MUSEU DA HISTÓRIA DA CIDADE DE SÃO PAULO — QUARTEL TABATINGUERA —
FIAM FAAM CENTRO UNIVERSITÁRIO
LUIS HENRIQUE ÁVILA DA CONCEIÇÃO
MUSEU DA HISTÓRIA DA CIDADE DE SÃO PAULO INTERVENÇÃO EM PATRIMÔNIO HISTÓRICO - QUARTEL TABATINGUERA
SÃO PAULO 2020
FIAM FAAM CENTRO UNIVERSITÁRIO
LUIS HENRIQUE ÁVILA DA CONCEIÇÃO
MUSEU DA HISTÓRIA DA CIDADE DE SÃO PAULO INTERVENÇÃO EM PATRIMÔNIO HISTÓRICO - QUARTEL TABATINGUERA
Trabalho Final de Graduação apresentado à banca examinadora do FIAM-FAAM Centro Universitário como requisito parcial a obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo, sob orientação do professor André Luiz Tura Nunes.
SÃO PAULO 2020
Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.
CONCEIÇÃO, Luis Henrique Ávila da Museu da História da cidade de São Paulo - Intervenção em patrimônio histórico: Quartel Tabatinguera São Paulo. FIAMFAAM – Centro Universitário, 2020. 108 Páginas Orientador: André Luis Tura Nunes Monografia (Trabalho Final de Graduação) | FIAMFAAM – Centro Universitário. Curso de Arquitetura e Urbanismo. São Paulo, 2020. 1. Trabalho Final de Graduação; 2. Patrimônio Histórico; 3. Quartel Tabatinguera. I. Nunes, André Luis Tura; II. FIAMFAAM – Centro Universitário; III. Curso de Arquitetura e Urbanismo.
LUIS HENRIQUE ÁVILA DA CONCEIÇÃO MUSEU DA HISTÓRIA DA CIDADE DE SÃO PAULO INTERVENÇÃO EM PATRIMÔNIO HISTÓRICO - QUARTEL TABATINGUERA
Trabalho Final de Graduação do curso de Arquitetura e Urbanismo sob orientação do professor André Luiz Tura Nunes. Deferido e aprovado em _____ de ____________ de 2020, pela banca examinadora constituída por:
André Luiz Tura Nunes FIAM FAAM / Orientador
Aline da Silva Escórcio Ribeiro FIAM FAAM / Professora
SÃO PAULO 2020
Gabriel Sepe Camargo Convidado
Dedico este trabalho a minha mãe, que sempre me deu forças pra continuar, que se preocupava e acordava de madruga enquanto eu fazia meus trabalhos, dizendo que eu precisava dormir para descansar, mas que principalmente, acreditou em mim.
INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .10 1.
2.
TEMA E CONTEXTUALIZAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 1.1. BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .13 1.2. ANÁLISE URBANA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .18 1.2.1 Região. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .18 1.2.2 Parque Dom Pedro II. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 1.2.3 Bairro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .29 1.2.4 Entorno Imediato . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 1.3 ANÁLISE DO TERRENO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42 1.3.1 O Quartel Tabatinguera. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .47 O PROJETO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .56 2.1 PROGRAMA ARQUITETÔNICO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .56 2.2 PARTIDO ARQUITETÔNICO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .63 2.3 CARACTERÍSTICAS CONSTRUTIVAS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72 2.4 PRANCHAS GRÁFICAS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .79 REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .105
INTRODUÇÃO
abrigo para moradores de rua, tornando-a uma àrea insegura à população.
Este Trabalho Final de Graduação (TFG), visa apresentar um projeto sobre a implantação de um museu na Cidade de São Paulo no edifício tombado, o Quartel do 2º Batalhão de Guardas, popularmente conhecido como Quartel Tabatinguera, datado aproximadamente do ano de 1842, situado no bairro Parque Dom Pedro II, região central da cidade.
A proposta para esse edifício é abrigar o Museu da História da Cidade de São Paulo, e este projeto tem como premissa trazer um novo uso para o local com ampla bagagem histórica, agre-gando ao conceito de revitalização e melhoria da qualidade da região. Neste trabalho, será possível compreender diversos aspectos teóricos e empíricos que abrangem o tema que justificarão a pertinência deste para a Cidade de São Paulo, comunidade científica e população geral.
O Parque Dom Pedro II foi escolhido por possuir edifícios históricos tombados e por ser uma região de potencialidade de lazer e turismo, localizado em uma área de zoneamento central, que são territórios destinados majoritariamente ao uso não residencial e sim a qualificação paisagística e espaços públicos e também a Zona Especial de Preservação Cultural - Bem Imóvel Representativo (ZEPEC-BIR), que tem o objetivo de conservar as edificações e elementos construídos em suas respectivas áreas de valor histórico, arquitetônico, paisagístico, artístico, arqueológico e cultural.
Dividido em duas partes, o primeiro capí-tulo contextualiza o leitor da proposta assim como o local de implantação da intervenção, já o segundo aprofunda-se no projeto em si e dispõe todas as suas características. Ao final, considerou-se que a implantação deste museu na região, trará maior revitalização, visibilidade e segurança ao local. Para a população, ter um espaço para refletir sobre o passado e a história da Cidade de São Paulo, de cultura e turismo, tornará percepções e estado de pertencimento.
Nos dias atuais, o Quartel Tabatinguera, situado nos arredores do Rio Tamanduateí, possui um cenário de abandono e degradação, com edifícios pichados e deteriorados, espaços verdes atuando como pontos de tráfico de drogas e 10
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1.TEMA E CONTEXTUALIZAÇÃO 1.1 Breve contextualização do tema
De acordo com a Constituição Brasileira (1988), artigo 216, o patrimônio cultural brasileiro é constituído por bens de natureza material e imaterial, empregados individualmente ou não, que retratam em grupos a importância histórica, artística, documental, cultural e religiosa do povo, sociedade e região, esses grupos são: I - as formas de expressão; II - os modos de criar, fazer e viver; III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; V - os conjuntos urbanos de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico (BRASIL, 1988). O Decreto-Lei nº 25, de 1937, que protege os bens no Brasil, define da seguinte forma o que é patrimônio histórico no seu primeiro artigo:
Os trechos mencionados, citam os motivos pelos quais a preservação e proteção desses bens são essenciais, já que ambos esclarecem questões de memórias históricas importantes para a sociedade e para o Brasil. Isso acaba nos trazendo peças da história, sendo uma importante fonte de pesquisa para diversas áreas do conhecimento, situado nas tradições, saberes, ou até mesmo um bem imóvel de importância significativa. Todos esses bens, estão relacionados a identidade do local e de seus ancestrais, ajudando a costruir uma sensação de pertencimento importante e compreendendo no que o passado possa ter influenciado o presente. Para Santos (2000), há atualmente um crescente interesse acerca do tema de identidade nacional, que remete a história e as memórias coletivas. São fundamentais esclarecimentos que abrangem a natureza das construções, no que se refere as construções simbólicas que não devem ser consideradas invenções ou imposições culturais, mas, resultado de diversos processos históricos singulares. Diversos autores retratam sobre a construção de uma identidade nacional, partindo principalmente do conceito de nacionalismo, que são fatores sociais e culturais inseridos nestas construções. Para tanto, é ideal que as entidades de
Art. 1º Constitue o patrimônio histórico e artístico nacional o conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico. (BRASIL, 1937).
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A partir da pesquisa e da visão crítica, a relação entre homem-objeto-espaço forma a memória e o patrimônio histórico. A documentação museológica, por sua vez, influência nas representações e reconstruções das informações do passado e fundamenta a história de uma sociedade e sua cultura. Em 22 de outubro de 1968, foi criado pela Lei Estadual 10.247, o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (CONDEPHAAT), que conforme citado no site do Conselho, é um órgão subordinado à Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, que desde 1968, tombou mais de 500 bens datados entre o século XVI e XX no Estado. Já para a Cidade de São Paulo, foi criado em 27 de dezembro de 1985, o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp), um órgão em conjunto com a Secretaria Municipal de Cultura. Ambos os órgãos tanto o estadual, quanto o municipal, têm como papel principal identificar, proteger e preservar os bens tanto do estado quanto da cidade.
proteção ao patrimônio estejam engajadas na proteção contra os danos e violação desses bens. Kother (2010 apud Paião 2010), define os danos causados ao patrimônio histórico como “uma página apagada de nossa história”, se referindo principalmente aos casos de bens descaracterizados, abandonados, violados, demolidos e não preservados. Para a autora, se perde muito quando as autoridades responsáveis por patrimônios históricos e culturais do Brasil não conseguem corresponder adequadamente à preservação de determinados prédios e monumentos. Segundo Paião (2010), as manifestações sociais servem para alertar aos governantes sobre a importância de conservar e manter esses patrimônios para a história do lugar e de sua população. Para a preservação desses patrimônios são criados diversos museus que aproximam a população da história e dos fatos passados. De acordo com Carlan (2008), na História, os museus são vistos como um importante instrumento que permite a sociedade produzir conhecimento acerca dos saberes históricos e científicos. Para o autor, não é o bastante somente guardar objetos, mas, a pesquisa permanente e um espaço de lazer e turismo, podem ajudar na manutenção e preservação dos objetos e fontes históricos.
São Paulo é a maior cidade do Brasil. Com 466 anos de história e acontecimentos, a miscigenação de seus povos trouxe características culturais
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impossível não passar em frente de diversos espaços culturais, museus ou até mesmo algum edifício abandonado, que são tombados pelos órgãos de proteção. O centro da cidade é rico em espaços de lazer, e esses pontos de interesses culturais, ajudam não somente a questão econômica, mas, principalmente a turística, trazendo espaços de convivência, reflexão, conscientização e educação.
e costumes que contribuem para o que ela se tornou atualmente. Todavia, com sua bagagem histórica e cultural, são poucas as iniciativas que remetem propriamente a preservar sua história. Para Gordinho (2010), na virada do século XX para o XXI, São Paulo possuía certa de 18 milhões de habitantes. Considerada uma cidade mundial, a Capital do Estado de São Paulo é provedora de muitos serviços, não sendo mais a maior capital industrial da Latino-América, mas sim, a maior metrópole destas. Como passar da primeira década do século XXI, houve uma preocupação maior com a recuperação de dados que abrangem sua história e, principalmente, novas maneiras de preservar e revitalizar os patrimônios históricos da Cidade, buscando então, nexos para o futuro. O então chamado Centro Histórico de São Paulo, engloba a área da capital do Estado que teve sua fundação em 25 de janeiro de 1554. Essa região é composta pelos distritos da Sé e da República, que são locais importantes para a história da cidade, partido do Pátio do Colégio, até a expansão da cidade. Nesse perímetro do centro riamente circulam pessoas com nos, seja a caminho do trabalho seus compromissos diários. Com
Dentro do distrito Sé, está localizada a região do Parque Dom Pedro II, onde se encontra o terreno e o edifício de intervenção deste trabalho. A região passou por diversas transformações desde sua origem como Várzea do Carmo, que ficava as margens do Rio Tamanduateí, até sua transformação para o Parque Dom Pedro II que conhecemos atualmente. A região do Parque Dom Pedro II possui edifícios tombados ativos, como o Mercado Municipal de São Paulo, o Catavento Cultural e Educacional; inativos, como a Casa das Retortas, além de diversos espaços públicos que possibilitam torná-la uma área de turismo e lazer, como a Zona Cerealista e a Rua 25 de Março, o maior centro comercial da América Latina; conta com fácil acesso ao transporte público, como o Terminal Rodoviário Parque Dom Pedro II, Estação do Metrô Pedro II e o Expresso Tiradentes.
histórico, diadiversos destiou para cumprir isso, se torna
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Na parte sul da região, está localizado o Quartel do 2º Batalhão de Guardas, conhecido popularmente como Quartel Tabatinguera, o edifício tombado datado aproximadamente em 1842, teve inúmeras utilidades até chegar ao Quartel de Guardas, ao qual leva o nome e hoje se encontra completamente abandonado com diversas patologias. Este projeto é pertinente para a cidade e bairro escolhido, pois, é através de iniciativas culturais e implementações desses pontos de interesse social e turístico, que se entende que a revitalização e cuidados essenciais como segurança e limpeza urbana, trarão maior qualidade de vida, lazer e cultura para a população. Implementar esse projeto na Cidade de São Paulo, trará também as pessoas, maior consciência da história e do passado, ressignificando assim as memórias da cidade.
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1.2 ANÁLISE URBANA 1.2.1 Região
Para a compreensão de escalas socioeconômicas na região, é preciso verificar quais os dados trazidos pela subprefeitura correspondente. O local estudado, pertence a subprefeitura da Sé, que é responsável pelos bairros Bela Vista, Bom Retiro, Cambuci, Consolação, Liberdade, República, Santa Cecília e Sé.
Mapa 1: Município de São Paulo, em destaque, Região da Subprefeitura da Sé
Segundo os dados demográficos dos distritos pertencentes às Subprefeituras, constantes no site da Prefeitura de São Paulo (2010), no período apurado, a Sé possui uma área de cerca de 2,10km ², uma população de cerca de 23.651 (em 2010) e densidade demográfica de 11,262 (Hab/km²). Por estar localizado em uma região central, se comparado a outras subprefeituras, percebe-se que a Sé possui uma ampla assistência no que se refere a educação, transporte público, assistência social, saúde e moradia para seus habitantes. A região recebe diariamente muitas pessoas em busca de empregos nos comércios e empresas que ficam no seu entorno. O distrito possui empresas e uma opção variada de empregos em todos os ramos possíveis, como comércio de varejo, confecção e serviços, além de possuir um dos maiores Poupa Tempos da Cidade. É na Sé onde se encontra um dos principais Centros Comerciais da Cidade, a Rua 25 de Março,
Fonte: Mapa elaborado pelo autor.
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que recebe diariamente inúmeras pessoas de todos os cantos do país e do mundo, e além disso, possui muitos comércios e é conhecida, principalmente, por vender produtos de baixo custo. Segundo o site Cidade de São Paulo, cerca de 400 mil pessoas passam por dia na principal Rua de compras da Cidade, chegando a possuir um movimento de cerca de 1 milhão de pessoas em datas comemorativas. A região é contemplada por um enorme complexo comercial e possui mais de 3.500 pontos de vendas. Na Sé, outras regiões também chamam a atenção quando se trata de compras, como o Mercado Municipal e Santa Efigênia. A região é contemplada por diversos meios de transporte que ligam toda a cidade, através de suas avenidas, estações de metrô e terminais de ônibus. Através da Avenida Tiradentes e Avenida 23 de maio, a Sé se conecta ao norte e sul da cidade e pela Alcântara Machado e Radial Leste, se conecta a região leste e oeste. Pela Avenida dos Estados é possível chegar às regiões da Grande São Paulo. Quanto ao transporte público há: os Metrôs Pedro II, Sé, Anhangabaú e São Bento, e os terminais de ônibus Parque Dom Pedro, Praça do Correio, Terminal Bandeira e Expresso Tiradentes.
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1.2.2 Parque Dom Pedro II
Segundo Herculano (2013), a região do Parque Dom Pedro II virou de grande brejo e depósito de lixo, um espaço de convivência e atualmente é um local de passagem e abandono. Antes a região era conhecida como Várzea do Carmo, onde o nome se dá pelo local que era inundado pelas cheias do Tamanduateí, e Carmo, por conta da igreja das carmelitas, Igreja do Carmo que também dava nome da ladeira, que hoje o trecho correspondente a conhecida Avenida Rangel Pestana.
Imagem 01: Vista da Várzea do Carmo a partir do Pátio do Colégio.
As margens do Rio Tamanduateí, era usada pelas lavadeiras e para o despejo de lixos e dejetos, e as enchentes causadas pelas cheias foi um problema muito grande a população da área, pois havia insalubridade na várzea, que traziam muitas doenças a população.
Fonte: https://sampahistorica.wordpress.com/2013/09/02/ de-varzea-do-carmo-a-parque-dom-pedro-ii/ - Acesso em Abril de 2020. Imagem 02: Várzea do Carmo
Existiu uma pequena ruela que margeava o rio e era chamada de Beco das Sete Voltas, isso porque o rio era formado por sete voltas. E em uma dessas voltas ficava um porto, onde recebia canoas cheias de mercadorias vindas das fazendas de São Caetano, São Bernardo, Ipiranga e por ser o mais movimento porte existente ali, a população passou a chamá-lo de Porto Geral.
Fonte: Arnaud Pallière (1821).
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Após décadas depois, vieram projetos de embelezamento da área, então em 1922 sai a então conhecida Várzea do Carmo e entra o Parque Dom Pedro II, que com suas alamedas arborizadas, tornou-se um importante espaço público para a cidade.
Imagem 03: Registro de Vicenzo Pastore, das margens do Tamanduateí, entre 1900/1910.
Imagem 04: Imagem do Parque Dom Pedro II, década de 1920. Fotografia tirada do Palácio das Indústrias.
Fonte: Acervo Instituto Moreira Salles
Em 1849 se iniciam as primeiras obras de retificação do rio, e acreditavam que eliminando as curvas do rio, esperavam-se melhor escoamento das águas, assim evitando enchentes. O beco e o porto durante até essa época, que na retificação virou uma rua, que passou a ser chamada de Rua de Baixo (pois ficava numa parte baixa da cidade) e em 1865, virou a conhecida 25 de Março (homenagem a primeira Constituição do Império, promulgada em 25 de março de 1824).
Fonte: Acervo do Museu da Imigração.
Em 1924, começaram a afirmar a importância da área para um local de convivência e negócios, assim sendo erguido o projeto de Ramos de Azevedo e Domizziano Rossi, o Palácio das Indústrias. Local destinado também a agricultura e a pecuária, como local de exposições na cidade de São Paulo,
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que atualmente é chamado de Museu Catavento.
banística para São Paulo naquele período, pois a cidade estava pensando a primeira vez em projeto de intervenção espacial que não visava apenas à região central, mas sim o plano num plano geral.
Imagem 05: O Palácio das Indústrias em postal colorido dos anos 20/30.
Imagem 06: Parque D. Pedro II (1970) - Vista área do Parque Dom Pedro II com destaques para o Palácio das Indústrias na parte inferior esquerda; o viaduto Diário Popular, bem como os Edifícios Mercúrio e São Vita (atualmente demolidos), bem como o rio Tamanduateí.
Fonte: Herculano (2013).
Em 1930, com o crescimento econômico e demográfico da cidade, a maioria das construções c oloniais/imperiais foram destruídas e a cidade acaba perdendo aos poucos sua característica “europeia”. É também nesse momento, que surge o Plano de Avenidas do engenheiro Francisco Prestes Maia que acabaria mudando muito a estrutura do parque.
Fonte: Arquivo Histórico de São Paulo (1970).
Nos finais dos anos 50 com a pavimentação da Avenida do Estado ao logo do Rio Tamanduateí já retificado e a criação de cinco viadutos, o parque sofreu grandes mudanças e teve sua estrutura
Este plano foi a principal proposta ur-
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alterada, pois quando mais se constrói e pavimenta, mais área verde é perdida. Em 1971, surge a estação de metrô Pedro II, e o terminal de ônibus, e vieram outras ideias do poder público, que foram degradando e acabando com aquela região existem. Percebemos o quanto foi degrada a área que inicialmente foi um espaço de bem-estar público, de permanência e lazer, para ser hoje um espaço de passagem e abandono.
De acordo com Julia (2019), a ocupação do Parque Dom Pedro passou por 3 etapas: a primeira quando o Rio Tamanduateí é o protagonista em relação ao crescimento da cidade, até final do século XIX, a segunda onde a cidade começa a se consolidar, e começa os processos de urbanização, não só na região do Parque Dom Pedro com a criação do parque, mas também as localidades do Centro Velho como por exemplo, Vale do Anhangabaú em meados do século XX, e por ultimo a realização das implementações de novos sistemas viários par a expansão da cidade, na década de 1950.
Imagem 07: Vista área do Parque Dom Pedro II.
O projeto urbanístico mais recente da região, foi proposto pelo escritório UNA em 2010. A proposta do projeto tem como premissa irradiar uma qualificação urbana para a região do sistema viário, era previsto um rebaixamento da Avenida do Estado, onde possibilitaria a demolição de quatro viadutos que atravessam o parque. Com isso, iria ocorrer construção de travessias de pedestres para melhorar a acessibilidade do local, pois atualmente é complicado a locomoção a pé pela região, não somente em questão de segurança, mas também pelas vias que acabam criando barreiras físicas. Com esses rebaixos, também era previsto a criação de espaços de estar como praças secas, decks, trabalhando com a topografia do local.
Fonte: VEJA SP, Bruno Niz (2018).
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Foi proposto a criação de uma integração de todos os modais existentes, que são a estação de metrô Pedro II, o terminal de ônibus e a estação do Expresso Tiradentes. Além disso, para a estruturação urbana, foi proposta novas edificações de uso público, como o Senac e Sesc, um edifício para ser um centro de compras popular, outros dois de uso residencial com uso térreo comercial, e uma torre para salas comerciais e escritórios.
Imagem 08: Implantação do plano de revialização do UNA, para o Parque Dom Pedro II.
Fonte: UNA Arquitetos (2010).
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1.2.3 Bairro
Como citado no item 1.2.1, segundo o site da Prefeitura de São Paulo, o bairro da Sé, está localizado no distrito da Sé, possuindo uma área de cerca de 2,10km² (2010), e abriga a Praça da Sé e o Parque Dom Pedro II. Dentro do bairro está o centro histórico da cidade, que abrange o então chamado “Centro Velho”, isso porque na formação da cidade, ela foi dividida entre Centro Velho e Centro Novo, marcado pela expansão da cidade com a construção do Viaduto do Chá, ligado ao que é hoje o distrito da República. Imagem 11: Representação da pequena cabana de pau a pique, onde os indios e os jezuídas, entre eles José de Anchieta, se reuniam com o intuito de catequizar os nativos.
A história do bairro está ligada diretamente a fundação da cidade de São Paulo, conhecida como marco zero onde em 1554, acontecia a primeira missa no povoado de São Paulo de Paraitinga por um grupo de jesuítas e entre eles José de Anchieta, que veio de Portugal onde tinha como missão catequizar os índios que ainda viviam na região. Com isso, a primeira construção na cidade, construída pelos jesuítas e índios, foi o colégio, antes o que era uma cabana de pau a pique foi ampliada para abrigar o colégio dos Jesuítas e posteriormente passou por uma reconstrução sendo atualmente conhecido como Pa-
Fonte: Departamento do Patrimônio Histórico
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teo do Collegio, que recebe diariamente turistas e acontecem eventos culturais. Próximo ao Pateo do Collegio, se encontra a Catedral Metropolitana de São Paulo, mais conhecida como Catedral da Sé, onde funciona como ponto de encontro da cidade, as escadarias recebem protestos e segundo o SPTUR (2017), a Catedral está entre os top 5 mais visitas da cidade pelos turistas.
Atualmente o bairro é um dos mais conhecidos pelos turistas, não só de fora do Brasil, mas também os próprios brasileiros, onde oferece diversos centros comerciais, bares, restaurantes, lugares históricos, pontos de encontro. Segundo os dados da prefeitura (2017), o bairro da Sé é o que possuí a maior quantidade de espaços culturais no Município de São Paulo.
Imagem 12: Pateo do Collegio atualmente
Imagem 13: Catedral Metropolitana de São Paulo, conhecida popularmente como Catedral da Sé, localizada na Praça da Sé.
Fonte: http://cidadedesaopaulo.com/v2/atrativos/pateo-do-collegio/ - Acesso em maio de 2020.
Fonte: https://www.saopaulo.sp.gov.br/conhecasp/pontos-turisticos/praca-da-se/ - Acesso em maio de 2020.
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A região se conecta com vários pontos da cidade e estado de São Paulo, através das avenidas: Avenida Tiradentes, Avenida 23 de maio, Alcântara Machado, Radial Leste, e Avenida dos Estados; e estações de metrô e terminais de ônibus, como: Metrô Pedro II, Metrô Sé, Metrô Anhangabaú, Metrô São Bento, Terminais de Ônibus Parque Dom Pedro II, Praça do Correio, Terminal Bandeira e Expresso Tiradentes.
A região da Sé é considerada um dos bairros com maior índice de criminalidade no Estado de São Paulo, conforme aponta a Secretaria de Estado da Segurança Pública de São Paulo em pesquisa realizada no ano de 2017 comparando o índice de criminalidade de todos os distritos do estado. A pesquisa aponta que o distrito da Sé em 2017 ficou em 4º lugar em índices de roubos no estado (registrando em média de 343 roubos por mês), em 2º lugar no estado com índices de furtos (média de 945 furtos mensais), 14º em lesões corporais (55 por mês em média) e ficou em 18º lugar no que se refere ao tráfico de drogas, com uma média de 6 registros policiais por mês no ano de 2017.
Mapa 2: Mapa da região, com destaque as avenidas e ao trnasporte público
Apesar de ser um ponto rico de história e espaços culturais, e bem servido de transporte e acesso, isso não o torna um local seguro. Um dos aspectos da área, é a presença de moradores de rua, usando algumas localidades como espaços de permanência, a praça da Sé por exemplo, é um desses lugares. É comum se pensar duas vezes antes de circular por esses lugares o que levar, como se comportar, justamente por não se sentirem seguras pela presença não só dessas pessoas, mas também como medo de serem roubadas, abordadas, entre outros. Fonte: Mapa elaborado pelo autor.
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Imagem 13: Praça da Sé - Barracas dos moradores de rua - Leo Martins (2017).
Fonte: VEJA SP, Léo Martins (2017).
Isso demonstra que apesar de haver inúmeros espaços culturais e opções de transporte (facilitando o acesso a esses equipamentos), isso ainda não é suficiente, pois, a região precisa de cuidado público. Não deixando de mencionar a região do Parque Dom Pedro II, área de intervenção desse trabalho ao qual será aprofundada no próximo tópico.
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1.2.4 Entorno imediato
Mapa 03: Região Parque Dom Pedro II e entorno imediato Fonte: Elaborado pelo autor.
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O edifício do Quartel Tabatinguera e o terreno estão localizados na região do Parque Dom Pedro II, após pesquisas e visitas ao local, foi possível ser feitas análises e observações do entorno do terreno. Se baseando na primeira entrega da disciplina que era “Análise do Entorno”, foi possível a elaboração desse item.
O terreno está inserido dentro de um nó viário, entre dois viadutos: o viaduto 25 de março e o da Radial Leste, onde também a sua frente se encontra uma das vias mais importantes de São Paulo, a Avenida do Estado, que junto com o Rio Tamanduateí causam uma barreira, ocasionando um isolamento da área e edifico tombado com o entorno, sendo que a melhor forma de chegar através do transporte público, foi pela estação de metrô Pedro II que fica ao lado, e existe uma passarela feita pelo metrô que dá acesso da estação, passando por cima da Avenida do Estação e da Rio Tamanduateí, ligando a quadra do terreno.
O mapa apresentado abaixo,destaca a região do Parque Dom Pedro II, assim como pontos de interesse e o transporte público presente no local.
Mapa 05: Vias presentes próximo ao local de intervenção
Mapa 04: Região Parque Dom Pedro II
Fonte: Elaborado pelo autor.
Fonte: Elaborado pelo autor.
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Um outro detalhe, é a infraestrutura do metrô, a linha 3 vermelha, tem parte do seu trecho passando acima da lateral do terreno. Começando da estação Bresser-Mooca, até a estação Pedro II, o trecho é feito por meios de viadutos, e da estação Pedro II, entra no subterrâneo, ligando a estação Sé, até a Marechal Deodoro.
Imagem 14: Rio Tamanduatéi e Avenida do Estado.
Como já citado, o terreno possui duas barreiras, a Avenida do Estado (barreira mecânica) e o Rio Tamanduateí (barreira física natural), passando essas barreiras, analisando o mapa de uso do solo e gabarito, foi possível perceber que que as edificações possuem um gabarito entre 7,50m à 15,00m de altura, sendo a maioria de uso misto, possuindo residência no andar de cima, e térreo comercial dos mais variados possíveis, desde bares, lanchonetes, estacionamentos, lojas, entre outros, para atender os moradores locais. Os edifícios com altura entre 15,00m à 22,00m de altura, acabam sendo os de uso residencial, em exceção da UBS Sé, que fica à frente do terreno tendo em torno de 20m.
Fonte: Foto de própria autoria.
Imagem 15: Vista do Metrô Pedro II, para o terreno.
Fonte: Foto de própria autoria.
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6 Edifício tombado - Quartel do 2º Batalhão de Guardas 7 Edifícios anexo 8 Assoc. de catadores de material reciclado - Nova Glicério 9 Descanso e depósito de materias - Garis 10 UBS Sé 11 Casa da Solidariedade
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MAPA 6: ANÁLISE URBANA ESCALA: 1:2500 LEGENDA: Uso misto - Altura de 0,00 à 7,50m Uso misto - Altura de 7,51 à 15,00m Uso misto- Altura de 15,01 à 22,50m Uso misto - Altura acima de 22,51m Rio Tamanduateí Fluxo alto (veículos) Fluxo médio (veículos)
Residêncial - Altura de 0,00 à 7,50m Residêncial - Altura de 7,51 à 15,00m Residêncial - Altura de 15,01 à 22,50m Residêncial - Altura acima de 22,51m
Eq. público - Altura de 0,00 à 7,50m Eq. público - Altura de 7,51 à 15,00m Eq. público - Altura de 15,01 à 22,50m Eq. público - Altura acima de 22,51m
Fluxo baixo (Pedestres) Fluxo médio (Pedestres) Fluxo alto (Pedestres)
Sensação de insegurança Concetração de moradores de rua
Institucional - Altura de 0,00 à 7,50m Institucional - Altura de 7,51 à 15,00m Trans. público - Altura de 0,00 à 7,51m Trans. público - Altura de 7,51 à 15,00m
Serviço - Altura de 0,00 à 7,50m Garagem - Altura de 7,51 à 15,00m Quartel do 2º Batalhãode Guardas - Altura de 7,51 à 15,00m Edifícios anexos - Altura de 0,00 à 7,50m
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No mapa 6, também destaquei o fluxo de pedestres, onde pode-se perceber que na região onde tem mais comercio (imagem 17), são as áreas com um número maior de circulação de pedestres, do que a região dentro do bairro, que é a parte residencial. Assim como na Avenida do Estado, a frente do terreno, por ser uma via de grande movimentação e expressa, a circulação de pedestres é pouca.
Imagem 16: Avenida do Estado Expressa e praça abandonado que serve como ponto de permanência dos moradores de rua
Na visita de campo, pude tirar algumas conclusões sensoriais sobre a região, no mapa em questão, destaquei as áreas verdes, e também que nelas a circulação de pedestres é pouca, que é causada pelo número de morados de rua que ficam no local usando não só como espaço de moradia, mas também como local de tráfico de drogas. Para chegar à passarela, existe uma passagem (imagem 18), que fica entre o terreno, e a praça, as vezes essa parte possui vendedores de bebida alcoólica, trazendo pessoas atrás desse consumo e por estarem bêbadas, ficam sentadas por lá mesmo, e inclusive usam o muro do Quartel para urinarem.
Fonte: Foto de própria autoria. Imagem 17: Edifício do Quartel Tabatinguera a esquerda, e a direita Avenida do Estado local e comercios local
Fonte: Foto de própria autoria.
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Andei pela região e fui até quatro pontos de interesse presentes ali próximo, o Museu do Catavento, o Mercado Municipal de São Paulo, a Zona Cerealista e o Sesc Parque Dom Pedro II, onde pude notar ao caminhar da estação Pedro II até esses lugares, que também existe uma certa insegurança pra área, acredito que justamente pela quantidade de moradores de rua que ficam embaixo dos viadutos para se acolherem, assim como a sujeira acumulada (imagem 19) ,e até mesmo pela atenção redobrada que se tem para não ser assaltado por lá. Entretanto, é mais movimentado que a parte sul do Parque Dom Pedro II, talvez por ter esses interesses culturais ativos até hoje, as pessoas por mais que tenham uma certa insegurança em frequentar esses lugares, eles não deixam de receber pessoas diariamente.
Imagem 18: Estado atual do caminho entre o lote de intervenção e praça lateral, para chegar até a passarela de acesso ao Metrô Pedro II.
Imagem 19: Caminho por baixo do viaduto
Fonte: Foto de própria autoria. Fonte: Fotos de própria autoria.
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Com visitas e análises pude perceber que pela permanência de moradores de rua, o mal cuidado desses espaços verdes, a quantidade de lixo e pessoas suspeitas no local, a sensação é de total insegurança, mostrando que o entorno do quarteirão do terreno, é um local totalmente de não permanência, mas sim de medo e apenas passagem rápida.
Imagem 21: Calçada generosa em frente ao Quartel Tabatinguera, descuidada e suja
Imagem 20: Sujeira e concentração de moradores de rua
Fonte: Foto de própria autoria. Imagem 22: xxxxxx
Fonte: Foto de própria autoria.
Fonte: Foto de própria autoria.
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1.3 ANÁLISE DO TERRENO
Situado no encontro das vias expressa e local da Avenida do Estado com a Rua Frederico Alvarenga encontra-se o terreno onde será implantado o Museu da História da Cidade de São Paulo, objeto de estudo deste trabalho. Com seus exatos 12.883,70m² de área, o local é dado como patrimônio histórico, tombado no ano de 1981 pelo CONDEPHAAT, devido a construção histórica presente no local que já abrigou diversas instituições porém ficou mais marcado pelo uso como Quartel do 2º Batalhão de Guardas, ou também mais popularmente, como Quartel Tabatinguera.
Situado no encontro das vias expressa e local da Avenida do Estado com a Rua Frederico Alvarenga encontra-se o terreno onde será implantado o Museu da História da Cidade de São Paulo, objeto de estudo deste trabalho. Com seus exatos 12.883,70m² de área, o local é dado como patrimônio histórico, tombado no ano de 1981 pelo CONDEPHAAT, devido a construção histórica presente no local que já abrigou diversas instituições porém ficou mais marcado pelo uso como Quartel do 2º Batalhão de Guardas, ou também mais popularmente, como Quartel Tabatinguera. O Plano Diretor Estratégico de São Paulo (PDE), de forma mais abrangente, especifica a área do terreno como “Área verde ou Parque”, contudo, a ZEPEC (Zonas Especiais de Preservação Cultural), descrita pelo PDE como a responsável pela “demarcação de áreas da cidade destinadas a preservação, valorização, e proteção de espaços culturais, afetivos e simbólicos, de grande importância e memória, identidade e vida cultural da cidade” e uma das diretrizes do zoneamento que se aplica a todos os bens tombados na capital, classifica o edifício assim como o terreno em questão como ZEPEC-BIR (Bens Imóveis Representativo), ao qual se refere a elementos construídos assim como toda sua área que possuam valor histórico, arquitetônico,
Tabela 1: Tabela de própria autoria.
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paisagístico, artístico, arqueológico e/ou cultural e que apresentem certo valor referencial para a comunidade na qual estão inseridos (Mapa 7).
esse e intenção de uso para o mesmo pois o tratam tanto como um espaço destinado a qualificação de uso público a sociedade, e também com o edifício tombado trazendo um novo uso ao já existente e sub utilizado além de adicionar um equipamento cultural para a região em que se localiza.
Mapa 7: Mapa de Zoneamento ZEPEC da Cidade (pontos vermelhos representam os edifícios BIR).
Mapa 8: Mapa geral de zoneamento
Fonte: Prefeitura de São Paulo, (2016).
Fonte: Prefeitura de São Paulo, (2016).
Além disso, segundo o mapa de zoneamento (Mapa 8), o lote está dentro de uma área chamada ZC (Zona de Centralidade), caracterizada como territórios destinados majoritariamente ao uso não residencial e sim a qualificação paisagística e espaços. Sendo assim, apesar de o terreno possuir duas classificações de zoneamento, podemos afirmar que ambas se complementam em seu inter-
A topografia do lote de intervenção do projeto, segundo dados topográficos disponíveis no Mapa Digital da Cidade (MDC), localiza-se entre duas curvas de níveis, 726,0 e 727,0, com desnível de um metro entre ambas e, tendo este, caída para a direção do Rio Tamanduateí. Existem pontos atuais de acesso para o Quartel em ambos os níveis, sendo a curva de nível 726,0
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o acesso ao pátio interno da edificação de frente ao rio, já na cota 727,0 localiza-se o acesso principal para o piso interno do edifício.
Imagem 23: Zoneamento bioclimático brasileiro
Analisando o terreno quanto ao clima, de acordo com Silva (2017) a cidade de São Paulo está localizada em uma zona subtropical úmida na classificação climática de Köppen-Geiger, essas regiões que possuem as estações bem marcadas, como verões muito quentes e úmidos podendo ultrapassar os 30ºC de temperatura e marcados pela presença de grandes volumes de chuvas, e invernos mais secos caracterizados pela presença de massas de ar frio que diminuem as temperaturas consideravelmente.
Fonte: NBR 15220-3.
Para zonas 3, as recomendações são: aberturas médias para ventilação e permissão de entrada de sol durante os meses de inverno; para as vedações externas, paredes leves refletoras e coberturas leves isoladas; para as questões térmicas, no verão recomenda-se ventilação cruzada e paredes internas pesadas (inercia térmica.
Foi consultada, também, a norma NBR 152203 (Desemprenho Térmico de Edificações), para se realizar um estudo climático da região, nela estão descritas diretrizes construtivas para cada Zona Bioclimática Brasileira assim como as estratégias de condicionamento térmico para cada uma delas. Segundo o mapa de zoneamento bioclimático brasileiro (imagem 23), a cidade de São Paulo se enquadra na zona 3.
Relacionado ao seu passado histórico como parque, a região do Parque Dom Pedro II ainda possui grande volume de áreas verdes arborizadas que podem ajudar a trazer espaços de estar e conforto, no terreno de estudo,
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devido ao estado de abandono do edifício ao longo de diversos anos, foram crescendo árvores e vegetações diversas não somente dentro do pátio interno, mas também na calçada em frente à Avenida do Estado que denotam o estado de má conservação do edifício, que poderão ser utilizadas no desenvolvimento do projeto.
Diagrama 1: Estudo Solar
As recomendações da Norma Brasileira 152203 serão os parâmetros de consideração durante o desenvolvimento do projeto em questão e, além do desempenho térmico por conta das sugestões de espessura de paredes e vedações, ajudarão também no momento de planejar o estudo acústico do local, principalmente devido ao entorno possuir grande fluxo de veículos e, com isso, ruídos que podem prejudicar a visitação ao local. Foi feito um estudo de insolação, a partir no solstício de inverno (9h00, 12h00 e às 16h00), e no solstício de verão (6h00, 12h00 e às 16h00). Devido ao entorno não possuir tantos edifícios altos nas proximidades, não causa sombra no quartel, entretanto existem vegetações, principalmente no pátio interno, portanto, as sombras internas podem sofrer alteração. Fonte: Croqui elaborado pelo autor.
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1.3.1 O Quartel Tabatinguera
De acordo com a ficha de tombamento feita pelo CONDEPHAAT:
Imagem 24: Quartel de Guarda Cívica da Capital (1907)
“O prédio é datado de 1842, foi sede da chácara do Fonseca até 1859, quando a Fazenda Provincial o adquiriu, para ser instalado o Seminário das Educandas. Em 1862 foi transferido para aquele prédio o Hospício dos Alienados, que lá permaneceu até 1903. Em 1906 ali foi instalado um quartel, que atualmente mantém uma parte do Batalhão de Guardas da Segunda Região Militar do II Exército.”
Como citado na ficha de tombamento e, também, segundo Julia (2019), o Quartel passou por vários usos desde a sua fundação. iniciado como Chácara do Fonseca, pertencente ao cirurgião Domingos da Fonseca Leitão, foi posteriormente adquirido pela Fazenda Providência em 1859 para ser transformado no Seminário das Educandas, que ficou por pouco tempo ocupando o local por conta de estar localizado as margens do Rio Tamanduateí, já que a umidade trazida pelas águas e as más condições de saneamento da época tornavam as condições mais propícias ao surgimento de doenças contagiosas e consequentemente, adoecendo as moças ali residentes. A época ainda o rio também era frequentado por inúmeras embarcações dominadas por figuras masculinas, que acabavam por se distrair pela existência do
Fonte: http://www.saopauloinfoco.com.br/o-quarteltabatinguera/ - Acesso em junho 2020. Imagem 25: Quartel Tabatinguera atualmente
Fonte: Foto de própria autoria.
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seminário
e
interagiam
com
as
educandas.
Imagem 26: Planta da capital da província de São Paulo (1877).
Posteriormente, em 1862, o edifício tornou-se o Hospício dos Alienados, contradizendo os motivos do abandono do local pelo Seminário das Educandas, porém segundo medidas políticas médicas da época o local, muito bem arejado, era recomendado para a instalação de hospitais. Já em 1870, ainda como residência para o hospital, o edifício passou por uma grande reforma de ampliação, objetivando essa a criação de uma nova ala para a separação de pacientes especiais. Conforme observa-se na figura abaixo (Imagem 26) o edifício era formado por um único corpo de aspecto colonial, com planta retangular e dois pavimentos, construído em taipa de pilão e alvenaria de tijolos. Posteriormente foi construído um corpo lateral (Imagem 27 e imagem 28 ), e depois desse um outro na face oposta ao primeiro, como mostrado na Imagem 29, formando um “U”, aberto para as margens do Rio Tamanduateí.
Fonte: Arquivo Histórico Municipal, 1877. Imagem 27: Planta da Cidade de São Paulo (1881).
Fonte: Arquivo Histórico Municipal, 1881.
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Em 1903, devido aos problemas de insalubridade, o local deixar de ser Hospício, transferindo os pacientes para Juquerí, onde atualmente é Franco da Rocha, e o edifício passar a ser do Estado. Seu uso mudou novamente, agora para abrigar o almoxarifado da Secretaria da Justiça e Quartel de Guarda Cívica da Capital. Para isso, alguns anos depois, assim como demonstrado pela Imagem , uma nova construção foi realizada no local, transformando o existente pátio aberto para as margens do rio a um grande retângulo com um pátio fechado central.
Imagem 28: Planta da Capital do Estado de São Paulo (1890) .
Fonte: Arquivo Histórico Municipal, 1890.
Imagem 30: Guarda civica no Quartel, 1905.
Imagem 29: Planta Geral da Capital de São Paulo (1897)
Fonte: Centro Integrado de Apoio Patrimonial da Polícia Militar Fonte: Arquivo Histórico Municipal, 1897.
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Ao analisar o processo de tombamento do edifício, é dito que essa nova construção não se integra perfeitamente às demais, quebrando totalmente a harmonia do conjunto, e sendo construída em alvenaria de tijolos.
marcante tom bege que dava característica a construção do local, advinda esta do cal utilizado que era retirado das margens do Rio Tamanduateí, foi alterada para branco e azul, perdendo algumas de suas características originais.
Imagem 30: Mapa SARA BRASIL SA (1930).
Em 1970, ano este da abertura do processo de tombamento do edifício pelo CONDEPHAAT, muda-se para 2º Batalhão de Guardas. Mais uma vez, assim como ocorrido anteriormente, o edifício original recebe novos anexos conforme demonstrado na imagem abaixo (Imagem 31) para se adaptar aos seus diferentes usos. Imagem 31: Mapa GEGRAN, 1973.
Fonte: GeoSampa, 2016.
Já no ano de 1964, o edifício altera o seu uso pela quarta vez, e transforma-se no 7º Batalhão Cia de Guardas. Vale destacar aqui que, quando o edifício alterou seu uso de almoxarifado para Batalhão, a sua coloração em
Fonte: GEGRAN.
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No ano de 1992 torna-se nova sede para o Batalhão da Polícia de Choque do Estado, que ali permaneceu até 1996. Após esta data o local não apresentou mais uso específico para nenhum de seus edifícios ou anexos construídos no decorrer dos anos, até que em 2012, a Secretário da Segurança Pública cedeu parte do terreno para a ONG Nova Glicério, que ali construiu uma sede para estimular a prática de esportes e atividades recreativas em jovens e crianças da região e conseguir afastá-los da criminalidade.
Cento e vinte e oito anos após a sua construção, no ano de 1970 quando o local abrigava o 2º Batalhão de Guardas, foi iniciado o processo de tombamento do edifício do Quartel, com o objetivo de ali se instalar o Museu Militar de São Paulo, assim como a Fábrica da Cultura. No processo de tombamento nº 21740/1891, existe um relatório de visita datado do ano de 1968 dizendo que, pela localização próxima ao centro da cidade de São Paulo, as dimensões de suas salas, corredores e pela impressão de nobreza da edificação como um todo, o prédio, uma vez que devidamente restaurado, serviria para a instalação de um ou mais museus de história, folclore e tradições de São Paulo. O processo pontua também a carência de museus na cidade de São Paulo naquele determinado momento e utiliza a justificativa de suprir essa falta para alterar o uso do edifício para público cultural. Atualmente o processo de tombamento do edifício já foi finalizado pela CONDEPHAAT e o mesmo possui nível de proteção total (N1) estando sob controle e preservação do governo do Estado de São Paulo.
Imagem 32: A esquerda da foto, Quartel Tabatinguera, e a direita, campo e sede da Comunidade Nova Glicério
Fonte: Google Earth.
Em 2012, o então governador do estado Geraldo Alckmin, anunciou a retomada do projeto de recuperação do quartel para se tornar um com-
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que afirmava que os edifícios foram feitos em taipa de pilão, e somente a última construção, fechando o conjunto que tinha um formato em “U”, era de alvenaria de tijolos, o levantamento feito constatou que poucas paredes são de taipas, tendo o edifício a mistura de diversas técnicas como taipa de mão e adobe, mas a maioria de suas paredes, principalmente as externas, são de alvenaria autoportante, e não taipa de pilão como mencionada no documento do tombo.
plexo cultural, com o Museu da PM e uma Fábrica de Cultural, mas nada saiu de fato do papel. A ideia da criação do museu foi abandonada quando, em 2013, iniciou-se uma licitação para restauro do Quartel, por meio do Centro Integrado de Apoio Patrimonial da Polícia Militar (CIAP), com o objetivo de instalar ali a Sede do 45º Batalhão da Polícia Militar, assim como um Centro de Treinamento para os militares. Por diversos anos houveram inúmeras tentativas das mais diversas frentes para se dar um novo uso ao local, que atualmente contando desde 1996 totalizam 24 anos sem uso, porém que nunca avançaram e se consolidaram, isso mostra, em partes, o descuidado não somente com a preservação da manutenção estrutural do edifício, que é um dos prédios mais antigos da cidade e está atualmente se desintegrando aos poucos, mas também o descuidado e desinteresse geral com a preservação e manutenção da história da cidade.
Imagem 33: Estado atual de conservação.
Em 2014 o CIAP contratou o Estúdio Sabará para realizar um estudo no edifício para execução do restauro, identificando patologias e materiais por meio de prospecções, levantamento fotográfico entre outros meios de detecção. Diferente do que se imaginava anteriormente, e também do processo de tombamento do CONDEPHAAT
Fonte: Foto de própria autoria.
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Diariamente um grande número de pessoas passam pelo local e observam o cenário de degradação e ruínas, a região por sua grande potencialidade de abrigar um eventual “circuito cultural” representando a imagem da cidade por conta dos equipamentos culturais já presente no local está abandonada e vai se perder aos poucos ainda que seja um local tombado e de riqueza histórica imensa.
Imagem 34: Entrada presente na via local da Avenida do estado
Imagem 36: Pátio interno já tomado pela vegetação
Fonte: CIAP, 2010. Imagem 35: Fachada externa, via local da Avenida do Estado
Fonte: CIAP, 2010. Fonte: CIAP, 2010.
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Imagem 37: Ruinas dos edifícios anexos
Fonte: Foto de própria autoria.
Imagem 38: Pátio interno
Fonte: CIAP, 2010.
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2.O PROJETO
2.1 Partido arquitetônico
Diariamente um grande número de pessoas passam pelo local e observam o cenário de degradação e ruínas, a região por sua grande potencialidade de abrigar um eventual “circuito cultural” representando a imagem da cidade por conta dos equipamentos culturais já presente no local está abandonada e vai se perder aos poucos ainda que seja um local tombado e de riqueza histórica imensa.
A Região do Parque Dom Pedro, área de localização do terreno, ainda que de grande importância estratégica para a cidade por estar situada em um local central e de conexão entre as demais áreas, se encontra em quase completo abandono. Devido ao fácil acesso seja por meio das vias que a circundam, como por exemplo a Av. dos Estados e o Corredor LesteOeste, ou também pelo transporte público existente na região, o Parque Dom Pedro se tornou local de passagem mas não de permanência, com isso, ainda que a zona seja rica de equipamentos e potencial cultural, atualmente são poucos os locais que agregam positivamente a região em si.
Imagem 40: Vista aérea de implantação atual
Não diferente do exposto acima encontra-se a situação do Quartel Tabatinguera, local de estudo e intervenção deste trabalho que tem a intenção de transformá-lo no Museu da História da Cidade de São Paulo, que atualmente encontra-se completamente murado e em um avançado estado de abandono tanto da edificação em si quanto de todo o seu entorno já dominado por vegetação. Um dos principais pontos de acesso ao terreno, a estação Pedro II da Linha-3 Vermelha do Metrô de São Paulo, está conectada ao lote por meio de uma passarela, localizada no mesmo lote da intervenção, porém a falta de manutenção da praça que a abriga fez
Fonte: Google Earth.
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com que o local se tornasse ponto de permanência para moradores de rua, que também pela falta de fiscalização dominam todo o entorno do bairro, além de local para troca e venda de produtos. Após as análises realizadas, não somente na região como também do lote e do imóvel tombado, foi possível alcançar as premissas do projeto e a intervenção como um todo, que visa principalmente transformar o local apenas de um espaço de passagem e circulação de pessoas, para um ambiente de permanência e lazer.
Seguindo a diretriz do projeto de integrar o lote a área de implantação, levando em conta a extensa quadra e também pelo imóvel mantido estar localizado no centro desta, a intenção é de, ao remover as barreiras que atualmente circundam o edifício, proporcionar fluidez na circulação de pessoas, permitindo ao próprio visitante criar a sua jornada interna no lote, não limitando a um fluxo único de circulação, e também possibilitando a transposição de uma via a outra que margeiam o terreno sem necessariamente circundá-lo pela calçada externa.
Como mencionado no item 1.3.1, os edifícios anexos foram construídos de acordo com as adaptações a necessidades de uso em outros momentos anteriores, além de seguirem uma linguagem diferente da edificação principal, descaracterizando a unidade do todo e não possuindo valor histórico para o mesmo, sendo assim decidiu-se por retirar os anexos existentes mantendo somente o edifício tombado no lote, como mostra o diagrama 2. Retira se também o volume que foi construido fechando o que antes havia um pátio aberto ao Rio Tamanduateí, de acordo com o processo de tombamento, ele descarecteriza a linguagem do edifício tombando, e neste lugar será construido uma nova estrutura com uma nova função que será aborada mais a frente.
Diagrama 1: Diagrama de remoção dos anexos e muros
Fonte: Elaborado pelo autor, 2020.
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Ainda visando aprimorar os fluxos existentes no local, a integração do lote a quadra através da remoção dos muros trará revitalização a praça lateral que hoje encontra-se má utilizada e caracteriza-se apenas como ponto de passagem entre as vias local e expressa da Avenida do Estado, permitindo assim criar um fluxo direto entre a passarela que cruza o Rio Tamanduateí e dá acesso a estação do Metrô com o lote de intervenção.
Diagrama 2: Diagrama de conexão
O projeto também busca conectar-se socialmente a Comunidade Nova Glicério, situada no terreno ao lado do local da intervenção, promovendo a conexão entre os lotes e permitindo assim que as tarefas sociais gratuitas que já acontecem atualmente no local possam se integrar também a nova edificação gerando assim novas possibilidades de atuações em tais eventos e tarefas e dando, não somente as crianças e aos jovens residentes do local uma oportunidade de afastá-los das ruas, mas a todos os moradores do local um ambiente mais bem aproveitado e revitalizado para o seu cotidiano.
Fonte: Elaborado pelo autor, 2020.
Se tratando de implementar a fluidez no terreno, foram removidos todos os anexos construídos ao longo das transformações históricas do edifício e mantido somente o lote principal e mais antigo. Com as remoções em questão e respeitando os parâmetros de ocupação da lei nº16.402/2016 mencionadas na tabela 1 do item 1.3, foram feitos estudos para a implantação de um novo edifício anexo, este propriamente explicado futuramente ainda neste estudo, focado em aprimorar as necessidades do programa do projeto em adição as instalações já disponíveis para tal,-
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considerando
o
projeto
como
um
todo.
Entretanto, esta foi refutada pois a forma com que a edificação anexa foi implantada no terreno fragmentava a circulação do mesmo, fazendo com que o visitante que acessasse o lote pela via local da Avenida do Estado tivesse ou de passar por uma estreita via entre os dois edifícios ou circundar esse para ter acesso pelo lado oposto, não respeitando uma das diretrizes do projeto de integrar o terreno, além, também, de não estar em harmonia com a edificação existente por estar implantado em direção perpendicular ao edifício tombado existente.
Após estudos sobre a melhor forma de interação entre dois edifícios no lote existente, chegou-se a uma primeira solução onde o edifício anexo era composto por um grande volume retangular implantado com o lado maior voltado ao Rio Tamanduateí, conectado a edificação existente por uma única passarela. Diagrama 3: 1º estudo de implantação
Foi proposto ainda uma segunda implantação de edifício anexo, este em formato de “T”, porém de caráter mais longitudinal do que o anterior, apresentava melhor integração com o edifício já existente, conexão por meio de duas passarelas ao invés de uma única e ainda permitia a criação de uma praça entre as duas construções. Ainda que o projeto em questão cumprisse a maior parte das diretrizes implementadas para o projeto, o formato do edifício anexo fazia com que se criassem núcleos de circulação, criando praças isoladas, ao invés de um fluxo contínuo e integrado.
Fonte: Elaborado pelo autor, 2020.
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perpendicular ao edifício já existente, mantendo assim seu caráter longitudinal, dando ao prédio um esbelto volume retangular e criando um grande e conectado espaço de circulação em ambas as extremidades do terreno assim como na conexão entre ambos, permitindo que o próprio visitante guie o seu caminho pelas instalações.
Diagrama 4: 2º estudo de implantação
Diagrama 5: 3º estudo de implantação
Fonte: Elaborado pelo autor, 2020.
A última, e solução mais contundente, encontrada para o projeto aperfeiçoa os pontos já resolvidos pela segunda, como a integração entre os edifícios por passarelas, a criação de um ambiente de convivência entre ambos assim como a interação orgânica entre o novo e o já existente, e soluciona a questão da circulação no lote de implantação com uma simples mudança a fim de evitar a fragmentação e criação de ambientes desconectados: a remoção da parte
Fonte: Elaborado pelo autor, 2020.
Após definição da implantação do edifício anexo ao lote precisava-se vencer o desnível de um metro presente no local, porém sem per-
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Após estudos de implantação, e escolha do partido, levando em consideração os dados urbanisticos, chegou aos seguntes números:
der o caráter de integração e unidade buscados ao terreno. Para tal foi definido primeiramente que, para que ambos os edifícios pudessem ser integrados de forma harmônica o nível térreo do prédio anexo estaria no mesmo nível que o andar térreo da edificação tombada e a conexão, via passarelas, seria feita através do primeiro pavimento de ambos os edifícios. Quanto ao terreno em si, as curvas de níveis foram suavizadas com a utilização de escada e rampas conectando diferentes cotas do lote, permitindo assim uma integração maior sem a necessidade de grandes alterações de nível que pudessem prejudicar a visão do terreno como um conjunto.
Tabela 2: Tabela de índices urbanísticos adotados
Fonte: Elaborado pelo autor, 2020.
Diagrama 6: Corte esquemático
Fonte: Elaborado pelo autor, 2020.
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2.2 Partido arquitetônico 63
2.2.1 Quartel Tabatinguera
Adequou-se o programa de maneira a remover ou alterar o menor volume possível de paredes da construção, optando aqui somente pela remoção da parte adicionada posterior (diagrama 7) a construção original que descaracterizava a unidade do mesmo e sua unicidade, fazendo com que seja uma nova estrutura, servindo como um ponto de articulação e ligação entre os dois braços do edifício.
Devido ao processo de tombamento do quartel, o edifício em questão não poderia sofrer mudanças significativas, por isso, o foco principal da intervenção foi solucionar as patologias constatadas atualmente na edificação, fortalecer a estrutura já existente através da adição de sistemas suplementares de estruturação, a fim de manter ao máximo a forma original do edifício.
O programa para o edifício já existente no lote foi pensado de forma que os espaços atendessem, principalmente, ao uso expositivo e público, estando assim em sincronia com o terreno, que teve seu paisagismo planejado de forma a não existir barreiras e nem caminhos obrigatórios a ser seguido ao caminhar pelo terreno, mas sim espaços livres de circulação entre os diferentes ambientes.
Diagrama 7: Remoção do volume
O pátio interno encontra-se, após anos de desuso e falta de cuidado, com uma vegetação alta que impossibilita qualquer acesso a este. A intervenção do projeto revitalizará o local removendo as plantas e árvores que ali cresceram, visto que essas não apresentam qualquer potencial paisagístico, retomando o espaço aberto a circulação no terreno criando espaços de estar e descanso com bancos e locais de sombra,
Fonte: Elaborado pelo autor, 2020.
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adicionando uma nova área de convivência. Assim como pontuado anteriormente sobre a topografia, o pátio interno localiza-se em nível diferente da edificação principal, para conectar ambas foi inserido rampa para fins de acessibilidade, pois atualmente a conexão se dá somente por escadas existentes ao pátio central. A revitalização do pátio é de caráter fundamental para o projeto pois através dele se abre outro acesso ao interior do terreno e, consequentemente, do museu, através de uma via com calçadas mais largas do que o acesso principal atual e que possibilita melhor locomoção aos visitantes do local, considerando ainda que após intervenção o local abrigará bancos e pontos de sombra o que aumentará o fluxo de pessoas a este lado da via.
O pavimento térreo, por ser o nível do acesso principal e conter o acesso ao pátio onde se localiza a entrada secundária ao edifício, concentrará o fluxo de pessoas ao interior da edificação e por isso concentrará os ambientes destinado a serviços e suportes diversos, como: sanitários, bilheteria, loja e cafeteria, que foram inseridos próximo à entrada principal criando um núcleo para assim manter os ambientes internos voltados e focados somente as exposições, sem um ambiente multiuso que pudesse prejudicar a compreensão artística. Pensando também em promover, além da divulgação, o aspecto educacional relacionado a arte com possibilidades e frentes multidisciplinares de atuação, instalou-se no pavimento, próximo ao núcleo de serviço, salas de usos diversos para a realização de oficinais, palestras e projetos de conscientização, para tal e afim de não estabelecer um tamanho único, podendo variar de acordo com o evento em questão a ser realizado, será inserido paredes retráteis que permitirão alterar as dimensões do local para atender a demanda.
Imagem 40: Setorização do pavimento térreo
Os dois to no térreo virão também seu papel de
Fonte: Elaborado pelo autor, 2020.
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longos corredores, existentes tanquanto no primeiro pavimento, sercomo espaços expositivos além do passagem e conexão entre ambos os
núcleos do edifício, permitindo ao visitante acesso a parte do quartel que faz frente ao Rio Tamanduateí que possuirá novas escadas metálicas, instaladas proximas das originais outra que se encontrava em estado de conservação e condições precárias e inseguras para ser mantidas, assim como pensando na acessibilidade, a instalação de elevadores para circulação vertical.
Imagem 41: Setorização do 1º pavimento
No primeiro pavimento, seguindo a intenção de manter um fluxo amplo de circulação, manteve-se os sanitários no local exato do andar inferior, e o mesmo ocorre com as escadas, que conectam os pavimentos através das extremidades do edifício, a existente localizando-se no núcleo de serviços próximo à entrada principal da edificação e as metálicas inseridas na intervenção nas faces opostas, ampliando assim as possibilidades sem criar um fluxo específico a ser seguido.
Fonte: Elaborado pelo autor, 2020.
É ainda neste pavimento que se dará a conexão entre o edifício tombado já existente e a nova construção anexa, feita por passarelas existentes tanto na extremidade do núcleo de serviço quanto na extremidade oposta localizada mais próxima a via expressa da Avenida do Estado. A parte superior da junção dos edifícios, realizada onde antes existia a adição que não respeitava o aspecto histórico construtivo da edificação, permitiu a inserção de um novo espaço ao ambiente criando uma grande varanda que, além de servir de espaço de circulação por conectar os corredores do primeiro pavimento do edifício, possibilita uma ampla vista da cidade
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2.2.2 Edifício anexo
de São Paulo, ponto de destaque em todo o projeto, e pode ser utilizado como praça de descanso.
O programa do edifício anexo foi criado com o intuito de abrigar espaços relacionados ao uso administrativo, assim como áreas técnicas e acervo documental, permitindo assim que no edifício tombado, com suas características históricas, o foco principal seja um programa ligado as áreas expositivas e educacionais. O visitante pode acessar o local por dois acessos externos: um deles através da praça lateral do lote de implantação do projeto, onde localiza-se a rampa de conexão com a estação Pedro II, e o outro através da praça de integração localizada entre ambas as construções, fazendo assim com que o edifício anexo esteja integrado ao ambiente externo, ainda que o mesmo não esteja na mesma curva de nível do terreno, permitindo assim maior fluidez ao espaço.
Buscando ainda manter vivo o aspecto histórico do edifício e seus usos passados, no local que atualmente abriga a capela do edifício, será criado um memorial para representar todas as mudanças históricas, não somente de uso mas também construtivas, ocorridas no edifício assim como um espaço de memória da Polícia Militar, que atuou ali a maior parte da existência do edifício e foi um local de marco para a histórica da corporação. O edifício tombado conta ainda com um andar subsolo, inicialmente construído com objetivo de elevar o edifício do solo por conta das enchentes causadas pelo Rio Tamanduateí, que devido ao desnível do terreno, este não foi planificado para o uso, tem grande parte inutilizável, não permitindo circulação ou intervenção por conta do baixo pé direito. Tendo em vista essa limitação, optou-se por utilizar a parte acessível do pavimento, localizada na curva de nível 726,0 mais próxima ao rio, somente como apoio técnico, como alocação de caixa d’água e poço dos elevadores além de local de abrigo as novas estruturas que darão suporte ao edifício.
A construção apresenta um layout com os seus espaços de uso concentrados em ambas as extremidades, fazendo com que o bloco central do mesmo fique reservado para a circulação, tanto horizontal realizada dentro de cada pavimento, quanto vertical através das escadas localizadas no átrio central, este por sua vez figura de significante importância para o edifício por receber iluminação natural vindo das vedações,
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feitas com U-Glass, presentes em frente as escadas e cortando todos os andares do edifício.
Imagem 42: Setorização do pavimento térreo
No pavimento térreo, o edifício apresenta, conforme já citado, conexão com as praças do lote através de seus dois acessos que guiam o visitante diretamente ao balcão de informações, o espaço conta ainda com espaço destinado a exposições temporárias dispostos em sequência e uma sala multiuso para apresentações ou seminários. Em uma de suas extremidades estão localizados os ambientes destinados ao apoio administrativo, como refeitório para funcionários, vestiários e depósitos e a sala de segurança, como o pavimento apresenta uso misto entre funcionários e o público em geral, permitiu-se aqui uma exceção a diretriz da fluidez de fluxo dos visitantes para fazer com que, uma vez acessado o pavimento em questão os mesmos sejam levados ao balcão de informação e dali para as áreas de exposições, distanciando estes das áreas de uso interno.
Fonte: Elaborado pelo autor, 2020.
Por ser o pavimento no qual ambos os prédios se conectam, o primeiro pavimento, apresenta um programa de voltado mais ao acesso público e com apelo cultural, contendo salas de acervo documental disponível ao público para pesquisas, assim como laboratórios de estudos como acervo fotográfico, cartográfica e bibliográfico. Vale destaque específico aqui a disposição do programa quanto a implantação das passarelas de conexão entre os edifícios, pensada com foco na fluidez de circulação entre ambas as instalações, criou-se espaços livres de ambos os lados de cada passarela, fazendo com que fos-
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toria e curadoria, assim como ambientes de apoio técnico, como sala de conservação e restauro, que possuem vidros para que quem estiver passando por ali, consiga ver o que estar acontecendo dentro dessas salas, além de espaços para serviços de manutenção e marcenaria.
sem evitadas barreiras visuais ao indivíduo que utilize a mesma, seja indo para o edifício do museu ou vindo para o edifício anexo, destacando assim o existente contraste entre o novo e velho e também as vistas, com espécie de olhar infinito, inseridas na frente da rampas, permitindo ainda que de dentro edifício sinta-se em conexão com o externo por conta das sacadas.
Reiterando ainda a importância de uma arte acessível e de fácil compreensão a todos foi instalada neste pavimento uma sala para a instauração de um setor educativo no museu que acompanhe e torna as visitas inclusiva.
Imagem 43: Setorização do primeiro pavimento
Imagem 44: Setorização do segundo pavimento
Fonte: Elaborado pelo autor, 2020.
O segundo pavimento da edificação anexa também apresenta um programa mais voltado ao uso interno do que o acesso ao público dedicada a áreas administrativas e de gestão, como dire-
Fonte: Elaborado pelo autor, 2020.
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O terceiro e ultimo pavimento, se encontra o acesso aos terraços de acesso público com visão ampla de todo o terreno e visão para a lateral do museu, além de fazer frente para a avenida de maior movimento do local e mais ampla visão permitida da cidade a partir do terreno em questão.
Imagem 45: Setorização do edifício proposto
Imagem 45: Setorização do terceiro pavimento
Fonte: Elaborado pelo autor, 2020.
Fonte: Elaborado pelo autor, 2020.
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Imagem 45: Setorização do edifício histórico
Fonte: Elaborado pelo autor, 2020.
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2.3 Características construtivas
2.3.1 Materiais
Imagem 46: Referência para U-glass
O edifício já existente no local não pode sofrer relevantes alterações materiais por conta do grau máximo de tombamento que o protege, visto isso buscou-se retomar a conexão do mesmo com o seu aspecto histórico de maior característica, a arquitetura colonial, para isso manteve-se as suas janelas e portas originais e recuperou-se a coloração branca e azul típica das construções da época nas partes internas e externas do edifício. Ainda, seguindo as diretrizes da Carta de Veneza quanto ao contraste entre a parte tombada e a parte restaurada de uma edificaçação, no local da construção removida no edifício, implantou-se um corredor com ampla abertura em vidro U-Glass fazendo contraponto as fracionadas aberturas da porção principal da construção. Esse corredor em U-glass acaba tornando-se uma espécie de ponto de referência para a Avenida, e durante a noite, se torna uma grande laterna.
Fonte: ArchDaily, 2018.
A conexão com a identidade histórica local da cidade de São Paulo foi o ponto inicial de decisão para a materialidade do edifício anexo. O foco principal era de resgatar as primeiras formas de construções coloniais da região usando o sistema construtivo de taipa de pilão. Utilizou-se como referencial as casas coloniais/bandeiristas e suas características ainda que, mesmo para suportar estruturas não tão pesadas como as coberturas de madeira, as suas paredes autoportantes tivessem um espessura considerável, demonstrando a resistência e durabilidade do material e fazendo jus até o
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momento ao caminho seguido tanto pelo aspecto de recuperação histórica quanto pela resistência do material. No momento em que o programa do edifício apresentou a necessidade da utilização de mais de um pavimento na edificação o uso se tornou inviável pela limitação do material e da técnica construtiva em ser utilizada com altura, visto a necessidade do aumento da espessura das paredes de sustentação para que essa aguentasse as cargas dos níveis superior assim como as estruturas de apoio que estavam por vir.
Imagem 47: Formas metálicas usadas na fabricaão das paredes contemporâneas, diferente das formas de madeira usadas na técnica tradicional
Visado superar a barreira da sustentação do material utilizou-se uma técnica inovadora, já utilizada na Austrália, onde aos usuais materiais da taipa se adicionava cimento na mistura, dando ao material a estabilidade necessária para construir mais de um pavimento com paredes mais esbeltas, além de permitir vãos livres de dimensões maiores com a ajuda de barras de ferros internas e ainda dando o mesmo acabamento encontrado no material original, destacando os tons de terra utilizado para o preparo das taipas.
Fonte: Rodrigo Rocha, 2015.
Além de trazer a taipa como uma forma de referência das construções passadas, mas de uma forma contemporânea, o uso do mesmo ajuda em questões como material mais econômico, resistência, assim como o isolamento termoacústico, principalmente pela localidade no meio do nó viário, servindo de barreira sonora para dentro do edifício. No edifício anexo, buscando seguir um perfil construtivo singular conectado a rusticidade da taipa porém realizando uma contraposição menos
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imponente, optou-se pela utilização de amplas aberturas em painéis de vidro U-Glass na principal área de circulação do local, o átrio central que conecta todos os pavimentos, assim como aberturas menores nos demais pavimentos, aproveitando o caráter naturalista presente trazido pelo material construtivo utilizado, tendo um grande aproveitamento da iluminação natural presente no local e diminuindo consideravelmente a necessidade de iluminação elétrica.
Imagem 48: Referência de rasgos verticais na fachada
Ainda, ao longo de suas paredes, foram feitos rasgos verticais permitindo a entrada de ventilação e luz, que foram dispostos no sentido vertical fazendo um contraponto ao formato horizontal do edifício e criando pontos de contraste na fachada do mesmo, eliminando o caráter de um grande bloco fechado. Fonte: Archdaily, 2013.
2.3.2 Estruturas Como citado no item 2.1.1, o edifício tombado não poder sofrer mudanças significativas, pois seu nível de tombamento é de preservação total (Nível 1). Contudo, devido ao longo período sem receber o cuidado necessário para sua manutenção e as condições de abandono e diversas
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patologias que se instalaram no edifício se tornou extremamente delicado recuperar o seu uso sem a necessidade de uma intervenção no mesmo.
Imagem 49: Estado de conservação do piso
Com o intuito de preservar e recuperar o mesmo foi utilizado como parâmetro a Carta de Veneza de 1964, em especial o Artigo 10º que afirma: Quando as técnicas tradicionais se revelarem inadequadas, a consolidação do monumento pode ser assegurada com o emprego de técnicas modernas de conservação e construção cuja eficácia tenha sido demonstrada por dados científicos e comprovada pela experiência. Fonte: CIAP, 2010.
Atualmente, diversos componentes do edifício, como o piso e o forro de madeira (imagem 47), se encontram em estado de total degradação, com partes faltantes, além de cupins e umidade, levando o mesmo a não suporta mais sua estabilidade, sendo assim optou-se por remover o piso existente, e substitui-lo por uma laje nova de Steel Deck, principalmente por ser uma laje leve, mas também pensando em assegurar o não descarregamento de cargas nas delicadas paredes internas e externas do edifício pois a laje se apoiara em vigas e pilares metálicos. Os pilares foram alocados com uma distância média de 10 cm da construção existente para em caso de dilatação do material, os pilares não empurrem as paredes.
Conforme citado anteriormente, também no mesmo item 2.1.1., decidiu-se pela remoção do volume adicionado posteriormente a construção original que descaracterizava o seu aspecto histórico por conta da utilização de materiais diferentes dos utilizados na construção original. Tendo em vista a recuperação da unicidade da construção e após a recuperação do mesmo foi realizada uma nova construção no local para ser um ponto de articulação entre os dois braços do edifício tombado utilizando-se alvenaria e estruturas metálicas, mantendo uma aparência leve que não contrastasse tanto com a edificação
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histórica já existente, mas que percebesse que é uma construção posterior. Como vedação, na abertura em frente ao Rio Tamanduateí, foi utilizado U-Glass, pensando na iluminação natural que este trará para dentro do ambiente e dado enfoque especial na referência que a mesma se tornará ao anoitecer, por ser totalmente iluminada na parte interna contrastando com o ambiente exterior de iluminação mais fraca, se tornando ponto de referência para quem passa nos arredores da construção.
No novo edifício anexo através da utilização da taipa de pilão, método e material de construção autoportante favorecido ainda pela adição de concreto a mistura, foi possível alcançar uma diagramação de ambientes abertos com praticamente nenhuma interferência de pilares, seja nas salas ou no grande átrio central aberto a todos os pavimentos do edifício. A sustentação do edifício é complementada com o uso de vigas metálicas posicionadas de forma a interferir sempre o menos possível na questão estética dos ambientes.
Imagem 50: Isométrica explodida - edifício histórico
Imagem 51: Isométrica explodida - edifício proposto
Fonte: Elaborado pelo autor, 2020.
Fonte: Elaborado pelo autor, 2020.
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Para as passarelas de ligação entre o edifício histórico e o anexo, optou-se por criar uma estrutura de material metálico, sem o uso de alvenaria, para que o mesmo pudesse permanecer neutro realizando o papel somente de um elemento de conexão entre as construções existentes, porém sem interferir no perfil e nas características de nenhum dos dois edifícios. Estruturalmente, as vigas das passarelas estão engastadas no edifício anexo, onde se há conhecimento da capacidade de carga suportada, porém na extremidade do edifício tombado optou-se por engastar as vigas em pilares metálicos localizados na praça de ligação entre os edifícios próximos a parede externa do mesmo porém sem realizar qualquer contato, evitando que qualquer carga adicional fosse acrescentada a estrutura existente.
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2.4 Pranchas gráficas
PLANTA ORIGINAL PORÃO
D Acesso
4
5
2
1
B
B
A
A
PROJEÇÃO EDIFÍCIO
D
PORÃO LEGENDA: 1. 2. 3. de 4. de 5.
Acesso Depósito Depósito lixo Reservatório água Ar condicionado
3
LEGENDA DE CORES: Paredes de taipa e cimento autoportante Paredes existentes Paredes novas de alvenaria Estrutura proposta para edifício anexo Vedação proposta
PLANTA ORIGINAL TÉRREO
RIO TAMA NDUATEÍ
AVENIDA DO ESTADO
AVENID A DO ES
TADO
C
D
727
4
3
23
3
23
22
13
13 i= 8,66%
i= 8,66%
24
24
22
23
23
23
23
2 PROJEÇÃO DE PASSARELA METÁLICA
11
B
B 23
A
Acesso
Acesso
A
23
26
25
22
2
1
1
11 i= 8,66%
11
20
21 4
17
19 22
18
8 22
PROJEÇÃO DE PASSARELA METÁLICA
22
9 7 9
13
13 6
10
16
5
15
12 14
14
16
14
727
Acesso
C
3
D
AVENIDA DO ESTADO
AVENIDA DO ESTADO
TÉRREO LEGENDA: 1. 2. 3. 4. 5. 6.
Recepção Exposição expontânea Sanitário Foyer Espaço Multiuso Depósito de limpeza e materiais
LEGENDA DE CORES: 7. Depósito geral 8. Sala de segunrança/bombeiro 9.Vestiário dos funcionários 10. Refeitório dos funcionários 11. Circulação vertical 12. Acesso
13. 14. 15. 16. 17. 18.
Circulação vertical Sala multiuso Depósito Sanitário Loja Bilheteria/recepção
13. 14. 15. 16. 17. 18.
Cafeteria/restaurante Despensa Cozinha Circulação horizontal Área expositiva Hall
19. Pátio aberto 20. Deck de eventos
Paredes de taipa e cimento autoportante Paredes existentes Paredes novas de alvenaria Estrutura proposta para edifício anexo Vedação proposta
PLANTA ORIGINAL 1º PAVIMENTO
4 C
D
3
3
15 13 9
9 13
2
5
14
13 8
12
8
1
4
B
B 1
A
8
8
A
2
2
1
4 11 1 4
11 5
11
14
12
8 11
8
2 6
12 7
12
10
8
9
9
C
8
8
8
D
3
1º PAVIMENTO LEGENDA: 1. 2. 3. 4. 5. 6.
Circulação horizontal Varanda Sanitário Circulação vertical Passarela metálica Acervo cartográfico
LEGENDA DE CORES: 7. Acervo fotográfico e bibliográfico 8. Área expositiva 9. Circulação vertical 10. Sanitário 11. Memorial do Quartel 12. Circulação horizontal
13. Hall 14. Acesso a passarela 15. Terraço
Paredes de taipa e cimento autoportante Paredes existentes Paredes novas de alvenaria Estrutura proposta para edifício anexo Vedação proposta
8 10
4 C
D
2 1
3
4
B
B
A
A
3
2
1
4 3 4 5 12 6 3
3 9
7
11 8
10
C
D
2º PAVIMENTO LEGENDA: 1. 2. 3. 4. 5. 6.
Sala de conservação Sala de restauro Circulação horizontal Circulação vertical Sala de reunião Diretoria
LEGENDA DE CORES: 7. Curadoria e museologia 8. Educativo 9. Administração 10. Marcenaria 11. Manutenção 12.Depósito
Paredes de taipa e cimento autoportante Paredes existentes Paredes novas de alvenaria Estrutura proposta para edifício anexo Vedação proposta
3
4 C
D
1
2 3
B
B
A
A
2
2
1
3
3 2
1
C
D
3º PAVIMENTO LEGENDA: 1. Terraço 2. Circulação horizontal 3. Circulação vertical
LEGENDA DE CORES: Paredes de taipa e cimento autoportante Paredes existentes Paredes novas de alvenaria Estrutura proposta para edifício anexo Vedação proposta
3
Ampliação A.A
CORTE AA
CORTE BB
LEGENDA DE CORES: Paredes de taipa e cimento autoportante
Paredes existentes
Paredes novas de alvenaria
Estrutura proposta para edifício histórico
Vedação proposta
AMPLIAÇÃO A.A Esc 1/75
Telha francesa Madeiramento do telhado (existente)
Cimalha
Viga metálica
Pilar metálico Cornija
Esquadria em madeira (existente)
Iluminação artificial Acabamento Steel deck
Forro metálico perfurado Tijolo cerâmico estrutural(existente)
CORTE CC
CORTE DD
LEGENDA DE CORES: Paredes de taipa e cimento autoportante
Paredes existentes
Paredes novas de alvenaria
Estrutura proposta para edifício histórico
Vedação proposta
ELEVAÇÃO 1
ELEVAÇÃO 2
ELEVAÇÃO 3
ELEVAÇÃO 4
VISTA AÉREA
VISTA AÉREA
VISTA AÉREA DE INTEGRAÇÃO ENTRE O EDIFÍCIO HISTÓRICO E O ANEXO
VISTA EXTERNA PRAÇA DO EDIFÍCIO ANEXO
VISTA EXTERNA PRAÇA ENTRE OS EDIFÍCIOS
VISTA EXTERNA PASSARELA DE LIGAÇÃO ENTRE OS EDIFÍCIOS
VISTA EXTERNA CALÇADA AV. DO ESTADO
VISTA INTERNA EDIFÍCIO PROPOSTO - TÉRREO
VISTA INTERNA EDIFÍCIO PROPOSTO - 2º PAVIMENTO
VISTA INTERNA CORREDOR EXTERNO DO EDIFÍCIO HISTÓRICO
VISTA INTERNA PÁTIO
VISTA INTERNA NOVA PROPOSTA DE CONEXÃO DO EDIFÍCIO HISTÓRICO
VISTA INTERNA CORREDOR DE EXPOSIÇÕES DO EDIFÍCIO HISTÓRICO
Referências
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108