SOL Nas horas mais puras do dia, quando todos estão começando a acordar para as suas atividades... e o movimento... devagar vai tomando conta de tudo... o burburinho da cidade vai crescendo... Neste momento, quando você se prepara para tingir o céu com seus primeiros raios... eu já estou pronta... esperando-lhe... para nosso encontro matinal. Preparo a sala da minha mente... descansada... abro todas as janelas para que o ar puro da manhã penetre e traga as boas novas da aurora e o cheiro agradável da terra ainda úmida do orvalho. Deixo que o som dos pássaros entre e, com eles, a alegria do amanhecer...
Luciana Ferraz é socióloga, coordenadora da Brahma Kumaris no Brasil, tem mais de 40 anos de prática de meditação Raja Yoga, ministra palestras em muitos países e é membro do comitê internacional de Meio Ambiente da BK.
Meditação retirada do CD Sol e Lua, de Luciana Ferraz, da Editora Brahma Kumaris (faixa 6) Clique no ícone acima para ouvir a meditação completa
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EDITORIAL *
Saudações de Paz! Dessa vez escolhemos refletir sobre a natureza. Não simplesmente a natureza, mas a natureza de todas as coisas! E, para isso, contamos com maravilhosas contribuições. Yogis experientes, que conhecem bem a natureza de tudo. Destaque especial para a entrevista com Jayanti Kirpalani e o texto sobre cristianismo de Ken O’Donnell. Mas há mais, muito mais! A natureza do ser, a natureza do pensar, do sentir, do agir, a natureza do consumo, a natureza do trabalho , a natureza do plantar, do colher e do comer! E até a natureza do sol e da lua! É uma edição instigante. Vale a pena apreciar e refletir. Vale se envolver e respirar natureza, natureza, natureza. Vale ser Om, vale ser natural. Respire, acenda a luz do ser e mergulhe na natureza de todas as coisas! Om Shanti! Equipe Om Line Magazine
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SUMĂ RIO *
32. CAPA Natureza do ser, ser natureza Sandra Smith
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8. OM RELIGIÃO
50. OM POESIA
Cristianismo e o exemplo de amor e sacrifício de Cristo Ken O’Donnell
Da natureza e da alma Paulo Sergio Barros
14. OM ATITUDE
54. ESPAÇO OM
Entrevista: 5 pontos sobre o mundo Jayanti Kirpalani
Servindo os Elementos da Matéria ao manter uma atitude poderosa
18. FALA OM
68. OM PENSE VERDE
A natureza do sol e da lua Luciana Ferraz
Sintropia Fernando Cavalcanti
26. OM PENSAMENTOS
72. OM DROPS DE SABEDORIA
Natureza: Preservação x Consumo Valeriane Bernard
Viver e Meditar: Novo canal no Youtube Ken O’Donnell
38. OM COM O MUNDO
74. OM COMIDA PURA
A natureza original Ramon Almeida
A natureza inclusiva da cozinha Ana Paula Paixão
44. OM ESTILO DE VIDA
78. MEDITAÇÕES OM LINE
A natureza da autotransformação Elder Fontes Perez
Meditação: Sol e Lua Luciana Ferraz
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ESPAÇO DO LEITOR *
Amei a revista, que iniciativa linda, carinhosa de vocês. Me encanto com cada palavra escrita, muito bom gosto e sabedoria. Om Shanti!
Gostaria de parabenizar a equipe da revista OM Line, por essa iniciativa. Amei demais a ideia. Gratidão
Angelina Buchser
Elis Andrade Casagrande
Fiquei muito feliz em receber esta revista há muito tempo esperada. Eu sabia que alguma coisa de muito bom estava para acontecer. A minha vida vai ficar ainda mais preenchida e rica com o conteúdo desta informação. Om Shanti
Cristina Arcanjo
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Querida equipe: Ficou lindo! Maravilhoso! Cada palavra certa, no tempo certo, do jeito certo. Parabéns e minha super gratidão! Aguardo a próxima. Om shanti!
Antonella Marin
Amei a criatividade “Om line”. Gratidão à Brahma Kumaris. Om shanti!
Lidia Avena Pires de Souza
EXPEDIENTE Editora: Goreth Dunningham Design e diagramação: Felipe Arcoverde Revisão: Brenda Gomes
OM SHANTI!
Site: Ricardo Skaf Colaboração: Ana Paula Paixão Ilustrações: Freepik.com
Envie para nós os seus e-mails, dúvidas e sugestões, através do Facebook e Instagram ou e-mail: revista.omline@br.brahmakumaris.org Facebook.com/revistaomline Instagram.com/revistaomline www.brahmakumaris.org.br/revista
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OM RELIGIÃO * por Ken O’Donnell
CRISTIANISMO E O EXEMPLO DE AMOR E SACRIFÍCIO DE CRISTO
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Muito da nossa forma de pensar e se comportar no mundo ocidental é permeado pelos padrões morais e éticos que vêm do cristianismo. O exemplo de Jesus Cristo e o avanço do cristianismo tiveram um impacto tão grande na história, que se tornaram a principal religião do mundo. Em 2015, havia 2,3 bilhões de cristãos, pelo menos numericamente, se não em termos de fiéis reais. Na época, isso representava cerca de um terço da população mundial.
O impacto pode ser visto, também, pelo fato de que o calendário começa no ano 1 (quando foi calculado que seu fundador, Jesus Cristo nasceu). A história é dividida em duas partes a.C. (antes de Cristo) e d.C. (depois que ele nasceu). A religião cristã afirma que há mais de dois mil anos, Deus, como parte de um plano maior para salvar a humanidade de si mesma, visitou nosso planeta encarnando como ser humano
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OM RELIGIÃO * por Ken O’Donnell
pelo nome de Jesus, que mais tarde agregaram o título, Cristo. A palavra Cristo vem de Christós em grego que significa messias ou ungido. Os seguidores do cristianismo, conhecidos como cristãos, acreditam que Jesus seja o Messias profetizado na Bíblia Hebraica (o Velho Testamento). Essa é a essência da fé cristã. É também a base do Evangelho ou a Boa Nova que aqueles que testemunharam a sua vida começaram a partilhar com o mundo.
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Com base em relatos de primeira e segunda mão de sua vida e ensinamentos notáveis, o novo Testamento foi criado. Acredita-se que todas as obras que eventualmente foram incorporadas ao chamado Novo Testamento tenham sido escritas, o mais tardar, em torno de 120 dC, embora esta data esteja em disputa. Basicamente consiste nos chamados Evangelhos Canônicos de Mateus, Marcos, Lucas e João, as cartas do apóstolo Paulo e outros textos. Os evangelhos canônicos, que são a base da história da vida de Jesus, foram escritos por autores anônimos muito depois da morte de Jesus. Nenhum dos autores foi testemunha oculare, mas todos basearam seus relatos em tradições orais e versões escritas das parábolas que Jesus contava. As datas são - Marco provavelmente em 66–70 dC, Mateus e
Lucas por volta de 85–90 dC e João 90–110 dC. O livro de Marco serviu como uma boa base para os livros de Mateus e Lucas. Crenças básicas do cristianismo Os cristãos acreditam que Jesus teria ascendido aos céus, e a maior parte das denominações ensina que Jesus irá retornar para julgar todos os seres humanos, vivos e mortos, e conceder a imortalidade aos seus seguidores. Jesus também é considerado para os cristãos como modelo de uma vida virtuosa, e tanto como o revelador quanto a encarnação de Deus. (01) Os cristãos reconhecem Jesus como o Filho de Deus que foi enviado para salvar a humanidade da morte e do pecado; que Deus tomou forma humana como Jesus Cristo e que Deus está presente hoje através do trabalho do Espírito Santo e evidente nas ações dos crentes. edição 03 / ano 01
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OM RELIGIÃO * por Ken O’Donnell
(02) Dizem ainda que ele voltaria para julgar os seres humanos, vivos e mortos, e concede-lhes a imortalidade. Os cristãos acreditam que existe uma vida após a morte terrena. (03) Os cristãos acreditam na justificação pela fé - que através de sua crença em Jesus como o Filho de Deus, e em sua morte e ressurreição, eles podem ter um relacionamento correto com Deus cujo perdão foi feito de uma vez por todas através da morte de Jesus Cristo. (04) A oração é o meio pelo qual os cristãos se comunicam com o seu Deus; que Jesus ensinou seus discípulos a orar e que os encorajou a se dirigir a Deus como Pai. Os cristãos acreditam que eles continuam esta tradição.
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Igrejas cristãs foram criadas para disseminar as crenças Houve a Igreja Católica Romana original, que se dividiu em orientais e ocidentais. A divisão oriental é chamada a Igreja Ortodoxa. Ambas as divisões acreditam que são os verdadeiros defensores da fé. Por causa do fanatismo político e religioso, a igreja ocidental foi mais dividida no que hoje é chamado de tradição protestante, que começou com a Reforma de Martinho Lutero e outros. A tradição protestante agora representa 40% de todos os cristãos. Quaisquer que sejam as tradições, escrituras ou rituais que as pessoas sigam no cristianismo,
ninguém pode duvidar do incrível exemplo da vida de Cristo. Se Abraão era a personificação da lei divina e Buda como o exemplo do desapego contemplativo, Cristo era amor e perdão em pessoa. Seus ensinamentos podem ser resumidos como o amor de Deus e o amor ao próximo. Embora seja para baixo o que ele seria muito feliz vendo o que a humanidade fez em seu nome, promovendo a crença em sua vida, ele se destaca como uma das mais belas flores na árvore da humanidade. *
Ken O’Donnell é praticante e professor de meditação há 43 anos. É autor de 18 livros sobre desenvolvimento pessoal e de organizações. Atua profissionalmente como consultor internacional nas áreas de planejamento e gestão. É Coordenador para a América do Sul da Brahma Kumaris.
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OM ATITUDE * por Jayanti Kirpalani
entrevista com Jayanti Kirpalani
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[01] O que você considera ser a situação mais importante que a humanidade está enfrentando no momento atual? E por quê? A situação mais importante que a humanidade está enfrentando no momento atual é a do meio ambiente. Porque em primeiro lugar, temos visto as calamidades naturais ocorrendo com força cada vez maior e também estamos vendo os recursos naturais da terra sendo consumidos ou extinguidos. Estou falando sobre as florestas, os recursos hídricos, ar puro ou ar não contaminado. Não temos mais todas essas coisas. edição 03 / ano 01
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OM ATITUDE * por Jayanti Kirpalani
[03] E qual é o problema nisso? O problema nisso é que nós estamos tomando demais da natureza, da terra. Estamos explorando e até maltratando a terra e não percebemos isso. A espiritualidade nos ensina que na verdade precisamos de muito pouco dos recursos externos. [02] Você consegue apontar um motivo para esses acontecimentos? Ou seja, por que estão acontecendo todas essas coisas? Porque os seres humanos perderam o respeito pela natureza. Quando nós perdemos a nossa própria identidade espiritual e quando entramos na consciência da matéria, do corpo, começamos a olhar as coisas através de uma perspectiva materialista e começamos a acumular posses materiais. 16
[04] Você poderia explicar melhor a relação entre preservação dos recursos naturais e espiritualidade? Os recursos internos que nós temos são ilimitados, abundantes. Quando começamos a ter uma conexão com Deus e quando alcançamos o nosso mundo interior e somos capazes de experimentar o amor, a paz e alegria interna, percebemos que não dependemos das coisas externas.
[05] Você tem alguma inspiração para esse ano? Algo que pudesse compartilhar com os leitores da Revista Om Line? Eu sinto que esse ano haverá mais e mais caos no mundo exterior por causa das mudanças climáticas, e também devido à falta de recursos naturais. Em momentos assim, o que nós temos de fazer como praticantes de meditação, é desenvolver a capacidade de viver de uma forma muito, muito simples e reduzir as nossas necessidades no nível exterior, para que possamos realmente inspirar a humanidade a experimentar essa filosofia de uma vida simples combinada com a prática de pensamentos elevados. Isso nos capacitará a compartilhar com eles os tesouros que temos recebido de Deus através da meditação e do estilo de vida yogi. Esse é o impacto positivo que podemos exercer sobre o mundo atual. Om Shanti! *
Jayanti Kirpalani é diretora da Brahma Kumaris para a Europa e Oriente Médio, palestrante internacional e tem mais de 40 anos de prática de meditação.
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FALA OM * por Luciana Ferraz
A natureza do Sol e da Lua Texto retirado do encarte do CD Sol e Lua, de Luciana Ferraz, da Editora Brahma Kumaris Nascemos e somos formados dentro de paradigmas fechados, que nos fazem julgar os outros com base na exclusão ou em rótulos. Pontos de vista e ideias diferentes parecem não coexistir em nossos padrões limitados e estruturados de maneira rígida. Somos levados a acreditar que “sou um místico” ou “uma pessoa com os pés no chão”. Se tenho um intelecto racional, não há espaço 18
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FALA OM * por Luciana Ferraz
para ser espiritualista. E mesmo com anos no caminho das conquistas feministas, as regras de comportamento de gênero ainda estão bem delineadas na maioria das sociedades. Estes estereótipos rígidos conformam nossa atuação, estrangulam nossa criatividade e bloqueiam nossa experiência de plenitude. Algo que me atraiu no contato com a Organização Brahma Kumaris, em 1979, foi exatamente a possibilidade de fazer a ponte entre aquilo que pareciam opostos. A coexistência de valores e qualidades, antes tidos como excludentes, me atraiu desde o princípio, e me ajudou a romper algumas crenças que limitavam minha percepção da grandiosidade de cada ser. Ao compreender nossa complexida-
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de a ponto de dizermos que cada pessoa é um mundo, também passei a ver que a própria essência do ser humano está calcada num destes opostos que coexistem. De um lado somos todos iguais como seres espirituais, energias metafísicas ou almas de luz. Como seres humanos, temos muitos direitos e deveres que são iguais para todos, ou assim pressupomos que deveriam ser. Por outro lado, somos todos completamente diferentes em potencial, interesses, gostos, personalidades porque cada um tem a sua história sobre a terra, relacionamentos e experiências totalmente singulares, influências do meio ambiente físico e social, da cultura e da religião, que tornam cada um de nós único, incapaz de ser reproduzido pela
engenharia genética mais sofisticada e não passível de clonagem. Neste cenário, onde cada ser humano é ator herói do palco da sua vida, o sol e a lua são poderosos holofotes que trazem luz, inspiração e energia ao desempenho humano. São também princípios universais de qualidades que retratam o masculino e o feminino dentro de cada um de nós. O princípio masculino representado pelo Sol é a força, o movimento, o dinamismo. E o
princípio feminino representado pela Lua é a intuição, a sutileza, o cuidado, a aceitação. Ambos os princípios se complementam e precisam conviver em harmonia. Um não é melhor que o outro, nem se referem ao homem e à mulher. Os dois são necessários para o desenvolvimento completo do ser, e são aspectos da mesma vitalidade que existe em polaridades opostas e que coexistem de forma equilibrada no indivíduo consciente e espiritualizado.
“Conhecer as qualidades solares e lunares nos ajuda a ter um poderoso espelho no qual verificamos a face profunda de nosso ser interno e descobrimos em que aspectos temos de refinar nossas habilidades para nos tornarmos completos, plenos como o sol e a lua cheia”
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FALA OM * por Luciana Ferraz
Conhecer as qualidades solares e lunares nos ajuda a ter um poderoso espelho no qual verificamos a face profunda de nosso ser interno e descobrimos em que aspectos temos de refinar nossas habilidades para nos tornarmos completos, plenos como o sol e a lua cheia.
Assim, combinamos escutar nossa intuição com confiar no nosso intelecto e, como sentimentos puros, sedimentar as nossas decisões acertadas. Com a razão arrancamos as emoções negativas, pois a razão cria a estrutura e as emoções a recheiam.
Se pudermos fazer uma relação das tendências masculinas e femininas que regem o ser, teríamos:
Poder, cabeça, conhecimento, pensar, palavra, teoria, ação, extroversão, coragem, determinação.
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Amor, coração, experiência, sentir, imagem, prática, quietude, introspecção, flexibilidade, generosidade.
Nenhuma destas qualidades se satisfaz sozinha, pois a todo momento somos exigidos a dar respostas apropriadas para cada situação. Às vezes, precisamos agir, outras, recuar. Com certas pessoas podemos ser claras e firmes, com outras temos que ser brandos, senão elas “quebram”. Há momentos da vida em que temos de ter coragem para tomar uma atitude; há outros em que a paciência é a própria atitude. Só um intelecto claro é capaz de observar, discernir e decidir o que fazer de forma proativa e apropriada. Faz parte da experiência de todos nós, que além do equilíbrio e da complementaridade entre as qualidades, para termos sucesso nas cenas que surgem no enredo de nossas vidas, temos que ter um estoque
de poder espiritual para que possamos acessar a qualidade necessária, na hora certa. Pouco nos serve se, ao invocarmos o poder da tolerância, aparecer em nossos pensamentos, palavras e atos, o poder de enfrentar, ou se o poder de tolerância aparecer bem depois do momento da necessidade. Poderemos entrar em desperdício de tempo, energia, relacionamentos e, até mesmo, financeiramente para recuperar ou corrigir o estrago causado. O ditado que diz que “o equilíbrio não está no oito nem no oitenta, mas no quarenta”, não se aplica neste caso. Apenas se tivermos cada virtude ou qualidade positiva desenvolvida plenamente em nós, teremos garantido o equilíbrio ou a temperança na
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FALA OM * por Luciana Ferraz
nossa atuação, pois assim poderemos nos valer da qualidade necessária para a situação que aparecer. Esta é uma meta a ser alcançada por todos e uma aprendizagem que se estende ao longe da nossa existência. O conhecimento do significado das qualidades positivas e a sua aplicação prática no dia-a-dia garantem o desenvolvimento e o crescimento delas a ponto de tornarem-se naturais no nosso desempenho. O Sol, como o princípio masculino, é quente, vibrante, expansivo, criador. A Lua, como princípio feminino, é serena, relaxante, nutridora e inspiradora.
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Observamos que em momentos específicos de nossas histórias individuais, de acordo com a idade física em que estamos ou nossa personalidade, um ou outro destes princípios se desenvolve com mais força. A meditação é um método regulador maravilhoso, para purificar estas qualidades que se encontram latentes dentro de cada um de nós e dar-lhes rumo benéfico, tanto para nós quanto para os que nos rodeiam e com quem interagimos, e também em relação à influência que exercemos no mundo. Deus como Pai/Mãe é o único ser que possui o equilíbrio perfeito entre todas as qualidades, uma vez que é o oceano de todas as virtudes. Ele é aquele a quem nas meditações me refiro como o Sol/Pai Espiritual e a Lua/Mãe Divina. Natu-
ralmente, aqui Sol e Lua são usados em sentido simbólico. Assim, como quando dizemos que Deus está em nosso coração, não nos referimos ao órgão situado no centro do peito, mas, sim, ao sentimento de amor por Deus que está no âmago, no centro da nossa alma. Todos nós carregamos o sol e a lua, como princípios a serem cultivados dentro de nós, e temos como referência Deus, a fonte de toda benevolência e força espiritual, com quem aprendemos que somos estrelas vivas: estrelas de esperança, de paz e de sucesso na constelação humana. Agora é só meditar e despertar sua luz. Ela já existe internamente e apenas requer que você conecte o interruptor da sua própria consciência. Om Shanti! *
Luciana Ferraz é socióloga, coordenadora da Brahma Kumaris no Brasil, tem mais de 40 anos de prática de meditação Raja Yoga, ministra palestras em muitos países e é membro do comitê internacional de Meio Ambiente da BK.
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OM PENSAMENTOS * por Valeriane Bernard
mo u s n o c x o รฃ รง a v r e pres
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A humanidade tem uma relação coletiva com a natureza, e essa relação faz com que os elementos dela respondam do jeito que elas estão respondendo. Por que isso? Porque existe uma pressão muito grande em extrair mais e mais recursos da natureza. Falta respeito, falta carinho, falta cuidado para com a natureza. A motivação humana atualmente é muito egoísta – baseada na cultura do acúmulo – e também muito violenta. Mas cada um de nós também tem uma relação individual com a natureza e uma capacidade pessoal de impactá-la positiva ou negativamente. Isso quer dizer que eu, como indivíduo, posso escolher como me comportar com relação à natureza em diferentes níveis. Ou seja, a essência desse pensamento está na diferença que vou fazer como indivíduo no meu relacionamento ativo com a natureza e com o mundo.
Existe o aspecto prático: como eu vivo? Como é a minha impressão da natureza? Estou consumindo, depreciando ou respeitando a natureza? Por exemplo: é necessário ter um carro? É necessário ter dois carros? É necessário ter uma casa tão grande? É necessário ter tantas roupas? É bom pensar sobre isso porque tudo está saindo da barriga da Mãe Natureza, ou seja, da Terra! Não é que as coisas saem da loja ou do shopping: elas advêm dos recursos naturais! Quando começo a entender isso minha relação com o consumo reflete o resultado da minha compreensão do meu papel nessa terra, do meu relacionamento com a natureza – e também com o meu próprio ser. Tenho visto que existem muitas pessoas fazendo muitas compras, tentando minimizar suas frustrações e obter felicidade através de colecionar objetos. As compras e o edição 03 / ano 01
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OM PENSAMENTOS * por Valeriane Bernard
excesso de uso dos recursos causam a impressão de felicidade, como se aquilo fosse uma pílula de felicidade. Há uma crença de que a felicidade é obtida através da relação com a matéria. Por isso é essencial desenvolver uma consciência espiritual. Com a prática da espiritualidade você começa a desenvolver um relacionamento consigo próprio, entendendo que você é único mas que tem a responsabilidade de se relacionar com tudo e com todos de uma forma adequada. Você tem essa maravilhosa capacidade de discernir a melhor forma de agir em tudo: o jeito de comer, de caminhar. Quando você coloca seus pés na terra o que é que está saindo de dentro de você? Será que é estresse? Será que a terra precisa de ainda mais estresse? A terra precisa de mais sofrimento? De mais tristeza? De mais ganância? 28
O ser humano tem diferentes formas de expressão, boa ou má, positiva ou negativa; ele tem a capacidade de escolher. Já a natureza se expressa de forma muito generosa, muito boa. Ela tem uma atitude de acolher a tudo e a todos. Nas tradições espirituais indígenas, por exemplo, pode ser visto que existem pessoas realmente capazes de experimentar esse senso de pertencimento e amor com a Mãe Terra . Eles interagem com a natureza com muito amor, respeito e gratidão. Isso faz com que a natureza se relacione com essas pessoas de uma forma muito positiva. É o eco da vida, aquilo que emito, volta para mim. O que vejo é que relegamos o cuidado da natureza aos governos. Acontece que um governador também é uma pessoa. E o que serve pra ele serve para cada um de nós. Como profissional, eu estou assumindo a responsabilidade
que eu poderia assumir? Ou será que estou, de uma forma bastante egoísta, pensando apenas no que eu gostaria que o governo fizesse com relação à natureza? Há o governo, mas há também o indivíduo. E o indivíduo tem a capacidade de se desenvolver e entender melhor o próprio relacionamento consigo mesmo e com a natureza. Quando se percebe a profundidade das próprias capacidades e talentos, e não me refiro aqui apenas a talentos artísticos, e sim ao talento e à capacidade de ser um instrumento de benefícios ou malefícios para o mundo. Por exemplo: se sou um músico, qual é o teor da música que faço? Estou contribuindo para propagar pensamentos de angústia e sofrimento? Ou propago amor e paz? Porque o que faço ou emito tem um imenso impacto vibracional na natureza! É muito interessante, cada um tem de pensar nisso individualedição 03 / ano 01
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OM PENSAMENTOS * por Valeriane Bernard
mente: qual o impacto que exerço sobre a natureza? Porque você pode estar achando essa história toda muito bonita, mas é importante que você avalie como se relaciona com a natureza segundo após segundo, porque isso sim é a sua própria criação. Claro, é bom ajudar de forma física com políticas públicas, com seu estilo de vida, etc., mas para realmente inspirar uma mudança na relação da humanidade com a natureza é preciso que você mesmo se sinta inspirado. É de dentro pra fora. É muito mais que gritar e protestar, é ser.
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Um ser humano pode se comportar, muitas vezes, como os animais. Alguns são como formigas comendo tudo, cortando tudo, e outros tiram da natureza apenas o necessário para a sobrevivência. No momento atual, a humanidade se comporta de forma muito descontrolada, sem consciência de que cada um, como indivíduo, tem o poder para rever o próprio consumo. O que vamos colher da natureza como seres humanos é o resultado dessa relação. A sociedade contemporânea está baseada na ganância, por isso consome tanto.
A publicidade e o marketing conseguiram criar uma cultura de consumo, e nessa cultura é muito fácil querer coisas. Chegamos a pensar que é um direito. É meu direito ter isso. “Eu preciso, eu quero, eu mereço.” Não é assim o slogan? Se estou vazio internamente, fico tentando me preencher com coisas externas, porque ninguém quer ficar se sentindo vazio, e então fica tentando se preencher, se embelezar, de fora pra dentro. Tal estilo de vida não facilita a experiência de plenitude, lhe inspira e lhe tenta a querer preencher o
vazio interno com coisas externas, e isso não vai funcionar. Por isso a espiritualidade é importante, juntamente com as ações verdes. Não basta ser um ativista ou ambientalista, mas é necessário levar a todos a percepção de que o auto preenchimento não virá de coisas externas. Eu tenho uma amiga que diz que é a nossa responsabilidade o legado que vamos deixar para a próxima geração. Por isso, é muito importante ter uma reflexão própria sobre o estilo de vida. Isso vai ajudar a despertar outros nesse sentido. *
Valeriane Bernard é coordenadora da Brahma Kumaris em Genebra, membro do Comitê Internacional de Meio Ambiente da BK e praticante da meditação Raja Yoga há mais de 30 anos.
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CAPA * por Sandra Smith
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A visão limitada da natureza, restrita a seu aspecto material, pautou uma relação de exploração dos recursos naturais sem precedentes, dispostos para satisfazer às necessidades criadas e desejos sem limites dos seres humanos. O avanço tecnológico permitiu uma intervenção acelerada na natureza, desacompanhada de um limite ético capaz de respeitar seu próprio tempo, bem como a capacidade de depuração e regeneração dos bens ambientais. A quebra deste ponto de equilíbrio, refletida na insustentabilidade deste sistema de exploração, produção e consumo, passa a dar sinais de sua fragilidade levando a crise ambiental a pautar a agenda internacional. As mudanças climáticas, a crise hídrica, a poluição atmosférica, a perda da biodiversidade e solo fértil, o uso desenfreado de agrotóxicos no cultivo de alimentos e
“As mudanças climáticas, a crise hídrica, a poluição atmosférica, a perda da biodiversidade e solo fértil, o uso desenfreado de agrotóxicos no cultivo de alimentos e a falta de qualidade de vida nos grandes centros urbanos são desafios enfrentados pela humanidade”
a falta de qualidade de vida nos grandes centros urbanos são desafios enfrentados pela humanidade. Encontrar a solução para tais problemas requer repensarmos nossa relação com a Natureza a partir de uma mudança de consciência sobre seu verdadeiro significado e a forma como a Humanidade tem se relacionado com o meio do qual é parte. edição 03 / ano 01
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CAPA * por Sandra Smith
O que posso fazer para transformar tal estado de coisas? Primeiro é necessário assumir a responsabilidade, ter iniciativa na certeza de que qualquer mudança se inicia de dentro pra fora. Ter esperança que uma solução caia do céu é alimentar a frustração que nos leva ao fracasso de colocar a culpa nos outros. É preciso fazer-se presente ao chamado do tempo, assumir o papel de protagonista no resgate de meus valores originais, capazes de restabelecer o relacionamento de harmonia e união do ser com a essência de todas as coisas. A começar comigo mesmo. Como tenho me relacionado com meu mundo interior? Há soberania no meu reino interno? Eu faço acontecer ou me percebo incapaz e vítima das circunstâncias? Estar consciente de que a cada pensamento, palavra e ação, es34 34
tamos fazendo a escolha do caminho que queremos seguir é desfrutar da liberdade, direito nato de cada um de nós, com toda responsabilidade que lhe é inerente. É tornar-se amigo do tempo, é relacionar-se com sabedoria com a Natureza que sustenta a vida e reflete a essência de todas as coisas. É entender que as coisas possuem o valor e o significado que reflito nelas, a partir do meu sentimento de gratidão, cuidado e benevolência. É saber da importância da matéria, aceitar a condição comum e necessária de todas as almas que temporariamente habitam um corpo, e compartilham o mesmo ambiente como tutores de todas as coisas. A identificação da essência de cada um de nós, e da empatia de nos percebermos membros de uma grande Família, nos capacita ao exercício da solidariedade, valo-
rizando e respeitando as especialidades que nos tornam únicos. Mas para termos esta percepção é preciso uma visão além do alcance. Se me identifico com os papeis que desempenho, nome, status social, fama, profissão, títulos, terei dificuldade em perceber minha verdadeira identidade, acessar os poderes necessários para cada circunstância. Ir além de seu aspecto físico e compreender a Natureza através da dinâmica dos seus elementos (terra, água, fogo, ar e éter), que permite e acolhe todas as formas de vida, inclusive dos seres humanos, é um convite para reestabelecer uma relação harmoniosa comigo mesmo e fazer a diferença no meio que vivo. A crise ambiental que também é social, política e econômica, de fato existe. No entanto, minha liberdade em percebê-la irá determinar minha postura diante edição edição 03 03 // ano ano 01 01
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CAPA * por Sandra Smith
da vida e a capacidade de transformar minha realidade. Posso escolher uma visão limitada, me contentando a viver na superfície das coisas e experimentando uma dose de prazer temporário. Consequentemente, abro mão da minha liberdade e me torno escravo, sempre ocupado em alimentar um ego insaciável. Libertar-se dos grilhões que me afastam da essência das coisas começa por um mergulho profundo para dentro. É preciso ter coragem para alçar novos voos, e tudo começa por um ponto. Revolver os tesouros que há dentro de mim e descobrir a jóia que sou. Para ter tal clareza de percepção é necessário colocar um ponto final nos erros do passado. Ser determinado para desapegar da zona de conforto que me embala no sono da ignorância. A meditação ensina isto ao me exercitar a ser um observador desapegado. 36
Assim, crio tempo e espaço para perceber a verdadeira natureza do meu Ser. Volto minha visão para o ponto de luz que sou. Com tal consciência sou capaz de fazer brilhar a energia no centro da testa de cada um, fazendo refletir a beleza das virtudes em tudo e todos que eu encontrar no caminho. O tempo me chama a revelar minha verdadeira identidade, a perceber o mundo através de minha percepção espiritual, dando significado e sentido verdadeiro a tudo que apreendo pelos órgãos sensoriais, mas que são verdadeiramente compreendidos através de uma visão sistêmica e espiritual. O ambiente além do seu aspecto físico, deve ser apreendido através de uma visão holística, integrado ao seu aspecto energético, sutil e essencial. Descobrir a natureza de todas as coisas é buscar o sentido de tudo que existe. Perceber suas
qualidades é significar a vida, dar colorido e sabor à existência. A instabilidade do momento de transição é um convite para um encontro muito especial. É imprescindível cultivar a lembrança da Luz que sempre mantém seu brilho a nos inspirar. Escolher estar na companhia do Único, Aquele que me preenche de poder e refletir a beleza do ser na natureza de todas as coisas. *
Sandra Smith é advogada e praticante de meditação na Brahma Kumaris.
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OM COM O MUNDO * por Ramon Almeida
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A palavra “natureza” se expande por vários significados. Sua origem latina buscou identificar aquilo que é natural, aproximando o prefixo “natus” do sufixo “urus” para caracterizar as coisas observadas no mundo material que nascem ou surgem e que têm uma força que gera, até certo ponto não compreendida. No latim, também se utiliza a palavra “natura” como tradução da palavra grega “physis”, que originalmente se referia à forma através da qual surgiam plantas e animais. Nos últimos séculos, essa palavra passou a ser aceita no contexto de tudo o que existe na composição material, na representação do universo, na percepção dos fenômenos do mundo físico, incluída aí a vida como um todo. Mais recentemente, a importância e necessidade de cuidar do planeta e zelar pela vida em todas as suas formas, a vinculou diretamente ao meio ambiente. Desde o início, entretanto, natureza também se referia à essência inata do ser e à
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OM COM O MUNDO * por Ramon Almeida
indicação da medida de suas qualidades, virtudes, valores, índole e caráter, observados num adequado padrão ético em suas atitudes e comportamentos. Assim, uma pessoa que demonstra índole positiva e atitudes virtuosas passa a ser referida como alguém de boa natureza ou de natureza fácil. Dadi Janki, uma das maiores yoginis do mundo e líder espiritual da Brahma Kumaris, nos ensina que “... precisamos tornar fácil a nossa natureza, na qual todas as qualidades estão presentes. Nossas intenções devem ser as mais elevadas e puras de forma que os outros consigam captar nossos sentimentos“. Quem tem natureza fácil é capaz de expressar com naturalidade as suas qualidades essenciais. Este estágio se inicia com o processo de autoconhecimento, no qual a apreciação do silêncio e o aprofundamento diuturno no conhecimento espiritual, estimulados, por um lado, pela busca da compreensão
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“Precisamos tornar fácil a nossa natureza, na qual todas as qualidades estão presentes. Nossas intenções devem ser as mais elevadas e puras de forma que os outros consigam captar nossos sentimentos” Dadi Janki
do propósito e, por outro, pela apreciação das descobertas e confiança na perfeição do fluxo do bem e da verdade, constituem elementos que sustentam a continuidade da jornada e assunção da soberania sobre o papel a cumprir nesta existência. A natureza pessoal representa o jeito de ser, sendo fundamental aferir, sinceramente, até que ponto os valores da humildade, doçura, paciência, cooperação e pureza favorecem a evolução do próprio estágio de conduta espiritual o suficiente para merecer e reivindicar uma herança de felicidade e paz. Deve haver a clareza de que, em se tratando de um percurso, haverá obstáculos proporcionais aos avanços do processo de autotransformação para (re)encontro da nossa natureza original, até para testar a determinação, coragem e estabilidade necessárias à sustentação da senda. Sendo inexoráveis, a forma como lidamos com as circunstâncias do cotidiano e com as dificuldades, demons-
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OM COM O MUNDO * por Ramon Almeida
trará se por elas passamos com honra. E, por mais paradoxal que pareça, isso também está fixo no drama da vida. Os testes escondem aprendizados a serem desvelados. Servem para revelar e enaltecer virtudes, mesmo quando se apresentam com outras aparências. Quando há fé em nossa própria natureza de luz, eventuais formas de desejo, raiva, inveja, ganância ou apego, são percebidas apenas como oportunidades para reforçar a pureza, a serenidade, a humildade, o contentamento e o amor impessoal e incondicional a Deus. Como diz BK Atam Prakash “escuridão é ausência de Luz e todos os seres humanos possuem as qualidades originais da paz, amor, pureza, felicidade, alegria supra sensorial, conhecimento e poder. Quando estamos cientes de nossas qualidades originais, não somos influenciados pelas negatividades”. Este é o momento para descortinar nossa natureza original e nos reconhecer, uma vez mais, como seres de paz, capazes de absorver
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“Escuridão é ausência de Luz e todos os seres humanos possuem as qualidades originais da paz, amor, pureza, felicidade, alegria supra sensorial, conhecimento e poder. Quando estamos cientes de nossas qualidades originais, não somos influenciados pelas negatividades” BK Atam Prakash
orientações elevadas e servir como instrumentos da causa divina, com amor e respeito, sustentando intenções, ações e relacionamentos puros e verdadeiros, com potencial para beneficiar a natureza e a humanidade. Afinal, a partir do reconhecimento e expressão da nossa verdadeira natureza interior será possível encontrar discernimento e sabedoria para tomar decisões adequadas no mundo externo, em todos os níveis: nos pensamentos, palavras ou ações. Votos de uma boa jornada. Om Shanti. *
Ramon Almeida é diretor administrativo da Brahma Kumaris no Brasil.
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OM ESTILO DE VIDA * por Elder Fontes Perez
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São vários os motivos que podem se tornar gatilhos para a autotransformação: um desconforto emocional ou espiritual; a busca pelo sentido da vida; um vazio interior; uma inspiração; uma doença; a percepção de crenças, pensamentos e ações disfuncionais; uma insatisfação interna; a necessidade de mudar padrões de comportamentos repetitivos para gerar resultados novos; as perdas; um insight; entre outros. É muito comum também as pessoas quererem mudar alguma coisa mais específica em si ou na sua vida, seja do ponto de vista estético, intelectual, profissional, social, etc. O fato é que, normalmente, estamos pensando em mudar ou melhorar algo em nós ou ao nosso redor. A princípio, gostaria de chamar a atenção para um importante, porém não único, aspecto da nossa vida que pode contribuir de forma
significativa para a idealização de quem nós somos. Se prestarmos atenção, perceberemos que nascemos e crescemos ouvindo o outro falando sobre nós. Por exemplo: “Olha que bebezinho lindo! Olha a orelhinha, o cabelinho, a barriguinha, os olhinhos... dele(a). Como ele é bonzinho/danado! Eita, criatura malcriada! Ele(a) é tão educado(a)! Que menino(a) esperto(a)!” E por aí vai.... Começamos a nossa jornada na vida nos enxergando através dos olhos dos outros. Em certa medida, as falas que contribuem para a nossa constituição enquanto sujeitos, sejam pelas tentativas de corresponder a elas ou pelo esforço em refutá-las, são também as camadas que cobrem o ser. Neste sentido, a vivência do que não somos pode estar sendo a tônica da nossa existência agora. E ao vivermos esta incongruência, entramos num círculo de buscas, alegrias passageiras, expectativas e frustraedição 03 / ano 01
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OM ESTILO DE VIDA * por Elder Fontes Perez
ções. No entanto, a fluidez harmônica da nossa vida se intensifica na medida que nos aproximamos da nossa natureza real. Em uma autobiografia, o Beatles John Lenon relata que era fã incondicional de Elvis Presley. Dessa forma, durante muito tempo da sua adolescência ele viveu “copiando” o ídolo. Naquele período, ele se vestia como Elvis, fazia o mesmo corte de cabelo, queria dançar e cantar igual àquele que considerava o maior artista de todos. Anos depois, o próprio John Lennon diz em seu livro: “Tanto imitei Elvis Presley que me tornei John Lenon”. Essa breve história pode ajudar a ilustrar um pouco a ideia de que ninguém muda verdadeiramente para ser o que não é. Portanto, toda transformação autêntica só pode nos conduzir ao que realmente somos. Algumas referências que aparecem na nossa vida 46
podem também nos ajudar a encontrar o nosso próprio caminho, mas isto não significa dizer que o caminho será o mesmo. O processo de autotransformação está intimamente atrelado ao saber sobre si, ou seja, ao autoconhecimento. O exercício de mergulhar em nós mesmos pode ser tão prazeroso quanto doloroso, mas, definitivamente, é libertador. Neste percurso, onde as dúvidas se assentam nas (in) certezas, duas coisas
precisam estar na nossa bagagem: amor e generosidade, sobre nós e sobre os outros. Com esses dois ingredientes podemos, com mais segurança e paciência, ir removendo as “camadas” que nos cobrem. A natureza da autotransformação está, portanto, muito ligada a um processo de desconstrução, “desaprendizado” e ressignificação daquilo que nos atribuíram e que, de certa forma, nos constituiu. No entanto,
“A fluidez harmônica da nossa vida se intensifica na medida que nos aproximamos da nossa natureza real”
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OM ESTILO DE VIDA * por Elder Fontes Perez
os “ditos” postos sobre nós não precisam ser imediatamente e nem totalmente ignorados. Afinal, eles também formam o nosso autoconceito e isso pode, inclusive, ser o ponto de partida para a percepção do que em nós está em desacordo com aquilo que chamamos de Self. Assim, vamos nos aproximando de nós mesmos e percebendo a nossa profunda responsabilida-
de sobre aquilo que nos afeta. Afinal, tudo existe no campo das possibilidades e cabe somente à nós a escolha. Sem sombra de dúvidas, o silêncio e a meditação são sutis e poderosas ferramentas que nos permitem experimentar o íntimo encontro conosco. Trata-se da possibilidade de um contato com aquilo que nós somos em essência. O “deixar ser” que a medi-
“O exercício de mergulhar em nós mesmos pode ser tão prazeroso quanto doloroso, mas, definitivamente, é libertador” 48
tação proporciona, inicialmente através de apenas observar os pensamentos sem julgá-los, é o começo de um grande passo para a autotransformação. Esse exercício por si só já nos permite ver a intensidade e a velocidade dos pensamentos, os temas predominantes na nossa mente e as emoções que surgem. À medida que vou praticando, a minha percepção se altera, se
torna mais perspicaz e tudo vai ficando mais claro, favorecendo um novo escutar e um novo olhar sobre o que está dentro e fora de mim. Sendo assim, é importante que se estabeleça um processo contínuo para que o melhor de nós “volte” a atuar de forma cada vez mais espontânea e a partir daí possamos constituir os alicerces que nos permitirão a construção do que quisermos. *
Elder é psicólogo e praticante de meditação na Brahma Kumaris.
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OM POESIA * por Paulo Sergio Barros
Da natureza e da alma O domingo amanheceu om, zen, sol suave, cheiro de folhas secas umedecidas pelas chuvas suaves de final de maio. Era um domingo com um pouco mais de brisa, que se acentuaria nos meses seguintes, amenizando a temperatura do eterno verão da minha cidade tropical e criando uma atmosfera de movimento muito mais lento, com menos barulho, carros, ruas e poucos transeuntes. Eu havia dedicado aquele domingo especialmente ao 50
descanso, à leitura, a sentar e compartilhar um café da manhã depois da meditação com os meus “amigos comigo irmanados”. E assim se passava a manhã. O tempo que compartilhamos irmanados foi lúdico, alegre e amistoso. Tão atraente como as fragrâncias do café, do chá, da manga e do pão que decoravam a mesa. Entre sabores diversos, sentimentos e pensamentos de irmandade e aceitação, equacionamos o silêncio e a alegria enquanto à mesa.
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OM POESIA * por Paulo Sergio Barros
O ritmo do tempo dominical, o encanto sertanejo-devocional pela chuva e a mente com uma carga extra de energia pacífica e alegre que a meditação propiciara, conduziram-me a apreciar o resto da manhã com o meu espírito heliófilo e amor quase igualmente devocional pela natureza para caminhar em silêncio pelo parque. Aquele ímpeto que me conduzia ao silêncio no meio da natureza não foi interrompido sequer pelo sol intermitente, entrecortado por breves nuvens e suaves chuviscos. No parque, sons de música popular, alegrias de piquenique, movimentos de ioga e brincadeiras de crianças eram perceptíveis. Mas o sentimento de solitude se aguçava a cada passo em direção à trilha do parque. Os sentidos se concentravam para todas as cores: folhas, flores, frutos; todos os sons: gente, pássaros, brisa, movimentos das árvores; todas 52
“Aquele ímpeto que me conduzia ao silêncio no meio da natureza não foi interrompido sequer pelo sol intermitente, entrecortado por breves nuvens, suaves chuviscos” as fragrâncias que fluíam do jucazeiro, do ipê, do cajueiro, da cajazeira, do juazeiro; as sensações dos passos em movimento lento, tocando o solo, os dedos dilacerando uma folha seca, a aspereza de um tronco no toque da mão. Eu imaginava sabores de frutos que durante o ano se coleta no parque: o cajá, o caju, o trapiá, o araticum... vivia o meu silêncio, atento ao redor, observador
desapegado, em diálogo gentil comigo mesmo. Queria sair do alarido da cidade e adentrar ao silêncio do parque. Parei no ponto 0m: o início da trilha do parque. A mente leu e a alma entendeu Om: o mantra sublime, canção silenciosa, prenúncio de uma boa caminhada. Compreendi que podia ser zero: a mente vazia dos supérfluos desejos, das expectativas. Podia ser simplesmente uma reta ou círculo, princípio, meio e fim da caminhada, o retorno ao ponto zero metro (Om), silêncio. De fato, a experiência que vivia naquele justo momento, era o ponto luminoso no meio da testa: a identidade metafísica, a alma manifesta. O percurso, os passos, os pensamentos, os sorrisos para alguns transeuntes em silêncio, os sons dos bichos da mata, o reflexo do pássaro branco na água estática, um lagarto cruzando a trilha
delicadamente, um passarinho pescador... eram cenas que iam compondo o meu trajeto, meus sentimentos, minhas certezas e descobertas. Circunscrevi meu tempo, minha história, a trilha até retornar ao ponto Om (zero); o início, meio e fim, quando percebi que a alma se afagava com suas virtudes, era acalentada com a beleza dos elementos da natureza. *
Paulo Barros é educador, escritor e professor da Brahma Kumaris em Fortaleza-CE. edição 03 / ano 01
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ESPAÇO OM *
SERVINDO OS ELEMENTOS DA MATÉRIA AO MANTER UMA ATITUDE PODEROSA
Texto de Experiências de Meditação da Brahma Kumaris
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A natureza é o suporte da humanidade. Se a natureza não estiver pura os corpos se tornam doentes. É necessário aprender a viver em harmonia com a natureza e não tomar mais que o essencial
para a nossa existência. O equilíbrio interno do ser humano é perdido quando a natureza torna-se estressada devido à pressão exercida pelo homem. Até a sanidade do homem é compro-
metida quando o ambiente que o sustenta é destruído. A natureza é danificada quando o homem distancia-se de seus próprios valores internos. Quando o autorrespeito é peredição 03 / ano 01
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ESPAÇO OM *
dido, o respeito por quem tem nos sustentado por milhares de anos também é perdido. A natureza serve de forma incansável. Portanto, também é necessário servi-la. Seu equilíbrio pode ser restaurado ao espalhar vibrações de paz. Deve haver respeito pela natureza tanto em seus corações como em suas ações. Algo deve ser feito para restaurar sua beleza e equilíbrio. Crie silêncio internamente e alimente o sentimento de amor pelos elementos da natureza. Converse com eles como se fossem companheiros de jornada. Cada elemento da matéria é constituído de prótons, nêutrons e elétrons, todos em movimento. Os seus movimentos dependem das vibrações por nós criadas. A vibração é criada a partir dos pensamentos e da atitude 56
mental. A atitude do ser humano exerce enorme influência - ela pode mudar o impuro em puro e também neutralizar a negatividade. A vibração experimentada é resultado da própria atitude. A experiência de uma meditação profunda possibilita a autotransformação e também ajuda outros a mudar - inclusive os elementos da natureza. Essa consciência altera a relação que temos com a matéria da qual é feito o corpo físico. A matéria não compreende quando alguém faz uso errado dela ou se torna subserviente a ela. E entra em desequilíbrio na forma de escassez ou doença. Por que surgem as doenças? Elas são as impurezas sendo exteriorizadas. Doenças são turbulências. Ao retornar ao ponto central
de equilíbrio interno, é possível tornar-se um mestre do próprio eu, respeitar a matéria e permitir que ela retorne ao seu ponto central. Somos responsáveis por mudar a atmosfera do planeta de negativa e impura para pura e positiva. É preciso transformar-se internamente a fim de transformar o mundo. Mantendo uma atitude constante e poderosa de consciência de alma é possível servir a matéria. Servir significa respeitar. No momento presente os elementos da natureza estão mostrando uma forma extrema e negativa (aquecimento global, maremotos, terremotos, etc). Eles têm expressado uma forma negativa. Por exemplo, o fogo queima e cria medo. Mas essa não é a sua natureza original,
é uma natureza adquirida. O ponto central do fogo é a calma. Da mesma forma, a raiva não é a natureza original do ser humano, é adquirida. A natureza verdadeira do ser humano é a paz. Para trazer o fogo de volta ao seu ponto central, preciso retornar ao meu próprio ponto central. É importante mergulhar internamente e acalmar o fogo dos desejos, ser calmo internamente e assim permitir que o elemento fogo retorne ao seu ponto de calma. O mesmo aplica-se a cada um dos elementos da matéria. São suas próprias vibrações puras e virtuosas que devolverão o equilíbrio aos elementos. Compreenda a natureza de cada elemento da matéria e medite, criando vibrações poderosas de equilíbrio e restauração. edição 03 / ano 01
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ESPAÇO OM *
ELEMENTO TERRA A terra é estável e dá sustento. Ela me proporciona um local para pisar. Ela nutre todas as plantas e animais. Assim como a terra, meu estágio interno deve ser inabalável, de forma que nada possa sacudilo. Assim como a terra, meus pensamentos e ações devem nutrir ambos, o meio ambiente e as pessoas. No plano fisico devo observar a limpeza. Jogar lixo em locais inapropriados significa desrespeitar a terra.
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MEDITAÇÃO SERVINDO A TERRA COM O PODER DA COOPERAÇÃO Sentimentos profundos de gratidão à terra surgem internamente, ela que me sustenta e nutre como uma mãe. Uma mãe constantemente doa sem qualquer expectativa. O mesmo faz a Mãe Terra. Ela sempre doa e perdoa. Eu agradeço de coração todo o sustento recebido dela. A fim de servir a terra devo aprender como viver nela. Devo manter meus pés no chão e viver não como um indivíduo, mas como parte da espécie humana. Devo manter meus pés sobre ela e permanecer próximo aos outros, trabalhando junto. É necessário compartilhar o trabalho sem qualquer desejo por retorno ou reconhecimento. Servir a terra significa estar envolvido e encontrar um lugar no coração de cada um. Também significa viver em meu próprio corpo com cautela, entendendo o papel de cada órgão ou de cada membro, sem ser relapso e sem exigir acima dos limites. É necessário também viver harmoniosamente com os outros, apreciando as qualidades de cada pessoa, sem explorá-las nem torná-las reféns. Sem usa-los ou abandoná-los. A Cooperação me torna um ajudante de Deus na tarefa de criar um novo mundo.
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ESPAÇO OM *
ELEMENTO AR O ar está em todos os lugares; ele doa incondicionalmente a todos os seres vivos. Ele não priva alguém da sua dádiva. Em vez de poluir o ar com pensamentos negativos, devo demonstrar meu respeito ao espalhar a fragrância dos bons votos e sentimentos puros . Dessa forma, tais vibrações atingirão todos os seres vivos através do ar.
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MEDITAÇÃO SERVINDO O AR COM O PODER DE EMPACOTAR A fim de servir o ar, valorize-o, preencha-o com sentimentos de amor e leveza. Meus pensamentos são presentes que distribuo pelo ar. Meus pensamentos puros mantêm o ar limpo entre o eu e os outros. Posso purificar a atmosfera quando sou capaz de transformar o que é desagradável em algo do qual aprendizado é extraído; preenchendo-o com positividade e contentamento. À medida que empacoto minha mente, faço com que todos os meus pensamentos se tornem tão quietos como o ar, de modo que nada negativo seja capaz de entrar. Este é o poder de estar em solitude; há apenas serenidade na sala de minha mente. Quando experimento solitude , sinto Deus como meu Companheiro, assim sinto-me tão leve quanto o ar. Nada do passado permanece, tudo já foi aprendido. Quando minha mente torna-se tão límpida e calma quanto o ar, sou capaz de perceber os pensamentos com a mesma facilidade com que ouço as palavras.
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ESPAÇO OM *
ELEMENTO ÁGUA A água é flexível e tem o poder de neutralizar. O oceano é um símbolo de virtudes ilimitadas. Deus é o Oceano de Paz e Ele neutraliza a falta de paz. Assim como a água, devo ser flexível ao lidar com os outros. Devo aprender do Grande Oceano e então neutralizar a negatividade. No plano fisico, mesmo deixar que a torneira fique pingando significa desrespeitar a importância da água.
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MEDITAÇÃO SERVINDO A ÁGUA COM O PODER DE FUNDIR Visualizo-me sentado às margens do oceano, a fonte de água. A serenidade do oceano me leva além do som. A água é a fonte de limpeza. A fim de servir a água, preciso tornar-me limpo. Ser limpo significa permanecer focado. Honesto, mas também profundo. Isso significa não prender-me a nada, deixar que tudo flua livremente. E então haverá o poder de fundir como o oceano. Fundir significa ter um coração tão grande, de modo que todos sejam acomodados. A fim de fundir como o oceano- que é capaz de acomodar tudo- é necessário ter a mente flexível, o coração humilde, o pensamento amplo e também amor ilimitado. Não há exigências com relação aos outros, mas todos são aceitos como eles são. Fundir significa mergulhar profundo no Oceano de Perdão. Só é possível perdoar quando se é profundo. Se o amor, a paz e a sabedoria são profundos, é possível perdoar, pois há poder interno capaz de neutralizar o que é desagradável.
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ESPAÇO OM *
ELEMENTO FOGO O fogo limpa, purifica e transforma. O fogo é o símbolo da meditação, do yoga. Meu yoga deveria ser tão intenso quanto o fogo, de forma que eu possa ser transformado por ele. No plano físico, abusar do fogo significa ser desrespeitoso. A atitude de desrespeito é como uma queimada, que destrói as plantações. O desrespeito destrói os relacionamentos. O fogo se rebela contra as queimadas. Fumar e poluir o ar com fumaça também é uma forma inadequada e desrespeitosa de utilizar o elemento fogo.
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MEDITAÇÃO SERVINDO O FOGO COM O PODER DE ENFRENTAR A fim de servir o fogo, devo retornar ao estado de equanimidade, ao estado de calma. Devo deslocar-me da violência, que surge devido ao medo, e ir rumo à calma, que surge da pureza. Ao permanecer nesse espaço de integridade, honestidade e sinceridade, me sinto puro, sereno, calmo. Ao permanecer nessa calma, sou capaz de enfrentar mesmo a pior tempestade, pois tornome impenetrável como o fogo. Nada é capaz de entrar internamente. A fim de servir o fogo, devo permanecer na consciência de ser um espírito que jamais pode extinguir. Servir o fogo significa trazê-lo de volta a sua forma original, portanto devo vencer os desejos ardentes internamente. Os desejos de possuir, destruir e machucar. Estas são as piores formas de fogo. Servir o fogo significa permanecer estável e jamais abandonar esse estágio.
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ESPAÇO OM *
ELEMENTO ÉTER O éter é sutil, e ainda assim possui um longo alcance. O éter é tão amplo de forma que se acreditava que mesmo os planetas se moviam nele. A fim de retornar ao meu estado divino, meu intelecto deve ser como o éter- sutil e amplo. Tornar o silêncio sagrado significa respeitar o éter.
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MEDITAÇÃO SERVINDO O ÉTER COM O PODER DA INTROVERSÃO Introverter-se significa servir o Éter. Eu a alma sou eterno. Torno-me introvertido de tudo o que é físico. Vou além de todos os limites. Quando estou em uma consciência ilimitada sou capaz de ir além do passado, do presente e do futuro. Torno-me independente do tempo. Encontro um espaço silencioso internamente, um espaço que jamais foi tocado pelo tempo. Um local que está limpo de quaisquer experiências da vida. À medida que mergulho profundo internamente, descubro tranquilidade. O passado transforma-se no nada, o futuro permanece encoberto e quieto, e o presente torna-se simplesmente um jogo. Introverterse significa parar de querer adulterar a vida e a natureza; permiti-las desabrochar naturalmente. Servir o Éter significa ser apenas um observador do drama da vida. No plano físico, ao introverter-me, sou capaz de valorizar cada pensamento, palavra e ação. Então não falarei desnecessariamente, não terei pensamentos de desperdício, não me relacionarei com descuido nem reagirei de forma negativa. Darei a mim mesmo um momento de pausa, para refletir em silêncio antes de responder a uma situação. Dessa forma, preservarei a paz e espalharei vibrações puras na atmosfera.
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OM PENSE VERDE * por Fernando Cavalcante
Sintropia é entropia negativa, portanto, enquanto a entropia mensura o grau de desorganização do sistema, a sintropia é a sua medida de organização. A agricultura sintrópica entende que a função do ecossistema natural é acumular ou estocar a energia do sol e isso é feito em grau crescente de complexidade ou nível de organização do sistema. As plantas participam desse processo realizando fotossíntese, ou seja, sintetizando carboidratos a partir da energia luminosa. Em uma floresta, cada espécie vegetal cumpre uma função nos diferentes estágios temporais até o alcance da complexidade máxima do sistema, ou seja, do nível máximo de organização. O desenvolvimento desse sistema é regido pelos princípios da cooperação e do amor incondicional. Isso significa que cada organismo colabora a sua edição 03 / ano 01
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“O desenvolvimento desse sistema é regido pelos princípios da cooperação e do amor incondicional” maneira para o cumprimento do objetivo maior. É um grande trabalho em equipe para melhor aproveitar a luz do sol! A produção de alimentos com base na filosofia da agricultura sintrópica replica esse padrão constatado na natureza, visando abundância e sustentabilidade. O solo sempre coberto para reter a umidade e a nutrição do solo, a poda das árvores para ciclar os nutrientes e renovar o sistema, a ocupação dos extratos para aproveitar da melhor forma a energia do sol, a diversificação de espécies com o intuito de elevar a complexidade do sistema e sua capacidade de interação e cooperação. 70
Agora uma reflexão: imaginar a alma como uma vasta área com potencial de se transformar em uma floresta exuberante, próspera, regida pela sintropia. Deus é o sol, fonte da energia vital para o nosso desenvolvimento. A consciência representa o agricultor, os olhos que auto apreciam o desenvolvimento da terra fértil, atentos para aprender com o resultado de cada ação. O trabalho do agricultor é leve quando está em contato com a natureza. O seu objetivo é plantar as sementes das virtudes, nutrindo-as com boas ações, podando os pensamentos não mais úteis e deixando a luz permear toda a sua extensão.
Cada pessoa que conhecemos, que participa da nossa vida, são almas que deixarão sua contribuição e receberão a nossa contribuição à medida que desenvolvemos nossa capacidade de cooperar e amar incondicionalmente. É um trabalho em união. Servir é fornecer seu trabalho e também seus frutos. Podemos, inclusive, oferecer sementes, como exemplos de conduta, bem como conhecimento para nortear o plantio. No entanto, uma floresta produtiva sempre dependerá da fertilidade da alma e do seu estado de prontidão para florescer. *
Fernando Cavalcante é estudioso em sintropia e praticante de meditação na Brahma Kumaris.
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OM DROPS DE SABEDORIA * por Ken O’Donnell
NOVO CANAL NO YOUTUBE Em maio deste ano, durante a celebração de 39 anos da Brahma Kumaris no Brasil, foi lançado o canal de vídeos Viver e Meditar.
ONDE ENCONTRAR www.youtube.com/viveremeditar www.facebook.com/viveremeditar
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Semanalmente, são divulgados 3 novos vídeos sobre como viver melhor e a meditação, com Ken O’Donnell.
Ken O’Donnell é praticante e professor de meditação há 43 anos. É autor de 18 livros sobre desenvolvimento pessoal e de organizações. Atua profissionalmente como consultor internacional nas áreas de planejamento e gestão. É Coordenador para a América do Sul da Brahma Kumaris.
Vídeo 1 Quem eu sou verdadeiramente
EXEMPLOS DE VÍDEOS JÁ PUBLICADOS Clique nos ícones abaixo para ver os vídeos do canal “Viver e Meditar” de Ken O’Donnell
Vídeo 2 Descobrindo seu valor profundo
edição edição 03 03 // ano ano 01 01
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OM COMIDA PURA * por Ana Paula PaixĂŁo
A natureza inclusiva da cozinha
Por amor, obrigação, lazer, rotina, prazer, para agradar, para nutrir. De um jeito ou de outro, tem alguém no mundo nesse exato momento cozinhando. Um ato corriqueiro, mas que carrega em si um poder impressionante de transformação. Uns gostam, outros não. Isto é fato. Mas o que não podemos negar é que acontece uma troca de energia de quem cozinha com o alimento e com quem o come. Isso já demonstra o quanto os pensamentos, ações e escolhas de ingredientes são fundamentais para que o que circule no ar, no corpo e na mente sejam sentimentos do bem. Recentemente comecei a trabalhar com amor, opa! Quis dizer com alimento, e tenho sentido o retorno, nas diversas formas, daqueles que estão experimentando minhas produções e a forma que me apresento ao mundo. Isso vem da prática da meditação e de cozinhar na lembrança de Deus. Ele está por trás de tudo. E dessa forma, sinto que a cozinha tem me dado muitas oportunidades de autotransformação. O ato de prover vale muito mais do que o próprio alimento. Há envolvimento, revolviedição 03 / ano 01
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OM COMIDA PURA * por Ana Paula Paixão
mento, empatia, sorriso e boas conversas. Como os produtos de origem animal estão fora do meu cardápio, já era de se esperar tanto amor em retorno. A Natureza é sábia e a lei cármica é precisa. Faz alguns dias uma cliente me relatou a sua realização em ter experimentado pela primeira vez o sushi vegano, já que sempre teve uma severa alergia aos “frutos” do mar. Seu relato foi tão emocionante que parei para refletir sobre mais esse lindo papel do ato de cozinhar, que é o de incluir. Definitivamente a cozinha inclui. Com um pouco de iniciativa e criatividade qualquer produto pode ser substituído de forma harmônica, sensorial e saborosa. Viva a alquimia dos alimentos! Imagine a felicidade de uma criança diabética, por exemplo, em poder comer de tudo em sua festinha de aniversário? A tranquilidade de um celíaco em poder 76
PANQUECA DE GRÃO DE BICO RECHEADA COM PASTA DE TOFU
Massa 250g de farinha de grão de bico ¾ de xícara de água Sal a gosto
Recheio 100g de tofu 4 colheres de sopa de Shoyo 4 colheres de sopa de Azeite Orégano e cominho a gosto
Modo de preparo (massa) Misture todos os ingredientes e despeje uma quantidade que cubra o fundo de uma frigideira antiaderente, previamente untada com um fio de azeite. Quando dourar, vire para cozinhar o outro lado. Reserve.
Modo de preparo (pasta) Amasse o tofu com um garfo. Coloque-o em uma panela e acrescente todos os outros ingredientes. Mexa até que o tofu cozinhe e vire uma pasta.
entrar em sua padaria favorita e adquirir um pão sem glúten. São tantas as novas possibilidades sem sal, mas com novos sabores, sem açúcar, mas super doce, sem leite, mas com cremosidade, sem carne, mas com tantos nutrientes e amor. O mundo está ficando cada dia mais lindo. Sinto-me agradecida pelas novas experiências que a vida tem me proporcionado e feliz em fazer parte dessa onda de novas e conscientes escolhas. Bom para mim, para o outro e para o mundo. *
Montagem Coloque o recheio e enrole as panquecas. Ana Paula Paixão é designer, coordenadora do grupo jovem da BK no Nordeste, professora de meditação Raja Yoga e encantada com a natureza. edição 03 / ano 01
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MEDITAÇÕES OM LINE * por luciana ferraz
LUA Na quietude da noite sento-me confortavelmente... com total respeito pelo silêncio... experimento segurança, sendo coberta pelo toldo protetor do céu escuro... incrustado de pequeninas estrelas. Uma atmosfera que propicia a introspecção... tocando com os dedos invisíveis dos pensamentos... o fundo do ser... onde a serenidade e a paz têm a sua morada. O ambiente de acolhimento me ajuda a percorrer os insondáveis caminhos rumo ao incógnito diamante que vive no centro da minha existência: o Ser... jóia rara e inestimável... Meditação retirada do CD Sol e Lua, de Luciana Ferraz, da Editora Brahma Kumaris (faixa 1) Clique no ícone ao lado para ouvir a meditação completa
Luciana Ferraz é socióloga, coordenadora da Brahma Kumaris no Brasil, tem mais de 40 anos de prática de meditação Raja Yoga, ministra palestras em muitos países e é membro do comitê internacional de Meio Ambiente da BK.
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Clique na imagem na tela do tablet para ver o vídeo de apresentação da Editora Brahma Kumaris
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OM line é uma revista digital para quem almeja restaurar o equilíbrio interno.
Uma publicação da Brahma Kumaris Brasil brahmakumaris.org.br/revista 80