Viagem para a Amizade

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Não há nada que me deixe mais aborrecida do que dias cinzentos!

Nesses dias, nunca podemos fazer nada divertido, porque o pátio da escola fica todo molhado e, no intervalo, a professora não nos deixa brincar lá fora.

Mas hoje o dia vai ser incrível! O sol está a iluminar todo o recreio!

- Passa isto ao Miguel – entrego um papelinho ao Augusto, que o passa à Maria e percorre toda a sala.

“Queres explorar o tronco da árvore oca no intervalo?

Assinado: Susana”

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- Nós estamos sempre a brincar com ele, ele acha graça, não é, Miguel?

- Não… Não percebo porque estão sempre a implicar comigo.

- É uma brincadeira de amigos… – Desculpa-se o Carlos.

- Carlos, os amigos não fazem isto, não se tratam mal. Como é que te sentias se te atirassem para a lama e todos se rissem de ti? – Explico.

- Não gostava.

- Então porque achas que o Miguel gosta?

O Carlos olha para nós e diz:

- Ele é o único que anda numa cadeira de rodas! Mais nenhum de nós podia ficar preso na lama daquela forma!

Fico sem palavras, nem acredito no que acabei de ouvir! Olho para o Miguel e percebo que está muito triste.

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- Agora, venham comigo. Temos pouco tempo para percorrermos o “Lugar Normal” e enviar-vos para casa!

Seguimos a Sra. “Cabeça no Ar”, até chegarmos a um prado, coberto de flores! O guarda-chuva da Sra. “Cabeça no Ar” muda de cor e fica cor-de-rosa.

- Que lindo! – Digo ao ver o prado.

- Aqui é o lugar da primavera! Muitas e muitas flores, o que não é nada bom para as minhas alergias… atchim!

Um pássaro vem pousar no meu ombro, como a dar-nos as boas-vindas. Olho e vejo que, na cabeça do Carlos, está também um pássaro que pia num tom agudo. Nas pernas do Miguel, há também um que pia num tom muito grave. Olho para o meu e espero que ele pie, mas ele mantém-se em silêncio, a olhar para mim.

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Os pássaros levantam voo e juntam-se no mesmo ninho.

- Repararam que – digo, entusiasmada – mesmo tendo pequenas diferenças, foram para o mesmo ninho?

- Claro, eles respeitam as suas diferenças, só assim conseguem conviver. – Diz o Miguel.

- É o que eu digo sempre: não há nada mais normal do que ser diferente! – Diz a Sra. “Cabeça no Ar”, enquanto nos guia por um caminho cheio de folhas, à medida que o seu guarda-chuva fica castanho. – Querem adivinhar onde vamos?

Não lhe respondemos, pois estamos todos hipnotizados com as cores quentes das folhas das árvores.

- Au! – Grita o Carlos – Piquei-me!

- Ah! Isso é um ouriço! – Digo, entusiasmada – Dentro dele tem uma castanha!

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- Só porque parece que não consigo fazer alguma coisa, não significa que não a consiga fazer.

- Tens razão, Miguel. Eu, por exemplo, não conseguia. Muitas vezes, pensamos que um amigo nosso pode não conseguir, mas toda a gente deve ter oportunidade de tentar, se quiser.

- Pois é, eu precisava de ajuda para abrir o ouriço e também não estava a conseguir e tu ajudaste-me.

Vejo que o Carlos começa a perceber que, se nos ajudarmos uns aos outros, conseguimos fazer aquilo que queremos.

- É o que fazem os amigos. – Diz o Miguel.

- Olhem ali! – Grita a Sra. “Cabeça no Ar” – A montanha gelada!

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O guarda-chuva que o Carlos tem na mão começa a brilhar! O clarão espalha-se. Fechamos os olhos, quando os abrimos:

- Ah! Estamos no pátio da escola! Esta é a árvore com o tronco oco!

- Olha, ali, um escaravelho! – Grita o Miguel, atrás dele.

- Onde? – Pergunta o Carlos, atrás do Miguel.

Sorrio ao vê-los percorrer todo o pátio. O chão já não está molhado e o sol brilha no céu, parece um guarda-chuva amarelo! Estou feliz, pois uma nova amizade nasceu nesta escola, baseada numa grande aventura e no respeito que aprenderam a ter um pelo outro.

Diria que é uma amizade normal, com as suas diferenças.

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foi então que percebeu que a diferença é normal não há fraco, não há forte é tudo igual

Que grande confusão ia no seu coração

Há tanta coisa a aprender Nem tudo é o que parece ser olhando bem com atenção em cada um há sempre um coração

Carlos deixou de afastar toda a gente em seu redor deixar os outros tristes não o faz sentir melhor

sabe bem a companhia e ter com quem contar ver os outros com respeito e aceitar

Que grande confusão ia no seu coração

Há tanta coisa a aprender Nem tudo é o que parece ser olhando bem com atenção em cada um há sempre um coração

Letra: Susana Félix / João Cabrita

Música: Susana Félix / João Cabrita

Algo anormal aconteceu na escola da Susana! O seu amigo Miguel, que se desloca numa cadeira de rodas, foi, mais uma vez, alvo das brincadeiras maldosas do Carlos e de alguns colegas. Zangada com a atitude deles, a Susana intervém e explica que todos somos diferentes e devemos respeitar-nos.

O Carlos não pensa assim, pois, para ele, o Miguel não é normal!

Abrigados por um guarda-chuva amarelo, os três colegas são transportados para um lugar onde, apenas com interajuda e companheirismo, conseguem ultrapassar todos os desafios que encontram!

Nesta “Viagem para a Amizade”, com a ajuda da Sra. “Cabeça no Ar”, a Susana, o Miguel e o Carlos aprendem a respeitar e a conviver com as diferenças e as particularidades que os definem.

Afinal, não há nada mais normal do que ser diferente!

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