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A paridade de gênero na construção contra-hegemônica socialista
O discurso nazifascista de Hitler, a princípio moderadamente voltado aos traidores de Versalhes, se transforma e abarca o racismo e o antissemitismo à medida em que percebe a adesão da população. Os primeiros campos de concentração abrigavam comunistas, e somente alguns anos depois, um pouco antes da Segunda Guerra, é que começa a receber judeus e ciganos/as. Vale lembrar que o discurso antissemita não era condenável naquela época, aliás comum na Europa. E aqui o nosso paralelo vem a ser o discurso contra homossexuais, negros/as e mulheres, não como minorias, mas como pessoas degeneradas que não sabem que lugar devem ocupar na sociedade. É necessário o resgate dos valores morais: o lugar da mulher como procriadora e submissa ao homem, os LGBTs “dentro do armário”, as pessoas negras na subserviência histórica. E por que são estes os “degenerados” e “degeneradas” da história? Durante os governos do PT, houve o sequestro da luta de classes na cooptação dos sindicatos e dos movimentos sociais. Infelizmente, o PT tinha um papel fundamental na articulação da esquerda enquanto formador de base em massa, tendo deixado de fazê-lo durante seus governos porque tal não coadunava com sua postura neoliberal. No entanto, há que se reconhecer que o governo petista privilegiou as lutas feministas e antirracistas, o que junto com a maior acessibilidade das tecnologias em rede, potencializou o protagonismo dessas lutas no Brasil, as quaissocuparam espaços importantes, construídos e demandados historicamente por estes movimentos sociais.
Desse modo, as lutas antipatriarcais e antirracistas se intensificaram na última década e, inclusive, em alguns aspectos, se radicalizaram, causando desconforto numa sociedade que não estava preparada para isso, por ser machista, racista e gozar de privilégios históricos. Com menos espaço para expressar o ódio estrutural àquilo que não é homem, heterossexual e branco, uma parcela da população foi se envenenando – o cenário perfeito para um candidato homofóbico, machista e racista.
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Somado à crise do capitalismo e à corrupção, o emudecimento em relação ao machismo, o racismo e a LGBTfobia causou esta fúria incontrolável, que agora foi liberada através da campanha de Bolsonaro. O ódio aos degenerados e degeneradas enfatiza a polarização bem/ mal, nós/eles, aliado/inimigo. Uma luta animalesca pela sobrevivência; na verdade, para manutenção de privilégios. É apenas com um inimigo a combater, um inimigo identificado com a deterioração moral, que Bolsonaro consegue se sobressair, já que o discurso anticorrupção estava presente, afinal, na maioria dos candidatos e candidatas. Se é verdade que chegamos a esse resultado eleitoral pela falta de conscientização da luta de classes, também é fato que própria esquerda se retraiu e aproveitou os tempos de bonança, se omitindo de realizar seu papel. Colocar mais este fardo na conta das mulheres é desonestidade. Estamos perdendo companheiras por causa da cegueira de esquerdo-machos. A revolução será feminista, antirracista e socialista, ou não será.