BOSSA #7 | Novembro 16

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editorial

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JoĂŁo Compasso


EDITOR Luz, câmera e ação! Viva o cinema, ele nunca esteve tão vivo como agora. A maior amostra de cinema brasileiro na Espanha – NOVOCINE – completa 10 anos de existência com uma programação fantástica. Sem dúvida as escolhas dos filmes este ano foram acertadas, tanto pela qualidade da seleção, como pela versatilidade na forma de retratar o cotidiano brasileiro. A mostra traz três filmes que homenageiam personalidades brasileiras, cada uma em seu tempo. Del otro lado del charco, o Brasil é palco da Mostra de Cinema Atual Espanhol. O intercâmbio cinematográfico é uma vitória, lograda (de alguma parte) pelo trabalho realizado com o Novocine. Completamos nossa sessão cinematográfica com um artigo maravilhoso assinado pela professora Adriana Cursino. Intitulado de “O Brasil à luz do cinema”, o artigo é uma crítica clara e objetiva sobre os filmes que configuram a décima edição do Novocine, e vai além, é um retrato da história do cinema brasileiro. A cantora Larissa Baq, ou simplesmente Labaq, está na Espanha desempenhando um trabalho autoral impressionante. Estivemos em Barcelona com ela para conhecer um pouco mais sobre seu trabalho. Abrimos uma sessão editorial nova, como você vê a BOSSA. Os Estudantes de Designer nos dizem, ou melhor, nos mostram, como eles nos veem. Evoé

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SUMáRIO

cine 24 – Be Natural

Poder do Chá 7 usos para o chá que você não conhecia.

8 – Especial

NOVOCINE 2016 A revista é dedicada á maior mostra do cinema brasileiro na Espanha, que completa 10 anos.

18 – Cinéfilos

O Brasil à luz do cinema A professora Adriana Cursino analisa os filmes do NOVOCINE e revisita a história cinematográfica brasileira.

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BOSSA FM

Festas que movem o Brasil

Neste mês trazemos para vocês uma das festas de cultura musical brasileira mais importantes da Europa, a “Avenida Brasil”.

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26 –

Foodie lovers

Comida Caseira

Impossível não lamber os dedos.

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Entrevista

Larissa Baq A cantora brasileira, percussionista e compositora contou um pouco sobre a arte de brincar com diferentes sons e a certeza de que nada precisa ser igual a nada.


Capa Foto: Divulgação do artista Execução: Gonzalo López de Egea Idealização: Trasto Creativo

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ema 32 – Trend

Vinhos naturais: de volta às origens Você já ouviu falar de vinho natural? Conheça essa que é a nova tendência mundial.

41 –Agora Espanha

Lorena Nunes O projeto de conexões artísticas e culturais entre Brasil e Espanha chega através das mãos da cantora Lorena Nunes

44 – Vejo BOSSA

52 – Espaço Gurmet

Creme Brüllée A sobremesa disputada entre os franceses, ingleses e Espanhóis.

56 – Quixote Macunaíma

Por que o Rio não é Barcelona? Uma profunda reflexão sobre os desafios enfrentados pelo Brasil para provar que pode realizar as Olimpíadas como qualquer país desenvolvido.

Plumas ao vento Como você vê a BOSSA?

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staff DIRETOR João Compasso EDITORA BARCELONA Daniela Pacheco REDAÇÃO Clarice Compasso Daniela Pacheco DESIGNER Gonzalo López de Egea Gómez - Trasto Creativo. COLABORAÇÃO Flávio Carvalho, Juliana Bezerra, Rafaella Marques, Tahone Jacobs, Luzie Lima, Suzana Paquete. Michele Vasconcelos, Rodrigo da Matta, Fernanda Medeiros, Tati Sato, Aline Navarro REVISÃO Claúdia Maciel CONTATO editor@revistabossa.com +34 64 007 41 77

DEPÓSITO LEGAL M-10540-2016 As opiniões expressas por nossos colaboradores são de responsabilidade exclusiva dos mesmos.

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especial

Redação

novo cine completa

10 anos Consolidada o maior mostra de Cinema Brasileiro na Espanha, o Novocine comemora sua X edição com uma cartela de filmes de primeira linha.

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Já virou uma tradição. Novembro é o mês do cinema na capital espanhola. Assim, o NOVOCINE completa 10 anos de existência, difundindo a cultura brasileira através de sua produção cinematográfica. A mostra se compromete em exibir gratuitamente e em versão original legendada (V.O.S.E.) as mais recentes produções do cinema brasileiro. O resultado não poderia ser diferente, salas cheias e uma verdadeira publicidade sobre o Brasil e suas diferentes facetas. Organizada pela Embaixada do Brasil e pela Fundação Cultural Hispano-Brasileira com a colaboração da SGAE o festival comemora a marca de mais de 3000 espectadores em cada edição. Em uma década mais de 30.000 espectadores assistiram aos filmes da mostra. Um verdadeiro sucesso, responsável pela inclusão de muitos filmes brasileiros no circuito comercial espanhol. Só este ano, “El profesor de Violín” de Sergio Machado e “Madre solo hay uma” de Anna Muylaert foram alguns dos títulos que marcaram presença nos cinemas espanhóis. A celebração dos 10 anos começa um dia antes da abertura oficial do NOVOCINE, no Centro Cultural Galileo (C/ Galileo, 39), onde ocorrerá um show com o grupo brasileiro “Uirapuru Urbano”. Eles revisitarão as músicas mais famosas do cinema brasileiro. O show será às 19h do dia 16 de novembro, com entrada gratuita. Entre o repertório terá A volta do malandro, Tico tico no fúba, Juizo final e outras pérolas que marcaram o cinema. Como de costume, a amostra estreará no tradicional Cine Palacio de la Prensa (Plaza de Callao, 4). A obra responsável para abrir o Festival será o premiado filme “Nise, o coração da loucura”, de Roberto Berliner. O filme retrata a vida de Nise da Silvei-

ra, renomada psiquiatra brasileira que revolucionou o tratamento psiquiátrico no Brasil. Atuando no Rio de Janeiro entre as décadas de 40 e 50, a doutora foi contra os tratamentos adotados na época, técnicas psiquiátricas consideras agressivas. Como ocorre todos os anos, na estreia se sorteará entre os espectadores do filme uma passagem de avião Madri-Salvador-Madri com direito a acompanhante. O evento começa às 20h e a entrada é livre até atingir a capacidade. Esse ano o NOVOCINE exibirá 7 filmes inéditos na Espanha. Será uma semana de mostra. Do dia 18 a 24 de novembro os filmes serão exibidos na Sala Berlanga (C/Andrés Mellado, 53) em duas sessões por dia, às 19h e às 21h30. Todas as sessões são gratuitas – até atingir o limite – e as entradas podem ser retiradas na bilheteria da sala a partir de uma hora antes do início do filme. “Essa décima edição promete conquistar o espectador e transportá-lo para um Brasil do passado e do presente”, afirmam os organizadores da Mostra. Pela seleção de filmes, fica clara a intenção e a proposta do NOVOCINE deste ano. Bem pensada e escolhida, a seleção de filmes retrata a vida de três personagens importantes da história do Brasil, como também das diferentes perspectivas que se pode ter da sociedade brasileira. A mostra se estende nas universidades espanholas, com apresentações das cineastas brasileiras Lô Politi e Adriana Cursino no Salón de Grados (Edificio del Rectorado) de la Universidad Carlos III (Campus de Getafe). A aula magna acontecerá das 10h30 as 18h do dia 22 de novembro e será aberta ao público em geral.

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NISE, O CORAÇÃO DA LOUCURA. DIR. ROBERTO BERLINER. DRAMA, BIOGRAFIA (148MIN). Ao voltar a trabalhar em um hospital psiquiátrico no subúrbio do Rio de Janeiro, após sair da prisão, onde esteve encarcerada como presa política, a doutora Nise da Silveira (Gloria Pires) propõe uma nova forma de tratamento aos pacientes que sofrem de esquizofrenia. Sua proposta de eliminar o tradicional eletrochoque e lobotomia por métodos mais humanos não

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é bem aceita pelos seus colegas de trabalho. A discordância do seu método de tratamento faz com que a isolem, restando a ela assumir o abandonado Setor de Terapia Ocupacional. Sem se render ao boicote, a Dra. Nise dá início a uma nova forma de lidar com os pacientes, através do amor e da arte. Quinta-feira 17 de novembro às 20h30 no cinema Palacio de la Prensa. Sexta-feira 18 de novembro às 19h na Sala Berlanga. Segunda-feira 21 de novembro às 21h30 na Sala Berlanga.


IRMÃ DULCE. DIR. VICENTE AMORIM. DRAMA, BIOGRAFIA (130MIN). Cinebiografia de Irmã Dulce (Bianca Comparato/Regina Braga), que, em vida, foi chamada de “Anjo Bom da Bahia”, também indicada ao Nobel da Paz e beatificada pela Igreja. A verdade é que os títulos eram com o que menos a irmã se importava. Ambientada entre as décadas de 40 a 80, o filme mostra como a religiosa católica enfrentou uma doença respiratória incurável, o machismo, a indiferença de políticos e até mesmo os dogmas da Igreja para dedicar sua vida ao cuidado dos miseráveis – personificados na figura do fictício João (Amaurih Oliveira) –, deixando um legado que perdura até hoje. Sala Berlanga Domingo 20 de novembro às 19h. Terça-feira 22 de novembro às 21h30.

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JONAS. DIR LÔ POLITI. DRAMA, ROMANCE (130MIN) Em pleno Carnaval Jonas (Jesuíta Barbosa), que não encontra muito sentido para sua vida, decide sequestrar a filha da patroa da sua mãe, Branca (Laura Neiva) por quem sempre foi apaixonado. É véspera de carnaval e Jonas não tem outra escolha a não ser manter a refém dentro de um carro alegórico em forma de baleia. Presos na “barriga” do animal, eles iniciam um romance impossível, cheio de magia e encanto. Porém na vida real a situação de Jonas e Branca está marcada pela sua ação. Sala Berlanga Segunda-feira 21 de novembro às 19h. Quinta-feira 24 de novembro às 21h30.

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PARA MINHA AMADA MORTA. DIR. ALY MURITIBA DRAMA (145MIN). Após a morte de sua esposa, o fotógrafo Fernando (Fernando Alves Pinto) tenta seguir uma vida normal junto ao seu filho único, Daniel, um menino tímido e sensível. Porém Fernando torna-se um homem calado e introspectivo, que vive cercado de objetos pessoais da falecida. Um dia ele descobre uma fita VHS, uma surpresa que coloca em dúvida o amor da esposa por ele. A partir de então o fotógrafo decide investigar a verdade por trás destas imagens, desenvolvendo uma obsessão que consome seus dias e sua rotina. Sala Berlanga

Sábado 19 de novembro às 21h30.

Terça-feira 22 de novembro às 19h.

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CHATÔ, O REI DO BRASIL. DIR. GUILHERME FONTES. DRAMA, BIOGRAFIA (142MIN). O filme retrata a vida do magnata das comunicações Assis Chateaubriand (Marco Ricca). Ambientado nos anos 50, a ficção o coloca como a estrela principal de um programa de TV chamado “O Julgamento do Século”, realizado bem no dia de sua morte. No programa, Chatô relembra fatos marcantes de sua vida, como os casamentos com Maria Eudóxia (Letícia Sabatella) e Lola (Leandra Leal), a paixão não-correspondida por Vivi Sampaio (Andréa Beltrão), como manipulava as notícias nos veículos de comunicação que comandava e a estreita e conturbada ligação com Getúlio Vargas (Paulo Betti), que teve início ainda antes dele se tornar presidente. Sala Berlanga Domingo 20 de novembro às 21h20. Quarta-feira, 23 de novembro, às 19h.

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O VENDEDOR DE PASSADOS. DIR. LULA BUARQUE DE HOLLANDA. DRAMA (140MIN). O que você faria se pudesse alterar erros ou lembranças dolorosas do passado? Esta é a profissão de Vicente (Lázaro Ramos): ele vende passados às pessoas. Este curioso profissional trabalha em sua casa, com a ajuda de fotografias antigas e computadores com programas de edição de imagens. Assim, ele corrige os passados de pessoas tristes e frustradas, montando novos álbuns de nascimento, de casamento, produzindo falsos vídeos sobre belas amizades e viagens inesquecíveis que seus clientes nunca tiveram. Esta trama é uma adaptação do livro de mesmo nome, escrito pelo angolano José Eduardo Agualusa. Sala Berlanga Sexta-feira 18 de novembro às 21h30. Quinta-feira, 24 de novembro, às 19h.

UM HOMEM SÓ DIR. LULA BUARQUE DE HOLLANDA. DRAMA, COMÉDIA (134MIN). Arnaldo (Vladimir Brichta) é um homem que está infeliz no casamento e no trabalho. Para tentar resolver seus problemas, ele procura uma clínica que promete copiar as pessoas para livrá-las da vida miserável que levam. Com um clone ocupando seu lugar ele poderia começar uma vida nova, mas na hora do radical procedimento surge a dúvida sobre se é isto que ele realmente deseja fazer. Sala Berlanga Sábado 19 de novembro às 19h. Quarta-feira 23 de novembro às 21h30.

Mais informação: www.novocine.es

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cinéfilos

Adriana Cursino

“O Brasil à luz do cinema”

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Deixar que a realidade se faça presente nos filmes através de adaptações literárias ou outras vias, são características que marcam o cinema brasileiro. Este ano o Novocine – mostra anual de cinema brasileiro em terras espanholas - apresenta sete filmes, todos de ficção e que expressam panoramas diversos da produção recente. Podemos dividir tais panoramas em três tendências do cinema contemporâneo: as cinebiografias; a realidade como pano de fundo para tramas variadas; e as obras que indagam o tema da memória em tempos tão acelerados como estes em que vivemos. As cinebiografias são: Nise, coração da loucura; Irmã Dulce; Chatô - O rei do Brasil. Cada filme conta momentos da trajetória desses personagens tão diferentes entre si e que evocam a diversidade cultural brasileira. Nise da Silveira foi uma mulher revolucionária, à frente de seu tempo e conectada com transformações tão profundas que ainda hoje ecoam nos pensamentos humanistas que se contrapõem a correntes opostas. Como ela própria dizia: “Há dez mil modos de ocupar-se da vida e de pertencer à sua época”. Tal mensagem nos convida a nos posicionarmos diante da vida, a pensarmos o nosso lugar no mundo. A contribuição política e social de Nise da Silveira expande seu campo profissional e se funde com a arte e com a sociedade a partir de vínculos com personagens de seu tempo como o crítico de arte Mário Pedrosa, figura fundamental do pensamento crítico brasileiro, autor de ideias que mobilizaram toda uma geração e reorientaram a reflexão sobre a arte no Brasil e na América Latina. Já Irmã Dulce nos remete à religiosidade brasileira através do delicado retrato desta ativista humanitária que dedicou sua vida a acolher pobres e necessitados. Assim como Nise, Irmã Dulce transcendeu seus trabalhos junto à Congregação da qual fazia parte para ganhar notoriedade pelas suas obras de caridade, propagando o amor como o único mandamento. Chatô, por sua vez, trata de outro grande personagem da nossa história: o magnata das comunicações Assis Chateaubriand. Mas é também um estudo de caso de como um filme pode ser feito, já que foi finalizado vinte anos após o seu início.

As cinebiografias são uma tendência no cinema contemporâneo. Algumas que merecem destaque são Miles Ahead, Pasolini e Elvis & Nixon. O distanciamento do fato gera uma revisão de vida, uma reflexão sobre como gestos e atitudes entram na história e, por conseguinte, na memória. O tema da memória é um tema caro nos dias de hoje. Os filmes O vendedor de passados e Para minha amada morta, cada um a seu modo, empreendem a tarefa de repensar o mundo multifacetado, impossível de ser definido de uma só maneira. Retomando materiais de arquivo, imagens existentes, os personagens travam uma indagação com a memória, “qual é a minha origem?” ou “por que o passado não pode falar?”. E na ausência de respostas ou no desejo de se criar outra origem para si mesmo, o passado é produzido a partir desse vasto material de arquivo, reinventado e vendido em O vendedor de passados. Em Para minha amada morta, o choque de um acontecimento dá o tom denso à imagem e à narrativa. A força e, ao mesmo tempo, o “silêncio” das imagens de velhas fitas VHS, é o que alimenta o personagem na sua solidão, na aceitação da impossibilidade de comunicar-se, na tensão entre acatar o passado e criar uma nova memória. A busca pelo diálogo dos temas com a realidade nas histórias, esse tipo de cinema, guiado por uma curiosidade de entender melhor o Brasil, tem uma “denominação de origem” que se encontra no “Cinema Novo”, o mais importante movimento de renovação da linguagem na história do cinema brasileiro ocorrido entre os anos 50 e 60. Assim vemos em Jonas, uma história de amor que se desenvolve ao mesmo tempo em que se constrói muito harmoniosamente um tecido social na trama. Uma forma de ver o Brasil atual, de dar passagem para a força da realidade social que urge e marca o modo de viver e os sentimentos das pessoas. Já em Um homem só, a mistura se dá principalmente entre os gêneros comédia e ficção científica com situações do cotidiano e conta a história de um homem insatisfeito com sua vida, que decide fazer uma cópia de si mesmo. Criar um duplo como solução imediata para evitar o confronto, é um dos tópicos de reflexão que o filme gera no espectador.

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Há ainda este ano, além da Mostra dos Filmes, a Agenda Acadêmica 2016 que tem por objetivo criar um diálogo entre os filmes de agora, numa espécie de “corpo a corpo entre os filmes” - como dizia o crítico brasileiro José Carlos Avellar - para difundir aqui a cinematografia brasileira buscando dar a ela sua devida importância. E em breve se inicia também a parceria com o Departamento de Periodismo y Comunicación Audiovisual da Universidad Carlos III de Madrid. O seminário acadêmico é um espaço de reflexão para pensar o Brasil à luz do cinema. O ecletismo na seleção dos filmes talvez seja o estilo e ponto alto do Novocine que, em 2016, realiza sua 10ª edição. A variedade dos filmes que apresenta a cada ano nos permite ter um contato amplo com a produção brasileira contemporânea. De cada estilo ou gênero derivam obras com determinados traços estéticos e narrativos e estas obras nos conectam com a multiplicidade da nossa cultura, de dimensões continentais (ou com o multiculturalismo tropical, para usar uma expressão do escritor Robert Stam), para tentar compreender, refletir, sonhar. Em suma, o cinema é um fenômeno plural, interdisciplinar, multicultural e é neste contexto que a 10ª edição da Mostra Novocine vem afirmando o seu lugar e sua contribuição na promoção do Cinema Brasileiro na Espanha, no debate acadêmico e na generosa oferta ao público em acessar o prazer de dar asas à imaginação.

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* Adriana Cursino é pesquisadora, professora (IE University) e documentarista. Conta com mais de 15 anos de experiência em produção de conteúdos de documentários para TV e cinema no Brasil e mais recentemente na Espanha, alternando funções como diretora, pesquisadora e roteirista, tendo trabalhado com diretores como Eduardo Coutinho, Zelito Vianna, Eduardo Escorel, Maria Augusta Ramos, entre outros. Dirigiu os documentários “Estado de Seca” (2007) e “Viaje a Yebisah” (2014). É autora dos livros “Introdução ao Audiovisual” (2007), “História do Audiovisual” (2008) e “Análise e Crítica do Audiovisual” (2010), publicados pela Ed. CCAA. Pós-doutora e doutora pela Universidad Carlos III de Madrid e Universidade Federal do Rio de Janeiro. Pesquisa e publica sobre o tema das imagens de arquivo nos Diários Fílmicos e em obras documentais e ensaísticas. Prepara livro sobre a obra documental do diretor espanhol Antonio Isasi Isasmendi, “Isasi documentalista – La producción documental de Antonio Isasi Isasmendi entre 1950 y 1975”. É natural do Rio de Janeiro e reside em Madri atualmente onde também realiza documentário sobre o músico Hermeto Pascoal, em co-direção com César Romero.


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bossa fm

Rodrigo da Matta

AS FESTAS QUE MOVEM O BRASIL (E O MUNDO) Neste mês trazemos para vocês uma das festas de cultura musical brasileira mais importantes da Europa, a “Avenida Brasil”. O evento acontece em Paris desde 2006 com mais de 50 edições realizadas. Muitos artistas brasileiros prestigiosos já passaram pela festa. Entre eles estão: Criolo, Marcos Valle, Lucas Santtana, Bixiga 70, Casuarina e Karol Conka, além de grandes DJs do cenário nacional e internacional como Tahira, Antal, Paulão, Kosta Kostov, Duben, Limão, Aroop Roy e Lewis Robinson. A próxima edição da Avenida Brasil acontecerá no sábado, dia 19 de novembro, na La Bellevilloise de Paris. Eu, Rodrigo da Matta da BOSSA FM, terei o prazer de discotecar entre tantos outros artistas como as bandas Bel Air de Forró, Samba Semente, Sambatida Perfeita, aula de samba no pé com Timbo,

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além do DJ Tom B, residente do evento desde a sua primeira edição. O evento surgiu no ano de 2006, na Bizz’Art de Paris. Era ano de Copa do Mundo na Alemanha e o Brasil era o atual campeão mundial. A marca Brasil estava em alta e o cenário era favorável para começar um projeto cultural novo na Europa. Além disso, existia uma aposta por haver uma grande quantidade de artistas brasileiros pelo velho mundo por conta da Copa. (Melhor não mencionar aquele fatídico jogo com a França... Enfim!) Paris é, sem sombra de dúvidas, uma cidade europeia que carrega muita intimidade com o Brasil. Lá as pessoas são absolutamente encantadas pelo nosso país, além de grandes investigadores das manifestações culturais brasileiras.

Por vezes tive a sensação de que muita gente ali conhecia bem mais do que eu sobre a nossa cultura musical. O chorinho, por exemplo, é um movimento muito forte em Paris, com um festival anual que é um dos mais expressivos fora do Brasil. É uma rota obrigatória para chorões de todo o mundo quando estão em turnê pela Europa. Sem contar as inúmeras rodas de samba, festas de forró, etc. A Avenida Brasil trouxe a Paris o que ela queria fazia tempo: um evento que conseguiu unir todas essas manifestações artísticas brasileiras em um único lugar. Se você vai a Paris ou tem amigos por lá, fica a dica: AVENIDA BRASIL . Dia 19/11/16, na La Bellevilloise de Paris. Espero vocês no dancefloor!


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be natural

Tahone Jacobs

7 USOS PARA O CHÁ QUE VOCÊ NÃO CONHECIA Ervas, plantas, flores e frutas são ingredientes para diferentes tipos de chás. Alguns são considerados remédios e possuem efeitos impressionantes no corpo. Diuréticos, depurativos, expectorantes, enfim, poderia fazer uma lista imensa de benefícios e propriedades. Mas queremos que você conheça 8 usos diferentes do chá que também possuem efeitos excelentes na pele e no cabelo.

1- Máscara facial Já foi comprovado cientificamente que o Matcha te ajuda a prevenir a queda da produção de colágeno e elastina. É só misturar com um pouco de água, fazer uma pasta e aplicar na pele limpa. Deixar 15 minutos e enxaguar fazendo movimentos circulares com as mãos. Isso também garante uma esfoliação suave e melhora a circulação sanguínea periférica do rosto.

2- Para aumentar o brilho dos cabelos Os pigmentos do chá preto ressaltam naturalmente o brilho dos fios escuros assim como o chá de camomila destaca levemente os fios claros. Depois de lavar e condicionar, enxague o cabelo com o chá (preto ou camomila) e envolva-o em uma toalha morna por meia hora. Depois é só enxaguar outra vez e deixar secar como de costume.

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3- Spray Facial Uma infusão de chá verde em água mineral na temperatura ambiente por algumas horas é uma excelente opção na hora de refrescar a pele. Essa infusão pode substituir a água termal ou a água de beleza. É rica em anti-oxidantes e dá uma iluminada na pele. O céu é o limite, você pode trocar o chá verde por alecrim fresco por exemplo.

4- Para diminuir o inchaço ao redor dos olhos Tem dias que o cansaço e as noites mal dormidas ficam estampadas na nossa cara. Deixar dois saquinhos de chá verde ou de camomila em água fria/gelada por alguns minutos. Depois é só colocar um em cada olho e descansar por uns 20 minutos. A infusão fria faz desinchar, enquanto o chá verde dá um banho de anti-oxidantes na região dos olhos. O chá de camomila é ótimo pra quem tem a pele e os olhos sensíveis.


5- Tônico facial Para ter um tônico simples, faça um chá (camomila, calêndula, verde ou branco), deixe esfriar na geladeira e aplique com um algodão no rosto. Você ainda pode adicionar um pouco de mel (muito pouco) para dar um “up” no tônico.

7- Cleanser facial Adicione um pouco de chá verde moído (pode ser no liquidificador) ao seu cleanser de todos os dias. Lave fazendo uma espuma e deixe por dois minutos no rosto. Isso amolece as células mortas e ai é só esfregar lenta e suavemente o rosto e enxaguar. Voilá, pele limpa, radiante e nutrida de anti-oxidantes!

6- Esfoliante corporal Faça uma xícara de chá verde e espere esfriar. Adicione 1 parte de chá para 3 partes de açúcar (se for mascavo melhor!). Você pode adicionar mel e limão à mistura. Use após o banho com a pele ainda úmida e enxague.

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foodlovers

Tati Sato

Comida caseira As temperaturas começaram a baixar e, finalmente, no dia de Pilar, choveu. Choveu aquelas chuvas estilo inverno de São Paulo, daquelas finas que caem quase sem parar. Aqueles dias em que o melhor programa é aquilo que está passando na televisão e alguma comida caseira, quente e acolhedora, que se conseguiu preparar. Acho que já disse o quão longo acho que o verão madrileno foi e o quão mal passei nesse tempo. Sejamos sinceros, meu corpo não foi feito para o calor intenso, não importa os anos que vivi em terra de calor tropical. Não, não estou contando os anos vividos em São Paulo cuja temperatura nem poderia ser considerada, propriamente, tropical, mas somente aqueles que vivi nas Filipinas ilhas localizadas, literalmente, em cima da linha equatorial. Enfim, setembro veio como uma boa surpresa na minha vida e uma casa que poderia chamar de minha. Alugada, ainda não comprada, mas, ainda assim, um espaço que poderia organizar a minha maneira - ou a maneira do meu marido. E, nesse (meu) nosso espaço, haveria uma cozinha com as nossas coisas e com ingredientes com os quais gosto de cozinhar. Aêeeeeeeeeeee! Motivo de celebração. Acho que eu gosto de cozinhar tanto quanto gosto de comer. Poderia soltar alguma frase de efeito do tipo “adoro provar como os ingredientes reagem entre si”, mas o que eu gosto mesmo é de ver a cara de quem está comendo o que preparei. Outro dia, por exemplo, fiz dez porções de salmão com manga, um dos meus pratos-estrela, para um jantar que fizemos com quatro de nossos amigos e oito porções foram comidas! Convenhamos que se não estivesse bom, metade teria sobrado. Fiquei feliz! Até cozinhava quando vivia com a minha sogra, mas

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bem menos. Acho que nunca me senti completamente à vontade em cozinhar - talvez porque não fosse a minha cozinha ou porque muitas das vezes que eu cozinhava, sentia que ela pensava que o fazia porque a comida dela era ruim ou algo desse tipo. Como não tenho muita paciência para lidar com esse tipo de drama, nem os meus nem os de ninguém, os evitava. Desde que voltamos à Espanha, em casa, mesmo quando vivia lá, sempre tive na geladeira ingredientes para algo rápido, para os dias que não quisesse cozinhar. Esses são meus ingredientes emergenciais entre os quais sempre há queijos, mozzarella fresco e havarti fatiado, presunto, pão de forma, salsicha de hot dog, molho de tomate, macarrão, um pacote de salada pronta, arroz e cebola. Sei lá... Salsicha com molho de tomate e cebola, daquelas de festas infantis, sempre salvam a vida, né? Enfim, o legal de se experimentar na cozinha é que sempre descobrimos algo novo e, ultimamente, a sobrecoxa sem ossos e sem pele entrou para a lista dos ingredientes emergenciais porque ela é fácil de preparar e fica delicinha. De fato, minhas últimas quartas foram dedicados a La Voz, a versão espanhola do The Voice, da Sony. E, nesses dias, costumo preparar sobrecoxa ao molho de cerveja com arroz. Se você nunca preparou, fica a dica: tempere os filetes de sobrecoxa da forma como você preferir - eu tempero com sal, pimenta e, às vezes, mostarda - e frite, com um pouco de azeite. Quando estiver dourado, acrescente uma lata de cerveja e deixe reduzir. É bem fácil e, dependendo da quantidade, dá até para o almoço do dia seguinte! Aliás, marmita não é uma coisa tão incomum por aqui, afinal, o termo não é tão pejorativo como no Brasil. Enfim, outras culturas e assunto para outro mês.

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entrevista

Dani Pacheco

Larissa Baq apresenta seu novo show em turnĂŞ pela Europa. A cantora brasileira, percussionista e compositora contou um pouco sobre a arte de brincar com diferentes sons e a certeza de que nada precisa ser igual a nada.

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Um encontro de letras, ritmos, sons e diferentes possibilidades é a proposta de Labaq - seu nome artístico - uma junção dos nomes Larissa Baq. Ela que está sendo considerada uma das multi-instrumentistas brasileiras mais destacadas da cena cultural independente da atualidade da música brasileira. Está na Europa em turnê apresentando seu primeiro álbum, intitulado “V o a”. Depois de muitos anos circulando e fazendo show pelos principais circuitos da música indie no Brasil, América do Sul e Europa, nasceu este trabalho autoral que Labaq apresentou em Madri e em Barcelona. O álbum foi coproduzido pela própria artista e pelo austríaco Michi Ruzitschka. Com participações da rapper inglesa LyricL, do percussionista Felipe Roseno (Maria Gadú, Elza Soares, Ney Matogrosso) e do Pedro Altério. Com 11 músicas autorais, “V o a” tem sido aclamado por crítica e público. Aqui na Espanha não foi diferente. Com letras minúsculas, espaçadas, como se fossem ditas em frequência desacelerada. Gravado na cálida Gargolândia por Thiago Baggio e Pedro Altério, misturado por Funai Costana Red Bull Station sp e masterizado por Felipe Tichauer no Red Traxx mastering em Miami/USA. REVISTA BOSSA - Labaq, como é ser uma mulher compositora, cantora, e instrumentista nos dias de hoje onde as barreiras geográficas praticamente inexistem? Labaq - Eu acho que ser independente no sentido de poder se movimentar de acordo com o que você acha interessante é incrível, claro. O que fazer pra poder chegar já são outros 500, mas poder me conectar com quem tá aqui na Espanha, no Japão ou em Cuba e entender o que tá rolando em termos de mercado musical nesses lugares é o máximo e disfruto bastante desses caminhos. REVISTA BOSSA - De volta a Barcelona onde apresentará um novo trabalho, qual a emoção de trazer sua arte para fora do Brasil e quais são suas expectativas?

Labaq - Sair do Brasil, por si só, já é emocionante. Chegar e encontrar um público a fim de ouvir, é mais ainda, sem dúvida. O show de Barcelona foi extremamente especial, uma casa cheia, uma sala que tem muito como carro chefe o sentar e assistir ao show, tudo isso foi contribuindo para ser uma noite linda a ponto de já ter marcado minha despedida por ali, no dia 27 de novembro, último domingo do mês, e no dia seguinte sigo para o Brasil. Procuro sempre vir sem expectativas, sem aquele “tomara que esteja lotado”, pois a realidade de um artista independente é outra e saindo do Brasil é mais complicada ainda. Estou construindo um diálogo muito interessante com a Espanha, os artistas daqui e o público, então já digo que as expectativas foram superadas. REVISTA BOSSA - Fale um pouco sobre seu novo trabalho. Labaq - Lancei meu disco, o “v o a”, em abril desse ano e foi um processo muito incrível poder viver tudo o que vivi. Aprendi bastante e não só musicalmente falando. São 11 composições, todas minhas, com participações da rapper inglesa LyricL, do percussionista Felipe Roseno (Maria Gadú, Elza Soares, Ney Matogrosso) e do Pedro Altério. É um trabalho que fico feliz em poder apresentar, feliz em ter esperado chegar na maturidade musical que cheguei para poder fazê-lo. Acredito que foi feito no momento certo, com as pessoas certas e por isso vem sendo incrível. REVISTA BOSSA - Além de ser compositora, cantora e instrumentista, você coproduziu este trabalho. Como foi e o que representa essa experiência? Labaq - É meu primeiro disco, antes fiz um EP (2012) e o processo de produção do EP foi mais distante e como hoje sei muito mais os caminhos que quero e não quero seguir, procurei um produtor que ficasse à vontade em trabalhar lado a lado mesmo. Fizemos os arranjos juntos, definimos texturas, direções, tudo bem em conjunto e foi incrível porque minha música sou eu, não conseguiria deixar na mão de alguém, por mais confiança que tivesse. Também fiz a produção executiva do disco.

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REVISTA BOSSA - Você consegue brincar com diferentes sons. Como acontece seu processo de criação? Labaq - Sempre vem meio desordenado, às vezes nasce uma letra primeiro, depois vem alguma ideia na guitarra. Me inspiram a escrever as situações que vivo, que presencio, um filme, um quadro, um show, enfim. Em termos de som, procuro me munir de texturas diferentes para poder ter “assunto” para ir além quando se trata de criar e acho que é dai que vêm os resultados mais interessantes. REVISTA BOSSA - Nesta turnê, você está passando por quais países? Labaq - Dessa vez passo pela Espanha, Portugal e França. REVISTA BOSSA - E quais são seus próximos projetos? Labaq - Continuar levando o disco o mais longe possível, vivendo de música, dando consultoria para artistas independentes que querem trilhar carreira, futuramente me empenhar a produzir discos de outros artistas também, atuar como instrumentista de outros artistas, pois tenho tido uma procura interessante nesse sentido. Enfim, explorar todos os caminhos que vejo que tenho. Se surgiu vontade de ouvir mais, essas são as redes sociais:

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www.facebook.com/labaqmusic

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THAT good trip

Eduardo Muñoz

Vinhos naturais: de volta às origens Por: Eduardo Muñoz, Sommelier de OFFwines.

Você já ouviu falar de vinho natural? Se não escutou, aguarde, porque ouvirá muito sobre esse tema que já é uma nova tendência. Mas o que é um vinho natural? Basicamente, é um “vinho nu”, desprovido de produtos químicos e que revela de uma maneira mais nítida os matizes próprios da variedade de uva e da terra a qual pertence. Um vinho elaborado por viticultores revolucionários que se arriscam a apostar numa intervenção mínima, que veem na natureza a sua maior aliada e também a sua mais temida inimiga. A sociedade atual vive imersa em uma constante luta entre as metodologias derivadas dos avanços científicos e tecnológicos e a tradição, proveniente da experiência dos nossos ancestrais. Nesse sentido, é possível vislumbrar cada vez mais uma inclinação para uma volta às origens. No mundo do vinho, existe uma tendência mundial para a recuperação de valores como o respeito ao nosso entorno, compromisso ecológico e social com o meio ambiente ou o princípio da mínima intervenção nas coisas. Todos estes valores sedimentam o (re) surgimento dos “vinhos naturais”. Um vinho natural é aquele vinho elaborado por meio de práticas agrícolas orgânicas, sem uso de químicos, que recupera técnicas ancestrais baseadas na menor intervenção humana possível. Para isso, os viticultores se responsabilizam pelos seus vinhedos, prescindindo da ajuda de agroquímicos para combater doenças e pragas. Na adega, decidem não usar leveduras industriais e optam por acrescentar a menor quantidade possível de sulfato anídrico (SO2). Sem sulfitos adicionados é possível perceber que os vinhos podem expressar, de uma maneira mais nítida, os matizes

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nho até torná-lo defeituoso.

próprios da variedade de uva e as características da terra. Mas também são mais vulneráveis à contaminação por bactérias e aos efeitos nocivos do oxigênio, da luz e da temperatura que modificam o vi-

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Devido ao seu elevado custo, à grande responsabilidade que implica e aos riscos inerentes a esta busca pelo autêntico, os viticultores engajados na “revolução natural” são, sem dúvida, intrépidos aventureiros que vivem em permanente tensão, já que o trabalho de todo o ano pode ir por água abaixo a qualquer momento. É aqui que reside parte do encanto desses “vinhos nus”, ou seja, eles são o resultado do trabalho dos viticultores mais comprometidos e corajosos.


VINHOS NATURAIS NO MUNDO Nos países produtores do Velho Mundo (com a França e o norte da Itália à frente), a busca por vinhos autênticos vai crescendo num ritmo pausado, mas constante. Já nos países do Novo Mundo, a concorrência com os produtores europeus, mesmo com os grandes investimentos feitos por grupos de vinícolas locais, tem tornado difícil a expansão dos vinhos naturais. No entanto, se olharmos um pouco para trás, há apenas uma década, nem o maior especialista em vinhos teria imaginado que a viticultura ecológica iria adquirir na Espanha o protagonismo que tem atualmente. Há pouco tempo, os vinhos elaborados com métodos orgânicos eram considerados uma excentricidade, só mesmo destinados a uma minoria “hippie” que não era exigente com a qualidade. Nos últimos anos, em consonância com os anseios das novas gerações de consumidores mais informados e conscientes dos excessos cometidos nos últimos tempos pelas marcas industriais, começam a aparecer inúmeras feiras e encontros nos quais os consumidores demandam vinhos não uniformes e que sejam capazes de expressar as idiossincrasias do lugar. No Brasil, estamos vendo o surgimento de uma onda de produtores e consumidores interessados nos vinhos naturais. Em 2015, foi realizado em São Paulo o primeiro encontro Franco-Brasileiro de vinhos naturais, do qual participaram diversos produtores conhecidos dos dois lados do Atlântico, com bastante público e repercussão na mídia. Paulatinamente estamos comprovando como a moda dos vinhos naturais faz parte de um movimento muito maior que, no vácuo de novas tendências mundiais, vai ampliando sua influência a partir de pequenos núcleos de consumidores urbanos.

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Cruzando el charco

Brasília foi cenário para a Mostra de Cinema Atual Espanhol. O filme espanhol, Linda Juventude é destaque da Mostra.

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A iniciativa foi realizada pela Embaixada da Espanha no Brasil em parceria com o Instituto Cervantes de Brasília e Sociedade Cultural Brasil-Espanha A Mostra Cinema Atual Espanhol se transformou em uma referência dentro dos festivais espanhóis exibidos no Brasil, abrangendo grande parte da população de cidades brasileiras. O objetivo deste recorte da cinematografia espanhola é justamente estabelecer um diálogo com a diversidade cultural brasileira, ressaltando como ambos os países compartilham os seus valores. Segundo Turíbio de Prado, conselheiro cultural da Embaixada da Espanha no Brasil, “a Mostra de Cinema Atual Espanhol vem se realizando no Brasil há vários anos. Em cada edição aumentamos mais uma cidade na circulação dos filmes. Em 2016 foi o primeiro ano que a Mostra foi para Goiânia, além de Recife, Florianópolis, Porto Alegre, Belo Horizonte, Aracaju, São Paulo, Brasília, Belém, Vitória, Curitiba, Manaus, Rio de Janeiro e Salvador”. Além de promover a cultura cinematográfica espanhola, os títulos escolhidos para a Mostra representam a linguagem atual usada no cinema espanhol com temas que tratam de diferentes regiões, épocas e sociedade da Espanha. “Enfim, o intuito da Mostra é dar uma perspectiva ampla e diversa sobre as produções cinematográficas espanholas de 2014 e 2015, e trazer filmes que não entraram nos mercados de distribuição nas salas comerciais brasileiras,” conta o conselheiro. Integrada por filmes consagrados, atuais e porque não dizer, intrigantes: assim foi a proposta da Mostra de Cinema Atual Espanhol. Para Turíbio de Prado, “a Mostra apresentou com uma linguagem cinematográfica própria e contemporânea, temas que abordam realidades como a situação dos jovens em uma crise econômica que arrasou as esperanças de futuro de uma geração na Espanha. Bem, o conjunto dos filmes exibidos mostra diferentes regiões, épocas e sociedades da Espanha, muitas vezes mais próximas ao Brasil do que imaginamos”. O público conferiu “Pecados Antigos, Longas Sombras”, de Alberto Rodríguez, um trailer de suspense, vencedor de 10 tí-

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Filmes que fazem parte da Mostra.

tulos do Prêmio Goya 2014, entre eles melhor filme e direção. O longa conta a história de uma dupla de detetives em busca de adolescentes desaparecidos na remota região do delta do rio Guadalquivir, ao sul da Espanha, em meio a uma rede de tráfico de drogas. A programação contou ainda com o filme “Todos Estão Mortos”, primeiro longa de Beatriz Sanchís. O filme ganhou os prêmios de melhor filme, fotografia, música e Prêmio do Júri Jovem no Festival Cinespagna Toulouse 2014. O título é um drama fantástico, em que uma mãe participa de um ritual na Noite de Todos os Mortos e ressuscita o filho morto há anos. Sem contar com a expressiva atuação da atriz renomada de filmes como A pele que habito (de Pedro Almodóvar), Elena Anaya, que vive a protagonista e foi candidata ao prêmio Goya de melhor atriz, pelo filme de Sanchís. Já o longa “Linda Juventude”, de Jaime Rosales é uma produção franco-espanhola, em que um casal europeu de jovens em dificuldades financeiras,

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às vésperas do nascimento da sua primeira filha, terminam se rendendo a participar de um filme pornográfico amador. O título recebeu Menção Honrosa no Festival de Cannes, em 2014. A mostra encerrou com o filme “Flores”, longa que foi vencedor dos Prêmios Goya, de Melhor Filme e Melhor Música Original. Com direção de José Mari Goenaga, falado em euskera (língua do país Basco), revela os destinos de três mulheres unidas pela admiração de um anônimo empenhado no envio sistemático de flores a cada uma delas. Selecionado para o Festival de São Sebastián, o longa competiu a prêmios Goya (incluindo o de melhor filme). “Na realidade a Mostra de Cinema Atual Espanhol este ano superou nossas expectativas. O Cine Brasília recebeu 1818 pessoas, superando assim o recorde da Mostra de outros anos e outras cidades. Foi um grande sucesso!”, celebra o conselheiro cultural da Embaixada da Espanha no Brasil.


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agora barcelona

Redação

PAULINHO LÊMOS LANÇA O SEU NOVO DISCO Um álbum que canta o amor... O cantor brasileiro radicado em Barcelona, lançou recentemente o seu novo trabalho. O disco é o nono álbum de carreira do Paulinho. “Outra Dimensão” como é chamado o disco, está disponível on-line e em formato físico para os amantes da música, em muito especial aos do vinil. O lançamento também foi feito em Portugal, Lisboa, onde Paulinho Lêmos também tem uma carreira solidificada. “Outra Dimensão é uma leve e compacta coleção de canções de um competente e emocionado trovador. Letras poéticas, precisas e variadas. Parcerias diversas, unidas por uma voz e um violão que soam como se tivessem nascido juntos”, afirmou o também músico, Ivan Santos.

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ouvidos mais exigentes. Paulinho Lêmos é brasileiro, viveu em Portugal durante 17 anos e atualmente mora em Barcelona. Desde que decidiu mudar-se para a Europa em meados dos anos oitenta, Paulinho Lêmos se converteu em um dos músicos brasileiros mais representativos da música de seu país no velho continente. Apresenta um currículo onde encontramos participações em cenários de primeira linha, como o Festival de Jazz Montreux Suíça, Museu Guggenheim Bilbao, Expo’98 Portugal, L’Auditori de Barcelona, Kokkola Jazz Festival Finlândia, etc.

Desta vez, tudo isso aparece condensado em uma linguagem bastante atual, dando ênfase às melodias, harmonias e às letras que cantam o amor – temperos que sempre fizeram parte da miscelânea do artista.

Tocou com Mayra Andrade, Munir Hossn, Beth Carvalho, Fátima Guedes, Marisa Gata Mansa, Rosinha de Valênça, João Frade, Tuniko Goulart, Carlos Araújo, André Sarbib, Miguel Braga, entre muitos outros. Compôs a música Rainha Maior em homenagem a Cesária Évora, gravada por Ana Firmino no CD Viva Vida de 2003.

Se algo está claro é que a sutileza e a forma apaixonada deste cantor é todo um presente para os

Paulinho Lêmos é todo um presente para os nossos ouvidos.


Redação

agora espanha

VIVE Y LATE COM LORENA NUNES NA ESPANHA Em outubro desembarcou na península Ibérica um projeto de conexões artísticas e culturais entre Brasil e Espanha. A cantora Lorena Nunes e o músico e produtor Claudio Mendes cruzam o Oceano Atlântico para trazer brasilidade a diferentes comunidades autónomas. Um projeto produzido pela empresa espanhola de produção Bemol Inquieta, Marta Rodriguez e o produtor e diretor da série web documentário “Vive y Late”, Victor Hugo Espejo. Uma proposta que vai muito além da música. Uma história onde se destaca a miscigenação em que músicos brasileiros interagem com músicos locais de diferentes cidades, resultando em um intercâmbio cultural e social rico em ritmos e sabores. A educação também está presente nesta viagem, Lorena e Claudio conduziram atividades de formação dentro das escolas. Recentemente estiveram na escola Sagrado Coração de Jesus em Olivenza, onde os músicos apresentaram um pouco da cultura brasileira, a pluralidade de ritmos e como eles estão presentes na música atual do Brasil. Os músicos fizeram um concerto exclusivo para os estudantes tornando este encontro uma experiência memorável também para produtores, estudantes e professores.

A aventura musical pela Espanha começou em Extremadura no dia 15 de outubro dentro do projeto Huerta Sonora (Montijo) com artistas como Willy Wylazo e apoio da Extremadura microcervejaria Ballut. No dia 16, Lorena se apresentou no Convento San Juan de Dios, na cidade de Olivenza, onde o conselho da cidade está trabalhando com Huerta Sonora com a proposta de fazer conexões culturais com o Brasil. Em seguida Lorena foi ao norte da Espanha para apresentar o álbum na Womex, uma das maiores exposições de World Music do Mundo. A cantora também esteve em Vigo e Madri fomentando a proposta de intercâmbio artístico com o Trio Hispano Brasileiro Mara Hope na sala Ego Live (Alcalá). Lorena trouxe à Espanha uma oportunidade única de mergulhar, ouvir e dançar prazerosamente ao som de um Brasil diverso, rítmico e poético. FACEBOOK: facebook.com/lorenanunesoficial INSTAGRAM: instagram.com/lorenanunesoficial SOUNDCLOUD:

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agora madri

Dani Pacheco

BOSSA FM SHOWCASE NO ME MADRID Dia 20/11, das 13h as 03h30.

No dia 20/11, das 13h as 03h30, a BOSSA FM está de volta à cobertura mais incrível de Madri, no épico hotel ME MADRID da Plaza Santa Ana. O evento será uma mistura de programação musical unindo a gastronomia brasileira pelas mãos do Chef David Fernández. O grupo Samba de Terraza marca presença na festa com uma típica roda de samba brasileira. O grupo, que se apresenta uma vez por mês, já passou por renomadas salas de Madri, como a Sala Clamores, Sala Tempo e a cobertura do hotel ME

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MADRID. No repertório uma viagem pela história do samba, interpretando temas de Cartola, Diogo Nogueira, Adoniran Barbosa, Jovelina Pérola Negra entre muitos outros. Sempre com muita irreverência e energia, fazendo da roda algo inesquecível. Os DJs Rodrigo da Matta (BOSSA FM), Carlo Groove (El Junco) e be.lanuit (Sonar Kolektive) agitam o evento do começo ao fim. Confira os preços pelo evento no Facebook da BOSSA FM e chegue cedo para evitar fila.


Redação

agora madri

Cristiane Azem trás a magia do burlesqueei ao Teatro Alfil O mítico teatro da noite madrilena será palco da obra da coreógrafa brasileira, Les Follies: ParisBerlín-New York, el primer espectáculo en España que recorre todo un siglo de burlesque a través de la danza. Com mais de 20 bailarinos no elenco e grande produção, Cristiane Azem consegue transportar ao espectador a boemia parisiense e a contagiosa loucura do cancán, o charleston e as flappers; à Berlim entre guerras, onde a miséria e as marchas militares criam uma atmosfera cheia de sátira, para de lá viajar aos EUA vibrante do pós-guerra marcado pelo ritmo imparável de swing, jazz e rock and roll, pin-ups e musicais de Bob Fosse. Terminando com uma homenagem a Madonna, a rainha irreverente do pop. Cerca de 4.000 espectadores já assistiram este tributo a um século de burlesqueei. A obra já passou por diferentes teatros na Espanha, em suas últimas três temporadas, sempre com casa cheia. Com este espetáculo, Cristiane Azem

volta a encher de magia os teatros de Madri, uma vez que conta no seu currículo com Drom, que conta a história da viagem milenar dos ciganos desde da Índia até a Espanha. Com Mediterránea, ela aborda a variedade de danças orientais do Mediterrâneo. Galata é uma homenagem a história de Istambul. Night, mistura literatura e dança. Cristiane Azem é diretora, coreógrafa e bailarina. Natural de São Paulo vive há mais 20 anos em Madri, onde dirige sua escola de dança Estudio Cristiane Azem Danza y Arte. Seus espetáculos já passaram pela Europa, Ásia e África somando mais de 40.000 espectadores.

Les Follies: Paris- Berlín-New York Todas as sextas-feiras de novembro Teatro Alfil - 22:30h

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VEJO BOSSA

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Cooperativo de designers


Uma cara natural, nua, com pouca maquiagem. Um fundo cálido. O cabelo? Natural. Mas arrumado. Porém, não está penteado. Um fundo plano. A ideia é que suas mãos interajam com as frutas. E que se manche, na cara e nas mãos. A cor da pintura se mistura, mas ressalta. 45


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Direção de Arte: Michelle Vasconcelos @michelle_vasconcelos www.michellevasconcelos.com Fotógrafo: Mario Trueba @mariotrueba www.mariotrueba.es Styling: Alejandra Gonzalez Diaz @alegonzuki + Maria Lora @marialoraburman Modelo: María Climent @mclimentg Colaboração: Dmad @dmadmadrid www.dmad.es Localização: White Lab @white_lab_madrid

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trend

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Marco Cruz


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Gourmet

Chef Bento Nascimento

CREME BRÛLLÉE

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O que é um Creme Brûlée, afinal? Nada mais do que um creme de leite queimado. Bem, a verdade é que é muito mais do que isso. A origem dessa sobremesa deliciosa é disputada entre os franceses, ingleses e espanhóis. A chave para o creme perfeito é manter a temperatura interna da mistura abaixo de 185 ° F / 85 ° C. É muito importante nessa receita ter pequenos frascos para sobremesas que possam ser fechados por completo com uma tampa. Isso porque eles serão submergidos em água. Além do fato de ser mais elegante servir em porções individuais. Antes de servir, adicionamos uma camada dourada de açúcar caramelizado usando um maçarico. O resultado: uma sobremesa de luz solar com uma camada deliciosamente crocante e um sussurro de doçura elegante, fácil de fazer (mesmo se for para um grande grupo) e muito saboroso.

VAI PRECISAR DE: • 160 g de gema de ovo (sobre 11 gemas de ovo) • 90g de açúcar granulado • 3g de sal • 600g creme de Leite

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PREPARAÇÃO Misture as gemas de ovos, o sal e o açúcar em uma vasilha. Enquanto isso esquente o creme de leite a 70˚C. Atingindo o ponto, tire do fogo e misture pouco a pouco à mistura anterior. Uma vez que obtiver um liquido homogêneo, coe e reserve em um deposito por 20 a 30 minutos. A espuma baixará e o líquido se fará um pouco mais espesso. Ao preencher os vasinhos com o líquido, se tiver espuma, maçarique de uma forma rápida para que a superfície fique plana, porém líquida. Tampe os vasinho e os cozinhe em uma panela de água a 80˚C por 60 minutos. Após o cozimento, mergulhe os potinhos em água com gelo por 10 minutos. Retire, abra os potes e encontre o creme com uma consistência dura e espessa. Polvilhe na superfície do creme o açúcar refinado e maçarique por 5 minutos.

CONSELHO DO CHEFE A receita a cima é a tradicional, na Espanha é também conhecida como “crema catalán”. Porém, é possível servi-lo de outras formas, abuse da sua imaginação e bom proveito. Dica: Ao invés de maçaricar, é possível utilizar caldas variadas ou até mesmo com sorvete.

3h

DIFICULTADe

fácil

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agenda

Madri

UIRAPURU URBANO

16 de novembro | 19h | Gratuito Centro Cultural Galileo | Calle Galileo, 39 O show é em comemoração aos 10 anos do NOVOCINE. O repertório do grupo é todo retirado de grandes filmes brasileiros. Uma verdadeira revisita à história cinematográfica do Brasil.

NORAH JONES 18 de novembro | 20h40 | Desde 60€ Palacio Municipal de Congresos | Avenida de la Capital de España, s/n Uma das cantoras mais conceituadas atualmente. A americana, nascida no Brooklyn já ganhou diversos Grammys e promete um grande show.

SAMBA DE TERRAZA 20 de novembro | 13h Hotel ME | Plaza Santa Ana O melhor samba brasileiro em um dos lugares mais míticos de Madri. Além do grupo, tocarão os DJs Rodrigo da Matta (BOSSA FM), Carlo Groove (El Junco) e be.lanuit (Sonar Kolektive).

BRAZILIAN JAM SESSION Toda quinta-feira | 21h Alive! | Calle Felipe Neri, 4 Uma noite de microfones abertos de músicas brasileiras em Puerta de Sol. Todos estão convidados para cantar ou dançar.

MÚSICA BRASILEIRA De quarta à domingo | 22h | Gratuito Maloka | Calle Salitre, 36 Música brasileira ao vivo no centro de Madri. A cada dia tem um grupo diferente, que vai desde o Forró até o samba, ou música popular brasileira.

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Barcelona

JOSÉ JAMES

18 de novembro | 21h30 | Desde 20€ Barts | Avinguda del Paral·lel, 62 É considerado um dos maiores cantores americanos da nova geração. Cantor de Jazz, ele é um verdadeiro fenômeno. Tocará dentro do Voll-Damm Festival.

NÊGA LUCAS 25 de novembro | 22h | Desde 5€ Sala L’ovella Negra | Carrer de Zamora, 78 A talentosa cantora brasileira, Nêga Lucas, apresenta seu trabalho dentro da programação do Curt Circuit. Na mesma noite tocam os talentosos garotos do Canibal Football Club.

BAILE PERFUMADO Toda Quinta-feira | 22h30 | 5€ Grizzly 72 Sports bar | Gran Via de les Corts Catalanes, 586 O tradicional forró das quintas-feiras, com direito a aula de forró com Guido Bendel e muitos convidados especiais toda semana.

D’DOM - JAM SESSION BRASIL Todo domingo | 20h30 | Grátis Soda Acústic | Carrer de les Guilleries, 6 A Jam Session brasileira continua aos domingos. Eles vão desde choro, baião, samba, bossa nova até ritmos como o hip hop e funk.

BRASIL DOSE TRIPLA 7 de dezembro | 21h | Desde 25€ Up&Down Barcelona | Av. Doctor Marañon, 17 Um festival de música brasileira com o Grupo Revelação, Mc Guimê, Diego Faria.

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QUIXOTE macunaíma

Flávio Carvalho

Saudades do Brasil. Nostalgia espanhola. A saudade tá danada, num resisto não; Se me aperta mais o peito, pego o avião; Quando eu lembro do Recife, ai que dor no coração; Ai, ai, meu Deus, eu vou voltar; Não posso mais... quando eu me lembro, dá vontade de chorar... (Saudade de Pernambuco. Luiz Gonzaga).

Aqui na Catalunha aprendi a diferenciar dois sentimentos: saudade e nostalgia. Esse é um assunto que eu acho importante no meu cotidiano em conhecer brasileiros no exterior. Em minha opinião, nostalgia é aquilo que nos deixa tristes ao relembrar, por exemplo, alguma coisa perdida no nosso passado. Para mim, é essencialmente algo que não tem volta. Um sofrimento. Eu tento não alimentá-la. Saudade, diferentemente, eu sinto das coisas que não tenho agora, mas que posso (espero) voltar a ter, um dia. Mesmo que seja um desejo que eu agora não possa realizar, pensar nisso me alimenta. A nostalgia, então, é algo que não me preocupa. Eu tento não viver do passado. Nem do futuro. Raul Seixas cantava: “quem não tem presente,

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se conforma com o futuro; quem não tem colírio, usa

E ESCUTO MUITAS PESSOAS SE QUEIXAREM, PERMANENTEMENTE, DE NÃO APROVEITAR AS NOVIDADES DESSA NOVA VIDA FORA DO BRASIL. óculos escuros”. Eu os uso. E escuto muitas pessoas se queixarem, permanentemente, de não aproveitar as novidades dessa nova vida fora do Brasil. Eu chamo isso de síndrome do arroz com feijão. Não são pessoas abertas para comer,

conhecer, coisas novas. Saíram do Brasil sem sair de si próprias, do seu mundinho particular. Aqui fora do Brasil, nesse país de excelente gastronomia, enterraram-se no passado e passam anos e anos com sofrida nostalgia do feijão. Eu tenho, sim, saudades de água de coco, das frutas brasileiras e das comidas de milho das festas juninas. De tudo isso que eu tenho convicção de que sempre terei condições de voltar a comer... um dia. Mas não me estresso por ficar querendo e esperando. Vou provando outras coisas e adoro descobrir novas delícias. Em Barcelona, conheci excelentes cozinheir@s brasileir@s que fazem da fusão de gastronomias, de usar os elementos mediterrâneos locais, junto com os ingredientes que podem trazer


do Brasil, um estilo muito gratificante. E olha que o Brasil sempre foi para mim sinônimo de mistura. Mas estou aprendendo que há que saber misturar. Não vale tudo com tudo, de qualquer jeito. Não é o mesmo um contrário e um complemento. Tratar as diferenças é toda uma arte. Falo sobre isso pra resumir um pouco da filosofia de vida. Quando estudei a Síndrome de Ulisses - vejam um anterior artigo meu no Facebook Quixote Macunaíma - aprendi que pode ser uma doença psicossomática o excesso de nostalgia (na Galícia chamam de morriñae, um colega africano me descreveu como o seu banzo). Uma doença psicossomática começa na mente e pode espalhar-se pelo corpo inteiro, em vários sintomas. Por isso, na Rede de Brasileiros no Exterior, aos poucos introduzi o assunto SAUDADE e a necessidade de termos atividades culturais, comunitárias, como política pública, pra enfrentar esses males. Nunca me esqueço do primeiro êxtase coletivo de estar numa roda

A NOSTALGIA, ENTÃO, É ALGO QUE NÃO ME PREOCUPA. de samba, em Barcelona, cantando em coro, quase chorando. Desde aquele dia eu aprendi a valorizar ainda mais os meus amigos artistas, músicos, verdadeiros terapeutas desprestigiados pela política cultural do governo brasileiro. E em português! Somente os artistas mais consagrados internacionalmente (tal como falei e entrevistei, pessoalmente, Lenine, Chico César, Karina Buhr, entre outros), pareciam saber da real dimensão do seu papel, ao cantar para os brasileiros fora do Brasil. O problema é que, conhecendo a maioria dos brasileiros no exterior como eu me dedico a conhecer, posso afirmar que muitos não terão nem dinheiro, nem tempo - nos seus trabalhos semi-escravos - para

ir a um desses shows. Assim sendo, também me dedico a divulgar os espaços e eventos culturais que sei que existem. Os gratuitos, principalmente. Em Lisboa, numa casa de fados, na Espanha, el llanto flamenco... Perdoem mas, são bem diferentes, pra mim, de uma boa roda de samba alto astral. Saudosa e gostosa. E concluo, falando do que eu sei. Barcelona, por exemplo, tão querida por mim, como Olinda, tem arte brasileira grátis, em português, cada dia da semana. É só saber buscar. Ou me escrever. cbrasilcatalunya@gmail. com, Facebook Quixote Macunaíma, Flávio Carvalho, com prazer. Aquele abraço. PS.: Esse artigo é dedicado à associação de Pais e Mães de Brasileirinhos na Catalunha. Com eles, no dia das crianças (algo bem melhor de comemorar num 12 de Outubro, na Espanha), dei uma Oficina de Teatro Familiar que ainda repercute muito bem e que promete mais, por aqui...

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