e respeitam-me muito por isso. Eu próprio mudei, tornei-me muito mais responsável e seguro das minhas decisões. Acho que sei tratar de crianças muito melhor que certas mulheres. Gosto muito de ser pai… se o tempo voltasse atrás não mudaria nada. Sou um pai competente! A minha filha tem cinco anos e somos muito felizes os dois!” Infelizmente, a sociedade continua a não privilegiar a paternidade. Os pais continuam com um espaço reduzido para usufruir de alguns privilégios que a lei permite devido aos seus empregos (Balancho, 2003). Mais do que uma previsão, desejamos que os pais de amanhã lutem pelos seus direitos de paternidade e que não percam, como tem acontecido, as principais etapas do desenvolvimento do seu filho. Um pai que só vê os seus filhos de quinze em quinze dias por decisão do tribunal resultante do divórcio litigioso, não conhece a vida dos seus filhos; apenas pormenores ou situações pontuais retratadas por eles. Esse pai nunca saberá como são os seus filhos no regresso das aulas, nas brincadeiras diárias, na rotina do dia-a-dia… Os fins-de-semana e as férias nunca vão substituir as experiências do quotidiano (Guigue, 2002). Contudo, já se verifica uma vontade, por parte dos pais, de estarem cada vez mais próximos dos seus filhos. Na fase do projeto de maternidade, eles interessam-se pelos preparativos do enxoval; durante a gravidez, os pais acompanham a mulher às consultas, desejam ver e sentir o bebê e agradam a mãe no intuito de satisfazer a criança; no momento do parto estão presentes e vivem o momento com intensidade; e durante o desenvolvimento do
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bebê empenham-se nos cuidados, interagem mais e melhor, interessam-se pelo bem-estar da mãe e da criança, partilham sentimentos, criam uma relação afetiva e preocupam-se com a educação e com o sustento econômico dos filhos. Ainda segundo Lamb (1997), o pai da actualidade, pede licença de maternidade, tenta organizar horários de trabalho flexíveis, assume a custódia total dos filhos e recusa empregos para poder estar mais próximo dos filhos. Com o aumento dos divórcios, podemos inferir que, futuramente, o pai estará mais sozinho no exercício da parentalidade. Esta suposição também se baseia na progressiva diminuição dos casamentos e no empenho progressivo das mulheres na carreira profissional. Perece-nos haver um declínio do investimento materno e uma valorização na construção de uma carreira profissional ou outros projectos e um aumento progressivo do empenho do pai “maternal”. Nos dias de hoje, a paternidade/maternidade é, normalmente, premeditado e controlado contraceptivamente. O casal tende cada vez mais a adiar esse momento em função de outros projetos (Cameira et al., 2000). Com o avançar da idade, as mulheres sofrem uma diminuição do potencial fértil e reduzem a actividade sexual. Por consequência, haverá um aumento de stress que poderá levar ao consumo de produtos tóxicos. Este comportamento conduz a uma acentuação da infertilidade (Faria, 1988). Talvez pelo aumento da infertilidade, existe um grande número de crianças que nascem através das tecnologias de reprodução (Sousa et al., 2000). Acreditamos que muitas mulheres recorram a algumas destas tecnologias (por exemplo, a congelação dos óvulos maduros) para poderem mais tarde realizar o projeto de maternidade. O mesmo pode acontecer futuramente com famílias monoparentais e com homossexuais. Podemos então inferir que, a longo prazo, dado o crescente interesse e desejo do homem pela paternidade, as técnicas de reprodução medicamente assistidas vão estar ao serviço dos homens solteiros. Podemos ir ainda mais longe nas especulações e, pensarmos que no futuro haverá uma espécie de “incubadora” que permite substituir o útero materno. Se for possível, assistiremos a uma revolução na parentalidade onde deixa de existir a gestação e o parto e nasce um “dar à luz psicológico”. Com este acontecimento o pai e a mãe ficariam com responsabilidades idênticas na função e no papel parental. Senso assim, a inveja do pai relativamente à gravidez da mulher, referida por Colman & Colman, (1994), e o desejo de ser portador, salientado por Cyrulnik (1995), deixariam de existir.
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(...) as mulheres querem continuar a manter a autoridade na área dos cuidados da criança.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Assistiu-se a uma grande transformação do papel do pai ao longo dos tempos. A paternidade está “maternalizada” e a ganhar terreno no exercício da parentalidade. Importa referir que, para que a influência da paternidade seja positiva deve haver um bom envolvimento do pai com o filho. As determinantes de um bom envolvimento afetivo são a motivação, a auto-confiança, o apoio e as práticas institucionais (Lamb, 1992). Relativamente à motivação, o pai tem que desejar exercer a “nova” paternidade. O homem deve valorizar a paternidade em detrimento da masculinidade. No entanto, muitos pais sentem-se moti22
vados mas pensam que não vão ser capazes de cuidar do bebê. Este receio de incapacidade conduz a um menor envolvimento. Posto isto, a auto-confiança do pai é fundamental para que se crie um envolvimento próximo e afetivo. Por sua vez, para que o pai se torne autoconfiante e mais competente, é necessário que este tenha o apoio da família, em particular, da sua mulher. Segundo Pleck & Peck (1997), existem muitas mulheres que não querem que os pais estejam envolvidos porque os acham incompetentes ou apenas para lhes poupar trabalho. Ainda para estes autores, as mulheres querem continuar a manter a autoridade na área dos cuidados da criança. Por ultimo, para um bom envolvimento do pai é necessário que o horário do emprego seja flexível, permitindo que este tenha tempo para desenvolver uma relação próxima com o seu filho. Muitos pais recorrem à licença de paternidade mas, de acordo com Lamb (1992), esta só facilita o envolvimento num curto espaço de tempo. Sendo assim, um pai motivado, auto-confiante das suas capacidades paternais, com um horário de trabalho flexível e com o apoio da família certamente irá estabelecer com a criança uma relação próxima e um envolvimento afetivo que é, como sabemos, positivo para o desenvolvimento. Para terminar, gostaríamos de referir que a separação teórica da função maternal e da função paternal é desejável porém, não nos podemos esquecer da importância da sua complementaridade. Neste artigo, abordamos essencialmente a função paterna distinguindo-a da materna, para obtermos uma melhor compreensão. Todavia, reconhecemos a importância do casal no desenvolvimento dos filhos. Existem muitas famílias monoparentais e tornase importante que elas saibam que isso não causa necessariamente, dificuldades no desenvolvimento da criança. Também sabemos que a criança prefere que os pais estejam juntos e que a separação provoca um grande sofrimento. Como refere Balancho (2003), a família ideal e perfeita nunca existiu nem nunca existirá. Todos nós temos um esboço dessa família na nossa imaginação e tentamos pô-la em prática através da adaptação aos tempos, às necessidades e às mudanças. Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 05 | dez 2007
REFERÊNCIAS
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AUTORES João Taborda – SNP 1202 Psicólogo Clínico, Mestre em Sexologia e Prof. Universitário (Psic. Desenvolvimento; Psic. Ambiente e Coordenador de Estágios) e reside em Lisboa, Portugal. João Taborda joaotaborda@yahoo.com Patrícia Fonseca (Psicóloga Clínica, Mestranda em Psicologia Clínica) Patriciafonseca26@gmail.com Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 05 | dez 2007
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PSICOPEDAGOGIA Filho é uma imensa responsabilidade que deve-se assumir pela vida toda. Um filho deve ser muito planejado e querido para evitar várias situações desconfortáveis que, diariamente, levam tantas pessoas aos consultórios e clínicas terapêuticas.
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m filho jamais deve ser gerado apenas por acidente, para satisfazer um instinto materno/paterno, para solucionar casos de solidão, para seguir carreiras que os pais não puderam seguir,para “prender” o parceiro a si ou ainda por qualquer outro motivo que não seja apenas a vontade de colocar alguém no mundo e ser-lhe útil, ensinarlhe e aprender com ele. Quando uma criança é planejada e amada da forma certa, dificilmente apresenta traumas/distúrbios e a vida em família passa a ser prazerosa ou, ao menos, bem aceita. A partir daí, é preciso criar vínculos corretos com essa criança para que a vida em família seja a melhor possível e também para que essa criança cresça segura de seu papel na sociedade e em relação aos outros. Desde cedo, ou seja, desde o nascimento, essa criança precisa ter boas referências (em todos os sentidos) de seus pais. Desde os cuidados com higiene e alimentação até responsabilidades em geral devem ser repassadas para que tenha referências e bons exemplos. Deve estar claro para ela que seus pais a amam, cuidam dela em todos os sentidos e que aconteça o que acontecer sempre estarão ao seu lado, sempre serão seus pais. Claro que fatalidades podem ocorrer como a morte do pai ou da mãe, mas se isso ocorrer, a segurança emocional da criança poderá se trabalhada muito bem, neste caso, por um bom Terapeuta. É preciso dar segurança à criança em todos os sentidos. Dessa forma, mesmo se o casal vier a separar-se ou houver alguma fatalidade, ela estará bem estruturada e pronta para lidar com a situação. Tenho deparado-me com alguns casos em que um dos pais, para vingar-se , aos poucos, “convence” o filho de que o outro é ruim ou não é digno de confiança ou qualquer outro motivo que acaba afastando o filho de um dos pais. Esse tipo de comportamento, além de não condizer com a maturidade comportamental de um adulto, representa ainda sinal de uma grande perversidade, que acaba se revertendo contra a própria criança. Geralmente é ela quem vai parar numa clínica terapêutica tentando reencon-
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trar-se quando quem precisa de séria terapia é o pai/mãe que a coloca num fogo cruzado entre aqueles que mais ama. Isso parece ser comum em casamentos desequilibrados ou, principalmente, em alguns processos de divórcio, onde o que vale é “ganhar” a causa, doa a quem doer. Ás vezes, é melhor estar num bom divórcio amigável do que num péssimo e conflitante casamento. Isso vale não só para o casal, mas também para os filhos. Quando o divórcio é bem dialogado e resolvido, torna-se muito mais saudável para todos. Viver num clima de discórdia ou continuar juntos apenas por causa dos filhos faz com que os mesmos sintam-se culpados por serem o “elo de ligação “ entre duas pessoas infelizes e insatisfeitas. Nada tenho contra o divórcio, desde que seja bem resolvido. Falo das separações ou casamentos cheios de desentendimentos, onde filhos são usados como armas e escudos, acarretando personalidades inseguras, problemas de aprendizagem, dificuldades de relacionamentos afetivos e, em casos mais graves, aversão ao casamento, à família. Quando um casal que tem filhos decide que o melhor a fazer é separar-se fisicamente, deve tentar estabelecer ao máximo um clima de amizade, ao menos, na presença dos filhos, por mais custoso que seja. Se isso for impossível, é melhor manter os filhos afastados durante o processo.. Filhos. precisam se sentir amados, protegidos e, acima de tudo, desvinculados da relação/separação dos pais. É preciso deixar claro para a criança que, casados ou divorciados, juntos ou separados, os pais continuam amando-a, cuidando e amparando-a em todos os momentos. Aconteça o que for, o pai será sempre pai, a mãe sempre mãe e mesmo se os pais casarem com outras pessoas, serão sempre seus pais. Isso trará segurança e tranqüilidade para todos. Se os filhos forem bem preparados diante da situação, mesmo que se sintam um pouco inseguros no início do processo, certamente superarão a fase e se tornarão crianças felizes, seguras, sem nenhum problema afetivo ou de aprendizagem e, principalmente, crescerão sabendo que os adultos podem errar, reconhecer erros, recomeçar e aprenderão que, às vezes, é preciso até casar-se mais de uma vez para encontrar a pessoa certa e ser feliz.
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A IMPORTÂNCIA DO VÍNCULO
entre pais e filhos
AUTORA: Lou de Oliver Psicopedagoga e Terapeuta CRT: 36587 | RCE: 486/6 dralou@loudeolivier.com.br www.loudeolivier.com.br Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 05 | dez 2007
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como seria o seu mundo sem nenhum tipo de orientação?
ORIENTAÇÕES PSICOLÓGICA
Portal de Psicologia ATLASPSICO é o 1º site do Estado do Paraná e o 6º do Brasil credenciado pelo C psicológicas online. O principal objetivo é atender brasileiros que moram no exterior e não tenham Messenger e Skype são utilizados na prestação de serviço psicológico online devido a agilidade e efic Não importa aonde você esteja, oriente-se às margens do Portal de Psicologia ATLASPSICO. Outras in
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PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL
REDUÇÃO AO ABSURDO quando a autocrítica se faz necessária
A economia de mercado é como o curupira: algo que ouvimos falar, alguns especialistas juram que conhecem e outros, mais desavisados dizem que está aí para ficar. Mas ninguém, ao certo, consegue delimitar o alcance de suas conseqüências, fora – é claro - do velho bordão socialista de ataque à “injustiça” e ao “desemprego estrutural”. Mas a ameaça é mais grave do que pensam os jovens invasores de reitorias, blogueiros e colunistas: a perversidade hoje atinge índices muito mais alarmantes e o discurso de ocupação dos espaços, típico do marketing, fomenta todo o tipo de ação predatória, para não falar em verdadeiro estelionato. Falo da descartabilidade profissional em função de um perfil de resultados. Mas do que se trata? A quem isto incomoda? Se for assim, dizem os portadores do saber, trata-se de caso de polícia. O Ministério Público e outras instituições estão aí para proteger a nós e a democracia e toda a balela alienista dos discursos superficiais. Mas, não é o ponto final do diagnóstico o que assusta, mas a ausência quase que completa de compromisso com soluções. O que enfrentamos no bojo desta situação extrapola a malícia do malfeitor, a transitoriedade do diretor ou a incompetência de nosso modelo de sociedade. Invoca, sim, grande dose de omissão por parte das classes profissionais em geral e, principalmente as que vivem dentro de
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sua normatividade apática e utilitarista, onde comandam importantes funções e determinam perfis e métodos de avaliação e ação no mercado. Porque eu comecei falando de economia de mercado e crime? Simples: porque suas exigências de penetração em todos os interstícios e “nichos”, participando integralmente das demandas, comprando ou fundindo-se para açambarcar os mercados é uma estratégia de ocupação e entrincheiramento. Formata-se, então, a partir desta realidade uma mentalidade administrativa de gestão da totalidade, cujos efeitos são sinistros. O custo da ocupação, em vidas, sonhos ou direitos não é considerado relevante, mas apenas o cálculo de quanto tempo pode-se auferir ganhos em escala, enquanto se age e enquanto há garantias de não poder ser removido do ambiente. Tampouco é considerado qualquer dano psicológico ou social, nesta pandemia de expressão virótica, articulação da violência racionalizada para obrigar ao terceiro se curvar à nossa vontade, que nem Clausewitz, Sun Tzu ou Go Rin No Sho puderam prever. O problema é que estas táticas de dispersão virótica têm por seqüela a morte do organismo hospedeiro, após a replicação, ou no caso da compra, da aquisição ou ação de consumo. Isto significa que uma vez não podendo estar dentro do mecanismo de dispersão com fator operador ou operan-
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te, torna-se o indivíduo descartável. O engraçado é ver que na literatura, há o elogio do método, do “foco em resultados”, mas ninguém se lembra de verificar se estes postulados são críticos da condição humana e de seus direitos fundamentais. A omissão apontada é o temor de intervir, quando deveriam – sim – ter maior influência para reajustar os parâmetros e flexibilizar as estratificações. A ausência é por criarem entes em demasia, critérios indutivos formatando esquemas justapostos, que nunca serão factíveis, embora possam ser apropriados como verdade. Estes botos são os responsáveis - diretos ou indiretos - pelos panoramas conceituais dos processos de contratação e as exigências sine qua non, de realização administrativa ou de sua validade e, deste modo, tornam-se extensivamente parte interessada no caso. Ao incorporarem os paradigmas e o discurso criado pelos seus gurus de ocasião, que somente se preocupam em cobrir espaços de ganhos possíveis nas demandas exigíveis, agem como novos sofistas a lhes copiar as denominações. Assim, passam a existência laboral a criar “filtros”: laudos, especificações, métricas e testes, apenas atuando no vácuo de sua ausência enquanto entes. Portanto, digam o que disserem os retóricos inflamados das nobres virtudes dos profissionais de recursos humanos, o fato empírico é que para
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quem está do outro lado da mesa (ou do balcão, depende!) delimitando um perfil e/ou terceirizando a sala de entrevistas, não é preocupação saber se ela está se tornando um espaço alienígena, cuja extensão é o ambiente da própria empresa. Hoje não mais se contrata: adquire-se um perfil. Uma vez realizado o conteúdo do capital humano ele deve ser dispensável até – no máximo – os quarenta anos, quando se esgota a relação ganho e cristalizamse perigosamente as zonas de conforto. O ideário informa que se não adquiriu uma diretoria até este deadline é porque já deu tudo o que tinha que dar. A premissa é a estratificação funcional e a orientação é recursiva: prazo de validade humana. Mas há uma reação! Alguém pode vir, com razão, me dizer: aqui respeitamos talentos! Pode ser que em alguns casos seja assim, mas não é a regra! Embora todo um discurso “cidadão” e transpessoal seja norma culta, quase onipresente nos departamentos... Até certo ponto. Mas, indefectivelmente todos sempre recuam frente aos financistas e suas planilhas de custos. Ao menor perigo de ameaça às taxas de rentabilidade, ao vade mecum da liquidez imediata, sente-se a mão pesada das organizações (ou de indivíduos): punições, descréditos e exílios. Políticos fogem do assunto enquanto profissionais e conselheiros, calam-se para não ser demitidos. Assim, o remédio é voltar-se
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Políticos fogem do assunto enquanto profissionais e conselheiros, CALAM-SE para não ser demitidos a congressos de classe, congratulações por corte de despesas (e de pessoal), místicas, esoterismos, sistemáticas e tabulações. Vez em quando, fretam um navio para shows da mágica do team building (teria mais resultado aumentar benefícios e melhorar processos, mas enfim, aí perde a graça). No final, terminam mesmo por dizer que assim são as coisas e, então, chamam a rotina de “processo”, sublocando as delimitações e indicando tendências. E com isso, ao invés de desenvolver soluções, acabam por formatar na realidade das organizações uma geografia competitiva. Terra média desconhecida e cuja situação a quem nela se inscreve, fornece mais motivos de ansiedade e de insegurança, do que propriamente um “desafio”, tornando-se, portanto, cada etapa numa arena onde se deverá travar um combate mortal e sangrentamente assertivo. Na difícil opção entre o imperativo categórico e o fluxo criador da consciência, já sabemos que é difícil haver happy end: A vida é dura, as coisas são assim e a culpa é sempre do piloto, nunca do sistema ou construtor da aeronave. No famoso tripé Processos, Ferramentas e Pessoas, a sorte do último é bem sabida... Eis o verdadeiro credo econômico da “ciência exata e positiva” da estratégia administrativa organizacional - porque ela tem papel dominante nas instâncias de avaliação, sejam quais forem os objetivos - ou no mínimo dando vazão a psicopatologias institucionais. Gerir pessoas deveria pressupor algo mais do que a aridez dos perfis e denominações como “capital humano”, metáfora
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algo infeliz que se aproxima perigosamente do modus operandi, daqueles cujo único valor é o lucro e cuja maior preocupação é aumentar a extração, produção, conquistar mercados e baixar os custos, seja a que custo legal, ético, social ou ecológico que for. Qual o ganho de escala que sustenta estas modalidades? Senão, vejamos: o que realmente é o escopo das doutrinas que analisamos? Uma teoria pode ser desenvolvida através de sérias pesquisas e estudos, mas isto não significa que sua adequação prática seja orientada conforme uma prioridade que permita elevar o espírito. Vivemos o segundo milênio da civilização ocidental, numa sociedade que está estruturada dentro de infinitas séries de relações entre microcosmo e macrocosmo. Temos de um lado as micro relações afetivas, sociais e culturais que são estabelecidas pela vida cotidiana dos indivíduos e, de outro os aparatos do Estado, dos mercados, das instituições e suas interações globais. Até aí, tudo bem: trata-se apenas de ver as coisas como estão, como nos aparecem. O problema é que todo este complexo mecanismo move-se, orientado por uma lógica de produção, poder e acumulação privada, onde os indivíduos podem ser comparados a meros – e substituíveis – componentes de desgaste. E isto é chancelado pelos formadores de práticas e opiniões. Ora! Não há abalo, quando as coisas se passam conforme o previsto. O turn over deixa, então, de ser problema, quando faz parte da estratégia!
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Em nosso mundo atual e nas relações que regulam o mercado, a pessoa empregada é um motor de desempenho e subserviência a modelos diversos. Quando desempregada é um ser invisível que luta para não perder sua identidade, integridade e auto-estima. Hoje não se pode mais estar fora das relações de produção, sob pena de perder o direito à própria existência. Nos fios, teias e redes do poder se perde o homem que não se encontra alojado nos cubículos de uma posição laboral. Não dá mais para ir a outra província oferecer seus préstimos a um novo senhor, que lhe permita usar suas terras para tirar seu sustento. Muito menos pode almejar a vida autárquica ou qualquer ataraxia. Tudo se passa em uma tridimensionalidade escalar vista como queda: O profissional que desaba em desempregado perde mais que o emprego, perde uma máscara vital de trágica essencialidade trans-histórica e, por definição alguns traços de sua individualidade. Do profissional ao desempregado e daí ao candidato, opera-se esta descaracterização, esta “morte do sujeito”, agora capital humano, passa a ser validado e analisado por padrões utilitários e competênciais visando exclusivamente o preenchimento de um dado perfil ou modelo estratégico, cuja mudança e volatilidade são vertiginosas. Eis a redução ao absurdo. Sabedores desta fraqueza contemporânea, os lobos atuam instintivamente. Já os pastores dormem ou agitam-se em busca de ROI.
Como já dito, a mecanização dos processos industriais, a absurda maximização do retorno, a tecnologia e as bases econômicas que envolvem nossa civilização determinam o que se entende por emprego e excluem da sociedade quem não tem acesso ao trabalho. Fora do mercado parece não haver condição de sobrevivência e, dentro dele sofre-se, impotente, o jugo de todas as patologias sociais. Como consultor experimentado, posso perguntar sobre o tempo de sobrevida deste modelo administrativo suicida, do “mais por menos”, onde o que importa é “ganhar mercado” e maiores margens com menores custos, não importando as conseqüências: Império do princípio de prazer. Modelo que exige competências e mais metacompetências e mais hipercompetências, pagando pouco e descartando após o uso. Até quando esta sincronia se sustenta? Como pensador me angustia a possibilidade em perspectiva de que nada será tentado até que as economias políticas de mercado entrem em colapso e, enfim, o clima terrestre esteja irremediavelmente degradado fazendo que os sonhos metafísicos de justiça e sustentabilidade se dissipem em sociedades convulsionadas. Não temos mais tempo para isso. Mas, a esperança é a derradeira observadora: se há um momento de tentarmos fazer algo é agora. Isto significa que aqueles que sabem devem agir, pois os que esperam nada podem acontecer. Mirem-se no exemplo da Ilha de Páscoa: É preciso mudar logo o morubixaba!
AUTOR
Luís Sérgio Lico é Filósofo, Consultor, Escritor e Conferencista. Desenvolve Treinamentos Organizacionais Taylorizados e Palestras de Alto Impacto em Motivação. Especialista em Excelência Profissional, Professor Universitário e Autor do Livro: O Profissional Invisível. e-mail: ola@consultivelabs.com.br | site: www.consultivelabs.com.br
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PSICOLOGIA E FILOSOFIA
O QUE É O HOMEM A dialética homem e filosofia
E
is uma indagação antiga que permeia a existência de nós mesmos, cuja “resposta” pode não se fazer presente, mesmo após longas explanações ou reflexões consigo mesmo e com o outro. Isso porque, a verdade que tenho acerca dessa pergunta pode não ser a verdade para o outro, o que por sua vez, gera angústia, pela descoberta de que uma única verdade não existe e mesmo se existisse, não teria respaldos para alcançar o absoluto. Então, que respostas temos? – o homem se pergunta. O que ocorre é que tal reflexão antropológica, ao invés de gerar uma resposta pronta e acabada, apresenta-se rodeada de ramificações, o que pode nos fazer “esquecer” o que estávamos pensando, num primeiro momento. Dispomos assim, a pensar numa forma de encadeamento: o que é a vida; o que é a morte, por que ela existe e o que há depois dela; qual é a função disso tudo que nos rodeia; qual é, afinal, o sentido da vida; o quê devemos ser; o quê – ou se – devemos esperar alguma coisa; por que o outro influencia a minha vida; e assim, ad infinnitum. Vê-se assim, que as perguntas não se calam, pois o homem, a todo momento e de diversas formas – e, muitas vezes, sem se dar conta disso – anseia dar significação àquilo que vivencia e o angustia e nem sempre essa significação se veste de uma resposta. Talvez seja por isso que a pergunta aqui trazida, faça-se sempre atual, mesmo para o homem da Contemporaneidade, que a traveste de aparentes soluções, retratando o cenário da euforia generalizada em que está inserido. As filósofas Aranha e Martins (1993), nesse sentido, explicam que o homem faz um esforço constante em compreender. Diante do caos (não remetido ao vazio, mas à desordem), o homem procura estabelecer semelhanças, diferenças, contigüidades, sucessão no tempo, causalidades que possibilitam uma tentativa de ordená-lo, para que assim, seja possível agir sobre o mundo e tentar transformá-lo. De início, o homem precisa de crenças e opiniões prontas (nas formas de mito ou do senso comum), a fim de apaziguar a aflição diante do caos e adquirir segurança para agir. Já em outro momento, é preciso que ele seja capaz de “reintroduzir o caos”, isto é, criticando as verdades sedimentadas, abrindo fissuras e fendas no “já conhecido”, de modo a 32
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M?
alcançar novas interpretações da realidade, para que ela por sua vez, não tenda a se esclerosar no hábito, nos clichês, no preconceito, na ideologia, na rigidez das “escolas”. Isso pode ser revitalizado pela construção de novas teorias (no caso da filosofia e da ciência) e pelo despertar de novas sensibilidades (no caso da arte). Vê-se assim que o próprio pensamento torna-se objeto do pensamento, instalando a fase de auto-reflexão e crítica do conhecimento anteriormente recebido. Tenta-se dizer então – continuam as filósofas citadas – que, qualquer que seja a atividade profissional ou projeto de vida do homem, enquanto pessoa e cidadão, ele precisa da reflexão filosófica para o alargamento de sua consciência crítica, para o exercício da capacidade humana de se interrogar e para a participação mais ativa na comunidade em que se vive. Eis a filosofia e a importância que assume em nossas vidas. Ao filosofar espontâneo do homem comum, costuma-se chamar filosofia de vida. O homem está diante da mesma, que se faz imbuída em valores, quando, por exemplo, escolhe deixar o emprego bem pago por outro não tão bem remunerado. O homem comum faz a sua filosofia de vida em seu cotidiano, pois é levado a momentos de parada, a fim de retomar o significado de seus atos e pensamentos, e nessa hora é solicitado a refletir. Lembramonos então do vernáculo ‘reflexão’, que vem do latim reflectere, significando ‘retroceder’ (como a nossa imagem no espelho). Portanto, refletir é retomar o próprio pensamento, pensar o já pensado, voltar para si mesmo e colocar em questão o que já se conhece. Entretanto, não é filosofia rigorosa o que o homem faz. O filósofo propriamente dito tem um objeto de estudo diferente, no qual se estende a qualquer homem, afinal, a visão da filosofia é de conjunto, onde o problema tratado nunca é examinado de modo parcial, mas sim, relacionando cada aspecto com os outros do contexto em que está inserido. Por isso, anseia em superar a fragmentação do real, para que o homem seja resgatado em sua integridade e não sucumba à alienação do saber parcelado. Assim, a filosofia assume a função de interdisciplinaridade, estabelecendo o elo entre as diversas formas do saber e do agir. Isso não significa, porém, que a filosofia vá de encontro com o saber especializado, mas sim, atenta para o fato de que, se tal discurso não apresentar uma visão de conjunto, pode levar à exaltação do “discurso competente” e às conseqüentes formas de dominação. Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 05 | dez 2007
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Nessa linha de raciocínio, a filosofia dá subsídios para o aprimoramento da reflexão filosófica inerente a qualquer ser humano. Oferece condições teóricas para a superação da consciência ingênua e o desenvolvimento da consciência crítica, pela qual a experiência vivida é transformada em experiência compreendida, isto é, em um saber a respeito dessa experiência. Portanto, anseia pela ressignificação de um homem alienado: aquele que perde a compreensão do mundo em que vive e torna alheio à sua consciência, um segmento importante da realidade em que se acha inserido. Não é desnecessário marcar aqui, a etimologia da palavra alienação, que vem do latim alienare, alienus, significando ‘que pertence a um outro’. E outro é alius. Sob determinado aspecto, alienar é tornar alheio, transferir para outrem o que é seu. A análise crítica denuncia a escamoteação do homem, ou seja, verifica também, como certas teorias ou práticas, embora aparentemente humanizadoras e progressistas, podem se tornar, na verdade, formas de alienação humana. A partir do raciocínio explicitado de Aranha e Martins (1993), já temos condições de entender a própria etimologia do termo tratado. Pitágoras (séc. VI a.C.), que também era matemático, usou pela primeira vez a palavra filosofia (philos – sophia), que significa ‘amor à sabedoria’. Atentamo-nos para o fato então, de que a filosofia não é puro logos, pura razão: ela é a procura amorosa da verdade. É, sobretudo, uma atitude, um pensar permanente. Um conhecimento instituinte, no sentido de que questiona o saber instituído. Portanto, a teoria do filósofo não constitui um saber abstrato, pois o tecido de seu pensar é trama dos acontecimentos, o cotidiano. Daí, o paradoxo enfrentado pelo filósofo: ele inicia a caminhada a partir dos problemas da existência, mas precisa se afastar deles para melhor compreendê-los, retornando depois, a fim de dar subsídios para as mudanças. Enfim, em todos os setores do conhecimento e da ação, a filosofia está presente como reflexão crítica a respeito dos fundamentos desse conhecimento e desse agir. Seja no homem comum (em suas filosofias de vida), ou com o psicólogo, por exemplo, quando indaga sobre o que é liberdade. Ou seja, a filosofia aponta para a promoção da autonomia no pensar, já que muitos adultos, por exemplo, permanecem infantilizados quando não exercitam desde cedo o olhar crítico sobre si mesmos e sobre o mundo. Seu estudo é essencial porque não se pode pensar em nenhum homem que não seja solicitado a refletir e agir. Isso significa que todo homem tem (ou deveria ter) uma concepção de mundo, uma linha de conduta moral e política e deveria atuar no sentido de manter ou modificar as maneiras de pensar e agir de seu tempo. 34
Vê-se então que, buscar a filosofia é, pois, buscar a verdade. Aqui então, salvamos a etimologia do vocábulo grego correspondente: a-létheia, a-letheúein, significando, ‘desnudar’. A verdade então, concerne a pôr a nu aquilo que estava escondido, residindo aí, a função do filósofo, isto é, o desvelamento do que está encoberto pelas formas de dominação: o convencionalismo, as instituições repressivas e simplificadoras, o costume, a alienação, a ideologia e o poder. A filosofia é assim, uma forma de criticar a cultura e impedir a sua estagnação, pois analisa as formas ilusórias de conhecimento que visam a manutenção de privilégios. Como Jaspers1 (1971) diz, a filosofia busca a verdade em suas múltiplas significações. Isso não significa que possui o significado e substância da verdade única, mesmo porque a verdade não é estática e definitiva, mas movimento incessante, que penetra no infinito. Mesmo num mundo em que a visão das pessoas está marcada pela busca dos resultados imediatos do conhecimento, a filosofia tem o seu lugar, pois nos permite ter mais de uma dimensão, além da que é dada pelo agir imediato no qual o “homem prático” se encontra mergulhado. Proporciona, dessa forma, o distanciamento para a avaliação dos fundamentos dos atos humanos e dos fins a que ele se destinam. É enfim, a possibilidade da transcendência humana, ou seja, a capacidade de que só o homem tem de superar a situação dada e não-escolhida – refletem Aranha e Martins (1993).
SÓCRATES E A ALETHÉIA
Sócrates viveu em Atenas no século V a.C. Procurado pelos jovens, passava horas discutindo na praça pública. Preocupado com o método do conhecimento, conversava com todos e interpelava os transeuntes, fossem velhos ou moços, nobres ou escravos. Seu método começava pela parte considerada “destrutiva”, chamada ironia (em grego, ‘perguntar’). Partia então, do pressuposto “só sei que nada sei” e, desta perplexidade primeira, iniciava a interrogação e o questionamento do que era familiar: dizia-se ignorante, fazendo hábeis perguntas aos que julgavam entender e conhecer determinado assunto. Desmontava as certezas, colocando assim, o interlocutor em tal situação, que não havia saída senão reconhecer a própria ignorância – eis o ponto de partida para a procura do saber, configurado na postura de douta ignorância. Já na segunda parte, chamada maiuêtica (em grego, “parto”), havia a destruição da ilusão do conhecimento. Tal nome se deu em homenagem à sua mãe, que era parteira, acrescentando que, se ela fazia parto de corpos, ele “dava à luz” idéias novas. Eis que Sócrates instalava e ensinava a sabedoria de reconhecer a própria ignorância, destruindo o saber constituído para reconstruí-lo na procura da Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 05 | dez 2007
definição do conceito: em que consiste a coragem, a covardia, a piedade, a justiça e assim por diante. Por isso, Sócrates utilizava o termo logos, onde na linguagem comum significava ‘palavra’, ‘conversa’ e que no sentido filosófico, passa a significar “a razão que se dá a algo”, ou mais propriamente, conceito. O mais instigante em seu método, é que nem ele mesmo, detinha a resposta, pois ele também se punha em busca do conceito e às vezes as discussões não chegavam a conclusões definitivas. Ou seja, ao criticar o saber dogmático, não quer com isso dizer que ele próprio é detentor de um saber. Despertava as consciências adormecidas, mas não se considerava um “farol” que iluminava: o caminho novo deveria ser construído pela discussão, que é intersubjetiva, e pela busca criativa das soluções. Com isso, Sócrates conseguiu rancorosos inimigos, pois se indispôs com os poderosos de seu tempo, sendo acusado de não crer nos deuses da Cidade e corromper a mocidade. É visto assim, como “subversivo” porque “desnorteia”, perturba a “ordem” do conhecer e do fazer e assim, deveria morrer. Mesmo condenado à morte, na prisão, o mestre discutia com os discípulos, questões sobre a imortalidade da alma. Mas, por outro lado, Sócrates conseguiu também alguns discípulos, como por exemplo, Xenofonte e Platão, que divulgaram suas idéias, pelo fato de não ter deixado nada escrito (mas há de se supor, devido aos respectivos brilhos, que não foram realmente fiéis ao pensamento de seu mestre) – refletem assim, Aranha e Martins (1993).
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Percebe-se que Sócrates ainda vive e revive tudo aquilo que aqui, tentou-se vislumbrar: a conceituação de homem, o homem dotado de consciência reflexiva, a filosofia e a tarefa do filósofo. Além disso, o método socrático desafia o interdito e o absolutismo, desenhando então, o conceito de verdade, explicitado anteriormente. Afinal, como explicam Aranha e Martins (1993), não estava num “gabinete”, mas sim, na praça pública, mostrando então, que a filosofia ‘está-aí’, presente na vida de todos nós. A relação que estabelecia com as pessoas não era puramente intelectual, nem alheia às emoções (a filosofia não é puro logos), o que fazia de seu conhecimento vivo e em processo de se fazer, onde o conteúdo é a experiência cotidiana. Como tal, incomodava, pois interrogava os dogmas, na busca de apresentar-lhes outros sentidos. Sua morte, apreendida além do real, denota as conseqüências daquele que sai da consciência ingênua: entrega-se aos bens produzidos pelo reflectere, podendo, contudo, ser barrado pela disparidade entre o fazer e o dizer, presentes em uma dada cultura – afinal, presenciamos, muitas vezes, Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 05 | dez 2007
o discurso que prega a desalienação, em detrimento do fazer, que ainda camufla tabus. Seu método apresenta o homem como um ser pensante, apresentando-lhe enigmas, de forma a destituir o discurso do saber e das verdades prontas. Pode-se dizer, que incursiona-se pela Psicologia, quando o psicólogo confronta – de forma socrática – tudo aquilo que não está funcionando na vida de seu cliente, e de certa forma, não está colaborando para a mudança do que o faz sofrer. Isso, para garantir, como salienta Rangé (1995), a expansão de sua visão de mundo, o exame de seus conflitos e o incentivo à aquisição de novas habilidades. Como se pode ver, a pergunta o que é o homem, bem como o ato de filosofar, está presente em sua vida, de uma forma ou de outra, mesmo quando ele nega, dizendo “não ter tempo para isso”. Contudo, quando se vê diante do caos e tenta reorganizá-lo através de uma pergunta (“o que vão pensar se pedir o divórcio?”, por exemplo), rompe este tempo atravessado puramente pelo cronológico e se dá chance de “dar à luz” novas idéias. Tal processo entra em continuidade, quando tenta entender o conceito de outro e a influência que o mesmo tem em sua vida, através de uma dada linha de pensamento; para poder assim, tirar as próprias “conclusões”. Enfim, a filosofia desenha nossa vida como um todo, quando aceitamos o convite do ‘amor à sabedoria’ e o convite à mudança.
NOTA
JASPERS, Karl (1971). Introdução ao pensamento filosófico. São Paulo: Cultrix. 1
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires (1993). Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo: Moderna. 2 ed. RANGÉ, B. (2001). Relação terapêutica. Em: R.B. Rangé (org.). Psicoterapia Comportamental e Cognitiva de transtornos psiquiátricos, pp. 43-64. Campinas: Editora Livro Pleno.
AUTORA
Vívian Cristina Caixeta (CRP 04/25000) é psicóloga. Autora do artigo Sou ou sinto-me livre?, publicado em 2004, na revista do Centro Universitário Newton Paiva: “De um curso a um discurso: 20ª jornada de Psicologia – Uma história”. Autora do projeto O stress do jornalista: há maneiras de aprender a lidar com ele?, implementado no Sindicato de Jornalistas Profissionais de Minas Gerais (SJPMG). E-mail: vivian_caixeta@yahoo.com.br Belo Horizonte – MG 35
SÓ O AMOR CONSTRÓI Você já se sentiu acuado(a), desrespeitado(a)? Já foi acusado(a) de algo que nunca sequer imaginou fazer? Já sentiu na pele a dor de ser tido(a) por aquilo que não é? Já foi alvo de comentários maldosos? Já foi vítima de um invejoso ou invejosa contumaz? Já pagou, injustamente, altos preços pelo que não fez? Já foi interpretado pelo que não disse ou não quis significar? Já viveu a amarga experiência de sentir que colocaram em sua boca, palavras que jamais ousaria pronunciar? Eu já vivi tudo isso... E, sabe o que eu fiz? Não, nunca processei ninguém... Também não bradei ao mundo a minha decepção e a minha dor! Não quis, em nenhum momento (por orientação divina, só pode) oferecer ou devolver o que ha-
via recebido. Nunca paguei com a mesma moeda, ao contrário, tirei lições. Aprendi em meio à dor. Afundei-me como um arqueólogo, e nas escavações encontrei e estudei ruínas. E aí, enxerguei as fraquezas humanas (inclusive as minhas). Redirecionei posturas, refiz conceitos,retifiquei atitudes... E saí fortalecida... Aprendi sobre a importância de, apesar dos percalços, continuar construindo pontes... descobri que estou no caminho: enxergando o perdão como ponto de poder e solidificando a idéia de que só o afeto e o amor destroem (em quem possui) sentimentos vis, comportamentos maldosos, mentalidades perversas... enfim, só o amor constrói... Pensemos nisso...
AUTORA Graça Moura CRP 11/03068 Psicóloga formada pela Universidade Federal de Pernambuco. Autora do projeto Terapia do Riso. Presta serviço ao Sebrae-PI na área de Educação/Treinamento/Desesenvolvimento, ministrando regularmente palestras e cursos nas áreas comportamental e de desenvolvimento gerencial. e-mail: gracamoura4@hotmail.com
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Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 05 | dez 2007
COLUNA
Iniciação sexual por download
O mundo virtual é um convite coletivo ao voyeurismo e exibicionismo entre adolescente-púberes, jovens e adultos, independentemente de gênero. Essa modalidade de flertes e relacionamentos virtuais seriam as preliminares do experimento do sexo propriamente dito. Numa amostragem de 500 participantes na minha pesquisa sobre sexo virtual e infidelidade realizada em 2006, 11,7% afirmam fazer sexo virtual por não terem uma experiência sexual anterior. Esse resultado nos mostra que o cibersexo tem uma função na vida desses adolescentes: o da descoberta. As dúvidas, os medos e anseios daqueles que estão por se iniciar sexualmente podem ser supridas ou diminuídas com um uso adequado da grande rede. O anonimato do púbere é um grande reforçador para que essa descoberta seja constante e persistente quando inseridos no contexto da cibercultura., pois alimenta a descoberta à realizações de fantasias e fetiches. Não cabe a nós julgarmos se essa descoberta é saudável ou não, adequado ou inadequado. Ver, buscar temáticas relacionados a sexo, visualizar imagens, é a forma e os recursos disponíveis que os púberes possuem na era da internet.
Alguns anos atrás mesmo, quando a internet começou a entrar nos lares brasileiros, não existiam tantas imagens, estímulos massificados com conteúdos adultos e apelos eróticos como se tem nos dias atuais na rede mundial de computadores. Possivelmente isso acelera o processo, o interesse do jovem ao sexo. Por isso o erotismo, a pornografia na cibercultura nunca acabe. É uma demanda crescente, aliás, é o conteúdo que mais cresce e mais lucrativa da web. O que percebo nas minhas observações e pesquisas virtuais é que existe uma troca de informações de conteúdos eróticos ou pornográficos entre os adolescentes, tanto online como quando um amigo visita o outro no presencial. Comentam sobre as mais variadas comunidades eróticas, sexo e parafilas do orkut, sobre as fotos dos participantes dessas comunidades por simples curiosidade, além de sites de conteúdo adulto. Não é porque os púberes vejam algumas comunidades de conteúdos fetichistas, parafílicos ou com outras temáticas que os mesmos serão adeptos de tais hábitos. Para quem não quer “perder virgindade” na web, faça “backups”.
AUTOR: Márcio Roberto Regis | CRP 08/10156 | Psicólogo especialista em Clínica Compotamental pela Universidade Tuiuti do Paraná e Editor-chefe da Revista ATLASPSICO. Curitiba/PR www.atlaspsico.com.br | atlaspsico@atlaspsico.com.br Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 05 | dez 2007
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