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Deisi Mello
Então, Deisi, a ideia é falar um pouco da tua trajetória nas artes e de como tu chegou aqui em Rio Branco.
deisi mello (FOZ DO IGUAÇU-PR,1983)
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ATELIÊ DA ARTISTA, EM 20 DE SETEMBRO DE 2014.{ Bom, eu sempre gostei de desenhar, de pintar e na minha família também tem uns desenhistas que fazem algum tipo de arte e eu tenho um primo que desenha muito bem e eu gostava muito de ver os desenhos dele, acho que foi o que mais me incentivou. Eu já rabiscava também... mas a parte que me chamou mais atenção foi quando eu cheguei aqui em Rio Branco. Eu cheguei em 2003. Aí, assim que eu cheguei eu já conheci o Darci [Seles], o Glicério [Gomes]... e quando eu conheci o Glicério, ele já me levou pro Sesc e me apresentou o Darci. Eu fiz, mais ou menos, uns três meses de curso com o Darci e no mesmo ano era o aniversário de quinze anos da Associação dos Artistas Plásticos. E aí, ele já me convidou para participar da exposição. Eu estava começando, na verdade, e conheci os outros artistas. Depois eu comecei mesmo a me interessar pelas artes. Antes eu fazia por gostar, mas eu não imaginava que ia pegar isso como profissão. Eu comecei a participar das exposições coletivas e comecei a desenvolver um outro estilo,
porque até então eu pintava algumas coisas de foto, que eu via que gostava, gostava também de fazer reproduções de alguns pintores. Mas foi passando o tempo e eu senti necessidade de mudar, aquilo já não estava bom. Algo diferente, algo que não seguisse nenhuma escola. E comecei a desenvolver um outro tipo de pintura, comecei a usar tinta acrílica também, porque a tinta óleo era mais demorada e ela me limitava um pouco também, sabe? E comecei a usar a tinta acrílica bem aguada e ela me dava mais possibilidades de traços e comecei a usar a espátula também, aí comecei a pintar por fases.
Pintava umas telas pequenas ainda e comecei a usar as linhas do próprio tecido mesmo pra fazer alguma colagem e aí inseri alguns grafismos também, sabe? Na verdade, eu começava deixando ela meio que abstrata, a tela, e de repente ia formando algumas imagens e daquela ia puxando cores. Eu mexo muito com cores, assim... quando eu começo a pintar, eu tenho que abrir praticamente todas as tintas e aí, eu uso essas bandejinhas e coloco tintas por todas elas, sabe? Eu vou fazendo umas misturas, como se uma cor puxasse a outra. E a mesma coisa com os traços. Então assim, tive algumas pessoas que me influenciaram bastante, mas de uma maneira assim a querer produzir, pintar mais e não fazer parecido, sabe?
Eu comecei a pintar umas telas maiores. Eu gosto muito dessa parte aqui de Rio Branco, aquela parte ali da Gameleira, principalmente na época de chuva, as pessoas andando, como se fosse um dia a dia comum das pessoas transitando pra lá e pra cá, com guarda chuva, que eu sou fascinada, e com os postes (risos). Então são dois elementos que eu acabei utilizando em várias telas. Hoje eu não posso dizer que eu tenho um estilo assim, na verdade, é complicado você falar de um estilo, né? Porque se você começar a analisar as obras, você vai encontrar vários estilos dentro dela, então não dá para você encaixar elas dentro deles. É simplesmente a minha pintura, meu jeito de pintar. No começo eu tinha muita preocupação com isso, de fazer algo. “Será que tá bom? Será que não tá bom? Será que vai dar certo? As pessoas vão gostar? Ou não?”. Sempre eu procurava ver um quadro e querer de repente fazer algo parecido. Hoje eu não tenho essa preocupação. Tenho um trabalho bem livre, bem solto. Eu uso muitas cores e não estou muito preocupada com essa coisa de se vai ou não dar certo. Eu quero mesmo é colocar para fora e traçar. Por isso, eu uso a espátula também, uso uma coisa mais aguada assim, mas pelo movimento que a própria tinta faz indo pra aquele rumo e eu tento fazer, inserir os elementos da minha obra dentro desse fundo. Geralmente eu começo com um fundo, pinto o fundo todo, jogo várias cores e deixo escorrer. Também vou manipulando pra onde que ele vai. E aí, depois eu começo a usar a espátula, jogar tintas... alguns desenhos eu até traço, outros não, outros eu já deixo bem à vontade. E as cores, eu coloco uma, depois quero colocar outra e acontece assim muito rápido, sabe? Então, eu começo a desenhar, a pintar uma tela, ela vai até num processo meio lento... quando chega na metade, que eu começo a inserir as cores, é bem rapidinho assim, sabe? Aí eu já vejo. Enquanto eu não olho e digo
assim “tá bom”, eu tô colocando tinta (risos).
Eu estou numa fase... humm... Como eu posso dizer? Não de se encontrar, porque eu sei o que eu gosto, o que faço, mas numa busca por algo novo, algo diferente para dar continuidade ao que eu faço já.
Menina, eu acho tão linda essa cena, quando o rio enche e as pessoas ficam olhando.
Muito legal, né? Ah, eu sou fascinada por aquela parte do rio quando cheio, a ponte, sabe? As pessoas... aquele monte de gente transitando, meio que descompromissadas, algo assim. Ah, eu adoro ficar olhando. Eu já cheguei a passar tempos sozinha num banco, olhando (risos). Eu gosto mesmo. Cria um clima meio nostálgico.
E esse espaço [ateliê], como você montou ele?
Esse espaço surgiu de uma grande necessidade... primeiro um espaço assim, que você pode chamar de seu, que você pode ficar só. Quando eu estou pintando, o mais fechado pra mim é melhor. Eu tenho que estar só, de ter aquele momento só pra mim. Quando eu começo a pintar eu fico muito concentrada, então qualquer coisa pra me tirar do foco, pode atrapalhar o que eu estou pretendendo fazer.
Seu trabalho é muito bonito. Você vê as referências do lugar, mas não é aquela coisa literal, é mais... Você pode dar uma viajada, assim.
Tem muitos artistas que acabam ficando aquela coisa bem regional, né? Eu gosto daquela coisa regionalista, mas pra mim, eu preciso de algo que me identifique enquanto artista, uma característica. Eu acho que eu consegui, de certa forma, isso. Justamente porque eu tento colocar algo mais meu mesmo, mais pessoal. Tento imprimir uma marca mais forte, mais...
Hoje eu não posso dizer que eu tenho um estilo assim, na verdade, é complicado você falar de um estilo, né? Porque se você começar a analisar as obras, você vai encontrar vários estilos dentro dela, então não dá para você encaixar elas dentro deles. É simplesmente a minha pintura, meu jeito de pintar.