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Distribuição Gratuita | Nº 018
Mediunidade Porquê e para quê? Umbanda é Caridade? Os Deuses Guerreiros - o Culto Galaico-Lusitano Lançamento do livro
PEGASUS e o Cofre da Sensibilidade
Setembro | 2015
Índice
Palavra do Dirigente
Palavra do Dirigente
02
Reportagem «Pegasus e o Cofre da Sensibilidade de João Bettencourt»
02 03
Reportagem «Mediunidade - Porquê e para Quê?»
04 05
Reportagem «Umbanda é Caridade?»
06
O Convidado Escreve «Mãe Inês»
07
Sem folha não há Orixá «Medronheiro»
08
Saudações leitores irmãos, amigos e simpatizantes umbandistas!
A mediunidade foi o assunto central deste jornal, mediunidade considerada por muitos um dom, benção ou ainda uma maldição. Muitos adentram em Templos Umbandistas dizendo que têm o Dom da mediunidade, ou seja, um talento natural, como se tivessem sido moldados antes de virem para o plano material e nem sequer precisam de estudar ou conhecer mais, pois vieram já preparados do Astral. Mas também é chamada de maldição, pois há ainda muita gente descrevendo a missão mediúnica e passando a informação de que se não desenvolver sua mediunidade sua vida irá andar para trás, ainda mais do que estava antes de recorrer a uma seara espiritual pedindo ajuda. Por isso, por vezes, entram pessoas nos Templos dizendo: "-Disseram-me que sou médium e que preciso desenvolver, senão tudo irá correr mal em minha vida, e se minha vida já não está bem, o que será de mim se eu não desenvolver?". É verdade meus irmãos, infelizmente existe ainda muita gente empurrando as pessoas para o caminho da mediunidade ou de seus interesses pessoais através do medo. Agora posso vos dizer que, para mim, a mediunidade entrou em minha vida como uma benção, benção essa que veio me trazer respostas, onde fui me redescobrindo, onde desenvolvi a capacidade de sentir, amar, sentir o desejo de mudar o mundo para melhor e participar nessa missão de nossas entidades que adentram os Templos Umbandistas levando esperança, compreensão e paz a todos aqueles que os procuram em busca de ajuda. De�initivamente, a mediunidade é uma benção para aqueles que a servem e não para aqueles que se servem dela. Espero que gostem desta edição do jornal e que através dele consigam colmatar algumas dúvidas sobre Mediunidade. Que Deus nos abençoe!
Reportagem Ficha Técnica
Equipa técnica: Diretor do Jornal Cláudio Ferreira Diretor de Conteúdos Cláudio Ferreira Chefe de Redação Mary Nogueira Redação Cláudio Ferreira Bernardo Cruz Fernanda Moreira Filipe Ferreira Inês Garcia Leonel Lusquinhos Mary Nogueira Paulo Fernandes Vanessa Inhauser
Revisão Mary Nogueira Fernanda Moreira
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Pegasus e o Cofre da Sensibilidade de João Bettencourt
Fotografia Fernando Silva Edição Gráfica Bernardo Cruz Miguel Faria Contacto fundamento@atupo.com
A redação do Jornal Fundamento segue as normas do novo acordo ortográfico, salvaguardando as opções ortográficas dos autores convidados.
Pai Cláudio - Sacerdote de Umbanda Atupo - Templo de Umbanda Pai Oxalá
“Deus quer, o homem sonha, a obra nasce!” Fernando Pessoa
No passado dia 22 de julho, pelas 21:30, a ATUPO abriu as suas portas para a apresentação do livro
PEGASUS - O COFRE DA SENSIBILIDADE e posterior sessão de autógrafos com o seu autor João Bettencourt. Este evento cultural não foi o primeiro nem será com certeza o último a realizar-se na Casa. Porém, foi um momento particularmente especial, pois nas palavras do próprio autor: “a escrita nasceu quando comecei a frequentar este templo ao qual gosto de chamar Casa da Esperança”! (…) Foi com o vosso trabalho na Atupo que cresci. Vosso amor e caridade pura em conjunção com a energia dos Orixás, �izeram com que esta obra fosse possível. Por essa mesma razão, sintam que este livro, também, é vosso!” E foi com uma alegria espelhada nos olhos e a voz embargada pela emoção que João Bettencourt nos falou de todo o seu percurso até conseguir terminar a sua obra, percurso esse intrinsecamente ligado à ATUPO. Quando pisou o templo pela primeira vez, vinha carregado de dúvidas, alguma inquietação e até uma certa descon�iança, pois nunca tinha estado num templo de Umbanda.
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Mas depois de ouvidas as palavras do Guia e de ter aberto o seu coração, sentiu que tudo iria mudar à sua volta e que a capacidade
Reportagem
de realizar os seus sonhos residia somente nele, na sua força. Deixou-se levar por esse sentimento e o resultado foi não só a conquista de um grande amor, uma família e a realização de mais um sonho: o livro “Pegasus – o Cofre da sensibilidade”, um livro que se debruça sobre questões ligadas à espiritualidade; que nos fala, num tom intimista e muito pessoal, de uma viagem ao mais profundo do nosso ser, a busca que cada um deve fazer, para que encontre o Pégaso que dento de si mesmo e a chave que abre o cofre do coração! João Bettencourt terminou o seu discurso, seguido de uma sessão de autógrafos e agradecendo à ATUPO todo o apoio, todo o carinho que sempre recebeu, acrescentando que “ esta obra que vos apresento não é, somente, minha...é de todos vós! De vocês que se levantam com o compromisso de cumprir com uma missão
de caridade! Que tantas vezes são confrontados com as obrigações e densidade das rotinas diárias e que, ainda assim, entregam grande parte do vosso tempo à maravilhosa Umbanda. Aqui neste livro, está o tempo que vocês dedicaram e que fez com que esta alma se encontrasse com sua própria identidade…sua luz!” O nosso agradecimento a João Bettencourt e o nosso sincero desejo de que o seu livro se torne um best seller e que as pessoas que o lerem consigam perceber, e citando o autor, que “por vezes buscamos milagres nos acontecimentos externos, mas o maior milagre está dentro de nós!”
Mary Nogueira
Os Deuses Guerreiros – O culto galaico-lusitano Todos os povos da Antiguidade detinham no seu panteão de divindades deuses guerreiros. No panteão romano, encontramos Marte; na mitologia grega, Ares; no panteão nórdico, Odin; no panteão de Orixás africanos, Ogum! Não fora diferente entre os galaicolusitanos, que detinham os seus deuses, crenças e tradições. Estes cultuavam diversos deuses guerreiros, sendo o mais importante deles todos ARENCIO, ou Ares, como lhe chamavam os gregos. Este era o deus da guerra e um dos mais importantes do culto galaico lusitano. Outra divindade cultuada era CORONU, ligado à guerra, à morte e ao submundo. Frequentemente estes dois deuses eram representados por cavalos. BANDABRIALEACUS, que era a divindade da educação guerreira, era também muito cultuado, principalmente pelos jovens guerreiros que faziam a sua preparação militar.
Apesar de pací�icos, como referia Tito Livio, as tribos vivam constantemente acossadas, pois eram povos bélicos. Tal como em muitas culturas, o sangue, que era símbolo de vida e vitalidade, em tempos de guerra corria nas veias e era costume das tradições religiosas fazeremse sacri�ícios de prisioneiros aos deuses guerreiros. Além disso, sacri�icava-se também os cavalos e bodes, dado serem animais de grande valor. De se referir que apenas se sacri�icavam os guerreiros de maior valor e que mais se distinguiram em combate, pois a sua vitalidade e força
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iria agradar aos deuses guerreiros. Os galaico- lusitanos, apesar de terem sido considerados por Estrabão como povos ateus por não terem templos feitos de pedra, uma vez que cultuavam os deuses nos locais da natureza, matas, rios, caminhos, tal como os Orixás da nossa umbanda são cultuados, eram povos muito religiosos, e toda a sua vida girava volta das suas crenças. Quando iam para a guerra, para saber se esta iria ser bem sucedida ou não, eles perguntavam aos oráculos, que muitas vezes eram observados, através do comportamento das aves, ou da abertura das entranhas de animais sagrados, como os bodes e cavalos.
vezes com sangue, pois era símbolo destes valores; e por ARENCIA, também ela uma divindade guerreira que representava a alegria da vitória bélica sobre os inimigos. Todo o guerreiro passava por uma preparação �ísica, mental e espiritual, sendo preparado nesta vida para a próxima, nunca tendo medo de morrer pela sua causa. Nesta situação, podemos fazer a ligação ao culto de Ogum, cultuado na nossa umbanda como Orixá guerreiro, em que a sua energia é impulsionadora, que nos faz andar sempre em frente, transformando o nosso medo em coragem, as nossas fraquezas em força, ajudando-nos a desbravar caminhos entre as várias etapas da vida. Ogum, na sua energia, tal como os antigos deuses galaico-lusitanos, ensina-nos a andar no começo da vida, conduznos na luta da mesma e leva-nos às grandes vitórias, que são as conquistas que nos permitem evoluir como seres humanos e espirituais que somos! O vermelho, símbolo força, vitalidade e cor do sangue, que muitas vezes foi derramado pelos guerreiros galaico- lusitanos, é a sua cor! Se formos ao amago da questão, por mais voltas que dermos, vamos sempre encontrar entre todas as religiões e cultos, antigos e atuais, algo que os liga, que os une, mudando-se apenas a forma de culto e como entendemos as energias e a sua atuação, porém sempre com um mesmo objetivo de evoluir e ajudar-nos a entender um bocadinho mais desta magia que é viver!
O processo do culto guerreiro estava representado em três divindades principais: o da educação militar, por BANDABRIALEACUS, que representa a sabedoria bélica e tudo que é necessário se aprender entre a ligação �ísica e espiritual; depois por ARENCIO, divindade da força, virilidade, belacidade, e louvado muitas
Bibliogra�ia: http://despertadoteusono.blogspot.pt/2012/01 /ritos-iniciaticos-galaicos-cacaria.html http://revvane.com.sapo.pt/panteaodeus.html http://historiaportugal.blogspot.pt/2008/02/quem-eram-os-lusitanos.html
Filipe Ferreira www.atupo.com
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Mediunidade - Porquê e Para Quê? “Levanta-te e anda!" uma das mais famosas frases proferidas por Jesus numa das passagens mais extraordinárias do Novo Testamento, em que Ele cura um paralítico em Cafarnaum ( relato em Mateus 9:1-8, Marcos 2:1-12 e Lucas 5:17-26). Este é apenas um dos vários “milagres” realizados por Jesus na sua passagem na Terra, tendo sido considerado por muitos como o médium de Deus. Há registo de que a faculdade mediúnica existe desde o surgimento do homem na Terra, pois é algo inerente à condição humana. Desde a Antiga Grécia, com as pitonisas de Delfos, que emitiam oráculos, até à Idade Média, com Joana d’Arc que fora acusada de bruxaria e queimada viva na fogueira, desde o conceito de carma no budismo, reforçando a ideia de ligação com vidas anteriores, ao culto dos Voduns trazido de Benin pelos escravos para o Brasil, ao longo da história da humanidade, encontramos vários registos de pessoas dotadas de uma sensibilidade extraordinária, capazes de realizar fenómenos mediúnicos. Fora Allan Kardec na sua obra “ O Livro dos Médiuns”, no século XIX, a designar, pela primeira vez, essas capacidades extrassensoriais com o termo mediunidade, uma derivação do vocábulo médium que signi�ica meio. O conceito de mediunidade passou assim a signi�icar a ligação com o mundo dos espíritos, através de diferentes faculdades.
lidade inerente ao homem que o leva a entrar em contacto com aspetos ainda incompreendidos e desconhecidos ligados muitas vezes ao seu inconsciente, devendo por isso estar desligado da religião. Não obstante, uma questão se coloca: se assim é, se a mediunidade é condição inerente ao homem, será que qualquer um de nós seria capaz de devolver à vida um ser humano como fez Jesus? É facto inegável que a mediunidade coloca o ser humano frente a frente com a sua verdadeira essência, trazendo-lhe autoconhecimento e desenvolvimento pessoal e espiritual. E o que leva o homem a procurar a religião senão a necessidade de um desenvolvimento e crescimento espiritual?
A Umbanda é uma religião que trabalha com e para o desenvolvimento da mediunidade. O principal objetivo desse processo está intrinsecamente ligado ao autoconhecimento e a uma evolução espiritual que nos permita tornarmo-nos seres mais equilibrados, mais dignos, mais verdadeiros e, acima de tudo, mais uteis ao próximo, capazes de contribuirmos para que o mundo em que vivemos seja um mundo mais justo e melhor para todos. Ela existe na Umbanda como um meio de nos doarmos, de nos entregarmos a um bem maior que passa pelo amor ao próximo, pela vontade de estendermos a mão a quem precisa, de auxiliarmos os enfermos, de partilharmos o que temos com quem não tem.
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Desde a clarividência à clariaudiência, da psicogra�ia à psicofonia, da mediunidade de intuição à mediunidade de incorporação, tudo passou a fazer parte do mesmo conceito. Esse conjunto de fenómenos que, numa visão religiosa, resultam da in�luência dos espíritos é explicado à luz da ciência, como uma sensibiwww.umbanda.pt
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Ao desenvolvê-la, estamos dessa forma a ativar em nós o nosso aspeto mais divino, aspeto esse que muitas vezes pomos de lado devido ao nosso ego, às amarguras e desilusões da vida. Estamos a munirmo-nos das ferramentas necessárias para podermos fazer a nossa reforma íntima, livrando-nos de tudo aquilo que nos impede de evoluirmos enquanto seres espirituais do egoísmo, da maledicência, da inveja. Através da mediunidade é criada a oportunidade de o médium equilibrar a sua energia com a da entidade, ligando-se assim com o Divino que existe dentro dele, permitindo-o renovar o seu interior e capacitar-se de um sentimento de entrega e de amor para doar à pessoa que vem pedir amparo. O contacto com
mentos negativos, que só se conseguem através de uma boa conduta diária, de valores e atitudes humanitárias, baseadas no amor verdadeiro, na sinceridade, na verdade. O exercício da atividade mediúnica exige seriedade, honestidade e responsabilidade, pois inerente ao desenvolvimento e uso da mediunidade, existem vários perigos. Os desequilíbrios emocionais ou psicológicos e a falta de uma reforma íntima constante poderão conduzir o médium a um caminho dominado pela vaidade, o orgulho e a ambição, passando este a vibrar frequências negativas antagónicas às das Entidades que o acompanham e protegem. A “cegueira” causada pelo orgulho e pela falta de valores e princípios elevados leva ao afastamento do médium dos seus Protetores e deixa-o exposto à in�luência de espíritos menos evoluídos e de baixa vibração. São inúmeros os casos de médiuns que se perderam na sua caminhada, transformando as suas faculdades mediúnicas num comércio, em instrumentos de manipulação do próximo e que se desviaram totalmente da o mundo espiritual, através do desenvolviluz da espiritualidade. mento da mediunidade possibilita assim a É fundamental compreender que as transformação necessária ao nosso crescifaculdades mediúnicas não são um dom nem mento espiritual. E assim, mais uma vez, como tudo no universo, existe uma troca. Ao auxiliarmos um irmão, estamos ao mesmo tempo a ajudarmo-nos. Estamos a reforçar a nossa Fé no divino e em nós mesmos, aumentando a nossa intuição, a nossa autocon�iança, a nossa força interior… Num ato mediúnico, seja de incorporação ou outra forma de manifestação da mediunidade, é necessário que o médium consiga entrar em sintonia com a vibração de uma Entidade de Luz. Mas esse equilíbrio só é conseguido através de uma entrega absoluta, desprovida de vaidade ou qualquer outro tipo de senti-
tornam ninguém melhor ou superior aos restantes seres humanos. A mediunidade é uma dádiva divina que constitui apenas mais uma ferramenta para nos ajudar a crescer e a evoluir, através do auxílio ao próximo, pois a caridade genuína continua a ser o melhor caminho para crescermos em amor e estarmos mais próximos de Deus. Mas, ao mesmo tempo em que não é um dom, com certeza é uma responsabilidade, devendo o médium fazer bom uso da sua faculdade. Se a mediunidade é um instrumento, uma ferramenta, cabe a cada médium utilizá-la com muita fé, amor e responsabilidade. Mary Nogueira e Bernardo Cruz
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Reportagem
Umbanda é Caridade?
É frequente ler-se ou ouvir-se as expressões “Umbanda é Paz, Amor e Caridade” ou “Umbanda é a manifestação do Espírito para a Caridade”, como de�inição do que é Umbanda. Naturalmente, a Umbanda é tudo isso, mas também se sabe que estas expressões não a de�inem na totalidade, nem fundamentam todos os seus princípios e valores. Ainda assim, é elementar para o que se entende por Umbanda que a prática da Caridade seja intrínseca e indissociável da umbandista, quer pelo trabalho desenvolvido pelas Casas através da ação ou palavra das entidades que nelas se manifestam, quer pela conduta e ações diárias dos médiuns que nelas trabalham. Se entendemos que à prática da Caridade está subjacente um sentimento e principalmente uma ação verdadeiramente altruístas, direcionados à ajuda e bene�ício do outro ou do próximo, sem mínima expetativa de qualquer forma de grati�icação e/ou bene�ício próprio, então, não obstante as diferentes raízes ritualísticas ou liturgias de cada a casa, o cariz assistencialista da Umbanda manifesta claramente, nos seus trabalhos, o exercício da Caridade como fator prioritário. Sendo a Umbanda uma religião que, embora ainda jovem, já é o�icial e legalmente reconhecida como tal na maioria dos lugares ou Países para onde proliferou e, partindo do princípio que o verdadeiro propósito de qualquer religião é (ou deveria ser) servir e apoiar a sociedade e as suas comunidades, a Umbanda contém ainda uma outra característica peculiar; ao invés de tentar impor dogmas, procura adaptar-se e moldar-se às necessidades especí�icas da comunidade onde está inserida, em conformidade com o seu www.umbanda.pt
contexto social e cultural. Por esse motivo, a Umbanda pode, e deve, fazer mais do que se limitar ao assistencialismo encontrado dentro dos seus templos em seus trabalhos espirituais. Pode estender os seus braços para além dos limites de suas paredes e abraçar a sua comunidade, procurando conhecer, apoiar e interagir na procura ativa de soluções para as suas necessidades especí�icas ou di�iculdades materiais e sociais. Há certamente inúmeras ideias para ações ou atividades que fomentem esta interação. Um excelente exemplo prático passa pelo trabalho de apoio social de atribuição e distribuição de cestas básicas alimentares a famílias carenciadas, que podem inclusivamente contar com a colaboração de elementos dessa mesma comunidade, em regime de voluntariado, para o desenvolvimento desse trabalho. Dessa forma, é possível estabelecer uma relação de maior proximidade com a comunidade através da interação com os elementos voluntários, externos à corrente espiritual, que ao contribuírem com a doação do seu tempo, tornam possível o mais fácil acesso e proximidade à restante comunidade, nomeadamente a mais carenciada. E é neste contexto que surge a questão que intitula este artigo; Umbanda é Caridade? Sim, sem dúvida! Se vista no seu âmbito assistencialista. Até porque o exercício da Caridade passa por uma ação direcionada a um auxílio que é prestado para um determinado �im, num determinado contexto e momento, mas não está necessariamente implícita a sua continuidade. Sendo a Umbanda comummente vista pelos seus utentes como um “Pronto-Socorro”, é provável que alguns não retornem, mesmo que tenham
encontrado a resolução ou solução para as questões emergentes que os levaram a socorrer-se da Umbanda. Ou seja, a Caridade foi exercida de forma direcionada e como serviu o seu propósito, �indou ali a sua ação. Podemos entender o exercício da Caridade como atos pontuais e isolados. Já no contexto do desenvolvimento de um trabalho de apoio social, que, por exemplo, passe pela eventual atribuição e/ou distribuição de cestas básicas alimentares a famílias carenciadas, estaremos perante um cenário diferente, pois já não se veri�ica um assistencialismo pontual, visto tratar-se, normalmente, de um trabalho de campo que exige uma ação continuada de acompanhamento a essas mesmas famílias. Mesmo especulando a possibilidade de, em alguns casos, este género de apoio se veri�icar como temporário, existirá do mesmo modo um acompanhamento contínuo, direcionado à mesma problemática, enquanto durar o apoio. Assim, por esta pequena, mas signi�icativa, diferença no procedimento de auxílio ao próximo, tecnicamente não estaremos perante o exercício de Caridade. Esta forma de proceder chama-se Solidariedade! Talvez não seja totalmente descabido de�inir a Solidariedade como um exercício contínuo de Caridade. Então, de�initivamente, Umbanda é Caridade!... Mas não só, é também Solidariedade! E, felizmente, constata-se que a Solidariedade é já uma prática recorrente em bastantes Casas do Universo Umbandista. Porque não em todas?
Paulo Fernandes
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O convidado escreve
Os ensinamentos vêm muitas vezes em nossas vidas em forma de histórias contadas pelas entidades ou de testemunhos de médiuns, para que possamos re�letir sobre a nossa Caminhada e evolução espiritual. Esta história, cedida por Mãe Inês Garcia, da Instituição de Caridade Pedra Preta, vem nos lembrar que ter Fé é saber ter paciência e esperar o tempo de Deus!
“É comum dentro dos templos de Umbanda e em qualquer religião, as pessoas serem testadas em sua fé e mais comum ainda essas mesmas pessoas só acreditarem naquilo que é palpável. Na nossa Casa, "Instituição de Caridade Pedra Preta" , não é diferente. Todos os anos, próximo à comemoração do dia de São Cosme e Damião, o mentor espiritual Caboclo Pedra Preta pede um determinado trabalho para que todos os �ilhos recebam aquilo que lhes é de merecimento, testando assim a fé de cada um. No ano de 2013, Seu Pedra Preta pediu que cada �ilho da casa estourasse pipoca com azeite de dendê e azeite de Oliva, fazendo os seus pedidos enquanto colocavam essas pipocas num �io de cordone, onde a obrigação seria de 7 �ios de 7 metros para cada médium. Esses �ios seriam colocados no teto do Templo um mês antes da Festa de Cosme e Damião e retirados no último trabalho do ano na festa da Mãe Iemanjá, onde
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cada um receberia aquilo que tivesse pedido com mais fé. Todos os �ilhos �izeram seus pedidos e muitos conseguiram a sua realização. Porém, o que mais se destacou foi o de um casal de �ilhos do seu Pedra Preta, que já estavam casados há dez anos
e não conseguiam gerar um �ilho. Já tinham feito vários tratamentos e até duas inseminações, sem nenhum êxito. Eles estavam na casa há mais ou menos dois anos, quando vieram falar comigo, mãe Inês, sobre a vontade de gerar um �ilho. Pedi para que iniciassem o tratamento espiritual junto, cirurgias espirituais e, por �im, que �izessem as pipocas com fervor, pois com a ajuda das entidades e a benção dos Orixás, eles iriam realizar o grande desejo. Assim �izeram. Porém, logo veio a ansiedade depois da colocação das pipocas e da festa de Cosme, pois acharam que já iriam receber a graça.
Mas isso não aconteceu. Passaram-se os quatro meses desse trabalho e nada. Eles resolveram então marcar para janeiro uma nova inseminação, mesmo eu dizendo que tudo só iria se concluir na entrega da mesma e no tempo de Deus O trabalho de entrega foi marcado na segunda semana de dezembro. O casal, mesmo sem muito ânimo conclui a entrega, como foi pedido pelo Caboclo Pedra Preta. Duas semanas depois da entrega, ela foi fazer os exames de preparo para o procedimento de inseminação. Grande foi sua surpresa, quando o médico disse a eles que não entendia o que havia acontecido, pois ela já estava grávida de 3 semanas. Por isso, mesmo que sua fé seja falha, nunca deixe de lutar e manter a esperança de que, quando você é merecedor, Deus coloca no seu caminho um �io de força, esperança e fé e realiza sua obra no tempo Dele não no nosso!”
Mãe Inês Garcia Instituição de Caridade Pedra Preta
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Medronheiro
Sem folha não há Orixá
Caros irmãos, nesta edição dedicaremos este espaço para aprofundar conhecimentos sobre o Medronheiro, cuja designação em Latim é Arbutus unedo. Reza a lenda:” O diabo, que pensa que é mais esperto que toda a gente, fez um dia este pedido a Deus: - Tens tantas árvores, dá-me o medronheiro para mim! Deus disselhe:- Está bem, quando o medronheiro não tiver �lor nem fruto, vem cá e eu dou-to.” Até hoje o medronheiro é de Deus, porque ele tem sempre �lor, fruto ou ambos. Os romanos denominavam-no Arbutus unedo. Esta pequena árvore, muito frequente em Itália, era referenciada por Virgílio como arbustus na sua obra Eneida: "Apressam-se a entrançar os caniços de um esquife �lexível com ramos de medronheiro e de carvalho, erguendo um leito fúnebre sombreado de verdura" (ENEIDA, 11, 63-65). Plínio e os seus contemporâneos romanos designavam-na por unedo, de unum edo, que signi�ica comer um só, talvez devido à sensação de embriaguez que provocava comer muitos
frutos, sobretudo se já estivessem em processo de fermentação. Antigamente, na região do Algarve, o medronheiro era usado como combustível sob a forma de carvão, para a indústria de curtumes e sobretudo no fabrico de aguardente. Atualmente, a sua utilização ao nível económico e social centra-se na produção da aguardente de
medronho, principalmente nas zonas serranas do Algarve, nas serras do Caldeirão e de Monchique. Características: Arbusto ou árvore de folha perene; porte pequeno que vai dos 5 aos 10 m de altura, raramente atinge os 15 m. Possui copa oval e espessa. O tronco e os ramos são tortuosos. As suas folhas possuem forma lanceoladas, de 5-10 cm de comprimento, lustrosas e verdeescuras por cima, mais claras por baixo. A �loração ocorre de Outubro a Fevereiro. As suas �lores são hermafroditas, brancas com matizes verde ou rosa, em forma de cacho. O seu fruto é globoso e verrugoso, mede entre 15 a 20 mm, é primeiro verde passando por amarelo e tornando-se depois vermelho-escuro durante o amadurecimento que ocorre no Outono do ano seguinte.
Cultivo: O Medronheiro prefere solos frescos, soltos e profundos, podendo ser encontrada em solos rochosos. Habita dos 0 aos 800 m ou até 1200 m de altitude, sendo indiferente ao PH do solo, necessita de humidade, resistindo bem às geadas, e prosperando com relativa exposição marítima, tolerando poluição industrial. Vive para além de 200 anos. Partes utilizadas: folhas e frutos Indicações Terapêuticas: Infeções urinárias (cistites e uretrites), tratamento de diarreias e disenteria e para infeções da boca e da garganta, arteriosclerose, patologias do �ígado e rins. Propriedades Terapêuticas: Adstringente, anti-in�lamatório, antisséptico, depurativo, diurético. Contraindicações: mulheres grávidas, crianças menores de 12 anos e indivíduos com problemas de estômago Fontes: http://www.�lorestar.net/medronheiro/medro nheiro.html http://arvoresdeportugal.free.fr/IndexArboriu m/Ficha%20MedronheiroArbutusunedo.htm http://www.cienciaviva.pt/projectos/pulsar/se m9.asp http://www.drapc.minagricultura.pt/base/doc umentos/silvicultura_medronheiro.pdf https://sites.google.com/site/ctleiria/conceitos -nutricao/medronho http://www.uc.pt/�luc/nicif/Publicacoes/Edico es_PROSEPE/Edicoes_Didaticas/JFV/FV28.pdf Leonel Lusquinhos e Vanessa Inhauser
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