ensar(es) 1999-2012
Revista Escolas | João de Araújo Correia
Nº 17 | Junho 2012
«Deparou-se-nos há dias (...) uma árvore feliz. Foi um acontecimento! Árvore feliz é coisa rara como homem feliz. (...) Ficaríamos a contemplá-la até ao fim do mundo se ninguém nos dissesse: vamos, que são horas.» João de Araújo Correia, Pátria Pequena (1961)
AS ESCOLAS TAMBÉM PODEM SER FELIZES
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Índice Editorial A. Marcos Tavares Na minha mais profunda solidão Leonor Almeida A importância da leitura João Cardoso Sonhar Pedro Félix O ontem e o hoje da família Ana Rita, et al A saudade Ana Ferreira O verdadeiro amor Diana Monteiro Reflexões matemático-filosóficas Fernando Cameira Lado a lado Helena Ferraz Causa efeito Isabel Fernandes Ler, amar e mesmo não vendo... Inês Mesquita Quando o viajante embarca Fátima Carlos Os jovens e o futuro Rita Marques Música Isabel Gonçalves Requiem para D. Sebastião Miguel Pereira Irreal Carlos Rodrigues Arracionalidade Bruna Moinhos Consumismo Margarida Marques O barco de papel Bruno Marques O que ainda nos pode dar a escola... Manuel Ferreira A minha caixinha José Guedes Escolhas Diana Costa Boxe. José Artur Matos
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Discriminação João Pinto Nas vagas do tempo Rafaela Monteiro Sempre Catarina Montezinho Sintonia do silêncio Ana Paula Lopes Bullying Cristina Borges A vida, uma breve passagem... Ana Rodrigues Temporalidade e finitude A. Marcos Tavares Palavras que se ouvem Andreia Cardoso O que é ser feliz? Maria Sousa Natureza solitária Jéssica Cardoso Vides João Rebelo Preconceito Catarina Pimenta O vazio dos dias Sara Rodrigues Monólogos do passado Helena Ferraz Verdadeiro amigo Samuel Pereira Dom de ser Andreia Cardoso Medo Beatriz Xavier Voltar a ler os clássicos Paulo Pereira Guedes Felicidade Ana Silva Mais vale um murro de verdade... Severina Rodrigues Já a minha Avó dizia... Clara Pinto Sentimento Tânia Morais Ficha técnica
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Editorial
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A solidariedade
. “Ser feliz, dizia uma «princesa do nada» que se dedica ao cuidado de crianças moçambicanas, é ter o necessário e partilhá-lo com quem nada tem. Não é, continuava ela, ter todos os luxos, encher a pança enquanto à nossa volta se morre de fome”. O povo português é um povo solidário nas grandes causas, como foram os exemplos de TimorLeste e, mais recentemente, da Madeira. Mas no quotidiano predomina a pequena inveja e o egoísmo mesquinho. A Europa, outrora tão rica e aparentemente tão solidária com os «pobrezinhos do Sul», caiu no mesmo. Os ricos europeus tentam desculpar-se argumentando que estão fartos de injetar dinheiro nos países de preguiçosos que só sabem malbaratar. Mas calam o facto de serem esses preguiçosos que os alimentam, importando tecnologias, bens essenciais e bens supérfluos (se calhar, mais estes). Calam a circunstância de a sua riqueza se ter construído à custa do empobrecimento dos outros. Ser solidário não é dar, sobranceiramente, o que sobra mas partilhar o que se tem por pouco que seja. 2. Sempre admirei os povos solidários, sobretudo aqueles que na adversidade souberam lutar pela liberdade transmitindo forças aos outros para fazerem o mesmo. Não esqueço o exemplo dos húngaros em 1956 e dos checos em 1968. Foi a sua coragem que manteve acesa a chama da liberdade e da solidariedade na Europa. A sua luta contra os tanques soviéticos, qual David contra Golias, permanece como um marco de inconformismo e de esperança. A Grécia, pátria da cultura e da democracia, é hoje o símbolo dessa luta. Mas com uma diferença abissal. Ontem, sabia-se quem era o inimigo, conhecia-se o rosto do opressor. Hoje, o opressor não tem rosto. O sistema, as agências financeiras, os mercados são monstros devoradores invisíveis. Invisíveis e omnipresentes. 3. Não se pode perder a esperança. Há que arregaçar as mangas e partir para a luta. Sobretudo contra a monstruosidade invisível. Sem medos paralisantes. A Pensar(es), desde a sua pequenez, quer dar o seu contributo. A. Marcos Tavares
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Na minha mais profunda solidão... Leonor Almeida . Aluna do 12º D
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De repente, vem o silêncio, um silêncio ensurdecedor quebrado pelo som dos teus passos tão pesados.
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quela imagem toca, está viva e em movimento… Dela saem milhares de sons que se transformam numa bela mas macabra melodia saída das teclas de um piano assombrado. É uma imagem sombria portanto; uma imagem do meu Mundo, do meu ser… A minha alma dentro dela é a que toca e se passeia a correr ou a andar por ente a folhagem das heras que trepam e tentam vestir as árvores despidas, assim como cobrem o chão; também vagueia naquele palácio vazio, deserto de algum tipo de vida… A solidão é assim um refúgio, uma paisagem… será? O nevoeiro não deixa ver com clareza tal resposta, as palavras flutuam com ele e ecoam quando batem nas paredes robustas, maciças, pesadas, impenetráveis… frias! Sinto-me confusa, mas a melodia continua, o tom aumenta para o grave e ouve-se uma voz. És tu quem canta com a música.
De repente, vem o silêncio, um silêncio ensurdecedor quebrado pelo som dos teus passos tão pesados. A minha alma foge de ti, mas eu permaneço quieta sentada ao piano. Errado, eu não, ela! A minha alma! Afinal sou eu quem foge com medo… sou eu, porque fecho o livro rapidamente e tremendo, o atiro contra a parede, com receio de que a tua visita seja real, com medo de voltar a sentir a tua presença, a ver o teu rosto mármore, os teus olhos esculpidos de um negro tão profundo e as tuas asas gigantescas, desumanas, impiedosas e petrificantes, que de novo me farão parar e me envolverão cruel e insensivelmente, fazendo-me de novo tua, sem fuga possível para o meu silêncio, para o meu livro refúgio… para a minha querida Solidão! A resposta afinal é clara: A solidão retida por alguns momentos, Afinal é uma paisagem E está presa na nossa mente, Presa nas profundezas dos nossos olhos, No espelho da nossa alma Que se reflete pelo seu brilho e cor, A essa chamamos a nossa aura Invisível a certos olhos…
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A importância da leitura João Cardoso . Aluno do 12º A
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leitura é um bem extremamente enriquecedor para quem a pratica, e tudo o que nos enriquece faz-nos crescer e sermos melhores a todos os níveis. É um ato simples, saudável e barato e que nos estimula mais do que qualquer outra coisa. Para além de ocuparmos o nosso tempo de uma forma divertida, adquirimos novos conhecimentos e ideias, passíveis de serem aplicados futuramente no nosso dia-a-dia. Ficamos a conhecer melhor o mundo e tudo o que nos rodeia. Melhoramos a nossa capacidade de escrita, bem como a nossa oralidade, a capacidade de improvisação e a flexibilidade cognitiva em áreas distintas. Assimilamos conteúdos e experiências que não são comparáveis com as que aprendemos na escola.
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Os livros são como as pessoas e diferem de uns para os outros. Os livros são como as pessoas e diferem de uns para os outros. Alguns identificam-se melhor connosco, transportando-nos para lugares intemporais e culturas diferentes, outros nem tanto. Existem livros com conteúdos distintos - intrigantes, apaixonantes, melancólicos, assustadores… - e para os mais variados gostos, inviabilizando as-
sim qualquer tipo de desculpa para não se lerem. E o principal fator pelo qual a maior parte dos adolescentes, e não só, deixam o tão enriquecedor e estimulante livro de lado é, precisamente, a evolução tecnológica, o novo mundo virtual. Abdicam de ampliar e alimentar a sua sabedoria e conhecimentos, para se ligarem, exagerada e abundantemente, aos computadores, playstation’s e afins. Não que não o devam e possam fazer, mas existe tempo para tudo. O interessante de uma pessoa está no seu interior, na sua mente e nos seus conhecimentos. E a leitura assume o papel fulcral no nosso desenvolvimento individual, devendo ser estimulada logo na idade infantil. Como veem, ler é fácil e não nos faz ficar doentes, muito pelo contrário. E o que hoje podem achar que é uma completa perda de tempo, facilmente se torna um bom hábito, que no futuro dará os seus frutos. Leiam, para um mundo melhor!
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Sonhar Sonhar é voar sem rumo É a liberdade de pensar Sem ninguém para nos subjugar. Sonhar é uma louca aventura Sem angústia e sem pressa Sonhar é viajar nas ondas do mar, Nunca se sabe, onde se vai parar. Ou ir num foguetão Libertar a solidão. Sonhar é multiplicar a alegria Distribuir o amor Apagar o ódio e a dor. Sonhar é urgente! É abrir o coração inconscientemente Sem saber a razão E tudo fazer, com muita paixão Sonhar é um livro deserto. Cada página uma tela Que a sonhar se pinta Com a cor das palavras Ser poeta é sonhar! Pedro Félix . Aluno do 9º A
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O ontem e o hoje da família Ana Rita, Joana Sousa, Rui Oliveira e Susana Slakovic . Alunos do 12º Bp
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omo organismo vivo que é e como instituição social de primeira linha, a família não parou no tempo e foi sofrendo profundas modificações. O nosso objetivo é apresentar ao de leve os traços fundamentais dessa evolução. Na civilização ocidental, tradicionalmente a família sempre se apresentou como patriarcal, com predomínio do homem, que era o chefe da família. Ao mesmo tempo, as motivações para a sua constituição não eram propriamente as mais românticas. Os laços de sangue eram muito importantes, mas o interesse económico prevalecia sobre os vínculos do amor. Muitos casamentos sobreviviam sem laços de afecto, apenas apoiados em interesses ligados sobretudo á posse de propriedades e de gado. Com a progressiva liberalização das relações, possibilidade de escolha e a liberdade de opção da companheira, os laços afectivos foram ganhando cada vez mais importância. Com as constantes transformações, a família moderna adquiriu um novo paradigma, traduzido numa nova identidade espelhada em valores que se modificaram. A realidade das famílias modernas esboçou uma revolução na sua organização, enfraqueceu a autoridade do pai, ao mesmo tempo que a mãe deixou “a cozinha” para concorrer com os homens no mercado de trabalho.
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Com este novo paradigma, a sociedade vai-se transformando progressivamente, posto que a mulher, com as suas diferentes e novas perspectivas, influencia positivamente o mercado de trabalho, a política, a educação e o próprio homem.
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A família moderna adquiriu um novo paradigma, traduzido numa nova identidade espelhada em valores que se modificaram. Porém, com essas alterações familiares, ocorreram crises de valores culturais e éticos. Face a concepções desertificadas de liberdade, de direitos e de deveres, a moral familiar entra muitas vezes em choque com a moral tradicional. A condição da família moderna causa apreensão, pois os pais que não souberam lidar com a liberdade, hoje pagam muito caro por isso. Com receio de que os filhos sigam caminhos pouco recomendáveis, e também, quem sabe, para não ter que aturar as suas birras, os pais são diligentes na satisfação de todas as vontadinhas dos filhos. Não serve qualquer roupa ou qualquer brinquedo, seja telemóvel ou iPod ou iPad 2,3, 4 ou 5. Tem de ser tudo de marca e o último grito. Havia um político grego que dizia que na Grécia mandava ele, nele mandava a mulher e nele e na mulher mandava o filho. Mais do que então, hoje os submissos pais a tudo dizem “sim”. Muitas famílias vivem sob o domínio déspota de filhos que se comportam como autênticos tiranos. E o que conseguem em casa querem consegui-lo também na rua e na escola. O aspeto mais grave do desmembramento a que se vai assistindo nas famílias é a educação dos filhos, ou melhor a sua deseducação, a sua desresponsabilização. Mas ainda o mais preocupante é a convicção de que todos devem estar ao seu serviço. Habituados a que em casa os papás lhes satisfaçam os caprichos, muitos meninos e meninas de hoje comportam-se como se toda a
gente tivesse o dever de lhes satisfazer as vontades. Como diz o povo, parece que «têm o rei na barriga». Em resumo, a família caminhou de uma base utilitária, de conveniência, para uma dimensão mais livre. De companheiro(a)s combinados ou impostos, passou-se para a liberdade de escolha no amor. Mas, atendendo às vicissitudes por que hoje passa, a família parece não estar a cumprir as suas funções mais nobres.
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A saudade Ana Ferreira . Aluna do 12º E
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É um sentimento incomodativo, como se alguém nos estivesse a apertar o coração e não o deixasse libertar.
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u entendo a problemática da saudade como sendo aparentemente simples e em simultâneo, extremamente complexa. Muitos de nós conseguem entendê-la, mas poucos têm a capacidade de a descrever. Eu sinto saudades quando relembro momentos bons que vivi, momentos que me marcaram, como a minha infância… Ou quando relembro momentos menos agradáveis, como a perda de alguém de quem gostava. Por vezes, a saudade faz-nos sentir uma angústia inexplicável e um enorme vazio dentro de nós; é um sentimento incomodativo, como se alguém nos estivesse a apertar o coração e não o deixasse libertar. Quando falamos em “saudade”, temos dificuldade em descrevê-la, em dar-lhe uma definição, mas isso é porque a saudade sente-se e vive-se no interior do nosso eu. Para mim, é como uma con-
sequência do que foi ou é importante nas nossas vidas, de algo que nos faz falta, que nos faz pensar… Podendo ser saudade de um sorriso, de um rosto, de uma palavra, entre outros. A saudade alimenta, tem o poder de mover mundos e mostrar-nos que tudo é possível quando o objetivo é “matar saudades”. É também um sofrimento que atormenta o coração de quem se preocupa com o que o rodeia. É um sentimento forte quando dizemos a alguém que sentimos saudades e demonstramos que o queremos por perto. A saudade não tem distância. Quando se gosta ou se ama, quando se passam bons momentos, mesmo estando perto ou longe, sentimos saudades, o que nos mostra quem realmente é importante nas nossas vidas.
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O verdadeiro amor O brilho do sol perdeu intensidade Os dias escureceram essa é a verdade Os sentimentos existentes Tiveram que mudar Porque houve barreiras Que não se conseguiram ultrapassar A vitória esteve próxima Mas faltou força interior Força que tudo supera Se existir amor Beijos e abraços fortalecem a relação Festinhas e sorrisos Como segunda intenção Nada é por acaso Tudo tem uma finalidade Ao sabor da liberdade Com vista ao prazer
De conquista e de saber Envolvidos num mundo mágico Preenchido pela carícia Sabes bem que certos gestos Têm o seu toque de malícia Mas nem só de ternura e afetos Se alimenta a alma O sucesso da relação Está em manter a calma Avançando mais um pouco Provocando cada vez mais Conquistando os nossos ideais Corpos despidos, sem roupa Mas envoltos em carinho Quanto a mim já sabes Nunca estarás sozinho Diana Monteiro . Aluna do 10º Bp
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Reflexões matemático-filosóficas Fernando Cameira . Professor de Matemática
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É inegável que a procura da perfeição, da harmonia e do equilíbrio tem sido uma busca incessante do homem ao longo da história.
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ma das grandes características do ser humano é a sua dotação inata para o pensamento. Em permanente inquietude com o cosmos, procura a partir do instinto da observação recolher os necessários inputs que servirão de premissas para cevar a poderosa máquina indutiva da imaginação e da criatividade. Nasce a formulação de hipóteses, os caminhos para os postulados, a construção da teoria por dedução e inferência, a estruturação de um sistema formal, a consubstanciação da Lei Universal. A própria civilização. Conjeturar e problematizar a essência da matemática é ponto de partida para uma sumária reflexão. Desde os primórdios tempos até aos dias de hoje cientistas e filósofos deslumbraram-se com o facto de uma disciplina aparentemente abstrata ter a capacidade de explicar de uma forma tão perfeita o mundo natural, as características humanas e o
próprio universo. Nesta lavra de razão surge a suprema e dialética questão: Será a matemática uma descoberta ou uma invenção humana? Questão já formulada por Mário Lívio em Is God a Mathematician? (2009)”: “As matemáticas são realidades da natureza, independentes do mundo material, que os homens descobrem progressivamente? Ou são, pelo contrário, a tradução realizada pelo espírito humano (ou pelo nosso cérebro) de estruturas ou leis preexistentes no mundo material antes dos matemáticos as observarem?” Não sendo nova tal problemática, longe está de ter uma solução pacífica. Raciocinar com método e sustentar argumentos não é de todo tarefa fácil. Todos aqueles que defendem que esta disciplina é uma descoberta, acreditam em verdades universais, metafísicas e absolutamente inalteráveis, exógenas da criatividade humana. Esta crença, de sabor platónico, defende que as leis e a formulação de teoremas se encontram num meta-espaço qualquer. Passa-se desta forma por cima de todo
ensar(es) o nominalismo e conceitualismo, admitindo que a matemática é um problema dogmáticoteológico. Se a matemática for uma descoberta, todas as inteligências cósmicas, se existirem, irão obter os mesmos resultados. Assim, ela seria uma linguagem universal e única. Neste contexto convém citar o pensamento de Kepler: “As leis da natureza nada mais são que pensamentos matemáticos de Deus.” Será que o céu já era azul antes que alguém o tivesse dito pela primeira vez? Será que o barulho de uma árvore a cair na floresta já existia antes que um conceito humano lhe tivesse dado significado? Seguindo o pensamento de Santo Agostinho, será que a música é uma harmonia divina e a conjugação dos sons da natureza é que deu origem à melodia? Caímos desta forma no abismo clássico de toda a reflexão universal. Chegaremos sempre a Platão e a Aristóteles. As coisas existirão per se ou com fundamento in re? Os formalismos matemáticos tal como hoje os apreendemos não eram conhecidos na Grécia Antiga. A Matemática analítica não existia, pelo que as demonstrações, os esquemas de raciocínio, eram representadas em figuras geométricas. Assim sendo, na realidade, o teorema de Pitágoras não se destinava a medir um dos segmentos do triângulo, mas sim a estabelecer uma equação. Aqui se levanta um debate, Pitágoras descobriu ou inventou um novo tipo de números, os números reais? Na natureza existem triângulos retângulos, logo existem hipotenusas e catetos. E logo existem números reais, é o que se pode concluir! Vejamos o exemplo do número pi, que é um dos números irracionais mais famoso da história da matemática, com o qual se representa a razão constante entre o perímetro de qualquer circunferência e o seu diâmetro. O Número pi está presente em todos os elementos da natureza. Quase tudo foi criado segundo esta razão. Desde a anatomia da mosca, até ao tamanho dos ossos, da boca, do nariz de qualquer pessoa. Hoje o cálculo do com milhões de casas decimais é usado para testes em computadores e programas (Hardware e Software). Uma diferença em um
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dos algarismos, indica falha nas suas arquiteturas. Por constatação direta desta realidade somos obrigados a pensar e a refletir na crença de Galileu, ao afirmar que “A Matemática é o alfabeto que Deus usou para escrever o Universo.”. É inegável que a procura da perfeição, da harmonia e do equilíbrio tem sido uma busca incessante do homem ao longo da história. Não podemos deixar de pensar aqui na razão áurea, na divina proporção ou no número de ouro. Esta razão ganhou um status de “quase mágica”, sendo alvo de pesquisadores, artistas e escritores. A tradução matemática da perfeição resume-se 1+ 5 a uma simples expressão: Φ = 2 ≈1, 618 . O facto de este número (phi) ter sido encontrado através de desenvolvimento matemático é que o torna fascinante, a ele e à própria matemática. Este número está presente na natureza, no corpo humano, na arte e no universo. Teria sido a matemática criada num espaço transcendente ou será fruto da inteligência humana gerada num espaço tão real e cognoscível, como aquele em que vivemos? Os que creem que a matemática é inventada, argumentam que o nosso cérebro é produto de milhões de anos de evolução em circunstâncias bem particulares, que definiram o progresso da vida no nosso planeta. Conexões entre a realidade que percebemos e abstrações geométricas e algébricas são resultado de como vemos e interpretamos o mundo. Por outras palavras, a matemática humana é produto da nossa história evolutiva. Nesta perspetiva a matemática reflete as mentes que a criam. Ora, aqui, os que acreditam que a matemática foi inventada colocarão sempre uma barreira protetora às infiltrações, ainda que subtis e metafóricas, dos dogmas na ciência pura. É necessário ter muitas cautelas e criar grandes reservas quanto a profundas convicções. Não há respostas definitivas em nenhum domínio. A questão de se será a matemática uma ordem divina ou não, situa-se no mesmo plano destoutra: “Será que foi Deus que criou o Homem à sua imagem e semelhança, ou pelo contrário, como pensaria Feuerbach, foi o Homem que criou Deus à sua imagem e semelhança?!”
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Lado a lado Bate, bate coração, ao ritmo da emoção ao compasso da tua protecção, quando estou presa no desassossego. Espírito meu foge, afasta-se… Tu ajudas-me a agarrá-lo! Como? Porque quando estou sozinha Não o estou, Tu estás presente, Como um sol poente No horizonte, Alumiando minha alma Com o calor da amizade, Recheada de calma
Dada pela lealdade Correspondida pela fidelidade. Meu porto seguro, minha amiga, minha irmã, juntas estamos, juntas estaremos como sempre estivemos. Dia após dia, Manhã após manhã, Porque tu és a luz, Na escuridão da desilusão Porque juntas somos o Sol De um novo girassol Regado de amor.
Helena Ferraz . Aluna do 12º B
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Causa efeito Estudas, prolongas a adolescência; Sabes ouvir, ouves o que não queres; Pedes ajuda, dão-te palavras; Cais, ajudam-te a cair de novo; Trabalhas, recebes esmola; Amas, recebes exigência; Casas, ganhas peso; És mãe/ pai, ganhas responsabilidade; Vais embora, esquecem-te; Emigras, és estrangeiro; Regressas, causas espanto; Envelheces, ganhas doenças; Escreves, expões-te.
Lei da Causalidade: esta lei procura explicar os acontecimentos da vida atribuindo um "motivo justo", e uma "finalidade proveitosa”, acredite se quiser. Isabel Fernandes . Assistente técnica
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Ler, amar e mesmo não vendo, acreditar Inês Mesquita . Aluna do 9º C
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Não é preciso ver para ler e gostar de livros, tal como não é preciso ver para acreditar no fantástico.
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udo começara numa livraria, onde May fora há umas semanas atrás. Sempre que comprava um novo livro, ia a correr para o pequeno bosque situado perto da sua casa. Lá, emocionada e parcialmente iludida pelas histórias de fantasia, imaginava a pequena clareira como lar de diversas pequenas criaturas mágicas e fantásticas, tais como duendes e gnomos, e pela noite, minúsculas fadas que se poderiam confundir com pirilampos. E quem sabe se essas criaturas não seriam reais? De qualquer das maneiras, o livro que adquirira recentemente era diferente. Encontrara-o numa prateleira, sozinho; em toda a livraria não havia igual. Aquele pequeno caderno de capa castanha feita de um material parecido com o couro parecia ser escrito à mão e em cada página teria escrito “Adoro-te” em várias línguas. Desde línguas europeias a asiáticas, do simples inglês ao complicado africâner. Até línguas mortas e tribais. E mesmo não tendo o melhor as-
ensar(es) peto, May sentiu necessidade de o levar. Mas o livro não estava à venda. Segundo o gerente do estabelecimento, alguém o devia ter perdido. No entanto, ela poderia levá-lo. Começou a ler do início e logo a primeira página intrigou-a. Estava escrito “De:” e “Para:”, e à frente do “De:” estava o nome de um rapaz, e a seguir ao “Para:” estava o seu, May. Isso intrigava-a. Quem seria esse personagem? Passou vários dias curiosa. Adoraria saber quem era e o porquê do nome dela estar lá. Talvez fosse apenas coincidência e aquela ser outra “May”. Mesmo assim, mantinha uma esperança. Começara logo a imaginar mil e uma histórias de um personagem misterioso de um reino longínquo, talvez de outra era, ou até de outra dimensão. Talvez a sua história de fantasia estivesse a começar. Alguns dias mais tarde, estava sentada no sítio do costume a ler “A tua Alma e o Mar”, de Ana Lucas D., quando ouviu galhos e folhas secas a serem pisados. Olhou em todas as direções, tal animal que verifica se não há perigo à sua volta, e, no meio dos eucaliptos e outras enormes árvores e arbustos, viu um rapaz a afastar os ramos da cara e a aproximar-se dela. May levantou-se e olhou para ele. Era mais ou menos da sua altura, magro, com o cabelo loiro quase branco e olhos azuis arroxeados também muito claros.
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-Quem és tu? – perguntou ela. -Hum? Podes dizer-me onde estou? May olhou confusa para ele e reparou que ele não olhava diretamente para ela. Respondeu ao rapaz e voltou a abrir o livro para continuar a ler, mas, assim que o folheara, ele voltou a falar, perguntando-lhe o que estava a ler, ao que ela respondeu com o nome da autora e título do livro. Ambos se sentaram encostados à dita árvore e May continuou a ler. O rapaz abriu a mochila que trazia e tateou o seu interior até retirar um livro, que ergueu e abriu onde tinha marcado. May espreitou e reparou que as letras não eram exatamente “letras”, eram vários pontinhos salientes. Ela conhecia isso: era braille, sistema de leitura para cegos. -Isso é braille, não é? – hesitou na pergunta, mas acabou por dizer. -Sim, é. – afirmou o rapaz sorrindo desajeitadamente. – Infelizmente, para mim o Mundo é uma completa escuridão. Sentiu pena dele, até porque ele parecia gostar de ler. Falando nisso, como teria ele sabido que ela estava a ler? Questionou-o sobre isso, ao que ele respondeu que a ouvira a folheá-lo. Fazia sentido. Estiveram a tarde inteira juntos, a maior parte do tempo cada um lendo o seu livro. Podiam ler de maneira diferente, mas o amor pelos livros era igual e a companhia um do outro era agradável. Já estava a entardecer quando May perguntou o nome ao rapazinho, ao que este sorriu e respondeu: Alby. May paralisou. Esse era o nome que estava no caderno que encontrara na livraria. Rapidamente, retirou-o da sacola e colocou-o nas mãos dele, que o tateou ansioso mas feliz ao mesmo tempo. -É tão bom voltar a sentir as páginas deste caderno. – suspirou. -É teu, não é? Mas como o escreveste se não consegues ver? Ele olhou sério e iniciou a sua explicação: Há alguns anos fora-lhe diagnosticada cegueira. Que ele iria começar a perder a visão até estar completamente cego. O Mundo fora abaixo quando ele soube disso. Como é que iria ler? Iria conseguir adaptar-se? Todo o tipo de receios o consumiram e espicaçaram. No entanto ele queria fazer algo enquanto ainda tivesse visão, e esse algo foi fazer
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uma vasta pesquisa, incluindo ir a vários cantos do Mundo, arquivando como se dizia “Adoro-te” em várias línguas. Felizmente conseguira terminá-lo mesmo a tempo, quando a última mancha de cor e luz desaparecera. Mas ele não se sentira satisfeito. Queria que alguém o visse; não toda a gente, como se publicasse um livro, mas alguém que gostasse mesmo de ler. Mesmo sendo pouco, mesmo sendo em outras línguas, se as soubesse tentaria ler; e também alguém que não julgasse um livro pela capa. Então, deixou o livro na livraria, para que alguém o encontrasse. May, de repente, ficou feliz. Desvendara o mistério! O mistério do livro que estava sozinho na livraria, se bem que tenha ficado bastante surpreendida. Jamais imaginara que fosse um rapaz que perdera a visão. Mas depois parou e pensou… Como é que ele sabia o nome dela para o escrever no caderno? Agora era demasiada coincidência! Decidiu perguntar-lhe. No entanto… Acordou no seu quarto, já em pijama. Os seus pais disseram-lhe que ela tinha desmaiado na floresta. Levantou-se e pensou no que sucedera: lembrou-se do caderno, do rapazinho chamado Alby, e de lhe perguntar sobre como ele a conhecia. Mas ele não respondera. A última coisa de que May se lembrava era do seu sorriso tímido e frágil, depois de ela lhe ter perguntado e antes de ter desmaiado. Porque é que ele não respondera? Arrastou-se até à janela, que abriu e sentou-se no parapeito, observando o céu noturno onde a brilhante e imponente lua cheia descansava. Olhou para a sacola que estava num banco a seu lado e abriu-a, procurando o caderno que, felizmente, encontrou. Folheou mais uma vez as páginas e sorriu tristemente. Para onde teria ele ido? Passou todas as páginas, mas a última parecia-lhe diferente. E, sem dúvida, era. “Não é preciso ver para ler e gostar de livros, tal como não é preciso ver para acreditar no fantástico.” Estava assinado pelo Alby, e essa frase fê-la pensar nas criaturas mágicas que imaginava sempre que lia os seus adorados livros. -Será que existem mesmo? – sussurrou para o escuro da noite enquanto uma brisa suave brincava com os seus cabelos claros. E então, um grupo de pirilampos passou por lá.
Olhou fascinada para o baile de luzes voadoras que iluminavam o escuro da noite. E foi nessa altura que, um deles deixou o grupo e voou até ela, ficando bem à frente do seu nariz. May pôde ver o rosto humano, os bracinhos e pernas e vestes feitas de folhas e flores, assim como as asas que pareciam de vidro. O pequeno ser piscou-lhe um dos minúsculos e brilhantes olhos e saiu a voar, retornando para a sua família. May sorriu mais uma vez…sempre era verdade.
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Quando o viajante embarca Quando o viajante embarca Envolto numa vontade de partir E na esperança secreta de se apaixonar, Passa a doce tentação De lembrar o que foi onda A desenrolar no mar E do que foi tempestade A cessar em terra. Ela puxa o lustro ao passado E invade o presente prometendo um futuro De aventuras e descobertas embriagantes. E o viajante, já conquistado Pelo canto da sedutora tentação Que não o deixa pousar, Percebe, enfim, ainda ébrio, Que por vezes as afluentes lembranças Superam a vontade, já vencida, de esquecer. Fátima Carlos . Aluna do 11º C
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Os jovens e o futuro Rita Marques . Aluna do 10º C
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A realização dos nossos sonhos e a concretização das nossas ambições está comprometida.
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s jovens de hoje, contrariamente ao que seria de esperar, sentem uma grande incerteza quanto ao futuro: ao futuro do seu país e, consequentemente, ao seu próprio futuro. Nós, jovens do presente, crescemos numa sociedade “idealista”, onde praticamente, até há pouco tempo, tudo nos era facultado, onde nada nos faltava, onde a palavra “crise” nos era alheia, onde tudo nos era prometido. Tínhamos, assim, a consciência de que o nosso futuro seria promissor; de que a realização dos nossos sonhos seria uma certeza; de que as nossas ambições seriam deveras concretizadas. Tínhamos a convicção de que os nossos conhecimentos e a nossa cultura, aliados à ciência e à técnica, nos levariam à realização plena. Mas o mundo está a transformar-se à velocidade da luz. A realização dos nossos sonhos e a concretização das nossas ambições estão comprometidas. O desejo de uma participação ativa e
ensar(es) interventiva na construção de uma sociedade feita à nossa medida, mas onde todos teriam a sua medida, está posto em causa. Então, uma questão se nos coloca: como será o nosso futuro? Será que o nosso esforço, o nosso trabalho serão reconhecidos algum dia? Quando? Como? É que todos os dias uma porta se fecha à nossa frente: começamos a perguntar-nos se a nossa formação académica contribuirá para a construção do nosso futuro, quando a taxa de desemprego se torna cada vez maior. Será que teremos de emigrar para alcançar os nossos horizontes? Será que a frequência do ensino superior constitui uma mais-valia para o nosso futuro, abrindo-nos as portas que pretendemos? São tantas as questões que fervilham nas nossas mentes que difícil será respondermos a todas elas. Resta-nos a esperança; a fé em nós próprios e no mundo que nos rodeia. Mas será que a atuação adversa dos nossos políticos não comprometerá o nosso futuro? Será que algum dia o “domínio” do mundo poderá estar nas nossas mãos? O que responder àqueles que em vez de nos incutirem o conceito de nacionalidade, quando o conceito de
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globalização predomina, nos incitam a transpor as fronteiras do nosso país, tentando convencernos de que é a melhor solução para nós? Não deveriam antes aqueles que governam as nossas vidas deixar-nos escolher em vez de nos imporem uma saída que nem sempre é a que desejamos? Sabemos que a globalização é um conceito inevitável nos nossos dias, mas poderemos nós, pelo menos, escolher o local, a cultura ou culturas com as quais melhor nos identificamos? Não será demais repetir: resta-nos a fé e a confiança em nós próprios, nas nossas capacidades, nos nossos sonhos, nas nossas certezas e nas nossas incertezas que nos conduzem à procura de nós próprios; resta-nos a nossa vontade e a sede do infinito que nos leva a pensar ir mais além; resta-nos a negação do que julgamos não estar certo e a afirmação do que consideramos a verdade, a “nossa” verdade; resta-nos, enfim, lutar por um mundo melhor, por um mundo com o qual nos identifiquemos, por um mundo onde nos sintamos felizes. Afinal, não foi para isso que nascemos?
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Música Isabel Gonçalves . Aluna do 8º E
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Música é sinónimo de “espelho de nós próprios.
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úsica é melodia, é uma forma de nos expressarmos, é uma arte. No nosso quotidiano, a música está sempre presente. É natural. Quer seja dentro ou fora de casa, aqui ou na Lua, existe uma nota que toca como um ruído de fundo… Qualquer pessoa produz música, ouve música. Não especificamente canções com letra e instrumental de uma banda ou grupo, mas simplesmente uma gota a pingar, ou um barulho de pés ritmados em harmonia, que afinal não passam de pessoas apressadas em chegar ao seu destino. Existem vários tipos de música, desde aqueles que para mim nem deviam ser considerados música mas sim ruído, até às canções que fazem emocionar o mais teimoso morcão. Para todos os gostos e de todas as épocas, a música remonta aos primórdios da Humanidade, havendo uma vasta coleção e um imenso historial de melodias, para quem estiver indeciso sobre a sua música preferida. São várias as funções da música e os objectivos
de quem se interessa por ela; relaxar, inspirar-se, abstrair-se do mundo em seu redor, mergulhar em sinfonias desconhecidas ou talvez, disparatadamente, apenas parecer bem aos amigos. Infinitos argumentos, dependendo das mentes e opiniões dos 7 mil milhões de “pensantes” que vivemos neste mundo. Para mim, música é sinónimo de “espelho de nós próprios”, e não há nada que a substitua.
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Requiem para D. Sebastião Miguel Pereira . Professor de Português
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Creio que D. Sebastião regressou. Mais uma vez esse salvador da pátria chegou, não numa manhã de nevoeiro, não em cima de um cavalo, mas com uma espada bem afiada. Com um nome, aliás, pouco patriótico: “troika”.
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. Sebastião morreu. Ou talvez não! Quem melhor que Fernando Pessoa, pela voz do próprio rei, expressou tal dúvida nos versos de Mensagem - “onde o areal está /Ficou meu ser que houve, não o que há”? Não está em causa a morte física, mal fora! Essa dúvida pertence aos finais do século XVI, princípios do século XVII. Então, o povo ansiava pelo regresso do rei, aquele que tinha sido a “bem nascida segurança / Da Lusitana antiga liberdade”, como lhe chamou Camões n’ Os Lusíadas. Foi precisamente este desejo que alimentou a descrença popular na sua morte, a esperança do seu regresso para restituir a Portugal a independência perdida depois do desastre de Alcácer Quibir.
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Que tirasse Portugal da situação difícil que vivia sob domínio castelhano. Ganhou assim corpo o mito messiânico, de origem judaica, que tropeçava nas próprias barbas de tão antigo. Não esperavam os judeus que Jesus fosse o seu libertador do domínio romano? Renovado ao longo dos séculos, com outras roupagens, este mito encontrou em D. Sebastião o corpo perfeito. Chamaramlhe sebastianismo. E desde então tem sido mais ou menos alimentado consoante as circunstâncias históricas e as dificuldades do momento. Ora, as necessidades nem sempre são da mesma natureza. Ao longo da História pudemos ver D. Sebastião corporizado em vários momentos e de diversas formas. Bastará olhar para o século passado e poderemos vê-lo sob a forma de revolução, de figura humana ou até de qualquer meio de salvação económica. Creio que D. Sebastião regressou. Mais uma vez esse salvador da pátria chegou, não numa manhã de nevoeiro, não em cima de um cavalo, mas com uma espada bem afiada. Com um nome, aliás, pouco patriótico: “troika”. Porém, como nas anteriores vindas, o D. Sebastião regressado não era “O Desejado”. Queríamos o D. Sebastião poético, a cavalo e saído do nevoeiro, mas sem a espada. Logo que se dissipou o nevoeiro e o regressado começou a usar a arma, esconjurámo-lo. Abrenuntio! Vade retro! Afinal, não só não nos libertava do jugo económico-financeiro sob o qual vivíamos, como o tornava ainda mais agreste. Também nós partilhamos o dilema de Telmo, em Frei Luís de Sousa, aquando do regresso de D. João de Portugal na figura do Romeiro, “cuidei que o desejava enquanto não veio. Veio, e fiquei mais confuso que ninguém!” Mas D. Sebastião tem outra dimensão, incorpórea, e que nem sempre deixamos regressar – o sonho, a eterna demanda do ideal que, concretizando-se, logo define novas metas a alcançar. Quão bom seria se, de uma vez por todas, deixássemos no “areal” o D. Sebastião “que houve” e acolhêssemos “o que há”. Quão bom seria se abandonássemos o anseio da vinda de um “Deus ex machina” do teatro, solução imprevista e miraculosa, mas extrínseca, para as dificuldades do
momento que se vão repetindo de forma cíclica. Quão bom seria se, finalmente, se cumprissem os versos de Fernando Pessoa “É O que eu me sonhei que eterno dura / É Esse que regressarei.” Corporizaríamos, então, um D. Sebastião, salvador da pátria, com dez milhões de pessoas, sem espada e armadura mas com as mangas bem arregaçadas. “Ó Portugal, hoje és nevoeiro… É a Hora!”
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Irreal Sonhei que voava nas asas do vento. A aragem despenteava os meus cabelos. Fechei os olhos e deixei levar-me pela imaginação, Transpus as cores deslumbrantes do arco-íris. Cada linha, cada cor era um mundo diferente Belo e harmonioso. Uma rajada mais forte fez-me abrir os olhos. Então vi que não passava mesmo de imaginação. A meus pés estava um mundo de lutas, Guerras, egoísmo, preconceitos, medos, vingança, Ódio e injustiça. Tudo eu vi nos olhos tristes de uma criança Que não sentiu a felicidade de sonhar, Porque nem a alegria de uma migalha Para matar a fome existiu na sua vida. Só tristeza nos seus olhos, Tristeza de não ter mãe, Mãe que a terra lhe roubou, que tudo lhe tirou. Só angústia, ressentimento e amargura ficaram. Como eu sou feliz porque posso sonhar, Quando quero viajar através de sonhos Por mundos maravilhosos! Como eu gostaria de partilhar Estes sentimentos com todos os menos tristes deste mundo! Carlos Rodrigues . Aluno do 9º A
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Arracionalidade Bruna Moinhos . Aluna do 12º A
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A arracionalidade pode transmitirse através da violência, da guerra e do terrorismo, entre outros meios.
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arracionalidade consiste no facto de as pessoas praticarem atos sem refletirem sobre eles, sem pensarem nas suas consequências e nos danos que podem causar. A arracionalidade pode transmitir-se através da violência, da guerra e do terrorismo, entre outros meios. No mundo de hoje há muita violência. Os homens já não têm respeito por eles nem pelas coisas que os rodeiam. O homem tem sempre dentro dele um pouco de ambição para destruir vidas e o que se encontra à sua volta, como a natureza. Os humanos têm coragem até para destruir vidas de pequenas crianças que ainda nem sabem o que é viver. Mesmo que haja muitas pessoas que são contra a violência, o número dos que que a pratica é ainda muito grande. O mundo de hoje em dia é feito de arracionalidades, pois a maior parte das ações são feitas arracionalmente, quase sempre sem explicação,
ensar(es) como por exemplo a violência doméstica, o tráfico de crianças inocentes, o transporte de armas e muito mais. O sangue espalha-se cada vez mais pelo mundo. A insegurança das ruas parece crescer a cada momento e as pessoas sentem-se desamparadas, pensando nos riscos de assaltos, sequestros e agressividade que os meios de comunicação mostram ao mundo inteiro a todo o momento. Se ligarmos o rádio ou a televisão, só ouvimos notícias trágicas: de guerras, de mortes, de coisas horríveis que, por vezes, nós nem sequer conseguíamos imaginar. Nenhum de nós tem poder suficiente para conter as pessoas que violam as leis ou para resolver os problemas que favorecem a criminalidade, mas pelo menos podemos controlar os nossos própri-
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os atos de violência quotidiana. Se a violência está cada vez mais presente no mundo de hoje, deve-se ao próprio homem. Só assistimos a violência, a conflitos armados entre homens de culturas ou raças diferentes e, consequentemente, só conseguimos ver mortes. Atos de violência, em qualquer das suas formas, desde violência coletiva, como é o caso da guerra, dos atentados, das violações de direitos, etc., até à violência individualizada, como são os assaltos, a tortura, os estupros, podem ser comparados a uma espécie de cancro da alma. Um mundo melhor precisa de medidas amplas, que possam resolver grandes problemas, mas também necessita de pequenos atos de paz, que devem partir de todos nós.
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Consumismo Margarida Marques . Aluna do 10º A
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Pensamos que têm existido excessos, não se planeou o futuro, e grande parte das pessoas entrou num processo de rutura financeira.
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m dos temas mais abordados na atualidade é, sem dúvida, o consumismo que, de há alguns anos a esta parte, vem moldando a vida de grande parte das pessoas. Em abono da verdade, todos têm o direito a procurar melhorar as suas condições de vida, tanto em conforto como em educação, lazer, saúde, entre outras dimensões da vida social. No entanto, pensamos que têm existido excessos, não se planeou o futuro, e grande parte das pessoas entrou num processo de rutura financeira, na medida em que se sobreendividaram. Houve anos de grande abundância, recorreu-se em excesso ao crédito bancário para as mais diversas situações: compra de casa, carro, equipamentos domésticos, viagens e até férias. No meu ponto de vista a crise atual deve-se ao exagerado consumismo. Houve alguma ganância, ambição descontrolada, que levou a casos extremos como, por vezes, o de certas famílias não
terem recursos financeiros para se sustentarem. Infelizmente, os meios de comunicação social relatam-nos histórias tristes e dramáticas que servem para nos alertar que não devemos gastar mais do que aquilo que possuímos. Esta é a realidade de muitos países, pelo que, é necessário sensibilizar e consciencializar os cidadãos para uma gestão mais equilibrada e sustentada dos seus recursos económicos.
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O barco de papel Bruno Marques . Aluno do 10º B
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Num mundo em que a luz só brilha na sombra dos sortudos, ela foi feliz, viu tudo à sua volta morrer mas permaneceu viva.
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omecei a minha viagem há já algum tempo num defeituoso barco de papel ensopado que tão brevemente tocou o oceano mas que prontamente insiste em mergulhar. Não existe oportunidade de voltar atrás, não há maneira de o conduzir ou parar. Apenas segue as intenções das correntes e elas o guiam de ilha em ilha pela vasta imensidão do oceano. Numa destas viagens o meu desfeito barco de papel trouxe-me a uma ilha, literalmente. Nela conheci a história de uma mulher que vivera toda a sua vida nessa mesma ilha. Como será a história de alguém cujo cenário nunca muda? Teria o seu pequeno barco de papel esperado silenciosamente no mesmo lugar toda a sua curta vida? Não teriam as correntes do oceano afetado a vida desta mulher? Observando a margem Sul da ilha curva-se perante a sua bengala que ao longo dos anos e com o demorado toque da humidade vai imitando a
curvatura da coluna cansada de sua portadora. Observa o mar na sua luta constante com a terra e escuta como os rugidos desse longo conflito ecoam pelas paredes rugosas da falésia, infiltrando-se aqui e ali nas saliências abertas na pedra pelo tempo, beijadas pelo musgo que nelas se deposita. Observa o movimento da vegetação, como se inclina e verga impotente perante o vento, no topo da falésia; observa como os cães correm livremente pelas areias; nota como tão
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suavemente o mar humedece a margem, criando linhas onduladas que decidem onde a terra acaba e o vazio começa. Mais acima um verde escuro e sujo começa a manchar a paisagem; a vegetação rasteira composta por ervas na sua mais simples forma ocupa grande parte da ilha. No entanto ao longe consegue avistar campos de hidrângeas cultivados há gerações e que mesmo muito depois da morte dos seus progenitores continuam a florir na Primavera como que homenageando aqueles que com o seu suor as plantaram. Sempre achou idiota plantar algo apenas porque traria beleza à sua vida, mas com o peso da idade e a escassez do belo, à medida que via as suas mãos outrora suaves e belas transformarem-se num corpo caloso e deformado, via a sua pele que em tempos brilhava ser queimada pelo tempo, apercebeu-se da ingenuidade da época em que tudo no mundo lhe parecia belo, pois ver as hidrângeas florescer nos jardins abandonados sentados à porta de casas em tempos cheias de vida concedia-lhe um sentimento dissaboroso, deixandoa indecisa entre a revolta e a felicidade. Como era triste ver que tudo o que restava daqueles que lá habitaram eram algumas paredes quebradas e objetos deixados à pressa para trás como se os caseiros tivessem abandonado a casa num sobressalto! O que acontecera aos que tão bem conhecia? Aos que dantes foram bons amigos? Nada mais do que uma mancha irreconhecível da sua antiga existência... E como era emotivo ver vida florescer em lugares que nada mais lhe traziam ao pensamento do que tristeza, ver o ciclo repetitivo da natureza que insistia em lembrar que não existe fuga à morte, nem à pobre flora que brevemente padeceria, deixando os despojos da memória onde a vida noutro tempo reinou. Seria das suas retinas cansadas mas as cores já não eram as mesmas. Por que razão tudo lhe parecia tão escuro, a cor do céu que já há algum tempo se enchia de nuvens, na sua frágil memória esforçava-se para trazer de volta aqueles dias em que o Sol brilhava incessantemente sobre a ilha, a maneira como tudo parecia mais alegre. Desde que Dinis tinha morrido que o mundo parecera apagar-se.
Agarra com força a sua bengala e, passando os dedos sobre as fissuras da mesma, lembra-se do dia em que os dois cortaram a grande árvore na qual se beijaram pela primeira vez. Desde muito novos se haviam conhecido, sempre foram companheiros, ele, um ano mais velho do que ela. Nunca conheceram mais ninguém senão eles mesmos. Naquela curiosa idade em que se percebe que passando tanto tempo junto de outro ser humano a vontade de algo mais excede tudo o resto, lembra-se como ambos, no seu passeio habitual, fizeram um pequeno desvio, parando no grande carvalho cujas folhas faziam sombra bem-vinda num dia tão quente como aquele. Quando somos miúdos não importa realmente a quem damos a mão, a quem nos abraçamos, o que dizemos ser amor ou de quem dizemos gostar. E assim foi durante muito tempo com ambos. Até que, chegando a uma idade, deixaram de passear de mão dada, pois começara a ser algo desapropriado. Nunca esse assunto voltara a ser tocado, até porque, em tempos diferentes, amor não era tópico do dia. A vontade de o fazer estava presente, pelo menos nela. No entanto era tão impensável alguma vez referi-lo que foi com grande surpresa que Dinis lhe agarrou a mão muito violentamente. A mão de Dinis era muito maior do que a dela e algo áspera, pois ele tratava de grande parte do trabalho em casa dos seus pais, mas nunca Anabela tivera esta sensação de algo ser tão desesperadamente adequado. E foi mesmo ali debaixo daquele carvalho, que por doença foi cortado, que, apesar da sua madeira doente e poluída, Dinis decidiu esculpir a bengala que Anabela tráz tão perto de si. Tiveram dois filhos; ambos deixaram a ilha muito cedo. A escola fechou por falta de alunos e a ilha começou a morrer. Os mais velhos morriam e os mais novos iam para novos lugares. A ilha rapidamente se tornou num lugar sombrio e vazio, lugares recheados de atividade eram agora locais de repouso onde jaziam objetos que pertenceram aos habitantes da ilha Dinis e Anabela foram os dois últimos habitantes desta ilha. Aqui viveram e aqui morreram. Pelo menos Dinis. Anabela contemplava hoje, queimando o pouco tempo que lhe resta, o mundo que sempre esteve
ensar(es) ali à sua volta mas que tantas vezes era ignorado devido à agitação do quotidiano. Era uma bênção ver nascer o Sol todos os dias. Com uma certa esperança desejava que fosse o seu último, sozinha naquele local remoto. Sabia ler e escrever, mas não o suficiente para o mundo lá fora. Perdera o contacto com os filhos e, como um náufrago, estava ali presa. Uma vez disse a Dinis que só estaria presa, caso desejasse estar noutro local. E a sua vontade era permanecer ali mesmo. O amor que em tempos tão forte foi por Dinis, com o passar do tempo, e talvez devido à idade, foi transformado numa parceria, numa cooperação, num comensalismo tímido... Agora ostentava-se contra o vento, sentindo o sabor da maresia que por vezes, salpicando-lhe o rosto, escorria pelas linhas profundas da sua rugosa face. Anabela fora dobrada pela difícil vida, lançada livremente pelas ondas de um oceano de pedra que magoa e marca. Tudo aquilo que parecera importar desvanece-se diante dela, diante de nós, nada fica igual, tudo muda. Ela fora realmente feliz. Tudo o que importara, quando importou, ela o teve e tudo o que não teve não importou. No seu barco de papel naufragado naquela ilha perdida, voou até à Lua e conheceu os sete mares. Não tentou conduzir o barco, nem se deixou levar pela corrente. Num mundo em que a luz só brilha na sombra dos sortudos, ela foi feliz, viu tudo à sua volta morrer mas permaneceu viva. Jurou fidelidade a quem amou e luto aos que perdeu. Viu espelhado nos seus olhos fracos a indiferença da natureza, na vegetação florida que, irreverente e alheia a nós, vive e morre.Falta pouco para que a Lua troque de lugar com o Sol, que a luz se troque por nada mais do que um reflexo do que há tão pouco tempo fora. É triste ser velho. A idade arrasta consigo tudo o que em tempos passados fomos, sentimos ou desejámos. Na aleatoriedade das adjacências, no caos do universo, todos procuram o seu pequeno fragmento de felicidade, mas todos têm medo do grande vazio do mesmo. Anabela teve tudo o que quis. Então porque sente este vazio em si, se nunca o ousou tocar? Convencida que um dia alguém contaria a história do que havia decorrido naquela ilha,
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ou que alguma mente confusa forjasse um belo romance sobre a mesma, decidiu agarrar nas velas e tomar o controlo, dando um passo em direção ao oceano. Sentindo a água a envolvê-la, num silencioso sufoco sustém a respiração. À medida que o seu corpo desenha linhas de vapor pelos céus, as suas roupas agitando-se em queda livre, os nossos caminhos cruzam-se e será pela tinta que rapidamente se infiltra nas folhas brancas de papel que ficaremos ligados. O vento sopra os campos de ervas, que se agitam ao seu comando, as nuvens continuam a seguir rumo a Norte, os esqueletos de civilização que lá vivera continuarão no seu lugar, e um corpo ficará à deriva no oceano. O meu barco de papel desfaz-se, novamente me afundo, mas nessa grande imensidão de água sei que flutua um pequeno barco de papel sem passageiro e é com esperança que no vasto oceano o encontrarei que vos conto esta história.
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O que ainda nos pode dar a escola e a educação? Manuel Ferreira . Professor de Filosofia
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A prática de um professor deve assentar numa consciência reflexiva e numa prática dialógica anti-autoritária, em que se valorize a dissensão, o conflito de ideias, como forma de chegar a um diálogo verdadeiro.
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com alguma regularidade que reflicto sobre questões de política educativa. Trata-se da necessidade de reflectir teoricamente sobre a minha prática profissional, de ainda acreditar na educação como uma possibilidade de libertação e de recusar uma ideologia fatalista, que apregoa o imobilismo, a passividade, o pessimismo e o fatalismo. Talvez já não com a perseverança de outros tempos, porém ainda recuso desistir do sonho e da utopia. É neste encadeamento que têm sentido as palavras de Paulo Freire, quando afirma que muita coisa considerada óbvia precisa de ser realçada. E o primeiro aspecto óbvio e que deve ser realçado diz respeito ao posicionamento do professor face à sua actividade. É com alguma amargura que vemos o professor, tipo cata-vento, perdido e
ensar(es) a aderir a mensagens contraditórias sem assumir um rumo. Ser professor envolve convicções, entrega, a tomada de posição, o assumir de valores e de concepções do mundo. Deste modo, o professor só se valoriza se deixar de ser um executor e um funcionário para passar a ser um criador e um intelectual. Um outro aspecto que temos de relevar é a luta contra a “educação bancária”, que visa a domesticação, o dirigismo, a reificação, a prescrição, a decretação e a manipulação dos outros. Ora, a educação não é convencer, incutir, não é um tipo de catequese militar ou um sistema operativo de formatação em que se põe e se retira uma ‘pendrive’. Deste modo, devemos insurgir-nos contra uma agenda adaptativa da educação e defender uma agenda libertadora, transformista, problematizadora e crítica. Devemos ainda lembrar como óbvio que a prática de um professor deve assentar numa consciência reflexiva e numa prática dialógica anti-autoritária, em que se valorize a dissensão, o conflito de ideias, como forma de chegar a um diálogo
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verdadeiro. Contudo, não se pode ser ingénuo e acreditar que a Escola, a Educação e os professores podem tudo, isto é, que só por si são capazes de transformar-se e mudar a sociedade e a realidade. Mudar a Escola ainda dominada pelo poder central e burocraticamente estruturada, com professores e um currículo não autónomos, não é possível somente com uma pedagogia da autonomia. A mudança não é uma questão individual, mas um problema estrutural, que envolve a inclusão e a intervenção essencialmente do poder central. A Escola é boa a reproduzir, mas tem dimensões potencialmente democráticas, que podem ser aproveitadas para impulsionar a obtenção de mais autonomia e mais participação. Para o efeito, temos de ser um pouco loucos, ousados e corajosos e, com a nossa esperança e entusiasmo, contaminar os outros de modo a convocá-los para a nossa discordância e para a assumpção de uma cidadania organizacional, que se preocupe com o que de óbvio há para realçar.
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A minha caixinha Tenho uma caixinha cheia De coisas que ninguém sabe. O meu coração planeia Mantê-la fechada à chave. Espero que alguém mereça, Por me conhecer tão bem! Que insista e não se esqueça De vê –la e amá-la também. Essa caixa é o meu mundo. As pessoas são os doces, No seu saber mais profundo. Se a caixa ficar vazia, Eu vou guardar o sabor e enchê-la de fantasia! José Guedes . Aluno do 7º B
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Escolhas Diana Costa . Aluna do 12º A
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Nunca chames destino às decisões que tu tomas.
“A vida é definida por oportunidades, mesmo aquelas que não aproveitamos”
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Estranho Caso de Benjamim Button
ão faças planos! Não prometas coisas que não dependam apenas de ti! Não faças previsões de um futuro que pode ser alterado a cada momento através de qualquer gesto ou caminho que optes por seguir. A vida é uma sequência de desvios, decisões e pequenos feitos que, apesar de nada terem a ver com nenhum caso concreto, influenciam todos os teus atos ou possíveis destinos. Talvez devas chamar destino a tudo o que acontece no teu dia-a-dia, pois cada passo, cada acontecimento, cada sucesso surge devido a uma sequência de atos, decisões, momentos, que talvez nunca associes e de que nunca percebas o significado que têm na tua vida. Mas nunca chames destino às decisões que tu tomas. Senão imagina: acordas tarde para a escola, vestes-te, tomas o pequeno-almoço, lavas os den-
tes e, quando olhas para o relógio, faltam cinco minutos para as aulas. Sais de casa com pressa e, quando já estás no elevador, percebes que te esqueceste do casaco e voltas atrás, o que te leva assim a chegares atrasado à aula. No dia anterior tinhas estado a estudar até tarde e, antes de ires dormir, ainda falaste com aquela pessoa a quem não poderias deixar de desejar uma boa noite. Agora reflete: se tivesses estudado antes (ou até mesmo menos tempos), se não tivesses desejado boa noite àquela pessoa, se tivesses acordado mais cedo, ou até mesmo se não tivesses esquecido o casaco, não terias chegado atrasado. Mas se pudesses voltar atrás, alterando ou não um dos acontecimentos, nada te garante que os acontecimentos seguintes sucedessem da forma esperada. É como uma enorme teia em que, no início escolhes um dos fios de entre uma quantidade imensa. Cada fio que escolheres de seguida dependerá do anterior. Tu próprio teces a tua teia, o teu caminho. Cada fio é uma possibilidade de entre uma infinidade de pequenos “destinos” que nem sempre dependem de ti, mas que irão influenciar cada uma das pequenas conquistas do teu futuro.
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Boxe. José Artur Matos . Professor de Artes Visuais
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Começo a perder o tino de tanto soco em falso, de tantas dores no pulso das coisas.
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cabei de fumar três cigarros e isto diz muito acerca de mim. Ouço a Lacrimosa de Mozart e soqueio um saco cinza de alvos inscritos na pele. Vejo no meu ritmo o contrabalanço necessário entre o estar ou não estar a soquear, entre a presença e a ausência possível. Rememoro fragmentos do dia que passou, do arco-íris espectral dos deuses em que genuinamente não acredito, da veemente contestação do que as religiões têm feito de nós, nós humanos passados 2000 anos. 20 Séculos perdidos e eu sempre a olhar o rio que corre eterno, e eu sempre a olhar para mim e para os meus escassos 40 anos de vida, os meus escassos 70 de expetativa. Rememoro o sonho que tive e o doce suor ao fundo das costas de uma beleza que talvez não exista. Do toque suave no verde olhar penetrante e comprometido das paixões complexas. E Eu Sempre perdido e sempre sem chão, sempre destruído, sempre louco no meio de tanta imensidão. Sempre ser
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de um género, daqueles que efetivamente querem dar coisas aos outros e sem falsas modéstias do género daqueles que efetivamente se esvaem em sangue, dos que dão o corpo, tantas vezes a alma e outras vezes tudo. Dos que arriscam coisas, dos que se perdem na imensidão de um olhar, dos que gostam de saber tudo. Dos que se preocupam mais com o que nos une do que com o que nos afasta. Dos que amam perdidamente e não receiam ser confessionais. Abro um gancho desvairado sobre o saco em oscilante balanço, em desmedida descompostura. Retiro as luvas para doer e… soqueio sem compaixão. Aqui nos céus em que me construo, nos céus plúmbeos, céus grequianos. Nas nuvens voláteis. Nesses céus que me dão alento e força ou entre videiras em fogoso despertar vou tecendo como a aranha o olhar incerto para a vida e para as coisas em que me vou esgotando como ser vivente, como ser em construção. Tantas dúvidas, tantas incertezas e tanto tempo definitivamente perdido. Tanto nada. Simultaneamente tanto comprometimento irracional com isto tudo. Entre céus e terra descobrir que há muito pouco que eu possa efetivamente fazer por mim, do que gostaria de mudar, do que gostaria de não ser. E depois o desenlace fácil e ridículo de descobrir a minha vontade grande de sobreviver neste intempestivo caráter, nesta desmesurada alteridade. E não estou contente não… estou descontrolado. Começo a perder o tino de tanto soco em falso, de tantas dores no pulso das coisas. Volto-me para a importância do olhar fundo, dos que trocam olhares e toda a química subjacente, da ainda pouco explorada força da comunicação visual, do que parece ainda ser importante. Não, não estou a falar de teoria da comunicação, estou a falar de gente com a capacidade infinita de ver os outros naquele que talvez seja o lugar mais profundo do seu Ser – o olhar. Respiro fundo. Paro… olho com atenção desme-
dida o agora leve oscilar de um saco de boxe, disponível, atraente para o touro enraivecido em que tantas vezes me transformo. Continuo a olhar desconfiado… e dou um soco morno e sem paixão. Mudo de perspetiva e celebro a vinha, os dias, os teus beijos, a tua amizade, a grande dádiva que é existir no meio disto tudo. No meio de tanta complexidade, de tantas opções e desejos, de tantos quereres e de tantos sentires, do milagre que é existir e estarmos vivos. E as birras, os desentendimentos e as intolerâncias várias em que nos entretemos. Olho o saco com infinita compaixão… e desfiro um knockout consciente enquanto sobrevivo embrenhado nas minhas dúvidas e nos assombros ou acasos de cada dia.
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Discriminação João Pinto . Aluno do 10º A
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Qualquer tipo/forma de discriminação é um ato de profundo desrespeito pelo ser humano.
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que é a discriminação? E ser discriminado? A discriminação é um dos grandes problemas da humanidade e da situação em que vivemos. O seu significado parece ser uma questão de fácil resposta, mas muitas das vezes não se sabe bem o que verdadeiramente significa. A discriminação é o ato de considerar que a diferença implica diferentes direitos. O conceito de discriminação pode, por vezes, ser confundido com o conceito de racismo e preconceito, devido ao facto de os seus significados serem bastante parecidos, pois de uma forma breve podemos explicar que o preconceito é uma ideia que temos de algo, e a discriminação é essa mesma ideia posta em prática. Por exemplo, quando não gostamos de uma determinada característica numa pessoa, pode-se denominar de preconceito, mas a partir do momento em que começamos a insultar ou passamos a ter um comportamento impróprio para com a pessoa e a humanidade, já é um ato de pura discriminação.
Existem vários tipos de discriminação, tais como a discriminação direta, a discriminação indireta e a vitimização. A discriminação direta é a mais usual hoje em dia, pois ocorre quando uma pessoa é tratada de forma menos favorável devido à sua raça. Existem também várias formas de discriminar uma pessoa. As mais intensas na sociedade são a discriminação social, a discriminação racial, a discriminação religiosa, a discriminação étnica e a discriminação sexual. Eu acho que qualquer tipo/forma de discriminação é um ato de profundo desrespeito pelo ser humano. Mas se a justiça e as leis fossem mais exigentes, já não haveria nenhum tipo de discriminação, e à medida que vamos avançando ao longo dos anos, vê-se que já existe mais respeito entre os seres humanos. Por exemplo, os EUA estão em extrema evolução e pode-se ver isso olhando para o seu presidente, Barack Obama, de raça negra. Até hoje, poucos ou nenhuns presidentes teriam raça. Concluindo, eu acho que se devia acabar com a discriminação, pois isso é o ato de rebaixar uma pessoa, que passará por momentos de grande sofrimento, fechando-se no seu mundo e, dessa forma, terá bastantes problemas psicológicos. “Se aceito a discriminação é porque algo criminalizado há em mim.”, - finalizo com esta frase que foi dita por Érick Ramos, que demonstra que a discriminação é um crime.
ensar(es) ial EspecLiterário urso
Conc
2º
A PROS o l
3º Cic
Nas vagas do tempo Rafaela Monteiro . Aluna do 7º A
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Quando cheguei pela primeira vez a Lisboa, o choque foi tremendo, pois os campos, o gado e a magia do sossego desapareceram no meio de estradas, carruagens, carroças, um carro ou outro que ia passando (coisa que eu nunca vira), casas altas, ruas paralelas e em pessoas evidenciando-se com grandes roupas de seda e veludo.
Q
Goujoim, 16 de abril de 1912
uerida terra, relembro hoje todos os dias felizes de minha longa vida, nesta aldeia isolada e recheada de paz…
No outono da minha infância, as folhas das tuas árvores enrugadas soltavam-se dos delicados dedos dos ramos e bailavam até ao chão ao sabor do vento, que as conduzia numa dança maravilhosa. No inverno, a neve caía do céu pardacento e
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mergulhava com encanto no chão húmido. Pezinhos de crianças calçados em sinal de pobreza, lá iam ficando marcados ao longo das ruas, para ninguém esquecer e até pensar naqueles que não podiam ter sapatinhos de pele escura. Mas, quando chegava a primavera, a alegria reinava pela aldeia, onde as mulheres com jarros de barro cor de salmão iam buscar água cristalina à velha fonte de pedra. As flores alvacentas e miudinhas começavam a crescer na pontinha dos ramos finos das árvores que, com a chegada da nova estação iam ganhando a bela cor verde, e iam colorindo o velho Goujoim. No verão, o sol doirado iluminava os rostos pálidos das crianças que se deitavam na relva florescente e dava à aldeia cerejas rosadas que matavam a fome àqueles que não tinham pão para comer. Mas o verão acabava, e com ele também as férias grandes partiam. Lá íamos nós, os pequenos carregados com mochilas velhas de tecido castanho, ansiosos por reencontrar os poucos colegas, e com receio de enfrentar a Dona Alberta, muito conhecida como a professora mais severa de Alto Douro e Trás-osMontes ou como a bruxa de Goujoim. Devagarinho, em pontinhas de pés, os alunos iam entrando primeiro pelo grande portão verde da entrada e depois na sala de aula da pequena escola amarela, um a um em filinha indiana, indo-se sentar nas carteiras já gastas pelo tempo, e lá iam cantando a tabuada até à hora do recreio. No pensamento da cada um, o sonho de voar ou navegar pelas ondas do mar, sendo pirata ou capitão de uma das aventuras dos descobrimentos, que a Dona Alberta costumava contar. Quando saíamos da escola pegávamos nas cestinhas de palha amarelada e íamos cantarolando pelas ruas de paralelo incerto afora, até à gigantesca e negra casa dos nobres, onde os empregados se escapuliam pelas traseiras para nos darem pão de centeio com queijo fresco e uma requintada chávena de leite com mel. Mas, os anos iam passando e a aldeia ia continuando sempre na mesma melancolia de sempre, e depressa chegou a hora de irmos trabalhar, uns para os campos e outros para as fábricas das cidades mais próximas.
Eu fiquei a colher ou a semear vegetais e árvores de frutos nos terrenos da Dona Filomena que pagava ao final do mês doze reais e trinta centavos para que eu trabalhasse de sol a sol… No dia em que cumpriu dezassete anos, minha mãe ofereceu-me um bom emprego na alta burguesia de Lisboa. Não tardou muito até eu ter que partir, numa empolgante viagem de comboio até à capital. As vistas eram lindas, observadas da pequenina janela do comboio, mas não havia dúvida que este tinha mudado muito a paisagem. Quando cheguei pela primeira vez a Lisboa, o choque foi tremendo, pois os campos, o gado e a magia do sossego desapareceram no meio de estradas, carruagens, carroças, um carro ou outro que ia passando (coisa que eu nunca vira), casas altas, ruas paralelas e em pessoas evidenciando-se com grandes roupas de seda e veludo. Mas não
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tardou a familiarizar-me com a cidade e o meu novo emprego. Mais tarde, comecei a sentir uma imensa saudade da minha terra e em pouco tempo adoeci gravemente e tive que ser levada de novo para Goujoim. Em poucos dias melhorei, devido a ervas e incensos com que minha dedicada mãe me tratava. Não era de espantar, que houvera perder o emprego estável que tinha em Lisboa, e sem fonte de sustento tive que por mãos à obra e procurar um novo trabalho. Procurei pelos terrenos de cultivo, e muitos outros locais, mas a resposta era sempre a mesma e era sempre a que eu mais temia ouvir… Por isso, com o dinheiro que me havia sobrado, comprei uma máquina de escrever e comecei a inventar belos contos infantis e a publicá-los em livrinhos coloridos para os mais pequenos se deliciarem a lê-los, ou simplesmente a ouvi-los. E assim fui sobrevivendo, bem na vida com antes, mas tudo o que é bom acaba depressa, e assim foi. Minha mãe adoeceu gravemente e ao fim de alguns dias, partiu para o paraíso divino, como ela própria, enquanto viva, acreditara… A tristeza invadiu-me de uma forma chocante, mas sabia que nada podia fazer para a trazer de volta, por isso, continuei a escrever livros para crianças.
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Os anos passavam, passavam, e eu ia envelhecendo, envelhecendo, até que um dia uma carta chegou-me a casa, e trazia para mim uma ótima proposta de emprego numa empresa famosa que publicava jornais diários do Porto, por isso fiz as malas e parti. Aluguei um pequeno apartamento no centro da cidade, onde passei uns dias, e foi nesses dias que encontrei o amor da minha vida com quem vivi no Porto, até ao dia 5 de outubro de 1910, dia de uma grande revolução em que implantaram a República em Portugal, e por isso mudamo-nos para Goujoim, minha terra natal. Mas passados alguns meses de felicidade, meu amor recebeu uma carta, para uma viagem de negócios até aos Estados Unidos, e por esta razão, no princípio de abril apanhou um navio para o Reino Unido, e aí embarcou no grande TITANIC, na 2ª classe.” Alguns dias depois… A um canto da triste casa, uma lágrima se soltou da cara enrugada da velha mulher de cabelos cor de pérola. Depois de relembrar a sua longa vida, pousou no colo o jornal com o relato do acidente do TITANIC, enroscou-se na velha cadeira de madeira que rangia a cada movimento, junto da janelinha da casa de pedra, encostou a cabeça no ombro cansado e descansou, eternamente…
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Sempre Aquela lua que continua a brincar Aquele sol que continua no ar Aquela família feliz Que gostas de abraçar Aquele amor que te faz saltar Aquela amizade que te faz continuar Aqueles momentos que gostas de recordar Mas poucas vezes de desabafar Aquela lágrima que rola Quando este sonho acabar Aquela amiga que sou eu Que é incapaz de te deixar! Catarina Montezinho . Aluna do 7º A
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Sintonia do silêncio Ana Paula Lopes . Professora de Filosofia
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A imagem que os outros devolvem de nós nem sempre corresponde à realidade: há espelhos defeituosos! Sê fiel a ti mesma…
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aquele dia sentamo-nos um ao pé do outro em silêncio. Não era de todo habitual. Tínhamos sempre coisas para dizer, para partilhar. Gostávamos de conversar, de discorrer sobre a vida, sobre os acontecimentos, as notícias do quotidiano. Discordávamos constantemente… Talvez por sermos demasiadamente parecidos. Penso que essa divergência de opiniões perpetuava as conversas, dava-lhes vivacidade, calor, intensidade. Nesse momento senti estranheza, inquietude. Formulei mil perguntas que ficaram por verbalizar. O seu olhar pensativo e a sua respiração pausada pediam silêncio. Ficamos assim calados o tempo suficiente para que a estranheza se tornasse aceitação e a inquietude acalmia. Tendo-se apercebido da minha anterior agitação, pegou-me nas mãos e sorrindo disse: “há circunstâncias na vida em que devemos
conceder-nos o privilégio de permanecer em silêncio. Passamos demasiado tempo mergulhados no ruído. Deixamo-nos cercar de opiniões, palpites, conselhos bem-intencionados. Perdemo-nos de nós mesmos. A imagem que os outros devolvem de nós nem sempre corresponde à realidade: há espelhos defeituosos! Sê fiel a ti mesma… Se tiveres dúvidas pergunta, mas quando necessitares de respostas, ouve a tua consciência. Por isso o silêncio é tão importante: sintoniza-nos, põe-nos em harmonia, deixa-nos escutar o que verdadeiramente é essencial.”. Sinto falta das nossas conversas, das discussões acesas e intermináveis. Sinto falta do seu colo, dos seus abraços, da sua presença em casa. Encontramo-nos nos silêncios que vou concedendo a mim mesma… Ouvir a consciência não é mais que recordar os seus ensinamentos e os princípios pelos quais pautou a minha educação. Hoje também eu acredito que o silêncio nos põe em harmonia e que nos sintoniza… Na sintonia do amor. “O homem mergulha na multidão para afogar o grito do seu próprio silêncio” R. Tagore
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Bullying Cristina Borges . Aluna do 10º A
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O bullying é apenas uma maneira covarde de humilhar pessoas que não tem maneira de se defender.
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erá que esta atividade é legítima? Haverá alguma razão que a justifique? Qual é o prazer que esta fornece aos agressores? Será que os bully’s pensam nas consequências antes dos seus atos? Sempre que me deparo com este tema, um milhão de pensamentos e questões surgem na minha mente. O bullying é uma atividade que tem vindo a aumentar. É um conceito utilizado para descrever atos de violência física e/ou psicológica exercida num grupo de indivíduos ou só num único. Este é realizado por pessoas a quem se denomina de bully’s. Esta é apenas a definição científica para este movimento medonho e egoísta. No entanto, a minha opinião está muito longe do termo geral, pois para mim o bullying é apenas uma maneira covarde de humilhar pessoas que não tem maneira de se defender. Penso que os bully’ s são pessoas com baixa autoestima que, para se sentirem melhor, tem de fazer com que todos os outros se sintam rebaixados.
Sempre fui contra atos de violência, tanto psicológica como física. Provavelmente é a maneira mais simples de resolver os problemas a nosso favor, sem perceber quem está certo e errado, sem ouvir as diferentes opiniões, sem conversa… Acredito que todas as pessoas já tenham sido, de certa forma, atingidas por um colega que troça delas ou se ri, no entanto grande parte desses risos são apenas brincadeiras. Quando essa gargalhada começa a ser constante, aí, acho que é idiota, pois todos nós temos defeitos e não é a sermos mais cruéis a descrever os dos outros que vamos ficar sem eles, pelo contrário, aumentamo-los. As situações que envolvem o bullying, são situações em que a barbaridade de cada um nós é elevada ao limite. Assim, as vitimas desta tamanha barbaridade, são por vezes, induzidas a tomar a decisão errada, a morte. Gostava que todas as pessoas vissem o quanto malévolo é o bullying, todas as consequências que este pode trazer, todas as vidas que pode destruir, toda a felicidade que pode arruinar, todos os sorrisos que pode desvanecer, toda a vida que pode desmoronar. Não consigo perceber como é que o ser humano pode chegar a este ponto, em que, para ser feliz, precisa de destruir a felicidade dos outros.
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A vida, uma breve passagem... Ana Rodrigues . Aluna do 12º E
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Não há quem tenha noção da vida sem sofrimento, sem mágoas, sem angústias, sem desespero.
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vida é definida como sendo o tempo que decorre entre o nascimento e a morte. Certamente que todas as pessoas desejariam que este espaço de tempo fosse o mais longo possível e o mais feliz, por isso é necessário que cada um de nós faça por isso, abraçando a vida. A vida é um turbilhão de sentimentos, necessidades, obstáculos, vivências, emoções, entre outros aspetos. Seria bom que todas as pessoas perseguissem o sentido da vida com determinação, paixão e coragem, pois esta é rica demais para se tornar insignificante e aborrecida. Assim, nenhum de nós deve claudicar face às potencialidades da vida. A prova de que a vida tem valor e sentido ilustra-se através de atos e vivências que nos fazem pensar e logo traduzir o melhor da mesma. Para ser sincera, há momentos na vida de uma pessoa que nos fazem pensar em desistir enão resistir ao sofrimento, acreditando e insistindo
que não há felicidade ou perfeição. Até pode ser verdade, mas nós, como amantes da vida, temos de saber superar as dificuldades, pensar por nós próprios e traduzir isto em atos e momentos que nos permitam ser felizes e construir a perfeição à nossa maneira. Assusta pensar assim. Não há quem tenha noção da vida sem sofrimento, sem mágoas, sem angústias, sem desespero. Sabemos que somos mortais, que a nossa vida tem um fim, que não sabemos quando será, e isso faz-nos ser melhores, faz-nos viver um dia de cada vez, com alegrias e tristezas, procurando satisfazer as nossas necessidades, desejos, crenças, sonhos e objetivos. A vida é assim feita de desafios e barreiras que se podem ultrapassar sem medos e sem receios. Nós fazemos o nosso destino, a nossa vida e imprimimos significado à nossa existência. Neste sentido, não é necessário perder tempo com discussões estéreis, aborrecimentos e desilusões, pois não sabemos como será o dia de amanhã. Devemos viver um dia de cada vez e seguramente que a nossa passagem por este mundo terá mais valor e conteúdo.
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Temporalidade e finitude A. Marcos Tavares . Professor de Filosofia
O que é, pois, o tempo? Se ninguém mo pergunta, sei o que é; mas se quero explicá-lo a quem mo pergunta, não sei (S. Agostinho, Confissões, XI, XIV, 17)
O tempo sempre me pareceu um quebra-cabeças filosófico
A
( J. P. Sartre, L’Être et le Néant)
i o tempo! Diz o livro veterotestamentário do Eclesiastes que há tempo para tudo: tempo para nascer e tempo para morrer; tempo para dar e tempo para receber; tempo para amar… O tempo do relógio, o tempo cronológico, o tempo psicológico, o tempo cósmico. O tempo que nunca mais acaba de uma dor. O tempo que se esvai de um encontro de ternura. Se há tema complexo é o do tempo. Preocupou e preocupa, entre outros, os físicos e os filósofos. De Newton a N. Bohr, a A. Einstein e a Stephen Hawking; dos filósofos gregos (a minha homenagem à coragem grega) a Heidegger e a Sartre, passando por Agostinho, Kant, Bergson e Husserl. A física, um pouco na linha de Aristóteles (que definia o tempo como o número do movimento segundo um antes e um depois: «Tempus est numerus motus secundum prius et posterius»), na pro-
cura da objetividade, associou o tempo ao movimento. Na filosofia foi dominante a insistência na dimensão do existir. Desde a primeira grande controvérsia ontológica entre Heraclito e Parménides que o tempo é ligado aos seres mutáveis. O ser de Heraclito é o ser em devir, mutável: portanto temporal; o ser parmenidiano é o ser uno, imutável, eterno: logo sem tempo.
ensar(es) Para Platão, mais dado a Parménides, “o tempo é a imagem móvel da eternidade”. O tempo que passa é como que uma manifestação de um presença que não passa. Ou, no dizer de Agostinho, «No que é eterno, nada é passado, mas tudo é presente, enquanto nenhum tempo é todo ele presente (Conf., XI, XI, 13). A eternidade não é sinónimo de tempo interminável, indeterminado ou infinito, mas de superação do tempo. O ser eterno está para lá do tempo. É uma presencialidade pura: «para Vós, Senhor, mil anos são como um segundo». O ser eterno é o ser pleno que, absolutamente realizado, transcendeu a dimensão da temporalidade. Kant alarga a dimensão do existir à do conhecer, mostrando que a temporalidade constitutiva do ser humano é também condição das suas possibilidades de conhecer. O tempo e o espaço são estruturas do sujeito, as condições formais a priori da sensibilidade que permitem o enquadramento do fenómeno - o objeto do conhecimento. Por isso, para Kant, conhecer é construir. As análises de Bergson, de Husserl e de Heidegger situaram definitivamente o tempo na dimensão da temporalidade humana, da duração vivida, da consciência do tempo. Tomando como referência esta linha, a filosofia existencialista, de um Camus ou de um Sartre, perspetivam o ser humano como um existir para a morte. Nesta análise, a morte não é propriamente tomada como o fim da vida, mas como o dínamo da própria vida. A morte como acontecimento natural, a partir do qual se desvela o sentido profundo da existência finita humana. Somos verdadeiramente humanos porque somos para a morte. O tempo está indissociavelmente ligado à memória: é a memória que lhe confere substancialidade. Não há tempo sem memória. Por isso, o tempo é, simultaneamente, o nosso grande cúmplice e o nosso mais tenaz adversário. Numa face, é cúmplice e aliado porque cura as nossas mágoas, as nossas desilusões, as nossas feridas mais profundas. É o tempo que nos permite fazer o luto das perdas mais trágicas e mais dolorosas. Na outra face, é adversário porque nos priva, nos separa, do que ou de quem nos é querido; põe fim
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às situações, às vivências, aos encontros felizes e gratificantes, que gostaríamos de eternizar. Talvez seja graças a esta ambivalência que o tempo confere sentido à vida e plenitude à realização do ser humano. A eternidade é estabilidade, é consumação. Nela não há tempo nem memória. Mas, por isso, nela também não há construção, não há progresso. Em contrapartida, o tempo está ligado à finitude. É porque somos finitos que nos vamos realizando no tempo, que vamos traçando a nossa história. Tal como a nossa imaturidade biológica nos permite uma realização progressiva mediante as aprendizagens, nos permite a construção da uma história pessoal irrepetível, assim a morte, como consciência da nossa finitude, nos exige um esforço permanente de busca de sentido para vida. E só uma vida com sentido é verdadeiramente digna. Ai o tempo! Eu sei o que é…se não me perguntarem.
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Espe
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PRO
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Palavras que se ouvem Andreia Cardoso . Aluna do 11º F
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Ei-lo, de olhos colados no luar, compondo as notas da sua composição musical, a mesma que lhe alimenta o espirito e cativa a alma…
A
manhece. O doce nascer do sol arrasta consigo a esperança de inspiração e a capacidade de fazer renascer a melodia dos que sentem e exprimem, dos que, sozinhos, se fazem acompanhados. A noite pertence ao passado, o dia demonstra o presente e o futuro faz-se representar por tempos infinitos frente a cenários limpos que clamam pelo toque de mãos de artista, sopros de imaginação e passos de compreensão. Ei-lo, de olhos colados no luar, compondo as notas da sua composição musical, a mesma que lhe alimenta o espírito e cativa a alma… A melodia que o mundo não está preparado para ouvir, executar ou sentir. A desilusão chega e o pedaço do que já foi vida não passa da pauta imperfeita e confusa que jaz abandonada no canto escuro do coração do maestro falhado.
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o Lit l erár
curs
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ensar(es) Encerrado entre quatro paredes, trava uma luta incessante contra o tempo, esmiuçando cada som, cada nota, visando criar a perfeição unicamente com as suas mãos. Uma gota de suor escorre pela testa, o exercício mental é levado ao limite, a pressão emerge como um obstáculo que impede o avanço no caminho do sucesso. Mais um esforço e o pensamento ilumina-se, qual relâmpago impondo o seu domínio. Cenários que antes eram pautados por tons frios vêem-se preenchidos por uma acolhedora sinfonia digna de Mozart. A música que cativa agora ouvidos atentos de gente inexistente torna-se na história fictícia do músico que queria fazer da sua arte uma sequência de palavras com sentido. A luminosidade do pequeno candeeiro realça o estado do cubículo mínimo atolado de papéis que, de minuto a minuto, foram sendo depositados em solo do imaginário. Não se trata de música que preenche um espaço, que faz mover corpos, que é gravada e cantada… é a mera representação do que é expresso em
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palavras, do que entusiasma quem escreve e enfeitiça quem lê. Escritor não é aquele que ocupa a existência com vagas e insignificantes tarefas, mas sim o que faz da sua construção literária uma harmonia de factos, acontecimentos e personagens… pequenos e grandes intervenientes chamados personagens, que pouco a pouco ganham alma e corpo, amam e sofrem, desaparecendo mais tarde na memória do escritor. Enredos que levam leitores a fazer parte da fantasia, fazendo-os querer intervir na musicalidade de linhas e linhas de história criada. Ter em mãos o sonho de ver brilhar o fruto da sua imaginação permite ao escritor fazer das suas mãos o instrumento que, com simples gestos, desvenda toda a música, sonoridade e melodia que a vida tem para oferecer. O dia chega ao fim e, com ele, o último som daquele que quis e não pôde, do que tentou e não conseguiu, do que sofreu e por fim alcançou. Escrever é sonhar alto, sonhar é ser, ser é realizar, realizar é viver.
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O que é ser feliz? Ser feliz é saber aproveitar a vida ao máximo, É saber aproveitar cada momento como se fosse o último, É concretizar um sonho, É conviver com os amigos e com a família, É sorrir, É saber partilhar, É fazer o que mais gostamos, É contribuir para a felicidade dos outros, É poder estar presente nos momentos mais importantes, É ter carinho e respeito, É reviver o passado, É saber pedir desculpa, É ser honesto, principalmente, com nós mesmos, É tanta coisa que uma folha de papel não chegaria para escrever tudo, É simplesmente dizer: “Eu sou feliz!”.
Maria Sousa . Aluna do 10º C
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Natureza solitária Jéssica Cardoso . Aluna do 12º A
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Deve ser doloroso chegar a velho e saber que estamos sós! Antigamente, o idoso era fonte de sabedoria, mas hoje é desvalorizado.
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muito bom nascer e ver o “mundo” pela primeira vez! É bom ter uma infância e uma adolescência rodeada de amor e carinho, envolvida por aqueles que cuidam de nós, por aqueles que nos garantem proteção. Mas deve ser doloroso chegar a velho e saber que estamos sós! Antigamente, o idoso era fonte de sabedoria, mas hoje é desvalorizado. Atualmente são poucas as famílias que possuem disponibilidade para o acompanhamento do envelhecimento dos seus familiares. As que não possuem, procuram alternativas, como por exemplo lares de idosos ou mesmo hospitais, esquecendo-se deles, chegando a abandoná-los. Na ficha médica ou na inscrição para colocar o idoso num lar, falsificam os dados pessoais para não serem incomodados e para se livrarem de eventuais responsabilidades. Os mais jovens, na minha faixa etária, são os que mais desprezam a população idosa, abandonando-a
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ou desinteressando-se dos seus conhecimentos, não querendo perder tempo a ouvir memórias, experiências ou conselhos que a vida, com o passar dos anos, lhes proporcionou e aperfeiçoou. Os idosos acabam, assim, por ficar de lado, sendo maltratados na maioria das vezes, isolados e desamparados, sofrendo! Enquanto nós estamos nos espaços públicos a conviver com os nossos amigos, eles estão a olhar pela janela à espera de uma companhia. A falta dela deteriora o estado psicológico e emocional do idoso, pelo que a necessidade de ter alguém que o acompanhe é essencial para continuar a viver. Na ausência de alguém que lhe confira amor, carinho e atenção, o idoso começa a sentirse cada vez mais só, podendo entrar num processo de isolamento e de “autismo” social. Tudo isto porque necessita de alguém que trate, converse e brinque consigo, para permanecer ativo. Se o facto de estar sozinho pode produzir estragos numa pessoa que se encontra na chamada “plenitude da vida” então o que poderá acontecer a alguém que já está, provavelmente, no fim da vida? Que crueldade seria! O ditado dita: “o que não serve deita-se fora” – é o que fazem a estes seres humanos ao chegarem a esta fase da vida, em que parecem perder o direito à existência, de contribuir igualmente para a sociedade como as outras pessoas mais novas. É-lhes recusado um posto de trabalho porque, na maneira de ver dos empregadores, o idoso não oferece rentabilidade, nem produção à comunidade, fazendo-o sentirse inútil. Quando se aposentam os idosos, estão limitados a usufruir baixas reformas, as quais são gastas na saúde, restando apenas alguns “tostões” para pagar a quem lhes possa oferecer alguma disponibilidade, atenção e conforto. Acabam, assim, sozinhos, pela natureza da vida, dentro dos seus lares, sem que nunca alguém se lembre que existe ali alguém que, até na sua morte, esteve e ficou só!
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Vides João Rebelo . Professor de Filosofia
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O que dá esta singeleza é a mistura do humano com a terra. A vinha, que é o mais profundo elo humano.
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empre partilhei a noção de que uma Tela em branco é uma janela. Como os antigos pintores da Renascença acredito que cada tela é uma abertura ao mundo. Uma espécie de janela sobre a qual desvendamos o mundo que vamos vendo. O Douro, pouco a pouco, foi-se para mim afirmando. O que mais importa na paisagem não é a natureza, nem o humano, antes é a simbiose que se estabelece entre ambos. Como alguém disse. Se em vez de vinha nos patamares, houvesse pinheiros, a paisagem duriense não era da mesma importância, não era tão peculiar. O que dá esta singeleza é a mistura do humano com a terra. A vinha, que é o mais profundo elo humano. É isto que é único e nos transforma em património. Aos poucos fui percebendo que tinha aqui um manancial inesgotável de assunto para recriar. Sou Ribatejano o que quer dizer fandango, touros, lezíria, um espírito meio andarilho de sentir o mundo e a natureza. Todavia o que trago não é o mesmo do que aqui vivo. Isto é, desde sem-
pre existiu arte ligada à festa brava, mas acerca da vide, do árduo labor humano, nos socalcos e nas encostas, não conheço. Aos poucos foi-se para mim afirmando a necessidade de falar disto, ainda que não por palavras, antes por imagens. Aquilo que faço é pintura etnográfica. Sou auto didata. Não aprendi na Escola aquilo que a vida me ensinou. No caso a técnica pictórica desenvolvi fazendo, mas também compreendendo os motivos do que fazia. Fala o rio, falam as águas Falam as folhas, falam as uvas. Dos rostos escondidos. Dos rostos aparecidos Logo procuro enquadrar esta complicada relação entre o homem e a vinha. Trata-se da região demarcada mais antiga do mundo. E a vide é um mundo. Que o digam as mulheres que nela trabalham. Fui procurar e o que encontrei foram cores, sabores e cheiros. Mas também fé e confiança. Mas também esforço, dor e alegria. Um tempo sempre a renascer. Durante anos fixei cachos, ramos e folhas. Depois, misturo-as no computador com imagens, algumas de pessoas muito queridas. Um pouco como quem faz vinho e lhe assaltam as memórias. O trabalho não finda aqui. Constantemente há que cuidar dele como quem cuida da vinha ao longo de todo o ano e limpa, faz poda, enxofra, colhe e alegra-se (?). Agora é tempo de colheitas. Como será? A Vide é um mundo, desde a seca folha até à lágrima que corre, ou ao riso que desponta. Sem homens a vide não existiria. Sem homens não falaria. E o que importa é como fala. Para contar das amarguras, dos desejos, das esperanças. Este património aqui determinado não pode ser esquecido. Trata-se de uma riqueza singular, peculiar que precisa ser ampliada.
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Preconceito Catarina Pimenta . Aluna do 10º C
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O preconceito incide na rejeição de pessoas que decidem assumir e seguir uma orientação fora do normal.
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preconceito baseia-se em julgar os outros sem quaisquer argumentos para o fazer. É fantasiar uma falsa aparência, subestimando a outra pessoa em algum aspecto. O preconceito pode apresentar três vertentes: social e religioso, racial e sexual. Trata-se de um erro com base irracional e, por isso, não apresenta senso ou fundamentos. É uma atitude discriminatória, hostil e negativa que ofende a pessoa ou o objecto em questão. Quando se inclina para a vertente social ou religiosa, o preconceito consiste num juízo de valor sobre um grupo ou comunidade que tem diferentes costumes ou crenças. O preconceito racial consiste em excluir a outra pessoa porque não pertence à nossa raça e, por tal é posta de parte e considerada inferior. Do ponto de vista sexual, o preconceito incide na rejeição de pessoas que decidem assumir e seguir uma orientação fora do
normal. Na nossa vida iremos ser inúmeras vezes atacados pelo preconceito, olhares tenebrosos que nos enfraquecem e nos encurralam, num jogo de palavras que afectam a nossa dignidade e percepção de bem-estar.
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O vazio dos dias Sara Rodrigues . Aluna do 10º A
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Por isso, devemos levar a vida menos a sério.
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inda que olhando para a vida com objetividade, não estamos preparados para o que possa acontecer. Entre um desejo e um objetivo alcançado e a sua imediata insignificância, entre uma satisfação e um fracasso, o tempo vai avançando e não tomamos perceção do que inconsciente e involuntariamente ocorre. O sol vai sempre pôr-se e levantar-se a cada dia. Corremos para fugir às sombras deixadas por ele, mas ele não deixará de o fazer devido aos nossos motivos e medos. Se o sombrio nos aterroriza, alcançar a luz vai colocar-nos no auge, porém a morte está anunciada, o que nos leva a considerar que afinal corremos sem propósito. Por isso, devemos levar a vida menos a sério. Mesmo que presentes, imagine o fim da dor e da tristeza, da lembrança e da memória. Imagine apenas que a existência em si seria suficiente. É necessário descobrir as cores belas do passado mesmo que perdidas, aproveitando os restos da felicidade deixados para que no presente possamos ser, ainda que não completamente, felizes.
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A PROndSário Secu
Monólogos do passado Helena Ferraz . Aluna do 12º B
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Alice, não era Alice no país das maravilhas, era Alice, simplesmente Alice, olhando a janela do passado e adoçando o coração e alma, contudo agora era momento de voltar ao presente.
«- Eu…eu…estás a ouvir-me menina?» – perguntava ela com cara de zangada, depois suavizava a voz enquanto continuava a contar as suas histórias – «Bem, ouve bem o que te estou a contar, porque recordar é viver e tu podes aprender muito sobre a vida ouvindo falar sobre a minha. Estava eu a lembrar-me de quando vivia em quartos de hotel baratos e passava fome quase todos os dias, porque não tinha dinheiro suficiente para sustentar luxos que eram e são simples bens essenciais. De noite, escrevia numa máquina de escrever, e durante o dia trabalhava nas limpezas do lugar onde ficava ou em qualquer outro sítio que aceitasse os meus serviços.» – Então a velha, fazendo uma pausa, ralhava com a jovem sentada ao lado de sua cama – «Não faças essa cara, menina, e ouve as minhas recordações que são mais preciosas que o teu tempo. – Depois, a velha
continuava a sua história…» - Era quase sempre assim que Alice via sua avó quando a ia visitar, o que fazia quase todos os dias. Estava deveras habituada a ver aquele olhar desfocado no rosto de uma das mulheres que mais amaria no mundo. Alice deixava vaguear os pensamentos enquanto
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conduzia de volta para casa. Pensava em como a sua avó tinha sido, até há bem pouco tempo, uma pessoa cheia de vida e escrevia os seus livros com todo o amor do mundo, porque ela tinha um entusiasmo quase infantil quando começava um novo manuscrito. Sua avó tinha sido uma escritora maravilhosa, antes de tudo acontecer. Tinha começado muito nova, mas escreveu sobre quase tudo, experimentando quase todo os géneros literários – desde livros infantis até romances com enredos complicados e intricados. Todos os livros dela tinham tido algo em comum – enredos e personagens fascinantes, mundos fantásticos para todos que os quisessem ler…Então Alice deu-se conta do rumo dos seus pensamentos e abriu um novo caminho ao longo das recordações de sua avó – a mulher fantástica que ela era, e eram essas memórias que lhe magoavam tanto recordar e celebrar, não o fazia por egoísmo, ou talvez sim, por ainda não conseguir suportar a dor de comparar a mulher do agora com a mulher do antes. Mas tinha a noção de que, para manter a sua sanidade, também era necessário mergulhar nas suas memórias mais pessoais… Lembrava-se de como sua avó era uma mulher maravilhosa, de como o amor dos seus avós resplandecia e aquecia quando estavam um junto do outro, de como a sua mãe e os seus tios amavam os pais e eles eram o refúgio para eles, e de como ela e seus irmãos e primos adoravam os avós… As memórias eram agridoces. Além de sua avó magnífica, também havia o seu avô magnífico, eram ambos magníficos… Alice, não era Alice no país das maravilhas, era Alice, simplesmente Alice, olhando a janela do passado e adoçando o coração e alma, contudo agora era momento de voltar ao presente. Sua avó nunca mais havia sido a mesma desde que seu avô falecera cinco anos atrás. Tentou e foi apoiada para conseguir manter a sua vida num ritmo normal, mas isso às vezes parecia impossível – sua avó já não era ela mesma. Sem o amor de sua vida tornou-se a casca da mulher que era, e acabou por se perder…Há um ano tudo se desmoronou completamente quando foi jantar com ela com intuito de a alegrar, mostrandolhe que havia encontrado o mesmo tipo de amor
que ela havia encontrado quarenta e cinco anos atrás. Mas ela contou ao jantar a mesma história que lhe havia contado nesse mesmo dia deitada na sua cama, e como lhe tem contado dia após dia… Não passava de uma história, aquela não era a história de sua vida, era a história de uma de suas personagens criada no início da sua carreira quando conheceu o avô… Sua avó perdeu-se, apesar de às vezes serem captados vislumbres dela, da mulher que era. Sua avó era uma casca do que tinha sido, perdida no mundo da fantasia, sem encontrar o caminho de volta para a realidade.
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Verdadeiro amigo Samuel Pereira . Aluno do 10º C
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Só são verdadeiramente amigos aqueles que nos acompanham nas dificuldades e nos ajudam a erguer.
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ivemos num mundo onde todos pensamos que somos autossuficientes, que não precisamos de ninguém para viver, mas isso não é completamente verdade. Quando pensamos que não, mais rapidamente necessitamos de ter alguém a nosso lado. Faz-nos sempre falta um outro, seja para partilhar emoções positivas ou negativas. Amigo é aquele que não se importa com os comportamentos menos razoáveis que executamos, é aquele que nos acompanha na dor quando estamos tristes e que sorri connosco quando experimentamos momentos de felicidade. O que realmente importa é ter alguém ao nosso lado. Só são verdadeiramente amigos aqueles que nos acompanham nas dificuldades e nos ajudam a erguer. Amigo não deve magoar mas incentivar, não deve criticar mas apoiar, não deve ofender mas compreender, não deve humilhar mas defender e, por fim, não deve julgar mas aceitar. Isto, sim, será um amigo. É a sinceridade que faz amigos e
não a falsidade. Já a minha mãe dizia: “eu, para lidar comigo, uso a cabeça, mas para lidar com os outros uso o coração”. Por mais que um amigo erre, o outro se for autêntico e solidário, tem o dever de lhe perdoar, de lhe dizer o que o magoou para que não volte a praticar o mesmo erro. Só assim se veem os verdadeiros amigos e se vivencia a experiência íntima da amizade.
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POE SIA
Secu
ndá
Dom de ser Eu sou, fui e serei… E o meu ser foi algo que lembrei, Da mesma forma que o teu ser Jamais poderei esquecer. Se nunca tivesses sido, O meu ser tinhas convencido A não ser como ele é! Na montanha sem sopé, Que se tornou ser como sou, Onde és e estás onde estou… Mas se és, então que sejas, Sê, onde quer que estejas, Mesmo que não seja onde queres ser. Enquanto és, há-de acontecer. Pois se a vida quis que fosses, então Seremos, tal como todos serão. Logo que sejas e não te impeças, Não te partas e fiques em peças, Tudo será como suceder Pois eu sou e tenho o dom de ser. Andreia Cardoso . Aluna do 11º F
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o Lit l erár
curs
rio
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Medo Beatriz Xavier . Aluna do 10º A
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Quem tem medo não é cobarde, tem é algo importante que não quer perder.
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ão tenho medo de amar nem de ser amada, porque é o amor que faz de nós quem somos, é o amor que dá o rumo à nossa vida. Não tenho medo de ser feliz nem de fazer os outros felizes, porque vida sem felicidade não é vida. Não tenho medo de conhecer pessoas, porque é com elas que dou sentido à minha existência. Não tenho medo de arriscar, mesmo que um dia me venha a arrepender, porque vale mais arrepender-me do que fiz do que do que não fiz. Não tenho medo de sonhar e de lutar pelos meus sonhos, porque é a lutar por aquilo que queremos que vemos o verdadeiro valor. Não tenho medo de fracassar, porque é a fracassar que sei que lutei, que fiz tudo o que podia e tudo o que não podia. Por isso quando te perguntam: tens medo? A resposta é instintiva: leva-nos sempre a dizer não. Porquê? Porque é mais fácil? Na verdade, não acredito nisso, porque tanto a palavra Sim como a palavra Não são compostas por apenas três letras. É
o sentido que dão a cada uma das palavras que as torna diferentes. Todos temos medos. Temos medo disto ou daquilo, mas é mais fácil dizermos que não, porque, para muitos, o medo é visto como fraqueza, significa mostrar parte fraca, logo, como não querem ser vistos como cobardes, optam por dizer que não o têm. Para mim, quem tem medo não é cobarde, tem é algo importante que não quer perder. Por isso, eu não tenho medo de dizer que, na verdade tenho Medo. Não tenho medo de amar, tenho medo de perder quem amo. Não tenho medo de fazer os outros felizes, tenho medo de que eles me façam infeliz. Não tenho medo de conhecer pessoas, tenho medo de um dia não ter ninguém. Não tenho medo de sonhar, tenho medo é de não conseguir realizar os meus sonhos. Não tenho medo do escuro, tenho é medo do que a escuridão pode significar.
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Voltar a ler os clássicos Paulo Pereira Guedes . Professor de Português
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Foi o Latim o «antepassado» do Português. Assim, resulta daqui claramente a noção de que o estudo da língua latina é fundamental para a compreensão e a aplicação correcta da língua portuguesa.
U
m jovem de quinze anos, António Gil Cucu, da Escola Secundária Rodrigues de Freitas, no Porto, tornouse neste ano o melhor estudante de Latim do mundo, num concurso que, em Venosa, Itália, terra natal do poeta latino Horácio, envolveu jovens de dez países. Pela primeira vez, um aluno de Portugal venceu o Certamen Horatianum, um título que, segundo os seus docentes, “é muito valorizado nos outros países”, que promovem concursos nacionais para escolher os melhores alunos, sem medo de teorias da igualdade ou outras teorias politicamente correctas que só prejudicam os jovens e o país. Poderia esta notícia, bem como as palavras dos seus professores e as do próprio jovem, em entrevistas que deu, alertar para a necessidade de se repensar o ensino das línguas clássicas em Portugal, hoje
ensar(es) tão abandonado. É que, segundo os docentes do jovem vencedor, o estudo das línguas clássicas é auxiliar preciosíssimo ao nível do desempenho da língua materna e ainda ao nível cultural. Por isso é que os países mais ricos estudam os clássicos, segundo informa Cláudia Cravo, professora da Universidade de Coimbra, dizendo que o referido concurso costuma ser ganho por alemães e austríacos, que aprendem o Latim desde muito pequenos. Há um livro de Roger-Pol Droit, Voltar a Ler os Clássicos, que, considerando-se um périplo instrutivo que contraria o abandono do ensino das humanidades na sociedade actual, passeia pela Antiguidade, seguindo um itinerário subjectivo e livre de qualquer constrangimento, procurando junto dos Antigos as regras de vida e de pensamento que nos fazem falta. Seria este um bom livro para as Bibliotecas do nosso Agrupamento adquirirem. É que a nossa língua provém do Latim, sendo herança de um processo evolutivo muito lento que deu origem ao grupo das chamadas línguas românicas ou novilatinas, sendo hoje um dado assente e incontroverso que a língua portuguesa não passa da transformação lenta e progressiva da língua latina que, por sua vez, surgiu da transformação de outra, o indo-europeu, cujos falantes ainda não se conseguiu situar no tempo e no espaço. O indo-europeu viria a dar origem a muitos dialectos, como o germânico, o itálico (latim e osco-úmbrico), o báltico, o eslavo, o celta, o albanês, o grego, o indo-irânico e o arménio, sendo que as línguas faladas actualmente na Europa, à excepção do turco e do basco, provêm dos sete primeiros. De entre aqueles dialectos, que evoluiram depois para línguas independentes, sobressai a língua latina, pelo seu destino notável, uma vez que se expandiu para o Sul e Centro da Europa e, até, para o Norte de África, acompanhando a expansão do Império Romano. Os principais divulgadores do latim foram as pessoas de baixa condição social e cultural, como os soldados e os mercadores, que falavam um latim popular, não muito diferente da língua dos escritores mas, ainda assim, com uma organização morfo-sintáctica bastante diversa
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da língua escrita, algo que acontece ainda hoje nas línguas modernas. Por exemplo, enquanto os escritores se referiam a «cavalo» como «equus», o povo dizia «caballus». Na Península Ibérica, o contacto do latim vulgar com a língua dos povos autóctones (os substratos) levou a uma diferenciação e ao surgimento do galaico-português, de que resultaria a língua que hoje falamos. Neste sentido, foi o Latim o «antepassado» do Português. Assim, resulta daqui claramente a noção de que o estudo da língua latina é fundamental para a compreensão e a aplicação correcta da língua portuguesa. Desenvolve no estudante metodologias de trabalho assentes na disciplina mental, muito necessária noutras áreas como a matemática, e leva-o a compreender o significado das palavras portuguesas através do estudo dos étimos latinos e da sua evolução fonética e semântica. Tendo em conta o que se disse, o estudo dos clássicos poderia contribuir para a melhoria da fala e da escrita, numa época em que os gadgets electrónicos, associados à cultura do imediato, à recusa da exigência e do estudo das línguas clássicas e do próprio acto da leitura, substituídos no nosso tempo pela avidez da televisão, do computador e do telemóvel, que embora necessários, alienam o homem e o embrutecem, contribuem para uma sociedade que, embora plena de ‘amigos’ nas redes sociais, está muito longe de promover a verdadeira amizade e solidariedade.
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Felicidade Ana Silva . Aluna do 12º A
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A felicidade é toda uma mistura de sensações que, por mais simples que sejam, fazem com que nos sintamos melhor com o mundo.
U
m sorriso espontâneo, um brilho no olhar ou uma gargalhada sonora… A felicidade é toda uma mistura de sensações que, por mais simples que sejam, fazem com que nos sintamos melhor com o mundo, com quem nos rodeia e connosco próprios. Infelizmente, momentos que apelidamos de felizes não duram para sempre. Não sabemos quando estes começam e muito menos quando vão acabar. Mas então se a felicidade é tão efémera como o desabrochar de uma flor, porquê este desejo tão intenso de alcança-la? Se de um momento para o outro ela nos pode fugir entre os dedos, porque é que às vezes batalhamos tanto? A resposta é simples. Somos seres humanos. Fomos dotados da capacidade de amar, de sofrer, de chorar e de sorrir. Já que estamos neste mundo sem que a nossa von-
tade tenha sido tomada em conta, já que temos de percorrer este caminho, ao menos fazemos com que este não seja tumultuoso, mas sim sereno e recheado de boas e agradáveis experiências. Tem sido assim ao longo da história, sempre que o homem se preocupa por fazer novas conquistas e descobertas. Outro motivo que justifica esta procura é a nossa memória. Recordar tudo o que já vivemos, e em especial, os momentos em que fomos felizes faznos querer voltar a sentir o que sentimos naquela altura. Por exemplo, se alguém vivenciou um momento de enorme felicidade, ao recordar-se dele, vai também lembrar todas as alegrias, os sorrisos e as expressões de felicidade. Mesmo sabendo que esta sensação é efémera, vai querer senti-la de novo. Assim, continuaremos nesta cruzada sem fim à vista, ansiando sempre pela obtenção de novas felicidades. Porque se temos de viver, ao menos que sejamos felizes. Não importa que tal estado não dure para sempre.
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Mais vale um murro de verdade... do que um abraço de falsidade! Severina Rodrigues . Aluna do 10º C
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Os abraços de falsidade são tantos que os lusitanos estão cada vez mais desconfiados.
É
engraçado como o Homem reage a determinadas adversidades com que se vai deparando ao longo de todo este percurso que é a vida. Um caminho longo, tortuoso, que nos vai colocando pedras, que independentemente do seu tamanho, causanos transtornos, dificuldades e obriga-nos a sair da nossa zona de conforto. Essas pedras ora são colocadas pelo destino, ora são postas pela sociedade que nos rodeia. Muitas vezes o destino apresenta-nos doenças, a nós e/ou aos nossos familiares e amigos, que são situações que não dependem de nós. É o chamado “karma”, como dizem os mais antigos: “cada um nasce com o seu destino!”. Por outro lado, existem obstáculos que nos são impostos pela sociedade. Por exemplo, os nossos estimados governantes cada vez mais nos “apertam o cinto” e nos deixam de tal forma presos que nos sentimos uns autênticos pássaros enjaulados. E TUDO ISTO PORQUÊ? Porque não estamos preparados para o que o futuro nos reserva,
já que não nos dizem a verdade. Preferem não nos dar o tal murro de verdade, para não nos magoarem e, por consequência, também não perdem o voto. Estes últimos anos temos assistido a eleições em que tudo vale. Os partidos eleitorais apresentam propostas e objectivos muito generalizados e pouco particularizados. É o chamado abraço de falsidade, que tem uma dupla finalidade: a de agradar a todos e, desta forma, serem premiados com honra de serem governantes deste país, que muito precisa de motivação. Os abraços de falsidade são tantos que os lusitanos estão cada vez mais desconfiados, e nada trazem de bom para o país, uma vez que o que mais precisamos nesta época de austeridade é motivação, união e cooperação, pois só com o trabalho de todos é que Portugal pode avançar e, assim, voltar a ter o prestígio de outros tempos, das conquistas outrora feitas e que tanto orgulho nos dão. Contudo, os abraços de falsidade têm de parar. Aceitamos os murros de verdade. Não nos deixemos surpreender, não nos deixemos levar na onda de “vida fácil”, “futuro otimista”, sem trabalho. ESQUEÇAMOS ISSO! Chega de abraços fáceis, sejamos mais adultos na nossa vida, pois no nosso dia-a-dia são necessários murros de verdade, porque estes doem na hora, mas esta dor passa. A falsidade não!
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P
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RO 3º C SA iclo
Já a minha Avó dizia: “Sonhos cor-de-rosa” Clara Pinto . Aluna do 8º 2
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Os alunos não são nenhuns robots com memória fotográfica que capta todos os conteúdos de todas as matérias!
T
udo começou numa sala de aula. Estava em fins de Fevereiro, numa aula de Matemática, a fazer revisões para o teste intermédio, a realizar-se no dia 29 de Fevereiro. Mas que desagradável! São muitas as definições, teoremas, equações, isometrias, estatística, sequências e regularidades, etc. Os alunos não são nenhuns robots com memória fotográfica que capta todos os conteúdos de todas as matérias! Enfim.. distraí-me e comecei a imaginar uma viagem fantástica! De repente, as secretárias adquiriram a forma de pequenos barcos que transportavam pessoas, mapas (que eram os cadernos e livros), bússolas, quadrantes, balestilhas, entre outros, que representavam o material escolar. Do outro lado da sala, encontrava-se uma grande nau com canhões que apontavam para as pobres pessoas que navegavam nos seus miseráveis barquinhos. Nessa grande nau navegava apenas um
marinheiro com o objetivo de impor, a todos os outros navegadores do imenso mar, trabalhos pesados. Talvez fossem os diversos exercícios, trabalhos, fichas e testes de avaliação que deveriam ser realizados pelos pobres alunos nas suas carteiras, impostos pelos exigentes professores. As janelas funcionavam como escotilhas de todos aqueles barquinhos, naus e caravelas. Os azulejos do chão “café com leite” desapareceram e consegui avistar o imenso mar que nos rodeava, cheio de ondas suaves e azuis como o azul do céu que, naquele dia, continha algumas nuvens (talvez fossem as lâmpadas penduradas no teto, que nos iluminavam). De repente, toda essa luz e esperança desapareceram, porque comecei a avistar ao longe uma grande, grande nau, maior do que a outra. Tinha grandes canhões e parecia vir em direção a nós, com ar de poucos amigos. Começou então a atacar. Ninguém sabia o que fazer. A confusão, o medo e a agitação permaneceram entre todos. Mas era um tal armário que havia na sala de aula! Representava a diretora da escola, a barafustar com os alunos barulhentos e com o professor por estar tão atrasado nos conteúdos que tinha de ensinar. É claro que toda a gente ficou aborrecida por ter de trabalhar ainda mais para despachar esses tais conteúdos, o que significaria mais trabalhos, revisões, teoremas, fichas, definições, mil
ensar(es) vezes, etc. Foi então que o ataque contra os barcos minúsculos parou e a nau desapareceu de vez. Felizmente! À minha frente conseguia avistar uma ilha… Mas ao contrário de todas as ilhas maravilhosas e acolhedoras de que se fala, esta era negra como a noite sem estrelas. Só às vezes apareciam as tais estrelas, que seriam alguns animais ou plantas que existiam naquela ilha (ou simplesmente eram as contas matemáticas escritas a giz branco no quadro negro da escola). Só depois ouvi um grito vindo do lado oposto ao da ilha negra. Já sei, era a campainha da escola. Acordei baralhada, pois afinal tudo tinha passado de um sonho “acordado” numa aula de Matemática. Oh! Meu Deus! Espero que ninguém tenha dado conta da minha soneca! Arrumei os meus livros, cadernos, lápis e canetas na mochila azul-ciano e dirigi-me para o portão da escola para esperar pelo glorioso momento de chegar a casa e descansar. Já em casa, depois de realizar os trabalhos de casa e estudar para os testes, decidi ler um pouco antes de jantar. Dirigi-me para a sala de estar e deitei-me aconchegadamente no meu grande e fofo sofá. Estava a ler o livro “O guarda da praia”. Era um livro definitivamente fantástico. Falava sobre o mar, conchas, rochas, gaivotas, estrelasdo-mar, areia, etc. Tudo coisas que adoro. De repente, estava eu também numa praia de areia branca, um imenso mar azul com peixes de todas as cores a nadarem suavemente entre as ondas e os rochedos serpenteados de algas verdes. O Sol mergulhava inteiro na linha do horizonte, de olhos a fecharem-se para a Terra. Fechei os meus também, inspirando a brisa salgada, e imaginei diversas coisas que poderiam acontecer naquele preciso momento, frente ao imenso mar. Apetecia-me nadar naquela água pura e cristalina coberta de espuma com origem nas correntes de rebentação das ondas. Mas não tinha fato de banho, por isso corri alegremente até ao mar, descalcei-me e mergulhei os meus pés na água salgada. Estava quente e verdadeiramente suave. Na areia da praia havia várias conchas e búzios de variadíssimos tipos. Comecei a juntá-los e a recolhê-los para os levar para casa, pois adorava
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colecionar todas as lembranças com origem no mar. De seguida, avistei, ao longe, uma ilha. Era, de novo, negra como o quadro da escola. Que estranho! Já era a segunda vez que sonhava com aquilo! Tive curiosidade em saber o que existiria naquela ilha, por isso nadei até lá apressadamente. Mas para minha surpresa, por entre toda aquela folhagem escura, havia árvores, arbustos e animais diferentes e de vários tipos e cores. Tinha uma belíssima paisagem! Era tudo simplesmente belo. Mas apesar de tudo, sentia-me muito sozinha e triste no meio daquela ilha completamente deserta. De repente, vi, ao longe, um conjunto de pessoas com rostos que me pareciam familiares. Aproximei-me para ver de quem se tratava e consegui perceber que eram todos os meus amigos e família. Corri até eles e voltei a sentir-me protegida e feliz. Conversámos muito e, de um momento para outro, estávamos todos em minha casa. Depois, não sei como, toda a gente desapareceu e senti alguém a agarrar-me, como se me fosse raptar. Felizmente, acordei nesse preciso momento, porque afinal era a minha mãe a chamarme para jantar. Naquele dia, eu estava mesmo dorminhoca e, ainda por cima, tinha tido sonhos estranhíssimos, para não dizer “pesadelos”. Mas aprendi uma lição. Apesar de todas aquelas folhagens negras, aquela ilha era, na verdade, um lugar maravilhoso cheio de cores, árvores, frutos de todos os tipos e com uma maravilhosa paisagem. Ora aí está, “Não se julga o livro pela capa”.
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Sentimento Tânia Morais . Aluna do 12º C
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Hoje sinto-me nostálgica, com necessidade de desabafar os meus sentimentos escrevendo textos, como se eles me dessem respostas insólitas.
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ão queria sentir de alguma forma aquilo que me fazia mover. Mudaria as peças do puzzle e construía uma história sem erros, por muito que achasse que nada poderia mudar. Corri, gritei e expliquei ao mundo o que me fazia feliz, num curto espaço de tempo, em que um simples sorriso de orelha a orelha não explicava tamanha felicidade, tamanha alegria que teimava e tinha orgulho em mostrá-la, porque seria como um exemplo para muita gente. Só tu e tu, certamente, me saberia colocar assim, sem razão possível, sem nada a recear, completamente drogada de felicidade, viciada nesse sentimento. Algures na cópia de uma vida perfeita, existia algo inconveniente, com múltiplos adjetivos que não receio usar, mas que são dispensáveis ao momento em que me encontro. Discutia-se o que era o sentimento. E o que era? Não sei explicar. Endurecia conforme o pensamento, a sua fron-
talidade era desgastante, a sua arrogância era menosprezada. Momentos após encontrava-me perdida, sem uma qualquer razão de existência. Até a questionava infinitas vezes. Vi-me presa à saudade, à tua falta. Abominava cada conversa, não fazia qualquer sentido, sentia-me mal, morria de dor. Era o mundo às avessas. O mundo que sentiria desmoronar em cima de mim carregando o seu peso nas minhas costas, obrigando-me a lutar, a senti-lo dia após dia, a angustia-lo a cada instante da sua existência. Haveria maneira de me soltar? Sim, essa maneira via-a em ti, apesar da diferença, do esquecimento, ainda existia o sentimento que era o único que me fazia feliz. Conjuguei o presente do verbo amar, tão perfeito era dizê-lo, ainda melhor e às vezes tão pior, senti-lo. A loucura apoderou-se da minha mente sã, nada me poderia fazer sofrer mais. Era repugnante, dias e dias sem parar, onde só havia água salgada a escorrer-me pela cara e eu a abafa-la. Sonhar com momentos só me fazia alterar o estado permanente de perdição, algo com significado duradouro, que insiste em viver, e eu dou-lhe vida. O orgulho é tanto nesses momentos, que lhe darei sempre o alimento, a vida, para se manter inalterável neste mundo. Hoje sinto-me nostálgica, com necessidade de desabafar os meus sentimentos escrevendo textos, como se eles me dessem respostas insólitas. É estranho pois nunca agiria assim num passado próximo. A história prolonga-se, teve fim por momentos mas estará escrita nas nossas memórias, pormenor por pormenor, sentimento por sentimento, tudo o que demais forte tivemos. Sem se alterar, só se o tempo for demasiado e o esquecimento atuar nas memórias, para isso é bom recordar, visto que isso é viver. Nos escombros do pensamento incessante, permanecerás intacto.
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ensar(es) Coordenação Professores de Filosofia Redacção A. Marcos Tavares Manuel Ferreira Ana Paula Lopes Colaboradores / alunos Ana Ferreira, Ana Rita, Ana Rodrigues, Ana Silva, Andreia Cardoso, Beatriz Xavier, Bruna Moinhos, Bruno Marques, Clara Pinto, Carlos Rodrigues, Catarina Montezinho, Catarina Pimenta, Cristina Borges, Diana Costa, Diana Monteiro, Fátima Carlos, Helena Ferraz, Inês Mesquita, Isabel Gonçalves, Jéssica Cardoso, Joana Sousa, João Cardoso, João Pinto, José Guedes, Leonor Almeida, Margarida Marques, Maria Sousa, Pedro Félix, Rafaela Monteiro, Rita Marques, Rui Oliveira, Samuel Pereira, Sara Rodrigues, Severina Rodrigues, Susana Slakovic, Tânia Morais. Colaboradores / professores A. Marcos Tavares, Ana Paula Lopes, João Rebelo, José Artur Matos, Fernando Cameira, Manuel Ferreira, Miguel Pereira, Paulo Pereira Guedes. Colaboradora / Técnica Administrativa Isabel Fernandes Design e paginação José Artur Matos Imagem da capa Ana Lúcia Ribeiro, Belisa Sequeira eFilipe Augusto Impressão Imprensa do Douro - Peso da Régua Tiragem 300 exemplares
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DOURO Património Mundial da Unesco
“Douro verdejante de socalcos vinhedos, sustentam paixões de um Povo vigoroso que produz da sua terra sonhos e encantos.” António Barroso