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3.2.1- EXERCÍCIOS, JOGOS E AVALIAÇÃO
from Ana Clara Bender Tavares - EXPERIÊNCIA ARTÍSTICA COMO FUNDAMENTO PEDAGÓGICO PARA O ENSINO...
by Biblio Belas
Música Coral da UFMG em 2016. Os corais foram acompanhados por nós em seus ensaios semanais. Antes de começar a preparação propriamente dita, foi preciso um tempo para observar os ensaios, perceber o grupo, as idades de cada integrante, suas disponibilidades, dificuldades pessoais e a forma de trabalho dos regentes.
A cada encontro foi importante analisar o grupo e qual era seu estado no dia. Era mais comum iniciar os ensaios pelo aquecimento corporal do que pelo aquecimento vocal, mas unir os dois aquecimentos sempre deu resultados muito proveitosos, embora fosse mais desafiador para os coralistas, pois alguns não conseguiam fazer os movimentos e cantar ao mesmo tempo, apresentavam falta de coordenação entre estas ações, mas muitos conseguiram superar isso com o treino. Quando os aquecimentos eram feitos em conjunto, nós os preparadores fazíamos os exercícios e jogos junto com o grupo e isso foi bem aceito pelos preparadores vocais, pois percebiam que a desenvoltura, ritmo e relação entre os coralistas mostravam um avanço significativo. Digo por mim que, enquanto treinava com os coralistas, pude aprimorar técnicas de canto que aprendi no decorrer da graduação e a preparação corporal foi importante para os preparadores vocais, pois eles quando se apresentam em público necessitam também de uma preparação corporal, uma vez que além de preparadores a maioria atua como cantor/cantora.
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A linha seguida para o aquecimento corporal mesclava exercícios isométricos, alongamentos, rítmica corporal e jogos teatrais em grupo. A proposta foi (e ainda é, pois está em andamento) que a preparação corporal despertasse seus corpos, deixando-os dispostos e alertas no palco e durante os ensaios.
2.2.1- Exercícios, jogos e avaliação
Aqui farei uma breve elucidação sobre o seguimento escolhido para o aquecimento corporal, e começo explicando o alongamento, que é importante e primordial para iniciar e finalizar atividades de exercícios físicos, pois melhora a flexibilidade, previne lesões, estimula a consciência corporal e ajuda na realização de movimentos. O ator deve realizar aquecimentos antes de cada ensaio, melhorando sua performance de movimento cênico.
De acordo com Lilian Nunes e Rivien Martins, "as técnicas de alongamento muscular propõem manter ou melhorar a extensibilidade músculo-fascial e são indicadas para preparar e completar a tomada de consciência corporal e o fortalecimento muscular" (apud. TRIBASTONE, 2001).
Com relação aos exercícios isométricos, segundo Wilmore e Cotilli (apud PILONETTO e BOZZA, 2010, p.4)10, “em meados da década de 1950 cientistas alemães realizaram novas pesquisas sobre o treinamento isométrico, os resultados indicaram que o treinamento de força estático causa enormes ganhos de força muscular, que são superiores aos dos métodos de ação dinâmicos”. Por exercício isométrico podemos entender aquele voltado para o desenvolvimento muscular e aquisição de força e resistência, tanto para manutenção de postura quanto para a portagem de objetos cênicos ou instrumentos musicais.
O trabalho com a rítmica corporal nos traz consciência sobre nosso corpo, estimulando os reflexos. Entendemos rítmica corporal como o conjunto de exercícios que visa a aproximação entre o movimento concebido pelo cérebro e a realização deste pelo corpo. E para Emile Dalcroze (apud RIBEIRO, 2018, p. 2)11, "o movimento é o fator essencial para o desenvolvimento rítmico do ser humano”. Ao praticar o ritmo através do movimento toma-se consciência do valor plástico do mesmo. A rítmica tem por objetivo “desenvolver e regular as faculdades motrizes do indivíduo, criar novos reflexos, harmonizar, associar os movimentos corporais em co-relação com os movimentos do pensamento e estabelecer uma comunicação íntima entre as ações e os desejos; entre as sensações e os sentimentos; entre a imaginação e a sensibilidade”
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Os jogos teatrais em grupo, ou dinâmicas em grupos, foram escolhidos por mim como método de aquecimento, tendo em vista que “Viola Spolin justifica e reafirma o caráter social que os jogos podem ter, passando a ser não apenas um método para atores, mas um facilitador para a integração social e para o desenvolvimento do trabalho em grupo”. (ANDRADE, 2014, s /p)
10 PILONETTO, Gisele e BOZZA, Luiz Orestes. Comparação do aumento de força muscular por isometria, associada ou não à estimulação russa. Faculdade Assis Gurgacz, Paraná, 2010. 11 RIBEIRO, Mônica Medeiros. Rítmica corporal no Grupo Oficcina Multimédia Uma revisão de conceitos e práticas. Pesquisa em Dança do Brasil. UFMG, Belo Horizonte, 2018. 12 RIBEIRO, Mônica Medeiros. Rítmica corporal no Grupo Oficcina Multimédia Uma revisão de conceitos e práticas. Pesquisa em Dança do Brasil. UFMG, Belo Horizonte, 2018.
A cada ensaio novas estratégias de trabalho foram utilizadas, se adequando ao estilo e necessidade de cada coral. No decorrer das atividades, foram descobertas dificuldades e houve avanços individuais e coletivos. Com a prática, os coralistas se entrosaram melhor e passaram a receber bem os jogos, deixando de lado a vergonha e o medo do fracasso. Os exercícios teatrais podem expor a timidez, o medo de falhar e acarretar uma resistência a participar das atividades propostas, mas pude perceber que são esses mesmos jogos que ajudam a solucionar esses problemas.
Os elementos teatrais que foram experimentados e desenvolvidos na preparação corporal são:
Presença: A presença no teatro tem relação com prontidão e alerta, sendo fundamental para o todo da cena e o contato com o outro, pois “segundo a opinião corrente entre a gente de teatro, a presença seria o bem supremo a ser possuído pelo ator e sentido pelo espectador. A presença estaria ligada a uma comunicação corporal 'direta' com o ator que está sendo objeto de percepção” (PAVIS, 2008; p. 305)
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Flexibilidade: Para realização de aquecimentos corporais, preparação para cenas, ensaios e presença de palco, a flexibilidade é uma grande aliada. Um ator que possui flexibilidade é melhor preparado para o jogo e para a cena, e pode fazer um melhor aproveitamento do espaço do que os que não possuem essa técnica.
Prontidão: A prontidão é indicada para quem anseia melhor concentração, agilidade, conexão com o outro e raciocínio rápido. Um ator quando está de prontidão no jogo ou no palco, tem mais ritmo para a cena e conexão com o que está acontecendo ao seu redor, podendo auxiliar os companheiros e conseguindo melhores resultados. Elisa Batisti relata a importância da prontidão em seu processo como atriz:
O meu processo de despertar o corpo no início do trabalho tem o objetivo de disponibilizá-lo para o processo criativo e para cena. Para disponibilizar passo pela identificação das obstruções de movimento e energia e, pela respiração, rotação, flexão, asanas, corrida e caminhada. Busco desbloquear o corpo, abrindo espaços e habitando-o para sentir-me apta a realizar os movimentos, ações e projeções vocais que forem
13 PAVIS, Patrice. Dicionário de Teatro. São Paulo: Perspectiva, 1999.
necessários. É a partir dessa prontidão corporal que posso perceber minhas próprias sensações e minha relação com as pessoas em volta e com o espaço. (BATISTI, 2017; p. 16)14
Contato com o outro: Uma das tarefas mais complicadas durante o meu processo de preparação corporal do NMC foi estimular o contato com o outro. Pessoas tímidas rejeitam e sentem vergonha quando precisam ficar frente a frente com o companheiro durante o aquecimento, contudo, esses exercícios que estimulam o contato, desenvolvem entrosamento e confiança, que são essenciais para os aquecimentos nos ensaios, para o fazer teatral e para o relacionamento criativo entre esses indivíduos.
Toque: Assim como o contato com o outro, o toque não tem uma boa aceitação pela maioria, para isso é preciso buscar alternativas. Atividades cotidianas como fazer massagem em roda, de forma que as pessoas que estão participando sintam-se mais a vontade, foram ser bem aceitas e muitas vezes o grupo nem se deu conta de que estavam fazendo um exercício de preparação corporal. O toque também pode ser exercitado de forma individual para ativar a circulação, estimular o relaxamento dos músculos e o reconhecimento do próprio corpo, que é primordial para o trabalho do ator.
Os jogos escolhidos para a preparação estão entre as brincadeiras populares tradicionais e os jogos teatrais de Viola Spolin e Augusto Boal. Cada jogo tem uma função e são utilizados para proporcionarem expansão e conscientização do movimento corporal e do gesto no grupo. Segue uma compilação de jogos, a título de configuração da linha metodológica de trabalho que temos seguido:
Presença: Apenas um, apenas dois (Viola Spolin): Em pé, os jogadores ficam imóveis, apenas um deve caminhar entre os demais. Quando ele parar, outro imediatamente deve começar a caminhar, mas apenas um deve estar em movimento. Em seguida um novo jogador deve caminhar, ficando dois jogadores em movimento. Vai aumentando de um em um. Quando saírem mais ou menos jogadores que a quantidade estabelecida na rodada, o jogo reinicia do um. É preciso estar atento ao coletivo.
14 BATISTI, Elisa. O contato e o teatro como acontecimento de convívio: uma investigação sobre o processo criativo da atriz. UFSM, Rio Grande do Sul, 2017.
Flexibilidade: Hipnotismo Colombiano (Augusto Boal): Os jogadores foram duplas. Um põe a mão a poucos centímetros do rosto do outro jogador e este fica como se estivesse hipnotizado, olhando fixamente para a mão do parceiro. Deve-se manter o rosto sempre à mesma distância da mão do hipnotizador. O hipnotizador inicia uma série de movimentos lentos com a mão, fazendo com que o companheiro faça com o corpo todas as contorções possíveis, explorando espaços, alturas e movimentos do corpo.
Prontidão: Presi-Presi: ( brincadeira tradicional) Com todos os jogadores em roda, definese quem será o presidente (presi), o vice-presidente (vice), o tesoureiro (teso), o secretário (secre), e os demais jogadores são números na ordem crescente (1, 2, 3...). Faz-se um ritmo em um compasso 4/4, os dois primeiros pulsos são batidos na coxa, o terceiro é uma palma e o último um estalo de dedos. Nesse ritmo cada um deve falar: Nas batidas da coxa: ou sua
função ou número duas vezes (ex. Presi, Presi) Na palma: o verbo “chama”. No estalo de dedo: a função ou número de um dos companheiros (presi, vice, secre, teso) ou um número respectivo. Dessa forma fica assim: Presi, Presi “chama” Secre. E o Secre deve responder: Secre, Secre “chama” Dois. O Dois responde e assim sucessivamente. Quem não responde ao chamado, ou responde fora do pulso, vai para o último número, e todos os nomes e/ou números à esquerda de quem saiu sobem uma posição, os da direita mantém-se inalterados, o objetivo do jogo é chegar na posição de Presi. Esse jogo tem por finalidade treinar o raciocínio rápido, a atenção, a escuta, o pulso coletivo e também possíveis estratégias em grupo. Este jogo treina a atenção, ritmo, raciocínio e escuta. 15
Contato com o outro: Nome na roda: (brincadeira tradicional) O jogo inicia com um jogador com uma bolinha. Ele deve jogar a bolinha para um outro jogador e dizer o nome dele (jogador receptor) ao mesmo tempo em que joga. Podem ser acrescentadas bolinhas durante o jogo, afim de propor novos desafios.
Toque: Aquecimento com massagem: Os coralistas formam uma roda, um atrás do outro e iniciam uma sequência de massagens, estimulando no outro os músculos das costas, dos ombros, da lombar, da nuca e da cabeça, criando um momento de relaxamento, conhecimento do corpo e entrosamento entre o grupo. De forma individual e pessoal,
15 MUNIZ, Mariana Lima. Improvisação como espetáculo: Processo de criação e metodologias de treinamento do ator-improvisador. 1ª ed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2015