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Distribuição Gratuita | Nº 020
A Literatura Umbandista A Ordem da Cura Umbanda - A Religião dos Mistérios Espirituais por Felipe Campos
Dezembro | 2016
Índice
Palavra do Dirigente
Palavra do Dirigente
02
Entrevista «Antes e Depois da Umbanda»
03
Reportagem «A Ordem da Cura»
05
Reportagem «Literatura Umbandista»
06 07
O Convidado Escreve «Umbanda - A Religião dos Mistérios Espirituais, por Felipe Campos»
08
Tributo «Iansã»
09
Uma Lenda «Iansã»
09
Sem folha não há Orixá «A Calêndula»
10
04
Ficha Técnica
Equipa técnica: Diretor do Jornal Cláudio Ferreira Diretor de Conteúdos Cláudio Ferreira Chefe de Redação Mary Nogueira Redação Cláudio Ferreira Bernardo Cruz Fernanda Moreira Filipe Ferreira Leonel Lusquinhos Mary Nogueira Paulo Fernandes Vanessa Inhauser Vânia Vilas Boas Vitorino Camelo
Revisão Mary Nogueira Fernanda Moreira Fotografia Fernando Silva Edição Gráfica Bernardo Cruz Miguel Faria Contacto fundamento@atupo.com
A redação do Jornal Fundamento segue as normas do novo acordo ortográfico, salvaguardando as opções ortográficas dos autores convidados.
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Estava eu no Templo olhando para o congá, pensando em alguns acontecimentos e questionava-me acerca do Ser Humano, da Umbanda, da minha vida pessoal e família. Sentia-me triste e questionava-me se valia a pena continuar acreditando no próximo e em tudo aquilo que acreditei na vida, num "mundo melhor". No meu trabalho, perdia, por vezes, negócios devido à sinceridade com que falava e, por vezes, perdia os negócios por falar a verdade, pois sempre acreditei que a verdade me levaria ao sucesso; e realmente assim constatei que tinha razão. Mas, ao mesmo tempo, via pessoas usarem e fazerem negócios através da mentira, falando mal de outras empresas e até mesmo inventando histórias acerca das mesmas. Sei que o futuro destes é caírem fundo em suas próprias mentiras. Eu não desejo o mal a ninguém. Contudo, questiono-me como as pessoas são capazes de o fazer; não acredito que sejam felizes e acredito que estão cavar sua própria cova. Aí, nesse momento, pensei: E na Umbanda? Na assistência e corrente? Logo começo a ver muitas situações idênticas com a agravante de que estão num Templo e dizem-se Umbandistas, e vejo gente que fala sobre o que não sabe e o que não entende, sem se informar com as pessoas devidas e a agir com o impulso de mal dizer, falam mal de tudo e todos; todavia vão ao Templo sentam-se na frente dos guias com cara de pau, ou melhor, com cara de santo e nesse mesmo dia não ouvem o que queriam e mais uma vez falam mal. E aí penso naquele �ilho da corrente cujo único motivo pelo qual entrou na Umbanda foi o seu desenvolvimento mediúnico, receber os seus guias e desenvolver-se de maneira pessoal a �im de sentir-se melhor ou com mais poder do que o seu próximo, quando deveriam melhorar sim, a desenvolver o amor, a amizade ou um simples sorriso sincero que sempre acreditei que
irradia uma energia vitalizadora com a sensação de "ele me quer bem". Baixei a cabeça e pensei sem coragem de olhar para o congá à minha frente: - Será que vale a pena perder as minhas noites no templo e tardes, quando poderia dar mais desse tempo aos meus �ilhos, mulher, amigos e a mim próprio? Nesse momento, escuto o estalar da madeira dos bancos do Templo muito alto e assusto-me e rapidamente digo: - Maleme (perdão) meu pai por pensar isso. E escuto dentro de mim a voz de alguém que me acompanha há muitos anos desde criança e lágrimas enchem meus olhos. Era o Caboclo que me acompanha há muito: -Filho, sou eu! Não peça perdão, pois é válido você se questionar. Mostra que você se importa, que você ama, sente e quer muito esse mundo melhor, tanto que quer abraçar o mundo e se cobra por todos aqueles que não se importam com o mundo e sim apenas consigo próprios. Mas você está esquecendo de todos aqueles que são gratos, daqueles que chegaram nas trevas ao Templo e que descobriram a Luz, daqueles que foram curados, daqueles cujo pensamento era destruição e descobriram o amor, daqueles que são felizes por vocês simplesmente existirem e levarem a esperança, mostrarem o caminho e ajudarem a dar o passo que faz e fez suas vidas mudar. Filho, são esses momentos que farão você mais forte e são esses que criticam, riem e falam mal da Umbanda, que apenas pretendem encontrar bene�ício próprio, que nunca olham para seu semelhante como um irmão; são esses exatamente que você tem de ajudar a encontrar a paz, pois são devorados pelos seus próprios medos, inseguranças e sua fé, que apenas existe quando alguém lhes dá algo em troca; são esses que, mesmo mal dizendo, deverá tentar ajudar, se assim eles permitirem e quiserem essa ajuda, pois a Umbanda existe assim, olhando para todos de maneira fraterna e solidária. Filho, vou embora, mas antes volto a repetir o que disse num ritual há pouco tempo "Obrigado a ti, meu �ilho e a todos dessa corrente que deixam seus lares e suas vidas pelos seus irmãos na Terra e pelo sonhado mundo melhor!"; continue acreditando, pois quando abandonar essa existência, você irá, com certeza, deixar um mundo melhor, um passo de cada vez, como diz o preto-velho, e chegaremos longe. Tupã te abençoe! -Salve Caboclo e obrigado, disse eu. Levantei o rosto, olhei para o congá e agradeci a Deus. Senti-me leve e feliz, levantei, pedi licença, saudei os Orixás e os Guardiões e fui viver...
Pai Cláudio - Sacerdote de Umbanda Atupo - Templo de Umbanda Pai Oxalá
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Entrevista
ANTES E DEPOIS DA UMBANDA
Nascida o�icialmente a 15 de novembro de 1908, pelo advento do Caboclo das 7 Encruzilhadas, a Umbanda, uma religião resultante da miscigenação de raças, culturas e crenças que formam a base do próprio povo brasileiro, veio preencher um vazio nos campos religioso e espiritual, existente na época, principalmente para as classes mais desfavorecidas que não encontravam nem apoio social nem religioso nas estruturas sociais e religiosas de então. Dedicada à caridade e ao auxílio ao próximo, esta religião brasileira lutou ao longo do tempo para se a�irmar como tal, lutou e luta até hoje contra a discriminação e o preconceito e tal como o pão partilhado por Cristo, cresceu e multiplicou-se, espalhando-se um pouco por todo o mundo. Passados 106 anos, para além de existir em vários países do continente americano, a Umbanda está presente em países como Portugal, Espanha, França, Inglaterra, Alemanha e até no Japão. Os fortes laços históricos e culturais, bem como a partilha da Língua Portuguesa, constituem fatores que fazem de Portugal o país em que a jovem religião poderá encontrar maior facilidade de implementação, sendo inúmeros os templos e casas de Umbanda já existentes em terras lusitanas. Com quase 25 anos de existência, a ATUPO-Associação Templo de Umbanda Pai Oxalá é um exemplo da aceitação e recetividade dessa religião tão rica em fundamentos, princípios e valores. Ao longo de quase um quarto de século, cresceu não só no desenvolvimento das suas atividades religiosas e sociais, mas principalmente no número de frequentadores assíduos do Templo, dos quais mais de três centenas já foram batizados pela Umbanda, constituindo uma verdadeira comunidade Umbandista que assume a Umbanda como a sua religião, o seu caminho
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espiritual e não apenas o pronto-socorro que serve unicamente para a resolução imediata de problemas. Num país com séculos de tradição católica, onde nem todos estão de acordo no que diz respeito ao grau de aceitação e recetividade neste abraçar de uma nova religião, quisemos saber o que traz as pessoas até à Umbanda e o que a Umbanda mudou nas suas vidas! Deixamos aqui os testemunhos de alguns dos muitos umbandistas que frequentam a ATUPO:
Liliana Gomes, 32 anos. O porquê e o como..... hummm.... isto já lá vão tantos anos.... tinha eu 14 na altura.... fui através de uma amiga que faz parte da corrente e que me levou a uma gira de Preto Velho. O porquê... bem a história é longa, mas basicamente foi porque eu andava que nem um náufrago à deriva e ela, que nem um anjo, me pegou pela mão me levou para um caminho que me levaria a casa! A Umbanda, para mim, no meu jeito ainda muito inocente de ver as coisas, representa um religar a casa! Representa uma forma de não me esquecer de quem sou, dos conselhos e ensinamentos que já estão cá dentro, mas precisam ser lembrados e doutrinados, pois a vida sem doutrina é o caos... A Umbanda para mim é Amor! Se eu entendi bem a doutrina, os nossos maravilhosos "mentores" (vou chamar assim) que cuidam e zelam por nós, com todo o carinho amor e paciência... (sim, que por vezes não deve ser fácil, nós somos muito teimosos) o incansável trabalho deles para connosco, só tem uma justi�icação, Amor! O que mudou... eu acho que a palavra certa é o que está mudando em mim. Crescendo em horizontes... Crescendo em consciência... Maturidade.... de uma forma que não sei colocar em palavras! As palavras são muito vagas e limitadas...
José Guedes, 35 anos. Eu conheci a Umbanda através de uma amiga, que faz parte da corrente. Desde o primeiro dia em que pisei o vosso terreiro senti que era ali que queria estar. Era uma pessoa que não tinha amor-próprio, fazia as coisas para agradar aos outros, a minha vida era em função dos outros, não falava só para não perder as amizades. Pois hoje sinto-me outra pessoa, com mais força, com mais vontade de viver a minha vida e falar sem medo do que vão pensar. Porque quem realmente gosta de nós, gosta como somos. continua
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Mariana Baptista, 32 anos. Ouvi falar, pela primeira vez na Umbanda, há pouco mais de um ano e logo me despertou a atenção e curiosidade. Isto porque, em 31 anos, sempre achei que não existia religião que me “compreendesse”, por um lado, e que eu aceitasse, por outro. Como tal, apesar de haver uma certa simpatia pelo Budismo, sempre me intitulei de agnóstica. Sempre soube no que acreditava, no que eu gostava de ver “pregar” e usar numa religião, mas nada até então se havia cruzado na minha vida e, por isso, a “minha religião” não existia. Até que me começo a cruzar e a conhecer várias pessoas que me falam na Umbanda (cheguei a achar assustador. Tantos anos sem ouvir falar nesta religião e, de repente, tantas pessoas a falar-me dela). Uma religião para mim desconhecida, mas que me prende a atenção ao ponto de me levar a pisar o Terreiro da ATUPO. 5 de setembro de 2015, a primeira vez num Terreiro, o primeiro contato com a Umbanda, a primeira vez a falar com um Guia…e como TUDO fez sentido! Desde esse dia, muita coisa mudou, principalmente a sede de conhecimento e uma certa capacidade de olhar para mim, analisar-me e fazer por ser um pouco melhor. Hoje consigo agradecer TUDO o que me acontece. Sim, mesmo o menos bom. Beatriz Couto, 16 Anos Eu conheci a Umbanda através de amigos e, até hoje, agradeço por isso. A Umbanda ensinou-me a olhar mais para o lado bom das coisas e a aprender com as menos boas. Com a Umbanda, aprendi que é melhor ser do que ter. Aprendi a valorizar mais as pequenas coisas pois é nelas que se encontram as verdadeiras riquezas da vida. A Umbanda ensinou-me a lutar pelos meus
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objetivos, sem medo. Ensinou-me a acreditar!
Alexandra Vieira, 45 anos. A Umbanda chegou até mim através de amigos e já lá vão quatro anos… Nem sabia da existência desta religião e da importância que iria passar a ter na minha vida. Com a Umbanda aprendi a ver a vida de uma forma diferente… Ensinou-me a dar, sem estar à espera de receber, a ter fé, a amar mais, a ser humana, a ter sempre um abraço disponível para quem precise, a tentar viver cada dia com menos egoísmo, menos ciúme, sem pensar mal do próximo. A Umbanda não deixa de me ensinar... Entreguei-me e farei o que estiver ao meu alcance, lembro-me da Umbanda em todos os momentos, todos os dias. Contudo, não sou perfeita e há dias em que eu falho. Nós Umbandistas temos uma missão: Levar ao Mundo inteiro a bandeira de Oxalá! Sérgio Yoshimura, 67 anos Quando conheci a Umbanda, buscava ajuda para conhecer e compreender o meu "EU" interior. Agora quando faço as minhas re�lexões tento fazer a minha reforma intima que reconheço ser um caminho longo e di�ícil, caminho este que descobri com a Umbanda.
Manuela, 58 anos Descobri a Umbanda num momento particularmente di�ícil da minha vida. Graças a ela, encontrei respostas para perguntas existenciais e espirituais que eu me colocava a mim própria. Descobri um caminho de conforto interior que me ajuda indubitavelmente. Joana, 32 anos A Umbanda veio mostrar-me um caminho
espiritual com o qual já me identi�icava, mas do qual não conhecia a grandeza nem ligações. Este Caminho traz consigo a consciência da responsabilidade das nossas ações. Encontrei uma tranquilidade que não sabia que tinha.
Manuel Sousa, 49 anos. Bem fui parar à Atupo por conselho de um amigo por razões que não vêm ao caso, mas continuando, a primeira vez que fui a uma gira (faz mais ao menos 13 meses) foi digamos diferente de tudo o que conhecia, mas como diz o ditado estranha-se e depois entranha-se. Não vou dizer que foi amor à primeira visita, fui conhecendo, vendo os médiuns e os guias trabalhar e fui-me apaixonando, porque toda a minha vida tinha procurado uma religião que fosse de encontro há minha maneira de ser. Encontrei tudo isso na Umbanda e ao fazer a doutrina e o batismo �iquei com mais certeza de que é o caminho que quero seguir neste momento... Várias são as razões que levam as pessoas a procurar uma religião como a Umbanda. Muitos vão pela dor, outros pela curiosidade, outros pelos desamores. Uns não se identi�icam e escolhem outros caminhos, outros há que se arrepiam a primeira vez que ouvem o rufar do atabaque, se desarmam perante um abraço carinhoso de um preto velho, se enchem de esperança com as palavras de um baiano e compreendem o verdadeiro signi�icado da palavra Fé quando sentem em seu peito a Luz Divina de Pai Oxalá! E nessa hora se apaixonam e entregam o seu coração a essa religião tão bonita, tão completa, aberta a todos e para todos!
Bernardo Cruz www.atupo.com
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Reportagem
“Em todas as culturas e tradições médicas antes de nós, a cura foi alcançada pela energia em movimento.” Albert Szent-Gyorgyi, bioquímico e Prémio Nobel.
Seguindo a via que durante séculos pertenceu aos grandes guardiões da sabedoria antiga – sacerdotes, curandeiros ou xamãs com uma profunda compreensão do corpo energético – também na ATUPO evoluiu um grupo dedicado à cura. A Ordem da Cura revelou cada vez mais nos últimos anos, sob orientação dos mentores espirituais desse grupo - acompanhada por uma atividade intensa de trabalho e aprendizagem - uma orientação espiritualista abrangente e um
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A Ordem da Cura
desenvolvimento que ainda se encontra em fase de expansão. Tal como em todas essas tradições, este trabalho leva em consideração que a vida é um fenómeno bioelétrico e de energia vibracional. Assim, tal como nessas tradições se acreditava que a vida existia por causa da força da vida e da energia que atravessa e anima o corpo garantindo o seu funcionamento, também este Grupo trabalha considerando que a saúde plena depende e se manifesta através do equilíbrio energético entre os vários processos �isiológicos e os �luxos energéticos do nosso corpo. É “o caminho do meio” de que Buda falava, ou seja, o caminho do equilíbrio em todas as
coisas. Os nossos corpos precisam de equilíbrio. Ao melhorar o �luxo energético através do corpo, o equilíbrio e a saúde são alcançados quando entramos em contacto com o nosso verdadeiro Eu. Entendendo os corpos subtis e o corpo �ísico como um re�lexo mútuo – sendo que os excessos �ísicos que cometemos afetam os nossos corpos subtis, e que os nossos desequilíbrios emocionais e mentais afetam o nosso corpo �ísico - chegamos a um entendimento mais próximo da causa de alguns males que nos afetam todos os dias. A atitude pedagógica está, por isso, intimamente ligada à formação do Grupo, e dele partem também orientações no sentido de um entendimento maior da coletividade, compreendendo que, na maior parte das vezes e assumindo que sendo nós o somatório dos nossos atos de ontem, é cada um de nós responsável em parte pelos próprios sofrimentos, a�lições, dores e doenças. A Umbanda, nos seus trabalhos com os Guias Espirituais, âncora essencial do Grupo da Cura, encontra-se em transformação. E nessa sua transformação convida, na teoria a�im da evolução do corpo e do espírito, à transformação interior. A individualidade do Ser Único, se compreender que é responsável pelas suas escolhas, entendendo que os recursos disponíveis à sua volta podem sempre ajudar a mudar o estado de consciência, encontrando abertura para que se possam transformar as energias que trabalham no seu ritmo interno, estará muito mais aberta à cura Fernanda Moreira do corpo e do espírito.
Vitorino Camelo
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Dezembro | 2016
Reportagem
“A Literatura Umbandista”
Chegados novamente à data o�icial de fundação da Umbanda, dia 15 de novembro, consideramos importante relembrar que o seu reconhecimento enquanto religião resulta de todo um movimento liderado por um grupo de intelectuais da classe média que, através da publicação de livros e jornais, a organização de federações e a realização de congressos, deram o seu contributo para que a Umbanda se distanciasse cada vez mais de uma visão reducionista, chegando muitas vezes a ser confundida com a “macumba carioca”, dando lugar à sua institucionalização. A aceitação da Umbanda enquanto religião na sociedade carioca da primeira metade do século XX só foi possível através da apropriação de um conjunto de valores reconhecidos pela sociedade, nomeadamente a herança de uma tradição religiosa milenar, uma doutrina que norteasse a conduta ética e moral dos seus praticantes e práticas magico-litúrgicas fundamentadas na ciência, o enquadramento dos rituais da Umbanda numa leitura o mais próxima possível da teologia cristã. É inegável a contribuição da literatura umbandista no processo de legitimação da Umbanda como uma religião brasileira. Os primeiros livros de Umbanda evidenciam uma tentativa por parte de seus escritores de racionalizar a religião, de equacionar as suas crenças e práticas religiosas, dissociando-a de manifestações rituais não toleradas pelo estado e por ele criminalizadas. Renato Ortiz, sociólogo e professor na Universidade Estadual de Campinas, no seu livro “A Morte Branca do Feiticeiro Negro”, publicado pela primeira vez em 1991, refere que “sem o movimento dos intelectuais, estabelecendo normas de orientação para religião, a Umbanda não existiria, pois o que encontraríamos seriam somente manifestações heterogêneas de rituais de origem afro-brasileira”. Leal de Souza, escritor, jornalista e crítico literário e dirigente da Tenda Espírita Nossa Senhora da Conceição, uma das �iliais que formam o septo de casas fundadas pelo caboclo das Sete Encruzilhadas, já escrevera em 1925 a primeira obra a relatar trabalhos práticos sobre Umbanda, intitulado “No Mundo dos Espíritos”. Nessa obra é relatado um inquérito realizado nos centros espíritas e terreiros do Rio de Janeiro, durante um ano, bem como aspetos sobre a sua ligação com Zélio de Moraes e a Tenda Nossa Senhora da Piedade. Em 1933, publica o primeiro título de Umbanda “O Espiritismo, a Magia e as Sete Linhas de Umbanda”, onde discorre sobre as sete linhas brancas e os Orixás, contrapondo uma magia do passado africano, descontrolada, desprovida de normas a uma magia regida por um código de ética, religioso e próximo ao cristianismo, cujo uso é voltado para a prática
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Leal de Souza da caridade. Esta obra é escrita com tanta clareza e objetividade em relação às questões essenciais da Umbanda que ainda hoje é muito atual e fundamental no seio umbandista. Leal de Souza veio a tornar-se assim o “pioneiro” da literatura umbandista. Não podemos esquecer que não havia literatura umbandista anterior a esta obra e a visão de Leal de Souza é muito do entendimento do autor sobre o legado de Zélio de Moraes. Devido ao seu prestígio e ao seu conhecimento, o 1º Congresso Brasileiro de Espiritismo de Umbanda, realizado em 1941, no Rio de Janeiro, aprovou essas Sete Linhas. As décadas de 1930-1940 foram muito acanhadas no que à escrita umbandista diz respeito. No entanto, com a criação do já referido 1º Congresso Brasileiro do Espiritismo de Umbanda (19-26 de Outubro de 1941), esta primeira geração de autores viria a ser uma verdadeira inspiração e uma fonte primária e desbravadora, dando o seu contributo no sentido de entender, estudar e estabelecer parâmetros ou normas que ajudassem a de�inir o que era a Umbanda. Os próprios adeptos e praticantes passavam agora a identi�icar-se com a religião. Todos praticavam a Umbanda sem uma base teórica, a literatura acessível era a referente ao Kardecismo, mas agora iam em busca de outras literaturas e conceitos que validassem a identidade de Umbanda. A própria obra do 1º Congresso é um marco para a literatura de Umbanda, pois veio dar um novo impulso à religião, trazendo diferentes formas de pensar a Umbanda e conferindo-lhe um caracter cientí�ico e moderno. Ficou clara a intenção de “desafricanizar” a religião. Este Congresso marcou o primeiro movimento intelectual umbandista, incentivando outros autores a escreverem e publicarem seus pontos de vista diferentes e controversos, uns em relação aos outros. Lourenço Braga, em 1942, publica seu
livro: “UMBANDA (magia branca) e QUIMBANDA (magia negra)” e apresenta o primeiro esquema formulado e pensado de “Sete Linhas de Umbanda” com sete subdivisões, ou sete legiões, para cada linha. Também Emanuel Zespo, pseudónimo usado por Paulo Menezes, publica em 1946 “O que é a Umbanda?”, em que defende a Umbanda como uma religião brasileira, descrevendo a realização de uma série de palestras com o objetivo de esclarecer os adeptos do espiritismo sobre os fundamentos da Umbanda. É possível que o livro do autor “Banhos de Descarga e Amacis”, de 1950, tenha sido o primeiro estudo sobre o uso de ervas da Umbanda e nesse mesmo título o autor recomenda aos umbandistas que estudem de tudo um pouco, pois segundo o próprio, aquilo que se deve aprender de bom com outras religiões e �iloso�ias, deve ser interpretado à luz da Umbanda até porque na Umbanda está um pouco de tudo. Na obra “Codi�icação da Lei da Umbanda”, de 1953, cujo conteúdo é dividido em duas partes, cientí�ica e prática, o autor já apresenta o seu ponto de vista sobre a importância de codi�icar a religião. Já Tancredo da Silva Pinto, presidente perpétuo da Congregação Espírita do Brasil, considerado o pioneiro do ritual Omolocô, vem defender nas suas obras a origem afro da Umbanda, para combater a tentativa de alguns umbandistas em aproximar a Umbanda do Espiritismo e afastá-la das origens africanas, dos seus cultos e religiosidade. No seu livro “A origem da Umbanda” refere que “ a origem do Culto Omolocô vem do sul de Angola, sendo uma nação pequenina às margens do rio Zambeze, que o tem como Zambi, que lhes dava a alimentação necessária, proveniente das enchentes”. Para a�irmar a caraterística africana da Umbanda e dar uma formação intelectual aos praticantes do Omolokô, organiza no Rio de Janeiro o primeiro continua curso de língua e cultura Iorubá.
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A primeira geração de autores umbandistas foi até à primeira metade da década de 1950. Daí para a frente a produção literária é cada vez mais abundante e variada, caracterizada pela segunda e terceira gerações de autores. O crescimento e pluralidade de �iloso�ias acompanham a expansão da religião nos seus vários aspetos. Nesta segunda fase, Woodrow Wilson da Matta e Silva teve um papel preponderante pois veio trazer também uma nova roupagem à Umbanda. Com a publicação do seu primeiro livro “Umbanda de todos Nós”, 1956 o autor trouxe à luz do entendimento seus antigos e importantes fundamentos �ilosó�icos, cientí�icos e religiosos. Nesta obra encontramos a verdadeira de�inição do que seja Umbanda, em seus mais puros conceitos; aponta quais são as sete Vibrações Espirituais e quem são os verdadeiros Exus. De�ine o que vêm a ser a mediunidade na Lei de Umbanda e as três formas de apresentação dos espíritos na Umbanda. Explica os fundamentos sobre ritual, banhos de ervas e defumadores, guias, sinais riscados e muitos outros assuntos de relevância para a prática e vivência na Umbanda. Francisco Rivas Neto deu continuidade à obra de Matta e Silva e foi o fundador da FTU (Faculdade de Teologia Umbandista), a primeira faculdade do Brasil e do Mundo com ênfase em religiões afro-brasileiras, reconhecida pelo MEC (Ministério da Educação). Tem trabalhos
Matta e Silva na frente e Rivas Neto (atrás) publicados em congressos e revistas académicas nacionais e internacionais. Rubens Saraceni, médium e sacerdote de Umbanda veio trazer uma novidade para a literatura umbandista: a literatura psicografada de Umbanda. Os romances mediúnicos psicografados por um preto-velho, Pai Benedito de Aruanda, conquistaram leitores em todo o Brasil. Destacam-se os títulos o “Guardião da Meia-noite” e o “Cavaleiro da Estrela Guia”. Muitos outros foram publicados mas o www.umbanda.pt
primeiro citado foi verdadeiramente um marco na literatura: por um lado, a facilidade de leitura e de envolvimento na trama e por outro lado a importância da desmisti�icação da entidade Exu, que agora recebia o justo estatuto de guardião. Além destes romances, Rubens publicou títulos doutrinários e teológicos como: Código de Umbanda, Doutrina e Teologia de Umbanda, Umbanda Sagrada: religião, ciência, magia e mistérios, entre outros. Criou em 1999 o Colégio de Umbanda Sagrada Pai Benedito de Aruanda. Foi uma colaboração ímpar para a Umbanda, pois nasce a partir daí uma cultura de estudos dentro da religião. Rubens Saraceni é dos mais procurados entre os autores umbandistas da atualidade. A Madras Editora e o autor mudaram o paradigma do mundo livreiro, pois as grandes editoras e livrarias não aceitavam títulos de Umbanda. Esses eram encontrados em lojas de artigos religiosos. Atualmente há uma maior abertura à publicação de obras umbandistas por parte de outras editoras. Destacam-se também na literatura atual Ronaldo Linares, que conviveu de perto com Zélio de Moraes e reeditou em parceria com Diamantino Trindade e Wagner Veneziani Costa dois títulos importantes: “Iniciação à Umbanda” e “Os Orixás na Umbanda e no Candomblé”. Robsom Pinheiro vem-se destacando também pelo facto de ser um médium espírita e se propor a apresentar a Umbanda ao meio Kardecista. O seu primeiro título “Tambores de Angola” teve boa aceitação e procura apresentar a realidade umbandista sob um olhar espírita. Iassan Ayporê Pery, dirigente espiritual do Centro Espiritualista Caboclo Pery escreveu o livro “Umbanda: mitos e realidades”. Neste título encontramos a forma pela qual Iassan pratica a Umbanda, alguns dos seus textos são psicografados, que falam fundo à alma do umbandista. Também Alexandre Cumino, sacerdote de Umbanda, tem sido um importante marco na literatura umbandista. Com Rubens Saraceni aprendeu a Teologia de Umbanda Sagrada, o Sacerdócio de Umbanda Sagrada e iniciou-se em mais de vinte graus de
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Rubens Saraceni Magia Divina. Acompanha de perto o trabalho literário, sacerdotal, mediúnico e magístico de seu Mestre e Pai Espiritual, que o preparou e instruiu como ministrante em cursos livres voltados à religião e à magia. Criou, em 2004, o Colégio de Umbanda Sagrada Pena Branca, no qual ministra os cursos de: Teologia de Umbanda Sagrada, Desenvolvimento Mediúnico, Sacerdócio de Umbanda Sagrada, Magia do Fogo, Magia das Pedras, História das Religiões, Deus e as Religiões e Bíblia para os Umbandistas, além das práticas espirituais de terreiro, por meio das quais desempenha sua missão, enquanto Sacerdote Umbandista. Publicou os títulos Deus, “Deuses” e Divindades em 2004, Deus, Deuses, Divindades e Anjos em 2008. Mais recentemente publicou História da Umbanda: Uma Religião Brasileira (2011). Como podemos concluir, ao longo destes quase noventa anos de literatura umbandista, muitos foram os marcos que os autores foram deixando na religião e nos próprios umbandistas. Ainda que com opiniões diversas e distintas sobre o que a Umbanda deveria ser, a verdade é que todos eles com o seu contributo �izeram da Umbanda o que ela é hoje: uma religião com uma identidade própria, com fundamentos bem de�inidos! A literatura umbandista contribuiu assim para que o conhecimento da religião pudesse chegar a todos e que todos pudessem compreender a importância de poder explicar a quem procurasse a Umbanda os fundamentos da religião que praticavam, de uma forma aberta, espontânea, credível; contribuiu para que todos pudessem compreender a importância do conhecimento enquanto gerador de uma consciência maior sobre o que a espiritualidade deve realmente ser! Fontes:
- CUMINO, Alexandre. “História da Umbanda: Uma Religião Brasileira”, 2011 -http://www.ippb.org.br/textos/especiais/mythos-ed itora/o-espiritualismo-de-rubens-saraceni -http://www.ftu.edu.br/ -MATTA E SILVA, W.W. Da. “Umbanda De Todos Nós”, 1956
Bernardo Cruz Vânia Vilas Boas
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O convidado escreve
“Umbanda – A Religião dos Mistérios Espirituais”
No ano de 2014 me empenhei em uma tarefa especial, entre alunos, amigos, seguidores, sempre ouvi algumas reclamações sobre a complexidade de algumas obras que dissertavam sobre a Umbanda. A Umbanda em si, quando se é buscado seus mistérios mais elevados, sem sombra de duvidas que se mostra uma religião complexa e muito bem estruturada. Porém, para que se tenha a base de entendimento para os níveis mais elevados, é necessário que se tenha um completo entendimento de base da religião de Umbanda. Devido a isso, resolvi ouvir os pedidos e me dediquei a escrita de um livro que falasse da Umbanda, em seus conceitos mais básicos da ritualística e liturgia, de forma simples, fácil, acessível a leitura de qualquer pessoa, seja a recém chegada na religião, seja a que já caminha há alguns anos. Dessa preocupação nasceu “Umbanda – A Religião dos Mistérios Espirituais”, um livro onde procurei da forma mais simples, fácil e principalmente prática, falar da religião e ensinar alguns elementos do dia a dia que podem nos ajudar a compreender e atuar com a Umbanda em nossas vidas, como por exemplo, lista de banhos, defumações e ervas que podem atuar em nossas vidas e como podem fazer isso; oferendas e quais elementos utilizar, um pouco sobre cada Orixá, en im, um manual completo, porém, de fácil entendimento para todos. Deixo com vocês um trecho do livro,
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onde falo um pouquinho sobre Xangô. Xangô Há muitos e muitos anos atrás, do outro lado do oceano Atlântico, num país chamado Nigéria, havia uma cidade, um vilarejo chamado Oyó, neste vilarejo se cultuava uma divindade, um Orixá, seu nome era Xangô. Xangô sempre tido como um Rei, autoridade do panteão africano. Xangô é indivisível, irremovível, pesado, forte, integro suas lendas sempre se percebe sua autoridade, sua igura é a igura da determinação, mas nunca autoridade desmedida. É o Orixá da decisão sábia, pensada, medida, a balança sobre o bem e o mal. Conhecido como Deus do raio e do trovão, na África antiga, quando uma casa era atingida por um trovão ou um raio, os moradores deveriam pagar oferendas a Xangô, pois ali havia débitos com o Pai, e nos escombros da casa, os sacerdotes reviravam em busca de pedras quentes formadas pelo raio, pois ali estava a força e o axé de Xangô, já apresentando o que entendemos como Otá. Xangô carrega sempre consigo seu símbolo máximo, o Oxé, um machado de duas lâminas, dois cortes em sentidos opostos. O Trono Masculino da Justiça jamais poderia olhar só para um lado, tomar as decisões sempre propensas voltadas ao mesmo interesse, por isso é seu símbolo máximo como patrono da justiça, pois nas contendas pode sempre
pender para qualquer um dos lados, com liberdade, independência, com total abrangência de justiça. Xangô é o polo masculino da irradiação da Justiça, fazendo par com nossa mãe Oro Iná, e sua irradiação nos dá equilíbrio e é literalmente a energia que equilibra tudo no universo, desde nossa evolução a nossos sentimentos. Equilíbrio é a palavra de ordem que devemos ter para Xangô, pois muitos o denominam como a justiça. Porém, seu campo é o equilíbrio não pende para nenhum dos lados. Sua saudação é “Kaô Kabecilê” e seu símbolo é o “Oxé” o machado duplo.
Felipe Campos
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Jornal Umbandista Português
006 020
Iansã
Uma Lenda
Iansã usava os seus encantos e sedução para adquirir poder. Por isso conquistou vários homens, recebendo deles sempre algum presente. Com Ogum, casou-se e teve nove �ilhos, adquirindo o direito de usar a espada em sua defesa e dos demais. Com Oxaguiã, adquiriu o direito de usar o escudo, para proteger-se dos inimigos. Com Exu, adquiriu os direitos de usar o poder do fogo e da magia, para realizar os seus desejos e os dos seus protegidos. Com Oxóssi, adquiriu o saber da caça, para suprir-se de carne e a seus �ilhos. Aprimorou os ensinamentos que ganhou de Exu e usou de sua magia para transformar-se em búfalo, quando ia em defesa dos seus �ilhos. Com Logum Edé, adquiriu o direito de pescar e tirar dos rios e cachoeiras os frutos de água para a sua sobrevivência e de seus �ilhos. Com Obaluaê, Iansã tentou insinuar-se, porém, em vão. Dele nada conseguiu. Ao �inal de suas conquistas e aquisições, Iansã partiu para o reino de Xangô, envolvendo-o, apaixonando-se e vivendo com ele para a vida toda. Com Xangô, adquiriu o poder do encantamento, o posto da justiça e o domínio dos raios. in Mitologia dos Orixás, Reginaldo Prandi (Lenda 165) Esta lenda de Iansã retrata-a como Orixá dos ventos, das tempestades e dos raios, os quais teria adquirido domínio através de Xangô. Porém, a energia de Iansã, considerada a emanação de Deus, traz elementos também de outros Orixás pois sendo Ela a liberdade que não se pode aprisionar, o vento que se movimenta em todas as direções, em muitas www.umbanda.pt
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lendas surge relacionada com todos os outros Orixás, atuando nos seus domínios. Atua nas matas de Oxóssi, enquanto vento ou brisa, levando as sementes que originarão novas plantas, novos frutos nas plantações; atua nos domínios de Oxum e Yemanjá, enquanto vento que sopra sobre os rios e oceanos, contribuindo para a renovação das suas águas, através do processo de evaporação e formação das chuvas! A energia de Iansã, através da força da tempestade, estende-se sobre todos os domínios da Terra, destruindo o velho, criando o novo ou a oportunidade da renovação, da reconstrução e mesmo do equilíbrio. É a sua força permitindo que se cumpram no plano material as Lei e Justiça divinas (Ogum e Xangô). Iansã é também a energia que transporta e conduz os espíritos/almas, após o desencarne e sua receção por Omulu para os locais de acordo com o merecimento. Por isso é chamada de “Senhora dos Eguns”. Representa também a energia da força de vontade e determinação, que orienta os nossos pensamentos e sentimentos como a Fé, o Amor, a coragem, essenciais para a concretização dos sonhos e da magia. É uma energia protetora; é a mãe guerreira que sempre vem em defesa dos seus �ilhos! São os seus raios a luz que ilumina a nossa escuridão interior; é a sua Espada que nos ajuda a dominar os nossos vícios, através da luta pessoal, do aperfeiçoamento e renovação interior, mostrando-nos, assim, o verdadeiro caminho para a evolução espiritual! Mary Nogueira
Tributo
Tributo a Iansã Salve Mãe Iansã, Salve mãe amada, senhora do meu ori. Iansã, senhora dos ventos e tempestades, dona do tempo e do relâmpago, dominadora dos Eguns. Senhora da ventania, mas também da brisa suave que nos acalma a alma e deixa a borboleta voar docemente. Força da natureza, senhora da mudança, e através de ti o mundo avança e o homem aprende e cresce. Iansã, mãe protetora das horas di�íceis, dando sua mão e ajudando a levantar, tantas vezes quanto necessárias para nós crescermos e aprendermos a ser melhores seres humanos. Iansã, mãe guerreira que não desiste e nada teme. És a alegria e a gargalhada, és a tempestade em fúria. Mãe da minha alma e coração abençoa teus �ilhos, trazendo a determinação, o movimento e a mudança necessárias em nossas vidas. Salve minha mãe Iansã Contigo caminho sempre... Epahey Oiá Joana Cruz
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Dezembro | 2016
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Sem folha não há Orixá
Caros irmãos, nesta edição do nosso jornal “Fundamento” iremos abordar uma planta que todos já viram e passam muitas vezes por ela. Esta planta embeleza muitos dos nossos campos com uma cor que nos preenche a alma. Referimo-nos à Calêndula, também conhecida por Malmequer ou Maravilha-do-jardim. De nome cientí�ico Calendula of�icinalis L., esta planta remete-nos para o antigo Egipto onde se pensa ter tido a sua origem e tendo sido difundida por todo o mundo. O seu nome é derivado de uma palavra latina Calendae - que signi�ica "primeiro dia de cada mês", de onde surgiu igualmente a palavra calendário. Os egípcios acreditavam que a calêndula possuía propriedades de rejuvenescimento. Já os hindus utilizavam-na para o embelezamento dos seus altares e os persas e gregos decoravam os seus pratos com as suas pétalas douradas. Uma das histórias em torno desta planta diz que a menina que pisar descalça as suas pétalas começará a compreender a linguagem dos pássaros. Durante a guerra civil americana, era utilizada pelos médicos, em especial as folhas e �lores para tratar os ferimentos. As suas �lores abrem com o nascer do sol e fecham com o sol poente. Provavelmente por este motivo existe a crença popular de que se as �lores não abrirem até às 7h pode esperar-se um dia de chuva. Reza também a história que a calêndula traz
Calêndula
conforto ao coração e ao espirito. Segundo Barros e Napoleão (1999), a calêndula é uma planta de Oxum e representa os elementos água/feminino.
CARATERÍSTICAS: A calêndula é uma planta herbácea, anual e de pequeno porte, com cerca de 20 a 30cm. O seu caule é verde, as folhas inferiores são lanceoladas, aveludadas e com uma cor verde pálido. As suas �lores têm pétalas centrais tubulosas e periféricas lanceoladas, tendo até 5 cm de largura. CULTIVO: Trata-se de uma planta anual; se plantada no início de cada mês dá �lores o ano inteiro. Aprecia o clima ameno e pode ser cultivada em vasos, canteiros e até mesmo em espaços fechados, no entanto deve garantir-se a exposição ao sol pelo menos por 4 horas. Idealmente deve ser cultivada em terrenos com mistura de terra de jardim e terra vegetal, com exposição direta ao sol e regas frequentes. PARTES UTILIZADAS: folhas e �lores MEIOS DE UTILIZAÇÃO: • Interno: chá, culinária • Externo: cremes, banho, óleos
INDICAÇÕES TERAPEUTICAS: Esta planta é utilizada no tratamento de úlceras, gastrites, in�lamações do esôfago, disfunções na menopausa, gripe, escorbuto, icterícia,
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in�lamação dos olhos. Apresenta uma ação desintoxicante, antiespasmódica e excitante. Auxilia na remoção de líquido purulento das feridas, favorecendo a cicatrização de feridas e diminuindo os sinais de infeção. PROPRIEDADES TERAPEUTICAS: A calêndula é uma planta analgésica, antialérgica, antiespasmódica, bactericida, antisséptica adstringente, antiabortiva, antifúngica, antiemética, anti-in�lamatória, calmante, cicatrizante, protetora dos raios UVA e UVB, refrescante, reguladora da menstruação, toni�icante da pele e vasodilatadora. CONTRA INDICAÇÕES: Gravidez e aleitamento. Fontes:
http://ervascurativas.blogspot.pt/2011/04/cal endula.html http://www.jardineiro.net/plantas/calendula-c alendula-of�icinalis.html http://nplantas.com/calendula-a-planta/ http://www.tudosobreplantas.com.br/asp/plan tas/�icha.asp?id_planta=1~ BARROS; José Flávio Pessoa de; NAPOLEÃO, Eduardo; (1998); Ewé Òrìsà: Uso litúrgico e terapêutico dos vegetais nas casas de Candomblé Jêje-Nagô; Arte Line; Rio de Janeiro. Leonel Lusquinhos e Vanessa Inhauser
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