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PP Condurú

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Samira Alvim

Samira Alvim

PP Condurú (Belém-PA, 1958)

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CASA STUDIO PP CONDURÚ, EM 7 DE MARÇO DE 2015.{

O que é pixelpart?

Então, eu tava de saco cheio, estava trabalhando muito computação gráfica, tinha uma empresa e tal, aí eu disse: “égua, eu quero voltar a pintar”. Eu pintava, mas bem pouco. Tava mais na computação mesmo. Aí eu queria juntar essas duas coisas, computação e pintura. E também não queria mais pintura de ateliê solitário. Então, essa obra, ela é interativa, as pessoas podem comprar quantas peças quiserem, monta como quiser, coloca onde quiser, entendeu? Faz como quiser. Então é isso, aí tem essa interatividade, é um trabalho que tem um pouco de computação, o nome desse trabalho chama-se Pixelpart, e consiste nisso. Essas miniaturas, esse trabalho, veio tudo assim.

Eu não queria pintar só, queria fazer uma coisa coletiva e tem uma parte que todas essas peças são fotografadas e aí vai pro computador, e no computador faz muitas outras coisas e também as pessoas acompanham pelo blog já há um tempo. Desde do início, eu fui postando e convidando as pessoas para participar. A minha ideia é que vire um game depois. E eu comecei a trabalhar com um grupo pra fazer um game e uma mesa interativa, de touchscreen e tal, com

projeção também, dentro de uma galeria. Mas aí abortou esse projeto, porque não ganhei Itaú, não ganhei Funarte, não ganhei nada (risos). Pintou galeria no final do ano passado. Aí, nessa galeria, vou até fazer no [Projeto] Circular aqui, a mesa analógica, que não é computadorizada, mas tem as peças e as pessoas montam um painel que quiserem ali, aí a gente fotografa e manda por email, aí ela imprime, faz o que ela quiser. Então, é uma arte meio assim, interativa, com a minha pintura, tudo que eu adoro pintar, adoro cor, não vou deixar, aí eu queria juntar computador e pintura.

E como que tu começou tua trajetória?

(Ai (Poft! Poft!)! As carapanã tão me comendo!) Meu pai desenhava, meu pai era colecionador. Ele já faleceu, em 74. E ele era colecionador de discos, livros e eu era muito ligado nele. Sempre ele desenhou também quando criança, ele tinha uns desenhos dele, era bem artista, bem interessante o meu pai. Ele sempre me deu, desde criança, coisa pra pintar, meus presentes era quebra cabeça, só coisa assim, sabe? Nunca um carrinho, umas coisas assim... nem era muito a minha praia. Quando ele faleceu, em 74, eu pirei, achei que eu tinha que ser artista plástico, aí eu larguei tudo. Pra ser pintor aqui, tinha que ser arquiteto. Eu queria ser pintor, aí não tinha escola de arte aqui, não tinha porra nenhuma, não tinha nada. Aí eu fui pro Parque Lage em 76, 77, fiquei até 78 e vim embora. Então, eu comecei meio assim, entendeu? A história é meio por aí assim. E aí eu voltei e vivo disso desde essa época. De 75 pra cá, eu vivo disso. Me viro, me viro. (risos)

E tu trabalha com várias coisas, né?

É. Eu desenho sempre, eu mexo com computação ainda, eu gosto de diversificar. Tu vê pelos meus temas, técnicas, eu nunca fui sossegado, não. Eu sou bem inquieto em relação a isso.

Quais que são mais ou menos algumas das técnicas que tu usa?

Olha, tudo eu inventei, vou inventando. É tudo invenção. Eu, o google e a loja de artesanato que vende. Porque aqui, em Belém, não tem uma grande loja que vende materiais, entendeu? É uma loja que vende coisas pra artesanato. Ultimamente, eu inventei uma merda que faz esses tracinhos aí, entendeu? Faz essa coisa gordinha aí. Eu inventei como uma caneta, fui quebrando, fiz uma coisa assim: é uma pontinha dessa, cortei tipo uma seringa, aí eu desenho com isso, entendeu? Então, aí eu vou inventando, não tem uma coisa. São quase tudo coisas de artesanato, aí eu me sinto uma dondoca fazendo as coisas.

Como que é o teu processo criativo?

Como eu trabalho com isso há muito tempo, então eu deixo a coisa acontecer. A minha história eu aprendi, por isso que falei muito do meu pai, dos discos e tal, porque como eu escutei muita música, eu aprendi mais desenho ouvindo Hermeto Pascoal e ali eu aprendi a desenhar, a dar silêncios, a descontruir, a construir, a dar movimentos... E eu adorava aquilo e tentar passar isso pro trabalho. E meu trabalho tinha também

uma parte, que era uma parte meio [Jiddu] Krishnamurti assim, que era da plenitude, da originalidade do desenho também. Eu li um livro do Ferreira Gullar chamado Sobre Arte que ele falava da originalidade do fato do desenho. Como eu sou basicamente desenhista, mas do que pintor, só aprendi a pintar já na década de 90, mas eu sempre fui desenhista, né? E o desenho é originalidade de tudo, ele falando né? Desde a pintura de caverna, essas coisas todas. É legal o livro. Aí, adorava desenhos japoneses, essas coisas toda, o traço, a pintura do Van Gogh, a originalidade do trabalho do Van Gogh, o fato dele ir pra dentro do trabalho dele, da plenitude do trabalho dele. Essa arte mais intuitiva, criativa, me interessava também. Eu não gosto de me repetir. Parece assim que tu descobriu uma maneira e ficar maneirinho, sabe? “Ah ficou maneiro...”. Vai se foder (risos)! Eu gosto de movimento. Tem que ser uma porrada. Eu meto a cara. Tem esses desenhos aqui, vou te mostrar na prática. Eu começo pegando isso aqui, passo tinta atrás e venho e mancho, aí eu vou desenhando. Aí esse daqui, por exemplo, ele tá com tinta, mas antes tem um traço aqui atrás. Aqueles lá eu estava meio travado, começando. Muito chato. Aí, nesse aqui, eu me cacetei e peguei o lápis assim (série de onomatopeias sugerindo movimentos bruscos) e saiu assim (risos). Então tem que se jogar, não adianta. Tem que correr o risco, se jogar e só ficar atento pra não vacilar, essa é que a jogada.

E tu acha que tem um tema recorrente no teu trabalho?

Tem. Rosto. Cara. Ser Humano. Sempre eu gostei de desenhar rosto. Sempre. Mas tem uma hora que me enche o saco, vem aquela de não se repetir. Aí faz outra coisa...

Uma época eu fiz carapanãs. É porque eu achava, nessa época, de vez em quando eu acho umas coisas assim, que em Belém só quem gostava de arte era carapanã e osga.

E esta aqui, a “rainha do aborto”?

Cara, isso foi no Ceará. Teve uma época que enchi o saco de Belém e saí viajando por aí. Aí, eu quis escolher uma capital pra morar. Aí, eu fui pra São Luís, Fortaleza...

Eu cheguei lá em São Luís e colei lá nuns artistas doidos, aí eles só me levavam pra puteiros, pra coisas doidas. Aí, lá todo mundo só pintava ladeira, pôr do sol... Cara, que coisa escrota. Aí, a gente fez uma série sobre os puteiros de lá, as putas, os travestis. Aí, quando eu cheguei em Fortaleza, essa aí era a Rainha do Aborto, uma médica, rica pra caramba. Eram várias caras, desenhos grandes assim.

Era um jornal. Eu fiquei chocado quando cheguei lá. Não tinha nada pra ler no domingo, depois do almoço. Eu tava num lugar bem escroto, depois aconteceu legal. Mas aí, égua! Me deram um jornal pra ler que o jornal era só eles, cada um tinha uma página. A Rainha do Aborto tinha duas, a página central era só dela, dizendo que elas eram lindas e maravilhosas, ricas.

Eu digo: “Caralho! Que absurdo!”. E os caras distribuíam gratuitamente esse jornal. Aí, eu pintei esses caras. Foi muito louco, porque essa exposição foi censurada em 85, em São Luís.

O que te inspira, PP?

É essa multiplicidade, eu sou viciado em visual. Então, a televisão é tudo pra mim, porque passa mil imagens do mundo inteiro, toda hora. Eu adoro a internet também por isso. Por isso que esse trabalho [Pixelpart] tem um pouco de computação, porque eu começo na internet. Até as técnicas, tudo, a divulgação, a venda. Eu gosto dessa multiplicidade das coisas, entende? Esse trabalho [Pixelpart] ele me dá essa possibilidade. Como são várias séries, eu tenho que fazer várias séries de azulejos. Então são várias possibilidades de pintar, não só isso, cada um é uma pintura, é um desenho, é uma história. Então eu me realizo pintando vários logo, entendeu?

Esse seu segundo P é o quê? Um segundo nome?

PP é Pedro Paulo.

E te chamam mais de PP, né?

É, desde criança.

E tu expôs esses dias lá Centro Cultural do Carmo?

Foi assim: é do meu primo. Ele me convidou, era uma homenagem ao avô, aí eu só fui com esses desenhos. Aí, depois terminou, eu fui pegar os quadros, agradecer, aí ele disse: “Cara, a galeria vai ficar novembro e dezembro fechada, e eu pagando funcionário. Tu não quer utilizar?”. Aí, eu convoquei uma galera e bolei um evento chamado ENTRE, que era justamente tanto pra entrar lá, que estava começando, quanto para entrar também nesse projeto. Era um movimento. Toda quintafeira a gente fazia uma onda lá, rolava filme, música, poesia. Toda quinta-feira rolava outra galera e outros acontecimentos, entendeu? Praticamente o que aconteceu no Santa Terezinha [Oficina] começou lá, nesse movimento que chamava [ENTRE] - Um lapso gostoso, que rolou em novembro e dezembro do ano passado. Aí, a gente sacou que a demanda aqui em Belém, isso eu acho importante falar, que a demanda de Belém, dos artistas, é de mercado e movimento. Ninguém quer mais galeria, essa chatice, ninguém quer curador mais, curador é um saco, galeria é um saco. Essa galeria lá não podia furar parede. Onde já se viu isso? Esse movimento, que aconteceu no ENTRE e está acontecendo no Santa Terezinha, é essa demanda que a gente quer. A felicidade dos artistas que trabalham nisso, [nas ocupações artísticas da Oficina Santa Terezinha] você não tem noção. Égua, eles choraram, choraram, se abraçaram...

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