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Padre Cícero O Santo Milagreiro do Ceará
À conversa com Mestre Pedro “Mestre Pedro é muito sério no que faz e não gosta de desrespeito”
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Fundamento Jornal Umbandista Português
06 | 2011
Índice
Palavra do Dirigente
Palavra do Dirigente
02
«Quebrar Correntes»
Histórias da ATUPO «Quo Vadis?»
02 03 03
Uma Lenda «Oxossi, o Caçador de Almas»
Reportagem
04
«O Axé das Ervas»
05
Entrevista
06
À Conversa com Mestre pedro «Mestre Pedro é muito sério no que faz e não gosta de desrespeito»
O Convidado Escreve Pai Jomar d´Ogum
07
Saudações, Irmãos de Fé! No passado mês de Maio, comemorou-se o dia dos Pretos Velhos, nossas queridas entidades de Umbanda, sinónimo de humildade, sabedoria e, acima de tudo, de uma vida sofrida que tiveram em suas passagens na Terra, no cativeiro em senzalas, onde o negro era visto como um animal acorrentado, não podendo, na maioria das vezes, ter uma vida em família e sendo impedido de praticar seus costumes e sua religião. No dia 13 de Maio, é também celebrado o dia em que as correntes que aprisionam o negro brasileiro se partem: dá-se a Liberdade através da abolição da Escravatura, com a assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel. Pois bem, esta introdução falando do Negro Brasileiro e da Lei Áurea lembra-nos o porquê de existir a figura do Preto-velho em nossa Umbanda ou do negro escravo em solo brasileiro, que, apesar de acorrentado durante mais de 300 anos no Brasil, lutou sempre, não deixando morrer seus costumes, tendo mantido suas origens no que diz respeito à sua religião! Adaptou-se, lutou por sua liberdade e contra a tirania do homem branco e não perdeu a esperança! Hoje o Preto-Velho desce nos terreiros e templos de Umbanda, na sua divina sabedoria, ensinandonos a termos paciência, a não desistirmos, mostrando que não é tão difícil, que devemos carregar a luta e a esperança gravadas na alma e, acima de tudo, nos ensinando que devemos quebrar as nossas próprias correntes e aceitarmos a nossa liberdade e não esperar que venha uma princesa Isabel assinar uma Lei que nos dê a liberdade e o poder de escolher! Negro velho diz: “ Isso vocês já possuem”! Por isso, meus irmãos, quebrem as vossas correntes e vivam! Salve a sabedoria dos Pretos Velhos e Adorei as Almas! Pai Cláudio de Oxalá Sacerdote de Umbanda | ATUPO -Templo de Umbanda Pai Oxalá
«O Candomblé»
Doutrina de Umbanda
07
Histórias da A.T.U.P.O.
«Ser Bom Médium... Conhecimento Precisa-se!»
A nossa Homenagem Padre Cícero
08
«O Santo Milagreiro do Ceará»
08 Ponto Cantado «Aminha força e a minha luz...» Sem folha não há Orixá «A Guiné»
08
Ficha Técnica
Fundamento Jornal Umbandista Português
Propriedade da
Equipa técnica: Director do Jornal Cláudio Ferreira Director de Conteúdos Cláudio Ferreira Director Comercial Frederico Castro Chefe de Redacção Fernando Silva Redacção Cláudio Ferreira Bernardo Cruz Fernanda Moreira Mary Nogueira Ana Barbosa Leonel Lusquinhos Susana Ferreira Frederico Marques
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Revisão Mary Nogueira Edição Gráfica e Fotografia Paulo Fernandes Bernardo Cruz Miguel Faria Fernando Silva
Contacto fundamento@atupo.com www.atupo.com www.umbanda.pt
Quo Vadis? «O que encontraste na Umbanda que não houvesse noutra qualquer religião?»
C
ontrariamente ao que este título inspira, este artigo não vai versar sobre livros. Apenas sobre a busca do caminho que muitos, arrisco-me a dizer todos nós, empreendemos e que, de alguma forma, acabou por nos levar à ATUPO. Tenho uma vizinha que todas as semanas, ao sábado, se colocava à janela, à hora aproximada em que me desloco para o centro, apenas para tentar descobrir o significado da minha “estranha rotina”. Consciente desse facto, decidi convidá-la a acompanhar-me e a verificar por si própria os “caminhos” por onde me movo. Lá chegada, presa de grande curiosidade e excitação, apressou-se a tomar notas mentais de tudo quanto lá se passava: das pessoas que lá se encontravam; como se vestiam e falavam; do que falavam; quais as particularidades do ritual, enfim, interessou-se por todo o colorido que antecede um ritual de Umbanda… mas recusou-se a falar com uma entidade. Não estava preparada, alegou. Desperdiçar uma oportunidade como a que lhe foi proporcionada pareceu-lhe natural e não se coibiu de me esperar um dia no final do trabalho para uma “amena cavaqueira”. Tal como esperado, inundou-me de questões de pertinência variável, mas, para efeitos deste artigo, gostaria de destacar apenas um: “O que encontraste na Umbanda que não houvesse noutra qualquer religião?” A questão não me apanhou desprevenida.
Estou certa de que todos vós, tal como eu, já vos colocastes esta questão, pelo menos uma vez, ao longo do percurso. Por isso, ultrapassei a contrariedade que o comportamento desta senhora me provocou e partilhei com ela a minha visão. Disse-lhe que, na minha visão, uma religião é, antes de tudo o mais, um código de conduta moral e humana que orienta o praticante no caminho da “iluminação”. Entendase iluminação como o estado máximo de bemaventurança (à falta de melhor definição, coloco aqui a minha). Disse-lhe ainda que o que me seduziu na Umbanda desde o início foi a ausência de “pecado”, i.e., a libertação do conceito judaico-cristão de pecado. A minha geração foi educada com este conceito sempre subjacente a todos os seus actos. Somos talvez a última geração que transporta em si os velhos e os novos conceitos, o que nos dá uma abrangência especial. Mas, ainda por esse facto, a nossa ânsia de liberdade individual continua viva. O facto de no “terreiro” se fazer notar uma ausência de “pecado” foi para mim determinante. No “terreiro”, nos fundamentos, na boca das entidades sempre ouvi falar de responsabilização. Acção gera reacção. Todos os nossos actos ecoam na “Criação” e retornam para nós de acordo com os nossos méritos e deméritos.
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fala e sobre o qual quase ninguém reflecte… O “pecado” mora ainda no íntimo de cada um de nós. O preconceito começa quando nos deparamos com situações que não conhecemos, nem compreendemos, por exemplo, quando nos deparamos com uma nova religião e convidados a conhecê-la na 1ª pessoa nos escusamos a esse contacto; quando permitimos que os nossos valores e crenças (ou a falta deles) contaminem continuamente a nossa mente e nos impeçam de ver mais longe, de evoluir e de aprender algo sobre os outros e sobre o mundo que nos cerca. Terminei esta pequena conversa dizendo-lhe que as portas da ATUPO se mantêm abertas a todo o homem e mulher de boa vontade que ali se dirija à procura de uma luz. Conclusão: Deixei de ter uma “sentinela” por perto quando me dirijo à ATUPO. Ainda está por determinar se continuo, ou não, a ter uma relação cordial com a vizinha, mas acredito que um destes dias ela se vai permitir uma 2ª oportunidade e vai, desta vez de mente e coração bem abertos, visitar novamente a “nossa” casa. Se assim for estou certa de que ouvirá um dos nossos amados guias dizer-lhe as mesmas palavras que ouvi um dia ao Sr. Severino: “Nós aqui promovemos uma transformação interior se as pessoas quiserem, se não quiserem o problema é delas!”
O fatalismo, o atestado de menoridade e a desresponsabilização pelos nossos actos, pelas nossas relações, pela forma como estamos connosco e com os outros, estão ausentes deste conceito. E esta forma de sermos
responsabilizados por tudo o que fazemos, pelas nossas aprendizagens, e pela forma como o fazemos – da maneira mais fácil ou mais difícil – é reconfortante. Cria um espaço extraordinário de liberdade. É certo que sermos responsáveis pela harmonia ou desarmonia que criamos à nossa volta se torna assustador. Não termos o “cardápio” das desculpas disponível quando necessário torna-nos vulneráveis, principalmente quando cometemos actos infames! Mas também é maravilhoso podermos experimentar o “tal” livre-arbítrio de que tanto se
* 1) Quo vadis (Onde vais?) é um romance do escritor polaco Henryk Sienkiewicz (1846-1916), cujo enredo decorre em Roma, durante o reinado do Imperador Nero, e narra o amor proibido de um patrício romano e de uma cristã, durante um período de feroz perseguição movida aos cristãos pelo império. 2) De acordo com a tradição cristã, registada nos livros apócrifos, a expressão "Quo vadis, Domine?" (Aonde vais, Senhor?) surgiu quando Jesus apareceu a Pedro, que deixava Roma para escapar à perseguição de Nero. Perante a visão, Pedro perguntou a Jesus: "Aonde vais, Senhor?", ao que este respondeu: "Já que abandonas o meu povo, vou a Roma para ser crucificado outra vez." Fernanda Moreira
Oxossi, o Caçador de Almas A cada ano, após a colheita, o rei de Ijexá, saudava a abundância de alimentos com uma festa, oferecendo inhame, milho e coco. O rei comemorava com sua família e seus súditos, só as feiticeiras não eram convidadas. Furiosas com a desconsideração, enviaram à festa um pássaro gigante que pousou no teto do palácio, encobrindo-o e impedindo que a cerimônia fosse realizada. O rei mandou chamar os melhores caçadores da cidade. O primeiro tinha vinte flechas. Ele lançou todas elas, mas nenhuma acertou o grande pássaro. Então o rei aborreceu-se e o mandou embora. Um segundo caçador se apresentou, este com quarenta flechas, o fato se repetiu novamente e o rei mandou então prendê-lo. Bem próximo dali vivia Oxóssi, um jovem que costumava caçar à noite, antes do sol nascer, ele usava apenas uma flecha vermelha. O rei mandou chamá-lo para dar fim no grande pássaro. Sabendo das punições imposta pelo rei aos outros caçadores, a mãe de Oxóssi temendo pela vida do filho, consultou um babalaô, e os obis mostraram que, se fosse feita uma oferenda para as feiticeiras ele teria sucesso. A oferenda consistia em sacrificar uma galinha. Nesse exato momento, Oxóssi deveria atirar a sua única flecha. E assim o fez, acertando o pássaro bem no peito ferindo-o de morte. O rei agradecido pelo feito, deu ao caçador metade de sua riqueza e a cidade de Keto, “ terra dos panos vermelhos”, onde Oxóssi governou até a sua morte, tornando-se depois um Orixá.
Uma Lenda
ra, à prosperidade. É Oxóssi que, com o seu tiro certeiro, mata o pássaro gigante, pousado no teto do palácio, permitindo assim que continue a celebrar-se a abundância de alimentos e recebendo em troca metade da riqueza do rei e uma cidade. É Oxóssi que, com a sua flecha, providencia para que nada falte ao seu povo , adentrando pelas matas, na calada da noite, sem medo dos perigos, em busca da caça, do alimento. E é a busca constante, à procura do alimento, que lhe permite conhecer as matas, cada árvore, cada folha. Assim, a energia de Oxóssi está ligada a essa busca que visa em si o conhecimento; não só o conhecimento do mundo que nos rodeia, pois é a energia de Oxóssi que está ligada às diferentes áreas do saber, a ciência, a educação, a filosofia, mas também e principalmente ao conhecimento de nós mesmos, das nossas necessidades, para que possamos crescer e evoluir enquanto seres materiais e espirituais. É a energia de Oxóssi que vibra em nós, quando refletimos, buscamos o nosso interior, para compreendermos quem somos e quem queremos ser. É neste sentido que a energia de Oxóssi atua como Caçador de Almas que, com a sua flecha certeira, instrumento de fé, nos resgata, nos cura, derrotando o pássaro gigante que habita dentro de nós , permitindo, assim, que possamos viver com a certeza de que Oxóssi nos guiará no caminho da Luz, sempre buscando, sempre partilhando, para que a fartura, a abundância sejam sempre celebradas por todos nós! Mary Nogueira
In "Mitologia dos Orixás"de Reginaldo Prandi, Ed. Companhia das Letras.
Esta lenda mostra claramente que a energia de Oxóssi está ligada à fartuwww.umbanda.pt
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Reportagem
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de fórmulas e remédios. Foi descoberto pelo egiptólogo alemão George Ebers. Os egípcios tinham bastantes conhecimentos sobre o uso de plantas, recorrendo a estas para diversos e variados fins, tais como: alimentação, medicina, cosmética, embalsamento, incensos, óleos para dores musculares e relaxamento, entre outras. A história da aspirina, por exemplo, pode ser remontada até ao Antigo Egipto. Do Antigo Egipto chega-nos um famoso médico da antiguidade – Imhotep. Da Mesopotâmia, actual Iraque, e berço da civilização humana, chegam-nos registos em placas de barro datadas entre 3000 e 2000 a.C. que dão conta de trocas comerciais de plantas. Da Índia temos registos que datam aproximadamente do ano 2500 a.C., nomeadamente o Athatva Veda, e que indicam que o consumo e uso de ervas tinham a finalidade de prolongar a vida. Um facto curioso é que os hindus acreditavam que apenas os puros e piedosos podiam colher as plantas e que estas deviam crescer longe da vista humana e do pecado, pois estas eram “as filhas predilectas dos deuses”, assumindo por isso uma posição divina. Na Grécia, no Século XIII a.C., teve lugar o aparecimento do primeiro “spa” de que se tem conhecimento, bem como a existência de diversos templos de cura que recorriam às propriedades terapêuticas das plantas. Os gregos fizeram um esforço em compilar o conhecimento que lhes chegou de várias partes do mundo conhecido, nomeadamente da Índia, Babilónia, Egipto e
mesma da China. O filósofo Aristóteles (384-322 a.C.) e o seu discípulo Teofrasto (370-286 a.C.) foram os criadores do primeiro sistema científico de classificação botânica. Durante a Idade Média, devido às dificuldades criadas pela Igreja ao progresso científico, os estudos médicos das plantas res tringiram-se aos monges nos mosteiros e a algumas mulheres em aldeias remotas. Além disso, a Igreja considerava as doenças como castigo divino e, portanto, não passíveis de intervenção humana. Este facto levou a que o estudo sobre o uso de plantas ficasse limitado ao mundo árabe. Neste contexto, é de salientar o esforço dos persas em traduzir o trabalho realizado pelos gregos, continuando assim o seu estudo. No Renascimento, Século XV, deuse o regresso do estudo sobre plantas ao Velho Continente, sendo esta uma
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uito antes do surgimento da escrita, o homem primitivo já experimentava a diversidade de plantas ao seu dispor, classificando-as consoante a sua potencialidade: alimentação, medicina, veneno, alucinogénicos. O conhecimento sobre as potencialidades das plantas tem, por isso, a sua raiz na nossa ancestralidade, sendo que estas foram objecto de estudo de várias civilizações, ao longo dos tempos. A necessidade humana em conhecer e usar a natureza à sua volta para dela retirar benefícios, levou a que se encetasse esta jornada. A utilização de algumas plantas com capacidades de cura fizeram destas os primeiros recursos terapêuticos e uma das primeiras formas de manifestação do homem. Registos escritos sobre a forma de utilização e efeitos são vários e chegam-nos de diversas épocas e pontos do planeta, desde os Chineses em 3000 a.C. aos Aztecas no Século XVI. Os primeiros relatam a importância das plantas em cerimónias de magia e de medicina, havendo também referências a outros usos, nomeadamente na alimentação. O registo escrito mais antigo de que dispomos data do ano 3700 a.C. e consiste num tratado médico deixado pelo imperador chinês Shen Nung, onde afirmava que, para cada doença existia uma planta, que forneceria um remédio natural. No entanto, o mais conhecido denomina-se Papiro de Ebers e tem a sua origem no Antigo Egipto, por volta de 1500 a.C., contendo centenas
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natural, mas também como elementos ritualísticos e magísticos, capazes de facilitar a ligação do ser Humano com o plano espiritual. Em todos os povos e culturas, as ervas tornaram-se conhecidas pelas suas propriedades para repelir energias negativas, afastar o mal ou proteger de azares, bem como pela capacidade de atrair energias positivas, boa sorte e fortuna. Tanto na pré-história como nas civilizações da antiguidade, o curandeiro ou homem da medicina era, simultaneamente, o sacerdote ou líder espiritual, acumulando, por inerência às suas funções, todo o conhecimento medicinal com o conhecimento religioso e espiritual. Assim, ao longo dos séculos, feiticeiros, xamãs, curandeiros e sacerdotes, foram conhecendo as propriedades energéticas e espirituais de cada planta e aprendendo a utilizá-las como elementos preciosos para estabelecer a comunicação com as divindades e espíritos dos antepassados, bem como para alcançar o equilíbrio espiritual desejado. Tal como aconteceu noutras religiões, a Umbanda herdou das suas raízes, principalmente da africana e indígena, o conhecimento da utilização das ervas (folhas, flores, raízes, sementes, etc.) tanto a nível medicinal como magístico e espiritual. Este conhecimento chegou da antiguidade até aos nossos dias, não só através da transmissão oral do conhecimento popular, de geração em geração, e dos estudos científicos realizados ao longo dos séculos, mas também do plano astral, através das entidades espirituais, nomeadamente daquelas que mais viveram em comunhão com a natureza, como é o caso dos Caboclos, Pretosvelhos e Boiadeiros. Na Umbanda, para além do uso terapêutico, as ervas são utilizadas tanto para a limpeza energética, como para a imantação ou energização de pessoas, ambientes ou lugares. Esta utilização é feita de várias formas que vão desde os banhos e amacis de ervas, passando pelo fumo resultante da combustão de elementos vegetais na defumação ou no queimar de um charuto, até à simples utilização das folhas verdes durante um “passe”. Quem não conhece os banhos de descarrego ou defesa, a famosa arruda utilizada pelo Preto-velho ou ainda o charuto do Caboclo? Para além das propriedades químicas, cada planta possui qualidades energéticas que são nada mais, nada menos, do que a Energia Vital da homeopatia, o Prāna dos Hindus, o Qi dos chineses ou simplesmente o Axé da Umbanda. Cada planta carrega a vibração energética de um ou vários Orixás e é a manipulação destas energias,
associada a outros elementos magísticos, que os Guias e sacerdotes da Umbanda utilizam como recurso para estabelecer ou restabelecer o equilíbrio energético e espiritual. Dependendo da necessidade, problema ou situação, entidades e sacerdotes recorrem a uma ou mais ervas, de acordo com o conhecimento que possuem sobre as suas qualidades energéticas e formas de utilização, para que actuem atraindo ou activando as vibrações de um ou mais Orixás, obtendo assim a harmonia e o equilíbrio físico, mental, emocional ou espiritual necessário. Da mesma forma, utilizam o “sangue vegetal” portador de essências divinas, para eliminar e transmutar as energias negativas, limpando ambientes e pessoas. As ervas são verdadeiras dádivas divinas e são essenciais na ritualística de Umbanda. Exemplo do seu valor e importância, é a defumação realizada no início da Gira, essencial para a limpeza e purificação do ambiente energético do terreiro e desobstrução e alinhamento dos chacras dos médiuns, contribuindo para uma maior capacidade de concentração, elevação do pensamento e, consequentemente, uma maior aproximação dos Guias. Actualmente, assistimos a um renascer do interesse cada vez maior da ciência pelo poder das plantas, através do estudo e desenvolvimento das chamadas medicinas naturais ou alternativas. Terapias baseadas nas propriedades das plantas, como a fitoterapia e os florais, são hoje reconhecidas pela Organização Mundial da Saúde. Conhecimentos milenares, que hoje a ciência redescobre, são preservados e postos em prática diariamente, não só dentro dos templos de Umbanda e de outros cultos afro-brasileiros, como no seio de outras religiões. Bernardo Cruz e Frederico Marques Fontes: http://raizculturablog.wordpress.com/2009/01 /21/ervas-e-seu-uso-ancestral/ ; www.ervasdositio.com.br
Apoios
era dourada neste campo, onde se fizeram inúmeras descobertas de curas para várias doenças. Houve uma centralização sobre o estudo das plantas, o qual passou a ser proibido às mulheres e curandeiros não profissionais. Quem o fizesse seria considerado herege. No século XVI, um suíço chamado Philippus Aureolus Theophrastus percorreu a Europa, contactando com curandeiros, parteiras e feiticeiros, em busca do conhecimento sobre plantas e minerais. Mais tarde viria a ser conhecido como Paracelso, o fundador da Alquimia e precursor dos conceitos da influência cósmica sobre as plantas e as suas relações com os quatro elementos – terra, água, fogo e ar. Já na era dos Descobrimentos, os povos europeus observaram e registaram o uso de ervas pelos nativos para fins medicinais e alimentares. Estes povos nativos não possuiam mais do que alguns registos sobre a forma de pinturas rupestres, sendo, no entanto, plausível que estes recorressem às plantas para a sua dieta e medicina desde a sua chegada ao continente americano, há cerca de doze mil anos. Quase todo o conhecimento sobre a flora brasileira foi descoberto por cientistas estrangeiros, especialmente os naturalistas, através da realização de expedições científicas ao Brasil, desde os descobrimentos portugueses até ao final do século XIX. Com o advento da Revolução Industrial e o início da Era Moderna, final do Século XIX, o Homem foi capaz de sintetizar partes das plantas, faze ndo com que a medicina natural fosse ridicularizada, pois era considerada como ultrapassada. No início do Século XX, o uso de plantas deixou de ser comum. Contudo, recentemente esta tendência tem vindo a mudar com o ressurgimento da medicina natural, nomeadamente no uso destas como complemento a certos tratamentos, cujos efeitos secundários dos medicamentos são nocívos. Também ao longo de toda a história da Humanidade, encontramos a utilização das plantas em quase todas as religiões ou cultos religiosos, não apenas associada à cura e tratamento de doenças, a medicina
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Entrevista
À conversa com Mestre Pedro, Ogã desde 1984 “Mestre Pedro é muito sério no que faz e não gosta de desrespeito”
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estre Pedro, assim denominado pelo Marinheiro Gerson, entidade do Templo de Umbanda Estrela Guia, do Pai Guimarães de Ogum, toca atabaque desde 1984. Descobriu o amor pelos atabaques e pela Umbanda em simultâneo. Vê como fundamental o papel do Ogã dentro do ritual de Umbanda e destaca como principais qualidades do curimbeiro a humildade, a vontade de aprender, saber quando iniciar e terminar os pontos e estar sempre atento aos médiuns Diz que a inspiração lhe é enviada pelos Orixás independentemente de local, tempo ou situação que vive e que a verdadeira Umbanda não conhece fronteiras. Em 2005, criou a Escola de Curimba, a ”Umbanda, Razão para Viver”, onde dá aulas de toque e canto. Na qualidade de Ogâ, veio a Portugal onde, confessa, gostaria de vir uma vez por ano. Na entrevista que se segue, Mestre Pedro falou de si, da sua visão da Umbanda cantada e dos seus projectos. l Quem é o Mestre Pedro?
Mestre Pedro, nome dado pela entidade de Luz da Umbanda –(Marinheiro Gerson ) que vem na matéria do Pai Guimarães de Ogum. Mestre Pedro é muito sério no que faz e não gosta de desrespeito de qualquer gênero quando se fala de atabaque e ritual. E principalmente se ele estiver em ritual, tanto do médium para a entidade como da entidade para o médium, muito menos de consulentes ou vice-versa. l Mestre Pedro, há quanto tempo toca atabaque?
Quando e como começou? Toco há 27 anos. Comecei a tocar em 1984. Tudo começou quando fui a casa da minha irmã (Baba Rosa) para visitá-la e conheci Mestre Mané Baiano. Lá tinha um atabaque ( LÊ ) me esperando. Fui me aproximando e imediatamente já tive autorização de fazer algum barulho. Mesmo sem saber nenhum ponto, tinha o ritmo nas mãos e no coração. Era tudo o que precisava para desabrochar o verdadeiro Ogã Pedro. l Foi o seu amor pela Umbanda que o fez
l Tem uma Escola de Curimba, a ”Umbanda,
Razão para Viver”, onde dá aulas de toque e canto. Como surgiu a ideia de criar esta escola? Quando foi criada? Atualmente ministro as aulas, nas quintas-feira no Templo de Umbanda Estrela Guia, Av. Conceição 865, em Diadema e aos Sábados no Centro Espírita Caboclo Flecheiro e Mané Baiano, Rua Durval Martins de Siqueira, 81 Jd São Bernardo – Grajaú São Paulo. A Escola foi criada em 05.05.2005, com a primeira finalidade de ajudar a comunidade com as despesas e, ao mesmo tempo, estar passando o conhecimento e o ensinamento do Mestre Pedro para os poucos que queiram realmente saber tocar. A intenção não é ter nunca a quantidade e sempre a qualidade. l Há muita gente a querer aprender o toque dos
Orixás? Quantos alunos tem a escola? Sempre tem muita gente, mas poucos conseguem o êxito, porque a exigência do Mestre Pedro é muita. Hoje, atualmente tenho 40 alunos entre as duas escolas.
l O seu amor pelos atabaques e pela religião
trouxeram-no até ao nosso país, onde nos enriqueceu com os seus conhecimentos e o seu vasto repertório. Como surgiu a oportunidade de vir à ATUPO e como foi essa experiência? Foi através do Pai Guimarães de Ogum, que já havia me convidado uma vez anteriormente, mas eu não tinha possibilidades de ir até vocês. Mas a experiência foi: NOTÁVEL, AGRADABILISSÍMA, A RECEPÇÃO DO POVO, NOTA MIL, A INTEGRAÇÃO M A R AV I L H O S A , O A C O L H I M E N T O , S E M COMENTÁRIOS. SE PUDESSE ESTARIA AI UMA VEZ POR ANO, NEM QUE FOSSE SOMENTE PARA ABRAÇA-LOS. l E o que sentiu em relação à Umbanda que viu
curimbeiro? O curimbeiro: 1ª qualidade - a humildade; 2ª qualidade - a vontade de aprender a tocar, cantar e dobrar o couro; 3ª qualidade - saber quando iniciar e quando parar o ponto; 4ª qualidade - estar sempre atento aos médiuns, à Mãe ou ao Pai da casa e, ao mesmo tempo, na porteira, a fim de saber quem está entrando ou saindo; mas além de tudo isso, ele tem que saber que, no atabaque e no ritual, tem que ter primeiro o coração.
em Portugal? Acha que, com um oceano a separar os dois países, as diferenças são muito grandes? Na verdadeira Umbanda não existem fronteiras para os Orixás: O Orixá Ogum em Portugal é o mesmo da Espanha e no Brasil e de todos os supostos países que possam existir. Sendo assim não existe diferença nos Orixás. O Oceano não divide as entidade, nem as pessoas, desde que elas desejem e tenham possibilidades de atravessar, mesmo que for somente para dar um abraço. Existe diferença sim, na forma e na seriedade de cada zelador de Santo de conduzir sua casa e seus trabalhos espirituais, mas isso não diz respeito ao outro, desde que o visitante saiba receber o Axé.
l Dê-nos uma breve panorâmica da sua partici-
l Gostaríamos, por último, que nos dissesse de
pação em projectos relacionados com a Umbanda. O primeiro foi o centro espírita Caboclo Flecheiro no qual tive uma participação antes durante e depois. Em seguida, a escola de Curimba e logo a firmeza do Templo de Umbanda Estrela Guia. Estou pensando seriamente em dar aulas para crianças, a partir de seis anos de idade. Esse talvez sejam o maior prémio para a Umbanda e que serão a continuação do Mestre Pedro.
que forma a Umbanda é para si razão para viver! Na Umbanda, quando estou tocando e cantando para os Orixás, a impressão é de estar voando, sempre fazendo o bem para alguém. Não vejo distância, nem dificuldade. Levando a minha mente ao pico mais longe que existe no planeta, sem ter medo de errar, sem ter tempo para pensar e nem mesmo vontade de parar, a vida se torna mais amena, seus problemas, diminuem e você não vê o tempo passar, por isso se torna sempre uma grande Razão Para Viver.
l Na sua opinião, que qualidades deve ter um
descobrir os atabaques ou vice-versa? Nenhum dos dois e, ao mesmo tempo, os dois, porque eu não conhecia nem a religião e nem o instrumento. Depois de estar algum tempo tocando e cantando, veio a descoberta de que o que eu fazia era Umbanda. Já estava com o corpo todo dentro e não só o pé . l Como vê o papel do Ogã na Umbanda? O Papel do OGã, tanto na Umbanda como no Candomblé, é fundamental, porque ele dá segurança aos médiuns e às entidades no momento de transição, conseguindo assim elevar o grau de energia positiva dentro do espaço que estiver, no tempo certo e com a firmeza necessária.
de Curimba. Conte-nos como decorreu o espectáculo. O espetáculo foi surpreendente! Nem eu sabia que iria tomar tal forma quando na apresentação, muito mais além do que pensei! Mas lamentável foi as pessoas que lá estavam para o julgamento, não terem altura e nem sabedoria para avaliar a grandeza do que foi apresentado.
l Compõe, toca, canta! Onde vai buscar inspira-
l Acha que a Umbanda pode ser divulgada neste
ção para as suas criações? Isso é uma uma coisa que você não precisa buscar. Quando os Orixás vão te dar alguma coisa, Eles ta enviam, independente de lugar, tempo ou situação.
tipo de eventos? Em opinião do Mestre Pedro não, porque, infelizmente, as pessoas que normalmente promovem esse tipo de evento, não estão preocupadas em promover a religião e sim a si próprias e aos seus
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interesses particulares, chegando até mesmo a fazer parcerias com pessoas e não com o trabalho espiritual.
10. Q u e p r o j e c t o s p a r a o f u t u r o ? Tá saindo (a ser criada) uma Casa de Caridade na qual estou entrando. l A sua escola participou este ano num Festival
l Sede da Escola de Curimba Razão de Viver para
contacto dos interessados Escola de Curimba Umbanda Razão Para Viver, Av. Conceição, 865, Diadema | Rua Durval Martins de Siqueira, 81 Grajaú São Paulo – Brasil Fone: (11) 5673-4350 Cel. Mestre Pedro 7827-7413 - 8492-4158 Fernanda Moreira
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noEscreve Mundo OUmbanda Convidado
Ser Bom Médium...
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Doutrina de Umbanda
Conhecimento Precisa-se!!! Já muito se falou e escreveu acerca da mediunidade. No entanto, tanto médiuns de trabalho como consulentes colocam muitas vezes a questão: “O que é necessário para ser um bom médium?” Não querendo criar uma “receita” para algo que depende do esforço, empenho e dedicação de cada um, é inquestionável que o bom e correcto exercício da mediunidade exige que o médium cultive em si mesmo um conjunto de valores e atitudes como a Fé, o amor, a honestidade e rectidão, a humildade e a responsabilidade. Mas, para além destes valores, existe um outro aspecto essencial para o crescimento do médium – o conhecimento. Conhecer as normas de funcionamento do Templo, a ritualística ou os pontos cantados não basta para se ser um bom médium de trabalho. A busca do conhecimento sobre a religião e seus fundamentos, sobre a espiritualidade, as Entidades, suas linhas de trabalho e forma de actuação, ervas e banhos, e principalmente sobre o ser Humano e a vida deve ser constante e é fundamental para um bom crescimento do médium, enquanto instrumento de trabalho dos Guias e Orixás. O conhecimento permite a compreensão e o entendimento, que, por sua vez, geram a consciência, a qual se transforma em amor. O médium que adquire maior consciência sobre a espiritualidade e sobre a vida aumenta a sua capacidade de amar o próximo e a si mesmo, tornando mais forte a sua conexão com o Divino e, consequentemente, mais firme e equilibrada a ligação com as Entidades com quem trabalha. O conhecimento do médium é uma mais-valia para os Guias que o utilizam como ferramenta no trabalho espiritual. É claro que para esta conquista de consciência não basta o conhecimento teórico, é necessária também a prática. Além de estudar, o médium deve ser activo e participativo nos trabalhos do Templo. A reforma de princípios e valores juntamente com a busca do conhecimento são fundamentais para o crescimento do indivíduo, não apenas como médium, mas também como ser Humano, sob pena de estagnar na sua caminhada. Que Oxalá abençoe e ilumine a todos. Bernardo Cruz
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Sem folha não há Orixá
A Nossa Homenagem
06 | 2011
Padre Cícero O Santo Milagreiro do Ceará
A Guiné N
esta sétima edição, falaremos da nossa tão conhecida guiné, cientificamente denominada de Petiveria alliacea e popularmente conhecida como “amansa senhor” ou “erva de pipi”. É originária das regiões tropicais da América Central e Sul, Caribe e África. Durante o período esclavagista no Brasil, era usada secretamente pelos negros, em pequenas doses, por tempo prolongado, para proteger as mulheres negras do assédio de seus patrões, uma vez que provocava o enfraquecimento do cérebro dos senhores, fazendo-os cair num estado de letargia. Era também dada aos feitores, a fim de torná-los mais brandos na convivência diária, daí resultando o nome popular “ amansa senhor”. Na floresta amazónica, a guiné era usada como banho de ervas pelos índios e curandeiros contra a feitiçaria, contra a sinusite, gripes, como analgésico e insecticida. Esta planta tem uma longa história de uso terapêutico, em todos os países tropicais. Os primeiros estudos científicos sobre os seus efeitos remontam aos fins do século XIX, permanecendo até à actualidade em estudos sobre os efeitos desta no tratamento de certos tipos de cancro. Características: A Guiné é uma planta semi arbustiva de ciclo perene que em média atinge 1m de altura. Apresenta folhas de cor verde-escuro, flores brancas minúsculas em espiga, caracterizada pelo seu odor forte. Cultivo: A Guiné necessita de um solo fértil e moderadamente húmido, sendo uma planta pouco resistente às geadas. Meios de utilização: Uso Interno: chá | Uso Externo: banhos e emulsões Indicações terapêuticas: A Guiné é utilizada no tratamento das seguintes patologias: reumatismo, artrite, malária, falta de memória, dores musculares, constipações, gripe, infecções respiratórias e pulmonares, certos tipos de cancro, reforço do sistema imunitário, diabetes, alguns problemas de pele. Dependo do tipo de terapêutica é utilizada a folha ou a raiz. Propriedades terapêuticas: Esta planta é considerada: anti-espasmódica, diurética, estimulante menstrual, analgésica, sedativa, anti-inflamatória e hipoglicemiante. Contra indicações: a utilização desta planta abusivamente e sistematicamente é nociva ao organismo devido às suas propriedades tóxicas e abortivas. Leonel Lusquinhos e Susana Ferreira Fontes: http://www.cotianet.com.br/eco/HERB/guine.htm; http://www.aguaforte.com/herbarium/Petiveria.html; http://www.chaecia.com.br/loja/produto-
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