Revista_ATLASPSICO_11

ATLASPSICO PSICO INFANTIL Filhos em casa: tranquilidade para quem?

PSICOMOVIE Os X-MEN e o apelo a tolerância

ENFERMAGEM O Uso do silicone industrial por travestis de Salvador

NÚMERO 11 | DEZEMBRO 2008

A Revista do psicólogo

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES

EXPEDIENTE REVISTA ATLASPSICO EDIÇÃO DE DEZEMBRO 2008 Brasil – Curitiba – Paraná EDITOR-CHEFE Psicólogo Márcio Roberto Regis (CRP 08/10156) AGRADECIMENTOS AOS PROFISSIONAIS COLABORADORES...

Carlos A Porcino (Psicólogo - Graduando em Enfermagem) Alane Ferreira (Graduando em Enfermagem) Alex Feliciano (Graduando em Enfermagem) Claudinéa Carlos (Graduando em Enfermagem) Cláudio Cerqueira (Graduando em Enfermagem) Daiane Tatiane (Graduando em Enfermagem) Djalmira Silva (Graduando em Enfermagem) Ednice Silva (Graduando em Enfermagem) Marcus Antonio Britto de Fleury Junior (Psicólogo) Robson Zanetti (Advogado) Sergio Gomes da Silva (Psicólogo/Psicanalista) Adriana Simões Marino (Psicóloga) Maria Del Carmen Garcia Lima (Psicóloga) Samuel Antoszczyszen (Psicanalista) Risolene Nunes de Souza (Psicóloga) Márcio Roberto Regis (Psicólogo) ARTE E DIAGRAMAÇÃO Márcio Roberto Regis SEJA UM COLABORADOR PARA A PRÓXIMA EDIÇÃO Encaminhe seu artigo para o email editorial@atlaspsico.com.br Um projeto do Portal de Psicologia ATLASPSICO www.atlaspsico.com.br | revista.atlaspsico.com.br Revista ATLASPSICO é uma publicação bimestral. Os artigos publicados são de inteira responsabilidade de seus autores.

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A Revista do Psicólogo

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Caros Leitores e Colaboradores,

EDITORIAL

Nada mais nos perturba e nos incomoda do que a violência doméstica contra crianças e adolescentes. A cada ano cresce assustadoramente esse tipo de violência em nosso país e mundo a fora. Para se ter uma idéia, a ONU registrou mais de 76 mil denúncias de agressões entre 2003 e 2007. Obviamente que essa agressividade contra crianças não é um fato novo na sociedade. A cada dia ouvimos mais e mais relatos sobre crimes cometidos por pais, padrastos e empregadas. Esses passam de “responsáveis” à criminosos.

Sobre esse assunto trouxemos a colaboração da psicóloga paulista Adriana Simões Marino e a recifense Risolene Nunes de Souza e explicam um pouco mais sobre as categorias de violência contra crianças e adolescentes. Fica a pergunta no ar: será que nossos filhos estão seguros mesmo no ambiente que deveria favorecer o respeito, a dignidade humana, a harmonia e a proteção física e psicológica?

Para quem acredita que a Revista ATLASPSICO é uma revista exclusivamente desenvolvida aos Psicólogo está completamente enganado: na área de enfermagem, os acadêmicos baianos da Faculdade Dom Pedro II, Carlos Porcino, Alane Ferreira, Alex Feliciano, Claudinéa Carlos, Cláudio Cerqueira, Daiane Tatiane, Djalmira Silva, Ednice Silva, nos mostram um excepcional trabalho sobre a utilização do silicone industrial por travestis da cidade de Salvador. No artigo contém breve relato dos travestis e os principais riscos no processo da reinvenção do corpo na utilização desses produtos químicos.

Por fim, trazemos a última parte da trilogia O Ser em Si do Psicólogo Marcus Fleury Jr, um dos nossos colaboradores mais assíduos da revista.

No mais, só tenho agradecer cada um dos nossos leitores, e principalmente, nossos colaboradores e anunciantes!

Obrigado e até 2009 com muito mais novidades!

Boas festas e ótima leitura!

Márcio Roberto Regis | CRP 08/10156 Psicólogo e editor ATLASPSICO

PARTICIPE DA PRÓXIMA EDIÇÃO Sabia que você também pode participar da nossa próxima edições da Revista de Psicologia ATLASPSICO? Independente de fazer parte da área Psi você pode colaborar com artigos que abordem temas sobre QUALIDADE DE VIDA. Fisioterapeutas, Antropólogos, Sociólogos, Arquitetos, Professores, Médicos, Pedagogos, Advogados, entre outros. O que você anda produzindo para melhorar a qualidade de vida da sua comunidade?

Essa revista também é sua, portanto, contamos com sua contribuição através do envio de assuntos relacionados à qualidade de vida. Faça parte dessa equipe!

Interessados em colaborar com artigos científicos à Revista ATLASPSICO, devem encaminhar o documento em anexo para o email: editorial@atlaspsico.com.br

COLABORADORES ATLASPSICO Interessados em colaborar com artigos científicos à Revista ATLASPSICO, devem encaminhar o documento em anexo para o email: editorial@atlaspsico.com.br Todos os trabalhos serão muito bem-vindos e valorizados!

Obrigado à todos os Autores pela colaboração e pela ajuda em manter a qualidade ímpar desta revista!

Equipe ATLASPSICO

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Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 11 | dezembro 2008

ÍNDICE

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Os X-Men e o apelo à tolerância

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número 11 | dezembro 2008

ENFERMAGEM

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COMPORTAMENTO Aprenda a dizer Não

ATLASPSICO

PSICO HOSPITALAR

Atendimentos psicológicos a pacientes cm doenças crônicas no contexto hospitalar e as reações iatrogênicas

PSICOMOVIE

A Revista do Psicólogo

A percepção das travestis na cidade de salvador em torno dos riscos no processo de reinvenção do corpo com o uso do silicone industrial

DIREITO

Dano Moral & Assédio Moral na justiça do trabalho são a mesma “coisa”?

PSICOSSOMÁTICA O Ser em Si 3a Parte

PSICOLOGIA INFANTIL Filhos em casa: Tranquilidade para quem?

PSICANÁLISE

A mini-loucura do dia-a-dia

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40

MATÉRIA DE CAPA

COLUNA ATLASPSICO

Violência doméstica contra crianças e adolescentes: conceito e caracterização

42

Internet: uma rede de armadilhas para crianças

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ENFERMAGEM

A PERCEPÇÃO DAS TRAVESTIS NA CIDADE DE SALVADOR EM TORNO DOS RISCOS NO PROCESSO DE REINVENÇÃO DO CORPO COM O USO DO

SILICOONE INDUSTRIAL

O presente trabalho situa-se no campo de estudos sobre as reinvenções corporais. De forma mais específica, no que tange as modificações corporais das quais se utilizam as travestis1 para fazer2 ou bombar3 o corpo, com a intenção de promover mudanças com vistas a se tornarem mais femininas.

Com isso, desafiam a biologia e descobrem que o futuro do corpo está vinculado sobre o que possível modificar e reinventar. Tais medidas são possibilitadas através do avanço da ciência e a descoberta de novas técnicas que a cada dia possibilitam acrescentar o que falta, ou a retirar que está em excesso.

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Para realizar este trabalho partimos da hipótese de que a travesti reinventa o corpo, com vistas a se aproximar da feminização sem, contudo desejar tornar-se uma mulher, pois o pênis também é considerado seu instrumento de trabalho – referindose nesse sentido, as travestis que se utilizam da prostituição como meio de sobrevivência.

De forma geral, as buscas estéticas prometem a promoção da saúde com a melhoria da qualidade de vida e auto-estima. Porém, nem sempre, tais práticas promovem os resultados esperados e com isso, existe a possibilidade de ocasionarem prejuízos físicos e psíquicos aos seres humanos, que são obrigados a conviverem com tais agravos para os restos de suas vidas. Para as travestis, isso não diferente em virtude de buscarem o corpo ideal – se é que isso é possível -, e dentro desse contexto, a busca torna-se ambígua, pois que buscam um corpo esteticamente desejável com o uso de técnicas e substâncias com um elevado grau de toxicidade à saúde.

A travesti para Denizart (1997) “[...] não é considerada um imitador da mulher, assim como a fotografia não é uma duplicata do real sensível” (op. cit. p.14). Para este autor, estudiosos ao tentarem definir o que é uma “[...] travesti, afirmam que ele inventa um novo feminino” (op. cit. p. 8).

Concordamos com o mesmo quando ele afirma que isso não é tudo, pois parafraseando Beauvoir (1980) não se nasce mulher, torna-se uma. Dessa forma, é interessante ressaltar o que ele afirma que a “[...] a anatomia não é o destino como queria Freud” (p.14), e as travestis no processo de reinvenção do corpo não consideram o sexo anatômico como destino, pois para elas o que importa é a busca com vistas à superação, o que produz “[...] um jogo de indistinção sexual. Uma vez desmarcada o futuro do corpo é a prótese. Isso os travestis compreenderam bem. Há muito tempo” (op. cit. p. 8).

Frente a isso, surge como alternativa para estes atores sociais, a reinvenção e construção de um novo corpo e conseqüentemente uma nova identidade, que necessariamente não precisa ser adequada ao sexo biológico, pois esta é construída socialmente, num processo simbiótico em interação com o meio em que vive e com isso ter a oportunidade de expressar-se como sujeito, com atitudes e conhecimentos sobre si mesmo (FAGUNDES, 2001).

Para refletir sobre a problemática da travesti e sua reinvenção corporal é necessário recorrer a Le Breton (2000) que desenvolve seu trabalho sobre a sociologia do corpo e afirma que [...] moldado pelo contexto social e cultural em que o ator se insere, o corpo é o vetor semântico pelo qual a evidência da relação com o mundo é

construída [...] do corpo nascem e se propagam as significações que fundamentam a existência individual e coletiva (p.7).

Ainda para este autor, o corpo é considerado um jogo onde as montagens e sobreposições são feitas de formas sutis em conjunto com outros corpos possibilitando combinações e experiências inusitadas (LE BRETON, 2006).

De acordo com Mott e Cerqueira (1997) à Associação dos Travestis de Salvador - ATRAS, realizou levantamento “dos rapazes de peito” (p.3) por ocasião do 3º Encontro Brasileiro de Travestis que ocorreu no Rio de Janeiro em junho de 1995, e que naquela época essa categoria não ultrapassava a 8 mil indivíduos distribuídos nos diversos Estados e capitais brasileiras.

Para Benedetti (2004), as travestis fazem parte de um determinado grupo social, que tem se tornado numeroso, onde possuem espaço para discussão sobre os mais diversos problemas e com isso podem se afirmar como plenas cidadãs. Ainda assim, é possível perceber que perpassa no imaginário social coletivo a associação da travesti relacionada eminentemente ao fenômeno da prostituição.

Baseando-se nessas questões, onde a travesti é rotulada com a marca da exclusão social, o que ocasiona a falta de acesso às oportunidades oferecidas pela sociedade aos seus membros, no qual pode implicar privação, falta de recursos ou, de modo mais abrangente a ausência de cidadania, se por esta compreendermos como sendo a participação plena do sujeito na sociedade (XIBERRAS, 1993), é que se propõe a refletir acerca da violação dos Direitos Humanos a que estão submetidos esses atores sociais, pois a Constituição Brasileira no artigo 5º, cita que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade” (BRASIL, p.20), e destoa da realidade que se encontram a maioria das travestis na cidade de Salvador, e pode ser observado na fala de uma informante ao afirmar [...] o que nos resta é a prostituição... pois, as poucas que conseguem se manter com o trabalho formal, trabalham em Ong’s que lida com Direitos Humanos e cidadania, outras que trabalham prá si em salão de beleza e a maioria vive da prostituição, as que não fazem aqui, fazem lá fora... na Europa.

E hoje... tem muita travesti quem vem de outros Estados, e muitas também vêm do interior expulsas de casa pela família que quando descobre que é gay coloca prá fora de casa... então sobra o que? Pois precisa se manter, comer, morar, dormir em quarto... então os que tem vontade de se tornar travesti, se montam4 e vão prá rua batalhar5 (Informante 2).

O vocábulo travesti é considerado substantivo masculino de acordo com a língua portuguesa, nesse trabalho, será utilizado acrescido do artigo feminino “a”, ou seja, ‘a travesti’, em respeito à identidade de gênero, e a forma como conversam entre si, bem como o modo a forma que se dirigem umas as outras que é sempre no feminino.

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CONTEXTO SOCIAL

direito de todos e dever do Estado [...] que visem Apesar de o Brasil ter avançado através da a redução do risco de doença e de outros agravos implementação das políticas públicas assegurando e ao acesso igualitário às ações e serviços para através de campanhas que visam combater a exclusão sua promoção, proteção e recuperação” e a Lei e a discriminação, estamos ainda engatinhando 8.080/1990, que diz em seu art. 2º, “A saúde é um e muita coisa precisa ser feita, tendo em vista a direito fundamental do ser humano, devendo o grande incidência no País do elevado índice de Estado prover as condições indispensáveis ao seu violência contra homossexuais e travestis, pois pleno exercício” e em seu § 1º traz que ao contrário da tolerância, respeito e aceitação a O dever do Estado de garantir a saúde consiste diversidade, o que de fato predomina é a homofobia. na formulação e execução de políticas econômicas e Com base nessa situação, os movimentos sociais sociais que visem à redução de riscos de doenças e de organizados envolvendo gays, lésbicas, bissexuais, outros agravos e no estabelecimento de condições travestis e transexuais tem se manifestado de que assegurem acesso universal e igualitário às forma articulada propondo ações afirmativas e ações e aos serviços para a sua promoção, proteção de respeito a diversidade, através de denúncias e e recuperação (BRASIL, 1990). enfrentamento das situações de violência, com o A realidade em Salvador sobre a forma como objetivo de garantir os Direitos Humanos e sociais. as travestis são acolhidas em centros de saúde e Sob esse assunto é interessante pontuar que foi hospitais públicos, além de ser muito diferente do que lançada em 2004 pela Câmara dos Deputados preconiza a Constituição, é constrangedora, – Frente Parlamentar Mista pela Livre como poder ser observado a partir da A Expressão Sexual – a cartilha “Brasil sem fala das informantes Homofobia: Programa de Combate a Apesar de já ter sofrido saúde é um Violência e à Discriminação contra constrangimento nesses lugares... direito fundamental GLTB e de Promoção da Cidadania já fui discriminada... pois quando do ser humano, Homossexual”, bem como a chega uma travesti num hospital... campanha nacional lançada pelo parece coisa do outro mundo... devendo o Estado Ministério da Saúde em 2004, todo mundo olha... eu já passei prover as condições “A travesti e o educador: respeito por isso no..., pois eu tive um indispensáveis ao seu também se aprende na escola” problema e precisei ir lá... ficaram é direcionada aos profissionais me olhando assim... de cara feia... pleno exercício inseridos no contexto educacional me criticando... me atenderam mal... e chama a atenção para questões Pois eu acho assim... que todos nós discriminatórias pelas quais vivenciam somos seres humanos e precisamos de as travestis durante o período escolar. Com viver e ser respeitados... porque travesti... eles isso, alerta sobre os prejuízos que podem ocasionar têm como se fosse um bicho do mato... uma coisa as piadas maldosas proferidas por colegas, a hora do outro mundo... pois devem se acostumarem, da chamada, o uso do banheiro, entre outras pois somos seres humanos como qualquer um... eu ações extremamente preconceituosas e que podem acho assim... eu jamais vou discriminar um negro, favorecer a evasão escolar da travesti, que, dessa um traficante, um maconheiro, um marginal, um forma pode terminar marginalizada e excluída, sem ladrão, porque eu não sou melhor do que ninguém chances e sem direitos à ascensão social. e cada um tem a sua vida e vive como quer e Essa campanha foi estendida também intitulada como gosta e como pode... é assim que eu penso!

“A travesti e o profissional de saúde: ajudando a (Informante 2) curar o preconceito” direcionada aos profissionais Eu gostaria de dizer que o travesti é uma pessoa de saúde de forma geral e traz orientações sobre como outra qualquer, é de carne e osso, pensa e o respeito ao nome social e a sua identidade de age e deve ser tratada como as outras pessoas, sem gênero, não prover sua acomodação em enfermarias discriminação e preconceito. (Informante 3) masculinas, tendo como referência apenas o sexo [...] os profissionais da área de saúde... ta biológico. Contempla ainda, a orientação que deve assim... faltando um pouco mais de atenção. [...] ser proferida pelo profissional de saúde sobre o uso quanto ao SUS eu acho péssimo, pois se já não de hormônios e também sobre os riscos a que estão é bom para as pessoas “normais” (entre aspas)... submetidas ao bombarem o corpo com o silicone. imagine prá travesti. (Informante 1) Após quatro anos de lançada, a campanha que A institucionalização do Sistema Único de orienta para a forma de acolhimento da travesti Saúde – SUS, no que tange as políticas públicas, por profissionais de saúde, onde a Constituição é possível conceber que representou uma grande Brasileira em seu art.196 afirma que “a saúde é conquista no que diz respeito à saúde como um 8

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direito humano e que foi resultado de conquista a partir de mobilizações sociais e representantes comprometidos com o respeito à igualdade de direitos e universalidade. Muito embora, seja alvo de políticas de cunho neoliberais, que se articula com ações que visam a destituição do Estado do dever de assegurar a saúde como um direito para os brasileiros. “Essas políticas sustentam seus argumentos na crença de que a saúde é uma mercadoria e, como tal, passível de comercialização” (BRÊTAS e GAMBA, 2006, p.6).

Vale ressaltar ainda, que no Brasil, conforme Brêtas e Gamba (op. cit) os serviços de saúde se encontram centrados em modelos curativos tendo como base a resolução de problemas relacionados às queixas, em detrimento do modelo que visa a prevenção e a promoção de doenças. O que por sua vez poder acarretar em danos para o usuário em virtude do diagnóstico tardio e que acontece nos níveis secundários e terciários do modelo assistencial.

Pode considerar como avanço nas políticas públicas a realização em agosto de 2007, de um Seminário Nacional de Saúde da População LGBTT –, Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transgêneros – na Construção do SUS, onde se encontraram governo e movimentos sociais e avaliaram as iniciativas até então adotadas, entre as quais pode ser evidenciada a inclusão de mulheres lésbicas nas políticas de saúde da mulher e o processo de transgenitalização, que se encontra em fase de inclusão entre os procedimentos do SUS, mantendo-se a visão crítica sobre as medicalizações da transexualidade.

Convém destacar ainda, a inclusão da identidade de gênero na carta dos Direitos dos Usuários do SUS, em função de reivindicação do movimento, com direito ao uso do nome social nos cadastros do SUS. Considerando também que a população LGBTT possui representação atual no Conselho Nacional de Saúde. A 13ª Conferência Nacional de Saúde, realizada em novembro de 2007, foi um marco, pois trouxe evidências da maturidade desse debate contemplando a inclusão e articulações de questões específicas envolvendo a orientação sexual e identidade de gênero através de política de cunho nacional direcionadas para as populações LGBTT, respeitando-se a individualidade e a intimidade e investindo na educação permanente para profissionais de saúde.

O Ministério da Saúde através da Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa em 2008 divulga documento para subsidiar o debate sobre a saúde da população LGBTT na Conferência Nacional de gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais, com a finalidade de ser apresentado em conferências

a população LGBTT possui representação estaduais e possui a intenção de atual no Conselho sensibilizar gestores e gerentes Nacional de públicos da saúde sobre os Saúde efeitos da homofobia, lesbiofobia e transfobia como elemento da vulnerabilidade, que gera obstáculos ao acesso e à promoção da equidade da população LGBTT. Frente a esse contexto é necessário refletir acerca da importância do conhecimento por parte desse profissional sobre as políticas de saúde a partir do período de sua formação e no decorrer de sua atuação através da atualização profissional. O fazer – enquanto atuação profissional - está atrelado a cuidar de um sujeito e não apenas de um corpo, que por vezes é condenado ao esquartejamento.

Nesse momento, sua singularidade e subjetividade deixam de ser levadas em consideração, em função da superespecialização existente no modelo médico-assistencial, e o ser humano não deveria ser visto sob esse olhar, pois sujeito, mente e corpo são indissociáveis. Pois “[...] o corpo de cada indivíduo contem em si tudo aquilo que encerra seu grupo: representações, história, crenças e sentimentos, que, por sua vez, expressam sua origem social” (BRÊTAS; LIMA; YAMAGUTI, 2006, p.21).

Diante dessas transformações a educação é extremamente importante, pois historicamente a escola sempre foi responsável pela transmissão de saberes. Portanto, espera-se dela que a partir das modificações curriculares atuais, tão em evidência na contemporaneidade, que ela possibilite a preparação e a formação de educandos cultos, reflexivos e críticos através da instrumentalização para lidarem com as mais diversas situações e com isso construir conhecimento, respeitando-se o sujeito na sua autonomia.

Ao tempo que a educação em saúde na forma tradicional tem como base os aspectos que atribui a saúde apenas a responsabilidade pessoal, pois de acordo com essa visão “[...] a escolha saudável é a única escolha. Assim, os profissionais de saúde sabem qual é a escolha ideal, e deles é esperado que convençam os clientes a ter o estilo de vida mais saudável” (GASTALDO, 1997, p.155). Nesse sentido, ao correlacionar a educação em saúde à prática educacional Freire (2007) a denomina de educação bancária, tendo em vista que “[...] é o ato de depositar, de transferir, de transmitir valores e conhecimentos” (p.59). Assim, a pedagogia libertadora ou da problematização, torna-se adequada nesse contexto em virtude de possibilitar uma prática educativa direcionada para a saúde de forma participativa, tanto para os usuários de serviços de forma ativa, bem como, para os profissionais, a partir da educação continuada.

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METODOLOGIA

Objetivando um maior entendimento do significado atribuído a percepção das travestis na cidade de Salvador acerca dos riscos no processo de reinvenção do corpo com o uso do silicone industrial foi utilizada uma pesquisa qualitativa nos quais se buscou inicialmente uma instituição ligada a serviços de apoio e prevenção as DST’s e AIDS, defensora dos Direitos Humanos, onde travestis são atendidas e nos pontos6 em ruas e cinemas para uma maior facilidade quanto à coleta de dados.

Para este estudo, o tipo de amostragem utilizada foi a não-probabilística, intencional, tomando-se os atores sociais que possuíam interesse e disponibilidade para participação nessa pesquisa, ocasionando uma amostragem por conveniência, onde as conclusões tiradas foram de forma reduzidas, ou melhor, não pode ser generalizada a toda a população, mas limita-se apenas ao público-alvo estudado. Antes da aplicabilidade das entrevistas foi feito um pedido de consentimento para cada participante, visando garantir o anonimato e o caráter confidencial. A técnica de análise utilizada para a interpretação dos dados coletados foi à análise de conteúdo, que segundo Bauer e Gaskell (2004) visam produzir inferências de um texto focal para seu contexto social de maneira objetivada.

SILICONE INDUSTRIAL

O silicone industrial é utilizado para uso em automóveis com a finalidade de lustrar e lubrificar peças, sendo facilmente encontrado em lojas especializadas. O que é perfeitamente condizente com o dicionário Houaiss da língua portuguesa onde o verbete silicone está relacionado ao ramo químico com designação genérica de polímeros, com grande estabilidade térmica e química, usado como lubrificante, fluído hidráulico, antiespumante, adesivo, apesar de ser também usado também em dermatologia cosmética. No presente trabalho abordaremos apenas ao tipo industrial, na sua forma líquida, do qual as travestis se utilizam para modificarem as formas corporais.

Segundo Marques (2007) o silicone industrial – na sua forma líquida -, é o recurso mais utilizado para fazer o corpo pela grande parte das travestis, com o objetivo de proporcionar aumento dos lábios, seios, coxas, pernas e panturrilhas. Vale salientar que o produto nessa forma de apresentação não possui autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA, bem como, não é reconhecido pelo Ministério da Saúde para uso envolvendo seres humanos. As aplicações são feitas por “bombadeiras”. Elas utilizam seringas de 5ml e agulhas de calibre 40x12, devido ao grosso calibre, são utilizadas no contexto da saúde para a preparo de soluções e medicamentos.

Nesse processo as agulhas ficam fixas no local onde o silicone será injetado. O procedimento é realizado aos poucos, até atingir a quantidade desejada paga pela cliente. Ao findar o processo, em função da quantidade e as grandes incisões deixadas pelas agulhas, na maioria das vezes, o líquido começa a ser expulso pelo próprio organismo. Como pode ser observado na fala de uma informante:

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A aplicação é feita assim... despeja numa vasilha, num copo, mete a seringa e puxa, e aí ela já tem os lugares marcados para perfurar e botar o silicone. Ela fura e aplica, depois dá aquela massagem e aí então ela vai fazendo o corpo. É um processo doloroso, mas enfim... a gente se submete pra poder ficar com uma aparência muito melhor.

(Informante 2) Durante o processo de aplicação do silicone industrial, o organismo pode desenvolver uma resposta imediata através de reação alérgica que pode evoluir para uma forma mais grave ocasionando o choque anafilático e que se a vítima não for socorrida rápida e de forma adequada, pode haver complicações e conseqüentemente a morte.

Os orifícios ocasionados pela retirada das agulhas são em seguida tamponados com algodão e cola de secagem rápida “cola maluca” e/ou esmalte para unhas. Um fato que também deve ser levado em consideração são as questões relacionadas à higiene e assepsia antes, durante e após o procedimento, pois se os materiais como: agulhas, seringas, luvas e recipientes não forem estéreis e descartáveis pode ocorrer o contágio de doenças como as hepatites e AIDS. Outro fator extremamente relevante é que o silicone nessa apresentação, não é estéril, e com isso outros eventos agravantes podem ser desencadeados, como por exemplo, a obstrução parcial e/ou total de veias e artérias diminuindo a luz do vaso, o por sua vez, pode ocasionar a embolia pulmonar.

Pesquisa realizada em 2002, pelo Grupo Gay da Bahia – GGB revelou que 67% das travestis entrevistadas pretendiam fazer uso do silicone industrial. Revela ainda, que as aplicações são realizadas em residências, e as partes do corpo mais solicitadas por parte das clientes que desejam modificar seu corpo corresponde: quadris (39%),

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seios (22%), nádegas (20%) e rosto (18%). A pesquisa demonstrou ainda, a preocupação em promover informações acerca dos riscos, em função do falecimento de uma travesti, em Salvador, após 34 dias em coma, ocasionada por aplicação do silicone nas nádegas.

Como o silicone líquido não é envolvido por uma membrana resistente, como é o caso daqueles em forma de próteses, existe a possibilidade dele se espalhar pelo corpo. Com isso, valores administrados por via intramuscular, superiores ao uso recomendado para essa via, podem ocasionar inflamação e conseqüentemente necrose da área De acordo com o cirurgião plástico Luiz Alberto em que foi administrada e na sua forma mais Sabino Silva, (apud Marques, 2007), o produto grave, pode evoluir para amputação das partes possui alto teor de toxicidade e seu uso de forma comprometidas, desenvolverem uma infecção indevida, pode ocasionar inúmeras complicações ao generalizada e de forma mais grave, evoluir para o organismo: contaminação por bactérias no tecido óbito. O processo para removê-lo é difícil em função em que foi injetado, edema e dor no local em que de ele aderir ao tecido e formar o siliconoma7, uma foi aplicado, feridas ocasionadas pela necrose e espécie de pedra, que na maioria das vezes sua morte dos tecidos envolvidos, deformações na pele, retirada só é possível através da remoção de parte migração do silicone para outras áreas do corpo. da pele e tecido conjuntivo envolvido.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Com o intuito de verificar como as travestis que residem em Salvador, lidam e percebem os riscos ao utilizarem o silicone industrial na reinvenção do corpo, o presente trabalho possibilitou elaborar as categorias descritas abaixo. Participaram desta pesquisa apenas três travestis, dentre as quais, duas sobrevivem da prostituição, e a terceira, trabalha como educadora social em uma Organização não Governamental.

No momento em que falam de suas histórias de vidas, apenas as duas informantes que realizam programas, informam que o estilo de vida que levam pode ser considerado de estresse elevado, pois estão submetida aos mais variados tipos de riscos, como por exemplo: a violência por parte de clientes e policiais, assaltos e risco de adquirir DST’s e AIDS. Relatam ainda, que em função de exercerem suas atividades à noite, quando saem para batalha, a alimentação é realizada de forma irregular, pois dormem durante a maior parte do dia.

Estilo de Vida Esta categoria se propõe a descrever como lidam com questões relacionadas a qualidade de vida, de forma mais específica a alimentação. Como pode ser observado na fala de uma informante. [...] quando eu vejo que tem uma barriguinha... eu começo a me esforçar... comer menos, beber menos refrigerante, comer menos catchup e com isso diminuir as calorias, as gorduras. Mas eu como de tudo. (Informante 1) Observa-se que existe o cuidado com a ingestão de alimentos, por parte dessa informante. Apesar de não ficar evidente na sua fala se a quantidade ingerida de calorias diária é correspondente ao que é preconizado na literatura. Dessa forma, ao basear-se em Farrell e Nicoteri (2005) o recomendável para uma pessoa adulta na faixa etária compreendida entre os 18 e 40 anos – faixa em que se encontram as informantes -, é de aproximadamente 2000 a 2500 kcal/dia, para o equilíbrio do corpo seja mantido.

Ainda para estas autoras sob o “[...] ponto de vista nutricional podem-se obter importantes resultados ao se modificarem maus hábitos alimentares” (p.77), considerando que hábitos alimentares são aprendidos e por isso podem ser modificados. Ao tempo que Allsen et al (2001) recomendam a ingestão diária de aproximadamente 2000kcal/dia, distribuídas da seguinte forma: carboidratos (60%), proteínas (10%) e gorduras (30%) dentre as quais deve corresponder a gordura saturada.

O vocábulo “fazer” tem o significado de modificar o corpo para estes atores sociais, de forma mais específica utilizar o silicone com a intenção de alterar as formas corporais.

Bombar equivale a “fazer” o corpo, porém é feito pela “bombadeira” outra travesti que tem a prática e habilidade de aplicar o silicone industrial e que recebe pelos serviços prestados, com a intenção de promover as modificações solicitadas pela cliente com vistas a construção de um corpo com formas femininas mais acentuadas.

4 Montar equivale a vestir-se com roupas e adereços femininos e com isso modifica-se a aparência aproximando-se da feminização.

5 Batalhar nesse contexto está relacionado a trabalhar com a prostituição, pois ir para a batalha, é equivalente a ir para a pista e com isso, fazer programas.

6 “Ponto” é equivalente a locais públicos em que ficam travestis que estão prontas e disponíveis para a realização de programas.

7 Segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica significa que o silicone em função de ser um corpo estranho ao organismo ocorre a aderência do tecido, formando uma espécie de “pedra” que é denominado siliconoma, visto que se trata de um processo inflamatório linfocitário.

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Sobre a decisão em tornar-se uma travesti... Como aconteceu?

A presente categoria descreve a partir das falas das informantes sobre o momento de suas vidas em que decidiram tornar-se travesti. Essa etapa da vida é geralmente conturbada na vida de uma jovem travesti, em virtude das poucas oportunidades que a vida oferece, e que existe a possibilidade de tornar-se ainda mais difícil, pois nem sempre possuem requisitos para adentrarem ao mercado de trabalho. Fatores como a idade e o nível de escolaridade contribuem para agravar a situação. [...] quando eu tava com 13 prá 14 anos... eu comecei a freqüentar o centro da cidade, já todo afeminado, e aí eu via aquelas travestis bonitas na esquina, e achava elas bem bonitas e decidi... eu vou ser assim... isso com 14 anos. [...] Tentei né... homossexualismo a gente vai descobrindo aos poucos. Então eu vi que era diferente... e disse... oh! Sabe de uma... eu vou é chutar o pau da barraca... eu vou virar travesti logo e pronto. (Informante 1) [...] uma sobrevivência de trabalho que eu tenho pra sobreviver que eu tenho... vendendo o meu corpo, me prostituindo, porque não tenho outra opção, porque não tem outra opção pra travesti. Travesti é muito discriminado em todos os lugares que chega.(Informante 2) Acho que já nasci travesti! Minhas cores preferidas eram sempre cores femininas. Nunca... eu acho que já nasci com essa tendência... eu não sei explicar a idade... mas sei que foi muito cedo e precoce. Eu sabia que no meu caso... eu sou homossexual, travesti, né? Mas um homossexual é... vamos dizer, do tipo feminino... então não temos oportunidade de emprego, de conseguir alguma coisa... uma estabilidade... então eu preferir ir por esse lado. (Informante 3) A reinvenção do corpo Esta categoria se propõe a descrever as possíveis formas que as travestis se utilizam para reinventarem seu corpo e com isso definir as alterações de identidade corporal, que apesar de tão sonhadas e desejadas por algumas, podem tornarse indesejáveis em função do método não oferecer garantia quanto ao que se propõe. Esse trabalho é desenvolvido por bombadeiras, que na sua maioria não possuem formação e nem habilitação adequada para desenvolverem tais práticas. A importância da bombadeira como pode ser visto na fala de uma entrevistada no documentário “Bombadeira” de Luís Alencar (2007): [...] a travesti só consegue mudar o seu corpo através dessa bombadeira [...] que se torna a única saída, o único escape, a única esperança para essa travesti [...] portanto, o papel da bombabeira é muito importante, não para a sociedade, mas para a travesti.

No momento... só silicone e uso uns enchimentinhos, porque silicone... hormônio que diga!! Porque silicone eu tenho medo. [...]

Os medicamentos que utilizei foi... é... anaciclin, perlutan e tomei também unociclo, mas este eu não gostei porque ao tomar eu desmaiei e então eu tive que mudar de hormônio pois eu acho que esse é muito forte. [...] perlutan, anaciclin e neovilar... é só! (Informante 1) O que me levou a modificar o meu corpo, além da minha opção isso se também por influências de amizade. Botar silicone, me transformar, eu achei que fosse melhor, as minhas amigas me deram conselho, e então eu peguei e botei silicone. [...]

Eu me transformei, botei silicone e continuo com ele até hoje. Mas o que de fato mais me entristece 12

é a discriminação, é a humilhação, é a crítica no meio da rua. Tomei alguns medicamentos que são hormônios, mas o silicone utilizado foi “barra mil”, uma amiga minha que botou, ela é de Feira de Santana. (Informante 2) Os motivos você sabe... né? Nos precisamos de dinheiro. Ah! Esse processo foi doloridíssimo...foram dores é... coisas terríveis que eu passei... começando por tomar hormônios, muitas injeções... Eu sempre tive o corpo muito magro! Então você sabe... aquele corpo muito magro você nunca consegue assim... as suas... as suas formas rapidamente... e também eu botei silicone depois de muito tempo de travesti. [...] eu era um travesti que batalhava muito... fazia rua... faço hoje em dia até na Europa... só no caso... mais aqui no Brasil eu sou rodada... então fui para outros Estados... fazia muito tipo de trabalho... então esse tipo de trabalho requeria o que... você... teve o problema dos policiais... da violência... então eu preferia não botar porque tinha medo até de ficar com um problema sério físico perante as barbaridades que os policiais faziam e até hoje ainda fazem com as travestis.

Eu comecei com muitos e muitos hormônios... gestadinona, é... anaciclin que são comprimidos... neovilar, microvilar, nordete, diame, é... perlutan e outros... e outros... e vitaminas de injeção... injeções de vitaminas... tipo rubranova, citoneurin... e outros... e outros [...] O silicone foi um processo muito doloroso pra mim... porque eu não tinha... é... carne para aplicação do silicone, então o meu processo de siliconização foi muito dolorido e muito crucificante porque eu fiz várias tentativas de aplicações de silicone para consegui... é... as minhas formas desejadas. Mas foram muito crucificantes

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e doloridas na minha situação. E foram muitas etapas... muitas etapas! Foram feitas em três etapas e a quantidade de silicone que eu tenho no corpo são 6 litros de silicone... incluindo pernas, quadris, coxas, entre pernas... no caso... né? Foi muito dolorido! São seis litros de silicone que eu tenho no corpo! Fora à prótese que eu botei de 700ml de cada lado... são mil... sete e sete são quatorze... então eu tenho 1.400ml de prótese nos seios... quase um litro e meio de silicone que eu tenho nos seios e mais 6 litros de silicone no corpo... então... eu tenho a mais... quantos quilos no meu corpo?

Acho que eu tenho... uns... mais de seis quilos de silicone no corpo. (Informante 3)

Para Benedetti (2005), o silicone é comumente utilizado pela travesti que se propõe a construir um novo corpo, muito utilizado por aquelas que desejam obter modificações no corpo de forma mais rápida e que a decisão para sua utilização deve ser feita com prudência, bem como a reflexão acerca da decisão.

Para este autor as travestis percebem o corpo não apenas como atributo social, mas suas verdadeiras identidades sociais, pois este processo faz parte inclusive da sua formação enquanto pessoa.

Foi observado, que além de utilizarem o silicone, usam também uma quantidade significativa de hormônios femininos para modificarem o corpo. Este fato também é relatado por Benedetti (2005) onde o hormônio é o que ocupa um valor primordial.

Os riscos... valem a pena?

A presente categoria está relacionada ao processo de reinvenção do corpo, pois apesar de possuírem informações em torno dos riscos a que estarão submetidas, ainda assim, se submetem e adentram nessa jornada, com vistas à superação, a modificação e a reinvenção para alcançar seu objetivo, que é o corpo ideal, de acordo com sua percepção. Dessa forma, serão analisados os riscos a partir dos seus relatos, tais como: Os riscos é que tem que ter higiene, tem que ter repouso, não pode comer nada remoso, pois pode causar um grande problema. Não é? Pode causar uma infecção generalizada! Então tudo isso é muito risco, né? É também o infarte, dá uma falta de ar, a pessoa pode até morrer. Tudo isso! Mas eu arrisquei. Eu fiz a primeira aplicação de silicone... tem uns treze ou quatorze anos. Só que agora é que eu não quero mais. Porque não dá mais, pois já tou com 32 anos, pretendo ficar assim mesmo e acabou. Pois varias amigas minhas já se foram por causa da aplicação do silicone, pois ficam só botando... botando... botando e retocando... retocando, e aí muitas entupiu a veia do coração, outras deu falta de ar, outras... você sabe... se foram e você sabe pra onde. Muitas coisas aconteceram... [...]

Prá mim do jeito que estou... tá ótimo! (Informante 2) Muitos riscos! Inclusive da primeira vez que eu aplicar o silicone... eu tive é... parada de pressão... minha pressão baixou a primeira vez... ah! Também quando eu fui aplicar silicone no seio... porque antes de fazer a projeção da prótese eu tinha silicone no seio... e no corpo também eu sentia muita dor... mas muita mesmo... muita dor! É uma coisa que hoje eu não aconselho ninguém a fazer nem com médico... nem com nada... e hoje eu sito dores nas articulações das pernas... inclusive quando eu uso salto... ou quando eu caminho muito... eu tenho dores nas pernas. Não são dores exageradas ou insuportáveis... mas são dores [...] dores e que incomodam! (Informante 3)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao retomar o objetivo principal que se propôs a verificar qual a percepção das travestis na cidade de Salvador em torno dos riscos no processo de reinvenção do corpo com o uso do silicone industrial, foi possível perceber que apesar de terem acesso às informações sobre os malefícios e a inapropriação para uso em seres humanos desse tipo de silicone, ainda assim utilizam-no. Dessa forma, nós enquanto profissionais de saúde devemos respeitá-las na sua integridade, pois possuem autonomia e liberdade para escolherem o que podem considerar como bom para si, sem ocasionar mal a outrem.

Assim, apesar da escolha por parte da travesti em desejar fazer uso dessa prática, compete-nos, em função do papel de educador que desempenharemos

em nossas vidas, promover a redução de danos. E por esta, compreende-se como sendo uma estratégia que é aplicada aos indivíduos, que não podendo, ou não querendo abster-se, adotam práticas e comportamentos de risco. Pois, no momento em que o outro é implicado no processo, e que essa relação é praticada na horizontalidade, existe a possibilidade de transformação da realidade, ambos saem ganhando, educador e educado.

Compete-nos ainda, no momento em que uma travesti optar por essa escolha – dentro desse contexto – orientá-la para que possa verificar os resultados do trabalho da bombadeira, conversando com outras travestis que tiveram seus corpos bombados por esta profissional. Não deixando de solicitar que

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confira o local, assim como os materiais, e que estes estejam adequados para o procedimento. Dessa forma, contribuiremos com a justiça, pois esta é a virtude que regula as relações humanas e as demais virtudes equilibram e aperfeiçoam a subjetividade, pois, é possível acreditar que só a justiça media as relações entre as pessoas, e com isso, proporcionará o respeito mútuo. Deve-se considerar ainda, que a Bioética, tem possibilitado discussões e reflexões sobre os mais variados problemas de saúde sob a base da responsabilidade moral, mas não de forma individual, e sim uma responsabilidade ampla de todos em relação à própria humanidade. A bioética prepara ainda, o sujeito para servir com responsabilidade competência e humanismo.

Assim sendo, na condição de acadêmicos, é possível perceber que além da formação técnica,

REFERÊNCIAS ALLSEN, Philp. et al. Exercício e qualidade de vida: uma abordagem personalizada. Barueri: Manole, 2001.

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a formação ética é o que cliente espera do profissional de saúde, através do seu compromisso com a verdade e justiça social, na compaixão com o doente, na sua humildade, disponibilidade, oferecendo uma escuta sensível e sem juízo de valor, sendo prudente e respeitando a sua vontade, desejo e opção. Por fim, é possível conceber que a ética no exercício de uma profissão deve ter início bem antes da prática em vista de impor princípios, valores e crenças pessoais. Ao tempo, que os valores atrelados a relação profissional, só terão na prática sua significação correspondente, se forem conhecidos e compreendidos, e muito mais que isso, incorporados pelos profissionais em seu universo de saberes, permitindo, por sua vez, a efetivação através da relação enfermeiro-doentecliente-família e comunidade.

DENIZART, H. Engenharia erótica: travestis no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 1997.

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AUTOR & COAUTORES Carlos A Porcino – CRP 03 IP 4547 - Psicólogo – Psicólogo graduado pela Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC Salvador), graduando em Enfermagem na Faculdade Dom Pedro II - Salavdor-BA e membro do Núcleo UNIsex (Núcleo Universalidade e Diversidade Sexual); e-mail carlosporcino@ig.com.br Alane Ferreira - Graduando em Enfermagem – Faculdade Dom Pedro II – Salvador – BA; Alex Feliciano – Graduando em Enfermagem – Faculdade Dom Pedro II – Salvador – BA; Claudinéa Carlos – Graduando em Enfermagem – Faculdade Dom Pedro II – Salvador – BA; Cláudio Cerqueira – Graduando em Enfermagem – Faculdade Dom Pedro II – Salvador – BA; www.dompedrosegundo.edu.br Daiane Tatiane – Graduando em Enfermagem – Faculdade Dom Pedro II – Salvador – BA; Djalmira Silva – Graduando em Enfermagem – Faculdade Dom Pedro II – Salvador – BA; Ednice Silva – Graduando em Enfermagem – Faculdade Dom Pedro II – Salvador – BA.

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PERFIL LEITORES ATLASPSICO 2008–2009 p

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PSICOSSOMÁTICA

T

odas crianças enfrentam ao se sentirem massacradas por uma dualidade extraordinária... (cont). ...Ao mesmo tempo em que são completamente dependentes do cuidado do outro, criam asas e voam como super-heróis; tornam-se imortais quando brincam de morrer, porém, ao mesmo tempo, desesperam-se ao sentir que seu universo pode ruir e, se isso acontecer, não será possível remontá-lo, reconstruí-lo. Ao mesmo tempo em que o mundo gira em torno de seus desejos, sente suas emoções tornarem-se violentas ao não serem saciadas e o poder mágico que as sustenta perde o efeito, a vida, o brilho, desencadeando sentimentos de culpa e de desamparo.

Agora, coloquemo-nos no lugar de uma criança vinda de uma família que auto-exilouse para preservar-se das duras perseguições impostas àquela época pelo império romano e seus assassinos históricos. Quantas crianças de sua época conseguiram sobreviver e cresceram desprovidas do ódio? E quem disse que ELE não o tinha?

Pensar, para um ser crescido nesse contexto completamente opressor, torna-se a fonte do desenvolvimento do ódio como defesa de caráter, mas, em contrapartida, molda um mundo governável desprovido de crítica, sem pensamento e sem liderança, favorecendo, dessa forma, a castração do Ser em Si através do instituir do ser elaborado

0 3a parte

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sem uma visão própria das coisas, completamente centrado em um universo que necessita ser restrito, afinal, caso ele se expanda, coloca em risco a pretensa sanidade que é apenas mais um dos disfarces vitais construídos sobre a fórmula onde o homem deve ter o mundo a seus pés e que as garantias de segurança apenas existirão caso ele faça adesão às regras, limitando-se às farsas elaboradas sobre suas próprias defesas, pois, um indivíduo morto em sua própria história existencial, apenas vive a limitação, ignorando e esquecendose para não enxergar o falível e o fatídico que tanto nega, ressaltando sempre um heroísmo mesquinho e mercantil.

Mas Jesus, o SER em SI, em virtude de uma educação favorável conseguiu estabelecer uma profunda relação com o mundo, afinal, não negou o falível que há nele ao dizer: “o mundo jaz no maligno”. Ou seja, isso aqui é resultante daquilo que os homens transformaram-se e a qualquer tempo pode aparecer diante de cada um sua face desprovida de máscara, desencadeando o horror que é protelado ou sempre visto no outro. Vêlo, no contexto transferencial, consiste em dar continuidade ao assassínio promovido a quem se escarnece sobre suas agruras, mas, que se imagina estar escarnecendo sempre ao que está do lado, principalmente se esse outro é livre e move-se sem nada dever a quem quer que seja.

SER EM SI POR Marcus Antônio Britto de Fleury Junior CRP 09/4575

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A liberdade incomoda aqueles que não concebem a solidão como um dos sentimentos mais fiéis aos homens. O solitário, faz de seus “montes”, os mais aprazíveis momentos de suas histórias, conseguindo vislumbrar que os mesmos são companheiros de viagem, que pedem silêncio para que cada um possa compreender seu espaço, seu tempo, e os sentimentos envolvidos nesse tão rico processo que é o ser em contato com a complexidade que o compõem.

Moldaram-se na consolidação do silêncio relacionados às suas emoções objetivando matá-las para que pudessem sobreviver aos maiores temores, porém, adoeceram-se e construíram um mundo doente, um grande espelho da miséria humana. (“Nos deram espelhos e vimos um mundo doente”.

Renato Russo) O mais intrigante é que Jesus não viveu o futuro, apenas, deu-se ao dia, definindo que basta ao dia de hoje e seus fardos, afinal, as preocupações nada acrescentariam aos dias de amanhã. Isso destituía toda a falácia arbitrariamente instaurada na póscontemporaneidade, onde se vive à idealização de um Eu que não consegue se sustentar, sempre remetendo o indivíduo à fuga e negando uma proximidade com as suas mais temíveis dores, prorrogando-as como fosse possível deter o encontro entre si mesmo e o seu universo, que, por ser tão grandioso, é continuamente negado.

Por isso, cada dia mais, bares estão super lotados, principalmente, nas noites que parecem não ter fim, afinal, quando a mesma é anunciada, sempre há um motivo para mais, como forma em renunciar o contato com o corpo que carrega sentimentos que poderiam ser insondáveis, mas, por si só, anunciam a visita que faz às emoções gerando sentimentos que alteram todo organismo, transformando-o no cativeiro quanto às definições que possam ter de sua história, reféns de seus corpos e vítimas de si mesmos, onde estabelecem suas histórias sobre castelos de areia, gerando um reinado com semblante de serenidade, mas em sua face está estampada a farsa de uma sobriedade punitiva que conduz em direção a tudo que faz adoecer, como forma em anunciar a insatisfação com o que está sendo vivido, determinando o auto-extermínio velado.

Sempre estão dizendo: “Mas se sabia por que fiz isso?”.

Fez para desafiar-se, para posteriormente, estabelecer um elo com sua história existencial em relação ao reencontro com a angústia, sendo essa, repleta de recidivas quanto mais são negadas. É o preço estabelecido através do punir-se a si mesmo como sentença condenatória àquilo que deixou para trás.

Outra tirada espetacular de Jesus foi que “No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo”.

Esse bom ânimo não está fundamentado no crescimento persuasivo com bases na fragilidade dos discursos de semi-deuses que defecam aquilo que não sustentam sobre as pessoas, cobrando-as quanto àquilo que não prevalece em suas próprias vidas, mesmo em meio a palavras “bonitinhas e acalentadoras” que inflam o ego temporariamente, para, posteriormente, encaminhar uma multidão de “cegos” rumo ao precipício para serem tragados pelas renúncias feitas em suas trajetórias singulares ao seduzirem-se pelo coletivo que os faz correr das incontáveis derrotas não assumidas, sempre atribuídas a outras pessoas.

Então, bom ânimo consiste em parar diante do espelho e conseguir vê-se, sem distorcer as imagens de si mesmo, assumindo em meio ao caos, possibilidades em consolidar-se dentro do contexto que sua história necessita, resignificando o que é negado ao contexto da aproximação para que possa ser compreendido no âmbito de sua dor e angústia.

Superar aflições não consiste em afastar-se das mesmas, mas sim, fazer um grande mergulho em seu oceano psíquico, conhecendo cada detalhe, cada componente que o formou. É desconstruir o mito de um mundo perfeito, compreendendo que perfeição, nada mais é que um recurso construído mediante as nossas expectativas com intuito em estabelecer um “dique” entre o oceano revolto e os territórios da solidão, entre o reconhecimento da intencionalidade da fala e os mecanismos de defesa adotados, que promovem o caminhar em torno de si mesmos, sem nunca sequer aproximarem-se daquilo que realmente são.

ELE não se deteve aos padrões, nem mesmo à ortodoxia de doutrinas. Viveu como um milionário, constituindo na liberdade do SER em SI, em meio aos que necessitam do controle social para que não se descubram, para que possam sufocar a grandiosidade que, se descoberta, os levará a estraçalharem–se ao aproximarem-se do extremo êxito, pelo temor à grandeza, fogem em relação à intensidade da existência.

Então, quem se dispõe a responder estas perguntas: - O que somos para nós mesmos?

- Somos nós mesmos?

Até quando nos sujeitaremos ao auto-abandono ao rejeitarmos nossa própria história?

Marcus Antônio Britto de Fleury Junior CRP 09/4575 Psicólogo especialista em psicossomática. ateliedeinteligencia@gmail.com

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ESPERANDO AJU

TE

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UDA DE ONDE?

ENTOU A INTERNET?

DIREITO

E

xistem certas interrogações que são feitas no direito que são questões complicadíssimas. Esta é uma delas: assédio moral e dano moral são a mesma "coisa"?

Ao serem analisadas as condenações na Justiça do Trabalho, o posicionamento da doutrina, chegamos a conclusão que não existe um posicionamento claro sobre o assunto.

Advogados relatam os fatos nas relações de trabalho e emprego e ao final de suas demandas pedem a condenação do empregador pelo pagamento de indenização por danos morais face ao assédio moral vivenciado pelo empregado, julgamentos são proferidos sem que nenhuma distinção entre assédio moral e dano moral e a doutrina escreve artigos citando julgados também sem nenhuma diferença. Mas qual a finalidade desta diferença, se é que existe?

Primeiramente cabe se destacado que o assédio moral não ocorre somente nas relações de trabalho, o assédio moral também ocorre em família, ocorre nas relações civis, etc, como bem destacada uma das pioneiras no assunto em matéria de assédio moral, a psiquiatra francesa Marie-France Hirigoyen.

Tendo visto verdadeiros absurdos neste tema, uma ignorância tão grande que é impossível de ser medida. As pessoas vêm falando o que querem, cada um inventa o que está pensando para fundamentar seu palpite sobre assédio, sem nenhuma prova científica, é óbvio! Assédio moral é um estudo científico, assédio é ciência, assédio não é palpite jurídico!

A tese do assédio moral não é uma tese jurídica, é uma tese médica, ela nasceu através de anos de estudos realizados na Suécia pelo médico psiquiatra alemão Heinz Leymann, este foi o "pai do assédio moral". Posteriormente ela foi desenvolvida na França pela médica psiquiatra Marie-France Hirigoyen e bem estuda por Herald Ege na Itália, ou seja, quem não conhece o que estes autores falam, não tem condições de conhecer bem o tema e daí confundem assédio moral com dano moral!

O assédio moral possui algumas diferenças com relação ao dano moral, mais, em alguns casos existe um encontro entre eles. O assédio moral exige que sejam realizadas práticas hostis de forma reiterada, com uma certa freqüência e duração.

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A freqüência, estatisticamente como disse Heiz Leymann e não um palpiteiro é de uma vez por semana. A duração é estatisticamente comprovada por Heinz Leymann e não por um palpiteiro, de pelo menos 6 meses. Os palpiteiros deveriam realizar um estudo de 20 anos e sustentar mundialmente sua tese e esta ser aceita pela comunidade científica, como fizeram os defensores da tese do assédio moral.

Aqui existe de uma forma geral uma diferença com o dano moral, pois no dano moral não são feitas estas exigências, um simples ato pode caracterizar o dano moral.

Existe também uma aproximação. Certos atos por si só, sem a presença de freqüência e duração podem caracterizar o assédio. Mais como? Basta ver que é uma estatística feita por Heinz Leymann, o que representa a regra geral. Logo um ato seria então dano moral e assédio moral? Não, pois aqui existe uma diferença em matéria de provas: o prejuízo no assédio moral precisa ser provado, não se presume como no dano moral! Exemplo: alguém é caluniado. Presume-se que alguém caluniado seja afetado psicologicamente e até fisicamente por problemas de saúde. No assédio moral não existe esta presunção, a vítima tem que provar que teve problema físico e/ou psicológico.

Também em matéria de prova entende-se que no dano moral o fato deve ter sido levado a conhecimento de terceiros enquanto no assédio moral não existe esta necessidade.

A finalidade em se fazer estas distinções é muito importante sob o ponto de vista da avaliação do dano moral, pois, percebe-se que o assédio moral causa uma dor e sofrimento comprovados a vítima enquanto que o dano moral não tem necessidade destas provas. Com isso, percebe-se que as indenizações por assédio moral devem receber um valor maior do que muitas indenizações por danos morais.

A partir do momento em que forem ignoradas estas diferenças, precisaremos saber do que se trata? É assédio? É dano moral? Dano extrapatrimonial?

Como identificar um ou outros? Sabemos que hoje o assédio moral é visto como uma espécie da qual o gênero é o dano moral, assim como outra espécie é o dano estético. Ocorre que precisam ser analisadas as diferenças, sob pena de não sabermos mais o porquê numa condenação, já que dano moral e assédio moral não se confundem!

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DANO MORAL & ASSÉDIO MORAL NA JUSTIÇA DO TRABALHO SÃO A MESMA “COISA”?

AUTOR Robson Zanetti é advogado em Curitiba. Doctorat Droit Privé Université Panthéon-Sorbonne.

Corso Singolo Diritto Processuale Civile e Diritto Fallimentare Università degli Studi di Milano. robsonzanetti@robsonzanetti.com.br

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PSICOMOVIE

OS X-MEN E O APELO À TOLERÂNCIA

O mundo do cinema tem uma grande proximidade com o mundo dos sonhos. Tanto em um quanto em outro, somos capazes das maiores proezas. Seres fantásticos e histórias inverossímeis povoam o imaginário de milhões de pessoas no mundo.

Não é por menos que os super-heróis fascinam tanto a nossa imaginação: homens e mulheres invencíveis, com poderes sobre-humanos e habilidades que vão além da nossa própria natureza.

São seres quase perfeitos, destemidos, corajosos, acima de qualquer falha.

Talvez seja por isso, que os personagens da Marvel Comics despertem tanto interesse entre 22

os seus jovens leitores, a exemplo do grupo de mutantes conhecidos como X-Men, que foram transportados do mundo dos quadrinhos para as grandes telas, há pouco tempo.

Ao contrário do que se poderiam imaginar, os super-heróis mutantes são atormentados com o seu próprio dom e o seu próprio destino, vivendo em um futuro próximo numa sociedade que não está preparada (ainda???) para aceitar as nossas visíveis diferenças. Os X-Men sofreram uma mutação genética, um “salto na evolução humana”, e é daí que vêm seus poderes, levando-os a uma segregação entre os mesmos seres humanos que tentam proteger. Nos três filmes até agora lançados,

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isso fica muito evidente, além, é claro, da eterna luta do bem contra o mal.

De um lado, temos o Professor Charles Xavier, um mutante com poderes telecinéticos responsável por uma escola que ensina aos mutantes mais jovens controlarem e compreenderem melhor os seus poderes. Do outro, temos Eric Lensherr, também conhecido como Magneto, que como o próprio nome já diz, tem a capacidade de controlar todo o magnetismo na face da terra e cujo passado judeu vivido nos campos de concentração na era do nazismo, despertou-lhe o ódio irracional contra os seres humanos a um ponto de querer extinguilos da face da terra. Magneto lidera um grupo de mutantes que compartilha do seu ideal contra a humanidade e contra o Professor Xavier, líder dos mutantes na escola que dirige.

Ora, se Magneto acha que os seres humanos foram capazes de fazer o que fizeram contra os seus semelhantes durante a Segunda Guerra, porque eles deveriam gozar de mais respeito e privilégios do que aquilo que ele denomina de “raça superior”? “Somos o futuro, Charles”, diz Magneto no primeiro filme, ao sair de uma reunião onde se debatiam as liberdades individuais dos mutantes, para excluí-los do resto da sociedade. E isto não é mera coincidência: quem já sofreu o preconceito na própria pele sabe do que eu estou falando, ou quem já leu ou ouviu falar do horror do nazismo, pode imaginar muito bem o que é ser discriminado por alguma particularidade mínima sequer. O horror do holocausto é exemplo mais do que suficiente para nos lembrar das atrocidades que um grupo de seres humanos pôde fazer a outros. Em nome da intolerância, do preconceito, da discriminação e do ódio “ao diferente”, mata-se!!!

Para muitos, é insuportável a convivência com o minimamente diferente. Para outros, isso é perfeitamente possível. A este segundo tipo de sujeito nós denominamos de tolerante e solidário diante das diferenças do seu irmão em humanidade, porque ele o compreende como fazendo parte da mesma comunidade ou grupo que participa. Quem melhor exemplifica isso é Freud (1856-1939) ao retomar a metáfora dos porcos espinhos de Schopenhauer (1788-1860)1: dois porcos espinhos em meio à chuva começaram a sentir frio e tiveram a idéia de um se esquentar com o calor do corpo do outro. Ao se aproximarem, os espinhos dos seus corpos espetaram um ao outro, e eles se afastaram, voltando a sentir frio. Mais uma vez, eles revolveram se aproximar e mais uma vez foram espetados pelos espinhos um do outro, até que encontraram uma distância intermediária para se aquecerem, sem se machucarem. Quando compreendemos essa distância intermediária de convivência que nem

nos machuca e nem fere as liberdades e o espaço do outro, estamos praticando a tolerância.

O conceito de tolerância está historicamente relacionado às crenças religiosas e questões políticas tratadas por Voltaire (1694-1778)2. A tolerância se opõe a intolerância e vice-versa. Ela se justifica no plano moral pelo respeito à pessoa do outro, não apenas de forma política, socialmente desejável e válida nos regimes democráticos, mas igualmente devida ao respeito ético inerente ao reconhecimento do Outro3. Por outro lado, o sentimento de intolerância na contemporaneidade, criado na Europa em plena era do nazismo, não foi totalmente derrubado, como podem pensar alguns. Pelo contrário, ele se desenvolveu, se modernizou e se atualizou, multiplicando-se numa velocidade tal que sequer temos condições de controlá-lo: assassinatos de índios em pontos de ônibus, massacres em presídios públicos, guerras em países de cultura mulçumana, escravização de crianças no campo, prostituição, tráfico e turismo sexual com menores de idade, assassinatos em massa nos grandes centros urbanos, extermínio de homossexuais por grupos neonazistas, violência física e psicológica contra mulheres, humilhação pública de idosos e portadores de necessidades especiais, mutilação de órgãos genitais em mulheres africanas, guerras entre facções do narcotráfico das drogas nas favelas do Brasil, e assim por diante.

Tudo parece perfeitamente justificável em nome da “pretensa normalidade ou superioridade” daqueles que se consideram estar acima desses atores sociais, ou mesmo das diferenças culturais. O que se revela aqui, de maneira brutal e insofismável é a impossibilidade do reconhecimento e do convívio com a alteridade que se funde num horror da experiência da diferença, pois é insuportável o reconhecimento da diferença e da alteridade pelo sujeito da atualidade, em parcelas significativas do mundo, sem que aquelas sejam imediatamente transformadas em signos hierárquicos infalíveis de superioridade e de inferioridade de ser melhor e de ser pior do que os outros. Ou seja, é a ação da pulsão de morte, já anunciada por Freud no seu texto “Além do Princípio do Prazer”, que faz suas vítimas e tem explicado não só a ação do nazismo como também todos os atos cuja vítima é o ser humano4.

Tolerar, portanto, é respeitar nosso semelhante naquilo que ele tem mais de singular e específico. É compreender a sua individualidade e sua alteridade reconhecendo o outro como a referência do “nós”.

Richard Rorty (1931-2007), filósofo norteamericano falecido em 2007, nunca se debruçou exaustivamente sobre o assunto nesses termos, mas expôs suas idéias de forma clara naquilo que

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Na imagem, STORM (Tempestade), uma das personagens do filme X-MEN em plena ação, capaz de controlar e produzir forças naturais.

compreendo ser o sentimento de tolerância para com o nosso semelhante como o correlato do que ele define e defende como sendo o sentimento de solidariedade. Rorty diz que o sentimento de solidariedade depende necessariamente das semelhanças e dessemelhanças que surgem em função do vocabulário de um determinado grupo, ou seja, o desejo de solidariedade não está calcado apenas na concepção banal do amor ao próximo, tal como proposto pelos ideais cristãos ou nos ideais humanistas na era do Iluminismo, mas sim, no reconhecimento de determinados grupos como fazendo parte de uma grande comunidade liberal, atados através dos atos ou jogos de linguagem.

Para este filósofo, quanto mais o sentimento de solidariedade humana, maior a capacidade de compreender e estender a referência do “nós” a um número cada vez maior de pessoas.5 Quanto mais nos colocamos no lugar do outro, quanto mais tendemos a enxergar nós mesmo no outro, maior será a nossa tendência de incluí-lo no grupo do qual fazemos parte.

Nesse sentido, Rorty opõe crueldade à solidariedade. Ele diz que cruel é todo aquele que não sabe ou não pode identificar-se com a dor e a humilhação dos outros, e solidário é aquele que aprendeu a se colocar na posição de quem sofre, de modo a descrever crueldade como aquilo que de pior podemos fazer ao nosso semelhante.6 Seu objetivo, enquanto herdeiro do pragmatismo, é alcançar uma sociedade liberal, através da construção de novos laços discursivos, fazendo da igualdade ou da solidariedade, um desejo para muitos de nós, reconhecendo um pouco (senão muito) de nós mesmos nesse outro que nos é estranho, diminuindo o preconceito, a discriminação, o desrespeito e a intolerância. O que Rorty propõe, portanto, é a construção de uma cultura da ética e da solidariedade, baseado fundamentalmente na igualdade.

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Ora, quando desqualificamos ética e moralmente esse grande Outro que nos é estranho, estamos fomentando a “ética do alheamento do outro”, que consiste em uma atitude de distanciamento, hostilidade e perseguição ao sujeito7, onde só o ideal de igualdade poderia diminuir esses sentimentos hostis.

Para o sociólogo Zigmunt Bauman, o ideal de igualdade é um ideal perfeitamente possível quando associado ao ideal de humanidade e solidariedade humana. Para ele, é pelo direito do outro que meu direito se impõe, diminuindo os espaços vazios que separam as dicotomias igualdade/diferença, tolerância/intolerância, ou seja, o repúdio à barbárie e a toda sorte de regimes totalitários.8 Vale lembrar que “no projeto democrático, o ideal de igualdade é a condição de possibilidade de que as diferenças possam emergir, livres de coerção de um modelo normativo totalizante”, ou seja, “é por defender uma sociedade mais justa para todos que singularidades e aspirações particulares se candidatem ao reconhecimento e à legitimidade”.9 A igualdade funciona, pois, não só como ideal regulador dessas dicotomias, como também um horizonte político que estimula e legitima a redução progressiva das desigualdades injustas e da tolerância. Agora, tirem os X-Men do fronte de batalha, e ponham todo o rol de excluídos e de minorias sociais que fazem parte no nosso país (negros, mulheres, índios, homossexuais, nordestinos, pobres, psicóticos, portadores de necessidades especiais, idosos, crianças, etc.), e talvez essas palavras façam mais sentido.

Os movimentos que lutam pelos direitos específicos de grupos estão nada mais do que contribuindo para a construção de uma igualdade universal da democracia moderna, visto que “a igualdade, a liberdade e a solidariedade só se realizam nesse processo ininterrupto de avaliação crítica de seus limites e de ampliação de suas

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fronteiras, formando parte de um processo coletivo de construção de uma sociedade melhor para um número cada vez maior de pessoas”.10 Mas conforme nos lembra a filósofa Hannah Arendt (1906-1975), não é verdade que todos nós nascemos livres e iguais em dignidade e direitos.

Nós nos tornamos iguais, e isto só é possível pela organização de uma “comunidade política” através do exercício de nossos direitos políticos.11 Neste sentido, as lutas fomentadas pelas minorias sociais aí estariam colocadas, quando grupos de indivíduos requerem direitos que lhes são negados por outros que coadunam com as leis que constroem. É esta luta, por exemplo, da comunidade negra (quando requerem direitos pautados na condição hereditária da cor de sua pele ou pelo passado de escravidão que sofreram), ou homossexual (por causa da sua escolha afetivo-sexual), mas também poderia ser perfeitamente a luta de comunidades indígenas (por conta do seu passado histórico que dizimou em quase sua totalidade os que aqui já se encontravam), ou dos sem-terra (pela burocracia insana que reina neste país, adiando a reforma agrária), ou ainda dos X-Men, quando estes requerem seu status de cidadania.

Ora, a igualdade de direitos é tudo o que os X-Men, liderados pelo Professor Xavier acreditam e desejam para si e para o resto da humanidade.

Sabemos muito bem que este ideal de uma comunidade liberal é constantemente ameaçado pelo poder e a influência das desigualdades sociais e pela hegemonia do poder representado pela lógica concreta do capital.

Assim, o X-Men do Professor Xavier lutam não só contra o grupo liderado por Magneto, que vê nos humanos uma ameaça para os da sua espécie, como também contra uma sociedade que suporta e tolera menos as suas diferenças. Acontece que este mecanismo de diferenciação do outro de nós mesmos é capaz de gerar terríveis atos de violência e crueldade, conforme foi visto durante a Segunda Guerra Mundial e foi definido por

Freud de “narcisismo das pequenas diferenças”12, pilar mestre de todo o preconceito, discriminação e intolerância. Isto porque o “narcisismo” suporta menos a convivência com o diferente e suporta menos ainda o convívio com o minimamente diferente, para lembrar as palavras da psicanalista Maria Rita Kehl.13 Os negros, os homossexuais, as mulheres, os índios, os portadores de necessidades especiais, os judeus ou os muçulmanos não têm culpa de terem nascido com alguma particularidade que os diferencie da “grande maioria”. Os mutantes do Professor Xavier e do Magneto também não.

Ou alguém concorda que o destino de jamais poder tocar outra pessoa, é bem aceito pela Vampira? Ou procurar a “cura do gene X” seria a melhor solução para resolver os problemas de ser considerado “diferente” em uma “sociedade de iguais”? Ou quem sabe, é satisfatório carregar os dilemas e a dor de sua existência como tão bem expõe os conflitos internos do Wolverine, toda vez que ele precisa fazer uso de suas garras? “Dói?”, pergunta Vampira comovida com a sua história de vida. “Muito!”, responde Wolverine. Afinal, quem consegue ter prazer ao exibir as feridas de sua própria existência?

Portanto, o que os X-Men fazem nada mais é do que um apelo à tolerância, pois sufocados pela dor de terem que esconder seus poderes dos seus semelhantes suplicam a esta humanidade que relembrem do horror que ela mesma foi capaz de provocar. Suplicam por um mundo mais justo, por mais utópico que possa parecer, e de modo análogo, recordam as palavras de Adorno (19041969), retomadas por Jurandir Freire, quando aquele afirmava: “Barbárie, é pensar que nada faço para que o outro morra, mas também nada faço para que ele viva”.14 A utopia, juntamente com os ideais humanistas de solidariedade, fraternidade e igualdade, e aliados ao sentimento de tolerância, é a crença na possibilidade de construirmos um mundo infinitamente melhor.

Freud, Sigmund. Outros problemas e linhas de trabalho. RJ: Imago, 1967. Edição Standart Brasileira das Obras Psicológicas completas de Sigmund Freud. Vol. XVIII. | 2Voltaire. Tratado sobre a tolerância. SP: Martins Fontes, 2000. | 3Lafer, Celso. Desafios: ética e política. São Paulo: Siciliano, 1995. | 4Birman, Joel. A derrota da intolerância? In O Mal-Estar na Atualidade.

RJ: Civilização Brasileira, 1999. | 5Rorty, Richard. Contingência, ironia e solidariedade. Lisboa: Editorial Presença, 1992. | 6Idem. | 7Costa, Jurandir Freire. A ética democrática e seus inimigos In: Nascimento, Elimar Pinheiro do (org.) Brasília: capital do debate - o século XXI - Ética. Rio de Janeiro/Brasília: Garamond/Codeplan, 1997, pp. 67-86. | 8Bauman, Zigmunt. Modernidade e ambivalência. RJ: Jorge Zahar, 1999. | 9Bezerra Júnior, Benilton (e outros). Igualdade e diferença in História, Ciência, Saúde – Manguinhos, V. 1. N. 1, RJ, Jul/Out de 1994, p. 574. | 10Idem, p. 562. | 11Arendt, Hannah. As origens do totalitarismo. São Paulo : Companhia das Letras, 1979. | 12Freud, Sigmund. O Mal-Estar na Civilização (1929[1930]). RJ: Imago, 1967.

Edição Standart Brasileira das Obras Psicológicas completas de Sigmund Freud. Vol. XXI. | 13 Kehl, Maria Rita. A mínima diferença: masculino e feminino na cultura. RJ: Imago, 1996. | 14 Costa, Jurandir Freire. Ética e o espelho da cultura. RJ: Rocco, 1994.

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AUTOR

Sergio Gomes Psicanalista em Formação pelo Círculo Brasileiro de Psicanálise – Seção Rio de Janeiro; Mestre em Saúde Coletiva pelo IMS/ UERJ; Especialista em Direitos Humanos pelo Dpto. Filosofia/ UFPB; Especialista em Sexualidade Humana pelo CE/UFPB; Psicólogo Clínico Graduado pela UFPB. E-mail: sergiogsilva@uol.com.br

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MATÉRIA DE CAPA

VIOLÊNCIA D

CONTRA CRIANÇAS C

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ste trabalho tem como objetivo apresentar o conceito e as diferentes características da violência dom de violência no ambiente doméstico, são fundamentais para a realização de um diagnóstico pormeno do psicólogo, diante deste fenômeno, é uma ferramenta para o posicionamento deste profissional fren doméstica, trazer as características em suas diferentes manifestações e, por fim, apresentar os procedim

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DOMÉSTICA

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méstica contra crianças e adolescentes. Entende-se que a conceituação e a caracterização dos diferentes tipos orizado e precoce destes casos, bem como para a realização dos encaminhamentos necessários. O diagnóstico nte a esta problemática social. Dessa forma, este trabalho tem como proposta elucidar o conceito de violência mentos para os encaminhamentos nestes casos.

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questão da responsabilidade do profissional A psicólogo diante do tema da violência doméstica é algo complexo e prudente. Nos

“Princípios Fundamentais”, do código de ética desta profissão, consta a questão de sua responsabilidade quando se trata de violência, exploração, crueldade, etc. contra crianças e adolescentes (CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DO PSICÓLOGO, CFP, Art.2, 2005). Este código salienta a importância deste tema dentro da área dos profissionais da área da saúde, tendo em vista a responsabilidade social para com crianças e adolescentes. Dessa forma, os encaminhamentos de vítimas e agressores, devem levar em conta a aquisição de conhecimentos específicos sobre o tema, para que possam ser realizadas as intervenções necessárias.

O objetivo deste trabalho é realizar uma apresentação das diferentes manifestações de violência doméstica contra crianças e adolescentes encontrados na literatura. Concebe-se que o diagnóstico pormenorizado e precoce destes casos, é o primeiro passo para que se dêem os encaminhamentos. Dessa forma, tem-se em vista percorrer os conceitos e as características dos diferentes tipos de violência praticados contra crianças e adolescentes no ambiente doméstico, para que estas definições e caracterizações possam servir de ferramenta clínica, quando do diagnóstico de violência doméstica.

A violência doméstica é um problema universal que atinge milhares de pessoas, geralmente de forma silenciosa e dissimulada. Segundo a Unicef e o Ministério da Saúde estima-se que, diariamente, 18 mil crianças e adolescentes sejam agredidos por ano no Brasil; sendo as agressões dentro do ambiente doméstico, a maior responsável pela morte de jovens entre cinco a 19 anos de idade. (BALLONE e ORTOLANI, 2005) De acordo com os dados do Laboratório de Estudos da Criança (LACRI), nos últimos anos, a violência doméstica cresceu cerca de 1400%. (AZEVEDO e GUERRA, 2005) A situação deste tipo de violência é hoje concebida como um problema de saúde pública.

Atualmente existem políticas e instituições governamentais e não-governamentais que se dedicam à atenção da situação da criança e do adolescente vítima de violência doméstica, bem como programas de atuação sistemática junto às famílias e ao poder público. Pesquisas e estudos, de diferentes áreas do conhecimento, foram e são realizados acerca desta problemática, tornando possível uma leitura ampla e pormenorizados deste fenômeno.

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18 mil crian agredidos po CARACTERIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA Existem diferentes concepções de diferentes autores quanto às causas e características da violência doméstica praticada contra crianças e adolescentes. Isto se deve principalmente aos diferentes referenciais epistêmicos e às diferentes amostras das pesquisas realizadas pelos autores (população, idade, localização, etc.). Mas como definir o conceito de violência doméstica? De quê se trata quando se trata deste tipo de violência?

Para isso, partiremos da etimologia de violência e de vítima para que se possa buscar uma apreensão conceitual de violência no ambiente doméstico.

A palavra “violência” vem do latim, violentia, onde “vis” significa força que dá origem às palavras “vigor” (de vis, vita), “vitalidade” e “violência”. A violência define a qualidade ou o caráter de ser violento, ato ou efeito de violentar. É caracterizada

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nças e adolescentes são or ano no Brasil pelo poder exercido de um mais forte para com um mais fraco, em que há ausência do controle dos impulsos, da agressividade. (ANZIEU, 1998)

Tendo em vista esta introdução etimológica, o conceito de violência doméstica torna-se mais apreensível e complexo, pois se trata de uma forma específica de violência que ocorre dentro da própria Assim, os atos de coagir, violentar, constranger família. A violência doméstica praticada contra alguém, usar da força para a realização de vontades crianças e adolescentes é definida como toda próprias, definem a palavra de origem francesa, forma de ato praticado pelos pais ou responsáveis, “violentar”. As qualidades de ser “violento” (do que pode oferecer dano psicológico ou físico a latim, violentus) podem ser resumidas como as uma criança ou adolescente (daí a significação de atuações em que ocorre força, “algo intenso” contra “doméstica”). alguém. (LAROUSSE CULTURAL, 1998) Todas as formas de abuso, isto é, toda situação Já a palavra vítima (do latim, victma) define- em que um sujeito não tem condições físicas e/ou se pela característica da pessoa que sofreu algum psicológicas de suportar, deixam marcas no corpo tipo de prejuízo moral ou físico em detrimento de ou na subjetividade da criança e do adolescente. alguém ou de si mesmo, ou seja, quando a própria Trata-se de uma transgressão do dever/poder pessoa se coloca como vítima das circunstâncias. de um adulto, frente à situação da criança e do A situação de vitimização faz com que a pessoa adolescente enquanto sujeito de direito e enquanto perca o controle de uma situação, objeto ou sujeito em condição peculiar de desenvolvimento. comportamento. (SELOSSE, 1998) (LEI Nº 8.069, DE 13-07-1990) Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 11 | dezembro 2008

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MANIFESTAÇÕES DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA Para definir e caracterizar algumas das diferentes manifestações da violência doméstica selecionouse alguns autores específicos. Esta escolha esteve pautada na qualidade de publicações sobre o tema destes autores e por apresentarem maior domínio prático e/ou teórico sobre determinado tipo de violência doméstica. As manifestações mais comumente encontradas podem ser definidas e caracterizadas da seguinte maneira:

estes pais têm como objetivo que seus filhos satisfaçam suas necessidades VIOLÊNCIA FÍSICA De acordo com Azevedo e Guerra (2005) é considerada a forma mais comum de violência doméstica, chamada pelas autoras de “pedagogia negra”. É caracterizada pela punição repetitiva, como tapas, queimaduras, vassouradas, etc. Muitas vezes, o agressor não reconhece este tipo de trato como sendo algo prejudicial à vítima. As autoras salientam que estes pais têm como objetivo que seus filhos satisfaçam suas necessidades, sendo que, geralmente, as crianças são tidas como criadoras de problemas. Esta forma de violência é muito comum para com os filhos de ambos gêneros e podem trazer conseqüências físicas e psicológicas à vítima, como o uso de drogas, depressão, quadros de múltiplas personalidades e síndrome do Stress Pós-traumático.

VIOLÊNCIA SEXUAL DOMÉSTICA OU INCESTO De acordo com Azevedo; Guerra; Vaiciunas, (2005) e Cohen (2005), o incesto é a modalidade “mais extrema” de abuso sexual. Compreendem os atos de coação de abusos sexuais (exibicionismo, manipulação, coito, etc.) exercidas por um familiar ou responsável adulto.

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De acordo com Azevedo; Guerra; Vaiciunas (2005) e Cohen (2005), o incesto mais freqüente é entre pai-filha e seguido entre padrasto-filha, sendo que os outros membros da família são cúmplices silenciosas desta forma de violência. Para Cohen, o silêncio pode ter motivos conscientes ou inconscientes e devem ser entendidos como um sintoma de uma crise dentro da família, como uma forma de “regressão edípica ou pré-edípica”, fazendo com que as funções dos papéis dentro da família sejam modificadas. Como nos mostra o autor: Quando ocorre um tipo de relação incestuosa devemos considerar que as funções familiares são alteradas: o pai passa a ser marido, a mulher aceita perder a função de esposa e de mãe, e a filha deve também exercer a função de esposa e de mãe de suas irmãs. (COHEN, 2005, p.216) Segundo os autores citados, são conseqüências possíveis desta forma de abuso: gravidez, dificuldade de adaptação interpessoal, afetividade comprometida principalmente com figuras masculinas, dificuldades de adaptação sexual como masturbação exagerada, medo de ter relações sexuais, dificuldade de atingir o orgasmo, sexualidade precoce, dificuldade de adaptação afetiva como sentimentos de culpa, autocondenação, vergonha, idéias de suicídio, autoagressão, comportamentos anti-sociais, dificuldade de aprendizagem, problemas psicossomáticos, etc.

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VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA OU AGRESSÃO EMOCIONAL De acordo com Guerra (2004), Altoé (1990) e Cyrulnik (2005) compreende os atos de rejeição, depreciação, humilhação, desrespeito, intimidação, manipulação, ameaças diretas ou indiretas, fazendo com que o outro se sinta inferior, dependente e culpado. Este tipo de violência revela que ações ou omissões destinadas a degradar ou controlar ações, comportamentos, crenças e decisões da criança ou adolescente dificultam o desenvolvimento saudável da criança ou adolescente.

Segundo Ballone e Ortolani (2005) geralmente este tipo de violência está associado a agressões verbais como xingamentos ou através do silêncio. Segundo estes autores, este tipo de violência é tão letal como qualquer outra forma de agressão; sendo que deixam marcas psíquicas para toda a vida.

NEGLIGÊNCIA É quando os pais ou responsáveis pela criança ou adolescente, deixam de prover intencionalmente os cuidados básicos necessários à sua saúde e ao seu desenvolvimento. Abandono em lugares públicos, a privação de alimentos, de cuidados higiênicos (negligência material), atenção e amor (negligência psicológica), a doação ou venda da criança ou adolescente, caracterizam este tipo de violência.

(GUERRA, 2004)

o abandono real ou apenas psicológico dos pais, são alguns exemplos de negligência que muitas vezes passam despercebidos ou, novamente, negligenciados, pelas autoridades ou demais responsáveis. (KAPLAN, SADOCK e GREBB, 2003)

A negligência precoce é o nome dado ao tipo de negligência afetiva dos pais ou responsáveis para com recém-nascidos. Significa uma interação pouco afetiva ou indiferente entre mãe e filho numa A privação de alimentos, a ingestão de fase de desenvolvimento muito precoce que pode substâncias nocivas e tóxicas, a falta de higiene, interferir no desenvolvimento saudável da criança. de educação, de liberdade, de vestuário apropriado, (BALLONI e ORTOLANI, 2005, p.13)

SÍNDROME DO BEBÊ SACUDIDO SHAKEN BABY SYNDROME De acordo com Azevedo e Guerra (2005) e Balloni e Ortolani (2005), o termo foi cunhado em 1962, com os Drs. Kempe e Silveman dos EUA. Significa uma forma de violência física caracterizada por manifestações violentas de sacudir os bebês. Fraturas múltiplas em forma de espirais, supostas crises repetidas de apnéia, quando aparecem em bebês, podem indicar este tipo de agressão física.

Esta forma de violência pode levar a problemas orgânicos como convulsões, lesões na espinha, cérebro e globo ocular.

as crianças são tidas como criadoras de problemas Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 11 | dezembro 2008

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SÍNDROME DE MUNCHAUSEN POR PROCURAÇÃO MUNCHAUSEN SÍNDROME

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É uma das formas mais letais de violência contra criança e adolescente, sendo difícil o seu diagnóstico. Segundo Feldman (2004) em 1977, o inglês Roy Meadow publicou o primeiro caso de uma “nova forma de abuso”. Ele cunhou o termo de Síndrome de Munchausen por Procuração após o termo “Síndrome de Munchausen” ter sido cunhado por Asher em 1951. Asher denominou esta forma de Transtorno Factício em que o paciente finge e/ou fabrica sintomas em si próprio com o objetivo de ganhar atenção da equipe médica. O termo “Munchausen” tem sua origem nas histórias fantásticas do personagem Barão de Munchausen.

A Síndrome de Munchausen por Procuração designa um adulto, geralmente a mãe, que apresenta falsas histórias, fabrica sintomas sobre a criança ou o adolescente para receber atenção da equipe médica, o que faz com que os médicos utilizem procedimentos diagnósticos desnecessários que não resultam em um específico diagnóstico, sendo que, geralmente, acarreta a morte da criança.

ENCAMINHAMENTOS Nos dias de hoje, a questão da violência doméstica contra crianças e adolescentes, vem exigindo propostas de intervenção do Poder Público, das instituições governamentais e nãogovernamentais e dos profissionais da área da saúde, na proteção e defesa dos direitos estabelecidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (LEI Nº 8.069, DE 13-07-1990).

A denúncia, a proteção da vítima, o encaminhamento e o atendimento do agressor são fundamentais para que o ciclo da violência doméstica seja interrompido. As medidas de encaminhamento surgem quando os casos de violência doméstica são denunciados. A denúncia pode ser feita, preferencialmente, ao Conselho Tutelar como consta no artigo 13 do ECA ou em quaisquer outras instituições intermediárias, como polícia, Juizado, escola, disque-denúncia, etc., por qualquer adulto e/ou profissional que está lidando com a suspeita ou confirmação de violência.

(PEREIRA, 2004) Segundo Rangel (2005), no momento da denúncia, há a necessidade de um trabalho multidisciplinar entre diferentes áreas como o Direito, a Psicologia e a Assistência Social para que estes encaminhamentos possam ser efetivos. Estas diferentes áreas devem chegar a um consenso, avaliar os sintomas físicos e psicológicos da vítima para a emissão de laudos que têm como objetivo, a prioridade absoluta da criança ou do adolescente e averiguar a possibilidade da manutenção ou não do jovem dentro da família.

Dessa forma, o profissional, além de escutar a vítima, deve se ater à trama que envolve esta 32

problemática. Assim, o diagnóstico específico do caso é de suma importância para a realização de um laudo técnico que ofereça condições para que a criança ou adolescente vitimizado tenha prioridade de proteção. O estabelecimento criterioso na caracterização da forma ou tipo de violência (negligência, física, sexual, ou outro) é fundamental para que o profissional, junto às demais áreas, possa realizar o encaminhamento e procedimentos necessários à vítima.

De acordo com Azevedo (2002), Teixeira e Siaines (2004) podem existir as seguintes medidas de intervenção e proteção, que variam conforme a severidade de cada caso: “Manutenção dentro da família”, sendo que as instituições de atendimento e o Poder Público podem e devem auxiliar, em conjunto, às famílias quando questões financeiras são condições intrínsecas ao desencadeamento da violência, como no caso da negligência material.

O “Afastamento do abusador” que serve para a proteção da vítima e sua manutenção no próprio lar. A “Separação da vítima da família” que pode ser encaminhada para a “Hospitalização” ou “Colocação em Lar ou Família Substituta” como medidas últimas de proteção da vítima. A “Destituição do poder familiar” e a “Adoção” ocorrem quando os laços familiares estão estagnados ou severamente comprometidos devido à severidade do caso.

As modalidades de atendimentos terapêuticos devem ser avaliadas caso a caso e devem englobar, sempre que possível, os atendimentos familiares, de casal, individual e em grupo. Para a realização destes atendimentos, deve-se avaliar a duração, a época que ocorreu a violência e as condições e disponibilidades da família, do casal e da vítima.

(AZEVEDO, 2002)

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CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho teve como objetivo partir do “começo”. Assim, pudemos apreender que a violência doméstica é uma das manifestações da violência, caracterizada pela violação dos direitos que crianças e adolescentes têm: sua prioridade de proteção e de receber condições para o seu desenvolvimento saudável. Este trabalho teve como objetivo oferecer ao leitor as características principais das diferentes formas de abuso praticados contra crianças e adolescentes, de modo que o profissional, diante destes fenômenos, tenha ferramentas criteriosas para realizar um diagnóstico específico e, dessa forma, serem feitos os encaminhamentos.

Diagnosticar a especificidade da forma de abuso, nestes casos, pode ser decisivo para a vida de um sujeito. Proteger a vítima de uma violência dentro de quatro paredes, em que a testemunha é a própria vítima, é algo que coloca o profissional psicólogo frente a uma situação complexa. Dessa forma, existem inúmeros desdobramentos e questões específicas sobre este problema, como os procedimentos específicos em cada modalidade de violência, as causas da agressão e as consequências à vítima. Deixo estas, entre outras questões, em aberto, remetendo ao leitor ao começo deste trabalho: de quê se trata quando se trata deste tipo de violência?

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Dicionário de Psicologia. São Paulo: Ática, 1998.

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CYRULNIK, B. Lê sentiment incestueux. In: HÉRITIER, F. De l´inceste. Paris, Odile: Jacob, 1994.

ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (ECA). LEI Nº 8.069, DE 13-07-1990. São Paulo: Atlas, 1997.

GRANDE ENCICLOPÉDIA: Larousse Cultural. Vol. 24. São

Paulo: Nova Cultural Ltda.,1998.

KAPLAN, H. I.; SADOCK, B. J.; GREBB, J. A. Compêndio de Psiquiatria. 7º Ed. São Paulo: Artmed, 2003.

PEREIRA, T. S. da. O novo Código Civil e a violência intrafamiliar. In: PIZÁ, G.; BARBOSA, G. F. (Orgs). A violência silenciosa do incesto. Clínica psicanalítica da violência. São Paulo: Imprensaoficial, 2004.

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Ofensas Sexuais: estudo multidisciplinar. São Paulo: ABTOS, 2005.

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Dicionário de Psicologia. São Paulo: Ática, 1998.

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FELDMAN, M. D. Munchausen Syndrome. Disponível em: www.munchausen.com. Acesso em fevereiro de 2004.

AUTORA

Adriana Simões Marino (CRP 06/88256) Psicóloga formada pela Universidade São Marcos de São Paulo, mestranda em Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo (IPUSP). e-mail: adrianamsbp@yahoo.com.br

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Revista de Psicologia ATLASPSICO nยบ 11 | dezembro 2008

SEJA UM COLABORADOR DAS PRÓXIMAS EDIÇÕES 2009 DA REVISTA ATLASPSICO! DIVULGUE SEU TRABALHO AQUI! entrega de artigos e anúncios publicitários para edição n.12 até o dia 15 de janeiro 2009.

Edição n.12 está prevista para primeira semana de fevereiro 2009. Participe!

outras informações: editorial@atlaspsico.com.br

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PSICOLOGIA HOSPITALAR

ATENDIMENTO PSICOLÓGICO A PACIENTES COM

DOENÇAS CRÔNICAS NO CONTEXTO HOSPITALAR E AS REAÇÕES IATROGÊNICAS

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E

m primeiro lugar, considero relevante trazer uma explanação sobre o termo doença crônica para que o leitor possa situar-se: trata-se de doença não curável mas que pode ter seus sintomas e sinais amenizados por meio de cuidados específicos. A hipertensão e o diabetes são exemplos de doenças crônicas amplamente conhecidas e divulgadas atualmente.

Vale lembrar que é a doença que se cronifica, embora com a terminologia paciente crônico, incentivamos a pessoa a fundir-se em seu quadro clínico, compondo uma unidade que muitas vezes se fortalece e influencia seu funcionamento psíquico. É claro que lidar com uma patologia que irá acompanhar um indivíduo para o restante de sua existência não é algo fácil de aceitar e lidar.

Entretanto, é possível contribuir, minimamente que seja, para levar um paciente a refletir acerca da dimensão que este acontecimento tomou em sua vida. A prática hospitalar permite, a um profissional de psicologia, deparar-se com diversas situações de internação recorrente devido a doenças crônicas.

Diante disso, a atuação deste profissional gira em torno, basicamente, do estilo de vida, dos ganhos secundários, da adesão do paciente ao tratamento médico, bem como a influência da família e de outras pessoas próximas na estabilidade da saúde do paciente. Poderia discursar com mais profundidade sobre estes pontos básicos, porém não é o meu objetivo no momento. Gostaria de destacar outro aspecto da atuação dos profissionais da saúde: as reações iatrogênicas.

Este termo refere-se aos comportamentos ou distúrbios orgânicos desencadeados pela falta de manejo dos profissionais em interagir com as pessoas por eles assistidas. Por exemplo, se um paciente solicita a equipe em demasia para falar sobre suas dores e um dos seus membros infere que as dores são fruto da imaginação e

que o paciente é um caso psiquiátrico, não raro, será perceptível uma reação de raiva, apatia e/ou humor deprimido naquele indivíduo , o que por conseqüência pode resultar em pico hipertensivo, aumento do nível de glicemia, agravamento da dor, entre outros.

Trabalhar na assistência a pessoas com doenças crônicas exige do profissional de saúde um preparo e um manejo diferenciado. Neste contexto, o profissional de psicologia pode atuara junto à equipe, embora nem sempre seja uma tarefa fácil, a fim de conscientizá-la em relação a quanto a postura do profissional pode contribuir com a melhora ou piora do quadro clínico do paciente. O hospital é um ambiente atípico para aquele que fica internado e para seus familiares, suscitando, muitas vezes, em sentimentos de angústia, tristeza, insegurança, medo da morte, o que os torna mais sensíveis e frágeis. Com isso, a tendência a sentirem com mais intensidade as ações da equipe, aumenta. E se estas ações não forem acolhedoras e respeitosas a todo o sofrimento advindo da hospitalização, corre-se o risco de se potencializar as reações iatrogênicas.

Deste modo, o trabalho do psicólogo diante da doença crônica, pode, e em alguns casos deve, direcionar-se a mais de uma vertente. Além da atuação direta com pacientes e familiares, a atuação com a equipe também pode levar benefícios ao paciente mesmo que indiretamente.

Além do que, auxiliar na conscientização do colega também é uma forma de colaborar com o crescimento e maturidade profissional da equipe como um todo. Para finalizar, gostaria de frisar que para realizar este trabalho é preciso que o profissional psicólogo esteja apto para tal, não colaborando para que se manifestem reações iatrogênicas na equipe, no paciente ou nas famílias ao realizar uma intervenção. É importante considerar que enquanto membro de uma equipe de saúde, o psicólogo além de orientar, deve estar em constante auto-avaliação.

AUTORA

Maria Del Carmen Garcia Lima CRP 06/79045 Especialista em Psicologia Hospitalar pela Universidade São Marcos.

Atua nas áreas de treinamento, escolar, hospitalar e como docente em psicologia hospitalar. e-mail: delcarmengarcia@bol.com.br

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COMPORTAMENTO

APRENDENDO A DIZER NÃO

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uitos sabem, outros tantos não sabem, por isso vou dizer: Dizer SIM, quando a nossa vontade é dizer NÃO, faz um mal danado, pode criar stress, produz tensões no corpo e pode provocar, inclusive, sintomas físicos como dor de cabeça e enxaqueca. Sabia disso?!

Importante saber que não devemos dizer SIM, quando a nossa vontade é dizer NÃO. Via de regra, fazemos isso, por medo da crítica e da não aceitação ou por medo da reprovação do outro.

Precisamos entender que são falsas as concepções que dão sustentação à nossa incapacidade de dizer NÃO. A primeira é quando fazemos uma certa confusão entre rejeitar uma proposta com rejeitar a pessoa. Quando diz não, você diz não à proposta, ao pedido e não à pessoa que fez a proposta ou o pedido.

A segunda concepção é aquela onde você superestima a dificuldade do outro em aceitar o seu não ou a sua recusa.

Ledo engano pensar que todas as pessoas ficam insatisfeitas ao receberem um não a um pedido... uma recusa a uma proposta.

Receber uma recusa honesta, um não pertinente, deixa qualquer solicitante de bom senso, satisfeito.

O que cria desconcerto, desconforto e desilusão, é a falsa recusa, o sim forçado por algum receio.

Se quer dizer não, diga não sem receio, sem medo. Ninguém em sã consciência vai ficar trombudo com você, tenha certeza disso. Empurrar a decisão com a barriga, impondo ao solicitante o

esquecimento da proposta é que produz um mal estar danado.

Aprender a dizer NÃO faz parte do processo de crescimento e amadurecimento.

Precisamos aprender a dizer NÃO também aos filhos, ensinando-lhes a noção e a importância da questão dos limites.

Não é feio dizer NÃO. Como assumir a direção e o controle de sua vida, permitindo que os outros tomem decisões por você?

Que todos nós possamos aprender a dizer NÃO para valer. Com brevidade, sem arrodeios, educada e honestamente.

Entre nessa prática sem medo de rejeição.

Pratique dizer NÃO. Diga não e siga em frente sem medo!

Lembre-se de que viver dizendo SIM quando quer e precisa dizer NÃO, pode levar-lhe passo a passo a um amontoado de insatisfações e ressentimentos que, dentre outras conseqüências, pode tornar frágeis e até arruinar suas amizades e os seus relacionamentos.

Existem várias maneiras de dizer NÃO. Escolha a sua, mansa e calmamente...

Todas elas incluem a SINCERIDADE e o RESPEITO ao outro.

Quando você é sincero, o outro termina percebendo e se sentindo livre, sem mágoas e sem ressentimentos.

Que tal? Penso que vale a pena aprender a dizer NÃO! Vamos lá, juntos...

AUTORA Graça Moura CRP 11/03068, Psicóloga formada pela Universidade Federal de Pernambuco gracamoura4@hotmail.com

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CRONOGRAMA DA REVISTA ATLASPSICO PARA 2009 O Portal ATLASPSICO está empenhado em levar o melhor conteúdo da psicologia e da saúde até Você, seja acadêmico, Psicólogo, entre outras áreas. A nossa meta para 2009 é a publicação bimestral da Revista ATLASPSICO com artigos centrados na qualidade de vida do ser humano e animal. Para alcançarmos nosso objetivo e comprometimento com o meio científico, abaixo segue o cronograma do Projeto Editorial ATLASPSICO para 2009.

Contamos com a colaboração de todos os profissionais de todas as áreas científias e Universidades de qualquer lugar do Brasil e do Mundo!

Faça parte dessa equipe! Programe-se você também! Aguardamos sua participação em 2009!

Outras informações e acesso ao cronograma no link: cronograma.atlaspsico.com.br Revista de Psicologia ATLASPSICO. A Revista do Psicólogo. editorial@atlaspsico.com.br DATAS / PREVISÃO

EDIÇÕES ATLASPSICO/2009

STATUS

10 dezembro 2008 até 16 de janeiro 2009

Submissão de artigos e anúncios para edição n.12/fevereiro

02 a 09 fevereiro 2009

Publicação Edição n.12/Fevereiro

09 fevereiro até 13 de março 2009

Submissão de artigos e anúncios para edição n.13/abril

01 a 06 abril 2009

Publicação Edição n.13/abril

06 abril até 15 de maio 2009

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01 a 08 junho 2009

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08 junho até 17 de julho 2009

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10 agosto até 11 de setembro 2009

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01 a 05 outubro 2009

Publicação Edição n.16/outubro

05 outubro até 13 de novembro 2009

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01 a 07 dezembro 2009

Publicação Edição n.17/dezembro

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Olhe o quanto já produzimos pela Psicologia!

Podemos muito mais em 2009!

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PSICANÁLISE

A MINI-LOUCURA DO DIA-A-DIA "Que é a vida senão uma série de loucuras inspiradas”.

(George Bernard Shaw)

por Samuel Antoszczyszen Psicólogo formado pela Universidade Tuiuti do Paraná em 2003. Hoje reside e atua como psicanalista nos EUA. e-mail: samfeel@hotmail.com

S

egundo Erasmo de Rotterdam, pelo fato da loucura ser uma fraqueza humana “ela é um sutil relacionamento que o homem mantém consigo mesmo”. A partir do momento que o homem se apega a si mesmo, ele se ilude, surgindo então, o primeiro sinal da loucura. A loucura aparece como uma suposição para essa ignorância humana. Ela não diz respeito à realidade humana que o homem acredita existir.

Foucault diz em sua obra História da Loucura que “O conceito de loucura não existiu sempre, mas sim começou a se estruturar a partir do momento em que se criou a distância entre razão e nãorazão”. Profundamente embebido no centro do humano está o pavor da própria loucura. Esse pavor determina e permeia a consciência dos limites e dos contatos. A defesa contra a loucura é exercida com mais força por aqueles que são rotulados “loucos” pela própria sociedade. Estas são as pessoas que vão muito mais além para estabelecer a sanidade: o alucinado que insiste na realidade do que ele vê, o catatônico envolvido na desordem de seu corpo tentando atar a erupção de sua loucura, e o depressivo acreditando profundamente na futilidade da vida, e que toda a necessidade de sua loucura, não vai ser necessária ser exposta para ninguém.

Num grau menor, nós todos estamos no mesmo barco, desviando os contatos que podem nos levar à loucura. O medo da loucura tem que ser respeitado no desenvolvimento de contatos humanos, partindo como medida de segurança para manter a unidade mental e em parte devido ao medo que a loucura engendra, chamado de força anti-contato. Lembrando de que o que uma 40

pessoa experimenta, está muito perto da linha que divide o “EU” e o “OUTRO”, e o risco do “EU” o do “OUTRO” desaparecer em determinados aspectos é constante. Quanto mais uma pessoa se aproxima desta linha divisória, mais o medo de se perder no “outro” acontece, e é ai onde perdemos muitas vezes o senso de direção, desintegrando-se ou tornandose alienado para si mesmo. Vale lembrar aqui o Alienista de Machado de Assis em sua catalogação da loucura.

Para “se tornar” louco é preciso não ter noção da própria direção, e onde qualquer resultado passa a ser incerto, precisa-se experimentar a mais profunda perda de si mesmo dentro de um sistema.

Em uma proporção inferior, podemos citar o caso de alguém se sentir um bobo e agir de forma errada perante uma brincadeira ou um julgamento melhor de alguém diante de uma situação. Usando desse exemplo, podemos dizer que a pessoa que não vai resmungar sozinha, a pessoa que não toca ninguém, a pessoa que faz um pronunciamento, a pessoa que sorri constantemente para esconder a sua vergonha da pequena depressão, a pessoa que esconde a sua vergonha incomensurada do ato masturbatório, são pessoas que apontam para o medo de um ato de loucura. Para eles a loucura está na eminência de acontecer, quando o controle sobre si mesmo é perdido por alguns instantes. A perda sobre si mesmo às vezes pode ser realmente negativa, mas cabe aqui verificar se o medo é um mero anacronismo ou está se tornando uma real possibilidade de loucura.

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Alguém pode realmente temer que seu momento de “bobeira” irá se tornar num hebefrênico episódio, em outras palavras, se iria chorar, iria chorar para sempre, então resolve bloquear o momento de “bobeira” e a choradeira toda. O importante é entender aqui, que esses momentos de expressões, de manifestações de sentimentos sempre vão ocorrer em uma hora ou outra, como um importante aspecto da existência pessoal, e que isso estará dando apoio à manifestação e ao gerenciamento pessoal da vida e não necessariamente a um surto.

Estamos falando aqui claramente da resistência pessoal contra o contato, a exploração de si mesmo nos outros e suas conseqüências.

A vida não coopera tão facilmente conosco e temos que estar preparados para experienciar e aceitar ocasiões de confrontos em situações explosivas. Todos desenvolvem suas próprias vidas parcialmente de acordo com sua consciência e autoconfidência em gerenciar essas explosões. A razão por detrás da cautela será uma das determinantes do estilo de vida, do estilo de trabalho. O medo da experiência não é simplesmente caótico ou destoante com a realidade. A pessoa temerária irá sempre se mover de forma cuidadosa, medrosa, mas precisa estar atenta a possíveis erros de percurso e as dores causadas por sempre estar se movendo num caminho sem margens para erro.

Mas às vezes o que parece ser um caminho sem medo, é na verdade um caminho pré-determinado, muito bem traçado e com pouca margem para erro. Aqui a grande diferença entre pensar sem as margens de erro e realizar sem margens de erro, pode ser um caminho cheio de riscos para um, como pode ser uma imensa fonte de oportunidades para outro. No perder o alvo de algo, se ganha um novo problema.

O necessário suporte para esta mini-loucura pode vir de diferentes direções. Um seria o terapeuta, outro seria a segurança de que o movimento da pessoa em um não assimilado

comportamento – impensável – vai ser gradualmente suficiente para as necessidades individuais. A pessoa precisa saber que o limite do “EU” vai ser estendido sem riscos irreparáveis e que serão encontrados momentos de reflexão após o comportamento.

A pessoa pode nem precisar de uma análise pessoal do comportamento após o fato, mas se sente melhor sabendo que pode recuar assim que quiser. Aqui entramos na terceira possibilidade de ajuda na mini-loucura, que seria a consciência da possibilidade de recuar se tiver que recuar e se querer recuar mediante as variações de comportamento. É importante respeitar a auto-regulação e as escolhas pessoais.

Todos esses suportes podem funcionar, mas o pré-requisito suporte para arriscar contra a miniloucura é a coragem de enfrentar o “demônio” e uma profunda crença de que uma pessoa pode sair de uma situação com perfeita sanidade, por mais adversa que esta situação seja para o individuo. A pessoa que ri freneticamente descobriu a piada no mundo, ou a piada que o mundo pode se tornar.

Precisamos acreditar que as pessoas se embrenham em um grande raio de descobrimentos ao invés de perigo, que encontramos mais um companheiro ao invés de um inimigo. O depressivo pode entrar em contato com sua profunda tristeza, cheia de profundos e vívidos sentimentos ao invés de encarar os seus sentimentos apenas como um obnubilado estupor da depressão. A pessoa com medo de movimentos frenéticos pode descobrir que quando ela finalmente tenta o movimento não é varrida para um mundo árido dos infortunados sem qualidade de contato, mas no máximo pode se sentir exausta por tentar. A pessoa tentando uma “conversa de bebê” com o filho na frente de outras pessoas não irá necessariamente degenerar a personalidade em uma infantilidade incontrolada, e sim pode explorar os jogos de amor dentro de si mesmo.

Ad infinitum...Sanidade e unidade são mais facilmente exploradas numa vida vivida corajosamente do que entre os confins da segurança pessoal. Quando alguém é levado até a borda da personalidade do seu “eu”, um risco é a sua sanidade. Quando essa batalha é cancelada, uma pessoa pode estar confortável em sua posição retrograda, mas vai estar estagnado com certeza dentro de seu processo de amadurecimento.

Quando essa batalha é levada a sério e ocorre a vitória pessoal, a liberdade de espírito é nutrida.

Obras consultadas: Elogio da Loucura, Erasmo de Rotterdam.

História da Loucura, Michel Foucault.

Versões em inglês.

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PSICOLOGIA INFANTIL

FILHOS EM CASA

TRANQUILIDADE PARA QUEM?

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M

uitos pais e mães acham que seus filhos estão seguros e melhores dentro de casa. Não há duvidas que os perigos para uma criança ou adolescente no meio desta polissemia de violência, que assalta nossas ruas é muito grande. Será que realmente conhecemos quem fica com nossos filhos? Será que conhecemos de verdade o ambiente o qual eles ficam? O que eles fazem em casa?

A maioria das crianças e adolescentes fica em casa em frente a um computador ou televisão, assistindo a mexericos de babás ou submetidos a outras coisas, que nem sequer gostaríamos de imaginar...

Felizmente ou infelizmente a realidade socioeconômica não permite mais que mães e pais acompanhem todos os dias os afazeres de seus filhos, o que fazer então? Será que um celular que o monitore é suficiente? Como seu filho esta utilizando o seu tempo livre? Ora, brincar, conversar, ter acesso as novas tecnologias é algo bom e necessário, mas onde está o incentivo à leitura? As artes? Aos esportes?

Apesar de não estar o tempo todo presente não significa que os pais e mães não possam incentivar e ajudar seus filhos a desenvolverem o gosto pela cultura. A companhia de pessoas especializadas e que possam efetuar uma rotina recreativa para combater a bitolação da capacidade de pensar das crianças pode ajudar.

Os pais podem fazer também, programas que venham a incentivar a convivência familiar, promovendo assim um rico debate intelectual dentro do seio familiar fomentando assim a aproximação e o gosto pelo saber intelectivo.

Então se você esta muito preocupada com seu filho ou se ele não gosta muito de estudar ou tem aversão aos livros, quem sabe não seja a pouca valorização que tem sido dada como exemplo dentro de casa a essas coisas? Quantos livros você leu ou quantos cursos você fez este ano? Quantas vezes você incentivou seu filho ao conhecimento? Ora, as notas altas ou baixas na escola não garantem o amor pelo saber. O incentivo e a valorização dessas coisas é que demonstram o lugar que podem ocupar na vida deles. Então quem sabe, antes de levá-los ao play station no próximo final de semana, que tal pensar em ler com ele uma boa historia e debater de forma recreativa sobre o assunto? Ou então, antes de ligar a TV na hora das refeições perguntarem a seu filho se ele já ouviu falar de Budapeste, Picasso, Monteiro Lobato e esclarecer para ele que o computador e que o acesso as tecnologias podem oferecer muito mais que um joguinho em que ele já decorou. E que assim ele pode aprender também se divertindo! Ora, mostre a eles que o mundo e os habitantes que nele vivem, tem culturas variadas e que, são aventuras bem maiores e melhores que aquilo que se passa com os integrantes do RBD, ou com o mundo fantástico de Harry Poter, afinal: nossos filhos são encantadores mas não são mágicos e nem estrelas pop, serão provavelmente adultos como nós que precisam lutar pela sobrevivência.

Mostre isso á eles com muito amor e carinho para que não sofram desilusões desnecessárias mais tarde. Afinal nós, pais têm uma responsabilidade intransferível para com eles e que começa desde a fecundação!

AUTORA

Risolene Nunes de Souza – Psicologa – CRP 02/12114 Licenciatura em Filosofia na UFPE; Psicologia Clínica na Faculdade de Ciências Humanas da ESUDA, Especialização em Intervenção psicológica da Infância e da Adolescência na Faculdade Frassinetti do R-ecife (FAFIRE), MBA em Gestão de Pessoas pela Faculdade Maurício de Nassau. (em curso) Boa Viagem – Recife – PE e-mail: risolenesouza@hotmail.com Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 11 | dezembro 2008

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SERVIÇO ATLASPSICO.COM.BR

S.O.S SC por Márcio Roberto Regis | Editor ATLASPSICO | 27 novembro 2008

N

o momento em que elaborávamos essa edição, a chuva insistia em castigar o Estado de Santa Catarina e sua população.

Há quase dois meses chove sem parar na região.

Foi decretado estado de Calamidade Pública. Em entrevistas em redes de televisão, os bombeiros faziam apelo para todo o Brasil pedindo doações de alimentos e principalmente água, pois os flagelados estão com fome e sede. Nos hospitais, enfermeiras e profissionais da área da saúde pediam doações de sangue para atender a demanda nas emergências.

Além disso, a Defesa Civil de Santa Catarina pediu a ajuda de médicos voluntários e dinheiro.

A água poderá ser entregue na Defesa Civil dos municípios, além dos órgãos de segurança do governo estadual, como polícias Civil e Militar e Corpo de Bombeiros, segundo informações da FOLHA ONLINE. Até o final do dia 26 de novembro, foi divulgado um boletim apontando 99 mortos e 79 mil pessoas desabrigadas e muitos desses não têm onde morar.

Para outras informações e doações, acesse os links abaixo: http://www.clicrbs.com.br/diariocatarinense/jsp/ default.jsp?uf=2&local=18&section=capa_online http://www.clicrbs.com.br/especial/sc/sos-sc/home http://www.blumenau.sc.gov.br http://allesblau.net/

SOS Blumenau

Mostre que a solidariedade de nossa gente é maior do que os estragos da chuva.

Contribua com o SOS Blumenau doando água, alimentos não perecíveis, artigos de primeira necessidade, roupas, cobertores e fraldas descartáveis.

Faça sua doação de qualquer quantia nas contas (depósito/transferência): A) BESC Agência: 003-5 C/C: 400.000-3 B) Banco do Brasil Agência: 0095-7 C/C: 400.000-5 C) Caixa Econômica Federal Agência: 0411 C/C: 80.000-0 D) Bradesco Agência: 0333-6 C/C 2020-6 Favorecido: PMB – Calamidade Pública CNPJ: 83.108.357/0001-15 Para doar alimentos não perecíveis, roupas, cobertores, colchões, água e fraldas descartáveis: Fundação Pró-Família Rua Itapiranga, 368 (atrás do Galegão) Bairro Velha - Cep: 89036-230 Blumenau - SC Fone: (47) 3326-6972 Faça parte desta campanha.

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Parabéns à todos os voluntários, profissionais envolvidos, à Defesa Civil e ao Corpo de Bombeiros de todo o país e demais Oficiais pela ajuda às vítimas de SC! Desejo saúde e paz à esses e aos demais solidários!

Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 11 | dezembro 2008

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COLUNA ATLASPSICO

crescimento de 24 mil denúncias sobre páginas com nudez e sexo com crianças em relação à 2007.

I N T E R N E T

UMA REDE DE ARMADILHAS PARA CRIANÇAS Nas páginas anteriores pudemos apreciar ótimos artigos sobre a violência doméstica contra crianças e adolescentes. O abusador pode ser o próprio pai, o padrasto, parentes e vizinhos próximos á vítima e até mesmo empregados, funcionários da casa.

Quando existe alguma criança vítima de algum tipo de agressão, muitos pais nem sabem ou vão saber muito depois que essa violência já virou rotina da vida de seus filhos.

Mas será que essa violência só existe dentro de nossas casas? Seu filho/a só fica no quarto, protegida e conversando em softwares de mensagens instantâneas e atualizando seu perfil em comunidades de relacionamento postando fotos pessoais? Se as respostas foram “sim” para todas essas, você como responsável pela segurança dos seus filhos, está na hora de fazer algo para protegê-los.

Para se ter uma idéia como os crimes contra crianças e adolescentes crescem na internet, segundo a SAFERNET (uma organização não-governamental 1

com o objetivo de promover os Direitos Humanos na internet), apontou um crescimento de 24 mil denúncias sobre páginas com nudez e sexo com crianças em relação à 2007.1 Essa informação chama a atenção de pais e responsáveis para que medidas preventivas sejam tomadas na educação dos filhos da melhor forma possível. Coibir, impedir o acesso de crianças e jovens à internet não é a forma mais sensata, pois elas já nascem nessa Era. Os pais devem acompanhar a rotina virtual dos filhos, saber quem são os amigos virtuais e se correspondem aos amigos reais. Rede de relacionamento equivalem à riscos eminentes: comunidades revelam locais e rotina da criança e evitar ao máximo fazer do scrap um diário público.

Evitar colocar fotos de casas, placa de carros, fotos pessoais devem ser evitados ao máximo.

Com esses cuidados, você estará protegendo a integridade física do seu filho. O diálogo entre pais e filhos deve ser uma rede de comunicação constante para evitar ameaças externas.

Projeto de lei prevê punição para crimes virtuais. safernet.org.br | acessado 24.11.08

AUTOR Márcio Roberto Regis CRP 08/10156 |

Psicólogo Especialista em Psicologia Clínica Comportamental pela Universidade Tuiuti do Paraná 46

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RESERVE AGORA SEU ANÚNCIO PARA EDIÇÃO n.12! próxima edição está prevista para fevereiro/2009!

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Um NATAL muito mais humano!

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