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o processo de deterioração do centro a partir do valor da terra
descentralização, a partir da perca do grau de centralização e do surgimento de núcleos secundários (SPOSITO, 2001). Os subcentros caracterizam-se por serem relativamente distantes do centro principal e contendores de atividades similares a ele, entretanto, sem se igualarem. Podem desempenhar relação de competitividade, e até mesmo corroborar com a deterioração do mesmo (LOPES JUNIOR, 2007). Sob uma segunda perspectiva, Oliveira (2009), ao analisar o caso de Presidente Prudente (SP), identifica as aglomerações de atividades econômicas
em eixos viários municipais de relevância no espaço urbano das cidades
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médias. Esses eixos seriam resultado da: 1) busca por terrenos mais amplos e mais baratos do que os dos centros tradicionais, 2) da difusão da utilização do automóvel e 3) do consequente aumento das interações espaciais entre cidades na rede urbana. Sendo assim, as aglomerações das atividades nos eixos
buscariam atender clientes oriundos de outras cidades da rede urbana e
simultaneamente facilitar as operações com mercadorias comercializadas.
o processo de deterioração do centro a partir do valor da terra
Com o aprofundamento do capitalismo Pós-Revolução Industrial, as cidades passam, cada vez mais, a serem produto da dinâmica capitalista, tendo sua terra tida como mercadoria. Essas que são produzidas por meio da competitividade e da disputa por territórios. Segundo Gottdiener (1993 apud LOPES JUNIOR, 2009), o processo de reestruturação das cidades, se adequa à
atual etapa de desenvolvimento do capitalismo, portanto, a partir de uma nova organização social, tem-se consequentemente um novo padrão de organização do espaço, com novas características. A partir da consolidação das novas expressões de centralidade, principalmente os desdobramentos da área central, há transformação do valor da terra no centro principal. A fim de compreender as flutuações do preço da terra e sua relação com as mudanças nos usos no centro de Bauru frente essas novas centralidades, nos utilizaremos das análises de Paul Singer (1979) sob três pontos ao questionar o uso do solo urbano na economia capitalista,
principalmente com o foco na questão das centralidades.
No primeiro ponto, Singer avalia o centro e “não centro”, compreendendo como, com o passar do tempo, as mudanças nas dinâmicas urbanas – como por exemplo a implantação de um shopping center ou investimentos em uma área específica da cidade – produzem novas centralidades e acabam por ser um mecanismo econômico que interfere no preço da terra. O segundo ponto trata sobre as mudanças, conflitos e substituições nos usos do solo, sobre isso, podemos pensar no caso de substituição do uso residencial por comercial, que aumenta o valor da propriedade, e os conflitos gerados por esse processo, como por exemplo pela intensificação do trânsito de veículos, pela arritmia noturna ou mudança das tipologias. O terceiro ponto é sobre a durabilidade e obsolescência moral, que acontece quando há um mecanismo intenso de desvalorização de determinadas áreas da cidade, caracterizado pelo “abandono” de imóveis,
que acaba na sua substituição. Portanto, cabe pensar outros aspectos, intrínsecos às classes sociais, mas não somente, como a questão social e cultural, já que a mudança de uso pode acontecer, por exemplo, motivada pela ocupação de um determinado segmento social. Trazendo para o recorte, o primeiro ponto que Singer (1979) evidencia se aplicaria no sentido de que o centro principal de Bauru/SP um dia já foi o ponto dos principais comércios, hotéis, e moradia de pessoas de um elevado padrão social e econômico, principalmente nas áreas mais altas e próxima a Rua Batista de Carvalho. Morar no centro significava estar próximo a tudo que mais importava e ter acesso à infraestrutura urbana, atraindo a priori pessoas que pudessem bancar o valor da terra que daria acesso a ela. A partir da expansão do tecido urbano e a saturação do centro e suas áreas limítrofes, uma das consequências foi a migração das camadas com maior poder aquisitivo para outras áreas aparentemente mais vantajosas, recém valorizadas e exploradas pelo capital incorporador. O centro principal não perdeu sua importância na hierarquia urbana enquanto ponto comercial e de serviços, entretanto, segmentou-se, modificando seu conteúdo e o público frequentador, consequentemente, o preço da sua terra em relação a outras áreas urbanas. O segundo ponto se apresentou no processo de desdobramento do centro principal, em que o centro se encontrava saturado e empresas e comércios passaram a explorar espaços em que o preço da terra ainda se
encontrava baixo. Nesse sentido, foi ocupada e transformada em centralidade as proximidades da Av. Duque de Caxias. A partir do momento em que se tem o interesse em transformar o uso de uma área em comercial, o residencial não mais se sustenta devido aos conflitos de usos gerados. O terceiro ponto, da obsolescência moral, também é presente no centro principal de Bauru. A questão que é colocada por Singer, é que, mesmo diante do déficit habitacional, as edificações de uso residencial não são aproveitadas por grupos de menor renda. Afinal, a transformação dos usos e a mudança do padrão econômico dos sujeitos que habitam o centro, acarreta que nem sempre esses podem pagar aluguéis altos, a manutenção passa ser negligenciada pelos proprietários. Além disso, há forte presença de edificações de valor histórico cultural, muitas vezes sujeitas à legislação e às regras de preservação do patrimônio, mas que não tem usos atualizados para o contexto urbano atual. Essas edificações perdem seus significados perante a sociedade, tornando-se construções obsoletas que colaboram com a deterioração da área. A discussão sobre a reconfiguração do centro e centralidade nas cidades médias é ampla e apresenta múltiplas faces. Entretanto, levaremos algumas considerações, sendo a primeira é de que a mudança de conteúdo nos centros principais das cidades não se dá somente porque esse centro encontra-se saturado, mas sim devido à busca por espaços exclusivos (WHITACKER, 2007 apud OLIVEIRA, 2009).
Para além, essas novas localidades dos equipamentos comerciais e de serviços concentrados e de grande porte determinam mudanças de impacto no papel e na estrutura do centro principal ou tradicional, o que provoca uma redefinição de centro, de periferia e da relação entre ambos (SPOSITO, 1998, apud OLIVEIRA, 2009).
Mapa 2. Mapa de Centralidades de Bauru (SP)
LEGENDA
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Fonte:
IBGE Censo, 2010. Open Street Map, 2022. Prefeitura de Bauru, 2022.
Elaborado por:
Betina Hernandes; João Vitor Pavoni, 2022.
Sistema de referência:
Coordenadas geográficas Datum: SIRGAS 2000 (EPSG 4674).
_ bauru sob a perspectiva da teoria das centralidades
Nesse sentido, visando elucidar a questão que nos é posta aplicada no município em que o trabalho se concentra, realizou-se um mapa de centro e centralidades (Mapa 2). Considerou-se as manchas de serviço e comércio para configuração do polígono que o mapa chama de “centralidade” com base no mapa
de uso real do solo disponibilizado pela SEPLAN no diagnóstico do Plano Diretor de 2020. No mapa também estão representados: os eixos viários com significativa concentração de comércio e serviços divididos em: baixa, média e alta concentração; os equipamentos de consumo de grande porte: os supermercados e shopping-centers; e por meio dos polígonos, a renda dos chefes de família, buscando aferir a dimensão da disparidade socialeconômica no município e estabelecer relações com as centralidades que se apresentam.
Em um primeiro momento, a partir da expansão da malha urbana, da ampliação do número de pessoas e de comércios, o centro principal passou por um momento de saturação, ou seja, a valorização do preço da terra e a falta de espaço, o que estimulou a formação de centralidades em áreas próximas. Conforme levantado, a área de centralidade mais expressiva na cidade de Bauru (SP), ou seja, aquela em que há uma mancha de concentração de comércio e serviços, ainda se encontra praticamente inserida nos limites administrativos do bairro Centro, exceto por uma mancha que avança no sentido da avenida Getúlio Vargas (Zona Sul) por meio das ruas: Gustavo Maciel, Rio Branco e Antônio Alves. Conforme Lopes Junior (2007), esse poderia ser considerado ainda um desdobro do centro principal, afinal, mantém uma relação de proximidade. Para o autor, a centralidade da Zona Sul pode ser considerada um “tresdobramento” da centralidade em Bauru.
A expansão comercial de Bauru, junto de sua concentração comercial e de prestação de serviços, seguiu a seguinte ordem: centro tradicional, setor da Avenida Duque de Caxias, e o setor da Avenida Getúlio Vargas. Assim, a expansão comercial ocorreu através de uma sucessão de fases em que a partir da saturação do centro seguiu na direção sul da cidade. (LOPES JUNIOR, 2009, p. 141)
Para além, as maiores concentrações dessas características que configuram centralidades se dão nos eixos viários de relevância municipal, reiterando a hipótese desenvolvida por Oliveira (2009) sobre as cidades médias. Os principais eixos: a avenida Nações Unidas, a Getúlio Vargas, a Nuno de Assis,
a Rodrigues Alves e em menor dimensão a avenida Castello Branco, a Nossa Senhora de Fátima, a Comendador José da Silva Martha, dentre outras. Bauru tem em seu tecido urbano dois shopping-centers de alcance regional, inaugurado no final década de 1980 e múltiplas vezes reformado, o Bauru Shopping, localizado entre duas das mais relevantes avenidas, as Nações Unidas e Getúlio Vargas e o Boulevard Shopping, inaugurado em 2012, próximo ao Centro e também a avenida Nações Unidas. Com a finalidade de compreender a produção do espaço em Bauru e sua relação com os períodos, no próximo subtópico partiremos para o estudo desde a implantação do núcleo original até o fenômeno urbano atual, buscando ressaltar as questões relativas às centralidades