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Distribuição Gratuita | Nº 017
Edição especial
Abril | 2015
Índice
Palavra do Dirigente
Palavra do Dirigente
02
Reportagem «Curso Esquerda na Umbanda»
02
A Nossa Homenagem «Pai Rubens Saraceni O Cavaleiro de Aruanda»
03
O Convidado Escreve «O Legado de um Pai»
04
O Convidado Escreve «O Testemunho de um Filho»
05 06
Doutrina «Aprendendo Umbanda Brincando»
07 08
Sem folha não há Orixá «Mandrágora»
09
Ficha Técnica
Saudações a todos os irmãos de fé!
Nesta edição do Jornal Fundamento nos dividimos em sentimentos de tristeza e alegria. A tristeza deve-se ao fato de termos "perdido", no passado mês de março, o mestre, mago e sacerdote Pai Rubens Saraceni, grande guerreiro de nossa Umbanda que desbravou a religião, criou sustentação aos Templos e trouxe uma outra maneira de ver a doutrina religiosa Umbandista, acabando, por sua vez, de maneira consciente e inconsciente, por in�luenciar todas as Umbandas no Brasil e no mundo. Ainda me lembro há muitos anos atrás de entrar em uma livraria e ver um livro com o título “O Guardião da Meia Noite”; logo me apercebi que se tratava de um romance, cujo título me fez lembrar de imediato o Exú com que eu trabalhava. E aí me questionei: “Será um romance Umbandista?”; “Não, não pode ser, não existem romances umbandistas!”, pensei! Começo a folhear o livro e vejo a palavra Exú; rapidamente o compro e corro para casa para o ler! Escusado será dizer que acabei de ler o livro praticamente no mesmo dia! A partir desse momento, acompanhei sempre de longe o trajeto desse grande guerreiro! Tive a felicidade de mais ou menos há 2 anos ter estado com ele, eu e Pai Elcio e mais alguns amigos. Depois de almoçarmos, fomos para o Colégio de Umbanda, onde conversamos sobre muitas coisas e onde reparei na grande preocupação que existia nele sobre o rumo que a Umbanda tomava, os valores que poderiam se perder, e alguns dos ensinamentos básicos deixados pelo médium Zélio de Moraes e no advento do Caboclo das 7 Encruzilhadas como a evolução do ser, a caridade na religião e o amor e respeito entre os seres. A simplicidade e sabedoria dele conquistou-me assim como ele fez com milhares de pessoas. Voltei ao Colégio dias depois em um ritual onde fui consagrado e presenteado por ele com seu Filá e Estola, tendo me sentido, como podem imaginar, como o mesmo rapazinho comprando o livro do Guardião da Meia Noite e conhecendo um dos meus heróis da Umbanda. Sentimos tristeza por este jornal ser uma homenagem a uma pessoa tão querida ter partido para Aruanda, mas é com alegria que falamos e escrevemos sobre alguém que amava a Umbanda e que dedicou grande parte de sua vida. A Umbanda chorou com a perda deste grande Homem, mas essa mesma Umbanda hoje sorri por todo o trabalho deixado por ele! A Umbanda agradece, Eu agradeço, os Umbandistas agradecem. Obrigado Pai Rubens Saraceni.
Reportagem
Pai Cláudio - Sacerdote de Umbanda Atupo - Templo de Umbanda Pai Oxalá
CURSO ESQUERDA NA UMBANDA Equipa técnica: Diretor do Jornal Cláudio Ferreira
Revisão Mary Nogueira
Diretor de Conteúdos Cláudio Ferreira
Fotografia Fernando Silva
Diretor Comercial Frederico Castro
Edição Gráfica Bernardo Cruz Miguel Faria
Chefe de Redação Mary Nogueira Redação Cláudio Ferreira Leonel Lusquinhos Mary Nogueira Vanessa Inhauser Felipe Campos Nilson Correia Fernanda Moreira Filipe Ferreira
Contacto fundamento@atupo.com
A redação do Jornal Fundamento segue as normas do novo acordo ortográfico, salvaguardando as opções ortográficas dos autores convidados.
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A convite de Pai Cláudio de Oxalá e da ATUPO, Pai Felipe Campos, dirigente do Templo de Umbanda Cacique Pena Azul, esteve mais uma vez presente em nosso templo, nos passados dias 22, 26 e 27 de Março para ministrar o curso “A Esquerda na Umbanda: EXÚ, POMBA GIRA E EXÚ MIRIM”. Pai Felipe iniciou o curso com uma pequena homenagem a seu Pai Rubens Saraceni, que, sempre o incentivou a pesquisar e estudar a religião para um dia estar apto a poder transmitir esse conhecimento a todos aqueles que procuram saber mais sobre a Umbanda e seus fundamentos. De seguida, e após uma contextualização histórica e cultural do aparecimento da Umbanda, passou a abordar temas como o
princípio da individualização dos seres feita por Exu, a sua participação na criação universal, os seus mistérios, o tema da força feminina em Pomba-Gira e à linha de Exu-Mirim, entidade tão misteriosa e controversa ainda hoje. Foram cerca de sete horas em conversa com o Pai Felipe, tendo alguns assuntos suscitado alguma polémica, mas geridos por Pai Felipe de uma forma agradável e brincalhona até, e sempre numa perspetiva de compreendermos melhor as nossas Entidades de Esquerda, a nossa religião e seus fundamentos! O Curso culminou num convívio entre os vários participantes, tendo Pai Cláudio agradecido a sua vinda mais uma vez à ATUPO, enaltecendo o seu trabalho e a sua dedicação à Umbanda!
Mary Nogueira
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017
A Nossa Homenagem
PAI RUBENS SARACENI, O CAVALEIRO DE ARUANDA “Ninguém pode construir em teu lugar as pontes que precisarás passar, para atravessar o rio da vida- ninguém, exceto tu, só tu! Existem, por certo, atalhos…e pontes…que se oferecerão para levar-te além do rio; mas isso te custaria a tua própria pessoa; tu te hipotecarias e te perderias. Existe no mundo um único caminho por onde só tu podes passar. Onde leva? Não perguntes, segue-o.” Nietzsche Ao plano material chegam espíritos mais evoluídos, que descem em plena condição para realizar tarefas voltadas para a prática do bem comum. São grandes homens, que deixam legados inestimáveis para a humanidade, através das suas obras, de suas palavras, de seus atos.
Rubens Saraceni é um desses espíritos, um grande homem, o mais in�luente sacerdote, mestre e escritor umbandista, que, através de anos de dedicação, determinação e trabalho se entregou à missão de estudar a Umbanda. Esse foi o seu caminho, um caminho muitas vezes árduo, de resignação e luta contra a animosidade que se instaurou depois da revelação de tantos mistérios ligados à espiritualidade que, nas suas palavras, muitos teimavam em guardar a sete chaves. Inspirado por Pai Benedito de Aruanda, um dos seus mentores, dedicou grande parte da sua vida ao estudo teórico e aprofundado da Umbanda, tendo publicado várias obras, algumas delas polémicas, que lhe valeram muitos dissabores, calúnias, difamação. Contudo, como bom �ilho de Ogum que era, Pai Rubens ergueu a sua espada e continuou lutando! A Teologia da Umbanda Sagrada, o Código da Umbanda, a Génese Divina de Umbanda Sagrada e tantos outros livros tornaram-se verdadeiros manuais para os umbandistas. A criação de uma consciência teológica coletiva, através da leitura de suas obras e da frequência de vários cursos ministrados por ele e mais tarde por seus �ilhos e seguidores, mudou a imagem da coletividade umbandista para sempre, trazendo uma nova dinâmica e uma nova visão entre os praticantes da religião, mais respeito e dignidade para a Umbanda, elevando-a ao mesmo níveis de outras religiões já conceituadas. Há alguns anos atrás, a ATUPO esteve à conversa com Pai Rubens. Simpatizamos com ele no primeiro contacto, grande mestre e sacerdote de Umbanda, mas dotado de uma humildade e simplicidade contagiantes. Assim chegou até nós, olhar franco, sorriso aberto! Aguardávamolo num cafezinho do outro lado da rua, ansiosas por conhecer aquele que era o grande sacerdote, www.umbanda.pt
teólogo da Umbanda Sagrada. Desculpou-se pelo atraso, pois tinha vindo de metro, -nesse dia, de acordo com a regra do rodízio, não podia circular com o seu carro -. Logo nos levou ao Colégio de Umbanda Sagrada, tendo-nos recebido de braços abertos, pronto para responder a qualquer questão que lhe �izéssemos. Essa tarde �icará para sempre gravada em nossas memórias e coração, não só por tudo o que partilhou connosco, desde o início da sua atividade psicográ�ica, até aos momentos mais di�íceis que teve que enfrentar, mas porque estávamos perante aquele que fora o fundador do Colégio de Umbanda Sagrada, o fundador do Colégio Tradição de Magia Divina, autor de tantos romances umbandistas que nos deliciaram e �izeram compreender muitos dos mistérios da nossa religião. Quantos de nós na ATUPO e noutras Casas não iniciaram a sua passagem pela Umbanda e se emocionaram com a leitura da saga do Cavaleiro da Estrela Guia? Quantos de nós não passaram a entender e a respeitar ainda mais as Entidades de Esquerda, depois de ter lido “ O Guardião da Meia-Noite”, “O Guardião dos Caminhos- a História do Senhor Guardião Tranca-Ruas”, “Guardião das Sete Encruzilhadas”, cujas obras trouxeram uma fundamentação para o Mistério Exu e resgataram a linha de esquerda que, até então, nas palavras de Pai Rubens, era o calcanhar de Aquiles da Umbanda? Quantos de nós não começaram a compreender a importância de poder explicar a quem nos procurasse, os fundamentos da religião que praticávamos, de uma forma aberta, espontânea, credível, sem termos medo de sermos questionados, sem termos medo de praticarmos os nossos rituais em nossos Templos? Quantos de nós não começaram a ganhar uma consciência da necessidade de praticar uma religião mais limpa, de respeito aos Orixás, promovendo atitudes mais ecológicas e de preservação dos espaços abertos da natureza? De tudo isso Pai Rubens nos falou, de como
começara a psicografar os três livros do Cavaleiro da Estrela Guia,- trinta dias para escrever três livros-, intuído por Pai Benedito de Aruanda, de como o seu mentor lhe dissera que a sua missão iria bem mais além, que com ele, através de um estudo aprofundado e posterior publicação de vários livros didáticos, os fundamentos de Umbanda seriam clari�icados e explicados de forma a que todos pudessem compreender a religião que praticavam. Como ele próprio nos confessara, fora o primeiro a �icar surpreso, quando Pai Benedito, seu mentor, lhe dissera que não eram sete linhas, mas sete Irradiações divinas! Tivera de enfrentar alguns dissabores, de ver a sua imagem denegrida por pessoas que não aceitavam esta nova visão da religião, mas era um homem de fortes convicções que lutava por aquilo em que acreditava! Brincou quando lhe dissemos que Pai Cláudio e a ATUPO teriam um enorme prazer em recebê-lo em nossa Casa, respondendo que apenas atravessaria o Atlântico de duas formas: ou depois da sua passagem ou se um dia construíssem uma ponte do Brasil até à Europa. Pai Cláudio teve a oportunidade de conviver com ele e participar em diversos rituais. Num desses rituais, pai Cláudio foi consagrado pela sua Entidade Ogum Beira Mar, que o honrou com o dourado, ao oferecer-lhe o �ilá e a estola de Pai Rubens. Na convivência com ele, Pai Cláudio sentiu-se na presença de uma pessoa dotada de um enorme conhecimento, mas ao mesmo tempo de uma simplicidade própria de um grande Mestre. Um Mestre que, na sua humildade, ao oferecer-lhe vários livros seus, acrescentou que não estava à espera que Pai Cláudio fosse um seguidor da Umbanda Sagrada, pois conhecia todo o seu trabalho enquanto sacerdote e respeitava a sua verdade! Com Pai Rubens, a consciência da importância de estudar e conhecer de modo mais aprofundado a religião foi ganhando uma proporção cada vez maior, tendo dado origem a muitos cursos, ministrados por vários �ilhos de Rubens, quer no Brasil, quer em outros países. Em Portugal, na Atupo, no dia 20 de março, volvidos alguns dias após o seu desencarne, foram entregues vários certi�icados a formandos que concluíram o Curso de Teologia de Umbanda ministrado por um dos seus �ilhos, o sacerdote Felipe Campos. O Cavaleiro partiu para Aruanda, mas a sua Estrela guiará para sempre todos aqueles que acreditam numa Umbanda mais séria, mais voltada para o estudo aprofundado da mesma e para a prática do bem, tendo sempre como lema o “dar de graça o que de graça receber com amor, humildade, caridade e fé! Obrigada, Pai Rubens!
Atupo - Templo de Umbanda Pai Oxalá
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Jornal Umbandista Português
09||2015 10 | 2010 Abril Setembro| Outubro | 2010
O convidado escreve
O Legado de um Pai
Há alguns dias atrás eu assistia um documentário com o autor Paulo Coelho, que falava sobre sua jornada no Caminho de Santiago. O documentário se inicia com uma frase de Paulo Coelho, que ao re�letir mais profundamente, percebi que meu caminho espiritual �luiu dessa mesma maneira. “Qualquer sonho é possível dando o primeiro passo. Então, sempre que quiser algo, todo o universo conspirará para que você consiga isso, mas, você precisa dar um passo em direção ao seu sonho. E então, você será guiado.” Paulo Coelho Num momento chave da minha vida espiritual, onde buscava um algo a mais que não sabia o que era, quando eu buscava uma base que supriria uma necessidade que nem eu mesmo sabia qual era, o universo me guiou. Você meu amigo leitor, já sentiu a necessidade de algo que não se tem conhecimento ainda? Já sentiu a necessidade de expandir algo de dentro de você, que nem você mesmo faz ideia do que seja? Com certeza em algum momento de nossas vidas, isso acontecerá, a pergunta é se vamos descobrir quais são nossas reais necessidades. Eu era um garoto, deslumbrado com um mundo espiritual que se abria a meus olhos, mas dessa vez explicado, e ainda assim sentia que meu caminho, minha missão nessa Terra e nesta encarnação, ainda iria se abrir para mim, não sei como explicar, mas era isso que eu sentia, eram tantas perguntas internas sobre mim, sobre meu caminho, perguntas que ninguém poderia responder por mim, apenas eu teria as respostas, e teria que buscá-las não sabia onde. Sem saber o que precisaria ser mexido para a resposta surgir, comecei a mudar todos os campos da minha vida. Eu me movimentei, não sabia para onde eu caminhava, mas dei o primeiro passo, e assim como a frase de Paulo Coelho nos diz, o universo me guiou, pois, sem mais nem menos, me foi oferecido um livro,
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dado com a indicação de que procurasse o autor. Peguei o livro em minhas mãos, era um livro grande, li seu titulo, “O Cavaleiro da Estrela Guia”, então li o nome do autor, “Rubens Saraceni”. Pesquisei e �iquei sabendo que haveria uma palestra no próximo �inal de semana deste ocorrido, fui até lá, e como se fosse mágica, todas as minhas respostas as minhas perguntas brotaram de mim mesmo. Iniciei estudos com ele, sobre Magia e Umbanda, em pouco tempo ele me convidou para fazer parte de sua casa, o grande Colégio de Umbanda Sagrada Pai Benedito de Aruanda. A partir daquele momento, não era tão somente seu aluno, seu discípulo, agora também era seu �ilho. Foram muitos anos a seu lado, passei de garoto a homem na vida material e na vida espiritual sob sua tutela, errei, concertei, acertei, tirei duvidas e passei de questionador a expositor de uma doutrina, �iloso�ia, teologia, de uma religião. Até hoje não sei bem ao certo como eu me aproximei dele, fato esse que era di�ícil, pois muitos eram �ilhos, muitos eram alunos, muitos eram os admiradores, mas realmente muito poucos conseguiam acessar a sua intimidade mais próxima. Me parece que num dia eu era seu �ilho, seu médium trabalhando em sua casa, sendo seu aluno e admirador, no outro eu ajudava a limpar o Colégio, saia para almoçar junto, ligava para tirar duvidas, talvez o como tudo isso aconteceu seja sempre um mistério. Com tantos anos de convivência, eu poderia falar de diversos aspectos desse homem que tanto me ensinou e um texto seria insu�iciente para mostrar todas elas com dignidade, então pre�iro �icar com a visão do amigo, como ele mesmo me dizia quando iria me aconselhar: “Não estou falando como seu pai, mas como seu amigo.”. Como todo Mestre que sabe conduzir, em dado momento começou a me dar responsabili-
dades, me recordo uma vez que ele recebeu um convite para participar de um debate ecumênico num centro espírita. Ele me chamou em sua sala, me disse que não poderia ir e que queria que eu fosse representar o Colégio, que eu era �ilho da casa e estava preparado, me disse para vestir a camiseta do Colégio, estar bem apresentável. Naquele dia, me emprestou seu livro do Alcorão e me mandou estudar, disse para ler a Bíblia e todas as escrituras Sagradas, pois, para um debate ecumênico de respeito, eu precisava conhecer a cultura e as crenças de todas as religiões. Daí pra frente cada vez mais fui ganhando con�iança em mim, con�iança que ganhei, pois ele mostrava con�iar em mim. Me pediu para ensinar Teologia, me pediu para ensinar Magia Divina, me incentivou em minha missão espiritual. Quando meu Mentor Cacique Pena Azul pediu a casa dele, sentei com meu Pai e pedi sua benção, depois de longa conversa ele me perguntou o nome da casa e eu lhe disse: “Templo Escola de Umbanda Cacique Pena Azul”, ele abriu um sorriso e me disse: “Um nome muito elegante, gostei!”. Neste última ano de sua encarnação, numa troca de e-mails, ele parabenizou o crescimento da casa e o trabalho que vinhamos desempenhando, fato que me deu uma enorme satisfação, pois ali era o amigo, o pai, o mestre aprovando um trabalho, era a concretização do que ele um dia me dissera, que entrei como um garoto assustado em sua casa e saia como um pai. Rubens Saraceni foi uma ponte em minha vida, sempre tive dentro de mim o Felipe Campos �ísico, com desejos, vontades, empolgação, e sempre tive o Felipe Campos sábio, espiritual, velho de espirito, com bagagem espiritual a trazer. Rubens Saraceni foi a ponte que pode ligar esses dois Felipes, que conectou estes dois mundos dentro de mim mesmo, e a única forma que tenho para lhe agradecer por me reconectar com o outro eu adormecido, é continuar seu trabalho, levar adiante sua palavra, e se Deus assim permitir, que eu seja uma ponte para muitas outras pessoas. O que mais importa em nossas vidas não são os bens que conquistamos, mas as pessoas que conhecemos, principalmente as que deixamos para trás. Muito mais que obrigado ao Pai e ao Mestre, hoje digo obrigado a meu grande amigo Rubens Saraceni!
Pai Felipe Campos Templo Escola de Umbanda Cacique Pena Azul
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006 017
O convidado escreve
O Testemunho de um Filho
Meu primeiro contato com Sr. Rubens Saraceni e consequentemente com a Umbanda foi em 1987. O Rubens já havia fundado em sua residência na Rua Alto do Parnaíba, 289 – Cidade Patriarca – São Paulo, CEP 03556-030 - SP, a Tenda de Umbanda Ogum Beira Mar e Pai João de Mina, como 90% das tendas de Umbanda iniciam, no fundo das casas e quintais, neste caso em um porão que tinha aproximadamente 25 metros quadrados. Os trabalhos aconteciam às 2ª, 4ª e 6ª feiras, tendo às 2ª e 6ª atendimento ao público e às 4ª feiras atendimento mediúnico, sempre apoiado na direção dos trabalhos pela sua esposa Alzira e sua Tia Neusa. O espaço era muito pequeno, porém, mágico; eram atendidas consulentes e a tenda contava
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com um corpo mediúnico de aproximadamente 30 médiuns. Sua vida era um tanto corrida o os trabalhos requeriam muita dedicação, o que não foi problema para o Sr. Rubens e sua esposa Alzira, seus �ilhos Mauricio, Graziela e Estela nesta época ainda crianças. Ele era proprietário de um açougue em São Caetano do Sul, no qual trabalhava todos os dias inclusive aos domingos, próximo da Avenida Presidente Kenedy. Assim, seu dia era dividido entre seu trabalho, religião e família. O Sr. Rubens abriu mão do segundo carro da família para ajudar na aquisição de um imóvel próximo a sua residência em São Paulo, na Rua Professor Xavier de Lima, 49 – Vila Matilde, onde o mesmo depois de muito esforço e através de muitas di�iculdades conseguiu �inalizar a construção do salão. As di�iculdades foram inúmeras, pois após a aquisição do imóvel foi descoberto que havia no espaço uma mina de água, o que di�icultou e atrasou muito a obra. O Rubens, como sempre, acreditando, enfrentou todas as di�iculdades e tornou o sonho em realidade, não importando muitas vezes sua vontade própria, elevando sempre em primeiro lugar a orientação e direcionamento dos mentores espirituais. A Tenda de Umbanda Ogum Beira Mar e Pai João de Mina, mudou-se então para um espaço que comportava seus médiuns e frequentadores. Os trabalhos transcorriam de forma equilibrada e a cada dia chegavam mais médiuns e frequentadores, a tenda era um sucesso. Em uma segunda feira, como de costume, chegamos para o trabalho; no portão encontramos um médium que informava a assistência que não haveria trabalho e aos médiuns que entrassem e em silêncio fossem sentando e aguardando que haveria uma reunião, sem compreender o que estava acontecendo entramos, sentamos e aguardamos. Dentro em pouco tempo, a tenda estava tomada por médiuns curiosos com o que estava acontecendo, quando o Sr Rubens surgiu notoriamente abatido, porém, determinado e trazendo em suas mãos um banco de preto velho, tomou a frente do congá e incorporou o preto velho que na época trabalhava com ele, Pai João de Mina. Neste momento, recebemos a informação que os trabalhos seriam �inalizados naquela data, sem previsão de retorno, que todos nós deveríamos recolher nossos pertences pessoais e que todos já haviam iniciado seus desenvolvimentos mediúnicos, que deveríamos nos unir e continuar nossa caminhada, porém, sem a companhia do Sr Rubens. Ao questionarmos o que estava acontecendo,
o preto velho Pai João de Mina informou que a matéria dele havia recebido uma orientação e que o mesmo estaria se preparando para algo diferente e que mais adiante compreenderíamos tal atitude que naquele momento parecia absurda a todos. Continua
Rua D. Gonçalo Pereira, 75 - Cividade 4700-032 Braga - Tel. 253 261 021
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Foi algo muito di�ícil, pois mesmo sendo �irme, era clara a dor e a tristeza do Rubens, da Alzira e da Tia Neusa, pois a Tenda era o sonho realizado. Sem grandes questionamentos, a orientação foi seguida, a tenda fechou o Sr Rubens mudou-se com a família para Uberlândia. Aproximadamente em 1991 reencontrei o Sr Rubens, que tinha em mãos já pronta sua primeira obra – HASH MEIR – O GUARDIÃO DO TEMPLO DA DEUSA DOURADA. Ele havia iniciado sua missão agora como escritor... havia voltado para São Paulo – e iniciava novamente em sua residência as atividades, agora além da prática religiosa a iniciação nos estudos da religião umbandista. A simplicidade também era marca registrada do Sr Rubens; por inúmeras vezes, ao visitá-lo no trabalho, o encontrei sentado no escritório do açougue, com seu caderno e caneta na mão escrevendo novos livros. De forma natural ela dizia “Nilsão veja isso, leia, não é maravilhoso o que eles estão passando?” ali eu �icava sentado por horas ao seu lado lendo em cadernos universitários os manuscritos de obras que já foram publicadas e algumas que também não foram.
Tudo de forma simples, aos poucos foi retomando as atividades que eram realizadas na garagem da sua residência, agora não só de
forma prática, mas também teórica, começava ali
o Colégio de Umbanda Sagrada. O Sr Rubens sempre foi uma pessoa humilde, carismática, e de mediunidade intuitiva e de incorporação de forma impar. Desde meu primeiro contato aos 14 anos de idade, sempre fui amparado e tive minhas www.umbanda.pt
06 her nossos pertences pessoais e que todos já haviam iniciado seus desenvolvimentos mediúnicos, que deveríamos nos unir e continuar nossa caminha, porém, sem a companhia do Sr. Rubens”.... Antes de todos esses acontecimentos, alguns guias como caboclo, preto velho, boiadeiro, baiano que acompanhavam o Sr. Rubens passaram a trabalhar comigo, informação essa que já foi divulgada pelo Sr. Rubens em suas obras e entrevistas, porém, na ocasião não informavam porque haviam tomado tal atitude, deixando de trabalhar com um médium experiente como o Sr. Rubens e passando a incorporar em um médium no inicio da mediunidade com 14 anos de idade. Meu pai, minha mãe e eu seguimos a risca a orientação e, em 27/09/1990, continuamos o trabalho da TENDA DE UMBANDA OGUM BEIRA MAR E PAI JOÃO DE MINA, que existe até hoje sobre minha direção apoiado pela minha mãe e irmãos. dúvidas quando não esclarecidas direcionadas para uma solução. Seu respeito, conhecimento e dedicação eram sua marca registrada unida à sua humildade; desta forma, sempre desmisti�icou e foi contra dogmas, nunca fez questão de sustentar títulos ou méritos mesmo sendo inevitável tal reconhecimento e mérito. Abriu mão muitas vezes do convívio com sua família carnal para atender as necessidades da família espiritual e mediúnica. Foi e será vitima de críticas por muitos que não tem os mesmos propósitos ou não detém o mesmo conhecimento. Foi pai, irmão e amigo de muitos, assim como para mim. Deixou além de muito conhecimento e sabedoria muita saudade de um ser humano incrível. Além de todo legado que deixou, é muito importante esclarecer que assim que o Sr. Rubens Saraceni mudou para Uberlândia, tomei como base para minha caminhada espiritual as palavras do preto velho Pai João de Mina, que na ocasião do encerramento das atividades em 1989 citou: “que os trabalhos seriam �inalizados naquela data, sem previsão de retorno, que todos nós deveríamos recol-
Assim como em 1988, 1989 e 1990 pai João de Mina (preto velho), Caboclo 7 Luas, Baiano Simão e outras entidades que trabalhavam com o Sr. Rubens e antes mesmo do fechamento da casa passaram a incorporar e trabalhar comigo, hoje ainda se manifestam e conduzem todos os nossos trabalhos. A Tenda de Umbanda Ogum Beira Mar e Pai João de Mina trabalha aos sábados e terças feiras, tem um corpo mediúnico de aproximadamente 200 médiuns e atende 250 pessoas por sessão, esta instalada na Rua Joaquim Marra, 797 – Vila Matilde – São Paulo – SP – CEP 03514-001, parte do nosso trabalho pode ser acompanhado pelo facebook: tendabeiramar, ou pelo nosso site: www.colegio7luas.com.br Sou Nilson Alexandre Correia, tenho orgulho em dizer que fui um �ilho espiritual legítimo de Rubens Saraceni, antes de ser um escritor, um mestre, um ícone para Umbanda Sagrada, e que continuo há 25 anos a seguir as orientações que nunca me faltaram. Nilson Correia www.atupo.com
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07
Doutrina
APRENDENDO UMBANDA BRINCANDO! A doutrina das crianças e dos jovens sempre foi uma das preocupações fundamentais da ATUPO. Sendo a criança um ser, que na sua essência, tudo absorve, os valores e o conhecimento que hoje lhes transmitimos são fundamentais para que elas conheçam os fundamentos da sua religião e possam, enquanto médiuns umbandistas, hoje e no futuro, mostrar de que forma a sua religião Umbanda pode contribuir para tornar este mundo mais digno, mais justo, mais solidário. E, enquanto crianças, adoram brincar de faz de conta e por isso, um dos recursos usados na doutrina das crianças é a dramatização de textos, como este aqui apresentado, que esperamos sirva de inspiração para outras aulas de doutrina! UMA AULA DE DOUTRINA
A DOUTRINADORA CHEGA E DÁ-SE INÍCIO A MAIS UMA AULA DE DOUTRINA. -Olá, meus queridos! Como estão? Tiveram uma boa semana? Antes de mais, vamos dar as mãos, fechar os olhos e agradecer a Deus pela semana que tivemos. (TODOS DÃO AS MÃOS, FECHAM OS OLHOS E A DOUTRINADORA FAZ A ORAÇÃO) “Senhor, meu Deus e meu Pai; Nós lhe agradecemos por tudo em nossa vida: pela alegria de viver, pela nossa família, pelos amigos, pelo ar que respiramos, pelos dons que nos Deu, pelos momentos felizes e também menos felizes pois nos permitem crescer e melhorar a cada dia que passa! ABREM OS OLHOS E A DOUTRINADORA FALA: - E hoje vamos falar das linhas de trabalho. Vocês sabem o que isso signi�ica? (as crianças olham umas para as outras à procura de uma resposta) A DOUTRINADORA DIZ: - Linhas de trabalho são grupos de espíritos, as chamadas entidades ou guias, que se juntam em grupos de acordo com a mesma vibração e vêm à terra prestar amparo �ísico, espiritual, mental e emocional aos seres encarnados e também aos desencarnados. CRIANÇA: - Ah! Então já sei: são os baianos, os caboclos, os pretos velhos… DOUTRINADORA: - É isso mesmo, (nome da criança)… Esses são os guias que vêm trabalhar nas giras de Umbanda. CRIANÇA: - E porque é que há tantas linhas de trabalho, professora? DOUTRINADORA: - Vocês sabem que a Umbanda é uma religião brasileira. E no plano astral, as linhas de trabalho espiritual organizaram-se tendo por base os diferentes tipos do povo brasileiro, os chamados arquétipos. Em cada Gira, manifestam-se as diferentes qualidades e características desse povo multicultural. Temos, por exemplo, a linha dos baianos que representa… OUVE-SE UM BARULHO: - Oxxxxxeeee! Tá falando de eu, é? Do meu povo? (VÊM UM BAIANO E UMA BAIANA CAMIN-
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HANDO PELA ASSISTÊNCIA, DIRIGINDO-SE AO GRUPO DE CRIANÇAS) DOUTRINADORA: - Salve o povo da Bahia! CRIANÇAS RESPONDEM EM CORO: -É p’ra Bahia, meu Pai! BAIANO (PARA A ASSISTÊNCIA E CRIANÇAS) - Boa tarde! Tá tudo é bom? (ESPERA PELA RESPOSTA E FALA) Eu vim aqui hoje, não p’ra trambucar, mas p’ra falar do povo da Bahia! Hoje, na Umbanda, ele representa a força do fragilizado, aquele que sofreu e aprendeu na "escola da vida". Quando a gente estava na terra, encarnados, deixamos nossas terras no Nordeste e fomos para a cidade grande tentar a nossa sorte. Mas aí chegados, sem estudos, sem condição, o que sobrava para nós eram os trabalhos mais pesados e uma vida cheia de di�iculdades. E a gente era visto como o intruso, o pobre, o ignorante que não sabia ler nem escrever e éramos marginalizados. Mas a gente não desistiu e continuou lutando por melhor vida, com Fé no Senhor do Bon�im, cantando e dançando e louvando nossos Orixás! (RINDO). E hoje, a gente vem nos terreiros de umbanda, com a mesma alegria, dançando e cantando, para que as pessoas percebam que em vez de lamentar-se da vida, têm é que agradecer e seguir em frente, com coragem e preserverança! CRIANÇA (COM AR MAROTO) - Então, não é preciso saber ler ou escrever… BAIANA: - É sim, �ilho! O conhecimento é sempre importante, é uma forma de evolução e se a gente não estudou, foi porque era pobre, porque não tinha condições e o que sabe aprendeu na escola da vida, na luta do dia a dia. Mas, sabe �ilho, mais importante que o saber dos livros são os valores e a individualidade de cada um! E é isso que os baianos vêm mostrar na Umbanda, que tão importante é o doutor rico, como o pobre sem estudo, que todos têm o direito em ser ajudados e que a maior sabedoria está em saber ouvir e respeitar o outro, em contribuir para o bem comum, em ajudar nosso irmão, independentemente das suas “origens” ou da sua raça, porque a cor do coração não muda, não! CRIANÇA: - E vocês também já foram marinheiros? DOUTRINADORA: - Porque perguntas isso, (nome da criança)? A MESMA CRIANÇA: -Porque muitas vezes, na gira de baianos, descem os marinheiros, não é? MARINHEIRO (AO LONGE, COM UMA GARRAFA DE CAÇHAÇA NA MÃO, BALANÇANDO): - A maré hoje está brava!!! VÊM CHEGANDO DOIS MARINHEIROS A BALANCEAR, UM PÁRA AO LADO DE UMA MOÇA BONITA E DIZ: -Eh, sereia! (ENCOSTA A CARA À ESPERA QUE ELA LHE DÊ UM BEIJO) CRIANÇAS EM CORO - Salve a marujada!!!
BAIANO (a falar para o marujo e o marujo a balançar): - Tu não podia deixar de vim, né, marujo? E agora que tu chegou nós vamos voltar lá p’ra Aruanda. Fiquem com Deus, com nosso Senhor do Bon�im e Padinho Ciço. (BAIANO SAI DE CENA) MARINHEIRO (PISCANDO O OLHO E DANDO UMA GARGALHADA) -Não podia perder a oportunidade, né? Onde tem alegria, marinheiro está também! (AS PESSOAS RIEM-SE) O OUTRO MARINHEIRO OLHA DE SEGUIDA
PARA AS PESSOAS E, COM AR SÉRIO, PERGUNTA: - Estão rindo? Estão rindo de mim como riem dos bêbedos que veem na rua, né? Pois saibam que esses já foram um dia como vocês. Se bebem é para esconder seu desespero, suas tristezas…(FAZ UMA PAUSA). Mas o que a gente faz com eles? Os empurra, faz chacota, repudia, manda embora. MARINHEIRO CONTINUA: -Pois saibam que nós, marinheiros, o povo da Calunga Grande, vimos na Umbanda para lembrar que todos aqueles que fraquejaram, esses que se deixaram prender na rede dos vícios, esses que caíram fundo em suas vidas, ainda têm um coração pulsando! Também eles têm direito à caridade, a alguém que lhes estenda a mão e os ajude a sair do abismo onde se encontram, pois ainda têm muito para dar e ensinar! O OUTRO MARINHEIRO DIZ (BALANCEANDO): - Eta que a maré tá brava mesmo! MARINHEIROS SAEM DE CENA CANTAROLANDO. (ouve-se o barulho de um navio) CRIANÇA (COM AR CONFUSO) - Oh (nome da doutrinadora) Mas a�inal os marinheiros vêm do mar ou do cemitério? É que o marinheiro falou em povo da Calunga. DOUTRINADORA COMEÇA A FALAR: - A diferença entre a Calunga grande e a…
Continua
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017 (APARECEM DUAS PRETAS VELHAS A PITAR SEU CACHIMBO E APOIADAS EM SUAS BENGALAS) ( DUAS CRIANÇAS AJUDAM-NAS A SENTAR) UMA PRETA VELHA DIZ: - Eh, eh, zi �ia, nega véia vai explicar! DOUTRINADORA: - Adorei as almas! PRETA VELHA: - A Calunga grande é o mar onde a vida teve origem, é a casa de Iemanjá, a Senhora da Geração! A calunga pequena é a morada de nosso Pai Omulu, o Senhor da Morte, que acolhe em seu domínio todos aqueles que desencarnaram. E os dois se complementam, porque a vida e a morte são como dois lados da mesma moeda: quando nascemos, deixamos o plano astral e quando morremos na carne, voltamos ao plano espiritual. CRIANÇA: - Oh vóvó, e porque vocês são a linha das almas se os baianos e os marinheiros também são espíritos? PRETA VELHA: - Todos os espíritos, zi �io, que trabalham na
Umbanda são almas. Mas nós somos como que aqueles que preparam as almas, que as guiam, as preparadas e as que se perderam; por isso que a gente está muito ligada a nosso Pai Omulu. A linha das almas é a linha que prepara o espírito, que doutrina, mas sempre com humildade, com paciência. CRIANÇA: - Então é por isso que a minha mãe diz que devemos sempre respeitar os avós, porque eles são sábios. A SEGUNDA VÓVÓ: - Eh, zi �io, nega véia sabe, sim. Todos os negovéios vêm na Umbanda mostrar que não é por ser negro ou por ser velho que é ignorante. Nego veio vem mostrar que por ser negro e velho carrega em si uma sabedoria ancestral e que a dor e a�lição sofrida na carne fez com que hoje possamos ensinar a humildade, a paciência, a perseverança, porque, mesmo enquanto escravos, nunca desistimos de viver nem deixamos de acreditar e ainda que tudo pareça não ter
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08 conserto, preto velho sempre tem uma mironga pá consertar! Eh, eh! DUAS CRIANÇAS PEGAM-SE, FAZEM BARULHO, PORQUE UMA PEGOU NO LÁPIS DA OUTRA E NÃO QUER DEVOLVER. A DOUTRINADORA CHAMA A ATENÇÃO, MAS NÃO SURTE EFEITO E OLHA PARA A PRETA VELHA, COM AR DE QUEM NÃO SABE O QUE FAZER. PRETA VELHA: - Eh, zi �ia, tem que ter paciência. Criança é assim, briga, faz barulho, dá gargalhada, mas muitas vezes ela carrega a mesma sabedoria que um nego véio, �ia! Por isso que a linha das crianças é das linhas mais forte na nossa Umbanda. Ela representa a Inocência, a Cura através da Fé, da alegria de viver! Ela sabe quando tu tá triste ou sorrindo, mesmo que tu não diga nada; porque ela sente em seu coração e não duvida, não! PRETA VELHA LEVANTA-SE E VIRADA PARA A ASSISTÊNCIA DIZ: - Por isso eu digo, zi �ios e �ias, da próxima vez que uma criança falar e tu não liga ou quer ouvir, lembra que pode ser a voz de Zambi falando através dela! Eh, eh! PRETAS VELHAS SAEM, APOIADAS EM SEU CAJADO. (Ouve-se um ponto) DOUTRINADORA: - Bom, o nosso tempo está quase a terminar… É INTERROMPIDA POR UM BRADO DE UM CABOCLO: …kiooooooo! (TODOS OLHAM E VEEM UM CABOCLO E UMA CABOCLA A CHEGAREM) TODOS EM CORO: - Okê, caboclo! CABOCLO: -Tu não podia terminar sem falar na linha Daquele que veio fundar a nossa Umbanda, que veio dizer que a Umbanda é de todos e para todos, que mostrou que espíritos de pretos velhos e os índios de nossa terra podiam trabal-
har em bene�ício de seus irmãos encarnados sem olhar a cor, raça, credo ou posição social: o Caboclo das Sete Encruzilhadas. CABOCLA: -E o Caboclo é hoje na Umbanda o homem nativo, aquele que foi massacrado pelo colonizador branco por achar que por sermos simples éramos inferiores, aquele que sempre viveu em contato com a Natureza e que traz dentro de si um profundo amor e respeito por todos os seres e elementos à sua volta, pela terra, pela água, pelas folhas, plantas e animais, pelas pedras, pelo sol, pela lua.
CABOCLO: Vimos mostrar que viver com simplicidade não é ser ignorante ou inferior, é sim viver livre de preconceitos, sem vaidade nem arrogância, partilhando com os demais o que a terra nos dá. Todos nós somos parte de um Todo, todos nós somos �ilhos do mesmo Deus ou Zambi ou Tupã! E assim devemos viver, em comunhão uns com os outros e em harmonia com o Divino! CABOCLOS VÃO EMBORA, RÁPIDO COMO UMA FLECHA POR ENTRE AS PESSOAS! DOUTRINADORA -Salve os caboclos! TODOS: -Okê caboclo! DOUTRINADORA: - Bem, podíamos �icar aqui a falar das outras linhas que existem na Umbanda, dos boiadeiros, dos ciganos, mas já o sol já se foi e é hora de ir embora! CRIANÇA: - Gostamos muito da doutrina! Aprendemos tanta coisa com os guias e guardei tanta coisa no meu coração, que me vai servir para a vida! DOUTRINADORA -Que bom, (nome da criança). É pena que as pessoas que com eles falam também não o façam do mesmo jeito e que, logo que saem do templo, começam a brigar com este ou a falar mal daquele, esquecendo que a Umbanda é um templo vivo que devemos carregar todos os dias no coração! Boa noite, meus queridos! CRIANÇAS: - Boa noite! TODOS SE LEVANTAM E AGRADECEM. NO MEIO DAS PALMAS, DE REPENTE, NO FUNDO DA SALA, DE UMA PARTE ESCURA, OUVE-SE UMA VOZ: -Boa noite! AS PESSOAS OLHAM E VEEM ALGUÉM A CAMINHAR PELO MEIO DAS PESSOAS, DIZENDO BOA NOITE E BRINCANDO COM UNS E OUTROS. DOUTRINADORA (RINDO): - Salve Exu Mirim! CRIANÇAS: - Laroiê Exu! EXU MIRIM: - Tia, tu ia acabar sem falar de nós, do Povo da Rua? Num pode não, tia! FAZ UM AR TRISTE E COMEÇA A ANDAR EM CÍRCULO, NO MEIO DAS PESSOAS, E PITANDO UM PITO.PÁRA E COMEÇA A FALAR, SEMPRE ANDANDO EM CÍRCULOS: - Onde tem o dia, tem a noite! Onde tem a luz, tem a escuridão, onde tem direita, tem esquerda! E a linha da esquerda somos nós, os Exus e Pombagiras! E nós fazemos falta na Umbanda. Somos os guardiões dos templos! Somos quem desce nas trevas para levar a luz! Somos o espelho onde se re�lete a vossa imagem, mostrando-vos as falhas para que as possam corrigir! Somos a Voz da consciência, fazendo-vos re�letir sobre as vossas verdadeiras intenções. (VIRA-SE PARA UMA PESSOA E DIZ) E se elas forem sinceras, verdadeiras, eu tiro todos os entraves de tua vida, eu te ajudo a chegar onde tem que chegar! (PAUSA) Mas se elas não forem boas… tu tá tramado, tio! E é isso! (e vai embora cantando )…
Mary Nogueira
FIM
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Abril | 2015
09
Mandrágora
Sem folha não há Orixá
De nome cientí�ico Mandragora of�icinarumL., a Mandrágora é uma planta com uma história longa e cheia de lendas, que envolvem as civilizações hebraica, grega e romana. São do conhecimento geral os mitos sobre a famosa mandrágora, a planta cuja raiz principal, bifurcada e muito rami�icada tem por vezes a forma de um corpo humana.
Muito citada em �ilmes pela sua mística, utilizada por feiticeiras e em poções mágicas, a mandrágora é famosa por, supostamente, apresentar algumas qualidades de natureza terapêutica, tais como atributos afrodisíacos, analgésicos e narcóticos. Na obra de Romeu e Julieta, acredita-se que esse foi o ingrediente para simular a morte da jovem. No �ilme de Harry Potter, suas raízes são protagonistas e destaca-se o seu poder de matar com um grito. No �ilme “O Labirinto do Fauno” ela é utilizada para atenuar as consequências de uma gestação di�ícil.
Esta planta que tem várias espécies e não apenas a referida, pertence à família botânica Solanáceae, que inclui espécies, como a batata, o tabaco, o tomate, o pimentão e vários tipos de pimenta, sendo conhecida na história de várias civilizações por diversos nomes. Há quem defenda que o nome mais abrangente desta planta provém do inglês, “mandrake”, ou seja, por um lado homem, devido à raiz que parece ter uma forma humana, por outro “drake”, derivado de dragão. No entanto, há também quem diga que a expressão que denomina essa planta provenha do termo grego que signi�ica planta e há a
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Contam as lendas que a mandrágora só poderia ser colhida à noite. Primeiro teria que se inclinar em direção ao sol poente e homenagear divindades infernais. Depois seria necessário desenhar três círculos ao seu redor com uma espada de ferro virgem. Então, de frente para o oeste, para evitar feitiços, deveriam ser cortadas porções das raízes secundárias. Mas como se acreditava que a planta, quando arrancada, lançava um grito que matava ou enlouquecia aquele que o ouvisse, amarrava-se um cão à planta e a pessoa tapava os ouvidos com cera e a seguir atirava um pedaço de carne para longe do alcance do cão. Assim, este correria e acabaria por cair morto. Entretanto, a mandrágora era arrancada. Uma lenda conta ainda que a semente desta planta era o sémen de um homem que teria sido morto por enforcamento. Outros defendiam que era possível transformar esta raiz num ser humano, caso se associassem os �luidos corporais masculinos e femininos. Na feitiçaria, chamavam-lhe “maçã de Satanás”, “falo dos campos”, “ovos de génios” ou “mão de glória”. Pelos árabes foram chamadas de "maças do diabo", por terem propriedades consideradas afrodisíacas.
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possibilidade desta palavra ser uma alteração do vocabulário assírio ‘nam tar ira’, que tem sentido de “droga masculina de Namtar”, já que este vegetal tinha a fama de acabar com o problema da esterilidade.
No Antigo Egito, era considerada a planta do amor, pois acreditava-se que suas bagas eram afrodisíacas. Os gregos consideravam-na uma planta com poderes mágicos e curativos, sendo assim muito temida e respeitada.
Cienti�icamente, dentre as substâncias que se evidenciam na Mandrágora destaca-se a tro�ina, utilizada para aliviar cólicas intestinais ou biliares e diminuir as secreções dos aparelhos digestivo e respiratório e a escopolamina que, apesar de ter basicamente as mesmas funções, difere pela sua ação sobre o sistema nervoso central. Enquanto a tro�ina provoca, em doses elevadas, agitação, nervosismo e as vezes alucinações e delírios, a escopolamina atua como depressor, causando cansaço e sonolência. Cienti�icamente só se conseguiu provar que os extratos das raízes desta planta provocam sonolência. Leonel Lusquinhos e Vanessa Inhauser
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