Offereço meu original como lembrança: circuito social da fotografia nos sertões da Bahia (1900-1950)

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enquadramento efetuado pelos fotógrafos, ao modelo do álbum e principalmente à maneira como os guardiões das fotografias das famílias disponibilizam as imagens nas suas páginas.52 Schapochnik (1998) assemelha a figura do guardião a um dublê de arquivista, visto ser quem organiza e dá uma ordem ao acervo; do curador, pois decide quais imagens devem ser expostas na sala e quais outras devem ir para os álbuns; do marchand, determinando a distribuição e circulação do espólio da memória fotográfica familiar; e do guia de visitas de exposições, pois é quem insere as legendas e constitui narrativa à coleção de imagens. Como as famílias nos sertões baianos construíram suas autoimagens através da fotografia? Em que contexto aqueles artefatos estavam inseridos nos espaços físicos e mentais dos grupos? Adentrar esses universos particulares das memórias fotográficas familiares dos sertões se apresenta como uma janela que possibilita visualizar certos aspectos da cultura fotográfica no Brasil, os mecanismos de distinção dos grupos, suas autoapresentações, bem como as práticas de coleções de fotografias familiares na Bahia. Visualizemos esses planos. Cartões-postais: uma coleção particular O cartão-postal é uma viagem. Para que seja objeto de fruição, já demanda um deslocamento do remetente ao destinatário. No início do século XX, através dos correios ou por 52 A respeito da estética da fotografia, ver LISSOVSKY (2008) e SOULANGES (2010).

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