Fundamento Jornal Umbandista Português
Nº 008
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Distribuição Gratuita
OS ELEMENTOS
Mar Português
Pai Jamil Rachid em Portugal
«Pé de Orelha» com o Sr. Pé de Vento - Dicas para a Felicidade
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Fundamento Jornal Umbandista Português
2011
Índice
Palavra do Dirigente
Palavra do Dirigente
02
«Ogum ao serviço de Jesus»
Histórias da ATUPO «Mar Português»
03
Reportagem
04
«Os Elementos» (Parte I)
05
Entrevista
06
«Pé de Orelha» com o Sr. Pé de Vento
Umbanda no Mundo
07
«Visita de Pai Jamil a Portugal»
A nossa Homenagem «Pai Jamil Rachid»
08
«Santa Sara Kali e o Povo Cigano»
08
Ficha Técnica Jornal Umbandista Português
Propriedade da
Equipa técnica:
Revisão Mary Nogueira
Director do Jornal Cláudio Ferreira
Edição Gráfica e Fotografia Paulo Fernandes Fernando Silva
Director de Conteúdos Cláudio Ferreira Director Comercial Frederico Castro Chefe de Redacção Fernando Silva Redacção Cláudio Ferreira Fernanda Moreira Fernando Silva Vitorino Camelo
Ogum ao serviço de Jesus O
«Dicas para a Felicidade».
Fundamento
Saudações Irmãos de Fé! Achei este texto de Ramatis, que me foi enviado, apropriado numa altura em que vemos pessoas depositando em nossos guias e protetores de Umbanda todas as suas dificuldades, a fim de que sejam resolvidas com um passe de mágica! Esquecemos, porém, que o caminho espiritual (nossas vidas) é o grande aprendizado de nosso Ser e que devemos trilhá-lo a fim de alcançarmos nossos objetivos ou ultrapassarmos nossas dificuldades ou qual seria o sentido da vida sem esse aprendizado? Nossos Guias lembram-nos muitas vezes de toda a força que possuímos para atingir um grau maior em nossa evolução e ajudam-nos quando veem que aprendemos a lição, partindo do princípio da Lei do Merecimento. O que temos de fazer é estarmos atentos a tudo que nossos queridos Guias dizem e não apenas àquilo que queremos ouvir.....
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gum é a vontade, os caminhos abertos, a energia propulsora da conquista, o impulso da ação, da vontade, o poder da fé, a força inicial para que haja a transformação. É o ponto de partida, aquele que está à frente. É a vida em sua plenitude, a vitalidade ferrosa contida no sangue que corre nas veias, a manutenção da vida, a generosidade e a docilidade, a franqueza, a elegância e a liderança. A energia oriunda da vibração de Ogum pode ser percebida claramente nestas palavras de Jesus: “A tua fé te curou” (com a imposição das mãos, Ele acionou o poder da vontade de mudar de atitudes e pensamentos). “Pedi e recebereis! Buscai e achareis! Porque todo aquele que pede, recebe!”,demonstrando que Deus nos dotou de inteligência e capacidade para que superemos nossas dificuldades, recomendando-nos o trabalho, a atividade e o esforço próprio. Precisamos aprender a pedir, pois costumamos exigir soluções rápidas e eficazes para problemas de ordem material. Estamos sempre correndo contra o relógio e perdidos entre compromissos assumidos, os quais muitas vezes extrapolam nossa capacidade de cumprir. Esquecemos de cuidar de nossos sentimentos, de ir ao encontro do que nos realiza e nos dá satisfação interior, das coisas simples da vida. Se acreditamos em reencarnação, então
sabemos que tudo aqui é transitório, que estamos na Terra para evoluir em espírito, para superar a nós mesmos. O “pedir”, colocado aqui, é no sentido de “receber” da Providência Divina o ânimo, a coragem, as boas idéias, a fim de que possamos crescer e adquirir a paciência necessária para lidar com as nossas imperfeições e com as dos outros. Cada problema contém em si próprio a solução. Tudo está certo como está, pois tudo tem o seu tempo para mudar, crescer e amadurecer. Aquilo que não nos cabe resolver “agora”, confiemos em Deus, pois quando estivermos prontos para compreender, tudo se resolverá. Devemos dar o melhor de nós, com ânimo, entusiasmo e confiança, agradecendo a oportunidade da vida. Ogum representa, portanto, o caminho que precisamos percorrer, aquele caminho solitário para vencer os dragões internos que, na verdade, é o espírito em busca de si mesmo; percorrer o caminho de volta à unicidade com o Pai. (Fonte: Umbanda Pé no Chão, pelo Espírito Ramatis – Médium: Norberto Peixoto).
Pai Cláudio de Oxalá Sacerdote de Umbanda ATUPO - Templo de Umbanda Pai Oxalá
- Cividade lo Pereira, 75 Rua D. Gonça 261 021 aga - Tel. 253 4700-032 Br
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MAR PORTUGUÊS Ó mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal! Por te cruzarmos, quantas mães choraram, Quantos filhos em vão rezaram! Quantas noivas ficaram por casar Para que fosses nosso, ó mar! Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena. Quem quer passar além do Bojador Tem que passar além da dor. Deus ao mar o perigo e o abismo deu, Mas nele é que espelhou o céu. Fernando Pessoa, in Mensagem
N
o dia 25.06.2011, realizou-se aquela que já começa a ser uma tradição da ATUPO: a homenagem ao Povo do Mar, concretamente Gira de Marinheiros, sob o olhar benevolente da Grande Mãe, Yemanjá! A deslocação à praia foi massiva e, ao contrário do que aconteceu no ano passado, o tempo estava quente… tão quente... que a areia ameaçava arrancar-nos a pele da planta dos pés. O ambiente estava fantástico! O céu estava resplandecente de azul e a água do mar era um lenitivo para as nossas aflições, i.e., o calor escaldante, num claro simbolismo entre as dores da nossa alma e o amparo que a Mãe Yemanjá nos dá! O pescador/marinheiro faz parte não só do imaginário português, mas também da nossa história. A navegação aventureira, na procura de Novos Mundos, há muito que se foi, mas a tradição e a ligação ao mar manteve-se até às presentes gerações até porque, de acordo com o grande poeta, “ainda falta cumprir Portugal”! O certo é que, de todas as histórias que se contam, nasceu um “tipo” psicológico ou arquétipo do marujo: brigão, truculento, alegre e dado a celebrações. O Homem cuja vida dura, não o impedia de levar a palavra saudade a todo o mundo, não deixando por isso de celebrar o maior dom que Deus nos deu – A VIDA. www.umbanda.pt
Histórias da A.T.U.P.O.
Foi um sucesso anunciado! Com a experiência adquirida nos anos anteriores, pudemos melhorar um pouco esta homenagem e dedicar-nos exclusivamente a celebrar a alegria de bem viver as nossas existências de acordo com a visão dos Marujos. Estes chegaram alegremente, depois da verificação dos caminhos por Ogum e da bênção concedida por Yemanjá. No seu estilo vigoroso e alegre, muitas vezes provocador, deram a volta à assistência, falaram com todos os devotos – e foram tantos os que se fizeram presentes – aconselharam, deram passes, fizeram descarregos e também doutrinaram. O sotaque é de terras de Vera Cruz, exceção
a ponto de uma ponta cantar um verso e a ponta oposta cantar um outro. Todos entoavam os mesmos cânticos com emoção e entrega total ao momento em jeito de compensação. Aqui impõe-se uma comparação. No ano anterior, aproveitando a transformação do dia invernoso em dia estival, o Sr. Martim fez questão de realçar o quanto o Tempo é um mestre sábio que muito tem para nos ensinar. Falou de perseverança; estabeleceu um paralelo entre o tempo e a vida e concluiu dizendo que “na vida acontece como com o tempo: quem fica até ao fim, quem persiste sobre as contrariedades da vida sem desistir, no final é recompensado com a bonança, com um dia claro, um céu limpo e com uma brisa ligeira”.
feita apenas ao caso do Sr. Agostinho, “Português dos 4 costados”, ali dos lados de Peniche e que nas palavras do Prof. Ismael Pordeus Jr. no seu livro “Portugal em Transe” prova “a concretização da transnacionalização do panteão” e “deixa antever um panteão na Umbanda de Portugal”. A tarde foi passando amena, quase sem se fazer sentir. Ouviam-se murmúrios aqui, choros mais ao fundo, gargalhadas em todo o lado. Deixamos de prestar atenção ao calor sufocante. O calor humano, a Fé e a Alegria por nos encontrarmos, mais uma vez, a fazer esta homenagem juntamente com esta mole humana que continua a aumentar, alterou a nossa perceção do tempo. Quando nos apercebemos, tinha chegado o momento de verdadeiramente honrar Yemanjá e de formalmente fazermos a entrega das centenas de rosas brancas que, entre todos nós, corrente e assistência, conseguimos reunir. Fez-se a corrente mais longa de todas as que já vimos estender-se pela extensão total do areal. As cores dourado da areia e branca dos trajes em perfeita harmonia com o azul do céu e os tons esverdeados do mar, todos parte de um caleidoscópio colorido, iluminado pelo sol que nos honrava com a sua presença radiosa. Numa tal extensão de corrente, os cantos tornaram-se entrecortados por ritmos diversos,
Este ano complementou a mensagem! Não se fez “o maior círculo/corrente de Umbanda alguma vez feito em Portugal” como no ano passado, antes se organizaram os participantes em 4 círculos concêntricos, como que numa mandala humana representativa dos diversos níveis de evolução, pelos quais os seres humanos têm de passar até atingir um nível de consciência que se harmonize com a obra divina. O Sr. Martim Pescador aproveitou para realçar que esse número não era uma mera coincidência, porque o 4 representa a família, a união numa referência à máxima da ”união faz a força” e da importância da Família, em sentido amplo, para o fortalecimento do nosso ser e para o nosso equilíbrio, bem como para o equilíbrio do Todo. Terminou-se esta homenagem com o Ponto “Eu sou o sereno da noite” cantado a uma só voz e a plenos pulmões. Tal como as caravelas quinhentistas chegaram bem longe, diz quem ouviu que este canto se propagou nitidamente ao longo da praia, levando ainda mais longe o convite dos marujos: “Canta comigo agora / esquece a tristeza e vamos cantar / pois quem canta seus males espanta / deixando as tristezas / a felicidade começa a chegar!” Fernanda Moreira
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Reportagem
Os Elem 09 | 10 | 2010 2011 Setembro| Outubro | 2010
O
estudo das forças presentes (e ocultas) na natureza, presentes nos quatro elementos e seus elementais, é recorrente em grande parte das grandes culturas, tanto Ocidentais, como Orientais. É também comum o facto de existir uma base teosófica no estudo dos quatro elementos básicos da natureza: o Ar, a Terra, a Água e o Fogo. Esta seleção, de certa forma natural, refere-se também à condição humana e à necessidade que temos de todos e cada um desses elementos para poder sobreviver. A origem da Teoria dos Quatro Elementos julga-se ter tido início na Grécia Antiga, entre os filósofos pré-socráticos, envoltos em discussões que procuravam esclarecer a origem material de todas as coisas, atribuindo a determinado Elemento uma determinada particularidade geradora ou causadora de algo, na época, inexplicável. Estas dissertações deram origem a várias obras cuja expressão – literária, plástica, filosófica, científica e religiosa – perdura até aos dias de hoje. O mais provável, no entanto, é que a origem desta Teoria tenha vindo do Oriente, adaptada do que hoje conhecemos como a Teoria dos Cinco Elementos, originária da China, sendo considerados, mais do que elementos, formas de transmutação da matéria/energia, a partir de um ciclo natural da transformação dos vários elementos – madeira, fogo, terra, metal e água. Também na Índia se vê a aplicação da figura dos Elementos (Éter, Fogo, Água, Ar e Terra) que entram
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em partes equilibradas na composição da matéria. A medicina ayurvédica, disciplina milenar, ganhou forma no pressuposto do trabalho na procura do equilíbrio entre os vários “humores”, plasmados nas forças da natureza. Não é, seguramente, só um conceito esotérico, mas também a base de formas terapêuticas muito antigas, que já promoviam o equilíbrio energético e espiritual. O princípio dos Cinco Elementos é amplamente usado na medicina tradicional chinesa, classificando na fitoterapia ervas específicas relacionadas com um desses elementos, em conformidade com as ações que promovem em determinada doença, no uso dos protocolos da acupuntura, e até em disciplinas que promovem o bemestar como o Tai-chi-chuan e o Chi-Kung. As descrições Renascentistas, no entanto, sugerem que o Ocidente também admitia a Teoria dos Elementos como forças subtis que se manifestariam através de transformações recíprocas. É o que se depreende de alguns dos textos clássicos, cuja forma de ver os elementos pressupõe uma certa ligação entre a astrologia e a alquimia, que ocorria naquela época, e que durante séculos subsistiu, dando lugar, mais tarde, à química. O entendimento filosófico pós-socrático veio trazer um “Quinto E l e m e nt o ” , que os
gregos chamaram de “quintessência”. Seria o elemento "perfeito" que somente existiria no plano cósmico, formador do Universo. O entendimento mais consensual prende-se com a simbologia do Éter, representando a negação lógica do vácuo, e, assim, a correspondência com o Divino presente nos próprios Elementos da Natureza. Numa breve análise sobre cada um dos elementos, tendo por base documentos diversos elaborados ao longo dos últimos anos, pode fazer-se uma síntese em sequência algo ordenada de tal forma que possa classificar, da melhor maneira possível, a natureza dos elementos de acordo com uma ideologia espiritualista mais abrangente. Assim, poderemos obter uma visão mais ampla e maior compreensão dos processos criativos com eles relacionados, nas suas diversas fases e transmutações. AR O ar é considerado como um símbolo ou matéria sagrada na maioria das religiões, além da Umbanda, incluindo o Cristianismo e chegando mesmo ao Hinduísmo e à Wicca. Grande parte dos rituais religiosos são realizados na presença de um símbolo deste elemento, seja em forma de incenso (embora este represente também outros elementos), ou simplesmente pelas invocações efetuadas de forma oral. Em algumas religiões neopagãs, como é o caso do Druidismo, da Wicca, que por si são tendencialmente ligadas à Natureza, também existe a crença na existência dos Elementos presentes no Universo. No Paganismo, o ar foi o terceiro elemento que se formou da “quintessência”, ou Akasha, sendo considerado um elemento intermediário entre o princípio do fogo e o da água, o que, de resto, acontece de forma análoga com os outros Elementos. A partir deste conceito surgem os Elementais, nome esotérico dado aos espíritos existentes na natureza, e, como tal, também considerados como sagrados dentro da Umbanda. Entre os elementais do ar que, segundo a crença pagã, seriam capazes de controlar o Ar e o representar, estão os silfos, as sílfides e as fadas, entre outros. ÁGUA De igual forma, a água é considerada como sagrada na maioria das religiões, além da Umbanda. O Cristianismo, o Judaísmo, o Islamismo, o Xintoísmo, o Xamanismo e outros, fazem amplo uso deste Elemento nas mais variadas ritualísticas. Pela sua presença em Templos por meio de recipientes como taças, pias ou simplesmente copos, ou, na sua total magnitude, representados por um rio, lago ou mar, quando a liturgia é celebrada na natureza, a água é possuidora de mistérios que a fazem ser parte integrante do culto de praticamente todas as crenças e religiões. De entre os
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elementais da água capazes de controlar o elemento água e o representar, encontramos as descrições esotéricas das ondinas, sereias e das hidras, entre outros seres que tanto abundam na nossa expressão literária e que, outrora, tantos receios trouxeram a quem se sentisse próximo a eles.
TERRA Por si só, o nome Terra deixa implícita a importância deste elemento sagrado em praticamente todas as religiões e cultos pagãos. Segundo estes últimos, o elemento Terra foi o último dos elementos a ser formado, pois pela sua principal caraterística, a solidificação, ela integra em si o fogo, a água e o ar. Foi essa característica, segundo a crença pagã, que conferiu uma forma concreta aos outros três elementos. Foi também a partir desse momento que a manifestação dos restantes Elementos ganhou força na teoria da transmutação da Terra, e, por consequência, da transmutação humana, e que as Leis da Natureza ganharam forma, tempo e espaço. Os Elementais responsáveis pela sua representação e manipulação são vários e de variadas formas e expressões: os gnomos, os duendes, as ninfas, as dríades, os faunos e todos os restantes ligados à terra e à vegetação mais rasteira. FOGO A generalidade dos cultos ou rituais religiosos são realizados com a presença muito ativa deste Elemento, seja através de uma fogueira ou de uma simples vela, sendo um Elemento transmutador e transformador, detentor de um grande misticismo e respeito. Possui caraterísticas opostas às da água, como o calor e a expansão e segundo a crença pagã, o fogo e água teriam sido os elementos básicos com os quais tudo foi criado. Os elementais do fogo que, segundo uma orientação esotérica, serão capazes de controlar o elemento fogo e o representar, são as salamandras, a fênix, o dragão e o singular boitatá. ÉTER A “Quintessência”, ou “Akasha” será o princípio original, o espaço cósmico ausente de vazio. É o “substrato espiritual primordial”, aquele que se diferencia. É a matriz do Universo e a base de toda a verdadeira magia. É o local onde ficam retidas todas as emoções, todas as ações e todas as memórias. É nele que reside o verdadeiro conhecimento, equivalendo-se numa comparação livre ao que Jung chamou de inconsciente coletivo, evocando uma memória universal da humanidade, da qual percebemos breves momentos. É por isso que é considerado o mais singular dos cinco elementos, a base de todas as coisas da criação. Segundo Franz Bardon, o que alguwww.umbanda.pt
mas religiões chamam de Deus. Sendo Elementos, “per si”, sagrados, a sua correlação traz aquilo que, com a devida orientação, podemos chamar de magia. A abordagem Umbandista a este tema, não sendo de todo uníssona, parte do pressuposto de se assumir como uma religião anímica, tendo como base a “anima” (alma) da Natureza, que se constitui pela agregação desses elementos, a sua transformação e o direcionar da energia criada por essa via. Conta uma história bem conhecida que “a 15 de novembro de 1908, compareceu a uma sessão da Federação Espírita, em Niterói, então dirigida por José de Souza, um jovem de 17 anos de família tradicional fluminense. Chamava-se Zélio Fernandino de Moraes. Restabelecera-se, no dia anterior, de moléstia cuja origem os médicos haviam tentado, em vão, identificar. A sua recuperação inesperada por um espírito causara enorme surpresa, pois nem os médicos que o assistiam, nem os tios, sacerdotes católicos, haviam encontrado uma explicação plausível ou mesmo minimamente convincente. A família atendeu, então, à sugestão de um amigo, que se ofereceu para acompanhar o jovem Zélio à Federação Espírita, para o acompanhar num trabalho. Zélio foi convidado a participar da Mesa. Sentiu-se deslocado e constrangido, no meio daquelas pessoas. E causou logo um pequeno tumulto. Sem saber porquê, em dado momento, ele disse: (…)"Aqui está faltando uma flor”. E, apesar da advertência de que não poderia afastar-se, levantou-se, foi ao jardim e voltou com uma flor que colocou no centro da mesa. Serenado o ambiente e iniciados os trabalhos, manifestaram-se espíritos que se diziam de índios e escravos. O dirigente advertiu-os para que se retirassem, o que causou um pequeno tumulto e breve diálogo acalorado, no qual os dirigentes dos trabalhos procuravam doutrinar o espírito desconhecido que se manifestava e mantinha argumentação segura. Por fim, um dos videntes pediu que a entidade se identificasse, já que lhe aparecia envolta numa aura de luz…(…). De facto,
numa análise mais cuidada a este relato, complementado com outros mais ou menos rigorosos, pode subentender-se que aquilo que o menino Zélio fez foi, mais do que colocar uma flor como símbolo da Natureza, da própria vida, foi acrescentar o Elemento Terra, aos outros que já existiam na sessão Espírita. O Fogo, por meio da vela acesa, a Água, num copo, e o Ar, presente no próprio ambiente. Completando o “ciclo”, terá desencadeado as ações e reações que originaram a Umbanda como hoje a conhecemos… Na próxima Edição, trataremos do significado litúrgico dos elementos da Natureza na Umbanda, o seu uso e a magia presente nas suas transmutações. Vitorino Camelo|Pai Cláudio de Oxalá
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Entrevista “Pé de Orelha” com o Sr. Pé-de-Vento
Dicas para a Felicidade D
ia 30.07. durante a celebração anual que fazemos em honra do nosso Pai Pé-deVento o “Fundamento” foi-lhe pedir que partilhasse com todos vós, os que frequentemente falam com ele, mas, principalmente com os que nunca o fizeram, alguns momentos de reflexão. Depois de lhe ser exposta a nossa intenção, a reacção não se fez esperar: “Está anervosada, filha?” Sim, um pouco. Sou algo perfeccionista!” “Não é nada, filha. Perfeito é só Deus. E sabe porquê, filha? Porque ninguém o vê, porque senão também lhe apontavam o dedo… (risos) Serenado o nosso espírito com esta pequena ajuda do Pai, começamos a nossa conversa. Aqui vai o resultado desse Pé de Orelha. … sobre responsabilidade Todo o ser humano se acha uma vítima, “os outros é que têm a culpa”. A falta de responsabilidade é tão grande que as voltas que temos de dar para chegar onde temos de chegar acabam por ser muito grandes. Às vezes as pessoas não conseguem mesmo enxergar. Muitos vêem apenas as dificuldades de passar pelas coisas, aí tem o trabalho do baiano, o trabalho do caboclo, o trabalho do Exú e depois disso tudo, mesmo assim, as pessoas mantêm o que as trouxe até aqui “O problema está nos outros”. Em vez de procurar nos outros, se formos à procura acabamos por encontrar os caminhos! … sobre o que vê quando olha a corrente e a assistência Vejo pessoas como toda a gente (risos). Pessoas carregadas de infortúnios; pessoas cheias de esperança de resolver os seus problemas; pessoas com alegria porque se sentem em casa; pessoas que saem daqui pondo na boca dos guias palavras que eles não disseram e ainda os que não conseguem ver o que fazemos e saem daqui “mangando” de nosso trabalho. Há os que têm a esperança de vencer e que tentam por em prática as palavras que ouvem. Quando às vezes as coisas não correm bem, uns insistem e outros desistem. … sobre a Vida A Vida não é para desistir. Quando desistimos morremos um pouco por dentro. Às vezes vemos pessoas tristes porque partes dessas pessoas morreram, não por não terem tentado, mas por não terem conseguido o sucesso e depois perderam a confiança em si próprios. Temos de levar a esperança dentro de nós. Temos de olhar para o mundo com esperança. … sobre os Elementos Existe uma chama dentro de nós, a chama da mudança para a transformação: o Fogo. Para fazer qualquer coisa é preciso Força, Calor, Calor Humano. O Fogo é a Chama da Vida, correcção que transforma as coisas e, como disse Exú, por mais que exista o frio não podemos deixar o Fogo apagar. O Fogo aquece a Terra e dá a Vida. É como a Água. O que significa a Água? Significa a Grande www.umbanda.pt
Mãe, a Maternidade, a Esperança. Entre o Fogo e Água tem de haver equilíbrio, mas o Fogo é o que nos movimenta para continuarmos a guerrear e por isso não pode apagar. A Água, por sua vez, é a Emoção, o sentimento do Amor e do Carinho. É preciso haver equilíbrio porque foi através desse equilíbrio entre os elementos que se deu a Geração da Vida na Terra: uma parte veio do Ar e outra do Fogo; o mesmo que vive muito próximo da Terra e do aspecto terreno que molda e que nos dá a Força e a direcção. O Fogo aqueceu os vapores da Terra e da junção de todos eles – Fogo, Água, Ar e Terra - nasceu a Vida. De todos os elementos, O Ar é o mais espiritual, porque é aquele que não se vê. Tal como nas nossas vidas, não vemos o Invisível a menos que venha com movimento, como quando sentimos a brisa e sentimos mais harmonia dentro de nós. Daí a importância do equilíbrio, os desequilíbrios emocionais e físicos só surgem quando não sabemos viver. … sobre o Destino e o Livre Arbítrio O Destino existe? Se o destino existisse da forma que vocês falam, o Divino não podia existir. Algumas coisas existem e o Destino existe de algumas maneiras, por exemplo sob a forma de sentimentos e emoções, no amor-próprio, nas necessidades materiais. Mas nós temos escolha. Não há um sítio onde esteja escrito qual seria o sentido do espírito passar na Terra. O nosso Destino é um livro que escrevemos. Temos que olhar para a Vida como para um livro em que o final depende de como o escrevemos porque somos os escritores da nossa vida. Tal como acontece com aquelas pessoas que escrevem as situações que vivem, tudo o que lhes acontece, só que o final será como o escrevermos e cabe-nos a nós escrever um final feliz. Quando o livro é bom nunca acaba, há sempre um segundo livro, tal como há sempre uma segunda vida. Aquelas pessoas que não conseguem ver a alegria, a felicidade e põe sempre problemas em tudo não conseguem escrever um final feliz, por isso as encarnações existem e são aprendizado. Quando as situações do livro se repetem é porque não houve aprendizagem. … sobre o respeito devido aos mais velhos Existem espíritos nascendo na Terra que ainda não escreveram o seu livro, por isso é tão importante o respeito pelos mais velhos. Eles trazem conhecimento e sabedoria, também trazem mais espiritualidade e temos muito que aprender com os espíritos mais sábios. Isto não quer dizer que os mais velhos daqui são os mais sábios de todos. Não, as crianças também são muito sábias. É algo que dizemos, os espíritos encarnados na Terra têm mais conhecimentos sobre a Terra, mas não têm mais conhecimento espiritual do que os espíritos mais novos. Quando falo em espíritos mais velhos, refiro-me àqueles
que já escreveram os seus livros. … sobre as responsabilidades de quem trabalha na “Seara Divina” Trabalhar com mais pessoas traz uma responsabilidade maior… ou exige que se trabalhe com mais médiuns. Também é preciso que se usem menos palavras e que estas façam mais sentido. É preciso exigir cada vez mais que os espíritos sejam exigentes para conseguir tocar nas consciências das pessoas para que elas consigam encontrar o seu caminho ... sobre “até onde vai esta casa” Qual é o destino desta casa? Ele está nas mãos do trabalho que vocês fazem hoje. Cresçam para despertar consciências. Libertem-se do material e trabalhem para despertar o equilíbrio e a consciência das pessoas para que assim elas vivam melhor e possam passar essa mensagem para os outros. Tudo depende deste Pai e destes Filhos, se eles continuam a acreditar e a procurar um mundo melhor e a trazer Aruanda para o planeta Terra. Aruanda também faz parte da Terra, mas é um local de aprendizagem um pouco mais evoluído. Aonde esta casa vai chegar não se sabe, o que interessa é a emoção e o equilíbrio de cada um de vocês. Quando caem, há sempre alguma coisa que vos faz levantar. Balançar faz parte dessa caminhada. Podemos cair, somos humanos, mas levantamo-nos de novo! Mas principalmente quem trabalha na Seara Divina não pode deixar cair os outros. Alguns caem, babalaôs, babalórixás, pastores, padres, todos esses que falam muito bonito, que dizem que as pessoas têm de conseguir e que acham que são a verdade das suas palavras. Lutem para que as palavras façam parte das vossas vidas. A magia das palavras só acontece quando conseguimos transmitir aos outros a humildade de saber ouvir. … para finalizar Cada Orixá ensina alguma coisa, Fé, Amor, Justiça, Família, Conhecimento, Ordem, Evolução. Os Orixás podem ser muita coisa, mas eles só fazem sentido, só significam Vida quando estão vivos no coração dos homens. Aí, cada Orixá se manifesta para as coisas boas da nossa vida. Mais importante do que serem como essas pessoas que falam bonito é que caminhem com as palavras que dizem, que respirem e vivam delas porque é isso que vai fazê-los felizes e muitas vezes os passos que damos na Terra são os que acabam por contar. Lembrem-se que as pessoas não seguem palavras, seguem acções! Fernanda Moreira
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Umbanda no Mundo
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oram várias as iniciativas que se sucederam, coincidindo com a curta visita de Pai Jamil Rachid a Portugal. A visita deste decano da Umbanda, promovida pela TUPOMI, com sede na cidade da Maia, foi pretexto para uma série de iniciativas que se proporcinaram no fim-de-semana de 09 a 11.09.2011 e que puderam contar com a sua presença. Assim, na sexta-feira, dia 09/09/2011, coincidindo com um evento já previsto na agenda de actividades da ATUPO, acompanhado por Ekedi Yara Rachid e Pai Dalmo de Xangô que com ele
viajaram do Brasil, assim como por Mãe Elsa de Iansã e Pai Artur de Xangô e diversos filhos de fé da TUPOMI, Pai Jamil compareceu à peça de teatro “Shiré Obá – A Festa do Rei” que o actor brasileiro, Nando Zâmbia, levou à cena nas nossas instalações. Naquilo que o cartaz de apresentação definiu como “uma noite de celebração e uma homenagem às divindades africanas que compõem a cosmogonia YORUBANA” verificou-se que o ambiente foi, de facto, de festa e de partilha, como convém entre irmãos e adeptos desta novíssima religião. O dia seguinte, sábado, foi dia de celebração ritualística para as duas casas, tendo Pai Jamil estado presente no culto da TUPOMI.
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Visita de Pai Jamil Rachid a Portugal
No domingo, anunciava-se mais um evento de divulgação de Umbanda, desta vez no Teatro Sá da Bandeira, no Porto. Na plateia, encontraram-se várias casas de Umbanda e Candomblé, convidadas da TUPOMI, vindas das diversas partes do país em grande expectativa pelo que estava para vir. O evento anunciava-se como tendo três partes distintas, todas elas de grande interesse. Os filhos de fé da TUPOMI brindaram-nos então com uma primeira parte constituída por pontos de Umbanda de homenagem às diversas linhas de trabalho, com quadros de dramatização alusivos às respectivas entidades de trabalho e
dos quais destacamos, por ternura, o quadro de homenagem aos Erês. Nesse quadro, as crianças da família TUPOMI cantaram pontos de Erês e terminaram a sua actuação “saudando” os espectadores com uma chuva de rebuçados. Assim se prepara a próxima geração de umbandistas… Na segunda parte, toda a numerosa assistência, teve o prazer de ouvir de viva voz Pai Jamil Rachid, onde foi notória a satisfação, para não falar de alguma perplexidade, de ver em terras Lusas um evento como este de celebração e comunhão da Umbanda entre vários terreiros Portugueses. Pai Dalmo e Yara Rachid lembraram as eternas
relações e ligações entre Brasil e Portugal e que a Umbanda neste dia veio confirmar mais uma vez essa união. Como cereja no topo do bolo, deu-se início à 3ª parte deste evento com a apresentação da “Banda Filhos do Axé” e Ilen Monteiro, com covers de Rita Ribeiro, pontos de Umbanda em ritmo techo-rock, entusiasticamente saudados por todos. Apraz-nos registar que a actuação desta banda foi de uma energia estonteante a que os espectadores corresponderam com um entusiasmo digno de nota, levando o “Sá da Bandeira” ao rubro. A tarde chegou ao fim, com a entrega de uma placa alusiva da passagem de Pai Jamil e acompanhantes por Portugal, entrega de presentes aos dirigentes das casas presentes e
as habituais trocas de palavras de agradecimento pelo momento que nos foi proporcionado. O Fundamento, em representação da ATUPO, deseja apresentar os seus parabéns aos Filhos de Fé da TUPOMI e aos seus dirigentes, pelo trabalho gigantesco que desenvolveram para organizar este evento. Esperamos encontrar-nos mais vezes na nossa caminhada em prol da divulgação da nossa Umbanda. AxÉ Umbanda.
Fernanda Moreira
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A Nossa Homenagem
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Fundamento
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elos mais diversos ventos e marés, após os meados do séc.XIX, começam a desembarcar os primeiros Sírios e Libaneses em terras de VERA CRUZ. Comerciantes natos e pessoas de boa índole fizeram com que facilmente se integrassem nesse pote de culturas e “aculturações” que é o Brasil. E foi numa dessas famílias que nasceu um dos actuais decanos da UMBANDA, PAI JAMIL RACHID. Pai Jamil sempre foi reconhecido como um verdadeiro guerreiro de Umbanda. É um dos responsáveis pelo reconhecimento, implantação e profusão da UMBANDA por todo o Brasil, desde 1957 e como promessa a OGUM, organizou desde então e por 50 anos a festa de homenagem a este Orixá, festa essa cada vez maior e cada vez com mais reconhecimento nacional e internacional e que ainda hoje perdura, apesar de já não fazer parte da organização directa do evento. Além da presidência de vários organismos ligados à nossa querida
UMBANDA, foi o representante da Umbanda e das religiões afrobrasileiras na “Conferência de Cúpula da Paz Mundial para o milénio”, realizada em 2000, na sede da ONU. Mais recentemente, recebeu, sem dúvida, um dos reconhecimentos mais importantes dos já vários que teve: o título de CIDADÃO PAULISTANO. É o reconhecimento de uma cidade e de um estado a um cidadão exemplar, no que respeita à pluralidade religiosa e ao respeito pelo próximo. Agora, e em terras Lusas, mais concretamente no Teatro Sá da Bandeira, na cidade do Porto no passado dia 11 de Setembro, os Portugueses tiveram a oportunidade e o prazer de poder ver ao vivo essa personagem singular que é Pai Jamil com todo o seu conhecimento e o saber intrínseco de quem tem a Umbanda nas veias e que exala o axé dos orixás por onde quer que passe. Com mais de 60 anos de sacerdócio e obra feita, que dificilmente caberia nestas simples linhas deste jornal, Pai Jamil é um grande exemplo a seguir por todos nós, pela coragem, pela luta e pelo querer do engrandecimento da Nossa Querida Umbanda! Fica aqui a nossa singela, mas sentida Homenagem! Axé Pai Jamil! Fernando Silva
HOMENAGEM A SANTA SARA KALI E AO POVO CIGANO Reza a lenda que, após o desencarne do Cristo Jesus, quatro mulheres – Maria sua mãe, Maria Jacobé, Maria Madalena e Sarah, escrava de origem egípcia – foram atiradas ao mar numa pequena embarcação, sem quaisquer provisões e obrigadas a cruzar o Mediterrâneo para escapar à morte. Sarah seria a serva de uma das mulheres de nome Maria, que choravam copiosamente o seu triste destino, enquanto que ela, com a sua fé inabalável, rezava a Deus para que fossem salvas, com a promessa de que, escapando com vida, manteria a sua cabeça coberta com um lenço durante o resto da sua vida, como símbolo de gratidão e respeito. Após terem sobrevivido às tempestades na travessia, a turbulenta viagem encontrou um porto seguro algures no Sul de França, entre os dias 24 e 25 de Maio, numa pequena praia chamada mais tarde de Saintes-Maries-de-la-Mer. Ainda hoje, nesta pequena localidade, nos mesmos dias em que apraiou a embarcação, ocorre uma vigília com um sem-número de peregrinos, de diversas etnias e religiões, depositando aos pés da Santa chamada Sarah um lenço colorido seja para agradecer o filho que tiveram, para pedir a gravidez desejada, ou simplesmente sorte em algum aspecto da vida. Algumas lendas identificam Sarah como serva e parteira e que teria ajudado a trazer Jesus ao mundo. Outras indicam que seria serva de Maria Madalena e que teria acompanhado esta na sua caminhada com Cristo. O nome Sarah poderá ter origem Hebraica, enquanto o sobrenome Kali se depreende originário do sânscrito, idioma Indiano clássico e de uso litúrgico (significando o nome Kali, literalmente, “a negra”). Começa um pouco por aqui a sua ligação ao povo Cigano pelas suas raízes Indianas e de filosofia Hindu, onde Kali, esposa de Shiva “o transformador”, representava a própria Natureza e a mulher como uma das suas mais belas e fortes representações. O paralelismo com as atribuições dos Orixás da Umbanda, foi, ao longo dos anos, feito de uma forma muito natural, também pela afinidade criada pelo sincretismo com os Santos Católicos, assim como foi feita a ligação da figura de Sarah, a cigana, com Kali, a Deusa Indiana destruidora da maldade do Mundo. Por esse motivo se compreende também a agregação da linha de trabalho do Povo Cigano à seara Umbandista, composta por espíritos evoluídos e sustentados por valores tão basilares como o trabalho, o respeito, a família e o amor. A sua manifestação na corrente de trabalho ocorre em diferentes vibrações, desde a vibração de Exu, com Pombo-Giras e Exus ciganos, até à vibração Oriental, manifestando-se como um povo alegre e trabalhador. O seu talento proveniente de uma cultura de adivinhações é inesgotável e a força coletiva que apresentam é indicadora de falanges de trabalho muito coesas, transbordando muitas vezes para a corrente mediúnica o verdadeiro sentimento de família.
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Ao longo dos tempos, a diáspora atribulada do povo Cigano, viajante antigo e nómada desde que abandonou o sudeste da Índia, passando por séculos de perseguição, de resistência e sobrevivência à margem das sociedades, massa humana provida de párias, mendigos, vendedores ambulantes e “adivinhadores da fortuna”, resultou no crescimento do preconceito do povo Cigano para com as demais culturas com que se depararam e vice-versa. Hoje, no entanto, na gira de Umbanda, esse sentimento é tudo menos verdadeiro, também pela crença do verdadeiro Umbandista no valor da espiritualidade, da doutrina e do trabalho dentro do plano da Luz. Os Ciganos, nos seus trabalhos na Umbanda, trazem consigo conhecimentos e conselhos milenares, das diversas Nações por onde passaram, sendo verdadeiros mestres no uso da Magia. Simbolizam a liberdade, pois não são de lugar nenhum e são donos de si mesmo e do Mundo ao mesmo tempo. Quanto a Santa Sarah Kali, a sua protetora, carrega o simbolismo da força da Grande Mãe, uma força da Natureza ligada à gestação, às águas, e à proteção daqueles que, tendo sido postos à margem, lutam por conseguir um dia encontrar o seu equilíbrio Será também, neste caso, importante refletir sobre a expressão interreligiosa da Umbanda que, mais uma vez, se mostra como Universal, abrangendo ligações de Povos, Culturas e Religiões tão diversas e encontrando pontos tão comuns entre aqueles. “Existia um povo que vivia nas profundezas da terra, reservado à escuridão, sem conhecer o que eram a beleza do Mundo e a liberdade. Um dia um homem ousou subir à superfície e descobriu um mundo de luz cheio de belezas sem par. Feliz, festejou, mas ao mesmo tempo ficou atormentado e preocupado, dando conta da sua jura de lealdade para com o seu povo. Então, regressou à escuridão e contou o que aconteceu. Foi nessa altura, por alguns, reprovado e orientado, porque aquele era o lugar dele e do seu povo. Contudo, o inconformismo gerado em grande parte daquele povo, acreditando merecerem a luz e viver bem, fez com que fossem aos pés do seu Deus pedir a subida ao mundo dos livres, da beleza e da natureza. Deus, então, preocupado em atendê-los, acedeu ao pedido, determinando que poderiam subir à luz e viver com toda liberdade, mas não possuiriam nem terra nem qualquer tipo de poder entre os restantes e em troca concedialhes o Dom da adivinhação, para que pudessem ver o futuro das pessoas e aconselhá-las para o bem.” In: “Lendas Ciganas” Araújo R.L. Que o Povo Cigano nos proteja e oriente com a sua sabedoria! Salve o Povo do Oriente! Salve o Povo Cigano! Salve Santa Sarah Kali! Vitorino Camelo www.atupo.com