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ao volante

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MIGUEL PINTO

MANAGING DIRECTOR – POLESTAR PORTUGAL “A Polestar é muito mais do que uma marca que vende automóveis elétricos”

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Como se posiciona a Polestar no mercado da mobilidade elétrica? Como se diferencia das outras marcas que também apostam forte, já hoje, nos veículos elétricos?

Penso que temos uma grande vantagem em relação à principal concorrência, que passa pelo facto de termos nascido 100% elétricos, ou seja, a Polestar não teve qualquer necessidade de adaptar o seu portfolio em função das normativas e das imposições governamentais em prol da defesa do ambiente. Posto isto, diria que a Polestar é uma marca sueca de automóveis 100% elétricos focada no design dos seus produtos (somos mesmo a única marca que tem como CEO um designer), alto rendimento e performance (temos na nossa herança todo um histórico de competição) e tecnologia avançada (fomos os primeiros, por exemplo, a incorporar o Google Automotive Service a bordo). Ou seja, diria que a Polestar é muito mais do que uma marca que vende automóveis elétricos. O nosso principal objetivo passa por conseguir mudar as mentalidades e promover uma mobilidade elétrica sustentável, orientando e acompanhando os nossos futuros clientes a tomar consciência da importância desta transformação para o nosso planeta.

E em Portugal, qual tem sido a aceitação dos produtos Polestar?

Para este primeiro ano estamos muito satisfeitos com a aceitação quer do público quer da imprensa nacional. Diria até que tem superado as nossas melhores expectativas. Chegámos em maio, e começámos a comercializar o modelo Polestar 2 tendo notado desde o início, e mesmo antes da oficialização do início das operações, uma elevada procura. Em outubro, fizemos a apresentação internacional do Polestar 3, que nos tem surpreendido pela quantidade de unidades já vendidas, principalmente por ser um modelo que ainda não está disponível fisicamente.

Como é formada e qual a dimensão da rede de comercialização Polestar em Portugal?

Em primeiro lugar importa referir que apresentamos um modelo de negócio que acreditamos ser o futuro do setor e que assenta em três pilares: Eletrificação / Digitalização / Venda Direta. É um modelo de negócio que denominamos de figital, pois assenta numa venda 100% online suportada por locais onde os clientes poderão vivenciar uma experiência Polestar autêntica, na qual poderão experimentar os nossos produtos e esclarecer as suas dúvidas sendo acompanhados por especialistas de produto que não exercerão, em nenhum momento, qualquer pressão de compra. Temos já alguns locais, que serão reforçados em breve com mais dois Polestar Spaces em Lisboa e no Porto.

Os conhecidos problemas ao nível de unidades disponíveis e de prazos de entrega, que se têm vindo a agravar nos últimos tempos, também são sentidos pela Polestar?

É um problema que afeta toda a indústria. No entanto, diria que, dado o contexto atual, creio que a Polestar está melhor que a média da indústria ao apresentar, em função da configuração desejada pelo cliente, em média 4 a 5 meses para a entrega.

Quem é, tendencialmente, o cliente-tipo do Polestar 2, ou até do Polestar 3? Mais empresas ou particulares? Ex-clientes de outras marcas “premium” ou “early adopters” da mobilidade elétrica? Que relevância tem cada um desses perfis nos clientes que escolhem Polestar? E para esses clientes quais são

“O nosso principal objetivo passa por conseguir mudar as mentalidades e promover uma mobilidade elétrica sustentável, orientando e acompanhando os nossos futuros clientes a tomar consciência da importância desta transformação para o nosso planeta”

as características mais valorizadas na compra de um Polestar: design, performance, imagem de marca, autonomia, tecnologia?…

São clientes muito exigentes que valorizam um processo de venda claro e a personalidade do design dos automóveis, sem renunciar às sensações de condução. São também clientes muito conscientes da proteção ambiental, defendendo todas as causas que promovem a sustentabilidade duradoura. Ao nível dos nossos modelos, diria que o Polestar 2, é um fastback com uma autonomia até 551 km que tem vindo a atrair uma clientela bastante vasta, na qual destaco o peso já muito relevante do canal B2B. O Polestar 3 é um SUV com 620 km de autonomia, que vem ao encontro das preferências atuais de mercado para um público mais geral que valoriza automóveis com muito espaço, posição de condução elevada, tecnologia de ponta e um nível de segurança sem precedentes.

Além de uma gama de modelos de uma marca “premium” de performance elétrica, que tipo de serviços inovadores e diferenciadores (como eventuais serviços digitais, assistência, carregamento…) são disponibilizados pela Polestar aos seus clientes?

Diria que todo o conceito de modelo de negócio que montámos é, por si só, bastante inovador em relação às práticas tradicionais. É um modelo transparente e que traz muita confiança pois o cliente sabe, a todo o momento, que está a realizar sempre o melhor negócio. Ao nível de assistência técnica e pós-venda temos como base a rede de assistência já existente da marca Volvo. Estamos a falar de um total de cerca de 30 pontos nacionais (continente e ilhas) já devidamente certificados e formados para assistir as viaturas Polestar e disponíveis para facilitar a vida aos nossos clientes em qualquer momento. Por último, gostaria de referir que estamos a trabalhar numa parceria, que anunciaremos em breve, com um fornecedor energético que irá trazer muitas vantagens para os nossos clientes.

Como avalia o panorama atual da mobilidade elétrica em Portugal? E como antecipa poderá ele evoluir nos próximos tempos?

Penso que Portugal constitui um caso muito particular. Estamos no 4.º lugar na Europa em matéria de infraestrutura elétrica, por isso acredito que o cliente nacional já está psicologicamente preparado para a mudança para a mobilidade elétrica. Por outro lado, acredito que a própria dimensão do nosso País também ajuda nesse sentido. Ao contrário dos nossos vizinhos espanhóis, em Portugal já podemos ligar as principais cidades do País sem qualquer necessidade de carga. Nestes primeiros meses de atividade em Portugal, apesar de um momento económico pouco favorável, registámos uma forte procura, ou seja, os clientes estão já disponíveis para a transição para a mobilidade elétrica, que pode ser feita desde já. Acredito que irá aumentar bastante nos meses vindouros.

O que acha que deveria ser feito ainda para ajudar os consumidores a aderirem ainda mais rapidamente à transição dos veículos a combustão para os veículos elétricos?

Creio que a grande maioria das pessoas estão já a avaliar e a ponderar uma mudança para a mobilidade elétrica. Existem já clientes totalmente convictos da absoluta necessidade dessa transição, sob o ponto de vista ambiental. Esses clientes, que já são bastantes e com tendência crescente, não necessitam de qualquer incentivo extra. No entanto, acreditamos que, nesta fase, o papel dos governos para uma transição mais rápida será muito importante. Apesar de ter referido em cima que a realidade da cobertura nacional de carregamento já é muito satisfatória, penso que terá de se continuar a apostar fortemente neste capítulo. Por outro lado, os apoios à compra e incentivos fiscais, quer para o lado das empresas, quer para o lado dos particulares, também serão bastante relevantes para a aceleração para a eletrificação. Por último, há muitos outros fatores a ter em conta. Por exemplo, o acesso aos centros das grandes cidades tende a ser, cada vez mais, reservado somente aos modelos amigos do ambiente. Também do ponto de vista económico está provado que a médio/longo prazo a utilização de um modelo 100% elétrico é menos dispendiosa para o cliente quando comparada com os tradicionais veículos a combustão. Se forem utilizadas fontes de carregamento renováveis, essa diferença será ainda maior.

Num mercado europeu que parece caminhar a ritmo acelerado para as zero-emissões, torna-se mais fácil para um fabricante automóvel – como a Polestar – que não tenha de renovar toda a sua gama, eletrificando-a? Isso pode ser considerado uma vantagem, do ponto de vista industrial?

Sem dúvida. Comecei por referir no início da entrevista que considero ser esse mesmo um dos nossos fatores mais diferenciadores. A generalidade da indústria teve de adaptar-se a essas imposições legais, com todos os custos e consumo de recurso que daí advêm. Na Polestar não, temos um DNA 100% elétrico, que nos permite concentrar as nossas preocupações noutros sentidos, com vista a uma satisfação total dos nossos clientes em todos os momentos. Dou dois exemplos: – Queremos que os nossos clientes se sintam confortáveis com a origem das nossas baterias. Para isso, utilizamos a tecnologia blockchain na qual fazemos um rastreio do cobalto e do lítio utilizado na sua produção, só trabalhando com fornecedores eticamente responsáveis e que, em outros aspetos, valorizem os recursos humanos. – Estamos já a trabalhar num modelo automóvel verdadeiramente neutro em termos climáticos até 2030. Essa iniciativa, denominada “Polestar 0 Project”, é uma abordagem que abrange todo o processo de desenvolvimento e cadeia de valor em prol de uma mobilidade com emissões verdadeiramente zero.

Quando chegará o Polestar 3? Sabendo que se trata de um SUV (o segmento automóvel mais popular), que importância terá este novo modelo para a gama Polestar?

Estamos a apontar a chegada do Polestar 3 para o último trimestre de 2023. Este é um automóvel muito importante para a Polestar. É o primeiro SUV da marca, e todos sabemos a relevância que este segmento de mercado tem assumido nos últimos anos. Costumamos dizer que é o SUV para uma nova era, a era totalmente elétrica. Em termos de design, performance, autonomia, tecnologia e segurança, é um automóvel impressionante, que tem recebido críticas muito positivas por parte da imprensa e um nível de procura bastante interessante.

A marca anunciou a intenção de lançar um novo modelo anualmente. À oferta atual do Polestar 2 juntar-se-ão assim os já confirmados Polestar 3 (um SUV), Polestar 4 (modelo SUV-coupé), Polestar 5 (GT de 4 portas) e Polestar 6 (roadster). O que revela uma ambição que parece ir muito além da definição atual da Polestar como marca de performance elétrica do Volvo Car Group.

“Estamos a trabalhar numa parceria, que anunciaremos em breve, com um fornecedor energético que irá trazer muitas vantagens para os nossos clientes”

Depois do nome Polestar ter começado por estar associado a versões mais desportivas de modelos Volvo, pode-se já assumir a marca Polestar como tendo agora verdadeiramente uma identidade própria?

Sem dúvida, e será cada vez mais assim. Em termos históricos, temos de recuar a 1996 para encontrar as origens da Polestar, na altura enquanto marca de competição independente. Em 2015, a Volvo comprou a marca que continuou os seus desenvolvimentos na vertente mais desportiva. Em 2017, a Polestar voltou a ser uma marca independente, com capital repartido entre a Volvo e a Geely (50% - 50%). A Polestar é uma marca jovem e a crescer, contando hoje em dia com mais de 2.200 colaboradores, isto sem ter em conta as fábricas. Os primeiros modelos comercializados, Polestar 1 (uma edição limitada de um automóvel GT híbrido) e o Polestar 2, um fastback elétrico de elevadas prestações, tiveram como base concept cars Volvo. No Polestar 3 entramos de facto numa nova era. É o primeiro modelo 100% Polestar, ou seja, construído e concebido totalmente por engenheiros da marca. Este é o caminho a seguir nos anos vindouros, que irá diferenciar ainda mais o nosso posicionamento e proposta de valor. l

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