Setembro | 2014
Índice
Palavra do Dirigente
Palavra do Dirigente
02
Reportagem «Encruzilhadas: divindades e cultos»
02 03
Reportagem 03 «Homenagem a Iemanjá, 04 gira de marinheiros e os ecos de uma memória longínqua» O Convidado escreve 05 «Um olhar antropológico 06 sobre as práticas de benzer e mediunidade no centro-oeste brasileiro» Reportagem «Curimba no Feminino»
Sem folha não há Orixá «Hipericão»
07
08
Ficha Técnica
Equipa técnica: Diretor do Jornal Cláudio Ferreira
Revisão Mary Nogueira
Diretor de Conteúdos Cláudio Ferreira
Fotografia Fernando Silva
Diretor Comercial Frederico Castro
Edição Gráfica Bernardo Cruz Paulo Fernandes Miguel Faria
Chefe de Redação Mary Nogueira Redação Cláudio Ferreira Bernardo Cruz Fernanda Moreira Leonel Lusquinhos Mary Nogueira Filipe Ferreira Marina Rougeon Vanessa Inhauser
Contacto fundamento@atupo.com
A redação do Jornal Fundamento segue as normas do novo acordo ortográfico, salvaguardando as opções ortográficas dos autores convidados.
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Saudações a todos! Durante o �im de semana me questionei sobre o entendimento que fazemos da vida, dos amigos e do que realmente acreditamos. Vejo pessoas a falarem em respeitar, amar, em invocarem a solidariedade de todos, justiça e verdade. Vejo as pessoas desejando e publicando esse desejo de um mundo melhor e, através de belas palavras, publicações, as pessoas lutam e acreditam nessa luta. Dizemos e escrevemos sobre as diferenças, que não devemos distinguir e que devemos aprender a respeitar nossos semelhantes e as diferenças que existem, mas nos achamos sempre melhores do que todos e tudo, e ação do que acreditamos não a vemos. Será que um dia poderemos SER tudo aquilo que escrevemos e defendemos e que supostamente acreditamos? Sei que existe gente como a gente que, para além de apenas divagarem, suas ações têm muito mais peso que suas palavras e também sei que existem palavras escritas sem a verdade associada a uma ação. Penso que o que todos gostaríamos de ver é que aumentassem as �ileiras daqueles que estão entre os que fazem muito e os que só falam e escrevem; uma consciência e iniciativa de se questionarem verdadeiramente: Quem sou? Serei a verdade do que acredito e assim ajo ou sou a mentira daquilo que quero parecer ser? E mesmo que eu seja apenas a segunda hipótese, agradecerei ao alto por ter assim enxergado e tentarei ser a verdade de meus desejos e de minhas palavras! Que Exu abra todos os caminhos dos mistérios que existem dentro de cada um de nós, para que não sejamos ignorantes nesta caminhada de vida e de aprendizado. Que a magia do Fogo nos ajude a moldar a nossa alma, para que a Luz Divina seja a cada dia mais intensa em nossas vidas!
Pai Cláudio - Sacerdote de Umbanda Atupo - Templo de Umbanda Pai Oxalá
Reportagem
Encruzilhadas: divindades e cultos Desde que o ser humano tem consciência da sua religiosidade e crença num mundo para além do material, teve como tradição, e ao longo das várias civilizações, o reconhecimento das encruzilhadas como locais de encontro com o mundo dos espíritos, como portais para o mundo do além e, por isso, foram edi�icados, nestes locais, toda uma grande variedade de monumentos, desde simples pedras a menires, obeliscos, altares ou posteriormente, com a cristianização, as capelas ou alminhas. No território da antiga Lusitânia e Galécia, dos povos ancestrais pouco se conhece do seu culto a este tipo de divindades. Porém, com a chegada dos romanos e aculturação de costumes, estes passaram a ter no seu panteão os Lars compitales que eram os deuses das encruzilhadas, em que os viajantes faziam os seus votos para uma viagem segura e para que os seus caminhos fossem protegidos e lhes fosse provida fortuna. Os romanos prestavam homenagem aos Lares nas encruzilhadas, onde se levantavam aras e outros monumentos de adoração, bem como bancos para que as pessoas pudessem parar e re�lectir, isto porque na mitologia ocidental, a encruzilhada é também um ponto de encontro com o destino, simbolizado no mito de Édipo. Foi numa encruzilhada que Édipo inadvertidamente matou o seu verdadeiro pai, Laio, determinando toda a sua vida
futura e a sua desgraça. A encruzilhada existe também simbolicamente no íntimo dos seres humanos, no cruzamento de emoções e sentimentos díspares e nas decisões a tomar. Então era local de re�lexão e de pedir as divindades que os aconselhassem a tomar o caminho a seguir, saindo da encruzilhada. Já na Grécia, Hécate era a deusa das três cabeças, protetora das encruzilhadas por ser a senhora do céu, da terra e do inferno, comandando o nascimento, a vida e a morte.
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016 Em África, o cruzamento de caminhos era e é um local sagrado quando ritualizado pelas tribos, servindo quer de ponto de contacto com os deuses, através dos feiticeiros, quer de local de homenagem, onde são colocadas oferendas, comida e mesmo sacri�icados animais. Algumas tribos africanas consideram as encruzilhadas como sítios onde se podem ver livres das más energias que possam assolar a aldeia e os seus habitantes. A terra das encruzilhadas é utilizada como ingrediente de mezinhas e amuletos de sorte. A encruzilhada tem ainda uma grande conotação com os rituais de fecundação da Natureza e da mulher, sendo nestes locais colocadas as primeiras colheitas e também onde as mulheres terminam o período de aleitamento dos seus �ilhos e a respetiva proibição de atividade sexual. Esta tradição dos espíritos das encruzilhadas foi posteriormente levada pelos negros africanos para as Américas, onde onde o seu culto subsiste através do candomblé, umbanda, santeria, vodu, em países como Cuba, Haiti e Brasil, tendo como espírito das encruzilhadas Exu ou Ellegua, Legba, Esú, Elegbara . Na Europa, e com a cristianização dos povos, de locais de culto e reverenciação, as encruzilhadas passaram a ser, locais de medo e assombração, onde os primeiros bispos cristianizadores, acusavam de serem locais de culto ao diabo ,onde se encontram as bruxas e os espíritos malignos e daí a construção de capelas, oratórios, alminhas, estátuas de santos e da Virgem e cruzes. Um desses Bispos cristianizadores, e que nos permitiu conhecer um pouco dos cultos ainda efectuados, durante os primeiros tempos do cristianismo, foi São Martinho de Dume, que escreveu o “ De correctione Rusticorum”, ou seja “A correcção dos Costumes”, em que ele critica os primeiros cristãos de ainda se prestarem ao culto, das
antigas divindades e de acenderem lamparinas, velas, em locais como rios, encruzilhadas,etc.
horas abertas e é tido como um ser malé�ico:
"À hora do meio dia encontram pelas estradas, nas encruzilhadas, umas cousas más, que se chamam rosemunhos (redemoinhos). O resemunho é como uma poeirada: leva paus, pedras, e se apanha alguma pessoa no meio, leva-a também pelos ares, mas se a pessoa trouxer umas contas na algibeira e as atirar à tal cousa má, não lhe acontece mal algum." Nesta descrição, surge já a ideia de que só através do pagamento de algo, o ser humano poderia livrar-se do mal. Há uma associação aqui à interpretação de alguns cultos africanos, em que Exu exige pagamento para trabalhar. Esta associação terá sido levada e difundida aquando da ida dos colonos e dos missionários para o Brasil, dando-se o encontro entre a tradição cristã, o folclore lusitano, e as tradições africanas do culto a Exu, este como sendo o senhor da encruzilhada, onde eram feitas oferendas e outras reverências. Essa ideia foi de tal forma incutida que, no inconsciente das pessoas, Exu passou a ser representado com �iguras de demónios, com patas, cornos, etc, longe da sua realidade e essência verdadeira. Hoje em dia, nas tradições cristãs, as encruzilhadas ainda são locais de mistério e medos. Porém, dentro das religiões como Umbanda, a imagem de Exu enquanto �igura demoníaca tem desaparecido, estando a ganhar o devido respeito, como Guardião da Luz nas trevas, o Executor do karma, a Entidade para a qual não existe o bem nem o mal, apenas a Lei. E em terras da antiga Lusitania e Galécia, graças ao culto destes Guardiões, as suas encruzilhadas Com o passar do tempo, os medos foram voltam a ser cultuadas, não como locais de medo, sendo criados e esses locais eram considerados mas sim de evolução, aprendizado e superação; assombrados. No folclore lusitano, foram locais onde são tratadas e superadas as nossas surgindo �iguras tais como o “Rosemunho” (ou encruzilhadas pessoais! redemoinho), um ser mítico relacionado com o Filipe Ferreira mito solar, que aparece ao meio dia ou nas
“Eis qual o vosso penhor e con�issão que se guarda junto de Deus! Como é que alguns de vós, que renunciaram ao demónio e aos seus anjos, e aos seus cultos e às suas obras más, agora voltam ao culto do diabo? Pois acender velinhas a pedras, a árvores e a fontes e pelas encruzilhadas, o que é isso senão culto ao diabo? Observar adivinhações, augúrios e dias dos ídolos, que outra coisa é senão cultuar o diabo?”
Reportagem
Homenagem a Yemanjá, Gira de Marinheiros e os Ecos de uma Memória Longínqua Feche os olhos. Imagine que se encontra no tempo da memória. A cor da sua pele diz-lhe que se encontra no continente europeu! Do Cristianismo ainda não se ouviu falar. À sua frente espraia-se uma praia imensa e você usa roupas brancas e soltas, no cabelo tem uma grinalda de �lores. Tem uma pequena bolsa a tiracolo onde guardou uma pedra que encontrou no areal e um pedacinho de ferro. A sua intenção é clara: pretende entrar na água do mar. Respira fundo, dá um pequeno passo, depois um outro e lentamente entra. Estremece ao primeiro contacto com as águas frias do oceano, mas ignora-o. Humedece as mãos e passa-as pelo rosto e pela nuca. Fecha os olhos e sente o balanço das ondas e o som do mar. Harmoniza-se com o ambiente. Respira mais uma vez profundamente. Vai à pequena bolsa e segura a pedra na mão direita e o ferro na mão www.umbanda.pt
esquerda. Cruza os braços em frente ao peito, com os punhos fechados encostados aos ombros. Observa a imensidão da água e sente que a sua energia se renova. Sente-se grato com a Deusa do Mar e deposita a sua grinalda de �lores nas águas como ação de graças por tudo o que Ela lhe dá ao longo de todo o ano. Mantém-se nessa posição de comunhão com o mar durante todo o tempo de que necessita; as suas percepções é que mandam. Quando �inalmente decide regressar, vira-se e atira a pedra que guarda na mão direita, por cima da cabeça, com toda a força que tem. Com ela, vão todas as energias negativas que não deseja na sua vida. Sente a sua fé renovada.
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09 | 10 || 2010 Setembro 2014 Setembro| Outubro | 2010
e
Levanta então a sua mão esquerda e mostra o pedaço de ferro ao horizonte. No entanto, sai com ele na mão. Pretende colocá-lo mais tarde num vaso ou num canteiro à porta de sua casa, para assegurar proteção para si e para a sua família durante o resto do ano. Respira fundo. Sente a alegria de, mais uma vez, ter renovado os seus votos com a Deusa do Mar. Viaje no tempo agora. Volte ao presente. É dia 21 de Junho de 2014 e encontra-se na Praia da Foz do Neiva para participar de mais uma homenagem da ATUPO a Yemanjá, com uma Gira Marinheiros. Contra todas as expectativas, o tempo está bom. Saiu de Braga com um dia tristonho, a ameaçar chuva, e chegou à praia onde o esperava uma tarde linda. É preciso ir na Fé! À sua frente espraia-se uma praia imensa, um mar sereno que ondula doce e ritmadamente. O ambiente é de festa e antecipação. Está vestido de branco e não se esqueceu de levar, pelo menos, uma rosa branca consigo. Os preparativos são feitos para que tudo decorra conforme o planeado. No tempo exato começa o trabalho. Primeiro, chega o Sr. Ogum Sete Ondas; veri�ica os caminhos do progresso que espera percorrer, abençoa todos os presentes. Logo depois invoca-se Yemanjá, a grande Deusa do Mar, que chega com vigor e aproveita para todos abençoar. Feito o seu trabalho de preparação, dá-se passagem aos Filhos do Mar, os Marinheiros. Chegam alegres, com os seus passos ondulantes demonstrativos das correntes onde por norma se movem. A todos atendem com a sua disposição costumeira, com os seus conselhos sábios pontuados pela ironia. Provocam lágrimas ou gargalhadas conforme a necessidade. A sua função é despertar em si uma consciência renovada de si próprio e do mundo à sua volta. São muitos os que querem ser atendidos, são muitos os curiosos, são alguns os descrentes, mas todos se deixam �icar para assistir ao ritual e “retirar a sua parte” nesta tarde tão diferente. No céu, o sol faz o seu caminho, as gaivotas fazem voos rasantes sobre a praia e sobre o mar. Em www.umbanda.pt
toda a extensão do areal, ouve-se o seu grasnar, compondo o ambiente e, quiçá, contribuindo para limpar, com as suas vibrações, o lugar. A tarde passa, o sol encaminha-se para o seu poente, a hora é mágica. O Sr. Martim convida-o a encaminhar-se para o mar. No atabaque, começam os primeiros toques do Ponto Cantado que serve de ligação entre os vários pontos da corrente formada pela imensa mole humana que se reúne na praia: “Vamos saravar mãe Yemanjá, vamos todos juntos levar �lores para o mar.” É este o momento mais aguardado. Desde o início, a sua intenção foi clara: entrar na água do mar. Espera que o sinal lhe seja dado para, juntamente com todos aqueles que o rodeiam, dar um pequeno passo e depois mais outro até entrar na zona de rebentação das águas. Humedece as mãos e passa-as pelo rosto e pela nuca. Fecha os olhos e sente o balanço das ondas e o som do mar. Harmoniza-se com o ambiente. Respira fundo, faz o seu agradecimento mentalmente, seguido do seu pedido de proteção e harmonia para a sua família e para toda a família humana. Deixa que toda a negatividade indesejada seja levada pelas águas restauradoras da Senhora do Mar. Em seguida, oferece-lhe a rosa branca que levou. Fica um pouco mais em re�lexão e sente que a sua Fé se renova. Sabe, a nível instintivo, que acabou de se submeter a um ritual de puri�icação: «Todo o contacto com a água, quando é praticado com uma intenção religiosa, resume dois momentos fundamentais do ritmo cósmico: a reintegração nas águas e a criação» (Mircea Eliade, Tratado de História das Religiões). A água do mar representa a mãe, a matriz, é fonte de vida. Imergir nela é regenerar-se. A água leva todas as máculas e lava a alma. Hoje não precisa atirar sobre a cabeça a pedra do passado representando a negatividade que não deseja na sua vida. Hoje conta a sua intenção. Também não transporta o pequeno pedaço de metal para colocar num vaso à porta de casa. As palavras dos marinheiros estão gravadas “a ferro
e fogo” na sua alma. Regressa ao areal apaziguado. Os atabaques continuam a tocar e os cantos a ecoar. A luz do sol esmorece. Dá as mãos àqueles que se encontram ao seu lado. Faz uma roda ainda num estado de espírito re�lexivo. Martim Pescador orienta então todos os presentes para que, sempre de mãos dadas, se voltem para o sol que ainda brilha. Diz-lhes que levantem os seus rostos para o sol que se põe (e já passa das 20:00) e observem o “�im que se encontra com o início” e permitam que o fogo solar queime tudo o que não desejam nas suas vidas. Pede, de seguida, que pensem em tudo aquilo de que necessitam para que as suas vidas façam sentido. Deixa que um longo momento de silêncio e re�lexão caia sobre toda a assistência. Fogo e água intimamente relacionados. O Fogo que aquece a água, o caldo primordial que formava o planeta, que dá origem a uma partícula animada de Vida, que segue o seu caminho de evolução e progresso até lhe dar origem a Si. É a Roda da Vida que todos observam simbolicamente. A consciência a emergir do caos, os ciclos cármicos, a roda dos renascimentos, a roda da libertação quando o ser toma plena consciência de que a sua dimensão espiritual o liga a todo o universo. Momento enorme. Mágico! Logo de seguida, os trabalhadores das águas, os Marinheiros, foram chamados a recolher. Levaram consigo certamente a consciência de mais uma missão cumprida e deixando o seu coração pleno de alegria e amor. Para si, também é hora de recolher. O vento levantou-se forte como que a mostrar que a “limpeza” continua. Regressa a casa com o coração transbordante por ontem, hoje e sempre poder renovar os seus votos com essa Mãe Generosa que lhe deu Vida; ansioso pelo próximo ritual à Deusa do Mar, nossa Mãe Yemanjá, sentindo-se um ser humano renovado!
Fernanda Moreira
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006 016
O convidado escreve
Um olhar antropológico sobre práticas de benzer e mediunidade no centro-oeste brasileiro
Altar na casa de uma benzedeira, Goiás, 2010. Photo @ Marina Rougeon A prática dos benzedores e benzedeiras se inscreve num universo religioso di�ícil de se compreender a partir da lógica do pensamento ocidental 1 . Vários autores ressaltaram a existência desse universo em meio aos grupos populares no Brasil, no qual estabelecer uma correlação entre práticas espirituais e determinadas religiões não permite entender a relação de tais pessoas ao sagrado 2 . Cândido Procopio de Camargo já tinha proposto a idéia de uma continuidade entre várias formas de religiosidade na sociedade brasileira, conceitualizada com a noção de “continuum mediúnico” 3. As práticas do benzer estão relacionadas com um fundo comum de crenças que alimentam, pois elas implicam um trabalho com entidades espirituais de vários panteões religiosos, catolicismo popular, espiritismo kardecista, umbanda 4 , candomblé, os reativando de maneira inédita. Além disso, também envolvem um trabalho com entidades que não pertencem a nenhuma religião dita clássica. Neste sentido, o uso que faço da noção de panteão não remete a nenhuma inscrição formal nem de�initiva
numa religião especí�ica. Muito pelo contrário, ela designa uma forma heteróclita reunindo várias personagens que asseguram uma relação entre vivos e mortos. Pode-se ver neste aspecto uma das expressões da “cultura brasileira dos espíritos” analisada por Marion Aubrée e François Laplantine 5. Devido entre outras coisas às formas de con�litualidade quotidianas, as afeições corporais e espirituais levam os moradores dos bairros da cidade de Goiás, onde realizei um trabalho de campo aprofundado, a sentir com frequência a necessidade de serem benzidos. Eles procuram, então, terapeutas considerados como especialistas em doenças do corpo e do espírito, sabendo-se que nem sempre fazem a distinção entre benzedores e médiuns. Na maioria das vezes, ambos são designados com o termo genérico de “benzedor” ou “benzedeira”, remetendo, antes de mais nada, para as práticas do benzer que exercem. As visitas são realizadas tanto individualmente como em família, em geral durante o dia e fora de qualquer quadro ritual. A maioria das vezes são as mulheres que tomam a iniciativa de
consultá-los. Tais visitas representam também uma oportunidade de estabelecer e reforçar outras formas de trocas, pois ir até à casa de um benzedor ou de uma benzedeira implica fazer parte de relações de proximidade preexistentes, com o/a especialista ou com a pessoa que o/a indicou. Além disso, se os benzedores ou as benzedeiras recebem sós e não incorporam durante a consulta, estes não tem necessariamente uma relação com os espíritos que passe pela via da incorporação. Aqui reside um dos critérios para poder diferenciar os benzedores ou benzedeiras, mais ligados ao registro do catolicismo popular, dos médiuns, cuja prática se inscreve mais diretamente nos registros espíritas e umbandistas, embora essa forma de distinção seja insu�iciente e susceptível de revelar várias nuances, já que a noção de incorporação implica em si mesma a existência de diferentes níveis. Neste caso, estaríamos frente a práticas que pertencem ao que Marion Aubrée e François Laplantine chamaram de “espiritismo difuso”.6 Não se trata precisamente do espiritismo de mesa, kardecista e por vezes considerado como elitista, nem do espiritismo de terreiro, umbandista, associado com frequência, precipitadamente, aos grupos populares, mas de um espiritismo vivido, que participa das formas de religiosidades “caseiras”, como escolhi designá-las e que se encontra re-signi�icado e reapropriado ao nível local. Esta declinação do espiritismo remete para as importantes variações existentes em função da prática e da trajetória dos benzedores que atendem em suas casas e para as relações especí�icas entre o espiritismo e a concepção local do universo da bruxaria. Sob esta forma, este “espiritismo difuso” corresponde a uma prática aceite pelos costumes, porém não o�icializada.
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1 A contribuição aqui proposta representa uma síntese de um trabalho de pesquisa realizado durante vários anos no centro-oeste do Brasil, que deu origem à uma tese de doutorado em Antropologia na Universidade Lumière Lyon 2 na França, em seguida publicada na forma de livro. É do corpo desse trabalho que saem alguns dos elementos aqui apresentados. Cf. Marina Rougeon, Proximité, passages et médiumnité. Contours et détours caseiros au Brésil, Louvain-la-Neuve, Academia, 2014. 2 Sobre o assunto, ver os trabalhos de : Jorge P. Santiago, Rio et la ville clandestine. Anthropologie et Littérature de Lima Barreto, Paris, Le Manuscrit, 2009, 2 vol. ; Claudia Fonseca, « La religion dans la vie quotidienne d’un groupe populaire brésilien », Archives des Sciences Sociales des Religions, 1991, n°73, pp.125-139. 3 Cândido Procopio de Camargo, Kardecismo e umbanda, São Paulo, Pioneira, 1961. 4 A modernização do centro-oeste brasileiro e a construção de Brasília, onde os lugares de culto se multiplicaram rapidamente, contribuíram à institucionalização dos cultos afro-brasileiros na região de Goiás. A Federação Umbandista em Goiânia registrou centenas de terreiros no Estado de Goiás. 5 Marion Aubrée e François Laplantine, O livro, a mesa e os espíritos, EDUFAL, Maceió, 2009. 6 Op. Cit.
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Setembro | 2014
A mediunidade permanece então um dos garantir, por esta razão, a vitalidade e o poten- benzer provoca a extração, a anulação ou a pivôs das práticas do benzer, pois é notoria- cial de criatividade que as caracterizam. inversão das forças espirituais que afetam os mente a partir dela que se constrói a legitimi- Para terminar essa breve re�lexão em torno corpos. Assim sendo, é de fato o domínio das dade destes especialistas. De facto, ao das práticas do benzer e da mediunidade que passagens de cargas de um corpo para outro contrário de ser unicamente uma faculdade lhes é correlativa, tais como pude apreendê- que está em jogo no benzer e o domínio dos dos terapeutas, a percepção dos espíritos las nos últimos anos no Brasil, devo acrescen- gestos e das palavras que as tornam socialpelos humanos exige, para ser considerada tar que o trabalho de campo no centro-oeste mente aceitáveis. Finalmente, ter mediunidade como uma capacidade mediúnica, uma do país me levou a entender que, o que torna e colocá-la em prática benzendo corresponde disposição para praticar a caridade, assim possível a manifestação a si ou em si de uma a dominar as dinâmicas de abertura, fechacomo um trabalho importante de desenvolvi- entidade espiritual é um estado de abertura mento e proteção dos corpos, fazendo com que mento. Neste sentido, a capacidade mediúnica do corpo 7. O domínio do potencial de abertura somente certos espíritos possam se manifesé considerada como uma forma de contribuir do corpo e dos espíritos susceptíveis de tar, afastando os que possam prejudicá-los de para a evolução dos “seus” espíritos e dos manifestar-se ali, em função dos lugares, do uma maneira ou outra. espíritos dos outros. Desse modo, o trabalho momento e das pessoas presentes, é primorde desenvolvimento da mediunidade consiste dial para os médiuns. O procedimento numa aprendizagem da capacidade de se terapêutico do benzer consiste em “trabalhar” comunicar e de negociar com os espíritos, com forças, ou seja, dominar várias cargas Marina Rougeon implicando um certo domínio do medo dos presentes de maneira excessiva ou insu�iAntropóloga, CREA, mortos e do medo da morte. Benzer pode se ciente num corpo, para restabelecer o equilíUniversidade Lyon 2, França revelar, então, uma verdadeira vocação e não brio perdido. Enquanto experiência sensível, somente uma forma de expressão da fé e de resposta, pelo dom em si mesmo, a uma injunção social, como é frequente o caso das benzedeiras que conheci na cidade de Goiás. Além disso, o domínio e o controle da mediunidade nunca são adquiridos de uma só vez, pois eles exigem um trabalho constante. Contudo, a relação entre um médium e as entidades com as quais trabalha não é baseada nos princípios de ordem e de submissão, mas sim da troca e da colaboração. O trabalho espiritual que implica a prática do benzer dos médiuns é uma missão que não pode ser deixada de lado pela única força da vontade. O médium não tem escolha, pois, retomando as palavras de um dos meus interlocutores, “o que você não faz por amor, faz por dor”. A relação com os espíritos pede um esforço constante da parte do médium e uma estreita convivência, assim como o respeito de um conjunto de regras e valores como a caridade, sem os quais se pode estabelecer um desequilíbrio na relação. Quando ocorre, este tipo de situação provoca duas formas de efeitos nefastos podendo colocar em questão a legitimidade da prática do benzer : a doença e a bruxaria. de Condolências A partir Mensagem de tais elementos, compreende-se que uma certa ambiguidade encobre as práticas do benzer. Parece inelutável quando se trata, para os que a praticam, de assumir o papel de intermediários entre os humanos e as entidades espirituais, tanto como de controlar as passagens de cargas ou de pesos, passagens associadas geralmente ao reino de Exu nas religiões afro-americanas, enquanto entidade que condensa em si várias formas de ambivalência. Apesar dos estereótipos dos quais sofrem, essas religiões estão presentes nas religiosidades “caseiras” que estudei localmente e as dinamizam de maneira particular. Finalmente, essa ambiguidade contribui para manter as práticas do benzer à Benzendo do mau-olhado, Goiás, 2010. Photo @ Marina Rougeon margem dos quadros religiosos e terapêuticos institucionalizados, mas parece também
7 Nesse sentido, é interessante ressaltar a importância da noção de “corpo aberto” no universo da bruxaria portuguesa, analisada por Miguel Montenegro nos seus trabalhos. Cf. Miguel Montenegro, Les bruxos : des thérapeutes traditionnels et leur clientèle au Portugal, Paris, L’Harmattan, 2005.
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016
Reportagem
Curimba no feminino
característica marcantemente africana, comum entre as duas religiões. Durante muito tempo, na Umbanda, o papel da mulher na Curimba não era reconhecido, devido, em parte, à in�luência do Candomblé, onde o cargo do Ogã é fundamentalmente masculino por dogmas ligados à religião. Contudo, a Umbanda tem vindo a assumir cada vez mais os seus próprios rituais e fundamentos. Templos há que não utilizam os atabaques nos seus rituais. Mas na ATUPO não há gira sem Curimba e os atabaques são tocados por homens e mulheres, porque parafraseando o dirigente da Casa, Pai Cláudio, a função de Curimbeiro não depende do género, mas sim da �irmeza e do sentimento que cada um traz dentro do seu A relação das mulheres com os instrumentos de coração. Vanessa é a curimbeira mais antiga da percussão já vem de longa data e se faz sentir hoje em vários cultos ou religiões. Não será por Casa. Foi em S. Paulo, Brasil, sua terra natal, na acaso que os nativos norte-americanos associam o toque do tambor com as batidas do coração da Mãe-Terra e também ao som do útero. Já no Novo Testamento, há referência a tambores tocados por mulheres: “A profetisa Miriã, irmã de Arão, tomou um tamborim, e todas as mulheres saíram atrás dela com tamborins” (Ex. 15: 20-21). Era prática comum na altura, em Israel, a celebração de grandes vitórias com mulheres dançando, cantando e tocando instrumentos musicais. Na Festa celebrada anualmente em homenagem a Oxum, na Nigéria, no rio Osógbo, são as mulheres que tocam os instrumentos, tendo como base um tambor pequeno chamado agere. A Festa do Divino que se realiza no Domingo de Pentecostes, em São Luís do Maranhão, é abrilhantada pelas chamadas “caixeiras”, mulheres idosas que tocam tambores ou caixas “para saudar o império e o mastro e que se constituem em elementos fundamentais da festa”. Segundo um mito da cultura Yorubá, o primeiro tocador de tambor era mulher. “…não existia nada parecido com o tambor na cidade de Casa de sua primeira mãe de santo, que começou Oyo-Oro. Ali morava uma mulher chamada a tocar atabaque ainda menina. Veio para PortuAyántoke, mas todos a chamavam de Ayán. Esta gal há 21 anos atrás com Pai Cláudio, seu marido, mulher não tinha �ilhos e andava sozinha pelo que sentiu necessidade de começar cá um mato, sempre carregando um pedaço de madeira trabalho de Umbanda, devido ao número de oco. Um dia, viu uma pele de bode e pensou que pessoas que o procuravam, pedindo auxílio, poderia cobrir as extremidades da madeira que aconselhamento espiritual. Vanessa tornou-se carregava e tirar um som. Porém, quando ela então na primeira curimbeira do país, na 1ª batia no couro com um pedaço de pau ele sede da ATUPO. Inicialmente, era a única rasgava. Ela insistiu várias vezes no seu intento, responsável pela Curimba. Contudo, com o sem sucesso. Um dia, quando tentava mais uma passar dos anos, com o contínuo aumento de vez, Exu apareceu e deu-lhe tiras de couro de pessoas que procuravam a Casa, veio a necessiveado e disse que amarrasse com �irmeza o dade de reforçar não só a corrente, mas também couro no tronco. E foi nesse momento que o a Curimba: o Nando e a Cristina, que inicialtambor emitiu um som melodioso. Ayán mente tocava o afoxé, mas passou a tocar começou a tocar o tambor por toda a cidade e as atabaque, no dia em que o pai de santo lhe pessoas corriam para ouvi-la, muito surpresas, ofereceu um trazido do Brasil. Sábado à tarde. As pessoas chegam, se porque nunca tinham ouvido nada igual. Ayán passou a ganhar muitos presentes. Xangô – orixá acomodam, se aquietam e o silêncio por �im do trovão – rei da cidade, quando a ouviu tocar, reina. De repente, os atabaques rufam e uma voz convidou- a para morar no palácio. Ela tornou-se feminina ecoa no templo, dando início a mais uma gira no Templo de Umbanda Pai Oxalá. É a tocadora o�icial do palácio de Xangô.” A introdução dos instrumentos de uma voz possante, carregada de força, de percussão na Umbanda e no Candomblé é uma �irmeza, de emoção. Domina completamente
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todo o espaço, impulsiona toda uma corrente, chegando bem fundo nos corações de todos aqueles que ali foram à procura de uma resposta, de um sorriso, de esperança. É a voz de uma mulher que conhece bem a responsabilidade da sua função, mas um coração de menina que vibra em cada batida, em cada toque, em cada ponto cantado! É a voz de Vanessa Inhauser, a primeira curimbeira de Umbanda em Portugal!
Mary Nogueira
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Sem folha não há Orixá
Hipericão Oração a Obaluaiê e Omulu
Caros irmãos, nesta edição dedicaremos este espaço ao hipericão, cuja designação em Latim é Hypericum perforatum, mas também conhecido como hiperico, milfurada, ibitipoca e erva de S. João. Uma das muitas lendas que existem associadas a esta planta diz que se os ramos �loridos forem pendurados na janela em 24 de junho, dia de São João, eles afastarão os fantasmas, espíritos e trovões. Conta-se ainda que no dia 29 de agosto, data da decapitação do santo, as folhas apresentam manchas vermelhas.
Na Antiga Grécia, o hipericão era utilizado em óleos destinados à aplicação tópica em caso de dores. Na Idade Média, era uma planta muito usada como remédio herbário por suas propriedades anti-in�lamalórias e curativas. Considerada capaz de afastar maus espíritos, foi utilizada no tratamento de inúmeras doenças mentais. Herbalistas antigos notáveis, como Hipocrates e Plinio, descreveram as propriedades medicinais desta planta..Em 1633, o compêndio herbário 'Gerard's Herbal' descreveu o uso da planta como um bálsamo para queimaduras, sendo o seu óleo também muito popular durante esta época: o óleo das �lores frescas, que possui uma cor avermelhada após ser exposto à luz solar. Na década passada surgiu um novo interesse por esta erva e hoje é um componente em várias preparações �itoterápicas para o tratamento da ansiedade e da depressão. Na Europa, a partir do século XX, o hipericão passou a ser tradicionalmente utilizado em casos de depressão, tendo sido incluído em farmacopeias o�iciais. Hoje em dia, sabe-se que esta utilização tradicional é justi�icada e comprovada pela riqueza em hipericina, que actua como um inibidor da monoaminoxidase, não causando habituação. Tem-se veri�icado também a inibição da recaptação de neurotransmissores como a seratonina, norepinefrina e dopamina. Características: originário da Europa, Ásia e Norte de África, da família das Gutíferas ou Hipericáceas, o hipericão é uma planta perene, um arbusto muito ramoso, que pode atingir os três metros de altura, de folhas pequenas, opostas, ovais e alongadas perfuradas por uma multidão de ori�ícios, cujas �lores são amarelodouradas (5 pétalas, 3 estilos e vários estames) e o caule é rami�icado com folhas opostas aos
pares, verde pálido. A sua �loração ocorre entre Abril e Outubro. A distribuição geográ�ica é vasta, encontrando-se em vários habitats, como terrenos incultos, clareiras de bosques abertos e prados secos. Cultivo: Floresce nos meses quentes (Junho a Setembro), com �lores de cor amarelo vivo que, gradualmente, desenvolvem um fruto redondo de variadas cores. As sementes colhem-se em Setembro, podendo ser cultivado em vasos. A colheita faz-se na planta próxima do solo, deixando a possibilidade de nova rebentação. Partes utilizadas: folhas, �lores e óleo Indicações Terapêuticas: É muito usado para curar feridas e queimaduras, a enurese noturna e na eliminação de vermes. Externamente costuma ser usado em compressas para aliviar seios congestionados. Propriedades Terapêuticas: Antitussígeno, antireumático, vulnerário, analgésico, balsâmico, antiespasmódico, digestivo, colagogo e colerético, toni�icante do sistema nervoso: combate a depressão ou neurose; atua nas depressões ligeiras a moderadas; útil em casos de exaustão nervosa e stress, na ansiedade e em problemas de humor; promove um sono reparador. Contraindicações: Não deve ser usado durante a gravidez; torna a pele sensível aos raios solares, por isso deve evitar-se a exposição ao sol durante o tratamento com esta planta; interfere com determinados medicamentos, nomeadamente, varfarina, antidepressivos, anti-retrovirais, imunossupressores, drogas usadas para fortalecer o músculo cardíaco, medicamentos anticancerígenos, medicamentos para controlar o HIV, antigripais e contraceptivos orais; não deve ser tomado por pessoas bipolares; não se deve tomar antes ou depois de cirurgias. Fontes: http://www.plantasquecuram.com.br/ervas http://pt.wikipedia.org/ http://www.costadabanga.com/hipericao-dogeres/ http://www.ruralidades.pt/index.php/actualid ades/jardim-medicinal h t t p : / / w w w. g o s a u d e . c o m / p t / b l o g gosaude/plantas/ Leonel Lusquinhos Vanessa Inhauser
Atotô, Pai Obaluaiê! Atotô, Pai Omulu! Que sejamos dignos da Vossa Benção E de pronunciar o Vosso Nome Levando-o a todos os corações, Para enaltecer a Vossa Grandeza e Força Divina! Vós que sois o Orixá da Humildade, do Perdão, perdoai os nossos sentimentos de arrogância e desprezo pelas imperfeições dos outros! Lembrai-nos que, assim como Vós Que por debaixo dessas palhas Carregais a mais forte e bela Luz do Mundo, Também aqueles que julgamos pela aparência Carregam em si o mais nobre e belo coração! Salve a Força Curadora da Vossa Luz! Livrai-nos das mazelas que nos ferem o corpo e ensombram a alma Não nos deixando ver quem sofre mais do que nós! Sejamos como Vós, Pai do In�inito Amor e Caridade, Abrindo os braços para os enfermos, para os sofredores, Amparando de igual forma o rico e o pobre, o culpado e o inocente! Lembrai-nos da efemeridade desta vida Graça por Deus concedida, para que a possamos viver em pleno, Conscientes do nosso merecimento! Zelai por nós, Senhor da Vida e da Morte, pois tantas vezes nos perdemos nos caminhos da carne, Querendo rapidamente chegar, viver, Cegos pelas ilusões da matéria, Esquecendo que tudo tem uma hora, um Tempo certo para acontecer! Salve Guardião das Almas, Senhor das passagens e da Calunga! Que através dos nossos atos humildes de amor em prol da humanidade, na hora do nosso desencarne, através do mistério da Evolução sejamos merecedores da Vossa Proteção! Salvé Pai Obaluaiê! Salve Pai Omulu!
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