Transporte de Pacientes: a segurança em situações críticas

Page 1

organização

William Malagutti Karen Cardoso Caetano

Transporte de Pacientes a segurança em situações críticas



organização

William Malagutti Karen Cardoso Caetano

Transporte de Pacientes a segurança em situações críticas


Copyright © 2015 Karen Cardoso Caetano e William Malagutti 1a edição Todos os direitos reservados. Editora executiva: Dirce Laplaca Viana Editora: Aline Gongora Coordenadora de arte: Bárbara Lorente Analistas de arte: Daniela Perin, Fabio Augusto Ramos, Fabio Oliveira e Ruben Moreira Auxiliar de arte: Samara Lopes Coordenadora de texto: Nathalia Ferrarezi Analistas de texto: Meggie Monauar e Thalita Ramirez Moiseieff Assistente administrativa: Elane Lima Preparação de texto: Carolina Zanelli Revisão de texto: Gabriela Hengles Projeto gráfico, editoração eletrônica: Bárbara Lorente Capa: Cristiane Viana Proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem a autorização escrita da Editora. As informações e as imagens são de responsabilidade dos autores. A Editora não se responsabiliza por eventuais danos causados pelo mau uso das informações contidas neste livro. ISBN 978-85-7728-315-6 Este livro está catalogado na CIP. Impresso no Brasil Printed in Brazil

Yendis Editora Ltda. Estrada das Lágrimas, 111 São Caetano do Sul – SP – 09581-300 Tel./Fax: (11) 4224-9400 yendis@yendis.com.br www.yendis.com.br


Nota do editor

A assistência direta e imediata a uma pessoa em situação de emergência é um procedimento bastante antigo, que tem suas origens no atendimento a feridos de guerra na Inglaterra anglo-saxã. Daquele período até hoje, o contexto mudou drasticamente. Os ambientes de atendimento tornaram-se múltiplos e imprevisíveis, e os casos e pacientes a serem tratados, particulares e específicos, portanto, a atuação dos profissionais que irão prestar socorro exige conhecimento e preparo altamente qualificados. É nesse cenário que Transporte de Pacientes: a segurança em situações críticas aparece como personagem essencial. Escrito e organizado por importantes e competentes nomes da área da saúde no Brasil, traz um texto coeso, objetivo e esclarecedor, que aborda desde o histórico do tema até exemplos práticos, passando por cada tipo de atendimento com a devida técnica a ser empregada. Uma obra sólida e definitiva, que a Yendis Editora lança agora na certeza de contribuir para o debate, o estudo e a prática do transporte de pacientes na atualidade.



Agradecimentos

A Deus, pela força que une as pessoas. Aos colaboradores do livro, que dedicaram seu tempo, mesmo que atribulado, para contribuir com a difusão da informação aos leitores, não medindo esforços quando solicitados constantemente para os ajustes e quanto ao resultado final do livro. Aos leitores, profissionais da área de saúde e pessoas afins interessadas na temática por nós organizada que, pela riqueza e grandiosidade de informações contidas neste livro, que poderão assimilá-las em sua rotina laboral, contribuindo para o diferencial em suas vidas profissionais. A Odete Amabile Malagutti, in memoriam, pela maravilhosa mulher, mãe, amiga e exemplo de vida, com quem tive o prazer de conviver neste mundo. A Elaine, Mariana, Letícia e Gabriel, pessoas maravilhosas e encantadoras com quem convivo atualmente. Quanto mais fundo a árvore mergulhar suas raízes dentro das trevas da terra, mais alto erguerá seus galhos. Quanto mais profundos forem nossos sentimentos, mais altos serão os gestos e atitudes que lhes estiverem ligados. (Provérbio Hindu)

William Malagutti | V |


Quando idealizamos o projeto deste livro, pensamos no quanto ele poderia ajudar os profissionais de saúde a auxiliarem e salvarem pessoas em situações críticas. Percebemos, porém, que os colaboradores enriqueceram muitíssimo a temática, descrevendo as inúmeras possibilidades para atuação. Assim, gostaríamos de agradecer a todos que colaboraram com este livro, com sua expertise e tempo dedicado ao projeto. Agradeço especialmente a Deus, pela oportunidade de auxiliar a muitos por meio do conhecimento compartilhado. Ao Saulo, pelo companheirismo, apoio e amor, que me acompanha desde sempre em todos os meus projetos. À minha família, em especial a Homênia, que, mais do que mãe, sempre foi minha grande incentivadora. Karen Cardoso Caetano

| VI |


Prefácio

É com muita satisfação e orgulho que apresento o trabalho intitulado Transporte de Pacientes: a segurança em situações críticas. Com a colaboração de profissionais qualificados e responsáveis, Caetano e Malagutti, e de outros colaboradores, este livro traz, com fundamentação científica, os procedimentos adequados frente ao transporte e à movimentação de pacientes críticos e dependentes. A decisão de transportar um paciente em situação crítica requer de toda a equipe uma avaliação baseada em benefícios e, muitas vezes, em riscos potenciais aos pacientes. Tal risco pode ser minimizado se todo o grupo estiver seguro e qualificado para o procedimento. Aqui, destacar a importância do correto transporte de pacientes em situações críticas faz-se desnecessário, pois este trabalho, além de propiciar ao leitor uma visão panorâmica do assunto em questão, vem culminar e possibilitar fulcro para um repensar no transporte e na movimentação dos pacientes em questão, despejados em nossas mãos, sem condições de nos olhar, de nos dizer: “Cuidado técnico comigo! Estou e confio em suas mãos”.

| VII |


Honrada com o convite para elaborar este prefácio, não tenho dúvidas em indicar sua leitura não só aos trabalhadores de saúde, que muito o utilizarão, mas também à população leiga, para que conheça e oriente-se sobre o transporte das vidas que estão em nossas mãos, não porque pediram, mas porque o destino nos proporcionou tal momento único. Transportar corretamente um paciente vai além da competência técnica, já que possibilita a cada ser humano repensar o sentido único de viver e de estar momentaneamente neste espaço temporal. A predição do risco no transporte é variada e complexa, pois compete ao profissional agir com prudência e, acima de tudo, com profissionalismo. Parabenizo os autores, mas ainda cumprimento particularmente a você, leitor, que tem por obrigação compreender e agir corretamente ao deparar-se com tal situação. Este livro servirá certamente para todos os que buscam, com suas mãos, técnica e capacidade profissionais, além de agir corretamente, com rapidez e precisão, ora no papel de profissional, ora de paciente, se a vida assim nos permitir. Deixo uma frase escrita por Chiara Lubich para expressar a essência do transporte adequado aos pacientes: “Se temos dons, são talentos a serem permutados... isso é dignidade profissional e ética”. Leila Maria Mansano Sarquis Enfermeira, Doutora em Enfermagem e Professora do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Paraná (UFPR)

| VIII |


Organizadores William Malagutti Enfermeiro. Mestre em Educação, Administração e Comunicação pela Universidade São Marcos, especialista em Educação em Enfermagem pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP-Fiocruz), especialista em Administração Hospitalar pelo Instituto de Pesquisas Hospitalares (IPH) e licenciado em Enfermagem pela Universidade de Mogi das Cruzes (UMC). Coordenador e professor da pós-graduação em Enfermagem da Universidade Estácio de Sá, docente convidado da pós-graduação do Cesed, Campina Grande, Paraíba, assessor dos periódicos Enfermagem Brasil, JHMA e Gestão & Saúde Nesporm e assessor do conselho editorial da Revista REOUL. Enfermeiro da Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo.

Karen Cardoso Caetano Mestre em Enfermagem pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EEUSP). Especialista em Informática na Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Docente dos cursos de graduação e pós-graduação em Enfermagem do Centro Universitário Ítalo-Brasileiro (UniÍtalo) e da Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU-SP). Consultora do Programa TecSaúde do Governo do Estado de São Paulo. Coordenadora de projetos educacionais da Netstorm.

| IX |


Prefacista Leila Maria Mansano Sarquis Doutora em Enfermagem e professora do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Autores André Luis Tavares Dolor Enfermeiro. Mestre em Administração em Serviços de Enfermagem pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EEUSP). Especialista em Administração Hospitalar pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp). Graduado em Enfermagem pela EEUSP e em Direito pelas Faculdade Metropolitanas Unidas (FMU-SP). Enfermeiro operacional no Grupo de Resgate e Atendimento às Urgências da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (GRAU – Resgate 193). Docente em graduação e pós-graduação da FMU-SP. Primeiro tesoureiro da Academia Brasileira de Especialistas em Enfermagem (Abese) – Gestão 2009-2013.

Anice de Fátima Ahmad Balduino Enfermeira. Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Membro do Grupo de Estudos Multiprofissional de Saúde do Adulto (Gemasa). Enfermeira-consultora de Sistematização do Serviço de Enfermagem (SAE).

| X |


Autores

Antonio Claudio Oliveira Enfermeiro do Grupo de Resgate e Atendimento às Urgências da Secretária de Estado da Saúde de São Paulo (GRAU – Resgate 193). Coordenador de Enfermagem do Projeto Telemedicina Samu-HCor, do Hospital do Coração-SP. Membro da Diretoria do Colégio Brasileiro de Enfermagem em Emergência (Cobbem).

Bartira de Aguiar Roza Enfermeira. Professora adjunta da Escola Paulista de Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Coordenadora da Residência Multiprofissional em Captação e Transplante de Órgãos da Unifesp. Coordenadora do Departamento de Ética da Associação Brasileira de Transporte de Órgãos (ABTO).

Carmen Mohamad Rida Saleh Enfermeira. Mestre em Enfermagem – Saúde do Adulto pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Diretora técnica da divisão de enfermagem do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP). Instrutora do Trauma Life Support for Nuerses (TLSN).

Cristiana Contieri Enfermeira e Mestre em Bioética pelo Centro Universitário São Camilo (SP).

Diana Lucia Moura Pinho Enfermeira. Doutora em Psicologia pela Universidade de Brasília (UnB). Professora adjunta na graduação em Enfermagem e nos programas de pós-graduação em Enfermagem e Ciências da Saúde da UnB.

| XI |


Elisabeth Guimarães de Castro Neves Médica fisiatra e acupunturista, especialista em Lesão Medular. Coordenadora do Núcleo de Infecção Hospitalar do Hospital de Apoio de Brasília, da Secretaria de Estado da Saúde do Distrito Federal, onde atua na assistência e na reabilitação de grandes incapacitados.

Gerson Alves Pereira Junior Médico. Doutor e Mestre em Medicina pela Universidade de São Paulo (USP). Professor da União das Faculdades dos Grandes Lagos (Unilago). Médico assistente da Unidade de Emergência da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (FMRP-USP). Médico coordenador da Unidade de Terapia Intensiva da Santa Casa de Sertãozinho (SP).

Gustavo Marques Enfermeiro. Especialista em Enfermagem do Trabalho e em Auditoria dos Sistemas de Saúde. Enfermeiro do Trabalho da Diamond Offshore Drilling Inc. Editor do portal Enfermagem Offshore. Consultor de saúde da Offshore Health Care 7 Solution. Docente do curso de pós-graduação em Enfermagem do Trabalho da Universidade Estácio de Sá (RJ).

Helder Luiz Puia Médico. Capitão de mar e guerra da ativa da Marinha do Brasil (MB), com aperfeiçoamento em Hidrografia e Navegação. Chefe do Estado-Maior do Comando do 8o Distrito Naval-MB. Posssui curso de Estado-Maior para Oficiais Superiores com MBA em Gestão Empresarial.

Hellen Roehres Enfermeira. Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Professora titular da UFPR. Conselheira diretora do Conselho Regional de Enfermagem do Paraná (Coren-PR). | XII |


Autores

Janine Schirmer Enfermeira. Professora titular da Escola Paulista de Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Coordenadora do curso de especialização em Doação e Transplante da Unifesp. Coordenadora do Grupo de Estudos em Doação e Transplante de Órgãos e Tecidos (GEDOTT) da Unifesp.

João Erbs Enfermeiro da captação de órgãos do Hospital Municipal Dr. Moysés Deustch (SP). Membro do Grupo de Estudos em Doação e Transplante de Órgãos e Tecidos (GEDOTT) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

José Amalth do Espírito Santo Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Residência médica em Cirurgia Cardiovascular no Hospital Naval Marcílio Dias (RJ). Capitão de mar e guerra da ativa da Marinha do Brasil (MB). Chefe do Departamento de Saúde do Comando do 8o Distrito Naval-MB. Presidente da Junta Regular de Saúde do Comando do 8o Distrito Naval-MB. Médico perito isolado qualificado em Aviação do Comando do 8o Distrito Naval-MB.

José Carlos Amado Martins Enfermeiro. Doutor em Ciências da Enfermagem pela Universidade do Porto (UP). Mestre em Bioética pela Faculdade de Medicina de Lisboa (FMUL). Especialista em Enfermagem Médico-Cirúrgica. Professor adjunto da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, Portugal – Unidade Científico-Pedagógica de Enfermagem Médico-Cirúrgica.

| XIII |


Luís Miguel Nunes de Oliveira Enfermeiro. Mestre em Ciências de Enfermagem pela Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa (FCH). Especialista em Enfermagem Médico-Cirúrgica Portuguesa. Professor adjunto da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, Portugal – Unidade Científico-Pedagógica de Enfermagem Médico-Cirúrgica.

Marcus Vinicius de Lima Oliveira Enfermeiro graduado em Enfermagem Obstétrica pela Faculdade Adventista de Ensino. Especialista em Saúde Pública pela Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp). Especialista em Educação em Saúde pelo Instituto Superior de Educação Alvorada Plus (SP). Supervisor de Enfermagem da Santa Casa de Misericórdia de Santo Amaro (SP).

Maria Claudia Moreira da Silva Enfermeira. Doutora em Enfermagem pela Escola de Enfermafem da Universidade de São Paulo (EEUSP). Docente e coordenadora do curso de especialização em Enfermagem em Cuidados Intensivos da Faculdade Santa Marcelina (SP). Atua nas seguintes áreas de conhecimento: Saúde do Adulto, Cuidados Intensivos, Treinamento e Desenvolvimento de Pessoal.

Percela Marks Enfermeira graduada em Enfermagem Obstétrica pela Faculdade Adventista de Ensino. Especialista em Obstetrícia e Perinatologia. Coordenadora do Curso para Gestantes. Enfermeira certificada pelo Advance Life Support in Obstetric (ALSO). Atua como enfermeira obstetra no Instituto Paulista de Ginecologia e Obstetrícia (IPGO).

| XIV |


Autores

Regina Maria da Conceição Santos Martins Enfermeira especialista em Enfermagem Médico-Cirúrgica pela Escola Superior de Enfermagem de Coimbra. Enfermeira na Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital Santo André, em Leiria, Portugal.

Rodrigo Reghini da Silva Enfermeiro do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP). Especialista em Controle de Infecção Hospitalar pelo Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HCFMUSP) e graduado em Enfermagem pela Universidade Anhembi Morumbi.

Rosana Chami Gentil Enfermeira. Doutoranda em Enfermagem pela Univerisdade Federal de São Paulo (Unifesp). Mestre em Ciências da Saúde pela Unifesp. Coordenadora do curso de especialização em Enfermagem em Emergência da Universidade de Santo Amaro (Unisa).

Rosária de Campos Teixeira Enfermeira. Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Especialista em Enfermagem do Trabalho. Membro do Grupo de Estudos Multiprofisisonal em Saúde do Adulto (GEMSA).

Rui Carlos Negrão Baptista Enfermeiro. Mestre em Sociopsicologia da Saúde pelo Instituto Superior Miguel Torga (ISMT). Professor adjunto da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, Portugal – Unidade Científico-Pedagógica de Enfermagem Médico-Cirúrgica.

| XV |


Sonia Maria Rezende Camargo de Miranda Enfermeira. Doutora em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Professora do curso de pós-graduação da Universidade Gama Filho (UGF-SP) e do curso de Enfermagem da Universidade Anhembi Morumbi (SP).

Vânia Meire de Oliveira Santos Enfermeira graduada em Enfermagem Obstétrica pela Faculdade Adventista de Ensino. Especialista em Saúde Pública pela Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp). Especialista em Educação em Saúde pelo Instituto Superior de Educação Alvorada Plus (SP).

Verónica Rita Dias Coutinho Enfermeira licenciada em Enfermagem pela Escola Superior de Leiria. Professora adjunta da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, Portugal – Unidade Científico-Pedagógica de Enfermagem Médico-Cirúrgica. Membro do Grupo de Projeto de Formação, Assessoria e Investigação em Reanimação (GPFAIR).


Sumário

1.  Atendimento Pré-Hospitalar: histórico e desenvolvimento ����������������������������������������������������������������� 1 2.  Transporte Aéreo: o diferencial na assistência de Enfermagem ��������������������������������������������� 47 3.  Transporte do Paciente Crítico: características e organização ������������������������������������������� 63 4.  Transporte Aquaviário de Pacientes ��������������������������������� 85 5.  Transporte Intra-Hospitalar: particularidades �������������� 135 6.  O Ensino da Ergonomia na Formação do Profissional em Enfermagem ����������������������������������������� 147 7.  Treinamento da Equipe de Enfermagem Relacionado com o Transporte de Pacientes ����������������� 167 8.  Mobilização de Pacientes Dependentes Especiais �������� 181 9.  Treinamento para Intervenção em Emergências Durante o Transporte do Doente Crítico: a simulação como ferramenta para a certificação de competências ����������������������������������������� 203 | XVII |


10.  R emoção de Pacientes Críticos: aspectos éticos e legais ����������������������������������������������� 223 11.  Transporte do Doente Queimado ���������������������������������� 241 12.  Transporte do Paciente Politraumatizado �������������������� 255 13.  Transporte de Gestantes em Trabalho de Parto ���������� 267 14.  Transporte e a Mobilização de Pacientes Psiquiátricos ������������������������������������������������� 279 15.  Transporte do Paciente com Transtorno Mental ���������� 323 16.  Transporte de Órgãos em Território Nacional ������������� 339 17.  Transporte de Paciente Portador de HIV/Aids ������������ 351 18.  Enfermagem Offshore ������������������������������������������������� 367 19.  Transporte Intra-Hospitalar do Paciente Crítico ��������� 391

| XVIII |


Capítulo 3 Transporte do Paciente Crítico: características e organização Regina Maria da Conceição Santos Martins José Carlos Amado Martins

Considerações Iniciais O transporte de pacientes em ambulância é um ato comum em nossos dias, e milhares de pacientes são transportados diariamente por via terrestre. Este capítulo visa apresentar algumas atualidades relativas ao transporte de pacientes, especialmente aqueles considerados pacientes críticos, a fim de que seja uma ferramenta de aprendizagem aos profissionais que têm de acompanhar pacientes e que desejam que o transporte decorra com maior segurança.

| 63 |


Transporte de Pacientes

Características do Transporte Terrestre do Paciente Crítico Paciente crítico é, por definição, aquele que sofre de falência de um ou mais órgãos ou sistemas e cuja sobrevivência depende de meios avançados de monitorização e terapêutica.1 Melhorar a organização da prestação de cuidados de saúde ao paciente crítico impõe-se, atualmente, em várias áreas do largo espectro da sua abrangência, entre as quais a que referem-se ao seu transporte e evacuação.2 O transporte desses pacientes envolve alguns riscos, mas justifica-se entre hospitais e entre serviços de um mesmo hospital pela necessidade de acesso a um nível assistencial superior, ou para a realização de exames complementares de diagnóstico e/ou terapêutica não realizáveis no serviço ou instituição onde o paciente se encontra internado.3 O transporte terrestre utilizado na transferência de pacientes críticos é a ambulância. As primeiras ambulâncias eram carruagens puxadas por cavalos, planejadas pelo cirurgião francês Dominique Larrey para serem utilizadas nas guerras napoleônicas. Hoje, é possível transportar pacientes em veículos altamente sofisticados, que permitem recriar uma unidade de cuidados intensivos. Muitas vezes, o desafio está em administrar bem esses meios, assim como planejar todo o transporte e selecionar os recursos que devem acompanhar o paciente, em função de objetivos. A preocupação com o transporte do paciente crítico tem despontando de forma consistente na última década. Surgiram documentos de referência, como o criado pela Intensive Care Society, em 2002, e o da American College of Critical Care Medicine, de 2004, que apresenta normas de boas práticas no transporte secundário de pacientes (atualizando as suas recomendações de 1992).4,5 | 64 |


3  |  Transporte do Paciente Crítico: características e organização

Seguindo o exemplo da American College of Critical Care Medicine, a Sociedade Portuguesa de Cuidados Intensivos (SPCI) investiu na sistematização da boa prática médica em relação ao transporte secundário de pacientes e, em 1997, elaborou e divulgou o Guia de Transporte de Pacientes Críticos, documento atualizado posteriormente em 2008, em uma parceria entre a SPCI e a Ordem dos Médicos.3 O transporte inter-hospitalar do paciente crítico pode ser realizado por via terrestre ou aérea. Em Portugal, o Decreto-lei n. 38/1992 estabeleceu as normas básicas de enquadramento da atividade de transporte de pacientes feito por via terrestre como uma atividade complementar da prestação de cuidados de saúde.6

Figura 3.1  Vista externa da ambulância.

| 65 |


Transporte de Pacientes

Figura 3.1  Vista externa da ambulância (continuação).

A necessidade de transporte de pacientes em estado crítico, tanto do foro médico como cirúrgico, de hospitais de periferia para hospitais centrais com mais recursos técnicos e humanos é uma realidade cada vez mais comum. O planejamento correto de toda a transferência, a preparação do paciente, e uma equipe conhecedora dos condicionalismos inerentes ao transporte parecem ser os fatores determinantes para que a operação ocorra com maior segurança e sucesso.7 O transporte em ambulância oferece vantagens e desvantagens. Como vantagens, tem-se aspectos como: o serviço “porta a porta”, sem necessidade de transporte adicional; não ser necessário um heliporto; apresentar poucas restrições climáticas; ser economicamente acessível; e exigir um treino/formação fácil dos tripulantes. Como desvantagens, surgem: a possibilidade de náuseas associadas ao movimento; a limitação de energia elétrica, iluminação e climatização; o trânsito em meio ao tráfego; a duração do transporte, quando se trata de grandes distâncias (por exemplo: 100 km = 75 min); a vibração e o ruído (69-75 db); e a necessidade de transportar baterias adi| 66 |


3  |  Transporte do Paciente Crítico: características e organização

cionais e transformadores. Há várias décadas reconhece-se que o transporte de pacientes críticos pode ser prejudicial para o seu estado; no entanto, a mudança é necessária, desde que resulte em benefício para a sua saúde.1

Figura 3.2  Vista interna da ambulância.

| 67 |


Transporte de Pacientes

Figura 3.2  Vista interna da ambulância (continuação).

| 68 |


3  |  Transporte do Paciente Crítico: características e organização

Organização do Transporte Terrestre do Paciente Crítico Apesar dos riscos associados ao transporte do paciente crítico, essa é uma opção que se justifica quando se pretende disponibilizar um nível assistencial superior, seja ele no âmbito dos recursos humanos e/ou técnicos, no sentido de tratar ou dar continuidade ao tratamento iniciado ou para a realização de exames complementares não disponíveis na instituição onde o paciente se encontra internado.3 Pode ser indicado também em situações especiais, como a falta de vagas em hospitais centrais, podendo ser, nesse caso, o sentido inverso (de um hospital com mais recursos para um com menos).8 Durante uma transferência inter-hospitalar, um paciente crítico corre risco em virtude da doença, da terapêutica e do transporte, o que deve ser minimizado por uma boa comunicação entre o hospital que o envia e o hospital que o recebe, por avaliação e manuseio cuidadosos e por uma previsão das complicações. Dessa maneira, o paciente terá um nível de cuidados o mais próximo possível daquele que lhe é oferecido na unidade de tratamento intensivo. Se o transporte intra-hospitalar causa ansiedade nos profissionais, o transporte para fora do hospital acarreta ainda mais preocupação. Dentro do hospital, os médicos podem acompanhar seus pacientes e usar meios substitutos de suporte de vida e monitorização. Fora do hospital, eles têm pouco controle sobre os seus cuidados.9 Segundo o Guia para o Transporte de Pacientes Críticos, o transporte desses pacientes envolve três fases: decisão, planejamento e efetivação, conforme explicado no Capítulo 2.3

| 69 |


Transporte de Pacientes

A decisão de transferência de um paciente com características críticas é feita pelo médico, em que se pressupõe que este avaliou benefícios e riscos inerentes ao transporte do cliente. Em relação aos riscos, deve-se considerar: ■■ Riscos clínicos: a situação clínica do paciente; os efeitos das vibrações, da aceleração e da desaceleração; as mudanças de temperatura; e a viabilidade da monitorização. ■■ Risco da estrada: de colisão; de atrasos; da velocidade. Devem ser avaliados os riscos associados ao processo de transporte, muito especialmente nas situações de hipoxia, hiper/hipocapnia, instabilidade hemodinâmica, hipertensão intracraniana e agravamento de lesão vertebromedular, ou sempre que a deslocação possa contribuir direta ou indiretamente para o agravamento da situação clínica sem mais valia aparente.3 Com o intuito de minimizar os riscos do transporte, o paciente deve ser previamente estabilizado no hospital de origem, devendo aí efetuar-se as intervenções diagnósticas e terapêuticas que se prevejam necessárias durante o transporte, tais como acessos venosos, drenagens torácicas e intubações.3 Uma das variáveis que podem minimizar significativamente o risco do transporte de pacientes críticos é o seu acompanhamento por profissionais experientes.1 Antes de ser iniciada qualquer outra preparação para a transferência, deve-se informar o paciente e/ou familiares, promovendo assim um ambiente o mais calmo possível, explicando-lhes os motivos da transferência, as vantagens e os inconvenientes associados, a escolha pela transferência e, sobretudo, fomentar a sua autonomia envolvendo o paciente no processo de decisão, desde que seja possível ser obtido o seu | 70 |


3  |  Transporte do Paciente Crítico: características e organização

consentimento. Apesar de a transferência do paciente ser fundamentada clinicamente, a autonomia da pessoa deve ser preservada ao máximo. Somente respeitando a autonomia do paciente, será possível respeitar sua dignidade e liberdade.10 O planejamento das transferências inter-hospitalares deve ser efetuado pelas equipes médica e de enfermagem do serviço, e deve considerar os seguintes problemas:3 ■■ Escolha e contato do serviço receptor, avaliando a distância a ser percorrida e o respectivo tempo de demora, tendo sempre presente que o contato inicial deve ser efetuado antes do transporte, e nunca durante ou depois. Esse contato deve ser personalizado, e deverão ficar registados os nomes e contatos dos intervenientes. ■■ Escolha da equipe de transporte em função das necessidades do paciente e disponibilidades do serviço, sem esquecer a necessária proteção dos profissionais (seguro de acidentes). ■■ Escolha do meio de transporte, levando em conta a situação clínica do paciente, a distância/duração do transporte, as intervenções que podem ser necessárias durante o trejeto e as informações meteorológicas. ■■ Seleção dos meios adequados de monitorização, equipamento e terapêutica. ■■ Definição de objetivos relativos aos parâmetros fisiológicos durante o transporte. ■■ Previsão individualizada das complicações possíveis. Etxebarria e colaboradores desenvolveram um quadro de informações para a avaliação do paciente, sendo possível indicar a seleção da equipe de transporte, bem como a monitorização. No fundo, trata-se de um escore de risco que pode ser de grande ajuda para o planejamento do transporte. Nesse sentido, são analisados itens como a via aérea, a | 71 |


Transporte de Pacientes

respiração, os acessos vasculares, a estabilidade hemodinâmica, a função cardíaca, o estado de consciência e a necessidade de suporte farmacológico, e, a partir daí, obtidos dados válidos para selecionar o tipo de ambulância, os profissionais que devem acompanhar o transporte do paciente e os tipos de monitorização e equipamento necessários.11 Quanto à monitorização do paciente, são recomendados três níveis, apresentados esquematicamente no quadro a seguir.3

Níveis de monitorização durante o transporte de pacientes críticos Nível 1 – Obrigatório Monitorização contínua com registo periódico dos seguintes itens: »» frequência respiratória; »» fração inspirada de oxigênio (FiO2); »» oximetria de pulso; »» eletrocardiograma (ECG) contínuo; »» frequência cardíaca; »» pressão arterial não invasiva; »» pressão da via aérea (nos pacientes ventilados mecanicamente); »» capnografia (nos pacientes ventilados mecanicamente). Nível 2 – Fortemente recomendado Monitorização contínua dos seguintes itens: »» pressão arterial invasiva (em pacientes potencialmente instáveis). »» ECG com detecção de arritmias. (continua)

| 72 |


3  |  Transporte do Paciente Crítico: características e organização

Níveis de monitorização durante o transporte de pacientes críticos (continuação) Nível 3 – Ideal (em pacientes selecionados pelo seu estado clínico) Medição contínua ou intermitente dos seguintes itens: »» pressão venosa central; »» pressão da artéria pulmonar; »» temperatura corporal; »» pressão intracraniana. O período de transporte é de grande instabilidade para o paciente. Sendo assim, todas as complicações devem ser previstas e reavaliadas, prevenindo o agravamento da sua situação clínica. Deve-se atentar, portanto, à possibilidade de extubação acidental e perda de acessos venosos e drenos, à reserva de oxigênio e energia elétrica e à avaria de equipamentos. A equipe de transporte selecionada fica encarregada pela efetivação do transporte inter-hospitalar e sua responsabilidade só termina no momento da entrega do paciente à equipe do serviço destinatário, ou no caso de o deslocamento ser para a realização de exames complementares ou atos terapêuticos quando do regresso ao serviço de origem. O transporte deve ser considerado como uma extensão do hospital, e, por isso, a qualidade da vigilância e da intervenção terapêutica durante o transporte não devem ser inferiores às verificadas no serviço de origem.3 O transporte inter-hospitalar medicamente assistido é aquele que se realiza em um veículo dotado de todos os meios de suporte de vida (fármacos, monitorização, equipamentos de ventilação etc.) e pessoal médico e de enfermagem qualificados. O estado crítico desses pacientes, as características do meio de transporte e do espaço reduzido e a | 73 |


Transporte de Pacientes

falta de apoio técnico e humano implicam que a equipe de transferência evite o improviso, utilizando protocolos de atuação nas várias fases do transporte.12 O mesmo Etxebarria considera que a transferência inter-hospitalar deve compreender cinco fases: 1.

2.

3.

4.

5.

Fase de ativação: compreende o tempo do recebimento da comunicação por parte do paciente e/ou da pessoa responsável por ele. O objetivo principal da primeira fase é dar resposta organizada e no menor tempo possível, até a transferência para outro hospital mais especializado. Fase de estabilização: nesta fase, deve-se proceder todas as atuações de suporte (que devem estar protocoladas) que se considerem necessárias antes de iniciar a transferência. Essas medidas devem ser praticadas de forma rápida e eficaz. Fase do transporte: tem início no momento em que se coloca o paciente no veículo de transporte e termina com a admissão dele no hospital de destino. Os objetivos desta fase são: manter a estabilidade do paciente; continuar com as medidas terapêuticas prescritas; e prevenir e tratar complicações. Fase da transferência: é a fase em que se entrega o paciente, a sua documentação e seus objetos pessoais ao pessoal responsável do hospital receptor. Essa fase termina quando o paciente é acomodado e o pessoal desse hospital assume-o. Fase da reativação: uma vez concluída a transferência, regressa-se ao hospital de origem e prepara-se o material para uma nova ativação.

Para o acompanhamento de um paciente crítico durante uma transferência, é indispensável ter materiais, como: monitor de pressão arterial não invasiva com oximetria; frequência e traçados cardíacos; ventilador | 74 |


3  |  Transporte do Paciente Crítico: características e organização

portátil e fonte de oxigênio (contendo o dobro do oxigênio que se prevê necessário); mala medicalizada contendo material de intubação endotraqueal; material de aspiração e punção; fármacos de ressuscitação; e aqueles indicados à condição do paciente em causa.1 Após reunido o material e estabilizado o paciente, deve ser contactado o serviço de transportes e requisitada ambulância medicalizada, que deverá conter: monitor/desfibrilador cardíaco; ventilador volumétrico portátil; monitor de pressão arterial não invasiva com oximetria de pulso; aspirador de secreções elétrico; rampa de oxigênio com debitômetro; solutos de perfusão; material de punção; material de ventilação/controle da permeabilidade das vias aéreas e administração de oxigênio; e material diverso (material de proteção etc.). Além do material e equipamento referidos anteriormente, pode-se ainda ter disponível: ■■ drenos torácicos, conjunto de introdução e acessórios; ■■ seringas ou bombas volumétricas com bateria para regulação da administração de fluidos e drogas; ■■ mangas para administração de fluidos sob pressão; ■■ ventilador de transporte com possibilidade de monitorização do volume/minuto e da pressão da via aérea, com capacidade de fornecer PEEP e FiO2, reguláveis de forma fiável e com alarmes de desconexão e pressão máxima de via aérea;

■■ equipamento de comunicações, permitindo contatos entre os hospitais de origem e de destino.3 Em uma Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), o ambiente controlado, a monitorização permanente e a constante interação enfermeiro/paciente/família proporcionam segurança tanto ao enfermeiro quanto ao paciente e sua família. O deslocamento desse ambiente para | 75 |


Transporte de Pacientes

outro poderá provocar insegurança e ansiedade em pacientes conscientes. No entanto, está comprovado que o transporte de pacientes críticos pode ser efetuado com segurança desde que planjeado e realizado por uma equipe experiente e com equipamento adequado.8 Nesse sentido, sugerem-se sete princípios de segurança para o transporte de pacientes críticos: 1.

2.

3.

4. 5.

6.

7.

Os gestos e procedimentos de tratamento do paciente crítico são, na sua maioria, impossíveis em uma ambulância em movimento. A estabilização do paciente antes do transporte é fundamental para a prevenção das complicações durante a viagem. Tudo o que é essencial deve ser feito antes do transporte ser iniciado. O objetivo é o transporte do paciente, que pode ocorrer por uma longa distância, com o menor número possível de alterações terapêuticas. A estabilização começa com uma avaliação minuciosa do paciente. A monitorização do paciente é iniciada antes do transporte e continuada até o fim da transferência. A equipe de transporte deve possuir treino específico e conhecer bem o equipamento que vai utilizar. Quando se reconhece a necessidade de transferir o paciente, o transporte deve ser feito o mais precocemente possível.

A qualificação técnica, relacionada com a formação e com a experiência clínica, constitui um dos aspectos mais importantes para a promoção e a segurança durante o transporte de pacientes críticos. Mesmo para profissionais que habitualmente tratam desse tipo de paciente deve-se promover a formação específica em transportes. A preparação da equipe de transporte deve incluir, no mínimo, o suporte avançado de vida e, desejavelmente, o suporte avançado de trauma, sem esquecer | 76 |


3  |  Transporte do Paciente Crítico: características e organização

algumas especificidades, como, por exemplo, a formação específica para os profissionais que asseguram a transferência de crianças.3 Um paciente grave ou traumatizado é muito vulnerável durante a transferência inter-hospitalar. Durante as horas que se seguem à reanimação e estabilização, pode surgir um novo episódio de parada, o estado do paciente pode melhorar ou podem surgir complicações por vezes em consequência da terapêutica. A equipe de transporte deve prever qualquer uma dessas ocorrências e estar preparada para lidar com elas. A criação de esquemas organizativos que garantam a segurança e a ausência de complicações resultantes do transporte desses pacientes é fundamental na medida em que são associados a menor incidência de complicações durante o transporte. A deslocação de um paciente crítico de um local para outro causa, por si só, algumas alterações que podem ser responsáveis por complicações. No paciente consciente, pode haver aumento de estresse. O barulho e a vibração podem dificultar a auscultação, tanto pulmonar como cardíaca. Alterações como essas podem traduzir-se por um aumento das frequências respiratória e cardíaca e da pressão arterial, podendo levar ao aparecimento de arritmias no paciente. No caso de instabilidade hemodinâmica, há tendência para o agravamento da hipotensão.8 Segundo Rua, as principais complicações do transporte de pacientes críticos ventilados mecanicamente estão relacionadas a três fatores:8 1.

2.

Tubo endotraqueal ou cânula de traqueostomia: são frequentes a extubação, a obstrução por secreções, a intubação seletiva por mobilização do tubo, as fugas de ar por má adaptação do cuff devido à mobilização, e a aspiração do conteúdo gástrico. Ventilador: são mais frequentes as desconexões, o barotrauma, o esgotamento da fonte de oxigênio, e a falta de bateria. | 77 |


Transporte de Pacientes

3.

Ventilação por insuflador manual: podem ocorrer a hipo ou hipercapnia, a acidose ou alcalose, e barotrauma.

Em termos globais, as principais intercorrências registadas no transporte de pacientes em estado grave são:1 ■■ Respiratórias: hipoventilação ou hiperventilação. As intercorrências respiratórias surgem essencialmente por alterações do índice respiratório, diminuição da saturação de oxigênio, hipoventilação e hiperventilação. Como consequências da hipoventilação, surgem a hipoxia e hipercapnia e, associada a essa última, a acidose respiratória, podendo exercer efeito depressor no miocárdio. A hiperventilação pode levar à retenção de ar, aumentando a pressão intratorácica e ocasionando hipotensão. Em contrapartida, conduz à hipocapnia e associa-se à alcalose respiratória, com correspondente diminuição das perfusões cerebral e miocárdica. ■■ Cardíacas: taquicardia ou bradicardia. Durante o transporte de pacientes críticos, podem surgir disritmias e diminuição da contratibilidade do miocárdio. ■■ Térmicas: hipotermia ou hipertermia. São muito frequentes as intercorrências térmicas. Os tremores podem alertar para hipotermia, que, em um estado avançado, pode levar à isquemia cerebral. A hipertermia, por sua vez, pode levar ao aumento do consumo de oxigênio, conduzindo a alterações metabólicas, caso não exista compensação e/ou suplementação a tempo. ■■ Outras intercorrências: o risco da estrada, que, como já referido anteriormente, aumenta proporcionalmente com a velocidade, com a intensificação do tráfego e com as más condições atmosféricas.

| 78 |


3  |  Transporte do Paciente Crítico: características e organização

A extubação acidental e a exteriorização de cateteres, drenos e sondas são intercorrências relativamente comuns e que podem ser evitadas em grande parte se forem previamente realizadas medidas de estabilização do paciente antes do transporte. A diminuição da ansiedade do paciente, bem como a vigilância atenta durante o transporte, tendem a anular esses riscos.1 O bom planejamento do transporte e a estabilização prévia do paciente são passos fundamentais para se atuar mais tranquilamente durante o transporte. Pode-se dizer que o melhor transporte é aquele em que nada que não tiver sido planejado acontece.

Competências do Enfermeiro no Transporte Terrestre do Paciente Crítico A decisão de transferência de um paciente crítico pressupõe a avaliação de benefícios e riscos inerentes ao seu transporte. Apesar da decisão de transportar um paciente crítico ser um ato médico, é competência do enfermeiro assegurar-se de que tudo esteja devidamente organizado, para que o transporte se realize o mais breve possível e sem riscos para o paciente.1 Assim, quando existe necessidade de transferência de pacientes em estado crítico, a seleção do meio de transporte mais adequado deve ser feita considerando-se os vários critérios apresentados anteriormente, ou seja: o diagnóstico do paciente e os possíveis efeitos do transporte nas suas condições, o seu grau de instabilidade, a urgência da transferência, o nível de cuidados médicos que o paciente requer, a distância e a duração da viagem e os métodos de transporte disponíveis.7 Desconforto, dor e outros estímulos podem afetar diretamente o estado do paciente, enquanto a falta de condições e o movimento da ambulância geralmente dificultam uma eficaz prestação de cuidados.13 | 79 |


Transporte de Pacientes

É responsabilidade do enfermeiro que acompanha o paciente verificar as condições técnicas e materiais da ambulância, testar o equipamento existente, documentar o estado clínico do paciente e as formas de atuação durante o seu transporte, bem como levar todo o equipamento necessário para ser usado em situação de emergência.14 O enfermeiro que habitualmente cuida de pacientes críticos deve desenvolver os conhecimentos e as competências necessários, de modo a adaptar-se facilmente a alterações detectadas e atuar de maneira positiva quanto ao seu serviço. Deve também ser capaz de prever complicações possíveis, próprias da condição do paciente, e selecionar a terapêutica específica.1 No sentido de garantir a elevada qualidade dos cuidados de enfermagem durante o transporte de pacientes, os enfermeiros deveriam realizar um treinamento, que incluiria seis aspectos:13 1.

2.

3.

4.

5. 6.

Efeitos psicológicos do transporte no paciente e na equipe, incluindo a importância da estabilização na pré-transferência do paciente. Gestão de problemas clínicos, considerando o espaço limitado e a quantidade finita de medicamentos e equipamento. Necessidades físicas e psicológicas dos pacientes submetidos à transferência. Aspectos técnicos do transporte, incluindo manuseamento do equipamento e da ambulância. Informação sobre a parte burocrática da transferência. Fazer pelo menos duas transferências acompanhadas por um enfermeiro experiente.

Essa formação e as necessárias atualizações seriam uma importante forma de o enfermeiro desenvolver os seus conhecimentos científicos e as suas competências técnicas, relacionais e éticas.15 | 80 |


3  |  Transporte do Paciente Crítico: características e organização

Deve ser preocupação do enfermeiro reunir cópias de todos os documentos significativos do processo de enfermagem e executar nota de transferência em impresso próprio, segundo as normas da instituição. A Ordem dos Médicos e a SPCI apresentam no documento guia para o transporte de pacientes críticos, um formulário de transporte que deve ser preenchido pelo médico e pelo enfermeiro e que deve acompanhar o paciente durante a transferência inter-hospitalar.3 A monitorização e a avaliação do paciente durante o transporte são asseguradas pelo enfermeiro. A eficácia dessa vigilância e de toda a intervenção terapêutica nesse transporte não deve nunca ser inferior à verificada no serviço de origem. Compete ainda ao enfermeiro reunir todo o material necessário para o transporte, certificar-se de que tudo esteja em bom estado de utilização, bem como assegurar-se de que é mantida em perfusão toda a medicação prescrita, salvo indicação do contrário. Ainda que o paciente esteja inconsciente, é importante que o enfermeiro se comunique com ele, de forma verbal e não verbal, pois essa é uma maneira de colocar a pessoa no centro dos cuidados, de contribuir para a sua tranquilidade e de identificar precocemente alterações do estado de consciência. Se o estado do paciente se agravar repentinamente e/ou haja alterações no tratamento que justificarem, o enfermeiro não deve hesitar em solicitar a parada da ambulância.1 Após o transporte, e se regressado o paciente ao serviço de origem, devem ser reiniciadas todas as medidas terapêuticas eventualmente suspensas para o transporte. Os estados geral e hemodinâmico do paciente devem ser reavaliados e, logo que possível, deve-se proceder ao registo sistemático de todas as intervenções, de forma clara e concisa, indicando as intercorrência que se sucederam, o tempo em que decorreu o transporte, todas as alterações relativas ao estado do paciente e todas as terapêuticas efetuadas. | 81 |


Transporte de Pacientes

No caso do transporte com objetivo de transferir o paciente para outra instituição ou serviço, compete ao enfermeiro responsável pelo paciente resumir oralmente todas as situações relevantes do internamento.1

Referências 1. Neves A, et al. Transporte de doentes em estado crítico. Nursing. Lisboa. 2000;12(144):37-40. 2. Comissão Regional do Paciente Crítico. Um ano de reflexão e mudança. Administração Regional de Saúde do Norte; 2009. 3. Ordem dos Médicos, Sociedade Portuguesa de Cuidados Intensivos. Transportes de pacientes críticos: recomendações 2008. Lisboa: Centro Editor Livreiro da Ordem dos Médicos; 2008. 4. Intensive Care Society. Guidelines for the transport of the critically ill adult. Londres: Intensive Care Society; 2002. 5. American College of Critical Care Medicine. Guidelines for the inter and intrahospital transport of critically ill patients. Crit Care Med. 2004;32(1):256-62. 6. Ministério da Saúde (Portugal). Decreto-Lei n. 38, de 28 de março de 1992. Regula a actividade de transportes de doentes. 1992;(74) I-A:1486-8. 7. Aleixo FMR. O paciente helitransportado: uma experiência em enfermagem. Nursing. 1998;11(127):24-8. 8. Rua F. Oxigenação durante o transporte do paciente ventilado. [acesso em 6 novembro 2008]. Disponível em: ftp://ftp.spci.org/revista/Portugues/rev81/oxigtran.pdf. 9. Civetta JN, et al. Tratado de terapia intensiva. Barueri: Manole; 1992. 10. Martins JCA. Autonomia do paciente em contexto de urgência/ emergência. Rev Port Bioética. 2007;XVIII(2):195-206.

| 82 |


3  |  Transporte do Paciente Crítico: características e organização

11. Etxebarria MJ, Serrano S, Ruiz Ribó D, Cía MT, Olaz F, López J. Prospective application of risk scores in the interhospital transport of patients. Eur J of Emerg Med. 1998;5(1):13-8. 12. Torres GS. Traslado secundário de alto Riesgo. Rol de Enfermeria, 1997;(211):56-62. 13. Eagle S. Transporte de pacientes em estado grave. Nursing. 1996;(98):23-7. 14. cunha M. Atuação do enfermeiro no transporte do paciente politraumatizado. Sinais Vitais. 2000;(33):42-7. 15. Martins JCA. Atuação do enfermeiro no setor de urgências: gestão para o desenvolvimento de competências. In: Malagutti W, Caetano KC. Gestão do serviço de enfermagem no mundo globalizado. Rio de Janeiro: Rubio; 2009.

| 83 |


Em qualquer cirscuntância, o transporte de pacientes ou de órgãos entre unidades hospitalares é um procedimento que exige o máximo de atenção e profissionalismo da equipe médica. No entanto, fatores externos influenciam diretamente a condução, fazendo com que cada transporte seja diferente do outro.

Transporte de Pacientes apresenta os procedimentos corretos que devem ser executados nos diferentes tipos de transferência, a fim de reduzir tais diversidades, que podem resultar em falhas e danos, e colocar em risco a saúde do paciente. Destinada principalmente a enfermeiros, a obra também beneficia profissionais da saúde que desejam dominar a prática do transporte inter-hospitalar.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.