Jornal Fundamento_22

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Distribuição Gratuita | Nº 022

outubro 2017

As Linhas de Trabalho Umbanda em Portugal... que futuro? A Obra "Caridade: Amor e perversão"

de Alexandre Cumino e Rodrigo Queiroz

O mistério das Encruzas na Galécia


Outubro | 2017

Índice

Palavra do Dirigente

Palavra do Dirigente

02

Entrevista

03 04

«Entrevista com Mãe Laura Assis»

Doutrina

05 06

«O mistério das encruzilhadas na Galécia»

Cultura

07 08

O Convidado Escreve

09

Doutrina

10

Reportagem

11

Sem folha não há Orixá

12 13

«As linhas de trabalho»

A Obra: «CARIDADE: Amor e perversão»

«Individualidade e desenvolvimento espiritual»

«Humor de Santo com Paulo Mansur»

«Vamos a banhos»

Ficha Técnica

Equipa técnica: Diretor do Jornal Cláudio Ferreira Diretor de Conteúdos Cláudio Ferreira Chefe de Redação Mary Nogueira Redação Cláudio Ferreira Bernardo Cruz Fernanda Moreira Filipe Ferreira Júlia Pereira Leonel Lusquinhos Maria João Medeiros Mary Nogueira Paulo Fernandes Vanessa Inhauser Vânia Vilas Boas Vitorino Camelo

Revisão Mary Nogueira Fernanda Moreira Fotografia Fernando Silva Edição Gráfica Bernardo Cruz Miguel Faria

Umbanda em Portugal, que futuro? Saudações irmãos Umbandistas,

Nos últimos anos, tenho assistido um grande e crescente número de casas de Umbanda surgindo em Portugal. Adoraria �icar feliz com esse crescimento de nossa religião, porém, na verdade e em conversa com outros sacerdotes, o que mais cresce em nosso meio é a preocupação em relação a essa proliferação de Casas de Umbanda. E porquê essa preocupação? Vocês devem se estar a questionar. Tenho conversado com alguns sacerdotes, pais e mães espirituais, chefes de terreiros em Portugal, com tradição, com muito tempo na religião e ativos em seus terreiros, com seus fundamentos, legitimados e consagrados enquanto Sacerdotes, e a preocupação é mútua, pois temos visto surgirem pessoas e casas de Umbanda de uma maneira que não abona nada a favor para o bom nome da Umbanda. Passo a explicar: - pessoas da assistência que, ao �im de um tempo como assistentes, lembram-se de abrir uma casa de Umbanda e se intitulam médiuns, dirigentes, pais, zeladores e começam a receber pessoas em suas casas e a dar atendimento, sem passarem por um desenvolvimento num templo �idedigno, uma iniciação num templo, estudo, etc. - médiuns que saem de suas casas e que não chegaram a desenvolver sua mediunidade, totalmente despreparados e sem qualquer formação e que começam a abrir espaços de atendimento público onde, de repente, o seu desenvolvimento acontece em tempo recorde, logo depois que abandonam seus templos. - outros que vão ao Brasil e fazem Santo no Candomblé e voltam Pais de Santo de Umbanda e abrem casa em Portugal. A esses

quero recordar que eles são iaôs de Candomblé, ou seja, iniciados na religião de nossos irmãos da nação, que é bastante diferente da religião Umbanda e seus fundamentos. - e ainda os chamados bruxos, videntes, cartomantes e outros que têm em seus consultórios os congás de Umbanda, com imagens e se autointitulam de médiuns ou sacerdotes e que em alguns casos nunca trabalharam numa Casa de Umbanda; seus objetivos são unicamente com �ins comerciais, na maioria dos casos (nos acima referidos é exatamente igual), ou ainda movidos pelo Ego e pela vaidade. Podia enumerar outras situações que conversei com vários Sacerdotes de Umbanda que respeito muito e cuja preocupação é comum a todos: o elevado crescimento de espaços que usam o nome de nossa religião de maneira indigna e sem fundamento. O que será de nossa religião no futuro? Qual o legado que vamos deixar para os nossos �ilhos e para todos aqueles que encontraram na Umbanda um caminho? Que futuro poderá ter essa Umbanda onde eu encontrei amparo, amigos e irmãos, que me mostrou o caminho quando estava perdido, a verdade quando eu vivia ilusões ou simplesmente mostrou que viver era maravilhoso? Sacerdotes e Irmãos de Umbanda, podemos escolher entre estarmos em nossas Casas e continuarmos nosso trabalho ou nos unirmos e dizermos não aos falsos religiosos. Eu já �iz a minha escolha!

Pai Cláudio - Sacerdote de Umbanda Atupo - Templo de Umbanda Pai Oxalá

Contacto fundamento@atupo.com

A redação do Jornal Fundamento segue as normas do novo acordo ortográfico, salvaguardando as opções ortográficas dos autores convidados.

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022

Entrevista

Entrevista com Mãe Laura Assis

A Casa da Vovó Benedita, sita em Lisboa, é um dos vários templos de Umbanda existentes na capital do país. O Fundamento quis saber um pouco mais sobre os seus trabalhos e sobre a sua fundadora e dirigente, Mãe Laura Assis. 1 – Como foi o seu primeiro contacto com a Umbanda? Fale-nos um pouco sobre o seu percurso espiritual, como se tornou dirigente, a missão que se propôs com a criação da Casa da Vovó Benedita. R.: O primeiro contacto com o desconhecido, a meu ver, é sempre especial. Na Umbanda ou em qualquer religião chegamos pela dor ou pelo amor. Isto é ponto assente. Eu cheguei à Umbanda pela dor! Em Abril de 2004. “Laurinha, quarta feira vou levar-te a um lugar. Tenho a certeza que te vão ajudar. Não posso explicar-te onde, mas vou levar-te!” Estas foram as palavras da minha “tia” Rita depois de tanto me ver sofrer porque o sobrinho dela se separou de mim. Eu não sabia do que ela estava a falar, mas fui! Chegando lá, oiço tambores, vejo pessoas vestidas de branco, nem sei o que senti ou pensei. Lá dentro enquanto esperava o início dos trabalhos, uma mulher que eu não conhecia de lado nenhum olhou para mim, sorriu e disse: “Que engraçado, eu sabia que tu vinhas hoje!” Fiquei surpresa, pois… eu não a conhecia de lado nenhum. Perguntei à minha tia quem era: “Também não sei” respondeu ela. Começaram os trabalhos. Saudações estranhas, cânticos imperceptíveis e, de repente algumas pessoas começaram a “dançar”. “Que giro! Até ensaiaram uma coreogra�ia!” – pensei eu! Estavam a incorporar, mas eu não sabia. Enquanto tudo isto acontecia, as lágrimas caíam a rodos dos meus olhos… porque, a�inal, eu estava a sofrer. Como era a minha primeira vez, fui a primeira a entrar. A pessoas, a meu ver, estavam com posições e trejeitos estranhos… descon�iada eu entrei, a�inal queria ser ajudada. Tudo era estranho, mas por alguma razão eu me sentia bem naquele ambiente. Sentia-me em casa, no meio de estranhos. Depois de um monólogo, em que a pessoa falava de forma estranha (mais tarde descobri que

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estava incorporada e, na realidade quem estava a falar era uma Cabocla), lavaram me com as águas e pétalas de �lores de uma fonte que tinham lá dentro, atiraram baforadas de charuto para cima de mim, pegaram numa Espada de S. Jorge e passaram pelo meu corpo, riscaram a minha roupa com um “giz” branco. Quanto mais faziam mais eu me sentia leve. Quanto mais faziam mais eu me sentia bem. Quanto mais faziam mais eu me sentia “limpa”. Só não parava de chorar. Cada vez chorava mais. Naquele dia eu não percebi NADA do que aconteceu, mas quando voltámos para casa a minha tia perguntou: “Então meu amor, como te sentes?” “Bem. Mas sabes, tia? Eu não sei o que isto é, Mas eu quero isto para a minha vida!” E assim foi. Com problemas ou sem eles, mesmo sem saber “o que era aquilo”, eu ia, eu frequentava. E eu sentia-me bem. A minha semana começava às quartas. A vida deixou de me permitir que continuasse a frequentar o “Templo Guaracy de Portugal”. Fui sendo levada aqui e ali para não perder o embalo desta “descoberta” maravilhosa. Sentindo mais a�inidade com umas linhas, menos com outras mas, sempre com vontade de ir mais além. Saber mais. Descobrir mais. Viver mais. A “Casa Ketô” e o Pai Luis de Ogum surgiram na minha vida como a “grande rampa de lançamento” em 2007! Uma Casa pequena, de valores essenciais e puros que me ensinou sobre a simplicidade e a genuinidade das coisas. A minha primeira Casa. Admiração total pelo meu Pai, admiração total pelos Guias, admiração total pelo trabalho dos Cambones, admiração total. Foi na Casa Ketô que fui iniciada, baptizada. Foi na Casa Ketô que senti pela primeira vez a energia da Vovó Benedita, do Caboclo Rompe Mato, do meu Mestre Exú Marabô das Matas, mesmo sem saber quem “Eles” eram, na realidade. Infelizmente a Casa Ketô não vingou por muito tempo e em 2010 fechou as suas portas. Ainda nesse ano, já com a Umbanda a correr-me nas veias, encontrei o Terreiro de Umbanda Ogum Rompe Mato (na altura a sua designação era Casa Branca de Umbanda) e a Mãe Virginia de Nanã que, com a paciência característica de uma �ilha de Nanã, me acolheu e acorreu a todas as minhas dúvidas e revoltas… pois eu mesmo sentindo vontade de continuar, eu estava revoltada porque a minha Casa tinha fechado. Não com o Pai, não com os Guias, não com a Religião… mas estava revolta e queria respostas prontas para tudo. Queria explicações e questionava tudo. Nos tempos certos tudo me foi chegando, tudo me foi respondido e fui crescendo no Terreiro. Fui Cambone (admiro essa função!!) e quando menos esperava (porque eu não esperava) foi-me concedida a graça de “dar consultas”. Eu? Médium de Consulta?? Ainda que eu tivesse plena con�iança em todos os guias da Casa, eu não me considerava totalmente capaz de o fazer. Ainda assim, aceitei a benção. E foi com os meus Guias que mais evolui, mais cresci, mais

aprendi. Cada consulta era (e ainda é) um ensinamento! Em 2013 saí. Por indicação do meu Mestre Guardião Sr. Marabô das Matas. Assim como saíram as minhas irmãs Mãe Yolanda e Mãe Bruna. Cada uma com as suas indicações. A ligação era tão forte que decidimos abrir um Terreiro. Sim decidimos. Até abrir quase “torturámos” (força de expressão) os nossos Guias para termos a certeza de que esta não era uma vontade envaidecida. Para termos a certeza de que se tratava de uma missão individual, mas em conjunto. Terreiro de Umbanda Sagrada Luz de Aruanda surgiu em 2013. Fruto de uma união entre três irmãs. Fruto de muita entrega, muito estudo e muita dúvida também. Finalmente tinhamos percebido que a Umbanda pode ser diversi�icada sem perder o seu Fundamento. Aceitar a missão foi o mais di�ícil, pois cá dentro tudo se vira, tudo se questiona. “Seremos capazes? Eu não quero que me tratem por Mãe!” Graças à força das três em conjunto, e ao “cerco” montado pelos nossos Guias-Chefe, decidimos abrir uma porta. E 15 de Novembro de 2013 foi o dia escolhido. Não era uma Casa de ninguém… era uma Casa de todos. Para todos. Universal. Nesse conceito foi escolhido o nome e o dia da inauguração. Em Janeiro de 2016 foi o meu tempo. A Casa da Vovó Benedita de Angola surgiu em Abril de 2016, embora a Casa tivesse sido formada ainda dentro do Luz de Aruanda, mesmo que eu não soubesse disso. “Lá em cima trabalham sem darmos conta. Preparamos caminhos. Fechamos portas propositadamente para vos abrir outras.” Quando deixei o Luz de Aruanda pensei em parar. Viver o resto da vida sem essa “responsabilidade”. Descobri que era impossível “desistir” da Umbanda. Estava tão certa no meu Ser que Eu sou Umbanda. Saí do Luz de Aruanda com os meus caminhos todos abertos. Não saí sozinha. Os meus Guias abriram os caminhos e os meus Filhos carregaram-me ao colo. Todos aqueles que sentiam grande a�inidade comigo, com a minha forma de gerir, de orientar, de seguir a Umbanda, vieram comigo. Voluntariamente. Aí percebi. Vamos em frente. Temos a missão. Temos a vontade. Temos o conhecimento. Temos a Umbanda no sangue. Assim foi! Em 15 de Abril 2016 inaugurámos a Casa da Vovó Benedita de Angola. Uma Casa que é dos meus Filhos e das pessoas que nos visitam. Hoje, com apenas um ano e meio e depois de passar por algumas provas de fogo a Casa da Vovó existe. Dou graças aos Guias que me acompanham, sem dúvida! Mas dou graças também aos Filhos que Deus me deu. Beijo o chão que eles pisam, sim porque é sagrado, é fruto da união, é simples. A Casa da Vovó Benedita de Angola é o grande desa�io da minha vida! Sou Mãe não por ter escolhido os meus Filhos, mas porque eles me escolheram a mim. Assim é!

Continua

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que, vestida de branco, com guias no pescoço e de pé descalço, incorporo os valores dos Guias de Umbanda e, por breves e valiosos momentos deixo transbordar o que de melhor existe no meu Ser: a capacidade de amar o outro como a mim mesma. É aqui que aprendo mais e mais a Doar o meu corpo �ísico sem medo: isso é transformação, evolução. É aqui que amo e sou amada. É aqui que aprendo a levar esse sentimento e essa energia para fora daqui! Quem vê, sabe. Quem vive, sente... 6 – Que projetos tem para o futuro no que concerne ao crescimento da Casa?

2 – Como funciona a Casa da Vovó Benedita de Angola em termos de ritualística (linhas de trabalho, atendimento, Orixás)? R.: A Ritualística da nossa Casa é simples. Senti a�inidade com uma linha muito clara e libertadora (a meu ver desmisti�icou a própria religião): a Umbanda Sagrada, mais popularizada no Brasil por Rubens Saraceni e seus seguidores. As nossas linhas de trabalho principais são: Exus/Pomba Giras, Caboclos, Pretos Velhos, Erês. Como linhas secundárias trabalhamos também com Baianos, Marinheiros, Boiadeiros, Povo Cigano e Malandragem. O atendimento na Casa da Vovó Benedita é realizado à sexta-feira às 20h30 e é totalmente gratuito. À segunda-feira, também às 20h30 realizamos trabalhos diferentes todas as semanas, a saber: Passe energético e cura, doutrina, desenvolvimento mediúnico. Também abertos ao público. O dia de passe energético é também gratuito. (…) 3 – Enquanto dirigente espiritual, quais as suas principais preocupações na formação e desenvolvimento dos seus médiuns?

R.: O que mais me preocupa, na verdade é o desenvolvimento/evolução pessoal. A meu ver eu (mesmo como dirigente) não tenho o direito de incutir nada em ninguém. A responsabilidade, o amor pelo próximo, a humildade, a caridade desinteressada devem ser características do próprio médium quando assume uma caminhada espiritual. Quando o médium não tem essas capacidades deve manter o coração aberto e a mente aberta. Dia após dia. É importante para mim que saibam distinguir o bem do mal. É ainda mais importante que saibam o que é o Bem. É importante que percebam qual o real fundamento da Umbanda. Para mim é importante que acreditem essencialmente no verdadeiro Amor, sejam caridosos com quem nos procura, execercendo a tolerância. A Teoria, é importantíssima, sem dúvida e, tal como me aconteceu a mim a dúvida aparece, vai surgindo. É muito importante que conheçam a história da religião que praticam e a sua ritualística. Preocupam-me as questões humanas. O “sentir” não se ensina. O “Amar” não se impõe. A geniunidade

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das nossas acções vão para além da teoria ou da doutrina. Porém, a doutrina espiritual/Umbandista está incluida nas nossas actividades pelo facto de que não podemos praticar uma religião sem ter conhecimento sobre a mesma. O que se consegue do mundo astral é, antes de mais, fruto da bondade e do merecimento de cada um. A conduta reta e positiva deve ser intrínseca numa egrégora umbandista (que inclui como um todo os médiuns da Casa e os assistentes), para que os Guias e Protetores possam acordar no coração e no mental de cada um sementes de bondade, amor e caridade. A homogeneidade de pensamentos é instrumento de poder do ser humano, rumo à concretização de seus desejos, sendo fundamental que se apresentem límpidos e sinceros numa Casa da Umbanda. Citando o meu grande Mestre Sr. Exú Marabô das Matas: “Na minha casa não quero corpos, quero corações!” E que assim seja com a graça do nosso Pai Maior, Olorum! 4 – Além do projecto espiritual em que outros projetos culturais ou sociais a família da Casa da Vovó está envolvida?

R.: Legalmente ainda não (próximo passo!). No entanto, chegamos junto dos que nos procuram, com alimentos e roupas angariados para o efeito. A população mais próxima. Todos temos um vizinho, um amigo, um familiar que precisa de ajuda ou passa necessidades. A Casa da Vovó ainda está em fase embrionária e todos aqueles que vamos conseguindo ajudar para nós representam grandes vitórias. Fazemo-lo sem publicidade e o mais anonimamente possível. O objectivo maior é chegarmos a quem mais precisa de nós. Tudo o que pudermos fazer nós fazemos. Por enquanto é assim. 5 – Como de�iniria a “Umbanda” enquanto religião com base no seu conhecimento e na sua experiência?

R.: A Umbanda não é “só” Amor, Fé, Humildade e Caridade. Umbanda é SER. Umbanda é um estado de espírito. É Vida. É nectar. Umbanda é despir o fato de mergulho e entrar em contacto com a água. É aqui que tudo começa e acaba. É aqui que tudo gira. É aqui que me dou... é aqui que recebo. É aqui

R.: O nosso maior projeto é espalhar a Umbanda. Espalhar amor, conforto, harmonia. Parece fácil, dito desta forma. Mas julgo que de uma forma ou de outra é o desejo/projeto de todos nós, manter a Casa da Vovó Benedita de Angola uma casa pequena (na sua simplicidade) mas grandiosa na sua essência. Autónoma e forte perante os olhos de Deus e perante a sociedade. Não para �icar “bem vista” mas para ser vista como um porto de abrigo. Legalmente o próximo passo será instituí-la como organização espiritual e religiosa de caridade. 7 – Como vê a Umbanda em Portugal daqui a uns 20 anos?

R.: Como vejo… Esta é uma questão um pouco complicada de se responder. Tenho sonhos em relação a isso, porque sonho muito acordada! Gostaria de ver uma Umbanda Livre, uma Umbanda desinteressada, uma Umbanda em que de mãos dadas com o mundo crescesse. Não quero com isto dizer que desejaria que o mundo fosse todo Umbandista, pois faz-nos falta a diversidade de religiões e todos sabemos que a Umbanda é �ilha dessa diversidade. Em Portugal sou capaz de ver a Umbanda a progredir, cada vez mais. Resta-nos manter o espírito livre e saber desmisti�icá-la. É certo que as pessoas no geral ainda têm “medo” deste desconhecido mas, na minha opinião a responsabilidade de libertar os outros desse medo é nossa. Dos Umbandistas praticantes, dos que seguem, dos que pedem ajuda. Havendo respeito pelas crenças dos outros e humildade a Umbanda vai progredir sim! Cada vez mais vemos nos centros a chegarem pessoas novas... e mais interessante ainda é que voltam nas giras seguintes. No entanto, desmisti�icar, não é desvalorizar. Os “Ego Centros” de Umbanda atrapalham em muito esta progressão. As promessas descabidas, as cobranças, o medo que se institui em nome dos Orixás, da Umbanda e de outras religiões é assustador… de tal forma que eu já fui “dispensada” numa oportunidade de trabalho por ser Umbandista! Nós somos o ponto chave para a evolução e aceitação desta Religião. Vejo-a livre sim, mas para tal teremos muito trabalho pela frente. Muito Axé e gratidão imensa pela oportunidade! Que Oxalá nos abençoe hoje e para sempre! Mãe Laura Assis, 39 anos. Filha de Yansã com Xangô e Yemanjá, Mãe por natureza e amante da Umbanda.

Mary Nogueira www.atupo.com


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Doutrina

LINHAS DE TRABALHO DA UMBANDA

Toda a pessoa que chega à Umbanda, sem qualquer contacto ou conhecimento prévio da religião, depressa se depara com termos como Caboclos, Preto-velho, Baiano e se questiona… O que é isso? Como com certeza acontece na maioria dos terreiros, rapidamente alguém surge do lado pronto a esclarecer com um monte de explicações sobre os diferentes Guias da Umbanda, suas falanges, diferentes tipos de Giras e de trabalhos, cada um com a sua forma de atuação e que pertencem a diferentes Linhas de Trabalho. Aqui a confusão torna-se ainda maior… O que são Linhas de Trabalho? E qual a razão da sua existência? Da mesma forma que no mundo material necessitamos de sistemas de organização e orientação para que as coisas funcionem, também no plano espiritual existe a necessidade da criação de estruturas organizacionais bem de�inidas, onde cada espírito conhece o seu papel e função no in�indável trabalho de auxílio espiritual. Antes do anúncio da Umbanda pelo Caboclo das 7 Encruzilhadas, através do grande Zélio Fernandino de Moraes, nos �inais do século XIX e início do século XX, proliferavam nas grandes cidades como o Rio de Janeiro, diversos cultos com in�luências de matriz africana, indígena, espírita, cristã, resultantes da miscigenação racial e

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cultural característica do próprio povo Brasileiro. Estes cultos e rituais foram crescendo de forma desorganizada e caótica entre as classes sociais mais desfavorecidas, marcadas pelo sofrimento de séculos de escravatura e perseguição que viam di�icultado o seu acesso ao auxílio religioso e espiritual tanto no catolicismo como no espiritismo Kardecista que, por sua vez, se mostravam abertos apenas às elites e classes mais elevadas da sociedade. Estas enormes divergências sociais re�letiram-se inclusivamente no plano astral, levando à necessidade da criação de um novo culto/religião que trouxesse orientação, organização e fundamento à amalgama de terreiros, tendas e macumbas, separando “o trigo do joio” e abrindo também a possibilidade de milhares de espíritos desencarnados de índios (caboclos), escravos africanos e muitos outros trabalharem no auxílio espiritual e contribuírem para a evolução dos encarnados. Assim nascia a Umbanda, através de um simples Caboclo que com ele trouxe Boiadeiros, Pretos-velhos e Crianças, apregoando que as bênçãos divinas eram de todos e para todos. A Umbanda inicia a sua missão de reforma da herança religiosa do povo brasileiro através da ação das suas três primeiras linhas de trabalho: as Crianças, símbolo da pureza e inocência características da infân-

cia – a primeira idade do Homem; os Caboclos, representantes da força, jovialidade e vontade de viver do jovem adulto – segunda idade do Homem; os Pretos Velhos, símbolos de sabedoria, maturidade e humildade, conquistada apenas por aqueles que chegam à 3ª e última idade do Homem. A estas três, várias outras linhas se foram juntando, trazendo para a Umbanda grupos de espíritos, representantes de nichos/ classes sociais que quando encarnados viveram os �lagelos do preconceito, da marginalização e perseguição; de que são exemplos bem conhecidos a Linha dos Baianos ou a Linha do Povo Cigano; e que acompanhando a evolução e transformação da sociedade brasileira procuraram dar resposta às necessidades destes novos grupos sociais. Atualmente, para além das mencionadas anteriormente, encontramos na Umbanda linhas de trabalho compostas por Caboclos Boiadeiros, Marinheiros e as chamadas Entidades da Esquerda (Exu, Pomba-gira e Exu Mirim), para além de mais uma ou outra linha menos comuns, que não só enriquecem a religião com os seus conhecimentos e formas de atuação, como nos mostram a imensa capacidade de adaptação e evolução da Umbanda para cumprir o papel de servir aqueles que dela necessitam. Continua

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Compreendidas as razões históricas e sociais, outras questões se levantam… Mas porquê tantas linhas de trabalho, não bastava uma única? Os espíritos não têm a capacidade de assumir a forma que quiserem e apresentarem-se todos de uma forma mais semelhante e mais comum? Há necessidade de se manifestarem com jeitos estranhos de falar e agir, evidenciando as suas origens raciais, culturais ou regionais? É verdade que os espíritos evoluídos e conscientes, como são os Guias da Umbanda, têm a capacidade de se apresentar com a forma e personalidade espiritual que bem entenderem. O próprio Caboclo das Sete Encruzilhadas, no momento da anunciação da Umbanda, apresentou-se como índio brasileiro e simultaneamente como um padre Jesuíta – Gabriel Malagrida, mostrando que o espírito não tem raça, idade ou limites culturais e a sua evolução espiritual não se mede pela aparência que assume. Mas também aprendemos com os mestres espirituais que um espírito, para adentrar uma linha de trabalho, tem que necessariamente ter vivenciado o tipo de experiência existencial que essa mesma linha representa. Se um determinado espírito aceita a missão de trabalhar na linha de Pretos-velhos, por exemplo, é porque necessariamente viveu como negro escravo numa qualquer senzala ou alguma outra experiência de vida equivalente, em que foi sujeito a

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algum tipo de escravatura, que lhe proporcionou vivenciar determinadas experiências emocionais e mentais que lhe permitem vibrar a energia característica desse grupo de espíritos. Assim, aquela Baiana que desce no terreiro parecendo que irradia a alegria da Bahia inteira, talvez na realidade nunca tenha vivido no nordeste brasileiro, mas é um espírito que quando encarnado experienciou, com certeza, uma vida marcada pelas di�iculdades da luta do dia-a-dia, pelo preconceito dos que não compreendem a pobreza e simplicidade, pela persistência e capacidade de luta contra as adversidades da vida, ultrapassando essas provas com mérito su�iciente para conquistar o direito a prosseguir a sua evolução como obreiro do astral e adquirir a a�inidade energética necessária para ingressar na Linha de Trabalho do “Povo da Bahia”. E é aqui que a Umbanda mais uma vez brilha, como plano majestoso dos arquitetos do astral, que não só foi concebida a partir da fusão de diferentes crenças e culturas, que lhe conferiram um carater abrangente e quase universal, como ainda contém em si mesma uma imensa vertente pedagógica, através das suas linhas de trabalho e sua carga simbólica. Da forma mais simples que pode haver, a Umbanda coloca o homem branco, que outrora escravizou tanto o negro como o índio, recebendo o auxílio e escutando os conselhos do Caboclo e do

Preto-velho, tal como leva o indivíduo preconceituoso a se sentir deslumbrado pela alegria da cigana que baixa no terreiro ou o intolerante a chorar no ombro do embriagado marujo, ensinando que aos olhos de Deus somos todos irmãos, somos todos iguais, amenizando e sarando feridas causadas por ódios e rancores ancestrais, através de laços de amor criados entre Entidades e consulentes, que aos poucos se vão reconhecendo como irmãos espirituais. Existe melhor forma de resgatar a fé na magia e no sonho do que através de um Erê? Ensinar a simplicidade e o amor pela Natureza do que através da �igura de um Caboclo? Doutrinar a capacidade de perdoar e compreender a humildade do que pela �igura de um Preto-Velho? A Umbanda é uma religião muito jovem, quase recém-nascida, com muitos mistérios ainda por revelar e onde com certeza novas de linhas de trabalho surgirão. Mas é certo que as linhas de trabalho da Umbanda não são apenas o sistema organizacional encontrado pelos mentores do plano astral para a trazer ao plano material. Elas constituem uma das principais fontes de riqueza desta bela religião que é uma verdadeira jóia divina ou, como canta Carolina Nascimento, a “menina dos olhos de Deus”. Bernardo Cruz

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Cultura

O mistério das encruzilhadas na Galécia

Galécia e Lusitânia

O que é a encruzilhada? Que segredos esconde? Porque sempre foram as encruzilhadas locais de fascínio de várias civilizações? São estas e muitas outras questões que tentaremos abordar neste artigo. Faremos a ligação entre as encruzilhadas da antiga Galécia e as atuais, e o fascínio que elas ainda causam tanto em umbandistas como em católicos. Vamos descobrir os segredos que se escondem por detrás do ponto onde se cruzam vários caminhos. As encruzilhadas são especialmente escolhidas para a prática de rituais mágicos desde os tempos imemoriais. É um lugar de interseção por excelência, onde energias vindas de quatro direções diferentes se unem ou se expandem. Desde que há memória que sabemos que as encruzilhadas são associadas a locais de rituais de magia e espiritualidade. As lendas e os mitos relacionados com magias e encantamento nunca deixam estes lugares no anonimato. Existem diver-

sas lendas galaico-portuguesas que fazem referência a estes locais. Na antiga Galécia, como por muitos outros locais da Europa antiga, era nas encruzilhadas que os sacerdotes se concentravam para tomar as suas decisões e pedir igualmente por outros, pois era um local considerado de oportunidades, mudanças e transformações que levariam à evolução do individuo ou da comunidade. A encruza para os antigos Galaicos, que eram adoradores das forças e pontos da natureza, era sagrada e de enorme fascínio, e quando os romanos chegaram, e conquistaram esta área do Noroeste Peninsular, aos cultos galaicos eles juntaram os seus. Infelizmente os Galaicos não possuíam o conhecimento da escrita, por isso a sua língua nunca chegou até nós, e toda a informação que temos das suas tradições e cultos, chegam-nos de descrições romanas ou então dos inícios do cristianismo, vindo já deturpadas pelo medo que se tinha aos “antigos” deuses, que agora eram intitulados de demónios. Pensa-se que o deus galaico que estaria ligado às encruzilhadas, mas também aos montes; seria Crougiai, que os romanos mais tarde associaram a Mercúrio. Ora S. Martinho de Dume, em De correctione rusticorum, escreveu: “ Um outro demónio quis chamar-se Mercúrio, que foi o inventor dos roubos e das fraudes dolosas, a quem os homens cobiçosos, como se fosse ao deus lucro, oferecem sacri�ícios, ao passarem pelas encruzilhadas, lançando pedras e com elas formando montes.”

Noutra passagem, De correctione rusticorum, o santo dumiense refere-se às velas que se acendiam” junto às pedras”. Se S. Martinho de Dume escreveu no séc. VI d. C., refere-se todavia a práticas ancestrais que o Cristianismo ainda não conseguira eliminar. Apesar de esta informação já vir deturpada pela carga negativa dos inícios do cristianismo que nem aceitava, por exemplo, o acender de velas para a oração, �icamos contudo a saber que as pessoas ao passarem nas encruzilhadas atirariam pedras, que criariam montes em honra ao deus Crougiai/ Mercúrio e às entidades que lá habitavam. Devemos referir que o deus Mercúrio, a que São Martinho faz referência, não seria esse Mercúrio cheio de qualidades negativas, que lhe dava jeito referir naquele período (pois os deuses também teriam as suas qualidade positivas e negativas) mas um Mercúrio com qualidade de Hermes. Ou seja, Mercúrio Vesuco, o deus da fertilidade, dos rebanhos, da magia, da divinação, das estradas e viagens, entre outros atributos. Ao longo dos séculos, o seu mito foi extensamente ampliado, tornando-se o mensageiro dos deuses e patrono da ginástica, dos ladrões, dos diplomatas, dos comerciantes, da astronomia, da eloquência e de algumas formas de iniciação, além de ser o guia das almas dos mortos para o reino de Hades. Com a romanização, o culto a estes dois deuses vai-se misturando, pois eram da mesma energia e função, o que levou a que houvesse esta ligação de Crougiai a Mercúrio, porque o mesmo muitas vezes era chamado de Crougiai Vesuco. continua

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Mas nas encruzilhadas não viviam apenas entidades de energia masculina, tal e qual como na nossa umbanda, onde as pombagiras, tal como os exus, também têm o seu ponto de �irmeza. Não nos chegou o conhecimento de que os Galaicos cultuavam energias femininas nas encruzilhadas antes da chegada dos romanos. Porém, quando estes chegaram, trouxeram para a Península Ibérica e como tal para a Galécia o culto a Hecate. Culto este que teve grande aceitação pelos Galaicos. Eles colocavam nas encruzilhadas estátuas de Hecate, a deusa da magia, da noite, das sacerdotisas e dos infernos. Realizavam-se os rituais perante a estátua de Hecate, uma mulher com três faces (a virgem, a mãe e a senhora) que se cruzavam numa só, invocando-se os espíritos através de rituais mágicos. Esta deusa representava o domínio sobre o submundo infernal, a terra. Os rituais eram então praticados na encruzilhada, acreditando-se que esses poderes se encontravam e se

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uniam, formando dessa maneira um ponto de comunhão, criando uma energia que permitia a abertura de portais. Na terra, Hecate vagueava nas noites de Lua Cheia. Era também crença comum que nas encruzilhadas as almas penadas se concentravam para encontrar o seu caminho quando estavam demasiado confusos. Acreditava-se que estes espíritos estavam baralhados quando chegavam ao mundo espiritual e ali recorriam para encontrar a sua direção. Ali permaneciam indecisos, na encruzilhada, pensando que direção deveriam tomar para que rapidamente chegassem ao destino que mais desejavam. Os romanos tinham igualmente o culto aos deuses Lars Compitales e em locais de encruzamento (compita), porém intramuros, tinham a tradição de separar o mundo urbano (cidade dos vivos) do mundo extramuros, onde se situariam as necrópoles (cidade dos mortos), e na cidade dos vivos louvava-se esses deuses com sacri�ícios, pedindo-se proteção, sorte e fortuna. Em suma, houve, na antiga Galécia, um contínuo culto nas encruzilhadas que veio desde dos povos galaicos, sobreviveu e reforçou-se com os romanos, fazendo-se um culto às várias vertentes, que o Cristianismo tentou erradicar, como pudemos ver na referência a São Martinho de Dume. Os cristãos, na visão judaico cristã, começaram a demonizar estes locais de culto e reverência, como podemos observar nas escrituras sagradas, por exemplo, no livro de Ezequiel, onde é dado realce a estes locais: “Tu porém con�iaste demais na tua beleza(…) mas para cúmulo de todas as tuas maldades (…) construíste lugar de pecado nas encruzilhadas.” (Ezequiel 16, 1.25). Contudo, o fascínio por estes locais estava tão enraizado na mente e na memória espiritual dos povos que o cristianismo não conseguiu acabar com estes cultos, começando então a sacralizá-los, através da construção de cruzeiros, alminhas e capelas nesses locais. Esta

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sacralização do espaço da “cruze” passa então a ter o signi�icado de proteção para as pessoas que naquele local atravessassem, de forma a protegê-las das más energias que se pensava estarem naqueles pontos onde eram cultuados antigos deuses, vistos como demónios. Porém, de uma forma inconsciente, as pessoas continuavam a ativar em seu bene�ício e do próximo aquele ponto de força. Com a Umbanda, e de uma forma consciente, a força das encruzilhadas dentro da sua vibração positiva é resgatada. Através da energia desses locais e com o auxílio dos nossos Exus e Pombagiras, tentamos evoluir como seres �ísicos e espirituais, descarregando as energias negativas, criadas tantas vezes por nós, permitindo a transformação que irá nos ajudar a escolher o melhor caminho para a nosso aperfeiçoamento pessoal, dentro desta encruzilhada emocional que é o nosso mundo interior. Webgra�ia https://www.infopedia.pt/$encruzilhada http://www.deldebbio.com.br/2013/04/23/o-que-representam-as-encruzilhadas/ https://digitalis-dsp.uc.pt/bitstream/10316.2/37821/3/A%20religiao%20de%20Lusitanos%20e%20Calaicos .pdf http://consultoriodeastrologia.blogs.sapo.pt/1171480.html http://toponimialusitana.blogspot.pt/2005/10/o-culto-das-cruzes-encruzilhadas-ou.html

Filipe Ferreira www.atupo.com


Outubro | 2017

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O convidado escreve

A Obra “CARIDADE: Amor e Perversão”

A obra CARIDADE: Amor e Perversão é o resultado da inquietação de dois sacerdotes de Umbanda ao perceber que o conceito de caridade trazido de outras vertentes religiosas para o ambiente de terreiro é, senão, uma venda de indulgência moderna. Fora de seu sentido apurado, a caridade se torna moeda de troca, onde o ser mais caridoso é também o mais evoluído espiritualmente. Na Umbanda, o papel de executor da caridade �icará a encargo do médium que acredita ser esse agente “permitindo” a evolução dos guias por meio do trabalho mediúnico. Ao tocar nessa ferida, a obra passa a questionar a distorção de sentido da ação caritativa, mostrando que isso se faz de forma perversa, onde nesse contexto sistematizado a caridade sempre acontece para que alguém alcance algo. Num diálogo rico em historicidade e costurado em re�lexões éticas, Pai Alexandre Cumino e Pai Rodrigo Queiroz presenteiam o debate consciencial da religião em sociedade, discutindo sobre amor, ágape e valores cristãos que devem nortear o que eles acreditam ser “a manifestação do espírito para a prática do amor divino.” Prefácio por Pedro Belluomini Honra é a palavra para descrever o que senti ao receber o convite para prefaciar este livro destes dois mestres que tenho o prazer de tê-los em minha convivência. Acompanhei a feitura do que será exposto nas próximas páginas e nesse processo a todo momento uma questão fundamental fervia em minha mente. Quero trazer a atenção do leitor a um contexto histórico, negligenciado por muitos. Na Umbanda a re�lexão é intrínseca a fé. O estudo da religião sempre fez parte da Umbanda. Quem acha que pensar nossa ritualística, nossa liturgia, nossa fé, nossa cosmovisão é algo novo se engana redondamente. Zélio Fernandino de Moraes, fundador de nossa religião, mantinha regularmente sessões de estudo na Tenda Nossa Senhora

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da Piedade. O Caboclo das Sete Encruzilhadas era trazido em terra para palestrar. A Umbanda, em sua imanência, desde seu nascimento urgia por pensar a si mesma. No seu desabrochar essa necessidade parece insurgir dando lugar a um senso comum que se cria onde a desinformação, a ignorância e "segredos ocultos" são postos como exigência para se fazer Umbanda. Seu começo promissor parece ter se perdido ao longo do tempo. Como diz Nietzsche, o �ilósofo alemão, muitos homens turvam suas águas para que pareçam profundas. Mas são rasas como um pires. Estão sujas de mentiras mal contadas, de fundamentos que não fundamentam, de códigos secretos que não abrem mistério algum. Estão sujas de vontade de dominação, de vontade de manipulação, de vontade de controle. A beleza está aqui: o que é imanente não pode ser estancado, é uma fonte que brota incessantemente. Novamente, na Umbanda a re�lexão é intrínseca a fé! A Umbanda ainda urge por pensar a si mesma, essa força vai continuar pulsando enquanto houver Umbanda! É preciso ter clareza de que o conhecimento não é algo fechado, �ixo, imutável; tão pouco uma pedra bruta a ser lapidada para que quando pronta possa ser exposta na prateleira da vaidade. O saber é uma eterna descoberta, uma porta que se abre para revelar outras mil à espera de novas chaves. É um poço profundo, um mergulho ao in�inito. Um poço de águas cristalinas, profundas na grandeza de sua simplicidade. O conteúdo aqui apresentado nos impulsiona a criar novos conhecimentos. Porém, alerto que nesse começo de era, talvez o mais importante mesmo seja desconstruir nossos dogmas, ilusões, alicerces. Nos puri�icar de vícios comportamentais para que então possamos entrar em ressonância com essa força imanente que urge de nossa religião por pensar a si mesma. Axé! Leitura para Umbandistas e não umbandistas A literatura apresentada por Caridade: Amor e Perversão marca um novo paradigma

dentro da religião. Quando Alexandre Cumino e Rodrigo Queiroz se dispõem a discutir sobre como a caridade vem sendo entendida por umbandistas, esse tema se expande e acaba esbarrando em questões nevrálgicas de toda uma sociedade. Solidariedade é sinônimo de caridade? O que os valores de Jesus ensinam sobre caridade? Por que a sociedade vive hoje um esquartejamento existencial? Qual o sentido de nossa existência? O que é emancipação de alma, consciência e emoções? O conceito de estado ágape de consciência surge como uma chave para essas e outras questões que a�ligem, dilaceram e compõem o enredo dos dramas de toda a humanidade. Quando a maior queixa das pessoas aponta para o fato de que, cada vez mais elas estão se perdendo de si e nesse distanciamento não se reconhecem mais, não se identi�icam e tampouco compreendem a razão de sua existência, o comentário de Pai Rodrigo Queiroz sobre amor próprio na obra se estabelece como uma perfeita re�lexão. "Amar a si é o estado de plenitude, que não é o amor próprio. Amor próprio está no campo do ego, o amar a si é compreender-se, você só tem o amor de si quando se entende no mundo em consciência e em emoções." Pai Rodrigo Queiroz em CARIDADE: Amor e Perversão E dentro dessa concepção Pai Alexandre Cumino continua esse entendimento pontuando que só é possível amar o próximo quando você ama a si mesmo. "A questão é, eu não me amo, eu me critico, então a realidade que eu tenho é a de odiar o próximo como a si mesmo." Pai Alexandre Cumino em CARIDADE: Amor e Perversão Bom, o livro está repleto de provocações e re�lexões para uma vida toda e para todo mundo, no site www.caridadeamorperversao.com.br você encontra informações de como adquirir a obra e dos eventos de lançamento no qual os escritores participarão. Júlia Pereira Redatora Blog Umbanda EAD

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Doutrina

Individualidade e desenvolvimento espiritual

Individualidade, a palavra usada por S. Pé de Vento, guia chefe da ATUPO, ao referir-se ao desenvolvimento espiritual de cada um, ao que signi�ica ser Umbandista! É preciso que cada um desenvolva a sua individualidade. E por individualidade entendamos o conjunto de características que tornam cada ser único, diferente de todos os outros. Usamos o termo “características” pois os vocábulos “qualidade” e “defeito” não podem ser usados de uma forma estanque, pois aquilo que é defeito em alguém poder-se-á tornar uma qualidade noutra pessoa e vice-versa. O nosso desenvolvimento espiritual passa então por equilibrar essas virtudes e defeitos. E isso só é possível através do autoconhecimento, através de uma reforma íntima, através de atitudes pautadas pela verdade, pela honestidade, tornando-nos a cada dia seres mais justos, mais verdadeiros, mais equilibrados. Só assim poderemos contribuir para um mundo melhor, mais justo; só assim conseguiremos estender a mão ou partilhar o que temos com quem mais precisa. Como podemos doar amor, se o nosso coração está cheio de raiva? Como podemos compreender alguém, se passamos a vida a julgar os nossos colegas no trabalho? Como podemos ensinar o respeito e a tolerância, se estamos constantemente a criticar os nossos vizinhos? Como podemos dizer que www.umbanda.pt

somos �ilhos de Umbanda? Ser �ilho de Umbanda não é vestir branco, fazer parte de uma corrente, incorporar a entidade e no �im, bater cabeça, ir embora e passar a semana toda a criticar os colegas de trabalho, a reclamar da vida, a ser indiferente ao sofrimento alheio; não é adentrar uma Casa de Umbanda e exigir fazer parte de uma corrente porque foi-lhe dito que tem um dom e que precisa de desenvolver. É preciso lembrar as palavras do Caboclo das Sete Encruzilhadas quando disse que só há “manifestação do espírito para a prática da caridade”. A caridade é um sentimento que tem de vir do coração, não pode ser imposto como uma obrigação ou estar associado a uma escolha pelo medo. E para que haja esse sentimento, tem de haver uma consciência espiritual. O desenvolver as entidades não signi�ica evoluir espiritualmente. O facto de ser chamado para uma gira de desenvolvimento mediúnico não signi�ica que somos especiais ou que estamos mais evoluídos espiritualmente. Quando os pensamentos e ações de um médium de Umbanda são pauta-

dos pelo orgulho, pela maledicência, pela inveja, certamente que mais cedo ou mais tarde irão afastar as suas entidades que são Seres de Luz e precisam de uma vibração energética na mesma frequência. É preciso então perceber a importância de trabalhar e desenvolver a nossa individualidade. É preciso perceber que para se ser Umbandista não é preciso ter um dom ou fazer parte de uma corrente. Basta lembrar que a Umbanda é um templo vivo que carregamos no peito e que se re�lete a cada pensamento, a cada ação, a cada doação. Ao cuidarmos da nossa individualidade tornamo-nos assim seres especiais, únicos, mas desta vez unidos pela mesma vontade de construir um mundo onde todos podemos ter a oportunidade de sermos felizes!

Mary Nogueira

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Reportagem

Humor de Santo com Paulo Mansur paixões: comédia e Umbanda.

Fundamento: Umbanda é coisa séria para gente séria vs Stand Up comedy. Pode comentar?

Quando a equipa do Fundamento soube que o Paulo Mansur ia trazer o seu espectáculo de Stand-Up comedy a Matosinhos, dia 06 de Outubro, decidiu aproveitar a oportunidade para saber mais sobre o artista, sobre a sua visão da Umbanda e o que o motiva a fazer humor com este tema. É essa descoberta que partilhamos convosco na entrevista que vos apresentamos: Fundamento: Quem é o Paulo Mansur?

Paulo Mansur: O Paulo Mansur é um comediante com mais de 20 anos de carreira no teatro, sendo que 12 são exclusivos da comédia. Estou no Comedy Central, o maior canal de comédia do mundo, rodo o Brasil com espetáculos a solo, e em maio de 2016 iniciei o Humor de Santo, o 1º Stand Up Umbandista do Brasil. Em abril de 2017 iniciei o 2º Stand Up Umbandista do Brasil, o Filho de Pemba. Fundamento: Qual é o percurso do Paulo Mansur na Umbanda?

Paulo Mansur: Eu entrei na Umbanda em 2013, por meio de uma namorada, que frequentava um terreiro aqui em Brasília. Foi amor à primeira vista, a namorada foi embora, a Umbanda não:). E, provando que a Lei do Carma é uma realidade, hoje eu escuto todas as piadinhas que eu falei para ela. Não escapa uma.

Paulo Mansur: É importante separar as coisas: coisa séria não é igual a coisa sem graça. Tudo é passível de graça, e o problema das pessoas não é com o fazer piada. É com a falta de respeito, o que simplesmente não existe no Humor de Santo. Eu e Carol somos extremamente críticos com os textos que apresentamos no palco, e se um de nós acha que não cabe fazer essa ou aquela piada, ela não entra. Nós só apresentamos o que nós consumiríamos. Geralmente quem torce o nariz para o Humor de Santo é porque nunca o viu. Quem vê, gosta :).

Paulo Mansur: Estamos, eu e Carol, encantados por Portugal, juro a você! Que país sensacional! Fundamento: Já visitou algum templo por cá?

Paulo Mansur: Sim, fomos a uma festa de Fundamento: Em que países já esteve com Zé Pelintra, foi sensacional! este espetáculo e qual tem sido o acolhimento? Fundamento: Gostaria de deixar algumas palavras aos leitores do jornal O FundamenPaulo Mansur: Até agora 3. Portugal, Irlanto? da e Brasil. Eu acho que pelo fato do Brasil ser tão grande, eu vou subir esse número Paulo Mansur: Não sou "papa" da Umbanpra 12. O acolhimento tem sido incrível. da, nem posso falar em nome da religião Para mim, nada supera a recepção portu(aliás, ninguém pode), mas se eu pudesse, guesa no 1º show, em Porto. Incrível. Saber eu diria, OBRIGADO. A umbanda é linda, é que a 9000 km da minha casa tem Umbanamor, é paz e é estudo! E vocês estão da, tem amor aos orixás e ao meu trabalho é desbravando esse mundo. Parabéns! uma sensação incrível! E agora, falando do que eu posso: OBRIGAFundamento: O que sabe da Umbanda em DO! A recepção de todos os que foram à AMB dia 6/10 lotaram a casa, foi sensacionPortugal? al. Paulo Mansur: Juro que NADA! Estou louco Aos irmãos que não foram, espero vocês, para voltar a Portugal para ir às giras, festas, voltaremos em breve! terreiros, conhecer pessoas, conversar e aprender. Fundamento: impressões?

Quais

têm

sido

Fernanda Moreira

as

Fundamento: Como surgiu a ideia de fazer Stand Up comedy? Paulo Mansur: Como eu falei, eu sou comediante pro�issional, faço parte de um grupo de comédia no Brasil chamado Setebelos, faço teatro desde os 13 anos, e Stand Up desde 2011. Em 2016 resolvi unir minhas 2 www.umbanda.pt

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Outubro | 2017

Sem folha não há Orixá

Vamos a banhos?

O elemento vegetal presente nas ervas detém uma grande energia vital, que através de combinações diversas, produz efeitos positivos, negativos ou neutros, pois tudo no Universo é energia. Já os nossos ancestrais, em particular os indígenas, usavam as ervas para que essas atuassem na aura e no campo energético. A Umbanda faz uso deste elemento para desenvolver os seus rituais sob formas de descarregos, curas, fortalecimentos, tudo sempre comandado pelas entidades espirituais que determinam o uso apropriado de cada erva consoante o caso. A polarização �inal das ervas vai sempre depender da vibração de quem vai usá-la, da vibração das demais ervas utilizadas e da vibração da intenção com que serão usadas. Um das formas desta utilização na nossa religião é através de banhos que podem ser de descarrego, usados para eliminar vibrações negativas, limpando o perispírito de miasmas negativos, magia negativa ou mesmo da in�luência de obsessores; de �ixação, para adquirir vibrações positivas, vitalizando as chacras do médium de energia positiva para fortalecimento dos processos mediúnicos ou de ligação do espírito encarnado com seus guias e entidades atuantes. O uso destes banhos é de extrema importância e depende sempre do conhecimento e uso de ervas e raízes nas suas diferentes qualidades e a�inidades. Como sabemos, na Umbanda, cada Casa www.umbanda.pt

segue os seus ritos de forma diferente, pois cada uma tem o seu cunho pessoal dentro daquilo que foi aprendido. No entanto, os banhos são basicamente feitos da mesma maneira, com os mesmos princípios básicos. Em nossa casa, os banhos e sua forma de utilização são feitos maioritariamente de acordo com a indicação das entidades. Existem duas formas de preparo básico do banho: quente ou frio. Se utilizarmos ervas secas, cascas ou raízes, devemos sempre usar o método quente. Já para as ervas frescas, podemos optar por qualquer uma das formas. Os banhos quentes podem ser preparados de 2 maneiras, por infusão ou decocção. Na infusão, a água é aquecida até ponto de fervura. Nessa fase, retiramos do lume e só então colocamos as ervas ou �lores deixando em repouso por alguns minutos, de preferência com o recipiente tapado. Esta técnica é geralmente aplicada para preparação de banhos de folhas, �lores porque ajuda a preservar o óleo essencial das mesmas e, sendo frescas e delicadas, não necessitam de um processo de maior fervura para que as suas propriedades �iquem na água. Já na decocção, as partes da planta são fervidas juntamente com a água por alguns minutos. Esta técnica é geralmente aplicada no preparo de banhos com cascas, raízes, sementes ou ervas mais duras e com pouca seiva, (devemos sempre analisar o tipo de ervas a ser utilizada) que, por serem mais duras, precisam de um método mais rigoro-

so para a extração para a água dos compostos bené�icos presentes na planta. Podemos em algumas situações misturar as duas formas, se assim for necessário. Em nossa Casa, utilizamos o banho de rosa amarela, cravo e canela; esse banho serve para ajudar o desenvolvimento mediúnico. Ao utilizarmos uma casca (canela) e o botão de uma �lor seca (cravinho), o método a usar deve ser a decocção e só depois dos mesmos ferverem por alguns minutos é que colocamos as pétalas da rosa amarela já fora do lume e deixamos em infusão. Algumas Casas utilizam ervas secas para preparação de banhos. No entanto, nós preferimos as ervas frescas, pois as ervas secas possuem apenas a essência, mas não a energia que precisamos para os banhos. Outra forma de preparação de banhos são os banhos frios ou amacis. Estes são preparados com ervas frescas ou �lores e consistem em macerar (amassar com as mãos) as ervas numa bacia com água, se possível de nascente. Este processo permite por si só que, durante a preparação do banho, enquanto maceramos as ervas, possamos �irmar nosso pensamento e direcionar nosso mental para a �inalidade desse banho. Após preparado, pode-se tapar com um pano branco e deixar repousar por algum tempo. Continua www.atupo.com


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Existem várias questões sobre como tomar diferentes

os banhos, que banhos tomar, qual a melhor altura. É importante referir que a administração de banhos requer alguns conhecimentos básicos, como o conhecimento das ervas e da união de algumas delas e por isso não devem ser recomendados de uns para os outros. Assim como os medicamentos devem ser recomendados por um médico, os banhos devem ser recomendados por entidades, pelo dirigente ou por médiuns da casa com conhecimento para tal. Alguns banhos são administrados da cabeça para baixo e outros apenas do pescoço para baixo. Isto deve-se ao facto de algumas ervas serem consideradas mais agressivas ou mais fortes, utilizadas na maior parte das vezes com a intenção de limpar, descarregar, quebrar demandas e essas não devem ser utilizadas na cabeça (coroa, chacra coronário). O mesmo acontece com o banho de sal grosso, banho esse questionado por muitas pessoas, sendo inclusive comparado ao banho de mar. Pois bem, esse pode ser um assunto a suscitar

opiniões. Contudo, nós entendemos que banho de mar e banho de sal grosso são diferentes pelo mesmo motivo que uma erva seca não tem a energia de uma erva fresca. Quanto vamos ao mar tomar banho, com a intenção de descarregar, estamos recebendo energia, já que o mar é uma força da natureza, há energia, vida. Quando misturamos o sal comum na água para tomar um banho, esse tem o poder de descarregar, mas não tem a capacidade de restabelecer energia e vitalidade. Assim, consideramos que o banho de sal grosso nunca deve ser tomado da cabeça para baixo por ser extremamente agressivo à coroa e que no caso de ser mesmo necessário (atenção que é um banho utilizado para descarregos pesados), devemos tomar sempre um banho de ervas para repor a energia de que precisamos. A questão que se coloca agora é: como e quando tomar o banho? Os banhos devem ser tomados preferencialmente antes de dormir, excepto os energéticos e estimulantes que devem ser tomados pela

manhã. Após o banho normal de higiene, o banho deverá ser colocado num recipiente e deitado sobre o corpo, do pescoço ou da cabeça para baixo, conforme recomendação, pensando sempre no objectivo para que está sendo utilizado. Deve-se �icar algum tempo sem enxugar para que as ervas possam atuar e vibrar sua energia. Em suma, a preparação de banhos é bastante simples e não requer prática, mas requer entrega, amor e o cuidado com todo o ritual desde o momento em que se colhem as ervas até a hora de se tomar o banho. Fontes: http://segredodasfolhas.blogspot.pt/2012 /08/ervas-na-umbanda.html CAMARGO, Adriano. Rituais com Ervas: banhos, defumações e benzimentos SARACENI, Rubens. Um Pouco sobre o Uso das Ervas Vanessa Inhauser Vânia Vilas Boas

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