Com a cantora e compositora
Joana
Espadinha
Projeto pedagógico de educação para a igualdade e para a não discriminação
A minha mãe é uma Fada dos Dentes – com muitos anos de experiência nesta atividade – e o meu pai é o Professor Elfo: passa os dias a ensinar as crianças da minha terra a usar a sua magia para o bem.
Eu decidi que queria ser um Fado-Padrinho. A minha missão é proteger os sonhos e as ambições das crianças.
O meu pai avisou-me:
— Gael, lembra-te: as crianças humanas só te chamarão para pedir ajuda quando estiverem tão tristes ou tão zangadas que não sabem lidar com as suas emoções.
Estava eu a redigir o relatório sobre o dia na escola da Carolina, quando o alarme de emergência soou no meu escritório. O António, um menino que tinha sinalizado para visitar brevemente, não estava a dizer coisa com coisa. Era final da tarde, tive de aguardar por uma hora mais calma para ir falar com ele.
Já a casa onde vivia estava mergulhada num silêncio profundo, quando bati à janela do seu quarto e me apresentei.
— Fado? Não devia ser Fada? – perguntou, desconfiado, o António.
— Não, não... Chamo-me Gael e garanto que sou um Fado-Padrinho! Tenho um diploma de curso e tudo! – disse-lhe de peito cheio.
— Ah, então ‘tá bem! Desculpa, pensava que eras um rapaz!
— O quê? E sou! Sou um rapaz e sou um Fado-Padrinho!
— Sim, mas isso de ser Fada, ou Fado, ou lá o que és, é coisa de raparigas. Mulheres e meninas, estás a ver? Se és um rapaz, tens de mudar, tens de ter outra profissão... uma profissão para homens, percebes? – questionou-me, um tanto evasivo.
Percebi que ali a minha função era organizar as ideias do António, mas... eu também precisava de organizar as minhas.
— E porque dizes que eu também tenho de mudar? –questionei-o.
— Ora, porque as fadas-madrinhas são sempre meninas! Lá onde vives, não lês contos infantis? As fadas são sempre mulheres!
— Mas não achas que eu posso ser rapaz e ter esta profissão?
O António ficou em silêncio. Estava finalmente a pensar. A pensar pela cabeça dele e não pelo que ouvia dizer.
— Podes. Acho que sim. Mas os meus amigos dizem que isso não é normal.
— António, podemos falar com o teu professor para...
— É professora. Não há professores rapazes.
— Há, sim, António. O meu pai é professor.
— O teu pai? Não pode ser professor. Tem de ser bombeiro ou engenheiro. Como o meu pai.
Com tantos problemas para resolver, já estava a ponderar ser um Fado dos Dentes como a minha mãe. Mas a verdade é que estava a gostar muito de trabalhar com estas crianças. Sinto que estou a promover o espírito crítico. Enquanto estava a fazer esta reflexão, uma menina de lenço na cabeça chamava por alguém. Apareci eu.
— És Deus?
— Não. Sou o teu Fado-Padrinho.
— És um santo?
— Não. Sou o teu Fado-Padrinho.
— És o meu anjo da guarda?
A menina devia estar a rezar. Por vezes, as linhas estão trocadas.
— Bem, eu sou o Gael. Como te posso ajudar?
— Eu sou a Alice e quero saber quantos deuses há. E que me expliquem isso dos santos e anjos. Bem, isto não era nada a minha área e quando não sei as respostas, tento disfarçar.
— De onde eu venho, isso não é problema. Nós somos de todas as cores e feitios, podemos escolher a profissão que quisermos. E o nosso coração é que nos diz quem será o nosso amor! É normal sentirmos receio do que é diferente, mas já viste que aborrecido seria o mundo se fôssemos todos iguais? Se respeitarmos as nossas diferenças, podemos aprender muito com os outros.
A Alice sorriu.
— A minha amiga Inês adorou provar a baclava que a minha mãe fez. E acha o meu hiyab muito bonito.
— Vês? Os amigos verdadeiros respeitam-nos como somos.
Ensinei à Alice um jogo muito famoso na minha terra. Chama-se “O que queres ser quando fores maior?” Não podes responder profissões, mas sim VALORES.
— Eu escolho a Amizade, porque respeito a religião do Leo – a Alice prometeu-me que ia fazer este jogo na próxima festa na casa do Leo. E tu, também vais fazer este jogo em casa?
Não sabes tudo sobre mim A minha história, de onde vim Eu sou bem mais do que tu vês Sou um segredo bem guardado
Se eu tenho ondas no cabelo Tu tens o mar no teu olhar
E se as nossas peles são diferentes Acho que é razão para celebrar
Cor de chocolate, ou de algodão-doce Sabe bem conhecer o mundo!
Pele de leite-creme, ou de caramelo
Temos tantas cores para pintar este país!
Há muitas formas de falar Até mesmo sem palavras Se me quiseres entender a amizade nunca acaba
A pele faz parte de nós Como um presente embrulhado Eu quero ver o que tu és Dá-me um abraço apertado
Cor de chocolate, ou de algodão-doce Sabe bem conhecer o mundo!
Pele de leite-creme, ou de caramelo
Temos tantas cores para pintar este país!
Gael é um Fado-Padrinho. Sim, um fado. Gael é filho de uma famosa Fada dos Dentes e do conceituado Professor Elfo. Gael escolheu esta profissão para proteger os sonhos e as ambições das crianças humanas, mas na sua primeira semana de trabalho teve muitos desafios!
A Carolina, o António e a Alice foram as primeiras crianças a pedir ajuda ao Fado-Padrinho Gael, no silêncio da noite, sem adultos por perto. Cada uma delas tinha um problema para resolver: de alguma forma, sentiam que o mundo não as compreendia. Sentiam, na sua pele, e por vezes por causa da pele, uma terrível injustiça. Gael conheceu, então, o conceito de injustiça, racismo, desigualdade, preconceito... e não gostou nada! Como irá o Gael ajudar a Carolina, o António e a Alice?
Gael não tem varinha mágica, mas faz magia com os valores da igualdade, inclusão e não discriminação.
Há profissões para rapazes e para raparigas? Não podemos amar alguém com uma religião diferente da nossa? Como combatemos o racismo?
“A Magia da Igualdade” inclui três histórias e algumas atividades para crianças e adultos: o caminho da igualdade não se faz sozinho.