A cidade e o urbanismo Industrial

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A CIDADE E O URBANISMO DO SÉCULO XVIII E XIX

Professora

Anne Camila Cesar Silva


Progressivas e decisivas, as transformações provocadas pela Revolução Industrial (1750- 1830), aconteceram em três níveis, a saber: • Econômico-tecnológico: aumento da produção, da circulação e do consumo através da invenção da máquina;

• Sócio-político: proletarização de milhares de artesãos e formação de reserva de mão-de-obra; • Urbano-territorial: nova distribuição da população no território e mudanças radicais na infraestrutura urbana.

Surgimento do CAPITALISMO

Cidade Industrial -Com o Capitalismo industrial, uma nova sociedade emergiu e fez nascer também uma nova ordem do espaço urbano, que conduziu a uma revolução no modo de pensar a cidade, a qual se expandiu em um ritmo surpreendente. -Esse crescimento acelerado da urbanização levou à concepção da cidade industrial como CAOS que precisava ser controlado e dirigido, e modo a garantir o desenvolvimento das novas relações sociais e econômicas. -Momento da desarticulação da construção estética do espaço visual da "cidade tradicional", e o aparecimento da nova realidade urbana da chamada "cidade liberal".

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Surgimento da “cidade liberal”: intuito especulativo, tanto no adensamento do antigo núcleo histórico, como no surgimento do fenômeno da periferia – sejam bairros operários, e os subúrbios jardins das classes mais abastadas. Em 1800, apenas 22 cidades europeias possuíam mais de 100.000 habitantes, Londres tinha cerca de 860.000.

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PALAVRAS CHAVE PARA A CIDADE INDUSTRIAL:

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Alta densidade demográfica e mão de obra barata - Metrópole em formação; Velocidade - Desenvolvimento dos meios de transporte, as autopistas de pedágio, os canais navegáveis, o barco a vapor; Utilização de novos materiais – ferro e aço. a estrada de ferro, possibilitando o deslocamento fácil da matéria prima para as fábricas, e dos produtos acabados para o mercado. Lei da oferta e procura, livre comércio, consumismo, lucro, Adam Smith.

Abandono do centro obsoleto do período medieval, renascentista e/ou barroco, por parte das classes mais abastadas, a procura de melhores condições de habitabilidade. As poucas áreas livres do centro passam a ser parceladas para os operários, fazendo uso da especulação imobiliária. A única lógica, a única lei perseguida pelos especuladores, era a do maior lucro possível. Para a classe proletária, maioria absoluta da população, era oferecido o espaço mínimo, articulado de forma a conseguir um maior número de habitações por unidade de área e com um menor custo. Mas a classe desfavorecida não tem suas necessidades supridas pelo centro e busca as áreas marginais da cidade – surge o termo periferia.

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Casas proletárias na Londres do século XIX

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* Por outro lado, proliferam os grandes bairros operários, de altíssima densidade, condições mínimas de habitabilidade. * Da mesma forma que as casas e os cortiços edificados na área central, a única lei que rege a construção destes bairros é a lei de mercado, seguida pelos especuladores imobiliários. * A densidade edificada maior possível, os piores materiais, a menor dimensão das milhares de habitações, para que se obtenha o máximo lucro com a quantia ínfima que o trabalhador poderia pagar de aluguel.

Casas proletárias na Londres do século XIX

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Secção de um palácio parisiense em 1853.

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A cidade, antes espaço e símbolo da segurança física e existencial do homem, transforma-se em estrutura desarticulada, fragmentária, que não fruível enquanto uma urbis em seu sentido etnológico. Cidade Fragmentada: Não há a proposta de continuidade à cidade pré-existente.

CENTRO ADENSADO (OBSOLETO E SEM CONSEGUIR DESENVOLVER ESTRUTURALMENTE – LIMITES FÍSICOS) PERIFERIAS DE PROLETARIADO (ESPECULAÇÃO IMOBILIÁRIA E POUCA CONDIÇÃO DE HABITABILIDADE) SUBÚRBIO DE NOBRES (ÁREAS AFASTADAS DA CIDADE QUE PERMITE O CONTATO COM A NATUREZA E A FUGA DO CAOS)

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COMO TUDO COMEÇOU A MUDAR?

No início do século XIX, a situação precária dos aglomerados urbanos e principalmente da classe trabalhadora que neles habitava, toma proporções tão descomunais, que começa a ameaçar sistematicamente até mesmo a burguesia dominante, seja por questões de saúde pública, seja por possibilidades concretas de revoltas sociais. Divisor de águas – 1848 (Manifesto do Partido Comunista, por Marx e Engels). *MARXISMO* - Karl Marx - afirma que as sociedades humanas progridem através da luta de classes: um conflito entre a classe burguesa que controla a produção e um proletariado que fornece a mão de obra para a produção (comunismo - autoritarismo). *SOCIALISMO* - EX. Charles Fourier – propunha mudanças para a sociedade capitalista a partir de uma organização baseada na associação e no cooperativismo, que permitisse aos homens desenvolver plenamente seus talentos. Considerados “utópicos” pelos marxistas.

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COMO TUDO COMEÇOU A MUDAR?

NOVAS CIDADES: planos de cidades ideais, eram divididos em três correntes: a) Humanista/ culturalista: como por exemplo a cidade-jardim de Howard que estipula o número de trinta mil habitantes, a cidade é limitada por um cinturão verde para impedir união com outras aglomerações vizinhas, as ruas são órgãos fundamentais, o espaço deve ser diverso por isso, recusam a simetria, seguem a topografia, incidência do sol, vento dominante e conforto ao indivíduo. b) Naturalista: tem como principal adepto o arquiteto Frank Lloyd Wright, é uma proposta antindustrialista, negando o progresso e a tecnologia, a arquitetura está subordinada à natureza. c) Progressista: principais urbanistas Tony Garnier, Owen, Fourier, Richardson, Cabet, Proudhon, o interesse dos urbanistas deixaram de ser estruturas econômicas e sociais, são obcecados pela modernidade, propõe uma cidade funcional e geométrica, “[...] ordena a disposição dos elementos cúbicos ou paralelepipedais segundo as linhas retas que se cortam em ângulos retos: o ortogonismo é a regra de ouro que determina as relações dos edifícios entre si e com as vias de circulação.”. Seu modernismo rejeita qualquer sentimentalismo com respeito ao legado estético do passado.” e propõem uma cidade dividida em zonas específicas com funções distintas Habitat, Trabalho (industrial, liberal e agrícola), Cultura e Lazer.

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Cidade Jardim de Ebenezer Howard (CULTURALISTA) - Howard estabelece uma população de 30000 pessoas na cidade e 2000 na área agrícola, quando uma cidade atingisse a sua capacidade de suporte, novas cidades deveriam ser formadas em torno de uma cidade central de 58.000 habitantes.

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FALANSTÉRIO – Esquema segundo o Tratado de Fourier (PROGRESSISTA) Falanstério - Fourier propôs e idealizou um modelo arquitetônico para habitar uma comunidades de cerca de 2.000 à 3.000 pessoas, que seriam chamados de falanges ou falanstérios, onde haveria produção e consumo baseado em um sistema de cooperativismo completo e autossuficiente, e onde o homem seria livre para exercer suas vocações e gostos individuais, desenvolvendo suas potencialidades.

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Comunidades Intencionais Socialistas propostas por Robert Owen (PROGRESSITA) - propós associações modelo de trabalhadores, baseadas em pequenas comunidades semi-rurais, com um número de habitantes entre 500 à 3000 pessoas. Segundo ele, este seria o tamanho ideal para uma comunidade higiênica e ordenada, e propunha também que as comunidades fossem federadas entre si.

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COMO TUDO COMEÇOU A MUDAR? Aparecimento da PESTE >>> Problematizar as cidades >>> florescimento do pensamento urbanístico. URBANISMO: uma nova ciência que nasce como uma forma de resolver tecnicamente as inúmeras demandas da cidade em expansão, com uma absoluta interdisciplinaridade. Enquanto durante o momento HISTORICISTA com seus REVIVALS, o URBANISMO surge não dispensando a ESTÉTICA tão exaltada até então, mas a transformando em mais uma entre tantas outras disciplinas técnicas presentes na nova “ciência”.

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Século XIX – Cidade Pós-Liberal

1) Público e privado – propriedade e percursos. 2) Regulamentação do uso do solo. 3) Frente das ruas – rua limitada pelo edifício (rua corredor) – áreas comerciais, piso térreo; demais pavimentos eram destinados às residências. 4) Terrenos devem ser explorados: baixa densidade – famílias nobres (pequenas vilas), alta densidade para casas mais econômicas – classes mais modestas (cortiços).

Bairros periféricos ingleses, construídos conforme os regulamentos de 1875.

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5) Zoneamento da cidade – áreas industriais não devem mais se encontrar dentro da cidade em meio às residências, mas sim na área denominada “subúrbio”. 6) Especulação imobiliária: a cidade busca a solução de seus problemas urbanos, mas encarece o lote pelos benefícios adquiridos, tornando-os inacessíveis. 7) A cidade pós-liberal não se opõe a demolir e reconstruir edifícios e ruas antigas, para alarga-las por exemplo. Mas “respeitam-se os monumentos principais, as ruas e as praças mais características, porque destas coisas dependem em grande parte a qualidade formal da nova cidade. Os edifícios antigos – igrejas, palácios, etc. – são os modelos dos quais são tirados os estilos a usar para as novas construções, e são mantidos na cidade moderna como um museu ao ar livre, do mesmo modo que os quadros e estátuas...”

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Planta de Paris em 1853, antes dos trabalhos de Haussmann.

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URBANISMO EM SEU EXEMPLO MAIS IMPORTANTE: PARIS, DE 1851 A 1870 “A cidade pós-liberal", desenhará um percurso caracterizado pela coexistência de duas diretrizes estéticas básicas: a busca da realização do estilo da época, o "ecletismo", e a persistência da articulação da cidade enquanto manufatura, a estética dos engenheiros, podendo ser “fabricada”. Circunstâncias favoráveis: - Imperador Napoleão III e seu apoio às reformas; - Capacidade do Prefeito Haussmann; - Alto nível dos técnicos; - Leis avançadas: de Expropriação de 1840 (desapossar alguém de sua propriedade) e de Sanitarismo de 1850. Transformações de Paris compreende: 1) Abertura de novas ruas – arrasa quarteirão, que corta em todos os sentidos o antigo núcleo medieval; 2) Criação dos bulevares parisienses; 3) Instalação de serviços primários – aqueduto, iluminação, esgoto, rede de transporte público – ônibus puxado a cavalo; 4) Instalação de novos serviços secundários – hospitais, prisões, escolas, quartéis, parques públicos; 5) As áreas comuns, ruas, calçadas e praças públicas, passam a ser destaque na nova cidade pois as fachadas das casas se tornam genéricas.

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Vista da รกrea da Etoile e do bairro circunstante depois de Haussmann.

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Planta da Place de l’Etoile em Paris, depois de Haussmann.

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Bulevar Parisiense

•efeitos cenográficos •escoamento da produção industrial •infraestrutura sanitária •objetivo militar o objetivo militar, de impedir rebeliões ou reprimi-las com maior facilidade, já que os guetos e as ruelas não mais existiriam e que posicionar o pelotão de fuzilamento numa grande avenida tornaria mais fácil o domínio dos revoltosos.

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Avenue des Champs-Elysées Avenue de Wagram Avenue de Jena Avenue Foch - Quatro fotografias tiradas de cima do ardo do Triunfo de Paris.

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Referências: BENÉVOLO, Leonardo. História da cidade. 4 ed. São Paulo: Perspectiva, 2005. BENÉVOLO, Leonardo. Introdução à Arquitetura. São Paulo: Mestre Jou. 1972. CARVALHO, Benjamim de. A História da Arquitetura. Rio de Janeiro: Ed. Tecnoprint, 1964. Edições de Ouro. DUBY, Georges. História da vida privada 2: da Europa feudal à renascença. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. HAROUEL, Jean Louis. História do Urbanismo. 2. ed. Campinas: Papirus, 1998. LAMAS, José Garcia. Morfologia urbana e desenho da cidade. 3ed. Porto: Fundação Calouste Gulbenkian / Fundação para a ciência e tecnologia, 2004. MORRIS, A. E. J. Historia de la forma urbana: desde sus orígenes hasta la Revolución Industrial. 6 ed. Barcelona: Gustavo Gili, 1998. MAHFUZ, Edson. O clássico, o poético e o erótico e outros ensaios. Porto Alegre: Ritter dos Reis, 2001. MUNFORD, Lewis. A cidade na História: suas origens, transformações e perspectivas. 4 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. PEVSNER, Nicolaus. Panorama da Arquitetura Ocidental. São Paulo: Martins Fontes, 2002. ROBERTSON, D. S. Arquitetura Grega e Romana. São Paulo: Martins Fontes, 1997. SUMMERSON, John. A Linguagem Clássica da Arquitetura. São Paulo: Martins Fontes, 1994.

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