Revista Brasil Construção Ed 18

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Índice Editorial

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Novas cartas, novo jogo, velhas regras

Fato concreto

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Liebherr bate recorde de faturamento em 2017

Concretagem Produtiva

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Mercado de pavimentos permeáveis deve voltar a crescer em 2018

Empreiteira

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Construtora Afonso França prevê crescimento de 75% em 2018

Capa: Histórias & Fatos

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O Discurso da Método

Pontes

Conheça mais notícias do setor de construção lendo o QRCode ao lado com seu celular ou tablet.

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Disrupção Viking: noruegueses inovam em construção de pontes

Infraestrutura

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Infra 2038: Como o Brasil pode avançar em 20 anos?

Expediente Publisher: Carlos Giovannetti Reportagem Especial: Rodrigo Conceição Santos Editor Executivo: Nelson Valêncio Edição: Canaris Informação Qualificada Reportagem: Nelson Valêncio e Rodrigo Conceição Santos Comercial: Carlos Giovannetti e Ernesto Rossi Mídias Digitais: José Roberto Santos Projeto Gráfico e Editoração: Mônica Timoteo da Silva Contato: redacao@brasilconstrucao.com.br Telefone: (11) 3241-1114 Endereço: Rua São Bento, 290 – 2ª Sobreloja – Sala 4 CEP: 01010-000 – São Paulo – SP

Artigo

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Edifícios Inteligentes: Faça as malas, você vai morar em um

Canaris Content

A Revista Brasil Construção é uma publicação mensal de distribuição nacional, com circulação controlada, dirigida a todos os segmentos da indústria de construção imobiliária e industrial, ao setor público e privado de infraestrutura, à cadeia da construção envolvida em obras de transporte, energia, saneamento, habitação social, telecomunicações etc. O público leitor é formado por profissionais que atuam nos setores de construção, infraestrutura, concessões públicas e privadas, construtoras, empresas de projeto, consultoria, montagem eletromecânica, serviços especializados de engenharia, fabricantes e distribuidores de equipamentos e materiais, empreendedores privados, incorporadores, fundos de pensão, instituições financeiras, órgãos contratantes das administrações federal, estadual e municipal.

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Empreiteira de telecom mostra como é ser competitivo no subsolo

Tech IoT Tarifa Branca estimula adoção de IoT nas distribuidoras de energia

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Editorial

A Afonso França Engenharia prevê faturar R$ 700 milhões neste ano. Isso é 75% superior a 2017. A construtora Método também espera faturar mais do que os R$ 558 milhões de receita equivalente registrados no último ano fiscal. Ambas limitaram participações em obras públicas e têm em comum a estratégia de ingressar em novos pleitos como responsáveis diretas por todas as etapas da obra: do projeto à construção. Assim, elas conseguiriam atender até os últimos detalhes de obras mais complexas, como as montagens eletromecânicas, com inteligência e racionalização de recursos. O resultado seria menor custo para o contratante e maior rentabilidade para as empreiteiras. Para as duas empresas o uso de tecnologias da informação é parte indispensável desse avanço. A Método, por exemplo, já usa projeto de seis dimensões (6D) em uma das suas construções atuais, o que reduz possibilidades de erros na montagem dos painéis de fachada. Essas duas reportagens – produzidas exclusivamente pelo consórcio InfraROI e Revista Brasil Construção – dão a tônica do futuro nesse setor. As expectativas apuradas nesta edição confirmam que, aqueles que apostarem no uso de tecnologias avançadas e na forte atuação em obras privadas, tendem a obter melhores resultados. Sim, parecem novas cartas em relação ao que vivenciamos na última década. E elas propõe mesmo um novo jogo. Mas o governo – que continua posto à mesa – é quem, no fundo, definirá as regras que, por enquanto, permanecem as velhas.

Novas cartas, novo jogo, velhas regras. O projeto Infra2038 transcorre sobre o tema. Liderado por pesquisadores da Fundação Lemman, ele estima que há dinheiro de sobra para investimentos em infraestrutura e o Brasil tem boas chances de angariar alguns bilhões de dólares. Ocorre que nos falta ambiente regulatório, que assegure o investidor. Falta também a visão republicana, capaz de eximir a correta sensação de que as concessões no Brasil são caras. É preciso, portanto, clarear as regras. E isso começa pelo conceito de que a infraestrutura deve ser feita para atender a população. E é para construir a infraestrutura que serve a engenharia, uma ciência que se resume “na arte de fazer com uma moeda o que se faria com duas”, como definiu o presidente da Método, Hugo Marques Rosa.

Boa Leitura. Carlos Giovannetti Publisher

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Fato Concreto

Liebherr bate recorde de faturamento em 2017 A multinacional alemã faturou 9,8 bilhões de euros no ano passado. É uma receita 9,3% maior que a do ano anterior, e a maior cifra já registrada pelo grupo. Para 2018, a projeção é de novo recorde. As vendas de equipamentos para construção e mineração foram as responsáveis pelo resultado. O segmento, sozinho, representou quase 6,2 bilhões de euros em receita, crescendo 14,5% sobre o ano anterior. Os outros segmentos de mercado como guindastes marítimos, aeroespacial, sistemas de transporte, máquinas operatrizes, sistemas de automação, refrigeradores, freezers e adegas, componentes e hotéis, registraram faturamento total de 3,6 bilhões de euros (1,5 % acima de 2016). A Europa Ocidental – principalmente o seu país de origem e a

França – são os principais mercados da Liebherr e foram eles também os que mais cresceram nos negócios da empresa no ano passado. O desenvolvimento dos volumes de vendas do Grupo Liebherr no leste Europeu, especialmente a Rússia, também foi positivo. No extremo Oriente, Austrália e Américas, as receitas também ficaram

Governo gaúcho compra 117 retroescavadeiras da Randon A Randon Veículos anunciou nesta semana que fornecerá 177 retroescavadeiras 4×4 para a secretaria de Estado da Agricultura, Pecuária e Irrigação do governo do Rio Grande do Sul (SEAPI). Os equipamentos serão distribuídos entre várias cidades do Estado. A entrega das primeiras unidades, garante a Randon, será realizada em ato oficial ainda neste mês de abril. “Trata-se do maior negócio de máquinas feito pelo Estado, somando R$ 28 milhões”, destaca a companhia em nota. O modelo adquirido é da retroescavadeira RD406 Advanced, que apresenta cabine fechada com ar condicionado, motor turbo e com tração nas quatro rodas para atuar em diversas condições de trabalho e terrenos, tanto em áreas urbanas quanto rurais.

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acima dos valores do ano anterior. No Oriente Médio e África houve queda. O número de funcionários do grupo também cresceu, com o incremento de 1.561 novos postos de trabalhos somente no ano passado. Ao todo, a Liebherr tem 43.869 colaboradores.


Fato Concreto Executivo de Carreira assume presidência da Volvo CE

Com a aposentadoria de Afrânio Chueire, a Volvo Construction Equipment (VCE) nomeu como presidente da operação latino-americana Luiz Marcelo Daniel, um profissional de carreira que teve duas passagens longas pela companhia, sendo a primeira em 1986. O executivo atuou em vários cargos de liderança no grupo Volvo, sendo o último como dirigente responsável por grandes contas da Volvo CE nas Américas, o que inclui EUA, Canadá, Brasil e todos os países de língua hispânica da região. Antes disso, foi engenheiro de planejamento de produtos Volvo Trucks – quando começou na companhia, há 31 anos –, executivo de liderança e de administração da Volvo Cars e key account da Volvo CE na América Latina. “A nomeação de Luiz Marcelo confirma o nosso compromisso em dar continuidade ao atendimento com excelência das demandas de nossos clientes na América Latina. Trabalhamos para que nossos equipamentos tenham o maior tempo de disponibilidade e o melhor desempenho em todas as etapas do ciclo de trabalho”, disse Stephen Roy, presidente da Volvo CE Américas e a quem Luiz Marcelo reportará diretamente.

JCB lança serviço de crédito no Brasil A JCB anunciou ontem o lançamento da sua financeira no Brasil. A operação local da JCB Finance é exclusiva para concessão de crédito na compra de equipamentos da marca e atenderá todo o território latino-americano. Com o lançamento, a empresa reforça a posição de que busca crescer 25% em 2018, com incrementos tanto nas vendas brasileiras quanto dos países vizinhos. “A nossa expectativa é, ao final deste ano, incluir 200 máquinas a mais no mercado”, comenta José Luis Gonçalves, presidente da JCB Latam. “O investimento em ferramentas que impulsionam o desenvolvimento dos setores de infraestrutura e agricultura é fundamental para o crescimento ecônomico brasileiro. O lançamento de JCB Finance, aliado ao bom desempenho que tivemos em 2017, reforça o nosso compromisso com o país e com nossos clientes”, completa. Com taxa de juros de até 0,59% ao mês, o JCB Finance espera ser responsável por 25% do total de vendas da marca já neste ano. O programa foi lançado na Inglaterra e replicado em diversos países onde a marca atua. Na Polônia, por exemplo, foi lançado em 2017, registrando 36% de penetração em vendas e 45% de aumento na receita da marca. No Brasil, a operação de JCB Finance é realizada em parceria com a Deutsche Leasing.

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Entenda como as concessões são lucrativas no país As duas maiores empresas de concessões rodoviárias do Brasil apresentaram resultados financeiros que confirmam o grande negócio que é administrar serviços públicos privatizados no país. A Arteris, que se diz a maior em quilômetros administrados, viu seu lucro líquido quase triplicar (243%) em 2017, chegando a R$ 246,9 milhões. Já a CCR – que se intitula a maior em termos de receita – conseguiu praticamente dobrar (94% de incremento) o lucro líquido em apenas um trimestre (4T), quando o grupo e seus acionistas embolsaram R$ 329 milhões. Os negócios da CCR também incluem administração de outros modais, como metrô. No informe da Arteris, ela demonstra que o bom desempenho financeiro ocorreu pela expansão da receita de pedágio principalmente, onde o incremento foi de 12,3%. Quando se soma isso ao aumento de tráfego de 3% – contabilizando 670,7 milhões de veículos que pagaram pedágio em pistas da Arteris em 2017 – se tem o balanço de 8,8% de crescimento bruto da empresa no ano passado. Nesse período a Arteris também reduziu despesas financeiras em 38%, totalizando R$ 448,8 milhões, o que termina de compor o aumento do lucro líquido relatado no inicio desta

notícia. A redução de despesas foi puxada por um menor endividamento médio e também pela redução das taxas dos indexadores de juros da dívida. Já a CCR divulgou o aumento do tráfego em 4,4% nas rodovias que administra durante o último trimestre, enquanto o crescimento do EBTIDA (Lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) Em 17,9%.

Quinze pedaços de mau caminho Você sabe quais são as ligações rodoviárias que apareceram de forma frequente nas últimas posições da Pesquisa CNT de Rodovias durante 14 anos? Foi para responder essa pergunta que a Confederação produziu o estudo Transporte Rodoviário: Rodovias Esquecidas do Brasil, cujo resumo está nesta listagem: 1-Açailândia (MA) – Miranda do Norte (MA) 2-Araguaína (TO) – Picos (PI) 3-Barracão (PR) – Cascavel (PR) 4-Dourados (MS) – Cascavel (PR)

5-Florianópolis (SC) – Lages (SC) 6- Governador Valadares (MG) – João Neiva (ES) 7-Jataí (GO) – Piranhas (GO) 8-Maceió (AL) – Salgueiro (PE) 9-Manaus (AM) – Boa Vista (RR) – Pacaraima (RR) 10-Marabá (PA) – Dom Eliseu (PA) 11-Marabá (PA) – Wanderlândia (TO) 12-Poços de Caldas (MG) – Lorena (SP) 13-Porto Velho (RO) – Rio Branco (AC) 14-Rio Brilhante (MS) – Porto Murtinho (MS) 15-Salvador (BA) – Paulo Afonso (BA)

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Fato Concreto

Pöyry ganha projeto de ampliação do aeroporto Salgado Filho

O Consórcio HTBM contratou a multinacional especializada em engenharia e consultoria para fazer parte do grupo de empresas que vai ampliar o aeroporto da capital gaúcha. A obra em si fica a cargo das três construtoras que fazem parte do Consórcio, HTB, Tedesco e Barbosa Mello. A Pöyry fica respon-

sável pela elaboração dos projetos executivos e acompanhamento técnico do empreendimento. O cliente final de todas é a Fraport Brasil, subsidiária do grupo alemão Fraport, que detém a concessão do aeroporto. A ampliação envolve o terminal de passageiros, além da construção de um edifício garagem e de uma subestação de distribuição de energia elétrica. A pista de pouso e taxiway das aeronaves também serão ampliados. No escopo da Pöyry está o desenvolvimento dos projetos necessários para a execução do empreendimento, incluindo os de arquitetura, civil, utilidades, ventilação e ar condicionado. A lista inclui ainda os projetos de combate a incêndio, paisagismo, mobiliário, identidade visual, sistema eletrônico de balizamento das aeronaves, entre outros. “A conquista deste contrato reforça a posição de destaque da Pöyry na execução dos mais diversos projetos de infraestrutura, alavancado pela experiência da empresa em projetos relevantes em várias partes do mundo”, destaca Fábio Bellotti da Fonseca, presidente da Pöyry no Brasil.

Iniciativa privada ficou estagnada em saneamento em 2017 As duas entidades que congregam as concessionárias privadas de saneamento – Abcon e Sindcon, respectivamente associação e sindicato – fizeram um balanço do ano passado e avaliaram o que pode acontecer no segmento em 2018. Aposta principal reside num novo marco regulatório com a edição de uma medida provisória ou de um projeto de lei. O processo está nas mãos do Presidente Michel Temer. A preferência do setor privado é por uma MP, que pode ser mais ágil e é emitida direta pelo Presidente. No caso de projeto de lei, o processo segue a via normal, ou seja, legislativo. Com o novo marco legal, as entidades prevêm uma maior segurança jurídica, pacificando questões como as concessões e parcerias publico-privadas (PPPs) em cidades de regiões metropolitanas. E também torna mais flexível a obrigatoriedade de negociação tripartite entre municípios, estado e concessionária privada em caso de projetos de concessão. No ponto de vista do segmento privado, as companhias estaduais, que são empresas públicas, em tem dificultado as concessões em alguns casos.

Eles citaram os estudos para concessões em estados nordestinos, feito com financiamento do BNDES, cujos dados foram prejudicados pela pouca colaboração das companhias estaduais. Outra notícia recente e importante para o segmento foi a avaliação pelo TCU da possibilidade de uso do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) e do Fundo de Participação dos Estados (FPE) como garantia no caso de PPPs. A medida deve facilitar os projetos privados, embora a maior parte das operações privadas em saneamento ainda se dá por concessão. Se as iniciativas avançarem como o previsto, a Abcon espera que a participação privada saia do patamar de 5,78% que detém no atendimento do setor, cobrindo 322 cidades. Lembrando que esses números ficaram “congelados” entre 2016 e março desse ano.

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Concretagem Produtiva

Mercado de pavimentos permeáveis deve voltar a crescer em 2018

Solução mitiga a falta de drenagem em centros urbanos, ajudando a reduzir enchentes e poluição de lençóis freáticos, rios e lagos. ............ Por Rodrigo Conceição Santos............ O setor de pavimentos permeáveis de concreto vinha crescendo acima de 10% ao ano entre 2008 e 2013. Boa parte do crescimento ocorreu em decorrência de leis municipais exigindo maior área permeável em empreendimentos como condomínios residenciais, centros logísticos e de compras e galpões dos mais variados fins. De lá para cá, assim como toda a indústria da construção, o crescimento foi reduzido, mas a expectativa é que ele volte a ocorrer neste ano, conforme haja o crescimento econômico previsto pelo governo, economistas e órgãos especializados. A BlocoBrasil é a

entidade representativa desse setor, com 73 associados fabricantes de blocos de concreto e pisos pré-fabricado de concreto. Eles estão distribuídos por 12 estados brasileiros. A expectativa relatada também é dela, que defende vantagens do pavimento permeável quando aplicado, principalmente, em ambientes de alto fluxo de água pluvial. Vamos entender: em regiões metropolitanas, onde há pouca área verde, o escoamento das águas da chuva é dificultado. Os pavimentos em concreto rolado ou asfalto, no geral, não são precavidos com sistemas de drenagem

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eficientes, o que explica parte das enchentes sobre as quais somos noticiados nos verões. O conceito do pavimento permeável é deixar áreas, de 15% a 25% de vazios, permitindo o escoamento de água na ordem de 200 l/m²/min. Há dois tipos de tecnologia desses pavimentos. A primeira é de peças de concreto poroso. Nesse caso, a mistura é preparada com pouca ou nenhuma adição de areia, o que permite a passagem desobstruída de grandes quantidades de água. Esse concreto é produzido por equipamentos que funcionam por vibrocompressão e a sua secagem ocorre por vapor ou ao tempo


natural. As peças finais são blocos porosos pré-fabricados, a serem instalados com técnicas comuns de pisos pré-fabricados de concreto. O segundo tipo de pavimento é formado por pisos de concreto convencionais, intertravados. Eles têm juntas alargadas, por onde passa a água pluvial. Assim, criam-se muitos vazios interligados, que deixam a peça altamente permeável. Esse tipo de tecnologia leva vantagem nos reparos, que podem ser feitos sem precisar quebrar o pavimento, pois basta retirar a peça defeituosa, reparar e coloca-la novamente, sem remendos. Comparado ao revestimento asfáltico, há estudos que comprovam que o pavimento permeável intertravado dura até 30 anos, contra dez da mistura em CBUQ. Já na comparação entre as duas soluções de pavimento permeável, o bloco poroso tem menor resistência em relação ao concreto comum, de modo que ele não serve para todo tipo de tráfego. Mas pode ser usado com segurança na maior parte dos locais de trafego

leve ou pouco intenso. Ambas as soluções, porém, atendem ao princípio de drenagem. Elas devem ser compostas por uma camada de base de brita, na qual os agregados deixam espaço vazios por onde a água infiltra e é armazenada temporariamente. Essa estrutura também atua como filtro, retendo resíduos sólidos. Isso ajuda a mitigar a contaminação da água e, posteriormente, de rios e lençóis freáticos. O destino da água armazenada na base dos sistemas de piso permeável é definido por cada projeto. A maioria promove um caminho até o aquífero, mas há aplicações onde a água segue para piscinas de armazenagem ou reservatórios, a partir de onde pode ser reutilizada em jardins ou sanitários. Quando o solo é de boa característica de drenagem, em 72 horas a água armazenada deve ser absorvida e lançada ao seu destino. Em subsolo compactado ou impermeável – caso da argila – a água fica acumulada no reservatório granular e há risco de transbordamento.

Concreto Convencional e Poroso O concreto poroso tem maior índice de vários, enquanto o convencional é compacto e tem propriedades que o fazem enrijecer ao longo do tempo. Por isso esse segundo é mais resistente. O concreto poroso é feito a partir de material granular com a mesma granulometria. Por isso a porosidade, diferente de quando há britas e areias de tamanhos variados, pois umas se encaixam nas outras, preenchendo os vazios.

Vantagens do concreto permeável •‌ Realimenta o aquífero subterrâneo; •‌ Pode ser usado como via para pedestres, estacionamento, ciclovia, piso de quadras esportivas; •‌ Ajuda a diminuir enxurradas e enchentes; •‌ Proteção do sistema de drenagem; •‌ Possibilita a reutilização da água da chuva; •‌ Atua como filtro, impedindo que impurezas e metais pesados atinjam o lençol freático;

Diferença do piso impermeável para o permeável

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•‌ Permite melhor aproveitamento de terrenos.


Empreiteira

Construtora Afonso França prevê crescimento de 75% em 2018 ............ Por Nelson Valêncio e Rodrigo Conceição Santos............

Focada em obras privadas e de maior complexidade, a empresa espera fechar o ano com faturamento superior a R$ 700 milhões, inclusive com projetos de infraestrutura Brasil Construção

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Liderada por um engenheiro que se transformou em administrador de empresas ao longo dos anos e por um administrador que foi absorvendo a cultura de engenharia, a Afonso França passa ao largo da crise que afetou a construção civil brasileira nos últimos anos. Realista e focada em obras complexas, que vão de hospitais a data centers, passando por plantas de papel e celulose, a companhia prevê faturar R$ 700 milhões em 2018. Caso consiga, ela vai cravar um incremento de 75% em relação a 2017 e praticamente dobrar os resultados de R$ 356 milhões de 2016. Se no ano passado ela foi listada pelo ranking da revista O Empreiteiro entre as 25 maiores do setor, o avanço poderia colocá-la num grupo ainda mais restrito. O engenheiro Cláudio de


Souza Afonso e o adminstrador Estevam de Novaes França, que dão nome à construtora, ambos sócios da empresa, comemoram a fase e asseguram que estão estruturados para crescer mais. Inclusive, com a entrada no segmento de infraestrutura em empreendimentos que não tenham obras de arte. O exemplo mais recente dessa nova fase é a modernização dos Terminais 1 e 2 do Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos. O rol de potenciais projetos em infraestrutura inclui instalações portuárias, estações ferroviárias, outros terminais aeroportuários, prédios administrativos e obras prediais. “O perfil do contratante de infraestrutura está mudando no Brasil, com mais participação de entes privados do que públicos, diferente do que vimos nos últimos anos”, diz Afonso. A mudança, de acordo com ele, vai pautar contratações mais técnicas e menos conservadoras, o que ampliaria a competitividade da construtora. A razão? A empreiteira está habituada a executar projetos de complexidade até maior, incluindo experiências na indústria farmacêutica, de telecomunicações, papel e celulose e outras. “No aeroporto de Guarulhos, por exemplo, fizemos ótima execução ao utilizar a expertise adquirida em obras industriais e comerciais complexas”, complementa França.

DNA em planejamento começou na JHS Para chegar ao momento atual,

a construtora usa seu histórico de 25 anos, quando começou a realizar obras de retrofit em shopping centers. A mentalidade de planejamento veio antes, com a experiência dos dois profissionais na JHS, empresa que é referência no setor. “Desde o começo buscamos segmentos potencialmente em ascensão”, diz Afonso. “Por isso, após os primeiros projetos de reforma em shoppings centers, avançamos para o setor hospitalar, onde ficamos renomados com obras bem-sucedidas para o Albert Einstein, de São Paulo, e para os hospitais do Grupo Amil, ambos nossos clientes até hoje”, completa. O setor farmacêutico foi uma evolução natural do retrofit e construção de hospitais. “A primeira obra envolveu a Aventis – hoje Sanofi – e fomos premiados em 20% sobre o valor do contrato depois que cumprimos todos os requisitos impostos com excelência”, lembra Afonso. Em seguida, a empresa partiu para a obra do centro de pesquisa e inovação da Loreal, que a contratou pelo caso bem-sucedido na Aventis. “Viramos referência e ganhamos novos clientes por conta do trabalho bem executado”, acrescenta. O mercado de papel e celulose foi mais uma das frentes abertas pela empreiteira, assim como a construção (além dos retrofits que sempre fizeram) em shopping centers, galpões e outros segmentos comerciais e industriais. Complexo e fechado, a nova frente de ação começou com um empreendimento da Su-

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zano e justamente no momento em que um dos ciclos de construção de plantas do segmento estava sendo finalizado. A etapa seguinte incluiu o projeto Puma, da Klabin, em Ortigueira (PR). “Surfamos’ nesse momento, executado várias obras até o fim desse ciclo na Klabin e o início de outros ciclos em outras companhias”, salienta ele.

Não às obras públicas Os avanços, pontua França, foram sempre antecedidos por uma preparação interna, regida pela política de nunca começar uma obra sem antes ter a estrutura operacional e o capital humano necessários. Esse modelo, que eles classificam como planejamento conservador, foi o impulsionador da empresa e principal responsável pelo crescimento nos últimos anos. “O Brasil teve crescimento expressivo na última década, principalmente na época do presidente Lula. Ocorre que isso não foi bom como poderia para a construção, dado que havia muitas obras e pouca gente realmente capacitada para executá-las”, argumenta. O alerta, segundo o executivo, aconteceu quando a construtora notou que não estava conseguindo atender com o padrão que gostaria. O momento da verdade também reforçou a exclusão do setor público como cliente e levou à criação do grupo de gestão, pautado pela interação entre os departamentos da construtora e a troca de conhecimento para gerir as obras


Empreiteira desde o projeto a execução da construção. “Descobrimos que um grande segredo é aproximar o escritório administrativo das obras. Hoje, com as tecnologias de mobilidade e de imagens, conseguimos essa proximidade”, explica França. Os executivos também descobriram que ao posicionar-se como responsável direto por todas as etapas de obra – do projeto à construção – era possível eliminar os principais riscos e contratempos. “O contratante gasta de 3% a 4% do orçamento do valor do contrato com projeto e geralmente muitos problemas são decorrentes dessa etapa”, diz o empresário. “Então, por que não entrar desde a fase inicial, centralizando e aliviando o problema para o cliente e para nós, evitando surpresas na execução? É isso que estamos fazendo”, resume.

O processo atual da Afonso França começa no orçamento, etapa que entra tão logo a área comercial prospecte o cliente. Em seguida, acontece a análise de projetos, criada justamente após o insight relatado pelo executivo. “Isso exige muita engenharia de suporte, pois vasculhamos os projetos dos clientes, que geralmente vêm com falhas técnicas e falta de informação. Acertamos tudo antes de finalizar o projeto detalhado e iniciamos a execução, sempre com um batimento minucioso que comprar execução versus projeto. Isso evita erros e consequentes retrabalhos”, detalha Afonso.

Infraestrutura deve voltar, com novo cenário A mistura de conservadorismo e vanguarda fez da Afonso França um ponto fora da cur-

Respeito é a palavra de ordem para Cláudio Afonso e Estevam França manterem a sociedade

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va em comparação à economia brasileira – cujo PIB caiu mais de 7% nos últimos três anos – e mais ainda diante ao setor da construção (o PIB da construção encolheu 15% entre 2015 e 2017). Apostando que seu perfil continue válido, os empresários projetam anos promissores para a construtora e também para o setor, inclusive na construção pesada. “Os grandes empreendimentos de infraestrutura vão voltar. O país não tem como avançar sem eles. E junto com eles virão as demandas por edificações leves”, sintetiza França. “Temos interesse no setor, mas não em conduzir obras de rodovias, portos, aeroportos, etc.. Entendemos que nosso foco não envolvem obras de arte”, complementa. Os sócios da Afonso França se colocam como “meros observadores” ao avaliar que não há empresas com capacidade técnica e operacional para realizar os grandes projetos fora os grandes grupos hoje em crise. “O segredo para uma atuação bem-sucedida na construção pesada envolve auditoria e vigilância estreita dos órgãos competentes. E que os órgãos fiscalizadores também não estejam comprometidos”, defende Afonso. “Se não colocarem as raposas para cuidar do galinheiro, teremos grande chance de manter um novo mercado de infraestrutura, produtivo e com a participação ativa das megaconstrutoras brasileiras, ficando também uma gama de projetos de edificação a cargo de empreiteiras como a Afonso França”, conclui.


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Capa: Histórias & Fatos

O Discurso da Método Com a última receita equivalente de R$ 558 milhões em 2016, a Método retoma protagonismo entre as maiores construtoras brasileiras e usa a experiência de quem atravessou crises e bonanças para manter o crescimento.

.......... Por Rodrigo Conceição Santos.........

Hugo Marques Rosa

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Capa: Histórias & Fatos O presidente e fundador da Método, Hugo Marques Rosa, levanta algumas vezes da mesa de entrevista. Procura os assistentes. Retorna à mesa. Volta para a entrevista e tem que sair novamente. Tudo em um grande escritório de vão livre, onde todos observam o que todos fazem. O presidente também vê e é visto. “Nosso escritório traduz o exemplo de transparência”, diz o profissional de marketing que acompanhava a conversa. Quando volta, o executivo se desculpa pela ausência inevitável e que iria se repetir nos próximos minutos. A razão? Estávamos no dia da assinatura do contrato para as obras da Unidade de Processamento de Gás Natural (UPGN) do Comperj. “Eu aqui, os chineses na China e eles (Petrobras) no Rio de Janeiro. Assinatura eletrônica do contrato: novidade para mim”, diz Rosa (risos).

A Método foi convidada pela Shandong Kerui – vencedora da licitação – para estabelecer uma Sociedade de Propósito Específico (SPE). A chinesa venceu entre 34 empresas convidadas – todas internacionais – e quatro consórcios que apresentaram propostas. Segundo a Petrobras, não houve convite a empresas nacionais porque as grandes companhias, que atenderiam os critérios financeiros impostos, estavam impedidas pela Operação Lava Jato. A Kerui Metodo Construção e Montagens, a denominação da SPE, oficializava, no momento desta entrevista contudo, um contrato de R$ 1,95 bilhão. “É uma obra estratégica para o país”, define Rosa. O Brasil tem um grande número de termelétricas que precisam de gás. Há também as indústrias, que já reportam déficit nesse fornecimento. “No

UPGN-UO AM

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Paraná, se chegar uma empresa que precise de gás hoje, não terá”, pontua. Além disso o acordo Brasil-Bolívia está perto de vencer (2019), o que ampliará o déficit. Isso explica, segundo o executivo, porque o propósito do Comperj mudou rapidamente de rota, privilegiando a produção de gás em detrimento do refino de petróleo, que seria o primeiro empreendimento retomado no complexo petroquímico. A UPGN consiste numa obra de 40 meses, com três trens de processamento de gás, incluindo execução e comissionamento. O primeiro trem ficará pronto bem antes dos 40 meses, até porque há partes da obra já iniciadas. “Estimamos que 30% já esteja concluída”, quantifica Rosa. O avanço ocorreu no contrato anterior, liderado pela construtora Queiroz Galvão, que desistiu da obra após implicações da Lava Jato


que levaram à redução no valor do contrato. O projeto é uma das três grandes obras que a Método trabalha atualmente. Se bem-sucedidas, elas devem coroar os 45 anos de fundação da empresa com crescimento. As outras duas são o Aeroporto de Fortaleza e o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Stihl Ferramentas Motorizadas, no Rio Grande do Sul (veja mais na página 28).

Crescimento aos 45 anos Para falar da trajetória da empresa, Rosa é detalhista. Começa do começo, quando o propósito era fundar uma construtora com práticas da indústria e melhores relações com o capital humano no canteiro de obras. “Se existiu um tempo no qual alguém deveria fundar uma construtora no Brasil, foi maio de

1973”, brinca ele. Era o auge do Milagre Econômico. A construção civil crescia a 15%, a dívida externa era baixa e a inflação, indexada a 12%. O valor do dólar também estava pré-definido e isso tudo criava um cenário de estabilidade. O presidente de então, Médici, acreditava que o Brasil era uma “ilha da prosperidade”, definição mais tarde descartada por vários críticos do modelo. Já em outubro de 1973 os problemas começaram com o segundo choque do petróleo, desencadeado pelos conflitos no Oriente Médio, que quase quadruplicou o preço do barril. O Brasil, que pela estabilidade econômica acreditava estar à margem da crise, manteve o consumo de petróleo enquanto a Europa e o Japão, por exemplo, se adequaram aos novos tempos. Pelos projetos de grandes cons-

truções de infraestrutura, o governo militar estimulou as estatais a se endividarem para importar nos anos seguintes, abrindo o mercado que até então era bastante fechado. Isso ficou ingerenciável e o país precisou recorrer ao Fundo Monetário Internacional (FMI), que impôs uma série de medidas restritivas para ajustar as contas públicas no fim dos anos 1970. O país ficou então sem capacidade de investimento e com alto endividamento. “Hoje nós sabemos que quando o governo reduz investimento público, a construção é sempre a principal afetada”, diz Rosa. E não foi diferente naquela época. Ele lembra desse momento da história para explicar a dificuldade financeira enfrentada pela Método em 1982, quando o agravante pelos anos exigentes do final da década anterior desdobrou nas obras do

UPGN do Comperj A unidade de processamento de gás será a maior do país, com capacidade de até 21 milhões de metros cúbicos por dia. O projeto deve ampliar a infraestrutura de escoamento e processamento de gás do pré-sal, que deverá passar de 23 milhões para 44 milhões de metros cúbicos por dia.

Comperj - Obras do pipe rack do Trem 1

Terraplanagem do Comperj

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Capa: Histórias & Fatos Centro Cultural de São Paulo. “Havia 1,7 mil homens trabalhando lá e a prefeitura simplesmente mandou parar a obra”, diz. “Ficamos sem receber e esse dinheiro virou precatórios que até hoje lutamos para reaver”, completa. O resultado prático de 1982 foi que a Método começou o ano com 3,5 mil funcionários e terminou com 700. O faturamento, fechado em US$ 4 milhões no ano anterior, foi a US$ 1 milhão. “Enfim, como é comum na volatilidade brasileira, podemos resumir que tivemos uma ascenção em 1970, queda em 1980 e retomada em 1990”, diz.

Retomada na terceira década O primeiro período pós-ditadura militar foi positivo para a Método, que já havia decidido pela segunda vez não trabalhar com obras públicas. A Construtora Método tinha forte presença na mídia, o que lhe deu visibilidade, e, apesar de ser uma empresa média, tinha status de grande. “Era preciso aproveitar esse momento e entendemos que isso se faria diversificando negócios, para sentir menos as futuras volatilidades do país. Foi aí que cometemos um erro: diversificando demais”, lembra Hugo Rosa. A primeira ação foi internacionalizar. A Método firmou parceria com uma companhia norte-americana para entrar no ramo de telecomunicações. Também trouxe a Tishman Speyer, com quem fez obras emblemáticas como a Torre Norte do Centro Empresarial Nações Unidas e o Rochaverá, em São Paulo, além do Ventura Towers, que hoje é alvo de uma disputa entre o BNDES e a Petrobrás no Rio

Rochaverá Corporate Towers SP

de Janeiro. Na mesma época expandiu para o Cone Sul (Argentina, Chile e Uruguai) e trouxe o conceito de dry wall. Associou-se à Brascan (atual Brookfield), incorporadora imobiliária. Construiu, inclusive, o prédio Brascan Century Plaza em São Paulo. “Em 1995, aceitei o convite do então governador Mário Covas para assumir a Secretária de Recursos Hídricos, Saneamento e Obras do Estado de São Paulo, o que me obrigou a ausentar da empresa por um período”. “Tudo isso aconteceu ao mesmo tempo”, lembra. A Método, que estava sólida financeiramente, precisou “alavancar”. E aí veio a crise monetária do Sudeste Asiático em 1997, seguida da crise Russa de 1998, travando o mercado financeiro e gerando problemas de caixa que levaram ao desfazimento de parte dos negócios. Mas o foco na construção civil foi mantido e a Método pôde experimentar outro período de crescimento entre 1998 e 2002, quando

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alcançou a sétima colocação no ranking das maiores empresas de engenharia da Revista O Empreiteiro. “Daí em diante, percebemos que sempre havia acima de nós as construtoras de obras públicas”, pontua. Essa percepção, mais tarde, levou à associação – seguida de aquisição total – da Potencial Engenharia, especializada em obras eletromecânicas, com atuação forte em petróleo e gás e base para a atuação na atual obra do Comperj. A aquisição da Potencial Engenharia começou em 2009 e terminou cinco anos depois. “Era uma empresa de construção civil e uma montadora de obras eletromecânicas. Com culturas e estratégias diferentes”, explica Hugo Rosa. A adequação levou cerca de dois anos até ambas tornarem-se uma só empresa. Um pouco antes, em 2004, a Método desfez a parceria com a Tishman Speyer, que decidiu se tornar incorporadora no Brasil. “Como já tínhamos feito incorporação no passado e não fomos bem-suce-


didos, decidimos romper”, diz o executivo. Foi a mesma época que Hugo Rosa e Victor Foroni desfizeram a sociedade.

DNA industrial

Ventura Corporate Towers RJ

Brascan Century Plaza SP

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Tanto Hugo quanto Victor são engenheiros mecânicos, formados pela Universidade de São Paulo (USP). A Método, inclusive, nasceu ainda na universidade, quando eles apostaram que era possível levar práticas da indústria para os canteiros de obras, criando metodologias. Daí o nome da empresa. “Fundamos a Método com dois propósitos, que depois ficaram claros e impressos na trajetória da empresa. O primeiro foi trazer práticas da indústria para a construção e o segundo foi melhorar as relações de trabalho no canteiro de obras”, diz Hugo Rosa. Esses conceitos foram solidificados anos depois, com experiências práticas como a utilização de painéis de ferro e cimento para construção de casas populares, trazidos ao Brasil pela empresa em 1978 e utilizados na construção de mais de mil casas para a Cohab nos anos 1980. Anos depois os sócios decidiram estruturar a inovação, criando uma empresa de pesquisa e desenvolvimento para fomentar as novidades na construtora. Estipularam que cada ação de melhoria deveria ser um projeto à parte. Os resultados melhoraram, até que receberam convite de uma empresa canadense para serem parceiros no Brasil. A parceria era para aplicar novas tecnologias relacionadas às construções secas e industrializadas. “Entendemos que tudo que se pode fazer fora do canteiro é melhor. O


Capa: Histórias & Fatos canteiro de obras tem uma dinâmica complicada, com espaços confinados, grandes possibilidades de geração de resíduos, operários com nível educacional e de treinamento baixo, etc.”, explica Rosa. Na indústria, compara ele, há uma equipe mais constante e metodologias estabelecidas, que conferem qualidade padrão. Sobre as construções secas, algo que entrou em evidência no Brasil nos últimos anos, mas que ele assegura ter sido a Método a pioneira no anos 1990, a regra era simples: evite ao máximo a produção de argamassa no canteiro. “É um trabalho praticamente artesanal, que gera patologias, é lento e faz sujeira”, resume ele. Em termos práticos, o foco eram as estruturas de concreto pré-fabricados, com as quais era possível aplicar o conceito de off site constructions, transformando os canteiros em linhas de montagem. “Adequamos a isso o sistema horizontal e vertical (os pavimentos vão ficando praticamente prontos enquanto a construção bruta continua para cima) para a execução das estruturas”, completa. Na mesma época a Método trouxe os pré-moldados arquitetônicos de fachada, montando a fábrica da Stamp. “Importamos o projeto, produzimos fôrmas e cimbramentos e começamos a usar nas nossas construções e a fornecer para outras construtoras. A solução de fachadas é diferenciada até hoje e a prova disso é a obra do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Stihl, que construímos atualmente com a fachada de tijolinhos mecânicos”, diz o empresário.

Centro Empresarial do Aço

Complexo Ohtake Cultural

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Hospital Sírio Libanês

Hotel Unique SP

Principais obras da Método atualmente PROJETO

LOCALIZAÇÃO

PERÍODO

Aeroporto de Fortaleza Centro de Pesquisa e Desenvolvimento

Av. Senador Carlos Jereissati, 3000 - Serrinha - CE Av. São Borja, 3000 - Distrito Industrial - São Leopoldo do Sul - RS

2018-2020

UPGN-COMPERJ

Itaboraí - RJ

2018-2021

2018-2019

Wet’n Wild em SP

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Capa: Histórias & Fatos

Centro de Manutenção e Tecnologia da Gol MG

Sesc Pompéia

Centro de Manutenção e Tecnologia da Gol MG

Laboratórios Aché SP

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Infinity Tower


Shopping Monte Carmo - MG

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Capa: Histórias & Fatos Mão de obra no canteiro O segundo propósito de fundação da empresa, melhorar a relação de trabalho na construção civil, deu bons resultados. A Método inovou ao uniformizar os trabalhadores da construção civil, levando a eles autoestima à medida que se sentiam equiparados aos trabalhadores da indústria. “Naquela época, a informalidade na construção civil era grande. E é preciso entender o contexto para saber como mudamos essa relação no segmento”, diz. O Brasil teve uma urbanização acelerada no século XX, passando a população urbana de 60% para 80%. Esses camponeses eram analfabetos, em sua maioria, o que não lhes dava condições de trabalhar em indústrias ou comércio. Em resumo, a construção civil era a entrada para o mercado de trabalho urbano. “As relações de trabalho nos anos 1970 eram uma extensão da Casa Grande e Senzala (livro do sociólogo Roberto Freyre)”, diz o executivo. “Imperavam o autoritarismo, a informalidade e quase nenhuma preocupação com a segurança do trabalho”, salienta. Hoje, a Método tem cerca de 4 mil funcionários e afirma manter programas de incentivos, treinamentos e especialização para que a maior parte engaje além do atendimento a determinada obra.

Inovações Nos últimos anos a cons-

trutora criou outros negócios e conceitos. Um deles foi começar a entrar na fase de projeto das obras, mudando a relação do cliente com a construtora. Hugo Rosa explica que, geralmente, as construtoras recebem o projeto e executam. “O ideal é atuarmos da pré-construção até o fim da obra, o que envolve um ciclo básico de concepção, detalhamento, execução e controle de entrega para a operação”, diz o executivo. “Geralmente as construtoras atuam na execução e controle e isso causa muitos problemas e custos para o cliente, pois, na dinâmica da obra, não há tempo para a equipe executora pensar se o projeto é o melhor ou não. Isso tem de ser feito antes”, completa. Na fase de pré-construção, defende ele, o uso de tecnologias avançadas permite reduzir a quantidade de aço, concreto e materiais no geral. “Na obra da Stihl, por exemplo, fizemos o projeto em seis dimensões (6D),

pois trata-se de uma obra com muitas instalações, cujos kits de montagem, sejam de construção civil ou eletromecânica, precisam chegar perfeitos para a aplicação”, diz Hugo Rosa, salientando que a estrutura da edificação é em pré-fabricado de concreto. Outra característica no projeto da Stihl são as fichas de verificação do sistema de qualidade, feitas pelo smartphone do engenheiro, em campo. Isso é possível pela personalização de uma série de softwares cujo avanço está acima da capacidade das redes de transmissão de dados. A informação só não é transmitida em tempo real porque o arquivo é grande e as redes de dados de celulares não dão conta. Ela é então depositada nos computadores da obra e enviada para a nuvem semanalmente. “Em campo, quando está tudo em conformidade, o engenheiro aprova o avanço físico no cronograma da obra com um clique”, finaliza Rosa.

Hugo Marques Rosa O presidente e sócio majoritário da Método é gaúcho e ingressou na engenharia mecânica da Escola Politécnica da USP em 1967, onde se formou. Foi preso pelo regime militar três vezes, sendo uma delas na mesma cela do ex-ministro José Dirceu, segundo o portal 247. Hugo incursou no empreendedorismo fundando uma empresa de blocos de concreto com dois colegas da universidade. Um deles era Henrique Meirelles, que logo deixou a sociedade, abrindo caminho para Victor Foroni, com quem mais tarde criaria a Método e de quem foi sócio até 2004, quando comprou a parte do colega. O valor dessa negociação não foi divulgado, mas a Revista Isto É dinheiro estimou entre R$ 30 milhões e R$ 50 milhões na época.

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A engenharia brasileira não é lá tudo isso “Aprendi que engenharia é fazer com uma moeda o que se deveria fazer com duas. Aqui é o contrário, usam-se quatro moedas quando poderiam usar duas”. Essa é a frase que resume o que Hugo Marques Rosa pensa a respeito do nível da engenharia brasileira. Ele afirma que estamos atrasados e gastamos desnecessariamente. “Veja essa ponte estaiada (o escritório da Método fica próximo à Marginal Pinheiros, em São Paulo): desnecessária. Aprendi que usa-se estais para atravessar grandes vãos em locais onde não é possível fundação. Aqui não era o caso, pois era perfeitamente possível construir a ponte sobre pilares

estacados no solo e no rio, que não é de grande profundidade”. Para ele, há uma distância grande da engenharia brasileira e a de outros lugares do mundo. “E nunca essa distância foi tão grande quanto é hoje”, intensifica. “Há empresas chinesas fazendo 100 km de túneis de metrô por ano. Isso é próximo do que se fez no Brasil em toda a sua história”, diz. Há alguns anos, lembra, ele e sua equipe estiveram em contato com a Samsung, que nasceu no setor da construção e ainda tem essa divisão atuando fortemente, inclusive com a participação nas construções dos maiores prédios do mundo. “No maior prédio de Dubai

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eles bombearam concreto a 800 metros de altura, fazendo um ciclo de construção de pavimentos no centésimo andar em apenas três dias. Aqui nós não fazemos isso nem no segundo pavimento ainda”, compara. Ele conclui que a dificuldade obtida para executar a fachada curva – que na verdade é feita de seções retas de esquadrias – nas obras do Infinity Tower, em São Paulo, demonstra o quão atrasados estamos em relação à Seul, onde há edifício com 40 mil painéis de vidros curvos na fachada, com cores e formatos diferentes uns dos outros. “Uma obra dessas jamais seria feita aqui”, sentencia Hugo Rosa.


Capa: Histórias & Fatos

Obra da Stihl exige detalhes finos nos painéis arquitetônicos A empresa Stone é a responsável por essa operação, que exige controle l ogístico refinado, desenvolvimento de fôrmas especiais e alinhamento operacional perfeito entre os diversos agentes da obra. Os painéis arquitetônicos da fachada em cerâmica do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Stihl, em São Leopoldo (RS), estão sendo executados pela Stone, empresa especializada em pré-fabricados. O empreendimento tem cerca de 2,5 mil m² fachada, que levam 210 painéis cerâmicos. Para o projeto, detalha Paulo Koelle, diretor da Stone, foram levados em conta os requisitos de espessura do painel (15 cm) e dimensões, que podem chegar a 11 metros de comprimento e 2,40 metros de altura. “A fôrma utilizada é do tipo sanduiche

(isolante interno), que garante maior conforto térmico ao empreendimento”, acrescenta ele, salientando que a escolha da fôrma levou em conta a variação dimensional da cerâmica extrudada, com dimensões de 55x240x9 mm, com tolerâncias de mais ou menos 3mm. Outro desafio do empreendimento, conta o executivo da Stone, foram os componentes de ligação dos painéis com a estrutura pré-moldada. “Essa escolha exigiu um acompanhamento rigoroso nas instalações do fornecedor para garantir o posicionamento correto dos componentes, visto que os projetos foram compatibilizados para atender uma

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montagem rápida e eficiente”, destaca ele. A obra tem término previsto para agosto deste ano e, até o memento, garante Paulo, a logística de montagem atendeu rigorosamente os prazos solicitados pela Método. “Esta é uma operação planejada em comum acordo com a empresa fornecedora das estruturas pré-fabricadas de concreto, pois é preciso garantir que a sequência de montagem seja seguida corretamente para o pleno andamento da obra”, diz ele. “Em suma, não pode haver falha logística que ocasione a interrupção dos serviços”, conclui.


Passo a Passo da instalação dos painéis: • Projeto dos painéis e fixação; • Escolha da fôrma (molde); • Metodologia de fixação da cerâmica e respectivos ensaios de desempenho; • Testes do sistema de isolamento térmico; • Processos de Fabricação; • Logística.

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Pontes

Disrupção Viking: noruegueses inovam em construção de pontes Construção suspensa e com vãos múltiplos terá sistema de fixação no leito do mar e pode mudar a forma de construção de pontes. Uma reportagem da Business Insider, da África do Sul, acaba de eleger o projeto de ponte no fiorde de Bjørnafjord como uma espécie de disrupção nesse tipo de construção. Trata-se de um empreendimento inovador em águas profundas, segundo o engenheiro de pontes Ian Firth. Ele avaliou a obra em uma apresentação no famoso seminário TED Conference, plataforma de divulgação de palestras que pode ser acessada no YouTube. Segundo ele, como projetos de pontes desse tipo podem ser muito caros, uma das soluções dos noruegueses foi a de criar uma ponte flutuante.

Com vãos múltiplos, a nova ponte terá cerca de 5 km de extensão, cruzando o longo e profundo fiorde. Firth, que é consultor da Cowi, uma das organizações envolvidas no projeto, lembrou que pontes flutuantes já foram construídas antes, mas não com pontões flutuantes com sistema de fixação no leito do mar, como a do fiorde de Bjørnafjord. Para criar estabilidade, a ideia é que as pontas das torres da ponte sejam fixadas uma às outras. A origem do design da nova ponte vem de plataformas de exploração de petróleo usadas no passado, mas que nunca

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tinham sido aplicadas em pontes suspensas de múltiplos vãos. A construção da ponte é capitaneada pela Administração de Estradas Públicas da Noruega, que avaliou várias alternativas técnicas para a obra. Segundo Firth, apesar de inovador, é possível que ainda se demore muito tempo para que a tecnologia avance em projetos de grande envergadura e torne-se uma técnica comum. O conhecimento dos materiais de construção não é novidade, mas existem alguns desafios, incluindo a construção e manutenção dos cabos. “Ninguém deseja fazer algo que não foi comprovado antes”, resume Firth.


Holanda continua inovando quando o assunto é água Famosos pelos sistemas de aterro, os holandeses também têm outros projetos envolvendo os recursos hídricos, caso da ponte que pode ficar parcialmente flutuante quando acontecem as inundações provocadas pela chuva. A fonte da informação é o site Business Insider, da África do Sul. De acordo com a publicação, as cidades costeiras dos Países Baixos (entendem o nome, agora?) tem enfrentado a elevação do mar durante séculos. Em vez de lutar contra a ameaça das ondas, eles partiram para uma solução diferenciada.

É o caso da ponte de Zalige, na cidade milenar de Nijmegen, cujo projeto foi desenvolvido pelo escritório de arquitetura Next Architects and H+N+S Landscape Architects e cuja principal característica é ficar parcialmente flutuante depois de tempestades. Mesmo quando as águas submergem a ponte, é possível caminhar sobre ela, graças a pedras que não submergem. A ponte atravessa o rio Wall, região que é conhecida pelos casos crônicos de inundação, principalmente de toda a infraestrutura ao longo da costa.

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Pontes

Uma tragédia pré-fabricada na Flórida Queda da passarela de pedestres na universidade sediada em Miami coloca a tecnologia em cheque.

Os romanos tinham seus Idos, quatro períodos começando no dia 15 de março, maio, julho e outubro. Os de março ficaram marcados pela tragédia do assassinato do imperador Júlio César. A partir daí, a expressão comum é “cuidado com os Idos de Março”. Pois bem, a Universidade Internacional da Flórida, em Miami, viveu o seu Idos de Março atrasado em um dia. Em 16 de março, um acidente deixou seis mortos e dez feridos: a queda de uma ponte de pedestre. A tragédia está sendo investigada, inclusive, pela agência governamental National Transportation Safety Board (NTSB), além das autoridades locais. Segundo o respeitado site Slate, trata-se de uma tragédia que coloca a tecnologia de pré-fabricados

em cheque. Considerado um projeto sofisticado de engenharia, a passarela ficava no condado de Miami-Dade e tinha concreto impregnado com dióxido de titânio, entre outros detalhes. Ela era projetada supostamente para enfrentar furacões de categoria 5 e com uma previsão de vida útil de 100 anos. Bom, nada disso se comprovou na prática. A ponte caiu durante sua construção, matando pessoas e esmagando vários carros. Na avaliação do Slate, o acidente em Miami causa horror principalmente por ser um evento raro, ou seja, a falha em um empreendimento construído com alta tecnologia e em um país rico de primeiro mundo. A tecnologia empregada, de acordo com a publicação, é o ABC, sigla para construção acele-

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rada de ponte em inglês, uma técnica de concreto pré-fabricado de construção rápida e relativamente comum em nível federal e estadual nos Estados Unidos. O país tem mais de mil obras do tipo. O detalhe irônico do incidente é que a Universidade Internacional da Florida é um dos centros de estudo da tecnologia. Felizmente, a instituição não projetou e nem construiu a ponte, cuja causa da falha ainda não foi identificada pela NTSB. O que se sabe, em termos de engenharia, é que num projeto complexo é impossível que um único fator seja o responsável pelo desastre. O que se sabe é que encerrada a investigação, a tecnologia ABC passará por uma lupa e mostrará que não é tão simples como seu nome indica.


Tecnicamente falando, a ponte da Universidade Internacional da Florida é similar às tradicionais pontes do tipo estaiada, uma tecnologia já estabelecida desde o século XVI. Elas se parecem com pontes suspensas, mas é fisicamente diferente. Nas pontes suspensas, a carga é transmitida através de dois conjuntos de cabos e é relativamente flexível, podendo se movimentar em caso de ventos fortes ou até terremotos. As pontes estaiadas, por outro lado, são rígidas, com um único conjunto de cabos fixados tanto na torre como no deque. Esse último precisa ser forte para resistir ao tremendo esforço horizontal que os cabos exercem. Além de exigirem menos materiais, as es-

taiadas podem ser construídas mais rapidamente do que as pontes suspensas. A flexibilidade das estaiadas, no entanto, acontece nas diferentes configurações possíveis de cabos e torres. Agora, apenas para contextualizar: a ponte da UniversityCity, como era conhecida a obra recém destruída, não era de fato uma ponte estaiada. Ela era de fato uma ponte de treliça, que também é uma técnica comprovada de construção. O design da obra previa que as duas primeiras secções do deque poderiam ser montadas antes da ereção da torre e dos cabos. O que se destaca também é que a secção principal pesava 900 toneladas e era excepcionalmente ampla e pesada para uma

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ponte de pedestres. Na avaliação do Slate, era como se tivéssemos um gigantesco Lego que não deu certo.

Mais que uma passarela Além da reavaliação da obra em si e da técnica ABC, o acidente em Miami trouxe outros desafios para o centro da discussão. Até então, o tráfego era um dos principais problemas, principalmente a Tamiami Trail, a artéria que a ponte acidentada deveria atravessar pelo lado de cima. A estrada, inclusive, vem sendo apontada como exemplo de como o desenvolvimento urbano na cidade tem sido abordado de forma equivocada.


Infraestrutura

Infra 2038: Como o Brasil pode avançar em 20 anos?

Grupo de especialistas defende que se o Brasil melhorar as condições para investimentos no setor, a indústria pode ter mais competividade e menos mortes de trânsito ou por falta de saúde pública, entre outros benefícios. ...................... Por Rodrigo Conceição Santos ....................... Um grupo de profissionais e acadêmicos formado em grande parte por ex-alunos da Fundação Lemann diagnosticou e propõe alternativas para a infraestrutura brasileira. Eles criaram um projeto para os próximos 20 anos, nomeado Infra2038, que parte do princípio de que o país ocupa a 76ª posição no ranking de competitividade do Fórum Econômico Mundial, mas pode chegar à 20ª posição se investir melhor em infraestrutura. A solução estaria nas concessões e parcerias público-privadas, com a conexão de governos e investidores. Essa combinação, defende Andriei Beber, professor e doutor em engenharia da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e um dos líderes do Infra2038, deve

ser formatada para um efeito ganha-ganha, onde população, indústria e investidores tenham resultados satisfatórios. E o dinheiro necessário não seria o problema para isso. “Há uma demanda mundial de 57 trilhões de dólares em infraestrutura, de acordo com uma pesquisa recente da Mckinsey & Company. Existe, por outro lado, quase o dobro desse recurso (106 trilhões de dólares) disponível em fundos soberanos e fundos de pensão. Mas só 2% desses recursos está empregado em projetos de infraestrutura atualmente”, diz ele. A mesma pesquisa revela que 69% dos gestores desses fundos está disposto a investir no setor, desde que haja grau mínimo de segurança.

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O Brasil, portanto, pode receber parte desses investimentos, desde que tenha arcabouço regulatório adequado. “E isso deve prever não só a remuneração justa ao investidor e prestadores de serviços, como também ao governo e, principalmente, garantir um serviço de qualidade e com tarifas justas para a população”. Andriei Beber explica que a sensação de que as concessões são caras e não eficientes o bastante para a extensão geográfica do Brasil é um ponto a ser combatido. Segundo ele, isso começa mudando o modelo de governança que as empresas de concessões aplicam atualmente e no qual, no fim das contas, o resultado é voltado ape-


nas para a satisfação do acionista. Ele defende um conceito de stakeholder model, pelo qual todas as partes interessadas devem se beneficiar na proporção de sua participação. Numa concessão, portanto, o acionista deve ter lucros e dividendos compatíveis com o risco que assume. Se o risco é menor, dado o ambiente regulatório mais seguro, a rentabilidade é naturalmente menor, mas satisfatória. “Já o cidadão precisa pagar um preço justo para obter o equipamento de infraestrutura correspondente ao que paga”, diz. Assim, para todos os tipos de concessões, o governo precisa modelar o ambiente regulatório primeiro, de forma a enquadrar os players para equalizar as tarifas. “Falo da modicidade tarifária, que é comum no setor elétrico”. “A falta de modelagem também influencia no preço das tarifas de pedágios, pois quanto menos players são atraídos para a concessão, menor será a competitividade e maior o preço”, diz. Experiências de países menores economicamente, como a da Colômbia – que tem atualmente 25 bilhões de dólares contratados em concessões rodoviárias – são exemplos de que o Brasil tem boa oportunidade. Até mesmo a experiência local, como o Plano de Investimentos em Logística, lançado em 2012 e a modelagem de Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), servem de exemplo para pautar a modelagem adequada. Esse programa, lembra Andriei Beber, foi uma gestação interessante do que podem ser os programas de concessões bem-sucedidos daqui em diante.

Andriei Beber, professor e doutor em engenharia da Fundação Getúlio Vargas (FGV)

Diagnóstico Com esse tipo de proposição, o Infra2038 entende que é possível combater com eficiência o déficit na infraestrutura brasileira. “É uma tarefa árdua, mas possível”, diz. A dificuldade é ampla, ele admite, e pode ser demonstrada pelos altos custos dos nossos setores da infraestrutura. “A energia elétrica, por exemplo, tem 50% da fatura representada por impostos. Na Alemanha, a representatividade dos impostos na conta é quase nula. Esse custo faz com que o brasileiro consuma metade da energia elétrica de um inglês e apenas 11% do que consome um norueguês”, pontua ele. “Em outras palavras, a energia cara está afetando diretamente a capacidade produtiva e a competitividade industrial do Brasil”, completa. No saneamento básico, a cada 100 brasileiros, 43 têm seu esgoto coletado e tratado. Doze deles possuem soluções individuais (fossa séptica) e 18 têm esgoto coletado, mas não tratado. Os outros 27 não possuem sequer coleta. Essa defici-

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ência, defende o especialista, afeta diretamente a saúde pública, aumentando tanto o índice de mortalidade quanto os gastos hospitalares. “Nesse setor, atualmente, se extrai mais recursos com impostos do que se investe em manutenção e melhoria do sistema”, diz. Já as rodovias em má qualidade não só afetam o custo do transporte – e naturalmente dos produtos transportados – como também matam. Em 2016, foram 6,4 mil mortos e 21,4 mil gravemente feridos nas estradas do país. “O custo logístico, que é a soma dos gastos com transporte, estoque, armazenagem e serviços administrativos, consome 12,7% do PIB do Brasil, enquanto nos EUA o percentual é de 8%. Além disso, 10% da safra agrícola é perdida nas estradas precárias”, acrescenta. Nos planos do Infra2038, ao fim de 2038 o Brasil deveria ter um estoque nacional de infraestrutura com rodovias representando 18% dos recursos, saneamento 13%, ferrovias 12%, telecomunicações 11%, mobilidade 9%, portos 4% e aeroportos 2%.


Artigo

Edifícios Inteligentes: Faça as malas, você vai morar em um

Até 2050, 90% da população da América Latina vai morar em uma megacidade, e para acomodar tantas pessoas, além de cidades inteligentes, precisaremos de edifícios inteligentes. Por Gabriel Lobitsky * Uma pesquisa da Frost & Sullivan destacou que até 2025 apenas 26 cidades no mundo serão inteligentes, e a Internet das Coisas e a Gestão de Ativos (EAM – Enterprise Asset Management, em inglês) serão os protagonistas

desse desenvolvimento. No entanto, para serem qualificadas como ‘Inteligentes’, as cidades precisam que os ativos de energia, construção, mobilidade, saúde, infraestrutura, tecnologia, governança e educação sejam

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transformados e revertidos em melhorias e agilidade para a população. No caso da América Latina, que ainda engatinha em projetos de ‘smart cities’, há poucos exemplos locais, mas a atenção ao tema


precisa aumentar, uma vez que a ONU prevê que até 2050, 90% da sua população viverá em megacidades. Hoje, claro, existem iniciativas mais avançadas que outras, como é o caso da cidade de Medelín, na Colômbia, que tem apostado em construções mais sustentáveis e em internet das coisas; em São Paulo, há parcerias público privadas acontecendo a fim de otimizar a vida urbana – levando a inteligência para a rede elétrica, semáforos e internet. Aos poucos, também começam a surgir projetos do lado da construção civil, com IoT e EAM para tornar os edifícios mais inteligentes. De acordo com uma pesquisa do IDC (IDC Energy Insights), os investimentos em soluções para tornar os edifícios mais inteligentes podem chegar a US$ 17.4 bilhões até 2019, e as construções inteligentes representarão 7% do mercado total das cidades inteligentes até 2025. Acontece que quando falamos em tecnologias para smart buildings, nos referimos a pequenos sensores, sofisticados, acessíveis e conectados por meio de software de Internet da Coisas e EAM, os quais darão sentido a todos os dados gerados. Outro detalhe, é de que um edifício inteligente é verde, seguro e produtivo. A otimização do uso da energia, da segurança, e a qualidade de vida estão entre os benefícios que esse modelo oferece e, com a comunicação entre sistemas – alarme, supressão de incêndio – é possível oferecer melhor qualidade na segurança, água e ar, impactando na saúde dos indivíduos. De forma prática, em um edifício inteligente, os equipamentos

que alimentam esses recursos não funcionam como peças independentes, pois precisam estar ligados uns aos outros para serem capazes de se comunicar máquina a máquina. Por exemplo, o resfriador pode receber dados externos e informações da temperatura interna, operando, quando necessário, para manter a temperatura interna ideal; os sistemas de segurança, iluminação e ambiente podem economizar a vida útil dos ativos e reduzir o uso de aquecimento ou o arrefecimento, quando não houver ninguém no local; ou ainda, as leituras de sensores do sistema HVAC – aquecimento, ventilação e ar condicionado – podem ser usadas para gerar ordens de serviço, solicitando peças para manter a eficiência e a funcionalidade de cada equipamento, evitando assim interrupções desnecessárias.

O que os dados fazem? Os dados têm grande relevância nos edifícios inteligentes. O uso de sensores, Internet das Coisas, e outros dispositivos conectados geram grandes quantidades de dados que gestores podem usar para monitorar o desempenho, rastrear a localização física dos ativos e detectar potenciais problemas operacionais. Por isso, uma solução de gestão de ativos é um recurso estratégico na análise de dados estruturados e não estruturados, que podem ajudar na melhor tomada de decisão, descoberta de oportunidades para economizar dinheiro e melhorar a eficiência operacional. Os mecanismos de análise e insights em tempo real trazem mais automação e visibilidade ao planejamento; além de garantir melhorias na segurança por meio da

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* Gabriel Lobitsky é diretor de vendas da Infor para o Sul da América Latina.

manutenção e gestão de operações. Por exemplo, os profissionais da gestão do edifício podem analisar em tempo real os dados sobre a quantidade de energia que um sistema de aquecimento está usando, a partir daí será possível decidir se é hora de realizar uma manutenção preventiva, mudar a operação do equipamento ou mesmo descartá-lo. Um sistema EAM consegue, inclusive, agendar automaticamente as ordens de serviço para essa ação prévia. Em um edifício inteligente a iluminação, refrigeração, aquecimento, segurança e outros sistemas se comunicam perfeitamente através da IoT. O futuro trará um número grande de pessoas para conviver em ambientes que hoje, possivelmente, ainda não existem. Com aplicação da Internet das Coisas e outras tantas capacidades tecnológicas, seremos capazes de reduzir custos, aumentar a eficiência operacional desses ambientes, e o melhor, melhorar e alavancar a qualidade de vida das pessoas, sejam elas moradoras ou não desses edifícios.


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Empreiteira de telecom mostra como é ser competitivo no subsolo

A empreiteira de telecomunicações Etelge atua em oito estados Brasileiros. Atende grandes operadoras de telecomunicações prioritariamente, e tem como especialidade a instalação de redes subterrâneas, usando métodos não-destrutivos (MND) na maioria das operações. Para isso, conserva uma frota própria de cinco perfuratrizes direcionais, sendo três da Vermeer. As outras duas também são de marca norte-americana, que, segundo o diretor Eduardo Nogueira Amaral, são tecnicamente

melhores que os equipamentos produzidos na Ásia. Atento à pulverização de mercado, com a ascendência dos provedores regionais instalando redes de fibra óptica em cidades menores, ele não descarta ampliar o leque de clientes e mostra que ter frota própria faz toda a diferença no poder competitivo. A cidade de Brasília concentra a maior parte dos serviços da Etelge. Dentro da região geográfica que atua (Centro Oeste e Norte), faz todo o sentido, pois as instalações em MND estão sendo

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demandadas com maior frequência nas grandes cidades, como a própria empreiteira já mapeou. “Algumas cidades de Minas Gerais também têm requerido o nosso serviço em alto volume. Depois, temos mais clientes em cidades goianas e sul-mato-grossenses, estando os municípios do Mato Grosso e Tocantins ganhando relevância nos últimos tempos. No Norte, Acre e Rondônia, temos poucas operações ainda, mas iremos ampliar”, diz Eduardo Amaral. A qualidade técnica, segun-


Etelge usa frota própria de perfuratrizes direcionais para instalar redes subterrâneas e comprova que é possível equalizar a relação custo-benefício, mesmo oferecendo um serviço de qualidade superior aos clientes operadores de telecomunicações.

do ele, é o principal cartão de visitas. “Somos profissionais egressos da Elektro e temos 21 anos de empresa, sendo os últimos 15 totalmente focados na instalação de redes subterrânea de telecomunicações”, pontua...

Passo a passo eficiente Ele descrever o ciclo para a instalação de rede de fibra óptica por MND começando por um levantamento geral para conceber o projeto. Nessa etapa, é preciso avaliar os locais

onde o MND é indispensável e outros onde a sua utilização pode ser vantajosa econômica e operacionalmente. “Geralmente, a tecnologia mais avançada é imprescindível em travessias de rios, lagos, pontes, viadutos, etc.”, diz o especialista. “Em outras situações, ela é preferida. São os casos de vias de alto tráfego, nas quais a interferência no cotidiano da cidade pode custar bastante caro se optarem por abrir valas ou instalar redes aéreas”, completa. Definidos os locais de instalação por método não-destrutivo, entra a etapa de sondagens. O primeiro passo é o mapeamento do subterrâneo, identificando redes de água, energia, petróleo e gás, esgoto e outras de telecomunicações que passam pelo local. Depois, detalha Eduardo Amaral, são feitas sondagens por amostragem (retirada de corpo de prova) para avaliar as características do solo e definir a química necessária – como betonita ou polímeros – para a perfuração direcional. “Há também a opção do georeferenciamento para a sondagem. É uma tecnologia bem mais avançada, mas que, por questão de custo inicial, tem sido pouco adotada pelas operadoras”, diz ele. A perfuração do poço de acesso é o passo seguinte, que ocorre devidamente aparada por isolamento da área de operação. “Depois posicionamos a tubulação e iniciamos a perfuração direcional”, diz o especialista, salientando que,

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quando há necessidade, usa o alargador. A declividade média dessas perfurações fica na faixa de 30%, sendo que o equipamento navega entre 2 e 3 metros de profundidade, geralmente. Em algumas ocasiões, principalmente quando há outras redes subterrâneas no local, a perfuração é mais cuidadosa e isso também explica a determinação da Etelge ao adquirir equipamentos de alto nível tecnológico para operar. “Temos uma Navigador D24X40II da Vermeer, que é a máquina mais avançada tecnologicamente da nossa frota”, diz o especialista. O equipamento tem força de empuxo e puxada de 11 toneladas e torque rotacional de 4.200 libras/ pés. A empresa também tem duas unidades D24X40A da Vermeer, com motor Deutz de 74hp de potência e força de empuxo ou puxada de 8,8 toneladas. “Utilizamos hastes de perfuração de 1,5m a 3,05 metros, o que nos permite atuar com bom custo-benefício em perfurações longas ou curtas”, diz Eduardo Amaral.

Custo-Benefício A relação de custo operacional versus faturamento pelos serviços é, segundo o especialista da Etelge, o seu diferencial competitivo. Fazendo uma relação básica de que as operações de abertura de vala têm custo inicial de cerca de 70% menos que as feitas com MND, ele demonstra que consegue


Canaris Content ser competitivo no mercado de telecomunicações pelo fato de deter equipamentos próprios. “Em muitos casos, quando o empreiteiro precisa locar equipamentos ou pagar por metro instalado, a conta não fecha. Conosco é diferente, pois temos frota suficiente para atender diversos projetos paralelamente e conseguimos preço competitivo, principalmente em situações nas quais a recomposição do piso – muitas vezes em pedras ou lajotas nas calçadas – pode representar alto custo, que sai do controle da planilha. Isso costuma ocorrer quando há aberturas de valas não avaliadas corretamente”, diz. Confiante no mercado de telecomunicações, principalmente no Centro Oeste, Eduardo Amaral diagnostica que há um movimento intenso de

provedores regionais substituindo redes de rádio por fibra óptica. E aí pode estar um mercado interessante para a Etelge no futuro próximo. A percepção dele é balizada por números da Anatel, a quem, aliás, ele credita a responsabilidade de ampliar as exigências para promover a instalação de redes subterrâneas em detrimento das aéreas, que ainda hoje são grande maioria quantitativamente. Em 2016, último ano no qual os dados da agência foram consolidados, o número de acessos à banda larga promovidos por provedores regionais por meio de fibra óptica dobrou, passando de 2% de representatividade para 4% no Centro Oeste. A estimativa é que tenha havido crescimento semelhante em 2017, principalmente porque a demanda

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por banda larga na região não para de crescer. Em 2015 e 2016, exatamente 117 e 85 novas empresas, respectivamente, tiraram licença SCM para ofertar transmissão de dados em alta velocidade na região. Muitas dessas empresas são potenciais clientes para instalação de redes subterrâneas, o que justifica o olhar atento da Etelge para esse mercado e a sua preparação técnica para atender com agilidade e qualidade, por meio de uma frota de equipamentos avançada e majoritariamente composta por perfuratrizes direcionais Navigators, da Vermeer.


Neozelandeza Tait aposta no Brasil Empresa de radiocomunicação conta com setores da infraestrutura para crescer 35% nos próximos dois anos.

A empresa neozelandesa Tait Communications tem uma meta definida para suas operações no Brasil: crescer pelo menos 35% nos próximos dois anos, com a oferta de soluções para comunicações críticas. Apesar de diferentes entre si, as verticais focadas pela empresa – como construção, mineração, segurança pública e transporte e logística – enfrentam o mesmo desafio: ter uma plataforma de comunicação que inclua os recursos avançados de comunicação crítica, ou seja, à prova de

falhas. “Nossos clientes têm cenários desafiadores e a demanda por soluções convergentes e que funcionem com qualquer rede sem fio é cada vez mais comum no mercado de segurança”, explica Eugênio Mrozinski Neto, diretor de vendas da Tait. “Nos outros segmentos, a demanda se repete e pode até ficar mais complexa em função do ambiente de trabalho, como as plataformas de petróleo ou áreas remotas”, complementa. “Mais do que fornecedores, so-

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mos parceiros de nossos clientes, por isso entendemos seus problemas e trabalhamos em soluções completas e definitivas”, resume o executivo.

Polícias Militares, Bombeiros e Utilities de vários estados estão entre os clientes Eugênio destaca que unidade brasileira opera desde 2014 com escritório próprio, mas tem um histórico de pelo menos duas décadas no país por meio da SGM


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Comunicações, empresa que foi adquirida pela multinacional há quatro anos. O DNA em comunicações críticas, no entanto, vem desde 1969, quando a companhia foi fundada na Nova Zelândia. Hoje, a subsidiária brasileira baseada em São Paulo é o centro operacional no país, com estrutura comercial, técnica e de suporte própria. Uma das grandes mudanças é a criação da rede de canais parceiros, que passam a ser divididos e focados em verticais de atendimento. A meta arrojada de crescer pelo menos 35% está baseada no potencial do mercado local. Na área de segurança pública, por exemplo, o governo federal já anunciou investimentos superiores a R$ 40 bilhões. A estratégia de crescimento envolve a base instalada no Brasil, incluindo os mais de 20 anos de operação da ex-representante SGM Comunicações. A presença da Tait Communications acontece em várias unidades de polícia militar, incluindo São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Pará, Rio Grande do Sul, entre outras, e empresas da área de energia, óleo e gás e de transporte, inclusive o Metrô de São Paulo.

Rede Globo e PMs mostram uso de comunicação crítica em SP Além do mercado potencial, a Tait aposta em suas tecnologias como diferenciação no mercado local. Isso inclui o portfólio de controladoras, estações rádio base, terminais e rádios móveis, nas tecnologias P25 e DMR, padrões mundiais para comunicações críticas. Como tem know-how em ativações de redes críticas sem fio, a empresa também aposta na especialidade técnica de serviços como site survey, predição de cobertura de rádio frequência e análise de rede IP, entre outros. Para ampliar seu posicionamento, a Tait Communications reuniu parceiros e clientes em São Paulo, nos dias 18 e 19 de abril, no Consulado Geral da Nova Zelândia. Durante os dois dias ela coordenou o 1º Fórum de Comunicações Críticas, com palestras, apresentação de estudos de caso e de tecnologias, principalmente DMR e P25. O evento tem o apoio da New Zealand Trade & Enterprise (NZTE), a agência para o desenvolvimento do comércio internacional da Nova Zelândia. “Também apresentamos nossos parceiros comerciais do Brasil, os quais concluíram com sucesso o

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programa de certificação técnico e comercial, que é um dos mais rigorosos na área de comunicações críticas e que envolve informações sobre compliance, estratégias comerciais e tecnologias”, resume Flávio Marcelino, Gerente de Canais da Tait. De acordo com ele, a empresa tem reforçado o papel dos Parceiros de Soluções, que empacotam os recursos disponibilizados pela Tait, e dos Adaptadores de Veículos, parceiros que adotam os rádios da marca embarcados nas frotas cuja licitação ganharam. “São dois modelos de parcerias e que não concorrem entre si”, diz. O cônsul geral da Nova Zelândia em São Paulo e diretor da New Zealand Trade and Enterprise (NZTE) para a América do Sul, Nick Swallow, destaca que o país se notabiliza pelos investimentos em soluções eficazes que fortalecem as indústrias de defesa e segurança: “A Nova Zelândia é considerada um dos três países mais estáveis do mundo, segundo o Fragile States Index 2016. E as empresas neozelandesas do setor de defesa e segurança são internacionalmente reconhecidas pelo emprego da tecnologia de ponta com competitivo custo-benefício tanto para fins civis quanto militares”, conclui Swallow.


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Tech IoT

Tarifa Branca estimula adoção de IoT nas distribuidoras de energia .............. Por Ronaldo Vieira (*)...............

A chegada da IoT às concessionárias de serviços públicos em outro lado. As especificidades desta vertical determinam que uma distribuidora de energia que investe em IoT pesquise, também, tecnologias de segurança que resolvam as vulnerabilidades inerentes a essa infraestrutura. O ano de 2018 começou com uma boa notícia. Com a chegada da Tarifa Branca ao Brasil, o consumidor de energia elétrica passa a ter a possibilidade de pagar valores diferentes em função da hora e do dia da semana: a Tarifa Branca é mais barata fora do horário de pico e mais cara durante esse período. Segundo a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), o consumidor doméstico ou corporativo que adotar o modelo Tarifa Branca poderá economizar entre de 10% a 20% na conta de luz. Para que esse ganho seja possível, estão entrando em cena novos medidores de energia, dispositivos IoT (Internet of Things) que informarão online, real time qual é o consumo de uma casa ou empresa. A

visibilidade e a exatidão que a IoT traz às distribuidoras de energia são fundamentais para que a Tarifa Branca seja implementada e a cobrança pelo uso da energia seja correta. Ainda numa fase inicial de adoção, a Tarifa Branca alavanca a troca de milhões de medidores de energia tradicionais por novos modelos que ajudarão o Brasil a compreender a realidade de vastas infraestruturas de IoT. De um lado, ganha-se em automação, em escala e em visibilidade. De outro, é impossível fugir à preocupação com a segurança dos milhões de dispositivos IoT que irão suportar a Tarifa Branca. Outros países já estão vivendo essa realidade. Em

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Dubai, por exemplo, 400 mil medidores de energia baseados em tecnologia IoT estão provendo resultados tanto para a distribuidora de energia deste país – a DEWA, Dubai Electricity and Water Authority – como para os consumidores. Os medidores inteligentes ajudam a concessionária de energia a otimizar sua lucratividade por meio da redução de despesas associadas a roubo de energia e perdas técnicas de energia. Os consumidores, por outro lado, passam a ter acesso a dados de consumo de energia em tempo real, que poderão usar para aumentar sua eficiência energética, reduzir suas contas mensais e ajudar a concessionária a estabilizar a rede durante os períodos de pico. A chegada da IoT às empresas de utilities, ou seja concessionárias de serviços públicos, apresenta, porém, outra face. As especificidades desta vertical determinam que uma distribuidora de energia que investe em IoT pesquise, também, tecnologias de segurança que resolvam as vulnerabilidades inerentes a essa infraestrutura. Fortes exigências regulatórias — provocadas pelas preocupações típicas de uma infraestrutura essencial para o funcionamento da sociedade — colocam o setor de energia no topo do ranking de criticidade. Essa criticidade faz do setor de energia um grande alvo para ataques. O relatório do instituto de pesquisas Ponemon (edição 2017) sobre o custo das violações na área de Utilities mostra um quadro preocupante, ao menos nos EUA. Em 2016, a violação de dados custou em média, para cada concessionária de energia, quase 3,5 milhões

* Ronaldo Vieira é gerente de desenvolvimento de negócios em IoT da F5 Brasil

de dólares, com um custo de 137 dólares por medidor de energia. O prejuízo causado por ataques à essa infraestrutura permanece elevado, sem tendência de redução. Diante deste quadro, uma solução seria procurar dispositivos IoT mais seguros e, necessariamente, mais caros – o que contradiz um dos conceitos básico da Internet das Coisas, a escala trazida pelo baixo valor dos dispositivos. Outra possibilidade seria contratar soluções e serviços de segurança da informação que operam de forma centralizada. O mercado já conta com sofisticadas soluções de segurança que, sendo aplicada na frente da aplicação da distribuidora de energia, irão garantir a integridade, a disponibilidade e a confiabilidade da informação coletada pelos sensores em campo. A escolha dessa solução centralizada de segurança para ambientes IoT passa por vários fatores. É fundamental procurar plataformas que ofereçam segurança, confiabilidade, escalabilidade, baixa latência, desempenho,

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visibilidade e adaptabilidade. Esses valores contribuem para que as informações coletadas dos medidores de energia aconteça de forma transparente, simples, mas com total segurança. Em outras palavras: a segurança da infraestrutura IoT das distribuidoras de energia demanda soluções que, hoje, podem ser vistas protegendo aplicações de missão crítica como Internet Banking, plataformas de vendas de e-Commerce, etc. Esse conceito aplica-se às distribuidoras de energia, porque, na prática, o que rege as ofertas dessas empresas são grandes sistemas corporativos com máxima criticidade para essa empresa e para o país. Para que o ambiente de produção das distribuidoras de energia esteja realmente protegido, é fundamental usar o que há de melhor em segurança digital: proteção contra ataques DDoS, controle de identidade e acesso, firewalls, etc. Ao longo de 2018, as diversas distribuidoras de energia que operam no Brasil terão de lidar com as vulnerabilidades dos medidores de energia/dispositivos e encontrar saídas para aumentar a integridade desse ambiente. Num país do tamanho do Brasil, será inevitável que algumas empresas de Utilities saiam na frente da corrida pelo IoT – essas empresas serão, na prática, alavancas de crescimento da riqueza das regiões onde estão instaladas. Na disputa pelo futuro, ganhará quem aliar, à implementação de medidores de energia inteligentes, com uma política de segurança transparente, centralizada e comprovadamente eficaz.


Tech IoT

Construção ganha grupo de Internet das Coisas Como a RBC e o InfraROI vêm pontuando, a construção civil está chegando atrasada ao mundo da digitalização, mesmo em países avançados como os Estados Unidos. Para encurtar o gap em relação a outros segmentos, várias iniciativas estão sendo feitas e a mais recente delas é a Rede Construção Digital, um núcleo de relacionamento, pesquisa e negócios formado por pouco mais de 30 empresas. O grupo inclui desde construtoras tradicionais, fabricantes de insumos para o setor e companhias como a Mega Sistemas, desenvolvedora de plataformas para o segmento. A Rede não é fechada, ou seja, qualquer empresa que potencialmente faça parte do ecossistema pode se integrar ao movimento, coordenado pelo CTE em São Paulo.

Segundo Lucas Freitas, executivo que lidera a área de construção na Mega Sistemas, a ideia é criar o mesmo mecanismo existente na indústria automotiva, onde toda a cadeia produtiva troca experiências e favorece o desenvolvimento de negócios. “Nossa meta é trazer mais tecnologia para a construção civil, incluindo recursos como inteligência artificial e realidade aumentada”, explica. Autodenominado um “evangelizador” de inovações no segmento, Freitas atua há mais de dez anos especificamente aplicando TI em construção civil.

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Já a Mega Sistemas – que nasceu focada no setor há 20 anos – continua tendo o segmento como seu carro chefe. Na avaliação de Freitas, metade da carteira de clientes da companhia faz parte do ecossistema de construção civil, principalmente do ERP que seria o líder de adoção do setor, seja em seu formato completo ou com uso de partes da suíte. “Conseguimos integrar desde informações do canteiro de obras até o processo tributário”, resume o especialista. Freitas lembra que o avanço da digitalização nos canteiros é inevitável e que as tecnologias de TI devem deixar de ser vistas como custo marginal e sim investimento para controlar todo o avanço dos empreendi mentos.


Curso antecipa demanda por profissionais de IoT Com base no crescimento de 20% na quantidade de conexões máquina-máquina (M2M) no Brasil no ano passado, a Escola Politécnica da USP acredita que a exigência por profissionais qualificados em internet das coisas aumentará nos próximos anos. Em 2017, segundo a Anatel, já foram 14,8 milhões de conexões do tipo no país. “O nosso curso tem por objetivo justamente preparar, atualizar e qualificar profissionais envolvidos com a administração de projetos e desenvolvimento de produtos e serviços neste

novo contexto da globalização e digitalização”, diz Carlos Kaminski, coordenador do curso Gestão e Engenharia de Produtos e Serviços, do Programa de Educação Continuada (PECE) da Escola Poli-USP. “Embora a realidade do Brasil ainda não seja comparável à realidade de países de primeiro mundo, algumas empresas daqui têm avançado e apresentado recursos significativos”, conclui ele, salientando que o curso tem duração de 420 horas (dois anos) e certificado de conclusão emitido oficialmente pela Universidade de São Paulo (USP).

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IoT Satelital avança para situações off road

Os provedores de comunicação via satélite, que sempre foram associados a custos elevados, querem mudar essa visão. Agora querem se posicionar como empresas que chegam em locais onde a transmissão de dados e voz pode ser um problema. É o caso de países continentais como o Brasil e segmentos como os de mineração, no qual os recursos a serem explorados geralmente estão em áreas restritas. De olho nessa janela, a Globalstar mantém o país no seu portfólio, incluindo presença local, diferentemente de outras multinacionais do segmento. O posicionamento mais recente da companhia envolve a aplicação da Internet das Coisas (IoT) usando uma constelação de 72 satélites em baixa órbita (LEO). Nesse caso específico, a Globalstar investiu US$ 6,7 milhões no ano passado somente em duas iniciativas: US$ 3,7 milhões na área de Pesquisa & Desenvolvimento e

outros US$ 3 milhões na construção de uma rede terrestre de antenas em vários países. Com isso, ela pode oferecer o IoT satelital para incrementar operações de comunicação máquina a máquina (M2M), monitorar e gerir ativos remotos e servir como redundância para redes de comunicação terrestres. Com 4,9 mil clientes e 20 mil equipamentos, o Brasil representou um faturamento de pouco mais de US$ 2 milhões para a empresa no ano passado. “Com nossa tecnologia, torna-se viável rastrear praticamente qualquer coisa, desde bovinos, cargas, veículos em estrada e contêineres, até realizar o monitoramento de pessoas que praticam esportes de aventura ou atividades profissionais em lugares remotos”, explica Guilherme Abad, diretor de marketing da Globalstar Brasil e América Latina.

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Aeroporto inteligente está na mira da Huawei

A receita dos aeroportos do futuro, na visão da multinacional, envolve vários recursos de TIC, nossa velha conhecida sigla para tecnologia da informação e telecomunicações. As três letras levariam a um ecossistema com serviços digitais e visualizados de voos, atendimento a passageiros e operações aeroportuárias. Como? Combinando-se nuvem, internet das coisas (IoT) e inteligência artificial (IA), entre outros. Na prática, permitiriam uma operação em terra mais afinada. A presença da empresa no setor inclui cerca de 50 aeroportos, sendo 15 deles mundiais e com movimentação anual acima de 30 milhões de passageiros. Três exemplos recentes estão no Oriente Médio e na própria China. O primeiro é o Aeroporto Internacional de Hamad, onde a companhia instalou a solução de armazenamento OceanStor 9000, para operação nos próximos cinco anos. Em Dubai, também no Oriente Médio, a multinacional completou o primeiro Complexo Modular de Centro de Dados (MDCC) de nível III, que apoia o rápido crescimento e as complexas operações do aeroporto. Já a tecnologia eLTE foi ativada no Aeroporto Internacional Chongqing Jiangbei, da China. Operacionalmente, a citada eLTE viabiliza uma

rede sem fio para transmissão de voz, vídeo e dados, incluindo dados de banda estreita dos dispositivos de IoT. A unificação dos recursos viria com a plataforma de comunicação integrada e em tempo real. O portfólio envolve também segurança, inclusive com tecnologia de câmeras 4K inteligentes, conectadas através de uma rede de vídeo de banda larga, usando redes ópticas passivas (PON). O recurso envolve a análise inteligente de imagens e de vigilância, incluindo reconhecimento facial. A Huawei também está usando parcerias para consolidar sua penetração. Uma das frentes é a união com duas outras empresas, a Crystone e Oviphone, com a oferta de IoT e analítica de big data. Com a plataforma, os aeroportuários podem focar no gerenciamento da iluminação da navegação, localizando e rastreando veículos motorizados e não motorizados e monitorando o ambiente de terminais. Do lado dos passageiros, a empresa aposta em redes Wi-Fi para serviços baseados em localização (LBS) via Wi-Fi, vigilância de vídeo e analítica de big data. O foco é aperfeiçoar a experiência de passageiro com a habilitação para os passageiros de autosserviços, navegação interna e promoção comercial em prédios do terminal.

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Pacaembu Construtora adota software colaborativo no canteiro de obras do MCMV

Especializada no nicho de construções de baixo custo com alta qualidade, na sua própria definição, a construtora baseada em São Paulo tem uma carteira de empreendimentos do Minha Casa, Minha Vida e outras obras em cerca de 40 cidades do estado. A dispersão e necessidade de melhor gerenciamento pautou a mudança na área de tecnologia da informação. O cenário de gestão anterior, com armazenamento de documentos na rede interna e compartilhado via sharepoint, foi substituído por software de colaboração compartilhado na nuvem. Ao todo, 54 obras, entre pro-

jetos de infraestrutura, que envolvem terraplanagem, redes de água e esgoto, drenagem e ambiental, e projetos de habitação e complementares à habitação, ou seja, fundação e estrutura, hidro sanitário e instalação elétrica, já foram gerenciadas pela nova plataforma. “As informações ficavam em poder das filiais, tornando o processo de acompanhamento das obras moroso, pois não tínhamos conhecimento em tempo real do que estava sendo desenvolvido e nem do que era entregue nas obras”, resume o gerente de projetos, da Pacaembu Construtora, Marcelo Espinheira. De acordo

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com ele, a centralização dos documentos aumentou a visibilidade dos empreendimentos. A plataforma escolhida é o Colaborativo, desenvolvido pela Construtivo e que tem diferentes tipos e acesso para as áreas internas da Pacaembu. De forma geral, os departamentos de engenharia, projetos e jurídico, por exemplo, dividem informações sobre diretrizes, laudos e memoriais, entre outros. “Nosso maior ganho foi desenvolver projetos obtendo, desde seu início, o acompanhamento das revisões e das liberações de todos os envolvidos”, explica Espinheira.


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