GESTÃO AMBIENTAL
Abordagens práticas e acadêmicas organização
Artur Ferreira de Toledo
GESTÃO AMBIENTAL Abordagens práticas e acadêmicas organização
Artur Ferreira de Toledo
Copyright © 2013 Yendis Editora Ltda. Todos os direitos reservados. Editora: Dirce Laplaca Viana Coordenadora de texto: Gabriela Hengles Coordenadora de arte: Aline Gongora Coordenadora digital: Cristiane Viana Assistentes editoriais: Camila Lins, Marcelo Nardeli e Paula Nara Jacobini Assistentes de arte: Bárbara Lorente, Fabio Augusto Ramos e Fabio Oliveira Preparação: Viviane Zeppelini Revisão de português: Vera Lúcia da Costa Editoração eletrônica: Bárbara Lorente Capa e projeto gráfico: Felipe Hideki Imanisi Proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem a autorização escrita da Editora. As informações e as imagens são de responsabilidade dos autores. A Editora não se responsabiliza por eventuais danos causados pelo mau uso das infor‑ mações contidas neste livro. Impresso no Brasil Printed in Brazil
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Gestão ambiental : abordagens práticas e acadêmicas / organização Artur Toledo. – 3. ed. – São Caetano do Sul, SP : Yendis Editora, 2012. Vários autores ISBN 978-85-7728-269-2 1. Gestão ambiental - Estudo e ensino I. Toledo, Artur. 12-08029 CDD-333.707 –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Índices para catálogo sistemático: 1. Gestão ambiental : Economia : Estudo e ensino 333.707
Estrada das Lágrimas, 111 – São Caetano do Sul – SP – 09581‑300 Tel./Fax: (11) 4224‑9400 yendis@yendis.com.br www.yendis.com.br
NOTA DO EDITOR
A preocupação com o tema “ambiente” tem aumentado progressi‑ vamente no mundo todo. Na mesma proporção crescem a carência de boas pesquisas que ofereçam a necessária compreensão dos problemas na área ambiental bem como a importância da participação das empre‑ sas e indústrias na aplicação prática desses conhecimentos. Foi pensando nessa demanda que o economista e professor uni‑ versitário da área de Engenharia Ambiental Artur Ferreira de Toledo reuniu para esta obra especialistas de diversas áreas – Administração de Empresas, Química, Economia, Engenharia, Tecnologia, entre outras –, a fim de suprir o tema não apenas com conhecimentos técnicos, mas também com estudos de caso e experiências em atividades desenvolvi‑ das em empresas públicas e privadas. Com esta obra a Yendis Editora apresenta aos profissionais e estu‑ dantes interessados a Gestão Ambiental em suas mais variadas dimen‑ sões – desde desenvolvimento de produtos, ferramentas e comunica‑ ção até impactos e relação com a população no entorno da empresa e no ambiente urbano – e em setores como Saúde, Segurança do Traba‑ lho, Serviços, entre outros.
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AUTORES
Organizador
Artur Ferreira de Toledo Mestre em Sistema Integrado de Gestão pelo Centro Universitário Senac. Pós‑Graduado em Saneamento Ambiental pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Especialista em Gestão e Auditoria Am‑ biental pela Universidad de Las Palmas de Gran Canária (ULPGC – Espanha). Atualmente é Coordenador do curso de Engenharia Am‑ biental e Professor nos cursos de Engenharia do Centro Universitário Fundação Santo André (ABC/SP). Atua como consultor de empresas na implementação de sistemas gerenciais.
Autores
Bruno Pecini Engenheiro Ambiental pelo Centro Universitário Fundação Santo André (CUFSA)/Faculdade de Engenharia Engenheiro Celso Daniel (FAENG). V
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Gestão Ambiental
Carlos Seikiti Nozaki Filho Engenheiro Ambiental pelo Centro Universitário Fundação Santo André (CUFSA)/Faculdade de Engenharia Engenheiro Celso Daniel (FAENG).
Jacques Demajorovic Doutor em Educação pela Universidade de São Paulo (USP). Mestre em Administração Pública e Governo pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Professor do Centro Universitário da Faculdade de En‑ genharia Industrial (FEI).
João Carlos Mucciacito Químico; Especialista em Gestão Ambiental pela Escola Politécni‑ ca da Universidade de São Paulo (USP); Mestre em Tecnologia Am‑ biental pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT). Professor da Faculdade de Engenharia do Centro Uni‑ versitário Fundação Santo André.
Luciana Minaki Maturana Bacharel em Administração com Linha de Formação Específica em Gestão Ambiental pelo Centro Universitário Senac.
Marcos Antonio Fregonezzi Mestre em Sistema Integrado de Gestão pelo Centro Universitá‑ rio Senac. Professor dos Cursos de Tecnologia em Gestão Ambiental, Qualidade e Recursos Humanos do Centro Universitário de Santo André (UniA).
AUTORES
Murilo Andrade Valle Hidrogeólogo. Professor Doutor do Centro Universitário Fun‑ dação Santo André (CUFSA)/Faculdade de Engenharia Engenheiro Celso Daniel (FAENG).
Ricardo Ludwig Engenheiro Ambiental pelo Centro Universitário Fundação Santo André (CUFSA)/Faculdade de Engenharia Engenheiro Celso Daniel (FAENG).
Vinicius de Oliveira Engenheiro Ambiental pelo Centro Universitário Fundação Santo André (CUFSA)/Faculdade de Engenharia Engenheiro Celso Daniel (FAENG).
Viviane Lunardi Engenheira Ambiental pelo Centro Universitário Fundação Santo André (CUFSA)/Faculdade de Engenharia Engenheiro Celso Daniel (FAENG).
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SUMÁRIO
Apresentação............................................................................... XI 1. Demandas de Formação em Gestão em Saúde, Segurança do Trabalho e Ambiente: expectativas e respostas................. 1 Marcos Antonio Fre gone zzi
2. Atividades de Serviços: uma reflexão em relação aos impactos ambientais.........................................................29 Artur Fe rre ira de Tole do
3. Desenvolvimento de Produtos Sustentáveis: purificadores de água e carpetes.........................................................51 Jacque s De m ajorovic, Luciana Minaki Maturam a
4. Gestão Ambiental Urbana: estudo de caso – modelagem matemática da aplicação da resolução Conama n. 357/2005 no Ribeirão dos Meninos (UGRH 6)................................................77 Bruno Pe cini , Carlos Se ikiti Nozaki Filho, Murilo Andrade Valle , Ricardo Ludwig, Vinicius
de
Olive ira, Viviane Lunardi
5. Poluição do Ar e seus Efeitos Deletérios na Saúde Humana..............................................................................................111 João Carlos Mucciacito
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APRESENTAÇÃO
Apresentam‑se, neste livro, cinco capítulos que discutem o tema “ambiente”, sendo relatadas as experiências vividas por profissionais que desenvolvem atividades em empresas privadas e públicas junta‑ mente com magistério superior. O objetivo da obra foi reunir estes professores para poder aten‑ der a uma demanda cada vez maior por publicações que possibilitem aos leitores o entendimento do tema “ambiente”, sem a ingenuidade característica do crescimento de uma área carente de boas pesquisas. O primeiro capítulo busca analisar demandas de gestores em saúde, segurança do trabalho e ambiente nas organizações, além das respostas dos atuais estudantes e profissionais para a atuação na área. Busca‑se verificar, junto a dirigentes de organizações da região do ABC paulista e estudantes e profissionais da área, respostas dessa atuação, para aten‑ der aos problemas presentes nas organizações. No segundo capítulo é apresentado um panorama sobre o cresci‑ mento, o desenvolvimento e as tendências do setor de serviços que, desde há muito e, principalmente, hoje, é responsável por uma parcela econômica significativa em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) mundial. É também um grande gerador de novas oportunidades de emprego, bem como alternativas de ganho econômico para gestores de negócios e empreendedores. Sem polemizar ou contrariar afirma‑ ções teóricas, o autor propõe a questão: será que as empresas do setor de serviços não contribuem com uma parcela de impactos significati‑ vos ao ambiente? XI
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Gestão Ambiental
No terceiro capítulo analisam ‑se as principais características de cinco ferramentas de gestão ambiental e, por meio da realização de estudos de casos, discute‑se como o emprego dessas estratégias vem alterando a forma de desenvolvimento de produtos e processos de comunicação das empresas pesquisadas. Em sua parte final, avalia‑se como o uso dessas ferramentas e resultados são efetivamente comuni‑ cados pela organização aos diferentes públicos. No quarto capítulo o objetivo da pesquisa foi construir um modelo matemático que possibilitasse a simulação de um cenário de descargas de efluentes industriais lançados no corpo de água, visando à análi‑ se para melhoria em seu padrão de qualidade. Estabeleceu‑se como premissa uma condição em que as empresas da bacia hidrográfica em questão possuíssem um padrão de qualidade ambiental suficiente para o pleno atendimento da legislação ambiental federal referente ao des‑ carte de efluentes líquidos em corpos d’água. No quinto capítulo o texto busca analisar demandas das grandes concentrações humanas existentes atualmente em grandes metrópo‑ les, as quais podem ser, em muitos aspectos, comparadas a organismos vivos, pois dependem de energia para se manter, metabolizam essa energia para seu funcionamento e produzem resíduos como conse‑ quência de seus processos vitais. É necessário intervir no sentido de reduzir as emissões e preservar a saúde humana, a fim de melhorar a qualidade de vida da população urbana.
Capítulo
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Demandas de formação em gestão em saúde, segurança do trabalho e ambiente: expectativas e respostas
Marcos Antonio Fre gone zzi
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Introdução As organizações identificam demandas por profissionais em gestão em saúde, segurança do trabalho e ambiente? Os profissionais em gestão existentes no mercado atendem às necessidades? A formação para a gestão em saúde, segurança do trabalho e ambiente é condizente com a expectativa? O desafio atual enfrentado pelas organizações para se enquadrarem nos novos padrões produtivos, para terem sua inserção nos mercados, que são cada vez mais competitivos, centra‑se na aquisição de profis‑ sionais cada vez mais qualificados. Há procedimentos formalizados sobre a prevenção de danos ambientais, como em saúde e segurança do trabalho, traduzidos por normas, certificações e legislação. Além dos novos modelos e sistemas de gestão, há mudanças na área de saú‑ de, segurança do trabalho e ambiente, que exigem outras políticas de gestão. Ao mesmo tempo, as instituições de ensino superior oferecem, desde a década de 1990, um novo leque de cursos, com a finalidade de atender o mercado de trabalho. Contudo, não se conhecem quais são as demandas de profissionais para atender os novos desafios, como também não se sabe se os pro‑ fissionais formados e existentes no mercado atendem às necessidades. Requer‑se, ainda, uma gestão das questões de saúde e ambiente cada vez mais integrada, de maneira a possibilitar redução de riscos e pre‑ venção de danos. As questões dos acidentes e doenças ocupacionais, até então compreendidas como de saúde e segurança do trabalho, exi‑ gem que sejam solucionadas com as até então compreendidas como de ambiente, como a poluição do ar e da água, por exemplo. A essas questões, somam‑se as demandas da gestão da qualidade e responsabi‑ lidade social; exigidas pelos novos padrões de gestão. Por outro lado, os sistemas de gestão se difundiram rapidamente, com focos específicos, gestão ambiental, gestão em saúde e segurança do trabalho, gestão da qualidade e responsabilidade social. Contudo, tais sistemas foram instalados de maneira isolada e criaram‑se dificul‑
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dades para a solução de problemas, com superposição de enfoques e desperdício de recursos. A tendência de evolução para um modelo que integre os diferentes sistemas de gestão é recente e representa uma mudança radical no próprio conceito de gestão e organização. Para uma organização moderna, tanto industrial como de serviços, o resultado de desempenho não pode mais ser visto como ‘variável independente’, com foco exclusivo na produtividade e competitivida‑ de. Metas econômico‑financeiras devem ser buscadas juntamente com o equilíbrio do ambiente e da saúde e segurança de todos os atores envolvidos – o que também pressupõe o engajamento da organização com o ideário da responsabilidade social, ou seja, de uma construção social responsável e sustentável. Cabe aos gestores, conjuntamente com os trabalhadores, buscar a produção de saúde (Campos, 1991, p. 227). Com intuito de verificar como é o perfil desses novos profissionais e se sua formação profissional atende a essas novas demandas, este ca‑ pítulo, de caráter exploratório, buscou discutir como os profissionais percebem as questões ambientais e de saúde e segurança do trabalho nas organizações, e se a formação que esses profissionais tiveram – ou estão tendo – responde a essas questões. Baseia‑se em dados de pesquisa realizada em 2007, na região do ABC paulista e na cidade de São Paulo, com alunos e egressos de cursos de Teoria Geral da Administração (TGA) ofertados por instituições de ensino superior e alunos de curso de especialização em Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente. Compreende‑se por ABC paulista, ou Região do Grande ABC ou ABCD a região industrial formada por sete municípios da Região Metropolitana de São Paulo: Santo André; São Bernardo do Campo; São Caetano do Sul; Diadema; Mauá; Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. Partiu‑se da hipótese de que a formação de profissionais em gestão ambiental não atende às necessidades das organizações nessas áreas. Esse tema possui grande relevância, pois existem poucos estudos que analisam esses novos perfis de profissionais e os programas de forma‑ ção profissional. Centra‑se sobre uma dessas modalidades de gestão, a gestão ambiental, que integra as questões de saúde e segurança do trabalho, qualidade e ambiente, contemplando a responsabilidade so‑
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cial. Não houve intenção de analisar as instituições educacionais, nem o conteúdo dos processos educativos. O estudo centrou‑se na per‑ cepção e nos conhecimentos dos alunos de cursos de tecnologia de Gestão (em nível superior e de pós‑graduação), e também de egressos de cursos. Não houve intenção de esgotar o tema nem de analisar os cursos de formação em gestão.
Gestão e Formação Tecnológica Diversos são os sistemas de gestão implementados pelas organiza‑ ções: ambiental, de qualidade, em saúde e segurança do trabalho, inte‑ grada etc. Nesse contexto é que surgem dúvidas como: qual o modelo de gestão a ser adotado, em primeiro lugar? Quais as características e os benefícios que cada um pode agregar aos resultados das organiza‑ ções? Qual o profissional que melhor supre as necessidades e saberes para a implantação e implementação desses conceitos?
Sistemas de Gestão A gestão ambiental é compreendida como um sistema que inclui atividades de planejamento, responsabilidades, processos e recursos para desenvolver, implementar, atingir, analisar criticamente e manter a política ambiental (Tinoco, 2004, p. 109). A gestão ambiental tem como referência a norma NBR ISO 14001:2004, a qual define que a organização, independente do tipo, está cada vez mais preocupada com o atingimento e a demonstração de um desempenho ambiental correto, por meio do controle dos im‑ pactos de suas atividades, produtos e serviços sobre o ambiente, coe‑ rente com sua política e seus objetivos ambientais, devendo‑se, assim, agir dentro de um contexto da legislação cada vez mais exigente: o do desenvolvimento de políticas econômicas e outras medidas que visam adotar a proteção ao ambiente e o de uma crescente preocupação ex‑ pressa pelas partes interessadas em relação às questões ambientais e ao desenvolvimento sustentável. Nesse contexto, a gestão ambiental
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sugere um processo que integra as organizações, as instituições, o Es‑ tado, a comunidade e os indivíduos, buscando, de modo articulado, harmonizar os aspectos sociais, ambientais, econômicos e culturais, compatibilizando o crescimento com a proteção e conservação am‑ biental. A gestão da saúde ocupacional se integra aos conceitos de ambien‑ te, à luz dos processos de produção de produto ou serviço, pelas nor‑ mas da OHSAS 18001:2007, considerando a saúde e segurança como condições e fatores que afetam o bem‑estar dos empregados, traba‑ lhadores temporários, pessoal de contratadas, visitantes e quaisquer outras pessoas no local de trabalho. A gestão da qualidade é centrada na produtividade, qualidade e desempenho operacional e econômico das organizações, de domínio comum (Sartorelli, 2003). A qualida‑ de consiste nas características do produto que vão ao encontro das necessidades dos clientes e, dessa forma, proporciona a satisfação em relação ao produto e adequação ao uso. A gestão da qualidade tende a valorizar o ambiente e a saúde e segurança do trabalho, de modo integrado, com perspectiva social. Assim, nesse cenário, a dinâmica de mudanças de conduta empresarial tende para organizações cada vez mais conscientes.
Formação Tecnológica A formação de tecnólogo é parte integrante da educação profis‑ sional, sendo destinada à qualificação de alunos egressos de cursos de nível médio. Os currículos atendem perfil de competências, cujos quatro pilares são educação, habilidades, experiências e treinamentos, definidos pela norma de referência NBR ISO 9001: 2000, o que, por‑ tanto, potencializaria um mais significativo e abrangente alinhamento com as necessidades requeridas pelas organizações nos dias de hoje. Nenhum desses aspectos é suficiente ou independente dos outros. Os cursos podem ser modulados, assim passando a ter caráter de termina‑ lidade para efeito de qualificação profissional. Os cursos superiores de Tecnologia (CST) apareceram no país na década de 1960 como parte de políticas de modernização. São cursos
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superiores diferenciados, promulgados pela Lei de Diretrizes e Bases (LDB) para a Educação Nacional, Lei Federal 4.024, de 20 de dezem‑ bro de 1961, com organização de cursos ou escolas experimentais, com currículos, métodos e períodos escolares próprios (Art. 104). Justifica‑se que profissionais de carreiras longas são frequentemente subutilizados, isto é, estão sendo requisitados para funções que po‑ deriam exercer com uma formação muito mais prática e muito mais rápida. O caráter prático do curso permite dispensar as exigências de sedimentação do conhecimento e amadurecimento pessoal, de impor‑ tância no ensino tipicamente universitário. Devem ser atraídos para os cursos de Tecnologia aqueles elementos que se contentariam com uma formação profissional curta de nível superior (Peterossi, 1980). No debate dos anos 1960 sobre a reforma universitária e os ins‑ trumentos legais em nível nacional é forte uma visão oposta: os que defendiam um acesso amplo das classes trabalhadoras aos níveis mais elevados de educação, reformulando a educação tradicional, mas não abrindo mão de uma base científica, e sim incorporando bases cientí‑ ficas e tecnológicas que vinham sendo desenvolvidas (Brandão, 2007, p. 4). Em relação à engenharia de operação, a forte resistência dos profis‑ sionais organizados terminou no esforço do Estado em relação a essa área e, a partir de 1973, os cursos ganharam denominação nova, "cur‑ sos superiores de Tecnologia", e os assim diplomados passaram a ser os tecnólogos, o que significou “uma espécie de correção do rumo” na área, segundo Brandão (2007, p. 10). Na segunda metade da década de 1990 e início do novo século, começa a reformulação do sistema educacional brasileiro – facilitada pela nova LDB em 1996 (Lei n. 9.394), e por meio de uma série de decretos federais, portarias e resoluções do Conselho Nacional de Educação (CNE). O instrumento de maior interesse foi o Decreto n. 2.208, de 17 de abril de 1997, que determina níveis para a modali‑ dade “educação profissional” (básico, técnico e tecnológico); define o nível tecnológico como “sistema de educação profissional” paralelo ao “sistema de educação escolar”, mas independente deste; e estipula que esses cursos confiram “diploma de tecnólogo”. Algumas polê‑ micas quanto ao significado de ser um “curso superior” levaram o
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CNE, em 2001, a determinar que se trata de um curso de graduação, dando, assim, acesso a qualquer curso de pós‑graduação e a estabe‑ lecer as cargas horárias mínimas para as diferentes áreas – de 1.600 a 2.400 horas, dependendo da área. As Diretrizes Curriculares Nacio‑ nais e o funcionamento dos CST são instituídos pelo CNE em 2002 (Brandão, 2007). Já no governo atual, o Decreto n. 5.154, de 23 de julho de 2004 revogou o Decreto n. 2.208/97. Não obstante o não estabelecimento explícito da educação profissional nesse decreto e, portanto, do nível tecnológico, os CST continuam a ser tratados como tal, visto que, entre outros fatos, é mantida a regulamentação do CNE sobre eles. Isso também facilita distingui‑los dos outros cursos de graduação. Brandão (2007, p. 12) esclarece que “a nova LDB, [...] estabele‑ ce que a educação superior [...] engloba, dentre cursos e programas, os ‘cursos sequenciais por campo de saber’ [...]”. Cursos estes que o CNE divide em dois tipos: os cursos superiores de formação específi‑ ca, com destinação coletiva, conduzindo a diploma e os cursos sequ‑ ências de complementação de estudos, que levam a um certificado de obtenção de conhecimentos em determinado campo do saber. Assim, esses cursos foram regulamentados como de nível superior da edu‑ cação escolar (como todo curso pós‑ensino médio que abrange um conjunto de competências para atuar nas diversas tendências e áreas de conhecimento), mas separadamente dos cursos de graduação (que têm como característica a especialidade em bacharelado ou licenciatu‑ ra). Não sendo de graduação, dão acesso somente aos cursos de pós ‑graduação lato sensu, visto que os de stricto sensu exigem diploma em curso de graduação (Brandão, 2007, p. 12). Ressalta‑se ainda a formação mais longa (cinco a seis anos) e aca‑ dêmica ou profissionalmente mais densa dos cursos de graduação, em comparação com os sequenciais, cuja formação é específica em um dado campo do saber, conforme a distinção do Parecer n. 968/98. A carga horária para o último é de, no mínimo, 1.600 horas, a serem cumpridas em, no mínimo, 400 dias letivos, o que permite concluir a formação em torno de dois anos; alguns cursos sequenciais têm a carga horária de 2.400 horas, tomando três anos.
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Gestão Ambiental Valoriza‑se a prevenção de doenças para manutenção da saúde. Desse modo, abriu‑se todo um campo de estudos, com a finalidade de favorecer as condições de manutenção da saúde, relacionadas tanto com o equilíbrio físico, quanto psíquico e ambiental. A importância do equilíbrio ambiental para a manutenção da saúde estende o tema da saúde do plano individual para o coletivo, ou seja, para o âmbito da interação entre as pessoas e destas com o ambiente. Esse aspecto coletivo remete ao fator ambiental mais intimamente ligado ao tema da saúde, o saneamento básico, inserindo a saúde no âmbito das po‑ líticas públicas. Atualmente, os três paradigmas que prevalecem na saúde pública brasileira revelam a interface entre saúde e ambiente. O biomédico, com origem na parasitologia clássica; o oriundo do saneamento clássi‑ co, que aborda a temática ambiental a partir da engenharia ambiental; e o da medicina social, originada nos anos de 1970 e que marca o sur‑ gimento da saúde coletiva no país. Este último paradigma aborda os problemas de saúde das populações com base nas dimensões política, econômica e cultural, mas somente a partir de 1990 iniciou‑se uma produção acadêmica mais sistemática sobre a relação entre saúde e ambiente, no âmbito da saúde coletiva (Minayo, 1996). As estruturas organizacionais – públicas ou privadas, produtivas de bens ou serviços – interagem continuamente com o ambiente e também o constituem. Como espaço de interação entre sociedade e natureza, o ambiente se torna mais complexo, de acordo com a di‑ versidade dos processos de produção, das interações técnicas, das de‑ mandas de consumo, das relações humanas e dos aspectos culturais e sociais, transformando o ser em relação ao ambiente e o ambiente em relação ao ser. Essa interdependência é vital para a harmonia do todo. A Figura 1.1 ilustra a dinâmica da interação entre sociedade e natu‑ reza no processo de produção, que varia em função das características do meio e da organização (tecnologia, cultura etc.). Nas interações físico‑biológicas, são retiradas da natureza água, matéria‑prima e ener‑ gia, e são devolvidas para o ambiente emissões atmosféricas, poluição etc., juntamente com o produto – objetivo final da organização.
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Assim, elementos da natureza (e suas interações físicas e biológi‑ cas) e da sociedade (enquanto unidade e diversidade social, cultural, econômica e política) interagem na dinâmica da produção, causan‑ do impactos tanto sobre o ecossistema (definido como o conjunto de interações desenvolvidas pelos componentes vivos e não vivos de determinado ambiente) como sobre a saúde da população. Figura 1.1 Problemas ambientais globais.
Natureza Suas interações (físicas e biológicas) Energia
Processo produtivo
Água
Emissão na atmosfera
Impacto saúde da população
Efluentes Impacto ecossistema
Matéria‑prima (reciclada ou renovável)
Dinâmica de interação
Sociedade Suas interações (diversidade social, cultural, econômica e política)
Resíduos Produtos
• Mortalidade + fontes de poluição e de contaminação • Aumento da temperatura da Terra • Destruição da camada de ozônio • Esgotamento acelerado dos recursos naturais • Estagnação da produção de alimentos para uma população que não para de crescer
Fonte: Toledo, 2005.
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A repercussão dos processos produtivos se dá, por um lado, sobre o ambiente – aquecimento global, destruição da camada de ozônio, esgotamento de recursos naturais – e, por outro, sobre a população – alterações nos quadros da morbidade e da mortalidade que refletem a “agressão” dos processos produtivos, e acidentes que aumentam a demanda por atendimento em serviços de saúde. A dinâmica dos processos de produção em sua relação com o de‑ senvolvimento social e econômico influencia os níveis de saúde das populações. Diferentes fontes de poluição e contaminação, numa di‑ nâmica por vezes desenfreada e sem controle, provocam alterações no perfil de morbidade e mortalidade da população. Na relação entre saúde do trabalho e saúde ambiental, em geral, o que se considera é o ambiente interno à organização, porém, os perigos e riscos dos processos produtivos podem ultrapassar os muros das or‑ ganizações, gerando impactos com significativa dimensão social e física. Há inúmeros acidentes que provocaram impactos sobre as popula‑ ções do entorno de unidades de produção, ou com abrangência inclu‑ sive regional. Alguns acidentes emblemáticos1 com desencadeamento de condições de contaminação. Esses acidentes revelam falhas suces‑ sivas na gestão dos processos de produção, inobservância e possível negligência em relação a questões ambientais, de saúde e segurança do trabalho, assim como com a saúde e segurança públicas.
Gestão em Segurança e Saúde no Trabalho Entre as várias definições de saúde, destaca‑se a mais frequente‑ mente divulgada, a da Organização Mundial da Saúde (OMS) (WHO, 1946), que remonta à década de 1940, quando de sua fundação: saú‑ de como um estado de completo bem‑estar físico, social e mental e não meramente a ausência de doença ou enfermidade. A saúde é um
É de grande importância na análise de desastres, a publicação GEO BRASIL 2002. Perspec‑ tivas do Meio Ambiente no Brasil. Cap. 2: O estado do meio ambiente no Brasil. O estado dos desastres ambientais. Brasília: Edições Ibama, 2002. p.149‑169.
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recurso para a vida diária, não o objeto de viver. Apesar de o concei‑ to ser positivo, enfatizando recursos sociais e pessoais, é abstrato e a‑histórico. Os recursos sociais e pessoais de que o trabalhador dispõe para atingir o estado de saúde dependem particularmente de condições de trabalho concretas, que são a expressão histórica de uma sociedade determinada e resultam da evolução dos processos industriais e das tecnologias. Nesse contexto, desaparecem alguns riscos e perigos e surgem outros, a produção é reorganizada e muda também a corre‑ lação de forças que baliza a capacidade reivindicatória do trabalhador em face do poder da classe empresarial. Na economia formal, a consequência é a tendência à precariza‑ ção das condições de trabalho, que, de um lado, significa possibi‑ lidade de contratos sem direitos e garantias mínimas estabelecidas pela legislação do trabalho, entre outros, e de outro, o aumento da intensidade das jornadas de trabalho e a diminuição dos níveis de remuneração do trabalhador; nas ações, práticas e intervenções no processo de trabalho cada vez mais rápido; na instabilidade no emprego; no âmbito político, na fragilização da capacidade de or‑ ganização e, portanto, de poder reivindicatório e possibilidade do trabalhador participar de decisões. Santos (1993) fala do paradoxo contemporâneo representado pela exigência de trabalhadores com competências cada vez mais abrangentes e polivalentes, mas, em geral, sem autoridade para decidir sobre os meios e os fins. Além dos perigos e riscos tradicionalmente conhecidos e quantificáveis aos quais o trabalhador está exposto – físicos, químicos, biológicos e de acidentes – há outros mais recentemente caracterizados, como os ergonômicos e os psicossociais, a exemplo do estresse. Vidal (1987) relaciona os efeitos da instabilidade e risco de desemprego sobre à autoestima e a depressão. Também Mendes (1980) fala do aumento do estresse e das doenças dele decorrentes. Assim, embora sejam os atores diretos dos processos de produ‑ ção, os trabalhadores são inseridos no ambiente de trabalho de forma desigual e submetidos a técnicas de controle disciplinar que mudam historicamente, mas cuja finalidade última é sempre o aumento da produtividade.
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Brant e Minayo‑Gomes (2004, p 216-217) analisam os processos saúde‑doença nas organizações como processos de transformação do sofrimento em adoecimento, transformação essa [...] que pode ser compreendida através do longo percurso do "poder disciplinar" que foi aperfeiçoado como uma nova técnica de gestão dos homens. A partir do século 18, procurou‑se inves‑ tigar de que maneira os gestos são feitos, qual o mais eficaz, rá‑ pido e mais ajustado [...]. Na gestão do trabalho pós‑industrial, a disciplina como técnica de exercício do poder tem por função não mais controlar os gestos e os corpos, mas o pensamento, a criação e as manifestações do sofrimento. Os mecanismos de gestão disciplinar do corpo, que exigiam uma acirrada vigilân‑ cia de olhares sobre os trabalhadores, nas primeiras décadas do século 20, tornaram‑se incompatíveis com a moderna organi‑ zação. Na contemporaneidade, já não faz sentido que o indiví‑ duo seja observado e cronometrado regularmente. No entanto, a necessidade de controlar parece exigir medidas disciplinares cada vez mais refinadas. Como acontece, por exemplo, com o processo saúde ‑doença ‑cuidado que, no interior das fábricas “pós‑industriais”, tornou‑se uma dessas medidas.
De acordo com os autores, o discurso hegemônico da medicina, desde seu advento como ciência, nega o sofrimento como contingen‑ te à existência humana, para transformá‑lo em adoecimento. Visto como um sinal de fraqueza, sofrimento sinaliza a não adaptação do trabalhador às condições de trabalho, e transformá‑lo em processo de adoecimento seria uma forma de estigmatizar o trabalhador, abrindo possibilidades de afastar os que não conseguem suportar os riscos do trabalho. A articulação entre profissionais da saúde e gestores para a manutenção da ordem no espaço da empresa (com a cumplicidade da família) permite esse processo. No discurso médico, saúde e a doença são definidas pela ausência ou pela presença de determinados agentes etiológicos e sintomas. “O sujeito, banido da cosmologia médica, deu lugar ao paciente, representado como um conjunto de órgãos e teci‑ dos” (Brant; Minayo‑Gomes, 2004, p. 217).
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Criticando essa visão, os autores citam Minayo (1996 apud Brant; Minayo‑Gomes, 2004, p. 220): [...] os sintomas e os agentes etiológicos trazem uma carga his‑ tórica, cultural, política e ideológica e não podem ser contidas apenas numa fórmula numérica ou num dado estatístico. Da mesma forma, o processo saúde‑doença não pode ser reduzido a um conjunto de significados determinado pela cultura da em‑ presa e pelo discurso médico hegemônico.
No que se refere à legislação vigente relacionada às condições do tra‑ balho, cabe observar a Portaria n. 3.214/78 que regulamenta as condi‑ ções dos ambientes de trabalho e instrumentaliza as partes interessadas com normas regulamentadoras desde uma visão prevencionista e legal (legislação vigente) até a punição (NR‑28) para quem não segue os re‑ quisitos estatutários de segurança e saúde no trabalho (SST). Para Cam‑ pos (1991), o setor jurídico não é apropriado para ações propositivas, sendo necessária a articulação de todos os envolvidos em um projeto comum, apoiado numa teoria sobre a produção de saúde. Nessa perspectiva, tornou ‑se importante compreender a saúde como produção social (múltiplos aspectos de saúde que afetam as po‑ pulações humanas) e histórica. Os sistemas de saneamento, tanto em seus efeitos positivos como negativos, foram incluídos nos Estudos de Avaliação Ambiental, com promulgação de legislação específica em fins dos anos 1980, obrigando a discussão dos aspectos que contri‑ buem para essa produção, com ênfase no ambiente e nas condições de trabalho. Para Campos (1991), a “saúde coletiva é a defesa da vida”, tanto dos envolvidos nos processos produtivos como das pessoas que trabalham na construção de condições sociais dessa produção. Uma visão de mundo fundamentada numa defesa da vida deve orientar os profissionais em gestão de SST e de ambiente. A participação na ad‑ ministração das relações entre desejos, interesses e necessidades sociais é condição sine qua non para a democracia e para a construção de sujeitos saudáveis (Campos, 1991).
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Gestão da Qualidade O sistema de gestão da qualidade (SGQ) surge e se impõe em resposta às inquietações e à necessidade de enxergar os processos que suportam as atividades de um negócio, seja ele de produção ou de serviço e, em consequência, tornando possível atuar sobre eles ao nível da organização numa perspectiva de melhoria contínua. O desenvolvimento de uma cultura organizacional deve ser nortea‑ do por critérios de gestão alinhados a valores e implicações, estimulan‑ do e abrindo o caminho para melhorias no processo de promoção da sua eficácia e eficiência, e promovendo uma cultura voltada ao atendi‑ mento das exigências do mercado por meio do aumento da satisfação dos clientes e de outras partes interessadas. Nesse contexto, a cultura organizacional se define como o con‑ junto de pressupostos básicos que um grupo inventou, descobriu ou desenvolveu ao aprender como lidar com os problemas de adaptação externa e integração interna, que funcionaram bem o suficiente para serem considerados válidos e transmitidos a novos membros como a forma correta de perceber e refletir sobre esses problemas (Fleury, 1996). Desse modo, a qualidade deve constituir um instrumento do coti‑ diano que permite identificar e eliminar as imperfeições do trabalho. Tem como perspectiva um funcionamento ótimo por meio da melho‑ ria dos processos, qualquer que seja a função desempenhada. Entre os vários modelos existentes de sistema de qualidade, destacam‑se as normas da série NBR ISO 9000. São normas de adoção voluntária, que se aplicam a qualquer negócio ou escopo, independen‑ temente de seu tipo ou dimensão. As normas de SGQ da série NBR ISO (9000:2005) possuem requisitos e fundamentos para a obtenção da qualidade dos processos de produção ou de geração de serviços. A verificação destes por meio de auditorias internas e externas garante a retroalimentação do processo de melhoria contínua do SGQ. Os requisitos exigidos pela norma NBR ISO 9001:2000 auxiliam na conscientização e aderência aos objetivos da qualidade para a ca‑ pacitação dos colaboradores, na melhoria dos processos internos, do monitoramento do ambiente de trabalho, da verificação da satisfação
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dos clientes, colaboradores, fornecedores e demais partes interessadas asseguram maior organização e produtividade que podem ser perce‑ bidas pelos clientes. Por outro lado, cabe ressaltar que o "principal ingrediente" para as organizações que buscam melhorar com o objetivo de satisfazer e aumentar a satisfação dos clientes é criar uma mentalidade de mudança. Qualquer melhoria, pequena ou grande, é sempre bem‑vinda, e deve acontecer todo dia (kaizens, ou seja, kai = mudança e zens = para me‑ lhor). Toda ideia ou sonho potencializa uma inovação e deve ser conhe‑ cida, testada e, se possível, implantada, aflorando a criatividade humana.
Resultados e Discussão Foram pesquisados alunos em formação e egressos do curso supe‑ rior em TGA de um centro universitário do Grande ABC, focando a percepção desses sobre os temas ambiente, saúde e segurança do tra‑ balho, responsabilidade social e gestão integrada, bem como a inter ‑relação desses temas com processos industriais e de serviços. Também participaram alunos do curso de pós‑graduação (especialização) em Sistema de Gestão Integrado (SGI), todos com atuação profissional direta ou indiretamente relacionada com a região do Grande ABC; procurou‑se conhecer a visão desses alunos sobre a temática em pauta e o que os motivou buscar a especialização, assim explorando como eles pensam a respeito dos modelos de gestão atualmente praticados e as perspectivas para o futuro mediante a crescente demanda de novas tecnologias, exigências legais e demandas da sociedade relativas à res‑ ponsabilidade social, qualidade de vida e desenvolvimento sustentável, isto é, como responder a essas demandas sem prejuízos dos resultados e do desempenho econômico financeiro da organização. Por fim, a pesquisa alcançou os empresários de organizações tam‑ bém no ABC paulista, abordando a respeito dos diversos cursos de formação que as instituições de ensino oferecem: (i) em CST: tec‑ nologia em Gestão da Qualidade, tecnologia do Meio Ambiente e tecnologia em Saúde e Segurança do Trabalho; (ii) no nível médio: técnico em Segurança do Trabalho e Técnico de Meio Ambiente; (iii)
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no curso de pós‑graduação em tecnologia em Gestão Integrada. Dentre os alunos em formação no CST em Gestão Ambiental par‑ ticipantes da pesquisa, foi observado que 66% atuam em áreas afins,2 cuja maioria é de técnicos de segurança. Cabe destacar que, nesse uni‑ verso (reduzido, porém significativo), alguns dos pesquisados traba‑ lham em funções relacionadas ao ambiente. Em proporção equivalen‑ te, alguns dos pesquisados atuam como técnicos ou especialistas em áreas diversas, porém acumulam as responsabilidades da qualidade e ambiente. Já entre os alunos formados, quase a totalidade atua em áreas afins. A grande maioria (85%) trabalha como técnico de segurança; apro‑ ximadamente 43% acumula as funções de SST e Meio Ambiente e proporção equivalente atua nos cargos específicos (como estagiários) na área de Meio Ambiente. Com relação aos alunos de pós‑graduação, 22% do total de pesqui‑ sados informam que suas organizações têm conhecimento de curso superior de tecnologia em Gestão da Qualidade. Em relação à educação na área de Meio Ambiente, destaca‑se o curso técnico em Gestão Ambiental. Sobre cursos de nível superior, os entrevistados afirmam ter conhe‑ cimento dos cursos de TGA e em Tecnologia Ambiental, com desta‑ que para a segunda em grau de popularização. Já a educação em SST é sobremaneira mais conhecida: 55% dos entrevistados afirmaram conhecer o curso técnico em Segurança do Trabalho e 22%, conhecer essa modalidade de conhecimento em nível superior. Em relação à Gestão Integrada (que busca unir as áreas de Qua‑ lidade, Meio Ambiente, SST e Responsabilidade Social), o grau de conhecimento dos entrevistados cai, pois 12,5% deles conhecem o curso de tecnologia em Gestão Integrada, de nível superior, mas sem o conhecimento sobre este ser de pós‑graduação (Tabela 1.1).
“Áreas afins”: consideradas aqui as áreas que tratam de questões ambientais e SST, e também atuem em outros processos.
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Tabela 1.1 Número de organizações em que os pesquisados atuam com conhecimento de cursos, por nível de ensino e modalidade
Modalidade de curso CST – Gestão da Qualidade CST – Gestão Ambiental CST – Tecnologia Ambiental Técnico em Gestão Ambiental CST – SST Técnico em SST Pós‑graduação – Sistema de Gestão Integrada Total de organizações
Organizações que conhecem os cursos N. abs.
%
5 5 3 5 5 13
22 22 11 11 22 55
3
11
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–
CST: curso superior em Tecnologia; SST: Saúde e Segurança do Trabalho.
A modalidade de cursos mais conhecida pelas organizações, segun‑ do os pesquisados – alunos de pós‑graduação que trabalham nessas organizações – é a da Saúde e Segurança do Trabalho, predominando o nível técnico, possivelmente consolidado há mais tempo em decor‑ rência dos aspectos legais por exigência da Portaria n. 3.214/78 e respectiva Lei n. 6.514/77. Assim, as demais áreas de conhecimento e os cursos de formação superior em tecnologia possivelmente ainda parecem não ter chamado a atenção ou despertado o interesse das organizações, em parte em decorrência de serem mais recentes e pelo próprio grau de exigência legal não estar consolidado. No entanto, ao se explorar a questão sobre as características e atri‑ buições a respeito do profissional que melhor atenderia às necessi‑ dades das organizações, percebeu‑se que, na visão dos pesquisados, há uma forte tendência de crescimento da demanda pelo profissional com formação em sistema de gestão integrada, começando, assim, a ser percebida a importância de uma visão holística sobre os processos industriais, em que qualidade e produtividade estão associadas a uma
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consciência ecológica, e à integridade da saúde dos atores envolvidos no processo, o que pode gerar um novo modelo da qualidade, di‑ recionado para a qualidade de vida, sem prejuízo da lucratividade e rentabilidade. A percepção é de que esse é um novo paradigma que pede agilidade de decisões e coesão técnica ‘sustentada’, o que exige competência em gestão por parte dos profissionais, assim como o en‑ volvimento de todos na organização. Quanto ao quesito motivação dos entrevistados pelo curso de pós ‑graduação em Sistema de Gestão Integrado, foi constatado que todos buscaram a especialização em função da expectativa de crescimento pessoal e profissional, independentemente do cargo que exercem no momento ou do interesse da organização. Crescimento que começa a ser pautado, ainda de modo incipiente, por uma visão holística da economia, sociedade e ambiente, que, no âmbito organizacional, seria alinhada com a integração de modelos de gestão. Quase um terço dos entrevistados conjuga o interesse e a visão pessoal com o futuro da organização, pressupondo que seja possível, no âmbito desta, a com‑ patibilização de conceitos e procedimentos dos gestores, de modo a otimizar os recursos (infraestrutura e mãodeobra), agilizar a tomada de decisões e reduzir falhas. Tanto sob a luz do interesse pessoal como das organizações, as quais patrocinam o aperfeiçoamento de seus pro‑ fissionais, em 11% dos casos ocorre um amadurecendo na direção do sistema de gestão integrada. Por outro lado, na dinâmica da busca de profissionais especialistas nas gestões da qualidade, ambiente ou em saúde e segurança do traba‑ lho, que vem sendo preparadas para o mercado de trabalho, cabe desta‑ car que, na percepção dos executivos, a ausência de ações dirigidas por profissionais especialistas em saúde e segurança do trabalho e ambiente está começando a prejudicar os negócios, o que, portanto, passa a exi‑ gir a contratação de mãodeobra com essas competências. Alguns dos entrevistados indicaram ainda que os modelos de gestão de saúde e se‑ gurança do trabalho e ambiente têm ganhado destaque por favorecerem redução de desperdícios, além de permitirem melhor gerenciamento das situações legais a cada dia mais presente no cotidiano das empresas. Os dirigentes das organizações externam que nos últimos anos tem aumentado o número de ações trabalhistas, desde as relativas a eventos
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pontuais (acidentes com ou sem lesão) até problemas crônicos (doen‑ ças ocupacionais), com aumento também de processos trabalhistas. Com relação ao ambiente, afirmam estarem possivelmente diante de uma “nova situação”, para a maioria desconhecida em sua abrangência e magnitude e que se reflete no aumento de problemas locais, a exem‑ plo de reclamações da vizinhança do entorno das empresas, e também como dos derivados de pressão da fiscalização sobre o cumprimento da lei, além das exigências de clientes, a cada dia mais presentes como condição de fornecimento. Avançando a discussão, os executivos observam que tal cenário foi originado pela forma como a legislação foi conduzida pelos órgãos governamentais, pela precária fiscalização, pela postura conservadora das organizações e pela falta de visão ampla, além do conhecimen‑ to limitado e não integrado dos profissionais da área de processos. Percebe‑se, então, que ações focalizando a SST têm relação direta com ambiente, bem como essas ações podem ser integradas e consolidadas numa política de responsabilidade social, com benefícios à sociedade e vantagens à própria organização, como a redução de custos diretos de acidentes (indenizações legais) e indiretos (absenteísmo, turn‑over, treinamento de funcionários substitutos, horas paradas, custo de pro‑ fissionais para atender às necessidades administrativas e técnicas que envolvem um acidente etc.). Especificamente em relação ao ambiente, os entrevistados revela‑ ram que começaram a ser submetidos a reclamações pontuais e, em casos mais impactantes, a processos indenizatórios contemplando pas‑ sivos ambientais – rastros deixados ao longo do tempo pelos processos de produção. Aos prejuízos econômico‑financeiros, somam‑se ainda os prejuízos à imagem da empresa, afetando os negócios. Esse quadro de dificuldades, segundo os dirigentes, tem estimula‑ do recentemente a busca por um conhecimento mais abrangente da temática, com a inclusão do conceito de sustentabilidade. Nessa mo‑ dalidade de gestão, os resultados da pesquisa mostraram que a maioria dá uma atenção muito menor a esse tema. A visão de responsabilida‑ de social (RS), quando existe, é identificada com apoio a entidades assistenciais, e isso basta para satisfazer as demandas da área. O que torna a associação da RS ao sistema de gestão integrada ainda bastante
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distante. Cabe ressaltar que o benefício tributário é o maior incentivo à prática de RS, além das exigências legais. Essas, no entanto, limitam as respostas, pois tratam de temas espinhosos, como discriminação a portador de deficiência apenas com o fim de cumprir a lei. A lógica do lucro prevalece: contrata‑se todo tipo de pessoas “desde que” não necessitem de adequações nas instalações, como rampas para acessibi‑ lidade, pois isso gera impactos na infraestrutura e nos custos. É relevante ressaltar que as organizações também designam profis‑ sionais para outros processos de gestão, como do ambiente e respon‑ sabilidade social, resultando em 22% do total que atribui essa função aos recursos humanos (RH) ou ao serviço especializado em segurança e medicina do trabalho (SESMT). Na maioria dos casos, por serem organizações de pequeno e médio porte, terceiriza‑se o SESMT. No quesito específico de SST, as organiza‑ ções têm mais definidas as atribuições (89%); além de já serem consolida‑ das, são, em geral, contratadas; vale dizer que, nesse caso de terceirização, o vínculo é mais bem definido e gerenciado pela organização (Tabela 1.2). Tabela 1.2 Organizações com profissionais designados para funções de gestão, por modalidade Organizações com profissionais Modalidade de gestão Qualidade SST Meio Ambiente Responsabilidade Social Sistema de Gestão Integrado Total de empresas
designados para a função ou cargo N. abs. % 29 26 6 6 6 29
100 89 22 22 22 –
SST: Saúde e Segurança do Trabalho.
A pesquisa foi desdobrada em focos de interesse: grau de conhe‑ cimento dos dirigentes e executivos das organizações nos cursos de formação disponíveis e quais os profissionais que, de sua ótica, melhor atenderiam às necessidades das organizações no contexto atual.
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Os cursos de formação de profissionais disponíveis no mercado para as áreas de Gestão da Qualidade e Gestão Ambiental, sejam em nível médio (cursos técnicos), sejam em nível superior, são conhecidos por 19 do total de 29 dirigentes pesquisados. Esse número pode ser considerado baixo no caso da formação em Gestão da Qualidade, que é mais antiga, e que os entrevistados entendem ser o profissional da área, formado pela experiência adquirida na prática. Quanto à forma‑ ção em SST, 22 dirigentes a conhecem. Porém, sem percepção de que se trata de formação de graduação ou de nível técnico e das diferenças entre a gestão, com escopo de promover políticas e diretrizes, e o téc‑ nico, com foco nas tecnologias (Tabela 1.3). Nota‑se uma semelhança com os conhecimentos das organizações representadas pelos profis‑ sionais que nela atuam e cursam pós‑graduação. Como nesse caso, a modalidade de formação mais conhecida é a de Saúde e Segurança do Trabalho e possivelmente pelas mesmas razões: a área está consolidada há mais tempo e há exigências legais determinadas compulsoriamente pela Portaria n. 3.214/78 e respectiva Lei n. 6.514/77. Já a área de ambiente e, particularmente, a de gestão integrada ainda são recentes e as exigências legais ainda não estão consolidadas. Tabela 1.3 Número de dirigentes de organizações com conhecimento de cursos, por nível de ensino e modalidade Nível do curso
Modalidade de curso
CST Gestão da Qualidade CST Gestão Ambiental CST Tecnologia Ambiental Técnico Gestão Ambiental CST SST Técnico SST Pós‑graduação Sistema de Gestão Integrada Total de organizações CST: curso superior em Tecnologia. SST: Saúde e Segurança do Trabalho.
Dirigentes que conhecem os cursos N. abs. % 19
67
19
67
22
77
0 24
0 –
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A maioria enfatiza que, independentemente da formação acadêmi‑ ca, é grande a importância da prática ou das qualidades do profissional de recursos humanos e uma infraestrutura que viabilize seus negócios de maneira técnica e economicamente viável em curto prazo. Cabe destacar que, na abrangência da pesquisa aplicada aos três grupos pesquisados, algumas características comuns realçaram a pre‑ sença do tema SST. Finalizando, a pesquisa com os dirigentes mostrou que 88% deles têm em suas organizações a atividade de SST atendida por profissio‑ nais específicos e também que 77% têm conhecimento da existência dessa modalidade de formação. O maior conhecimento pelo SST muito provavelmente deve‑se à sua história mais antiga e à existência de legislação consolidada nessa área, que, a partir de 1970, ganha significativa importância no Brasil. Assim, o amadurecimento dos entrevistados a respeito das diversas modalidades de gestão, bem como das diversas modalidades de cursos, é consistente com a evolução histórica dos temas em pauta. Em relação aos tipos de formação profissional que melhor aten‑ deriam às necessidades das organizações (Tabela 1.4), dos 29 entre‑ vistados, seis (22%) apontaram para um profissional com formação de Gestão Ambiental ou Meio Ambiente. Três (11%) optaram por um profissional com formação em Gestão de SST, o qual poderia absorver também a Gestão de Meio Ambiente, mas não a da Qualidade, em que um profissional específico é imprescindível. A maioria dos entre‑ vistados (56%) entende que um profissional com formação integrada atenderia plenamente às necessidades das organizações, realçando os motivos para isso: vantagens técnicas (decisões e respostas mais ágeis com relação a situações de impactos, perigos e riscos relacionados a processos industriais e à responsabilidade social) e econômicas (custos diretos e indiretos menores, custo individual maior, porém compen‑ sado pela velocidade de resposta e coesão de decisões etc.). Os en‑ trevistados também afirmam que a integração pode se dar em torno dos profissionais de gestão da qualidade, visto que as atribuições com foco em ambiente, SST e responsabilidade social têm sido designadas a eles, quando não compartilhadas com a direção e os recursos huma‑ nos, conforme as necessidades (requisitos específicos) dos clientes ou
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outras partes interessadas (normalmente suscitadas por reclamações originadas de impactos no entorno das instalações ou, no caso da SST, por reclamações trabalhistas). Tabela 1.4 Número de dirigentes de organizações com conhecimento sobre formação profissional, por modalidade de formação Modalidade de formação Gestão Ambiental Meio Ambiente SST Gestão Integrada Total de organizações
Dirigentes com conhecimento N. abs.
%
6 3 3 16 29
22 11 11 56 100
SST: Saúde e Segurança do Trabalho.
Considerações Finais A pesquisa elaborada apontou para os seguintes resultados: Estudantes do curso superior de tecnologia têm conhecimento relativamente homogêneo das áreas em pauta. Os já formados, que atuam como profissionais, conhecem mais SST e, em seguida, Meio Ambiente e SGI. Entre estes, o conhecimento de RS é muito baixo e bastante díspar daquele mostrado pelos que ainda são estudantes, o que sugere que os cursos hoje estão reforçando esse aspecto, já revelando a visão de produção como construção social. As respostas dos alunos de pós‑graduação em Gestão Integrada permitiram fazer inferências sobre a demanda de profissionais nas áreas de gestão: as empresas em que os profissionais trabalham designam pessoas para cada uma das áreas de interesse, embora os profissionais sejam exclusivos somente nas áreas de Qualidade e SST. É crescente o interesse das organizações por certificações de sistemas de gestão, obtidas por algumas, particularmente de gestão de Qualidade. O que é incipiente nas organizações é a
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percepção de que muitos problemas rotineiros seriam melhores solucionados se vistos por um enfoque integrado, e começou-se a designar pessoas com a função de implementar procedimentos de gestão integrada. Segundo os entrevistados, essa é a principal demanda hoje nas organizações e foi esse contexto o principal estímulo para que procurassem aperfeiçoamento em curso de pós‑graduação. Os resultados mostram ainda que os cursos de formação nos quais os entrevistados estão envolvidos podem não atender à demanda de profissionais para a gestão integrada de qualidade, SST e ambiente. De qualquer modo, os esforços da universidade focando a forma‑ ção superior de tecnologia em gestão integrada ampliam as alternativas das organizações na identificação de profissionais com competências e habilidades apropriadas à sua demanda. Os resultados da pesquisa, conjuntamente à discussão informal mantida com os entrevistados durante as entrevistas, permitiram as seguintes observações sobre gestão integrada. Nenhuma das pequenas e médias organizações em que atuam os entrevistados utiliza a ferramenta da gestão integrada, em parte pela razão já aventada: não existe um instrumento pronto para isso. O mes‑ mo acontece em relação aos cursos de gestão integrada, no qual os alunos procuram ferramentas prontas que possam utilizar, de imedia‑ to, na vida profissional. No entanto, há fatores propícios para que as organizações come‑ cem a desenvolver essa ferramenta. Primeiramente, pessoas atuam em uma variedade de funções, e os atores estão mais próximos, o que facilita a comunicação e evidencia os conflitos que surgem quando diferentes enfoques – de diferentes procedimentos e áreas de gestão – competem, ao invés de se integrarem, na solução de um problema. Es‑ tes são diferenciais positivos que favorecem pelo menos a compreen são da gestão integrada. Outros pontos positivos são a forte consciência da velocidade das transformações e do curto tempo de vida de processos e equipamentos – cada vez mais automatizados por sistemas eletrônicos, permitindo
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até vislumbrar um futuro em que será feito o uso da inteligência virtu‑ al – e, junto deles, das habilidades e competências. Por outro lado, há fatores desfavoráveis que não podem ser nega‑ dos como, particularmente, a escassez de recursos e de infraestrutura, o que limita a geração de habilidades e competências. Além disso, a busca por fórmulas ou receitas prontas torna‑se um empecilho para a compreensão do problema, o qual exige um novo modo de pensar os processos de produção. Fórmulas para aspectos específicos desse processo existem e são parte de uma cultura compartamentalizada, incompatível com gestão integrada. Os dirigentes, por sua vez, mantêm posições ambíguas: se, de um lado, mostraram uma visão instrumentalizada e imediatista em rela‑ ção aos sistemas de gestão; de outro, percebeu‑se uma inquietação com o futuro ‘cada vez mais próximo e pleno de sérios problemas ambientais. Independentemente do segmento ou processo de pro‑ dução em que atuam, foi comum a menção espontânea aos riscos de grandes desastres ambientais como caso Shell® em Paulínia (SP), Ájax® em Bauru (SP), Césio 137 em Goiânia (GO), Cubatão (SP), Chernobyl na Ucrânia, Bhopal na Índia, entre outros acidentes com repercussões de ordem econômica, financeira e ética. Porém, são as consequências para as organizações responsáveis – problemas legais, altíssimos custos e risco de colapso – que mais parecem sensibilizar os dirigentes das empresas. Perante as incertezas em relação ao futuro e à necessidade de res‑ postas rápidas, os dirigentes expressaram que há uma necessidade de mudança, a qual possivelmente exigiria uma visão ampla dos proble‑ mas, para além dos limites da organização, mas que isso não é tarefa de uma única empresa ou de empresas isoladamente. O processo de re‑ vitalização e implementação de novos princípios orientadores é com‑ plexo e, na visão dos dirigentes, o caminho a percorrer é longo, mas necessário, visto que somente a qualidade do produto ou serviço e o desempenho, por si só, não são considerados suficientes para enfrentar o cenário atual de rápidas transformações e intensa competição. Há uma percepção de que os desafios de hoje já vão muito além daqueles que fecharam o século XX; na esfera ambiental, por exemplo, está cla‑ ro o caráter de urgência dos desafios a enfrentar. Acreditam também
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que é na qualidade dos recursos humanos que está a resposta a esses desafios. O que, no entanto, não é suficiente para que se interessem pelos estudos e pesquisas desenvolvidas na esfera acadêmica. Essas percepções, estruturadas a partir de pesquisa aplicada a gru‑ pos de interesses específicos, expressas em uma situação de entrevista, e não do cotidiano do trabalho, podem ser consideradas embrionárias de uma concepção de gestão integrada. Concepção esta que faz par‑ te um novo paradigma, o qual tende a romper a tradicional cultura compartamentalizada e imediatista das organizações e a romper, com isso, os próprios limites da organização, pois o processo de produção terá de ser visto em todas as suas repercussões externas, como um processo de construção social. Visão que é ainda incipiente entre os entrevistados, porém, a grande experiência que se desenvolveu nos diversos sistemas de gestão pode alicerçar o enfrentamento desse novo desafio. Também a instituição educacional tem um papel fundamental no processo de construção de novos conceitos nessa área, o que pode ser feito em cooperação com a esfera das organizações.
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Capítulo
2
Atividades de serviços: uma reflexão em relação aos impactos ambientais
Artur Fe rre ira de Tole do
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Introdução Apresenta-se neste capítulo um panorama sobre o crescimento, o desenvolvimento e as tendências do setor de serviços que há muito tempo e, principalmente, hoje é responsável por uma parcela econômi‑ ca significativa em relação ao PIB (Produto Interno Bruto) mundial, além de ser um grande gerador de novas oportunidades de emprego, bem como alternativas de ganho econômico para gestores de negócios e empreendedores. Acentua-se também a inegável importância de se estudar o setor de serviços (setor terciário) e sua importância para o desenvolvimento econômico global, tendo em vista não só a já citada participação no PIB em comparação aos outros setores da economia (setor primário e secundário), mas também sua importância retratada nos indicadores econômicos e sociais. Sem polemizar ou contrariar afirmações teóricas, se propõe a ques‑ tão: "As empresas do setor de serviços não contribuem com uma par‑ cela de impactos ambientais significativos?", e aponta a necessidade de se realizarem estudos a respeito.
Atividades de Serviços Tendo em vista a problemática de definição do termo, torna‑se necessário compilar definições, segundo alguns autores. Para Kotler (2000 apud Pasquali, 2002), serviço é qualquer ato de desempenho, essencialmente intangível, que uma das partes pode ofe‑ recer a outra e que não preponderantemente resulta na propriedade de nada. Também possui como característica que sua execução pode ou não estar ligada a um produto concreto. A maioria das empresas, ainda segundo Kotler (2000), produz e oferece aos seus clientes um mix de serviços, que é o resultado da mistura de bens e serviços, sendo que estes podem constituir a maior ou menor parte da oferta total. Segundo Horta, Souza e Waddington (1998), a literatura econô‑ mica vem, de longa data, tentando definir a natureza das atividades de serviço, mormente buscando sublinhar suas diferenças intrínsecas com respeito aos bens (intangibilidade, invisibilidade, transitoriedade, não
2. Atividades de serviços: uma reflexão em relação aos impactos ambientais
durabilidade, simultaneidade entre oferta e consumo etc.) e inferindo de que maneira essas diferenças afetam a aplicação da abordagem teó‑ rica das vantagens comparativas. No entanto, para Grönroos (1995 apud Pasquali, 2002), serviço é uma atividade ou uma série de atividades de natureza mais ou menos intangível,1 que normalmente (mas não necessariamente) acontece durante as interações entre clientes e empregados de serviço e/ou recursos físicos ou bens e/ou sistemas de fornecedor de serviços – que é oferecida como solução ao(s) problema(s) do(s) cliente(s). De acordo com Pasquali (2002), para que se compreenda melhor a definição de serviço, é importante que se considerem as operações de serviços e se visualize a diferença entre serviços e bens manufaturados, o que torna necessário diferenciar suas características. A autora consi‑ dera ainda que a maioria das empresas produz e oferece um “pacote” de serviços, resultado da mistura de bens e serviços, sendo que servi‑ ços podem constituir a maior ou menor parte. A ausência de estudos relacionados ao tema em questão, percebida em pesquisa bibliográfica, gera a dificuldade de se definir claramente o termo serviços bem como efetuar seu respectivo desmembramento. Horta, Souza e Waddington (1998) mencionam que, de maneira geral, para a quase totalidade de distinções entre serviços e bens, exis‑ tirão exceções e anomalias, de tal forma que nenhuma das definições até hoje atingiu grande consenso na literatura econômica. Segundo Melo (1998), a literatura brasileira sobre serviços é ainda mais escassa comparativamente à que tem sido produzida na Europa e nos Estados Unidos desde os anos 1970. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) publicou alguns trabalhos mais comple‑ tos para análise do caso nacional e, nos últimos anos, algumas teses e alguns artigos têm sido produzidos no país. Ainda segundo a autora, o enfoque convencional dos serviços, de maneira geral, associa o au‑
Ao contrário de bens manufaturados que as pessoas podem tocar e possuir, os serviços são intangíveis, não podem ser vistos, sentidos, tocados ou provados antes de serem adquiridos (Pasquali, 2002).
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mento da riqueza social ao crescimento de sua taxa de participação na geração de renda e de emprego.2 No âmbito da economia mundial, a expansão das atividades de serviços constituiu uma das mais importantes mudanças introduzidas no cotidiano humano no século XX, segundo Gatt (1989 apud Melo, 1998). Não obstante, pouca atenção se deu a ela nos quase três sécu‑ los de desenvolvimento da ciência econômica. É evidente que, nos pri‑ mórdios da Revolução Industrial, a importância do setor de serviços era muito inferior à atual. Mesmo assim, os serviços são considerados ainda parte pouco estudada da economia. Em contrapartida, o papel desempenhado pelos serviços está longe de poder ser negligenciado, não só por sua dimensão em termos de renda e emprego, mas também por diversos de seus segmentos estarem proporcionando insumos fun‑ damentais ao setor industrial, como é o caso de seguros, telecomuni‑ cações, transportes e todo o setor financeiro. Limitar as considerações em relação a esse estudo não é tarefa fácil, porém há necessidade de evidenciar e de se estabelecer a importância do setor na economia, postulando o merecido status adquirido ao lon‑ go de décadas, principalmente no movimento pós‑industrial.
Importância do Setor de Serviços na Economia A teoria econômica sempre privilegiou, por meio de dados e indi‑ cadores, outros setores econômicos em detrimento do setor de servi‑ ços, não produzindo teoria e base de dados suficientes para o atendi‑ mento da procura. Segundo Melo (1988), uma das principais razões para o relati‑ vo esquecimento do setor de serviços na agenda dos pesquisadores justifica‑se pelos problemas encontrados para se obter definição e clas‑
Os países ocidentais desenvolvidos projetam a tendência histórica de que a sociedade ca‑ minha para uma economia de serviços, com estes respondendo por uma parte crescente do produto e do emprego (Baumol, 1967).
2
2. Atividades de serviços: uma reflexão em relação aos impactos ambientais
sificação satisfatórias dessas atividades e pela consequente dificuldade em mensurá‑las. Apesar de não haver, em número suficiente, estudos voltados ao setor de serviços, capazes de servir como base de dados para análises econômicas, o setor conseguiu demonstrar sua importância econômi‑ ca e social, por meio de estatísticas em relação ao PIB, ao desemprego e à economia informal. Alguns dados e indicadores econômicos das contas nacionais mos‑ tram que o setor de serviços foi o responsável por 31% do total de R$ 251 bilhões arrecadados pelo setor público no ano de 2001 (IBGE, 2001), ficando em posição superior em relação às indústrias de trans‑ formação. Ainda segundo dados oficiais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o setor de serviços respondeu, no ano de 2000, por 58,88% no valor adicionado aos preços básicos das contas nacio‑ nais (PIB), número expressivo em relação às outras atividades econô‑ micas (Tabela 2.1). Tabela 2.1 Valor adicionado aos preços básicos das contas nacionais Contas nacionais Participação no valor adicionado a preços básicos (%) Classes de atividade Agropecuária Indústria Serviços Dummy financeiro
1996
1997
1998
1999
2000
105,33 8,32 34,7 62,31 (‑) 5,33
105,09 7,96 35,21 61,92 (‑) 5,09
105,12 8,23 34,62 62,27 (‑) 5,12
104,79 8,19 35,6 61,00 (‑) 4,79
104,10 7,69 37,52 58,88 (‑) 4,10
Fonte: Sistema de Contas Nacionais. Brasil, 1996/2000.
No Brasil, as atividades do setor de serviços respondem por par‑ celas significativas da geração de emprego e da renda num fenômeno idêntico ao ocorrido nas economias desenvolvidas (Melo, 1998). A evolução da estrutura do emprego e do PIB de grandes setores econô‑
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Gestão Ambiental
micos apresenta características de terceirização comuns, ou seja, declí‑ nio das atividades agropecuárias e expansão da indústria e dos serviços. Dessas características, a mais notável foi o crescimento do emprego no setor de serviços (Kuznets, 1966; Maddison, 1991). Do pós‑guerra até a década de 1970, a economia brasileira apresentou uma nítida tendência de concentração nas atividades industriais. A importância relativa da agropecuária decresceu cerca de 36%, enquanto a indústria expandiuem 44%, e os serviços tiveram crescimento de 2,5% no pro‑ duto total da economia (Almeida e Silva, 1973). O papel desempenhado pela indústria na absorção de mãode o bra mostra um crescimento menor do que nos serviços, uma vez que, en‑ tre 1950 e 1960, o crescimento dos postos de trabalho da indústria expandiucerca de 20% e o setor de serviços gerou um pouco mais de 40% de postos de trabalho adicionais (IBGE, Censos de 1950 e 1960). As pesquisas de opinião destacam o desemprego, a ausência de um programa público para a saúde e a insegurança advinda desses fatores como as maiores preocupações dos brasileiros, ao mesmo tempo em que apontam a importância do setor de serviços na geração de novos postos de trabalho e, por consequência, na absorção de boa parte da mãodeobra alijada das indústrias e da agropecuária. Essa realidade é mais visível nas grandes cidades que, há décadas, vêm perdendo suas características predominantemente industriais para se transformarem em grandes polos de prestação de serviços do país. Segundo dados da Empresa Metropolitana de Planejamento da Grande São Paulo (Emplasa), a indústria paulistana empregava, há 40 anos, 7 entre cada 10 trabalhadores existentes; essa relação agora se reduz a 2 em cada 10 empregados (Emplasa, 2001). A diferença foi absorvida pelo setor de serviços, que contabilizava um para cada dez trabalhadores na década de 1950, e seis para dez, atualmente. Melo (1998) afirma que o crescimento do setor de serviços visível nos dias de hoje pela totalidade das economias nacionais não é, con‑ tudo, fenômeno recente. O acelerado crescimento a partir da década de 1960 foi acompanhado por um fenômeno importante, que está no centro das preocupações das análises em relação ao setor. Dados do IBGE (2001) sobre a ocupação de pessoas por ramos de atividades comprovam que o setor é responsável atualmente por 33
2. Atividades de serviços: uma reflexão em relação aos impactos ambientais
milhões de empregos que, se somados ao setor comercial, chegaà soma expressiva de 43 milhões, comparada aos 25 milhões de empregos gera‑ dos pela somatória do setor industrial com o setor agrícola (Figura 2.1). Figura 2.1 Pessoas ocupadas por ramos de atividade – 1997‑2001. 35
Milhões
30 25 20 15 10 5 0 1997 Agrícola
1998
1999
Indústria
Comércio
2001 Serviços
Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, 2001.
Bell (1973) previa que, até o final do século XX, as atividades eco‑ nômicas estariam dominadas pelo setor de serviços, fato evidenciado pelos dados estatísticos apresentados neste capítulo. Melo (1998) coloca em seu estudo que a economia brasileira não ficou alheia à mudança estrutural da expansão do setor de serviços operada em nível internacional. Assim, no país, a evolução dessas ativi‑ dades seguiu a mesma trajetória internacional, ou seja, a industrializa‑ ção e seu corolário. A urbanização acelerada desde os anos 1970 acar‑ retou um aumento sensível da participação das atividades de serviços, provocando transformação na estrutura econômica nacional. No entanto, apesar da importância e da significativa participação do setor na economia, é clara a pouca exploração do assunto. Se limi‑ tados em relação aos aspectos econômicos e sociais, no que se referem às questões ambientais, os dados são mais restritos ainda, principal‑ mente em relação aos possíveis impactos gerados pelas atividades do
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Gestão Ambiental
setor. Especificamente, o assunto ‘ambiente’ fica limitado aos setores industriais e agropecuários, em função da ausência de estudos com‑ parativos entre outros setores que possibilitem verificar quais são os impactos gerados pela atividade de serviços.
O Ambiente e o Setor de Serviços Até meados da década de 1980, predominou, no discurso empre‑ sarial, a resistência a qualquer tentativa de minimizar os impactos so‑ cioambientais decorrentes das atividades produtivas, principalmente aos referentes a problemas de degradação ambiental (Demajorovic, 2003). Os representantes empresariais, por vezes, argumentavam que os custos adicionais às empresas, resultantes dos gastos em controle da poluição, comprometeriam a lucratividade, a competitividade e a oferta de empregos, gerando, então, prejuízos à sociedade, ou seja trabalhadores, acionistas e consumidores. A partir de meados da década de 1980, ainda segundo o autor, o discurso empresarial, que enaltecia o papel exclusivo das empresas como fomentadoras da riqueza, passou a receber menos respaldo na socieda‑ de. A mobilização em torno da questão ambiental multiplicou‑se; os debates sobre essa temática em diversos países eram constantes; o setor público, por meio de suas agências ambientais, aprimorava a legislação ambiental, convertendo os danos e as ameaças ao ambiente, em custo direto para os negócios. Além disso, a exposição na mídia de tragédias ambientais provocadas por grandes empresas colocava o setor industrial como alvo prioritário dos protestos de grupos ambientalistas. Nesse cenário, as organizações vivenciaram momentos de profun‑ das mudanças, na busca insistente de novos modelos estratégicos de competitividade. A necessidade e a demanda de tecnologia em direção à produtividade, da qualidade para o atendimento às expectativas de clientes, de segurança e saúde para os seus colaboradores (não só para o cumprimento de uma legislação trabalhista restritiva, como tam‑ bém a preocupação de demonstrar, de forma clara, seu desempenho ambiental para o controle de impactos oriundos de suas atividades, produtos e serviços em relação ao ambiente) exigiram processos novos de gestão e filosofia.
2. Atividades de serviços: uma reflexão em relação aos impactos ambientais
Cada vez mais a questão ambiental se tornava matéria obrigatória das agendas dos executivos da empresa. A globalização dos negócios, a internacionalização dos padrões de qualidade ambiental preconiza‑ das pela então futura NBR ISO 14001, a conscientização crescente dos consumidores e a disseminação da educação ambiental nas escolas permitiam antever que a exigência feita pelos futuros consumidores em relação à preservação do ambiente e à qualidade de vida deveria se intensificar (Donaire, 1995). Assim, Donaire, no ano de 1995, antes mesmo da publicação pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) da normativa NBR ISO 14001, em 1996, previa a mudança de cenário no que diz res‑ peito ao comportamento das organizações em relação ao ambiente. A questão ecológica, segundo o autor, alcançaria um destaque significa‑ tivo para a qualidade de vida das populações, em face de sua relevância. Segundo Kinlaw (1997), algumas organizações já tomaram a dian‑ teira na resposta ao desafio ambiental, adquirindo a tradição de serem socialmente responsáveis. Outras organizações reconheceram que sua posição competitiva está diretamente relacionada ao seu nível de res‑ posta a esse desafio. Sejam quais forem as causas imediatas a serem ob‑ servadas bem como o nível e a rapidez com que puderam responder, todas as empresas, de uma forma ou de outra, vão responder. Um dos maiores desafios que o mundo enfrentará neste novo milê‑ nio é fazer com que as forças de mercado protejam e melhorem a qua‑ lidade do ambiente, com a ajuda de padrões baseados no desempenho e no uso criterioso de instrumentos econômicos, num quadro harmo‑ nioso de regulamentação. O novo contexto econômico caracteriza‑se por uma rígida postura dos clientes, voltada à expectativa de interagir com organizações éticas, com boa imagem institucional no mercado e que atuem de forma ecologicamente responsável (Tachizawa, 2002). Ainda segundo Tachizawa, a expansão da consciência coletiva com relação ao ambiente e a complexidade das atuais demandas sociais e ambientais que a comunidade repassa às organizações induzem a um novo posicionamento. De fato, grande parte das organizações assumiu tal responsabilidade em relação ao ambiente, primeiramente por imposição do próprio mer‑ cado e pela legislação restritiva, para, logo após, verificar que essa amea
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Gestão Ambiental
ça era uma grande oportunidade de detectar perdas (fontes geradoras de desperdício), possibilitando melhoria de seus processos e serviços. Muito se tem feito em relação ao ambiente. Encontra‑se uma lite‑ ratura farta de estudos de casos com resultados significativos de sucesso empresarial. Empresas dos mais diversos ramos de atividades obtiveram certificações de seus sistemas gerenciais com base na normativa NBR ISO 14001. Atualmente, o Brasil possui a marca histórica de 1.000 cer‑ tificações ambientais (Revista Meio Ambiente Industrial, 2003). O gradativo aumento das certificações no Brasil, com base na nor‑ mativa NBR ISO 14001, demonstra o interesse das organizações de diversos segmentos do mercado em atender uma clientela diversificada. Entre os benefícios alcançados com a implementação do Sistema de Gestão Ambiental estão a garantia de melhor desempenho ambien‑ tal, a melhoria da imagem para o mercado, o melhor relacionamento com os órgãos ambientais e com a comunidade, a possibilidade de financiamentos e, principalmente, a redução de perdas (desperdícios), oriundas de processos e serviços. Salienta‑se que cerca de 50.000 organizações se certificaram na NBR ISO 14001:1996 até dezembro de 2002, por organismos cre‑ denciados pela International Organization for Standardization, con‑ forme demonstram as Figuras 2.2 e 2.3. Figura 2.2 Total de certificações no mundo.
50.000
Total mundial
40.000 30.000 20.000 10.000 0 2002 2001 2000 1999 1998 1997 1996 1995 Resultados mundiais Fonte: ISO Management Systems. September/2003.
2. Atividades de serviços: uma reflexão em relação aos impactos ambientais
Figura 2.3 Total de certificações no Brasil. 1.000
Total do Brasil
800 600 400 200 0 2002
2001
2000
1999
1998
1997
Resultados do Brasil Fonte: ISO Management Systems. September/2003.
No Brasil, a situação não é diferente. Um número significativo de organizações optou pela implementação do sistema, demonstrando um quadro evolutivo e um significativo destaque em relação a outros países. Percebe‑se, na Tabela 2.2, que a maior parte (cerca de 90%) das certificações ambientais está concentrada no setor industrial. Não há dúvidas para a sociedade de que as indústrias possuem maior vocação poluidora do que as atividades pertencentes ao setor de serviços, po‑ rém há necessidade de uma melhor avaliação em relação ao exposto. Tabela 2.2 Demonstrativo da evolução das certificações por setor Setor
%
Químico/Petroquímico/Farmacêutico
21,8
Tecnologia/Computação/Telecomunicações
1,9
Têxtil/Calçados
4,0
Alimentação/Bebidas
4,2
Automotivo
17,3 (continua)
39
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Gestão Ambiental
Tabela 2.2 Demonstrativo da evolução das certificações por setor (continuação) Setor
%
Construção Civil/Material de Construção
2,2
Elétrica
2,2
Eletroeletrônico/Eletromecânico
7,8
Vidros
0,6
Fotográfico
0,5
Higiene/Limpeza/Cosméticos
1,4
Metal/Mecânico
2,8
Metalurgia/Siderurgia
6,8
Mineração
3,1
Papel e Celulose/Agroflorestal
3,5
Plásticos/Borracha
3,7
Outros
7,0 3
Setor de Serviços
8,9
Fonte: Edição Especial ISO 14000. Revista Meio Ambiente Industrial, 2003.
Em princípio, pode‑se supor que as atividades pertencentes ao setor de serviços não venham causar impactos significativos no am‑ biente, comparando‑as às do setor industrial, como os ramos químico e petroquímico, a siderurgia, a metalurgia, entre outros. Porém, quan‑ do se pensa no potencial poluidor de milhões de pessoas que, de algu‑ ma maneira, consomem serviços colocados à disposição no mercado, surge uma grande e desafiadora proposta de estudo, tendo em vista a inexistência de análises realizadas até o presente. 3
Agrupamento de várias atividades relacionadas ao Setor de Serviços (Serviços Públicos, Sa‑ neamento, Comércio, Hidroelétrica, Transporte, Turismo, Hotelaria, Navegação, Logística e Prestação de Serviços).
3
2. Atividades de serviços: uma reflexão em relação aos impactos ambientais
A maioria de estudos voltados aos impactos gerados por ativida‑ des está concentrada nas indústrias; o próprio quadro que analisa os setores e certificações ambientais conquistadas pelas organizações de‑ monstra tal evidência. Há até um certo consenso entre os especialistas de vários países de que os resultados proporcionados pela implemen‑ tação da série NBR ISO 14000 nas organizações industriais, com foco na questão ambiental, estão entre os principais avanços mundiais dos últimos tempos. Em outras palavras, a série NBR ISO 14000 define diretrizes para que as organizações façam uma reavaliação de suas estruturas opera‑ cionais, adotando medidas técnicas e educativas de grande eficiência, como a utilização racional de recursos naturais renováveis e não reno‑ váveis, e a redução de emissão de poluentes. Pelo exposto, muito se tem feito em relação às indústrias. É pre‑ ciso agora analisar a necessidade de se contribuir igualmente com o setor de serviços. Será que as atividades desse setor não são tão impactantes em termos ambientais quanto as oriundas do setor in‑ dustrial? Responder a esse questionamento é um desafio, pois indi‑ cadores socioambientais do setor sugerem a necessidade de maior aprofundamento nas questões, procurando verificar qual realmente é a contribuição negativa do setor ao ambiente e quais são essas va‑ riáveis influenciáveis.
Setores Industrial e de Serviços: impactos ambientais Para podermos fazer um comparativo entre o setor industrial e o de serviços com seus respectivos impactos gerados, precisamos definir o que seja impacto ambiental do ponto de vista legal e técnico. Segundo a resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) de n. 001, de 23 de janeiro de 1986, impacto ambiental é definido como: Artigo 1o – Para efeito desta resolução, considera‑se impacto ambiental qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causado por qualquer forma de
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matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam: I‑ A saúde, a segurança e o bem‑estar da população; II‑ As atividades sociais e econômicas; III‑ A biota; IV ‑ As condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; V‑ A qualidade dos recursos ambientais.
Ainda, como definição técnica, encontramos na NBR ISO 14001: Qualquer modificação do meio ambiente, adversa ou benéfica, que resulte no todo ou em parte, das atividades, produtos e ser‑ viços de uma organização.
Para Tachizawa (2002), é importante estabelecer uma divisão das organizações por atividades e grupos, observando uma divisão entre setores, ramos de atividades e suas principais características em relação à geração de impactos no ambiente, bem como as estratégias de sobre‑ vivência em relação à contribuição, de caráter genérico, normalmente aplicáveis. Assim, para melhor entendimento, torna‑se necessário o agrupa‑ mento desses setores, e seus principais impactos em função de suas atividades: Grupo I: indústrias altamente concentradas, semiconcentradas, bens de consumo duráveis e não duráveis. O setor abrange a maioria das empresas industriais, com elevada escala de produção, dos tipos siderúrgico, de minerais não metálicos (cimento), de mineração, químico e petroquímico, ferroviário, de construção pesada, de papel e celulose, de máquinas e equipamentos, e produtoras de bens de consumo. Grupo II: empresas comerciais, de serviços financeiros, espe‑ cializados, educacional, serviços públicos e de outros ramos de negócios. Abrangem as organizações que atuam no comércio de forma geral, organizações como bancos, seguradoras, finan‑ ceiras, crédito imobiliário, leasing, agências de publicidade e
2. Atividades de serviços: uma reflexão em relação aos impactos ambientais
propaganda, consultorias, auditorias independentes, escritórios profissionais especializados, instituições de ensino, órgãos de administração direta (federal, estadual e municipal), órgãos da administração indireta, empresas públicas, sociedades de eco‑ nomia mista, autarquias, fundações e afins. Ainda para Tachizawa (2002), o mundo empresarial é formado por organizações que constituem a economia de um país, podendo ser considerado como um conjunto de diferentes classes de empresas, em termos de características organizacionais, sendo que tais características são identificadas em função da forma diferenciada como as organiza‑ ções se adaptam ao ambiente para terem continuidade e sobreviverem. O autor analisa os diferentes tipos de empresas, observando que as atividades ligadas ao setor financeiro apresentam impactos ambientais quase nulos, resumindo suas estratégias ambientais e sociais, pratica‑ mente, à divulgação de balanços e projetos sociais. Além dos ban‑ cos, há outras organizações, como instituições de ensino, empresas de serviços e assemelhadas. No outro extremo, o autor cita as empresas industriais como altamente impactantes.
Serviços: impactos ambientais Como já proposto, este capítulo não objetiva polemizar ou contra‑ riar afirmações teóricas em relação a possíveis impactos gerados por um ou outro setor de atividade, mas é importante considerar que, compro‑ vadamente, as afirmações de vários autores são coerentes. Quando o assunto é ambiente, a maioria dos pesquisadores relata estudos de casos voltados somente às organizações industriais, deixando outros setores alienados em relação ao tema. Desse modo, estabelecer uma compara‑ ção entre as atividades industriais e as do setor de serviços e seus respec‑ tivos impactos se faz necessário, pois, por analogia, os impactos ambien‑ tais provocados pelas atividades oriundas das atividades industriais têm igual teor em relação aos provocados pelas atividades de serviços como hotéis e motéis, hospitais, shopping centers, atividades de construção civil, postos de gasolina, comércio em geral, entre outros. Essas ativida‑ des são responsáveis pelo grande consumo de energia elétrica e de água,
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Gestão Ambiental
alterações da qualidade do solo, alterações atmosféricas e visuais, ruído, geração de efluentes e resíduos, proliferação de pragas etc. Evidências de que as atividades do setor são impactantes são de‑ monstradas por meio de um estudo recente realizado pela Com‑ panhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental de São Paulo (Cetesb) sobre áreas contaminadas no Estado, comprovando que o setor de serviços é um dos principais responsáveis pela contamina‑ ção (Tabela 2.3). Tabela 2.3 Áreas contaminadas no Estado de São Paulo4 Região/ Disposição Postos de Outros Total Comercial Industrial de resíduos combustível atividade São Paulo
19
28
14
250
1
312
RMSP – outros
7
45
10
103
2
167
Interior
20
56
15
63
6
149
Litoral
1
19
11
44
4
79
Vale do Paraíba
1
14
0
4
0
19
Total
48
162
40
464
13
727
RMSP: Região Metropolitana de São Paulo. Fonte: Cetesb. Outubro, 2003.
Percebe‑se, na Figura 2.4, um significativo número de postos de serviços (combustíveis) inseridos nas áreas contaminadas. Segundo a Cetesb, tal fato reflete a atividade de licenciamento dessas empresas empreendida pela companhia, quando se exige a avaliação de passivos ambientais para os postos de serviços existentes antes da Resolução Conama 273.4
Para a distribuição das áreas contaminadas, a Cetesb considerou as seguintes regiões: São Paulo: inclui as áreas contaminadas da Capital do Estado; RMP–outros: refere-se às áreas
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2. Atividades de serviços: uma reflexão em relação aos impactos ambientais
Interessante notar que as atividades comerciais estão presentes no quadro com um número expressivo de áreas contaminadas, principal‑ mente no interior do Estado. Figura 2.4 Distribuição por atividade.
Outros Comercial 2% 7%
Industrial 22%
Postos de serviços 63%
Disposição de resíduos 6%
Fonte: Cetesb. Outubro, 2003.
Segundo a Cetesb, comparando‑se dados de 2002 aos de 2003, o setor de serviços teve um crescimento percentual significativo em termos de impacto (aumento de 14%), com a responsabilidade por 72% das áreas contaminadas no Estado, enquanto as indústrias tive‑ ram uma redução nos índices (15%), adotando medidas de remedia‑ ção.
contaminadas dos 38 municípios da Região Metropolitana de São Paulo, incluindo-se a ca‑ pital; litoral: está relacionada às áreas contaminadas dos municípios localizados no litoral sul, na Baixada Santista, no litoral norte, além dos municípios de Barra de Turvo, Jacupiranga, Pariqueva-açu, Miracatu e Registro; Vale do Paraíba: inclui os municípios do Vale do Paraíba e da mantiqueira; interior: os municípios não relacionados anteriormente.
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Gestão Ambiental
Considerações Finais Diante do exposto, nota‑se a relevância de um estudo que per‑ mita identificar essas variáveis influenciáveis e impactantes geradas por organizações pertencentes ao setor de serviços, possibilitando o entendimento e a possível interferência na redução desses impactos, comprovadamente significativos. Salienta‑se que, por vezes, esses impactos são mais significativos do que os provocados pela indústria. Pode‑se afirmar, ainda, que, se por um lado as organizações industriais têm procurado a adequação e a minimização de seus impactos, por outro o setor de serviços não aderiu à mesma prática. Ao demonstrar que o setor de serviços é gerador de impactos similares aos da indústria, sem excetuar os impactos provenientes da atividade química, como explicar que somente 8,9% (Tabela 2.2) das organizações pertencentes ao setor obtiveram certificações am‑ bientais? Outro questionamento bastante pertinente: por que não há a mes‑ ma aderência, por parte do setor de serviços, a um sistema de geren‑ ciamento que permita o controle dos impactos ambientais e a conse‑ quente possibilidade da redução de perdas e impactos ao ambiente geradas no processo? Nota‑se que, infelizmente, não há resposta às indagações e poucos são os trabalhos de levantamento das variáveis ambientais influenciá‑ veis e impactantes no setor de serviços, assim como não existem estu‑ dos relacionados às ciências econômicas.
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2. Atividades de serviços: uma reflexão em relação aos impactos ambientais
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Com abordagem multidisciplinar, Gestão Ambiental: abordagens práticas e acadêmicas apresenta artigos de especialistas de diferentes áreas, mas cujo propósito é o mesmo: apontar maneiras eficazes para o uso de nossos recursos naturais e a tecnologia desenvolvida ao longo dos anos de modo que a qualidade de vida melhore não apenas em curto prazo, mas constantemente. A escassez de boas pesquisas que ofereçam o entendimento dos problemas na área ambiental, bem como a relevância da participação das empresas e indústrias na aplicação prática desses conhecimentos, fundamenta a publicação desta obra, que apresenta a profissionais e estudantes interessados na Gestão Ambiental as mais variadas dimensões do setor.
ISBN 978-85-7728-269-2
9 788577 282692
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