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Entrevista com Rui Carvalheiro
Solicitador e Agente de Execução, Rui Carvalheiro é um homem cujas ambições sempre passaram pelo conhecimento e pelo desenvolvimento das duas profissões que o apaixonam. Dedicado e lutador, marcou o caminho de muitos jovens que seguiram os seus ensinamentos, enquanto ele próprio trilhava o seu caminho rumo ao sucesso. Foi Tesoureiro e Presidente do Conselho Regional do Sul da então Câmara dos Solicitadores, Presidente do Conselho Superior, Presidente da Mesa da Assembleia Geral, formou um sem número de Solicitadores e foi patrono de muitos outros. Assim é Rui Carvalheiro: o homem que Lisboa viu nascer há 68 anos para se tornar o profissional reconhecido, o colega disponível, o amigo sempre pronto a ajudar.
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ENTREVISTA JOANA GONÇALVES / FOTOGRAFIA OSAE
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O que o levou a seguir a área da Solicitadoria?
Não houve nenhum acontecimento que induzisse diretamente a essa área. Houve uma troca de opiniões com grandes amigos, decidi experimentar e gostei.
E como começou a aventura na então Câmara dos Solicitadores?
Foi num jantar, com o colega Amílcar Costa e com outros colegas da altura, na primeira ocasião em que houve eleições. Convidaram-me para ser Tesoureiro. Foi assim que, pela primeira vez, tive um cargo na Câmara dos Solicitadores.
Teve também um grande papel na área da formação dos futuros profissionais. Sempre quis trabalhar com formação e ensino?
Acho que a formação é o nosso futuro. A minha grande paixão foi, realmente, a formação.
O que recorda desses tempos?
Tenho muito boas recordações. Muito empenho, muito trabalho e resultados extremamente compensadores. Fico também muito feliz por ver que há hoje grandes profissionais que foram formados durante os meus mandatos. É muito gratificante.
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Nesta área é preciso ser um eterno estudante?
Sim, sem dúvida. Até acrescento: cada vez mais.
De todos os cargos que desempenhou ao longo da sua carreira, qual foi o que o marcou mais?
Não consigo escolher um, porque houve dois cargos muito especiais para mim: Presidente do Conselho Regional do Sul e Presidente do Conselho Superior. Foram aqueles em que entendo que fui mais útil à classe e à então Câmara dos Solicitadores.
Para si, o que é ser Solicitador?
A profissão, como a vemos hoje, era completamente desconhecida e impensável quando eu comecei, há 30 e muitos anos. É evidente que é, hoje em dia, muito mais técnica e cientificamente evoluída, feita, principalmente, à custa da melhoria da formação e das melhores capacidades dos candidatos e dos novos colegas, que permitem que se encare a profissão com um novo paradigma. Ser-se Solicitador é, hoje, muito mais do que se ser um “preenchedor de papéis”. Passámos a ser técnicos qualificados, tanto no aconselhamento jurídico, como na resolução dos problemas das pessoas e, até, na área da Justiça – através da especialidade de Agente de Execução, que foi uma lufada de ar fresco na nossa profissão, e que é socialmente muito relevante. Com cada coisa no seu tempo, cada realidade na sua época… tem sido bom!
Quais são as características mais importantes que devem ter os Solicitadores? E os Agentes de Execução?
Na minha opinião, devem ser profissionais, sérios e honestos.
Acha que a profissão mudou muito?
A profissão tem atravessado uma grande evolução, embora estejamos agora numa crise de crescimento complicada de gerir. Um jovem Solicitador que venha para a profissão tem de saber que vai ter de lidar com as inovações tecnológicas, com as plataformas eletrónicas (que são ferramentas essenciais para o desempenho do seu trabalho) e, acima de tudo, deve absorver e importar conhecimento técnico e jurídico. Deve ter, também, uma grande dose de senso comum – aspecto que falta muitas vezes e que se deve valorizar e inculcar no nosso espírito e no dos nossos clientes, no sentido de se perceber que, por vezes, um bom resultado não é aquele que é técnica ou juridicamente mais perfeito, mas sim aquele que melhor serve os interesses de quem nos contacta.
Como viu a passagem da Câmara a Ordem?
Foi uma grande vitória. Finalmente conseguiu-se varrer do nosso horizonte um estatuto de minoridade sistemática. É verdade que a realidade tem o seu tempo, mas foi uma promoção muito significativa, nomeadamente para as instituições com quem nos relacionamos: para os nossos colegas de outras ordens profissionais, passámos a ter um estatuto muito diferente. Portanto, penso que foi muito positivo.
No seu caso em particular, que contributo é que acha que deixou?
Além do meu esforço e do meu empenho em todos os cargos que exerci, a minha “jóia” foi, realmente, o tempo na formação, sem qualquer dúvida.
Que desafios acha que a Ordem e os profissionais enfrentam atualmente?
Penso que enfrentam um paradoxo terrível: a modernização da sociedade e das estruturas do Estado e o paradigma da nossa profissão. Devemos deixar de ser um intermediário Estado/cidadão e passar a ser, a meu ver, um colaborador atento, diligente e indispensável no aconselhamento das empresas, dos cidadãos e, até, dos tribunais e da Justiça, no sentido de facilitar e resolver os problemas que as entropias do regime ou de alguns organismos do mesmo ainda colocam aos cidadãos. Mas, acima de tudo, devemos evoluir para a criação de um “estatuto de indispensabilidade”, ou seja, sermos indispensáveis para a boa relação das pessoas entre si, entre elas e o Estado, entre elas e as Finanças… era bom que ganhássemos, realmente, uma nova imagem e uma nova posição perante a sociedade.
Que conselhos deixaria aos novos profissionais?
O conselho que posso dar é: não desistam e acreditem nos vossos dirigentes. Tenho a certeza de que eles, de uma maneira ou de outra, com uma teoria ou com outra, têm todo interesse em fazer o melhor pela classe. Temos é de estar conscientes, com os pés no chão e acreditar no futuro.