Quando a reunião terminou, a Dona Tininha, muito preocupada, foi direta ao apartamento do Sr. Nicolau, mas ninguém lhe abriu a porta. Decidiu, por isso, ficar ali e esperar que chegasse.
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Já passava da meia-noite quando o Sr. Nicolau apareceu. — Você acha que são horas de aparecer em minha casa?! — perguntou o Sr. Nicolau, muito indignado por ver ali a sua vizinha. Mas a Dona Tininha não queria saber das suas respostas arrogantes. — O Sr. Nicolau está bem? — Porque haveria de não estar? — Faltou à reunião do condomínio. — E qual é o problema? Não acha que há assuntos mais importantes? — perguntou, tentando, sem sucesso, regressar aos seus aposentos.
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Estávamos no inverno, escurecia cedo e o Gabriel, cansado de estar sozinho, passava mais tempo na rua. Conhecia bem os cantos da sua aldeia e por isso não sentia medo. Achava que, se por ali estivesse, poderia encontrar alguém com quem falar e brincar…
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E foi o que aconteceu. Estava sentado junto à fonte, quando percebeu que um grupo de três caminhantes se aproximava a passos lentos. Eles vinham alegres e cantavam. Quando viram o Gabriel, a sua melodia parou: — Ó rapaz, estás bem? Estás aí sozinho? O Gabriel deu um salto! Nem acreditava que estavam a falar com ele. — Boa noite. Sim… Eu chamo-me Gabriel. — Não devias andar a estas horas sozinho, na rua. É perigoso — disse um dos caminhantes. — Não, não é! — disse o Gabriel, muito seguro de si. — Eu conheço todas as pessoas que moram nestas ruas: sei a que horas se levantam para ir trabalhar, a que horas chegam e, acreditem ou não, pelo cheiro até sei o que leva a sopa!
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No dia seguinte, quando o Gabriel acordou, já Baltazar, Belchior e Gaspar estavam na rua e havia uma animação diferente. Os comerciantes montaram as suas tendas e os turistas iam parando nas tascas para comer e conversar.
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Os três caminhantes estavam sentados nuns bancos de palha com todas as crianças à volta. Contavam uma história que parecia mágica! Diziam eles que, há uns anos, a estrela brilhante os levou a um bebé muito especial. Cada um ofereceu uma prenda a esse menino, que nas palhas estava deitado. — Este ano não temos nenhum bebé, mas temos as pessoas desta aldeia. E vocês têm aqui um rapaz muito especial: o Gabriel — apontou o Gaspar.
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A mãe da Maria, muito indignada, apareceu na escola no dia seguinte. Trazia um vestido colorido e um ramo de flores vermelhas na mão. Pediu para falar com a diretora Custódia, que logo lhe disse que não era possível, que deveria marcar uma reunião. A mãe da Maria não se chateou. Rapidamente reparou que a escola não tinha jardins, nem árvores, nem plantas. Não tinha cor. Decidiu, então, pôr mãos à obra e plantar poinsettias junto às janelas das salas de aula. — É a flor de Natal! — exclamou o Vicente, que era um verdadeiro especialista em plantas.
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A diretora Custódia não sabia o que fazer, nem o que se estava a passar com a escola. Panquecas em forma de pinheiro de Natal?! Flores nas janelas?! Estava tudo descontrolado! Mas as crianças estavam… como se diz? Animadas? Contentes? Felizes! Felizes com coisas tão simples?
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A diretora Custódia não queria acreditar no que estava a ler. Como seria possível tantas crianças desejarem uma escola diferente, em vez de brinquedos? Em vez de comprar brinquedos, teria de comprar tintas para pintar muros e ferramentas de jardinagem? 38
Refletiu um pouco sobre o assunto e resolveu sair do seu gabinete, para dar uma volta pela escola. As poinsettias estavam a crescer e sentiu vontade de lhes tocar. Eram tão suaves… Tão bonitas! Olhou para dentro das salas e viu o cinzento da sua escola.
— Aquelas crianças podiam pedir tudo e pediram cor e alegria… — murmurou. — Como lhes posso fazer a vontade? Ligou à mãe da Maria e pediu ajuda.
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É Natal! Deixo a neve cair, já tenho a lareira acesa É Natal! Ouço chegar a família, conto os lugares na mesa É Natal! Esperei o ano todo pelo Natal! Ho-ho-ho! A mãe já fez bolachinhas, o pai lê o jornal E os primos brincam comigo A avó só dá abracinhos, o avô dorme, é normal O meu desejo é só isto Eu faço um laço à volta do meu coração E dou a quem nunca me larga a mão Não há melhor prenda de Natal Eu faço um laço à volta do meu coração E dou a quem nunca me larga a mão Não há melhor prenda de Natal que fazer alguém feliz
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É Natal! Tantos sacos, não preciso assim de tantos brinquedos É Natal! Tudo o que eu pedi este ano foi o teu amor e tempo É Natal! Não quero só te ver pelo Natal! Ho-ho-ho! É tão bom ter família que sabe quando estou mal E a sorte que é ter amigos Vou pousar os ecrãs, não é um dia banal O meu desejo é só isto Eu faço um laço à volta do meu coração E dou a quem nunca me larga a mão Não há melhor prenda de Natal Eu faço um laço à volta do meu coração E dou a quem nunca me larga a mão Não há melhor prenda de Natal que fazer alguém feliz
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Aposto que já conheces imensas histórias associadas a esta época natalícia, como a da rena Rodolfo, a dos três reis magos e até a do anjo Gabriel. Mas neste livro vais conhecer uma nova roupagem de histórias! Primeiro, a história do Sr. Nicolau: um senhor muito solitário, com muito mau feitio e que esconde um mistério! Mas para onde vai ele todos os dias, à mesma hora?! Segundo, sobre o Gabriel. Uma criança que vive numa aldeia com muitas pessoas, mas aparentemente ninguém o vê e ninguém o conhece de verdade. Até que se cruza com três caminhantes, o Belchior, o Gaspar e o Baltazar, que lhe mudam a vida por completo. Vais conhecer também a história da Maria e do Vicente, que estudam numa escola muito cinzenta, sem cor, sem nada. Acho que precisa de um pouco da magia do Natal… Sabes onde encontrá-la?! Laços de Natal tem tudo aquilo de que precisas para esta época: família, carinho, solidariedade e um toque de magia… Não aquela que faz o trenó do Pai Natal voar! Mas a magia que vive nos nossos corações e que, por vezes, nos esquecemos de que a temos. Este livro tem três histórias com personagens que até te poderão ser familiares, mas… não deixes de o ler! Há algo de diferente neste Natal…