Conde de Campanhã: Cerco do Porto | Coração de D. Pedro IV

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Conde de Campanhã Cerco do Porto Coração de D. Pedro IV

Augusto Moutinho Borges | António Pereira de Lacerda

BOOK BY THE

TÍTULO

Conde de Campanhã. Cerco do Porto | Coração de D. Pedro IV

© TEXTO

Augusto Moutinho Borges | António Pereira de Lacerda

REVISÃO

Luís Cortez da Silva Lopes Mafalda Pinto Basto de Lacerda

FOTOGRAFIA

Adelaide Nabais [pp. 13, 42, 44 (doc.), 51, 55, 60, 74, 89, 90, 93 (doc.), 96, 98 (doc.), 99, 100] Augusto Moutinho Borges [as restantes] João Cordovil Cardoso [p. 64 (busto), 80, 92, 102, 106-107, 113 (brasão), 114, 120, 130 (pintura), 135, 141-143] | Joaquim Simões [p. 84] | Leonor Andresen Guimarães [p. 75 (placa e caixa fechada)] Luís Chaves [pp. 54, 68] | Manuel Alfredo Cortez da Silva Lopes [p. 75 (caixa aberta)] | Fotógrafo da Casa Real [pp. 91, 94, 101]

DESENHOS DOS BRASÃO DE ARMAS

Reidarmas.com: Luís Camilo Alves

DESENHOS A TINTA DA CHINA

Marín Garcia [p. 6 Almeida, Edifício Principal (atual Paços do Concelho) (col. Garcia Agudo) p. 9 Porto, Muralhas (col. Garcia Agudo) | p. 10 Almeida, Quartel das Esquadras (col. Garcia Agudo) | p. 14 Almeida, Porta exterior de St.º António (col. Nabais Moutinho Borges) p. 21 Almeida, Porta interior de St.º António (col. Garcia Agudo) p. 28 Almeida, Vista geral da Porta interior de S. Francisco (col. Nabais Moutinho Borges) | p. 40 Almeida, Porta interior de S. Francisco, Guarita (col. Nabais Moutinho Borges) | p. 45 Almeida, Solar Almeida Pimentel (col. Garcia Agudo) | p. 46 Almeida, Cobertura da Porta interior de St.º António (col. Filipe Reis) | p. 67 Porto, Igreja da Lapa (col. Garcia Agudo) | p. 104 Gaia, Mosteiro da Serra do Pilar (col. Garcia Agudo) | p. 126 Porto, Largo da Sé (col. Garcia Agudo) | p. 128 Reigada, Casa Amarela (col. Garcia Agudo) | p. 132 Reigada, Casa Amarela (col. Garcia Agudo) | p. 134 Lisboa, Museu Militar (col. Garcia Agudo) pp. 136-137 Lisboa, Museu Militar (col. Garcia Agudo) pp. 138-139 Porto, Muralhas (col. Garcia Agudo)]

CAPA

Porto, Monumento a D. Pedro IV: “Entrega da urna com o coração do Imperador pelo Coronel Balthazar de Almeida Pimentel ao Presidente da Câmara Municipal do Porto”

EDIÇÃO DE IMAGEM

Maria João de Moraes Palmeiro

DESIGN

Veronique Pipa

COORDENAÇÃO EDITORIAL E PRODUÇÃO

Ana de Albuquerque Maria João de Paiva Brandão

IMPRESSÃO

Agir

ISBN 978-989-35053-1-1

DEPÓSITO LEGAL

514247/23

APOIOS

COMISSÃO PORTUGUESA DE HISTÓRIA MILITAR

© EDIÇÃO

Conde de Campanhã Cerco do Porto Coração de D. Pedro IV

Augusto Moutinho Borges António Pereira de Lacerda

Agradecimentos

Academia Militar, Arquivo Histórico Militar, Biblioteca Palácio Galveias/Câmara Municipal de Lisboa/Direção Municipal da Cultura/ Divisão da Rede de Bibliotecas, Biblioteca Pública Municipal do Porto, Câmara Municipal de Almeida, Câmara Municipal de Lisboa, Câmara Municipal do Porto, Câmara Municipal de Valongo, Comissão Portuguesa de História Militar – Ministério da Defesa Nacional, Direção de História e Cultura Militar, Estado Maior do Exército, Grupo Fibeira SGPS, GRAMA – Almeida, Fundação Eng.º António de Almeida – Porto, Instituto Arquivos Nacionais-Torre do Tombo, Museu de Angra do Heroísmo, Museu Militar de Lisboa, Centro Português de Fotografia – Porto, Museu Nacional de Soares dos Reis – Porto, Museu Romântico Quinta da Macieirinha – Porto, Museu de Santa Joana Princesa – Aveiro, Venerável Irmandade de Nossa Senhora da Lapa – Porto Abílio Loureiro Reis, Adelaide Carvalho, Tenente-general

Alexandre de Sousa Pinto, Álvaro Pacheco Valente da Silva, Dr. António Andresen Guimarães, Dr. António Maria de Lancastre de Mello e Castro (Antas, Lousã e Pernes), Dr. António Vicente Tavares Barreto, Eng.º Armando Martins, David Ferreira Novais, Diogo Jácome de Vasconcelos, Elvira Correia Basílio, Fátima Teresa de Abreu Coutinho, Dr. Fernando de Castro e Solla (Francos), Prof. Doutor Fernando Vasco Ribeiro, Coronel Francisco Amado Rodrigues, Prof. Doutor Francisco Ribeiro da Silva, Dr.ª Graça Martins Reis, Major-general

João Vieira Borges, Dr. José António de Herédia, José António Rebocho, José António Rebocho Esperança Pina (Mirandela), Coronel José de Athaíde Banasol, Dr. José de Castro e Solla (Francos), Luís Castro Gonçalves, Luís Pereira de Lacerda, Dr.ª Mafalda Pinto Basto Lacerda, Dr.ª Margarida Howorth Andresen Guimarães, Dr.ª Maria Adelaide Dias Coelho, Maria Antonieta Novais, Maria da Conceição de Herédia, Dr.ª Maria da Conceição Pereira de Lacerda, Dr.ª Maria da Graça Pereira de Lacerda, Dr.ª Maria João Bastos, Maria Joana de Lacerda Andresen Guimarães Leitão, Dr.ª Maria Leonor Lacerda Tavares Barreto, Dr.ª Maria Lobato Guimarães, Maria Luísa Cardoso de Menezes Lacerda, Maria Luísa Pereira de Lacerda, Prof.ª Doutora Maria Manuela Maia de Oliveira e Rebelo, Dr. Miguel Esperança Pina (Mirandela), Dr. Pedro Pestana da Silva Lopes Vasco Jácome de Vasconcelos e muito especialmente a Luís Cortez da Silva Lopes

APOIOS INSTITUCIONAIS

Câmara Municipal de Almeida

Câmara Municipal do Porto

Comissão Portuguesa de História Militar – Ministério da Defesa Nacional

Fundação Eng.º António de Almeida

Irmandade de Nossa Senhora da Lapa, Porto

Junta de Freguesia de Campanhã

Junta de Freguesia do Centro Histórico do Porto

Família Castro e Solla (Francos)

Família Lacerda Andresen Guimarães

Família Lancastre de Mello e Castro (Antas, Lousã e Pernes)

Família Pereira de Lacerda

Família Almeida Moutinho Borges

ABREVIATURAS

AD : Arquivo Distrital de

AHM : Arquivo Histórico Militar

arq. : arquivo

Cx. : caixa n.º

CM : Câmara Municipal de

c. : cerca de

cf. : citação

col. : coleção

CPHM : Comissão Portuguesa de História Militar

coord. : coordenação

dir. : direção

doc. : documento

fl. : fólio / folha

Fr. : Frei

Hab. : Habilitação

IAN-TT : Instituto Arquivos Nacionais-Torre do Tombo

Liv. : livro

Mç. : maço

micr. : microfilme

MRQM : Museu Romântico da Quinta da Macieirinha

Pe. : padre

SCM : Santa Casa da Misericórdia de

v. : verso

vol. : volume

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Uma família de militares em Portugal, séculos XVII-XIX

Das Guerras da Aclamação, 1640-1668, à Guerra Civil Liberal, 1832-1834

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41 105

General Balthazar de Almeida Pimentel, Conde de Campanhã

Ajudante de Campo de D. Pedro IV, D. Augusto e D. Fernando II

Heróis do Cerco do Porto

titulados com topónimos da cidade

Conde das Antas, Conde de Bonfim, Conde de Campanhã, Visconde de Francos, Barão de Monte Pedral e Barão de Lordelo

Prefácio
Apresentação 11
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Herói
Balthazar de Almeida Pimentel
do Cerco do Porto

Muito devem a cidade do Porto e o nosso país ao espírito intrépido dos homens que, com D. Pedro, desembarcaram, a 8 de julho de 1832, na Praia da Memória, para mudar para sempre o curso da História de Portugal.

Foi a Norte que D. Pedro e as suas tropas iniciaram, no continente, a marcha que os levaria a libertar Portugal do jugo absolutista de D. Miguel. Essa decisão reveladora de grande rasgo estratégico deveu-se, em particular, a Balthazar de Almeida Pimentel. E uma vez acolhidos os liberais pelo Porto após o sucesso da operação de desembarque, o capitão Almeida Pimentel voltaria a revelar génio e denodo durante o devastador cerco imposto à cidade pelo exército miguelista – designadamente na defesa da frente leste, em Campanhã. Aí, lado a lado com a resiliente e heroica população portuense, o capitão “teve uma ação contundente na defesa de locais chave para a manutenção defensiva da cidade”, como podemos ler nas páginas desta obra que, para nossa ventura, Augusto Mourinho Borges e António Pereira de Lacerda agora reeditam.

Com efeito, nesta biografia de uma figura omnipresente daqueles tempos fraturantes, a cidade do Porto aparece frequentemente como cenário de eventos históricos marcantes. De resto, os laços que uniam ao Porto o amigo pessoal e camareiro do rei D. Pedro IV não se esgotavam no brilhantismo revelado nas guerras liberais: Almeida Pimentel haveria de dar mostras de fidelidade à sua memória uma vez mais, na hora da morte do monarca.

Na sequência do falecimento do “Rei Soldado”, uma carta endereçada pela imperatriz viúva D. Amélia à Câmara Municipal do Porto – que o livro oportunamente reproduz na íntegra – dava a conhecer a última vontade de D. Pedro IV: entregar o seu coração à cidade que, em tempo de guerra e privação, lhe dera prova de valentia e cumplicidade com a sua causa.

Dessa tarefa viria a ser incumbido o constante coronel, que escoltou a espada, o chapéu e o coração do rei até à cidade e os entregou ao presidente da Câmara, Vicente Ferreira Novais, e aos seus habitantes. Foi, aliás, esse episódio que, juntamente com a representação do desembarque, se eternizou nos baixos-relevos em bronze inculcados no pedestal do Monumento a D. Pedro IV, elevado na Praça da Liberdade, no Porto.

7
Prefácio

Nesse ato simbólico de que tomou parte, Balthazar de Almeida Pimentel foi testemunha e protagonista de mais um capítulo da longa história que liga intimamente D. Pedro IV ao Porto, e que a cidade e a Irmandade da Lapa exaltam, em cada dia 24 de setembro, na igreja que desde então guarda o coração do rei – o que voltou a ocorrer em ano de celebração do bicentenário da independência do Brasil, acontecimento histórico para o qual D. Pedro tanto contribuiu.

A evocação do espírito da Revolução Liberal e do Cerco do Porto deve ser, contudo, mais do que um exercício historiográfico ou memorialístico: deve propor uma celebração do próprio ideário que os animou. E Balthazar de Almeida Pimentel foi não só o fiel depositário do mais precioso bem de D. Pedro, como de todos os valores identitários que os portuenses ainda hoje partilham: honra, lealdade, convicção e liberdade.

Do mesmo modo que evocamos Almeida Pimentel, devemos recordar quem perfilhou estes mesmos valores nas fileiras do exército liberal, como o Conde das Antas, o Conde do Bonfim, o Visconde de Francos ou o Visconde de Valongo. Imortalizados pelos seus feitos e titulados nobiliarquicamente com topónimos do Porto, é com inteiro mérito que os autores reservam relevante destaque a estes militares na presente obra: Conde de Campanhã: Cerco do Porto e o Coração de D. Pedro IV.

Estão por isso de parabéns Augusto Mourinho Borges e António Pereira de Lacerda, que em boa hora decidiram resgatar a memória de vida do Conde de Campanhã. Não só porque a sua vida cheia, intensa, marcante é digna de ser contada, mas também porque nela entrevemos a História do nosso povo.

No Porto, que D. Pedro dizia ter sido o “teatro da minha verdadeira glória”, Balthazar de Almeida Pimentel foi, no seio do exército liberal e junto da massa popular portuense, protagonista maior de um período histórico definidor da identidade da cidade. Mas os seus sofrimentos, as suas lutas, as suas conquistas abriram também caminho a um país mais livre, fraterno e justo, como é o Portugal democrático de hoje.

Apresentação

Ao longo da vida, todas as pessoas, pelas suas características pessoais, familiares, locais onde crescem e desenvolvem estruturas económico-sociais, contribuíram e contribuem para alicerçar a definição da História local, nacional e internacional. Dar a conhecer personagens e factos que marcaram, de uma maneira ou de outra, o rumo da nossa presença temporal na terra, ajuda a compreender mais e melhor os movimentos sociais do passado e também os do presente e aprender, de uma forma construtiva, com os erros cometidos.

Uma biografia é tanto mais rica quanto o autor conseguir familiarizar-se com o biografado, recuar à época em que viveu, percorrer e repisar os locais por onde passou e deixou a sua marca intemporal, movimentos que, como autores, tentámos realizar para, de forma objetiva e concreta, reavivarmos o passado diacrónico de Balthazar de Almeida Pimentel.

O livro nasceu nas raízes familiares, que os autores têm em Almeida, e na vontade conjunta de dar a conhecer um almeidense, que se notabilizou pela sua carreira militar e personalidade liberal que tanto honrou a sua terra natal. A Praça de Almeida, em plena Riba Côa, desempenhou um papel importante na defesa militar da fronteira, desde os primeiros anos da consolidação de Portugal como reino independente, passando pelo Tratado de Alcañices, em 1297, rumo a 1927, ano em que o último Batalhão de Infantaria deixou a localidade.

A sua atual estrutura muralhada, de cariz abaluartada, foi palco das Guerras da Restauração, 1640-1668, das Campanhas Peninsulares, 1807-1812, e do conflito que opôs Liberais e Miguelistas, 1832-1834, sendo considerada uma das fortalezas monumentais de Portugal, classificada como Monumento Nacional e em vias de ser reconhecida como Património UNESCO integrada na rede de fortificações abaluartadas da raia luso-espanhola.

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Balthazar de Almeida Pimentel nasceu, em 1786, no seio de uma família fidalga de militares que se estabeleceu em Almeida. Seu pai foi Governador da Praça de Penamacor e do Regimento de Infantaria desta Praça, seu avô paterno foi Sargento-Mor em Viana do Castelo e seu bisavô Capitão na Guerra da Restauração. Os militares da família Almeida Pimentel combateram nos diversos conflitos armados e guerras ao longo de duzentos anos, desde o primeiro quartel do século XVII a meados do século XIX. Alguns deles notabilizaram-se na arte da guerra, tendo sido agraciados com as mais altas condecorações do estado e nobilitados pelos seus atos singulares, ações castrenses e participações militares ao serviço da causa pública e família real.

A investigação desenvolveu-se nos arquivos familiares, quer documental, quer fotográfica, nos arquivos públicos, nas fontes escritas avulsas e bibliografia temática, tendo como objetivo da apresentação em continuar, com a visão integralista atual da historiografia da época, o diário que Balthazar iniciou, dando a conhecer com quem se cruzou e conviveu, enquadrando-o sempre nos principais factos temporais e, de uma forma cronológica e simples, proporcionar ao leitor uma leitura agradável enriquecida por vastas fontes gráficas.

Balthazar de Almeida Pimentel, Conde de Campanhã, viveu 90 anos. Iniciou a sua carreira militar em 1799 na Praça de Almeida e atravessou, tanto a nível militar como político, os períodos conturbados do século XIX, salientando-se de modo particular a estreita proximidade que tinha com a família real.

A obra conta com diversos apoios, quer para a impressão, quer em informações, cedência de fotografias e documentos, o que muito contribuiu para enriquecer a história do biografado e seus familiares. Uma palavra muito especial à editora By the Book, pelo seu empenho em congregar esforços para a publicação que reflete a investigação sobre o Conde de Campanhã. Muito haveria ainda por escrever e acrescentar à obra, convictos que após a publicação do livro irão surgir novos dados, complementos que ficam em arquivo para posteriores intervenções.

Em preito de homenagem, os autores dedicam a obra à Câmara Municipal do Porto e à Venerável Irmandade de Nossa Senhora da Lapa, fiéis depositários da memória histórica do Cerco do Porto e da salvaguarda do Coração de D. Pedro IV.

António

entre Porto, Lisboa, Almeida e Ponte da Barca

Uma família de militares em Portugal, séculos XVII-XIX

Das Guerras da Aclamação, 1640-1668, à Guerra Civil Liberal, 1832-1834

Balthazar de Almeida Pimentel nasceu em outubro de 1786 na Praça e Vila de Almeida, no seio de uma família de militares e foi, como podemos constatar ao longo das páginas seguintes, um dos mais brilhantes oficiais portugueses do século XIX. Desde muito novo seguiu, tal como seu pai e antepassados, a carreira das armas. Serviu no Regimento de Penamacor, aquartelado em Almeida, do qual o pai era Comandante, tendo integrado a Legião Portuguesa (Legião Lusitana) comandada pelo 3.º Marquês de Alorna 1 , durante o período das Terceiras Invasões Francesas 2 , que ocorreram em território nacional entre 1807 a 1812. Neste enquadramento esteve nas principais batalhas onde a Legião Portuguesa participou, desde França, Alemanha e Rússia, atingindo o posto de Capitão, desempenhando funções de comando, as quais lhe foram muito úteis para o futuro e carreira das armas.

Regressado a Portugal em 1814 apresentou-se ao Ministro da Guerra em 1 de novembro desse mesmo ano, sendo integrado no Exército como oficial sem emprego, encontrando-se na cidade do Porto em 1820, no advento da Revolução Liberal.

Em 1822 foi chamado a exercer funções de chefia à frente de uma coluna militar, dirigindo-se à cidade de Braga para acabar com a insurreição do General Silveira 3 , que pretendia ocupar a cidade, incumbência que desempenhou com esmero e reconhecimento por parte dos seus superiores. Pelas funções anteriores, foi nomeado

1. D. Pedro de Almeida Portugal (1754-1813).

2. Também designadas em Portugal como Guerra Peninsular e em Espanha como Guerra da Independência.

3. Francisco da Silveira Pinto da Fonseca Teixeira (1763-1821), 1.º Conde de Amarante, político e General do Exército Português, que se destacou na Guerra Peninsular.

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Heróis do Cerco do Porto titulados com topónimos da cidade

Conde das Antas, Conde de Bonfim, Visconde de Francos, Barão do Monte Pedral e Barão de Lordelo

Após a vitória do Exército Libertador face aos realistas, seis oficiais que se destacaram no Cerco do Porto foram nobilitados com topónimos associados à defesa da cidade, onde se encontravam instaladas baterias que, tenazmente, retaliavam investidas miguelistas. De Balthazar de Almeida Pimentel já desenvolvemos a sua brilhante carreira militar, interligando-o com futuros generais titulados e com quem vida fora mantiveram relações de amizade, embora tenham discordado politicamente dos rumos ideológicos de governos de então: Francisco Xavier da Silva Pereira (1793-1852), conde das Antas, José Lúcio Travassos Valdez (1787-1862), conde de Bonfim, Fernando da Fonseca Mesquita e Sola (1795-1857), visconde de Francos, José Baptista da Silva Lopes (1784-1857), barão de Monte Pedral, e José da Fonseca e Gouveia (1792-1863), barão de Lordelo.

Comparemos as vivências entre si, inícios das carreiras militares e participações em cenários de guerra, compreendendo as experiências castrenses que lhes possibilitaram atuar nos campos de batalha como comandantes exímios que muito contribuíram para a vitória liberal na Guerra Civil de 1832-1834 e nas subsequentes ao longo do século XIX

Os seis titulares, conde das Antas, Bonfim e Campanhã, visconde de Francos, barão de Monte Pedral e barão do Lordelo, nasceram entre 1784 e 1795, entrando para o exército com idades compreendidas entre os 14 e os 21 anos. Combateram nas Campanhas da Guerra Peninsular (1808-1814), à exceção de Campanhã e de Francos, tendo sido agraciados com a Medalha de Ouro por seis campanhas desta guerra.

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O barão de Monte Pedral devido aos graves ferimentos que sofreu nos dois cercos de Badajoz em 1811, não participou nas restantes batalhas.

Aderiram à Revolução Liberal de 1820 e à Revolução de Maio de 1828. Em virtude do exército de D. Miguel ter derrotou as forças de D. Pedro IV em 1828, os vencidos exilaram-se em Inglaterra e o barão de Lordelo em Espanha. Mais tarde participaram nas batalhas dos Açores e tomaram parte na expedição de D. Pedro IV que desembarcou no Mindelo em 8 de julho de 1832 (Francos e Bonfim integraram o Batalhão Sagrado, constituído só por oficiais), entrando no Porto sem resistência por parte das forças miguelistas, que abandonaram a cidade.

Combateram com bravura e valentia nas batalhas do Cerco do Porto (1832-1833), como Ponte de Ferreira, na zona de Francos, no Bonfim, Antas, Monte Pedral, na defesa do a castelo de São João da Foz, Lordelo e Campanhã/Goelas de Pau. Pelas suas ações nestas batalhas foram condecorados com a Ordem de Torre e Espada, a mais elevada ordem honorífica portuguesa.

No Cerco do Porto os oficiais tiveram dezasseis cavalos mortos pelo fogo do inimigo. Balthazar de Almeida Pimentel teve três cavalos mortos nos dias 22, 23 e 25 de julho de 1833, no reconhecimento de Valongo, na batalha de Ponte de Ferreira e na batalha sobre as linhas do Porto. Fernando da Fonseca Mesquita e Sola teve um cavalo morto na defesa do Pasteleiro84 .

Os títulos recebidos foram atribuídos pelas batalhas onde os futuros titulares mais se distinguiram, tais como Antas, Bonfim, Campanhã, Lordelo, Francos e Monte Pedral.

Após a Convenção de Evoramonte, entre 1834 a 1845, exerceram cargos políticos como deputados nos círculos eleitorais de Viana, Leiria, Algarve, Beja, Douro e Alentejo. O barão de Lordelo não foi deputado. O conde de Bonfim, em 1837, foi nomeado ministro da Marinha e interino da Guerra. Em 1839 foi Presidente do Conselho de Ministros, ministro da Guerra e interino da Marinha. O visconde de Francos foi ministro da Guerra em 1848 e, em 1851, ministro da Guerra e da Marinha e Ultramar. Durante a Revolta de Maria da Fonte, em 1847, o conde das Antas assumiu a presidência da Junta Provisória do Governo Supremo do Reino. Por ocasião da revolução de setembro de 1836 o conde de Campanhã foi preso na Torre de Belém. Durante a Guerra Civil da Patuleia (1846-1847) foi preso no Forte de S. João Batista e na Cadeia da Relação do Porto, juntamente com o duque da Terceira. O conde das Antas foi detido na Barra de Lisboa por tropas inglesas

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84. 4 março 1833.

auxiliares da Rainha e aprisionado na fortaleza de S. Julião da Barra, em maio de 1847, até à Convenção de Gramido. Na Revolta de Torres Vedras, em 1844, o conde de Bonfim foi aprisionado e deportado para Angola.

Os cinco generais titulares foram nomeados Par do Reino; o conde das Antas e o conde de Bonfim em 1842, o conde de Campanhã em 1849, o barão de Monte Pedral em 1850 e o visconde de Francos em 1853.

Os seis titulares atingiram os mais altos postos militares e funções governativas, sendo muito próximos da Casa Real: conde das Antas atingiu a patente de Tenente-general, durante a Guerra Civil da Patuleia (1846-1847) foi presidente da Junta Provisória do Governo Supremo do Reino no Porto e Comandante-geral do Exército; o conde do Bonfim atingiu a patente de Tenente-general e foi Presidente do Supremo Conselho de Justiça Militar; o conde de Campanhã atingiu a patente de Tenente-general, foi Gentil-Homem efetivo junto à Real Pessoa de Sua Majestade Rei D. Fernando II; o visconde de Francos atingiu a patente de Brigadeiro-general, foi Secretário-geral do Governo de Angola, nomeado ministro diversas vezes e Comandante da Guarda Municipal de Lisboa; o barão de Monte Real atingiu a patente de Tenente-general, foi nomeado Inspetor do Arsenal-Geral do Exército e fundador do Museu de Artilharia, atual Museu Militar de Lisboa; o barão de Lordelo atingiu a patente de Tenente-general, foi nomeado governador-geral da província de Angola cargo que não chegou a exercer e administrador geral do distrito do Funchal, lugar que desempenhou com invulgar brilho e “fausto”.

Os primeiros cinco titulares foram homenageados com topónimos e placas de memória em Almeida, em Lisboa, na Reigada e em Valongo, localidades onde nasceram ou tiveram papel militar de relevância.

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Lisboa Lisboa Almeida Lisboa Reigada

No fim de vida nenhum quis ser enterrado com pompa e circunstância, desejando serem sepultados como soldados em campa rasa, tal como D. Pedro IV, a quem serviram, pretendeu e quis ser. O visconde de Francos foi sepultado na Reigada, o barão de Monte Pedral em Lagos o barão de Lordelo foi sepultado no Porto e os outros três titulares, com topónimos do Cerco do Porto, foram enterrados no cemitério dos Prazeres, em Lisboa, destacando-se o monumento do conde das Antas, com escultura de corpo inteiro, edificado por subscrição pública, e o mausoléu do conde de Bonfim.

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Lisboa, Cemitério dos Prazeres, Mausoléo do conde das Antas (col. Lancastre de Mello e Castro)

MILITAR E POLÍTICO CONDE DAS ANTAS CONDE DE BONFIM CONDE DE CAMPANHÃ VISCONDE DE FRANCOS

Deputado, círculo eleitoral

Senador pela Guarda e por Lisboa

Leiria

BARÃO DE MONTE PEDRAL

Douro e Alentejo Angola e Douro Estremadura e Beja

BARÃO DE LORDELO

Ministro

Presidente Conselho Ministros e Ministro da Guerra e da Marinha

Ministro da Guerra

Generalato Tenente-general Tenente-general Tenente-general Brigadeiro Tenente-general Tenente-general

Presidente Junta

Prov Governo Supremo Reino

Cargo

Porto (Patuleia) e GovernadorGeral da Índia

Presidente do Supremo Conselho de Justiça Militar

Par do Reino

Chefe do Estado Maior, e Gentil Homem efetivo do Rei

D. Fernando II

Par do Reino

Comandante da Guarda Municipal de Lisboa

Par do Reino

Inspetor do Arsenal-Geral do Exército, fundador do Museu Militar de Lisboa

Par do Reino

Governador-geral da província de Angola cargo que não chegou a exercer; Administrador geral do distrito do Funchal

Prisão

Preso em S. Julião da Barra (Patuleia, 1846)

Preso pelos miguelistas e fugiu

p/ Espanha (1826); preso e deportado

p/ Angola (revolta Torres Novas, 1844)

Preso na Torre de Belém (setembro 1836);

preso na Cadeia Relação Porto (Patuleia)

CONDECORAÇÕES

CONDE DAS ANTAS CONDE DE BONFIM

CONDE DE CAMPANHÃ VISCONDE DE FRANCOS

BARÃO DE MONTE PEDRAL

BARÃO DE LORDELO

Torre e Espada Grã-Cruz Comendador Grã-Cruz Comendador Oficial Comendador

S. Bento de Avis Grã-Cruz Grã-Cruz Grã-Cruz Cavaleiro Comendador Comendador

Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa Cavaleiro Comendador Comendador Comendador Comendador

Militar de Cristo Comendador Cruz da Guerra Peninsular Medalha Medalha

Condecorações estrangeiras 2 Grã-Cruz 2 medalhas 3 Grã-Cruz 3 medalhas 4 Grã-Cruz 1 Grande Oficial 1 Comendador

Legião de Honra de França Comendador

Santa Helena de França Medalha

NATURALIDADE, ESTUDOS E VIDA MILITAR

CONDE DAS ANTAS CONDE DE BONFIM CONDE DE CAMPANHÃ VISCONDE DE FRANCOS

BARÃO DE MONTE PEDRAL

BARÃO DE LORDELO

Nascimento 1793: Valença do Minho 1787: Elvas 1786: Almeida 1795: Reigada 1784: Lagos 1792: Porto

Óbito 1852 (59 anos) Lisboa 1862 (75 anos) Lisboa 1876 (90 anos) Lisboa 1857 (62 anos) Reigada (Almeida) 1857 (73 anos) Lisboa 1863 (71 anos) Porto

Batalhão Académico da Universidade de Coimbra

Regimento Batalhão de Caçadores N.º 7

Regimento Infantaria N.º 23 Almeida

Regimento Infantaria N.º 23 Almeida

Regimento Artilharia Lagos

Estudos

Folha de serviços militar

c/ excelentes informações

Albuera, Salamanca, Vitória, Orthez e Toulouse

Folha de serviços militar

c/ excelentes informações

Guerras napoleónicas às ordens do Marquês de Alorna

Estudou matemática no Regimento Artilharia N.º 4, em Almeida

Não participou

2 cercos de Badajoz (1811), onde foi gravemente ferido

Participou

Real corpo de voluntários de Mar e Terra Guerra Peninsular Buçaco, Albuera, Salamanca, Vitória, Nive e Nivelle

Frequentou o colégio militar.

Ótima folha de serviço

1805, finalizou o curso de engenharia militar na Academia

No AHM não consta a folha de serviços

Revolução 1820 (posto) Major graduado Tenente-coronel Tenente Tenente Major Major

Entrada no Exército 1808
1808 (21 anos) 1799 (14 anos) 1813 (18 anos) 1797
1808
(15 anos)
(13 anos)
(16 anos)

Conde das Antas

9

Tenente-general

FRANCISCO XAVIER DA SILVA PEREIRA

(1793-1852)

9

Nasceu em Valença do Minho, Santa Maria, a 14 de março de 1793. Filho do coronel de infantaria Francisco Xavier da Silva Pereira, governador da Praça de Campo Maior e Cavaleiro da Ordem de S. Bento de Avis e de sua mulher D. Antónia Josefa de Abreu. Casado e com geração. Uma lesão cardíaca acabaria por vitimá-lo aos em 19 de maio de 1852, na sua casa em Lisboa e a sua morte foi sentida por muitos portugueses que participaram no dia do funeral. Os ofícios religiosos celebraram-se na igreja de Santa Isabel, sendo o caixão levado em braços até ao cemitério dos Prazeres. As últimas homenagens foram prestadas pelas tropas de toda a guarnição da capital, formadas no largo do cemitério.

113

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