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Carmezia Emiliano

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Deisi Mello

Deisi Mello

Carmezia Emiliano

Como que a senhora começou a trabalhar com arte?

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(MALOCA DO JAPÓ, NORMANDIA-RR,1960) {

CASA ATELIÊ DA ARTISTA, EM 20 DE MARÇO DE 2015. Eu comecei a pintar olhando, visitando os outros artistas. O Eliakim me deu tela, pincel e a tinta. Aí eu comecei. Pensei: “Será que eu vou pintar?” Aí eu pintei um buritizeiro em 1992, eu fiz a primeira tela. Aí, comecei a retratar minha cultura indígena, como é que a gente vivia antigamente, para não acabar a cultura. Eu fui colocando na tela, passando pra tela, pra não acabar a história do povo indígena, a cultura deles.

A senhora é Macuxi?

Sou Macuxi.

E a senhora aprendeu olhando assim, ou teve alguém que lhe ensinou?

Não, eu aprendi assim mesmo, olhando as paisagens, a natureza. Como eu vivi no interior, eu tirei mesmo da memória. A pintura vem da minha memória.

O que a senhora gosta de pintar? Quais são os temas que estão sempre nos seus quadros?

Eu gosto de pintar a minha cultura indígena, as índias fazendo beiju, farinha, desfiando algodão, fazendo comida, dança. É isso que eu gosto de retratar: as paisagens, as lendas dos antigos, a lenda das malocas onde eu vivia, onde eu cresci. Eu ando por aí visitando as outras malocas aí eu retrato as histórias, tudo são Macuxi. Eu retrato só mesmo a cultura indígena Macuxi.

E qual o material que a senhora usa para pintar?

Eu uso tinta óleo e acrílico também, mas o acrílico eu parei de usar, estou usando só óleo mesmo. Usava também pigmento natural, mas agora estou usando só mesmo óleo.

E a senhora já foi bastante premiada, né? Conta um pouco como foi isso.

Foi. Já é a quinta vez que fui premiada na Bienal de Arte Naïf Brasil. Eu não esperava ser premiada assim, ser conhecida pelas minhas obras. Teve um homem que me inscreveu pra essa premiação, o nome dele é Augusto, ele mora em Brasília. Ele me inscreveu em 2006. Aí, as pessoas começaram a me conhecer através do meu trabalho. Agora estou começando a fazer as obras para fazer exposição em 2017, em Brasília. Aí, eu estou retratando as lendas e histórias do povo indígena aqui de Roraima.

A senhora primeiro tem aquela imagem na cabeça e depois pinta, como é?

Não. Eu passo já pra tela mesmo. Eu tenho ideia pra colocar na tela já. Vou desenhando primeiro, aí depois eu vou pintando. Uma tela eu demoro quase duas semanas pra pintar, porque meu trabalho é tudo bem feitinho.

E aquela sua tela que eu fotografei?

Eu pintei já contando história do Monte Roraima. Porque a Árvore da Vida tinha Dois Irmãos. Esse primeiro quadro que eu pintei também sobre o Monte Roraima, A Lenda da Árvore da Vida, foi premiado. Em 2006, eu inscrevi dois trabalhos, foram premiados os dois. Tinha uma árvore grande, cheia de fruta que o pessoal não podia colher. Aí, Dois Irmãos resolveram derrubar, cortar, pra comer as frutas, aí eu pintei isso aí, cheio de passarinho, cheio de índio colhendo as frutas já caídas.

E a senhora faz parte do coletivo dos artistas indígenas?

Sim, eu faço exposição. O Jaider me convida pra fazer exposição. Agora eu estou me preparando para fazer exposição ali no shopping. Eu não sei se eu vou fazer, porque meu trabalho demora pra enxugar, pra fazer, não é aquele trabalho que qualquer um faz, não.

A senhora tem um trabalho com o circo também, né?

É, meu marido trabalha com artes circenses. Quando eu o conheci ele não tinha circo, ele trabalhava sozinho, particular, em aniversários, animando festas. Aí, eu conheci ele, casamos e eu tô vivendo com ele há mais de vinte anos. Agora a gente tem um circo, a gente vive de artes circenses também. Meu trabalho também, de vez em quando eu vendo minhas obras. A gente não tem emprego certo, nossa renda é dos quadros e do circo. Meus filhos trabalham no circo, o circo é só da família. A gente vai pra Venezuela com o circo, pra Santa Helena, né? A gente viaja pelos munícipios, Pacaraima,Normandia, Caracaraí. A gente viaja pelos interior. A gente vive assim, viajando, conhecendo os outros amigos, os outros artistas também. A gente vive assim, de arte.

Qual é a sua rotina de trabalho aqui com os quadros? A senhora pinta todo dia?

Eu trabalho todo dia. Tem atividade de casa também, eu tenho mais tempo a tarde. Aí, eu pego minhas obras à tarde, às vezes de manhã um pouquinho. Aí vou produzindo. Eu gosto de trabalhar sozinha, eu não gosto que ninguém fique olhando pra mim. Eu gosto de trabalhar sozinha, só escutando música. Eu abro o rádio, fico escutando aquelas coisas e viajando nas minhas obras. Pintando, viajando na obra, ao mesmo tempo eu estou viajando lá para criar outro desenho. Aí, quando termino de pintar, eu vou desenhar. Aí já pensei o que eu vou fazer. É assim.

E a senhora gosta de trabalhar nesse cantinho aqui?

É. No chão, na cadeira, em pé, de todo jeito eu pinto, agora falta fazer meu ateliê. Devagar eu vou vendendo as obras e vou construindo meu ateliê.

Eu gosto de pintar a minha cultura indígena, as índias fazendo beiju, farinha, desfiando algodão, fazendo comida, dança. É isso que eu gosto de retratar: as paisagens, as lendas dos antigos, a lenda das malocas onde eu vivia, onde eu cresci.

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