Offereço meu original como lembrança: circuito social da fotografia nos sertões da Bahia (1900-1950)

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sódio em Mundo Novo ocorreu três anos antes da Campanha de Canudos e que as lembranças do autor foram retomadas por ele 50 anos depois. Visto na distância do tempo, para Barreto (1946, p. 28), aquelas “pacatas populações sertanejas” eram as maiores vítimas tanto da ausência do Estado como das terríveis ações dos coronéis naqueles violentos sertões. A República implantada com a “Revolução de 1930” foi saudada com muitas reservas, mas com certo elogio, pois que trouxe o grande benefício de desarmar os “velhos caudilhos politiqueiros” da região. VELHOS SERTÕES, NOVOS TEMPOS, OUTRAS IMAGENS As imagens predominantes dos sertões baianos assentadas no imaginário nacional através das mídias de comunicação, a exemplo dos jornais, revistas e fotografias, evidenciaram-nos como lugares da barbárie, violência e miséria, sobretudo com as repercussões da Campanha de Canudos. Em grande medida, aqueles olhares externos foram contrapostos pelos interlocutores sertanejos através de construções de suas próprias imagens, no início do século XX, período em que uma série de inovações de ordens técnicas e culturais chegava às suas pequenas urbes. Como diz Le Goff (1996), a consciência do moderno nasce do sentimento de ruptura com o passado. Como se pôde perceber, as transformações pelas quais passaram os municípios de Senhor do Bonfim, Jacobina, Morro do Chapéu e Mundo Novo foram traduzidos em autoimagens de progresso e civilidade pelas percepções e sensibilidades de suas próprias sociedades. O trem de ferro, um dos prin-

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